Demorou apenas até o banquete de almoço do dia seguinte, 18 de fevereiro, para Ronie descobrir que seu único desejo, simples e humilde, já estava em perigo.
Um cavaleiro de baixa patente entrou apressadamente na sala, pálido, ajoelhou-se ao lado de Kirito e entregou um relatório urgente.
Um turista goblin da montanha visitando a cidade havia matado um cidadão de Centoria.
Tanto o delegado espadachim quanto a ainda mais audaciosa subdelegada espadachim reagiram com uma inspiração aguda e narinas dilatadas. Kirito fechou os olhos, pousou a faca e o garfo e levantou-se.
— Asuna, Fanatio, assumam o comando do Exército Guardião Humano e da guarda da cidade. Executem apenas as tarefas normais e não permitam nenhuma resposta especial a este incidente. Onde está esse goblin agora?
A última pergunta foi para o cavaleiro de baixa patente que trouxera a mensagem. O cavaleiro de aparência jovem permaneceu ajoelhado.
— Senhor, disseram-me que ele está detido no posto da guarda de South Centoria!
— Entendido. Obrigado pelo relatório!
E com isso, a capa preta se abriu enquanto Kirito começava a andar, seus passos longos e rápidos. Ronie se recuperou do choque e levantou-se, gritando do lado oposto da grande mesa redonda:
— E-eu irei com você, Delegado!
Kirito parou por um momento para considerar, depois assentiu.
— Agradeceria. Pegaremos um atalho. Tudo bem?
— H… huh? Hum… — Ela murmurou, alcançando-o. A Catedral Central ficava no centro da cidade circular, então, assim que descessem as escadas principais e saíssem pelo portão sul, estariam em South Centoria, antiga capital do Império Sothercrois. Instalações importantes como o posto da guarda da cidade ficariam ao longo da via principal que levava para fora, então não havia atalhos, já que era uma rota direta…
Kirito forneceu a resposta através da ação. Com um propósito inegável, ele caminhou não em direção às portas duplas na extremidade sul do salão, mas para a varanda leste. Ronie o seguiu até o mirante a vinte andares de altura, e então teve um momento de descrença.
Com a mesma rapidez, o braço esquerdo de Kirito envolveu suas costas com um breve pedido de desculpas. Antes que seu coração pudesse sequer dar um salto, houve um estranho som de assobio no ar, e uma luz verde preencheu sua visão.
Ronie começou a gritar ao se sentir flutuando, mas o som ficou preso em sua garganta quando os dois dispararam abruptamente para o ar.
Eles se distanciaram rapidamente da Catedral, e a vasta capital cresceu. Essa sensação era além de rápida. Parecia que estavam indo várias vezes a velocidade máxima de voo de um dragão, e ainda assim quase não havia resistência do ar — como se ele tivesse criado uma película de elementos de vento que revestia o corpo dela para eliminar a resistência, tudo isso enquanto continuamente gastava elementos atrás deles para manter a tremenda aceleração que os impulsionava.
No momento em que ela reconheceu que se tratava de uma arte de voo com elemento de vento, uma técnica que apenas Kirito conseguia controlar naquele momento, eles já estavam descendo ao chão como um tornado.
Houve outro som estranho, e a cor do mundo voltou ao normal. Ronie manteve os olhos abertos, lutando contra uma tontura súbita, e viu que um enorme edifício de pedra, para os padrões normais, estava diante deles. A textura áspera do arenito vermelho era inegavelmente a da arquitetura de South Centoria.
Dois guardas em armaduras grossas e pesadas estavam na entrada, no topo de uma escadaria de pedra. Eles brandiam suas alabardas ameaçadoramente, sem fazer esforço para esconder o alarme com a entrada súbita. Kirito correu direto para eles.
— Quem se aproxima? — exigiram os guardas, cruzando suas armas de haste. Por trás, Ronie reuniu sua voz mais autoritária e respondeu:
— Somos do Conselho de Unificação!
Os olhos dos guardas varreram o fecho de sua capa curta, que ostentava o brasão dos Cavaleiros da Integridade. Como ela ainda era uma aprendiz, o dela não tinha o número oficial gravado na parte inferior, mas o símbolo por si só teve o efeito desejado, felizmente. Os guardas se endireitaram e bateram a base de suas alabardas no degrau de pedra.
Kirito passou correndo entre eles e pela porta. Ronie o seguiu.
Tardiamente, Ronie percebeu que o delegado espadachim do Conselho de Unificação Humana não trouxera sua espada, seu brasão, nem mesmo sua capa. Tudo o que ele usava era uma simples camisa de linho preta e calças grossas de algodão preto. Os guardas dificilmente poderiam ser culpados por não perceberem quem ele era.
Mas ele passou por entre os funcionários do posto da guarda, ignorando seus olhares desconfiados, e seguiu para as escadas do porão. Quase como se soubesse exatamente onde encontrar o goblin em questão.
Na verdade, ele quase certamente sabia. Eles estavam mais ou menos na metade da escadaria de pedra quando Ronie ouviu o grito característico da voz de um goblin.
— …Eu não fiz! Eu não fiz nada! Eu não vi nada!
— Não minta para mim, seu demi!! — rugiu uma voz humana alta.
O segundo nível do porão do posto da guarda da cidade era uma prisão medieval padrão, cheia de celas de pedra atrás de grades pretas reluzentes.
Mas, após uma inspeção mais atenta, ficou claro que quase todas as celas tinham poeira acumulada no chão e não eram ocupadas há anos. Isso era natural, porque o Reino Humano, como regra básica, não produzia criminosos. Apenas ocasionalmente alguma pessoa que não conseguia se lembrar de cada uma das miríades de regras e itens do Índice de Tabus e da Lei Imperial Básica infringia a lei por algum assunto trivial.
Até agora.
No final do corredor havia uma sala maior sem grades, provavelmente para interrogatório. Havia uma simples mesa de madeira no centro da sala escura, e prostrado sobre ela estava um goblin da montanha, claramente ainda muito jovem.
O pequeno corpo do goblin estava sendo segurado por trás por um guarda grande e forte. Diante dele estava um homem usando um uniforme de capitão com sua espada longa desembainhada.
— Vejamos se você consegue continuar contando essas mentiras nojentas depois que um de seus braços for decepado!
A luz da vela deslizou pela face da lâmina chata. Ronie ia gritar uma ordem para ele parar, mas mal o pensamento lhe entrara na mente quando um ting! agudo fez a espada do capitão soltar faíscas. Como se atingida por uma lâmina invisível, a espada voou de sua mão e atingiu a parede oposta.
Kirito havia liberado sua técnica secreta de Cavaleiro da Integridade, uma Espada incarnada. Ele desviou o ataque do capitão e mergulhou na sala de interrogatório a toda velocidade.
— Já chega! Este caso inteiro está agora sob a jurisdição do Conselho de Unificação Humana! — Ele gritou.
— O quê…? — ofegou o capitão, atordoado com a perda de sua espada. Quando ele se virou e viu Kirito, seu rosto corou e o lábio sob seu bigode bem aparado tremeu. Ele parecia pronto para gritar algo quando avistou o brasão no ombro de Ronie.
Novamente, seu rosto sofreu uma mudança dramática, empalidecendo rapidamente. O capitão e seu subordinado caíram sobre um joelho e curvaram-se profundamente, mais para Ronie do que para Kirito.
Francamente, esse tipo de coisa vinha acontecendo com ela com bastante frequência quando encontrava o povo de Centoria. Mas ela ainda achava muito estranho. Apenas um ano e três meses atrás, Ronie não passava de uma estudante. Ela se alistara no Exército Guardião Humano na Guerra do Underworld e, depois de muito brandir sua espada atordoada, viu-se promovida ao posto de cavaleira aprendiz. Ela não sentia que havia amadurecido para a dignidade ou status do papel ainda.
Claro, se ele se vestisse um pouco mais apropriadamente, talvez esse tipo de fardo não caísse sobre meus ombros com tanta frequência, pensou ela com amargura enquanto Kirito assumia o comando da cena. O jovem, vestido de forma indistinguível de qualquer cidadão comum da capital, primeiro assentiu para o goblin trêmulo e apavorado, no que pretendia ser um gesto tranquilizador.
— Qual é o seu nome? — Ele perguntou ao jovem goblin. Seus olhos amarelos piscaram rapidamente em confusão.
— …Oroi. — disse o goblin com uma voz lastimável.
— Oroi? Essa pena decorativa, você é do clã Ubori da Colina da Serra?
O goblin assentiu rapidamente, sacudindo a pena azul e amarela que se erguia da faixa de couro em volta de sua testa.
— Entendo. Meu nome é Kirito. Sou um delegado do Conselho de Unificação Humana.
Isso teve um efeito instantâneo nos dois guardas de cabeças baixas. Suas costas se contraíram, e os olhos do jovem goblin chamado Oroi se arregalaram.
— Kirito… Eu te conheço! Você é o Ium branco que venceu os Ubori no concurso de pegar insetos-praga!
Em que diabos ele tem se metido? Ronie se perguntou, mas não deixou sua exasperação transparecer.
Kirito assentiu.
— Ainda tenho a medalha de centurião que recebi por vencer. Ouça-me agora, Oroi. Vou ouvir as histórias do que aconteceu, primeiro desses guardas, depois de você. Nenhuma punição será dada com base no que você disser, então fique tranquilo e simplesmente me conte exatamente o que aconteceu.
O capitão da guarda levantou-se sob o comando de Kirito e deu seu relatório com medo e uma leve dose de orgulho indignado.
— Às onze e trinta da manhã de hoje, o posto da guarda no Distrito Quatro de South Centoria recebeu um relatório de um cidadão de que um demi-humano com uma arma laminada estava sendo violento em uma estalagem na Rua Carue. Ao corrermos para o local, encontramos um goblin no corredor do segundo andar da estalagem com uma adaga ensanguentada. Um homem humano estava caído e sangrando no quarto atrás dele. O homem era o faxineiro da estalagem. Ele fora esfaqueado bem no coração, e sua vida já havia se extinguido completamente. Com base nas circunstâncias, julgamos que o goblin havia matado o homem com a adaga. Assim, o levamos para o prédio do posto e iniciamos nosso interrogatório.
Então Kirito colheu um depoimento de Oroi, o goblin da montanha:
— Vim visitar Centoria há três dias em um grupo de cinco jovens do mesmo clã. Os outros saíram pela cidade depois do café da manhã, mas eu estava me sentindo mal e fiquei na estalagem para dormir. Alguém bateu na porta antes do meio-dia, então abri e não encontrei ninguém, mas uma adaga no chão do corredor. Eu a peguei e notei que havia sangue nela. Fiquei surpreso, e foi quando os soldados subiram as escadas, gritaram um monte de bobagens para mim e me prenderam… Eu não fiz nada… Eu nem vi nada. — Oroi terminou.
O capitão, no entanto, já estava farto.
— Eu acabei de te dizer para não mentir! — Ele berrou. — Essa adaga não vem de terras humanas! Apenas demi-humanos usariam um artefato de ferro fundido tão grosseiro!
— N-não! Parece, mas não é a mesma coisa! Espadas de goblin têm o símbolo do clã no cabo! Sem símbolo naquela espada! É falsa! — Oroi gritou de volta. Isso deixou o capitão furioso e sem palavras.
Mas Kirito estendeu a mão para silenciar ambos e disse:
— Isso é algo que um rápido exame deve provar. Capitão, onde está a adaga agora?
— …Está guardada no arsenal do primeiro andar, senhor.
— Você poderia mostrá-la para mim?
O capitão lançou um olhar de comando ao seu subordinado. O jovem guarda saiu correndo da sala, mas retornou quase cinco minutos depois, pálido.
— …Não está lá. — Ele relatou.
— O quê? O que você quer dizer?! — O capitão uivou.
O guarda encolheu o pescoço o máximo que pôde nos ombros e repetiu:
— Não… não está lá. A adaga não está no arsenal.
Duas horas depois, Kirito havia retornado à Catedral Central — de carruagem desta vez — para dar uma explicação aos principais membros do Conselho. Ronie teve permissão para sentar à mesa redonda por exceção especial, porque ela o acompanhara ao posto da guarda.
A primeira pessoa a quebrar o silêncio na espaçosa sala de reuniões no quinquagésimo andar foi a Subdelegada Espadachim Asuna.
— …E onde está Oroi, o goblin da montanha, agora?
— Nós o trouxemos do posto da guarda da cidade. Ele está em um dos quartos vazios no quarto andar agora. Tenho a porta guardada, então tecnicamente é uma espécie de prisão domiciliar — disse Kirito, com a testa franzida.
Asuna também não parecia muito feliz.
— Suponho que seja inevitável até chegarmos ao fundo disso…
Do lado oposto da mesa redonda veio o barítono firme de Deusolbert:
— Presumo que vocês dois estão certos de que este goblin realmente não cometeu um assassinato?
— Sim, essa é minha convicção. — Kirito admitiu. Ele juntou as pontas dos dedos sobre a mesa. — O turismo do Território Sombrio para o Reino Humano é tratado como uma forma de intercâmbio cultural entre os dois reinos por este Conselho. Ao passar pelo Portão Oriental, todos os visitantes são obrigados a entender a lista de ações proibidas. É apenas uma lista simples de regras, mas proíbe roubo, agressão e assassinato, em nome do comandante supremo do Território Sombrio. Em outras palavras, Oroi está sujeito à Lei do Poder das terras sombrias. Se ele realmente tivesse quebrado essa lei e matado o encarregado da estalagem…
— Seu olho direito teria explodido — finalizou a Comandante Fanatio. O resto da mesa refletiu sobre essas palavras em silêncio.
Todas as pessoas que viviam no Submundo, humanas ou demi-humanas, eram criadas com um fragmento de artes sacras chamado Código 871. Ele garantia que uma dor lancinante atingisse o olho direito de qualquer um em perigo de quebrar quaisquer leis ou costumes. Realizar de fato uma ação ilegal faria o próprio globo ocular explodir.
Além disso, as pessoas comuns nunca sequer pensavam em violar a lei. A própria Ronie vira a injustiça do Índice de Tabus e da Lei Imperial Básica várias vezes antes, mas nunca tentara quebrá-los. Até onde se sabia, nos trezentos anos de história do Submundo, apenas três pessoas já haviam tido tais desejos, agido sobre eles e experimentado a perda do globo ocular — quatro, se contasse uma que arrancou o globo ocular primeiro.
E não havia nada de errado com os olhos de Oroi, o goblin da montanha. Ronie vira isso por si mesma.
— Mas… — disse a voz hesitante do Cavaleiro da Integridade Renly. O jovem cavaleiro ainda esperava a resposta de Tiese à sua proposta, e Ronie não pôde deixar de ver uma nota extra de melancolia em suas feições, quer estivesse realmente lá ou não. — O assassinato é o maior dos tabus para todas as pessoas, não apenas para aqueles como Oroi. A nós, Cavaleiros da Integridade, é concedida imunidade a quase todas as leis, mas mesmo nós não podemos tirar a vida de um civil inocente. Em outras palavras… se alguém além de Oroi foi responsável por matar aquele encarregado…
— Eles teriam quebrado o selo do olho. — Kirito terminou, com uma careta amarga no rosto. — É irônico. Se tivéssemos o antigo senado automatizado, já poderíamos ter encontrado esse culpado.
Asuna balançou a cabeça.
— Não. Você não pode confiar em um sistema desumano como aquele.
O senado automatizado, um predecessor do Conselho de Unificação Humana, fora um sistema de observação remota através do poder humano, operado pela Igreja Axiom. Dezenas de poderosos conjuradores tiveram suas vidas e consciências congeladas, tornando-os ferramentas irracionais que observavam remotamente os infratores da lei através de artes sacras. Após a guerra, a magia que prendia os senadores se desfez, mas suas mentes nunca retornaram e, em poucos dias, todos eles faleceram durante o sono.
Kirito exalou profundamente, lembrando-se da visão amaldiçoada deles.
— Sim, eu sei, eu sei. Mas… eu simplesmente não consigo apagar essa sensação estranha que estou tendo.
— Que seria? — Fanatio incitou, virando seus olhos escuros para ele.
— Como posso dizer isso…? As três pessoas que quebraram os selos em seus olhos direitos não o fizeram por causa de assassinato. Cada caso foi um ato de força de vontade avassaladora, de resistência contra algo injusto e iníquo. O que significaria, para o assassino, que a vítima era algum tipo de símbolo do mal absoluto que precisava ser morto por qualquer meio necessário… — Kirito olhou para os papéis sobre a mesa e continuou. — Mas este encarregado que foi morto, Yazen. Pelo que pude apurar, parece improvável que ele tenha atraído o ódio de alguém. Ele cultivou trigo nas terras particulares de uma das casas nobres por anos e, depois de ser libertado no ano passado, começou a trabalhar na estalagem. Pelo que nos disseram, ele tratava os visitantes do Território Sombrio com a mesma gentileza que tratava qualquer outra pessoa. Se alguma coisa, Oroi diz que sentia bastante amizade por Yazen.
— Significa que Yazen não poderia estar em uma situação de exercer poder injusto e abusivo sobre mais ninguém? — Asuna perguntou.
— É basicamente impensável — respondeu Kirito. — E há a questão da arma desaparecida…
Assim que soube que a adaga supostamente usada para matar Yazen havia desaparecido do arsenal, Kirito interrogara cada um dos guardas do posto, em nome do Conselho. Mas nenhum deles se apresentou para dizer que a havia pegado. A guarda da cidade estava sob a jurisdição do Exército Guardião Humano, que por sua vez estava sob a jurisdição do Conselho de Unificação; nenhum dos guardas poderia possivelmente desobedecer à ordem. Então, depois que a adaga em questão fora levada da estalagem para o arsenal, ou alguma pessoa externa a roubara, ou ela deixara de existir por conta própria.
— Alguém tem alguma opinião sobre isso? — Kirito perguntou à mesa.
Deusolbert falou imediatamente:
— Parece que a arma era uma adaga de ferro fundido grosseira. É possível que um único uso tenha sido suficiente para consumir toda a sua vida, fazendo-a desmoronar em nada no arsenal?
— Não… independentemente da qualidade, uma arma de metal não seria obliterada imediatamente. Sinto que os fragmentos de metal ainda permaneceriam no local por um tempo…
— Ah… de fato — entoou o homem corpulento, cruzando os braços com um zumbido pensativo.
De repente, um pensamento surgiu na cabeça de Ronie. Ela olhou ao redor da mesa para se certificar de que ninguém estava prestes a falar e levantou a mão hesitantemente.
— O que foi, Ronie?
— B-bem… Hum, quando o Instrutor Deu… er, Sir Deusolbert fica sem flechas em sua aljava, ele as reabastece com artes sacras, sim? — Ela perguntou.
O arqueiro assentiu.
— Isso mesmo. Embora o nível de prioridade delas seja bastante inferior às flechas de aço apropriadas.
— Bem, da mesma forma… é possível que a adaga fosse na verdade uma arma temporária… feita de elementos de aço…?
Sua ideia deixou o salão do Conselho em silêncio por vários momentos pesados. O impasse foi quebrado não pela voz de Kirito, mas por suas ações. Ele estendeu a mão direita em direção à mesa e estreitou os olhos.
Três luzes prateadas apareceram sob sua palma. Ele produzira três elementos de aço sem sequer um iniciador, muito menos o comando completo de artes sacras. Os pontos se fundiram em um e brilharam enquanto mudavam de forma. Uma ponta afiada apareceu, seguida por uma curva, enquanto a borda oposta era longa e estreita.
O objeto caiu na mesa com um clunk. Era a adaga de um só gume favorita dos goblins, que Ronie vira muitas vezes antes. A lâmina grossa e o cabo rudemente esculpido pareciam muito convincentes, mas havia algumas diferenças que permitiam discerni-la da coisa real.
Por um lado, a superfície da arma era lisa demais. E o cabo geralmente era envolto em couro tingido, mas aqui a coisa toda era de metal. Ficaria claro para qualquer um que olhasse que se tratava de um substituto criado a partir de elementos de aço.
Kirito pegou a adaga que criara e disse:
— Estou bastante familiarizado com adagas de goblin, e nem eu consigo fazer melhor do que isso. Mas a arma do crime real era tão bem trabalhada que o próprio Oroi não percebeu a princípio… o que significaria que um conjurador muito avançado passou muito tempo gerando-a.
Um leve toque metálico sobrepôs-se ao final de sua declaração quando ele golpeou a adaga com um leve golpe de incarnação. Isso foi suficiente para extinguir a vida da arma temporária, e ela se estilhaçou como vidro, desintegrando-se em pequenos fragmentos de luz que desapareceram logo depois.
Logo não restou nada.
— …Se for esse o caso, este é um problema muito alarmante — afirmou a Comandante Fanatio, seus cabelos ondulados caindo para o lado enquanto ela inclinava a cabeça em pensamento. — Todos os usuários avançados de artes sacras em Centoria estão ou com o exército… ou de outra forma sob este Conselho. O que significaria que ou temos um traidor entre nós… ou…
Ou é um mago sombrio do Território Sombrio, todos os outros completaram por conta própria.
Se um mago sombrio tivesse se infiltrado em Centoria e matado um civil inocente para algum propósito nefasto, essa seria uma situação muitas vezes pior do que se Oroi, o goblin, simplesmente tivesse matado Yazen em um acesso de raiva. Entre o turismo e o comércio, as relações dos dois reinos estavam apenas começando a degelar; jogar areia na engrenagem agora poderia provocar outra guerra.
— A menos que… essa fosse toda a ideia…? — Kirito murmurou para si mesmo. Então ele balançou a cabeça. — Tudo isso ainda está no reino da especulação. Enquanto investigamos mais a fundo, precisamos minimizar qualquer efeito que este incidente possa ter sobre a população. Não podemos impedir que os boatos se espalhem, mas devemos evitar que incidentes secundários ou terciários ocorram como resultado disso… E quanto ao exército, Asuna?
Ela assentiu e relatou:
— Pedi a Liena… er, General Serlut, para dispensar quaisquer medidas adicionais de manutenção da paz além do usual. Ela aceitou e concordou… mas a antiga facção nobre parece desejar uma postura mais linha-dura: prender todos os viajantes do Território Sombrio. Enviei um comando por escrito do Conselho de Unificação, então isso deve mantê-los sob controle por enquanto… — Ela parou e respirou fundo. Os olhos castanho-claros de Asuna brilharam intensamente enquanto continuava: — Mas se o mesmo tipo de incidente ocorrer novamente, esse comando levará a uma agitação e desconfiança avassaladoras em relação ao Conselho. E se eu estivesse secretamente manipulando os cordelinhos, fazendo este incidente acontecer, eu certamente teria outro planejado.
— Sim, é o que eu faria também. — Kirito suspirou. Ele bateu as mãos para encerrar o assunto. — Então, como Conselho, responderemos das quatro maneiras seguintes: primeiro, anunciaremos publicamente que um culpado ainda não foi identificado. Segundo, forneceremos à família de Yazen uma explicação completa e adequada da situação. Terceiro, mobilizaremos o máximo de mão de obra para investigar. Quarto… discutiremos isso com os líderes do Reino Sombrio o mais rápido possível. Alguém tem algo a acrescentar?
A mão de Fanatio disparou no ar. Com alguma hesitação, ela observou:
— Quando você diz “em breve”… a próxima reunião agendada com o Lado Sombrio é daqui a quase um mês. Você vai acelerar o cronograma?
— Não — disse Kirito, balançando a cabeça. — Vou até Obsidia para me encontrar com Iskahn pessoalmente.
Quando a reunião foi encerrada, Solus já estava afundando no horizonte oeste.
Ronie correu para os estábulos dos dragões no lado oeste da catedral. Quando chegou lá, acenou para Tiese, que estava cuidando de Tsukigake para ela.
— Desculpe, demorou!
O dragão juvenil amarelo-pálido levantou a cabeça da grama ao som de sua voz, soltou um trinado e veio correndo. Ela abraçou o corpo fofo e coçou sob seu queixo, depois falou novamente com sua amiga.
— Obrigada, Tiese. Vou te recompensar… eventualmente… com favores…
— Você está começando a soar cada vez mais como Kirito. — A garota repreendeu com um balançar de sua cabeça ruiva. — Então… como foi a reunião? — Ela perguntou seriamente.
Elas se sentaram lado a lado em um banco ao longo da parede do estábulo, e Ronie repassou o conteúdo da reunião de emergência. Tiese ouviu até o fim, parecendo grave. Finalmente, ela murmurou:
— Isso parece… muito ruim…
— Sim… No mínimo, os Cavaleiros parecem pensar que não é possível que um humano comum daqui pudesse ter matado a vítima…
— Mesmo que haja aqueles que conseguem contornar as leis e encontrar as brechas que os beneficiam…
De fato, a Rebelião dos Quatro Impérios ocorrera quando os imperadores restantes emitiram éditos declarando o recém-formado Conselho de Unificação Humana uma força traiçoeira à antiga Igreja Axiom. A força vinculante da lei — mesmo depois de ter sido distorcida — fora tão forte que pacificar o levante das guardas imperiais dos impérios exigira derrubar os imperadores de Norlangarth, Wesdarath, Eastavarieth e Sothercrois para anular os éditos. Ronie e Tiese invadiram o Palácio Imperial em North Centoria e acabaram cruzando espadas diretamente com o Imperador Cruiga Norlangarth VI. Elas experimentaram seu ego inflado e cruel pessoalmente.
Ambas as garotas esfregaram os braços simultaneamente sem perceber. Tiese então mudou de assunto e disse:
— Bem, se for esse o caso, vou cuidar de Tsukigake um pouco mais, suponho.
— Huh? Por quê? — Ronie perguntou, parecendo intrigada.
Sua amiga sorriu para ela e disse:
— Quer dizer, você vai, não vai? Para Obsidia. Com Kirito.
Tradução: Gabriella
Revisão: Pride
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