Após o término do espontâneo do chá da tarde, Ronie devolveu os pratos e talheres à cozinha, mas, durante todo o tempo, continuou pensando no que Kirito havia dito.
Não sobre o outro lado da Muralha no Fim do Mundo, ou sobre o mundo ser uma esfera, ou a viagem à lua. Ela pensava na primeira coisa que surgira na conversa: a possibilidade de outra guerra.
Ela concordava que a riqueza das terras humanas continuaria a gerar descontentamento entre as raças demi-humanas. Mas, com toda a honestidade, achava difícil ver isso realmente se traduzindo em outro conflito armado.
Isso se devia ao Pacto de Paz dos Cinco Povos no Território Sombrio, um acordo que unia todas as várias raças do Reino Sombrio. A lei lá era muito mais primitiva do que nas terras humanas, mas, no mínimo, proibia claramente o assassinato e a pilhagem.
Claro, por centenas de anos, a única lei observada no Território Sombrio fora a Lei do Poder, então até mesmo isso era uma mudança revolucionária e sísmica para eles. Como forma de reduzir o choque neste período de transição, eles podiam duelar livremente, desde que a vida não fosse tirada no processo. Se chegasse à guerra, esse tipo de autocontenção iria por água abaixo.
E os habitantes do Território Sombrio não eram diferentes dos humanos comuns quando se tratava do selo da alma que impedia a criminalidade. Foi assim que, poucos anos após a última guerra, o reino humano aceitou pacificamente tantos visitantes do Reino Sombrio…
— …Ronie. Você está me ouvindo, Ronie?
Sua cabeça se ergueu num sobressalto quando alguém a cutucou no ombro algumas vezes. Ela estava praticando sua incarnação em um canto do salão de treinamento no quarto andar da Catedral e, em algum momento, mergulhara em profunda contemplação. O exercício de hoje era Meditação Sentada e, diferente de manter elementos sagrados ou se equilibrar em postes, era muito fácil se distrair com pensamentos mundanos durante essa prática.
Sua parceira ali perto, no entanto, ia direto dos pensamentos mundanos para a conversa mundana. Apenas para ter certeza, Ronie olhou para o mestre de treinamento — Deusolbert do Arco da Conflagração, hoje — que estava dando instrução de espada para os cavaleiros de nível inferior no centro do salão, e confirmou que ele estava ocupado antes de sussurrar para sua melhor amiga:
— Desculpe, eu estava viajando.
Ela rapidamente percebeu que não fazia sentido se desculpar, mas sua parceira ruiva inflou as bochechas em indignação e sussurrou de volta:
— O quê, você não ouviu nada disso? Eu estava dizendo que quero seu conselho sobre algo.
— Conselho? — Ronie repetiu, olhando para a amiga.
Tiese Schtrinen, a cavaleira aprendiz que era sua amiga desde os tempos da Academia de Esgrima, assentiu seriamente para ela.
— Sim… Veja bem… eu recebi uma proposta.
— O quê, para treinar?! Não, você não pode duelar! — Ronie sibilou de volta imediatamente, mas Tiese apenas a encarou com seus olhos vermelho-escuros e retrucou:
— Não! Exatamente o oposto… Não um duelo… mas mais uma… uma proposta… do tipo familiar…
Ronie não conseguiu entender o que ela estava insinuando por vários segundos. Ela apenas a encarou com uma expressão vazia até que a ficha caiu. Foi preciso todo o seu poder de incarnação para impedir a si mesma de gritar alto em descrença. Ela respirou fundo, segurou o ar, depois expirou longa e lentamente.
Então ela inspirou novamente e perguntou, com muito cuidado:
— Você… você quer dizer… casamento…?
Tiese olhou para o chão à sua frente e assentiu quase imperceptivelmente. Novamente, Ronie teve que se impedir de deixar o instinto assumir o controle e perguntar quem havia feito o pedido. Mas havia apenas um homem possível que poderia pedir a mão de Tiese em casamento neste momento. Esse era o Cavaleiro da Integridade de elite e portador das Lâminas de Duas Asas, Renly Synthesis Twenty-Seven.
Ficara claro desde a Guerra do Underworld que ele nutria afeição por Tiese. Portanto, não era surpreendente que ele pedisse; se alguma coisa espantava, era que demorara demais.
Ronie imaginou o rosto do pequeno cavaleiro que sempre usava aquele sorriso tímido, e começou a parabenizar a amiga.
Mas Tiese balançou a cabeça rapidamente antes que ela pudesse dizer as palavras.
— Eu… eu ainda não decidi qual será minha resposta. — Ela sussurrou.
Isso foi uma surpresa.
— Huh…? Mas por quê? Você não desgosta dele. Na verdade, eu pensei que você também gostava de Sir Renly. Vocês estão juntos com tanta frequência… — Ela insistiu, mas o rosto de Tiese ficou ainda mais abatido. Era completamente diferente da garota alegre e vivaz parecer tão magoada.
— Eu gosto dele. Mas sei por que gosto dele. E é porque… Sir Renly me lembra um pouco o meu mentor.
— …! — Ronie inspirou bruscamente.
Tiese não estava falando do Delegado Espadachim Kirito, é claro.
Quando eram aprendizes primárias na Academia de Esgrima, Ronie servira como pajem de Kirito, enquanto Tiese cuidara de outro Discípulo de Elite. Sua maneira gentil e sorriso suave escondiam um talento para a esgrima e uma força de vontade tão indomável quanto a de Kirito. Ronie sabia que Tiese o admirara com todo o seu ser.
Mas ele não estava mais entre os vivos.
Ronie acreditara que sua amiga ruiva superara aquela tristeza. Passara a presumir que Tiese guardara aquelas memórias como joias preciosas em seu coração e retomara sua caminhada pela vida.
As lágrimas que escorriam daqueles cílios castanho-avermelhados diziam a Ronie que não era o caso.
— Tiese… — Ronie disse, mordendo o lábio com hesitação. Então ela se recompôs e se levantou. Virou-se para Deusolbert, que estava atualmente dando ordens no centro do salão de treinamento, e gritou — Mestre Instrutor! Por favor, permita-nos concluir a sessão de treinamento de hoje, pois a Aprendiz Schtrinen não está se sentindo bem!
O homem severo de cabelos curtos lançou-lhe um olhar como flechas de aço, mas assentiu sem dizer uma palavra em contrário. Ronie ajudou Tiese a se levantar e a fez curvar-se em agradecimento para que ninguém pudesse ver seu rosto, depois deixou o salão com ela.
Ela passou um braço pelos ombros de Tiese e desceu rapidamente as escadas com ela em direção ao Jardim das Rosas, atrás da catedral.
Elas fizeram uma pequena reverência de cumprimento ao grande jardineiro que, segundo rumores, ele já fora um guarda de prisão, e seguiram cegamente pelos caminhos labirínticos até encontrarem um pequeno banco bem no fundo, onde ninguém as encontraria.
Em fevereiro, mesmo as variedades de rosas de floração mais precoce no jardim estavam apenas começando a brotar. As plantas tremiam na brisa fria, apenas folhas e espinhos.
Os olhos úmidos de Tiese, de um vermelho-maple, olhavam para as roseiras sem realmente vê-las. Depois de um tempo, ela murmurou:
— Eu acreditava que… se eu ficasse com Sir Renly, finalmente conseguiria esquecê-lo… Quer dizer, eu desejava poder.
— Tiese… — Ronie passou o braço pelas costas da garota. Tiese se inclinou frouxamente e descansou a cabeça no ombro de Ronie.
— Mas… então percebi que estou sempre procurando por sinais dele nos sorrisos, palavras e gestos de Renly… E Renly sabe que eu também não consigo esquecê-lo. Ele disse que tudo bem. E ainda assim escolheu me pedir em casamento. Isso me deixou tão feliz… tão feliz… mas…
As lágrimas se acumularam em seus longos cílios novamente e caíram. Desta vez não foram apenas algumas gotas, mas um fluxo constante que vinha e vinha, encharcando suas simples roupas de treinamento.
— Isso me deixou feliz, mas eu realmente não quero esquecer. No fundo do meu coração, sei que quero permanecer com minhas memórias dele para sempre. E porque estou ciente disso… eu simplesmente não consigo…
Ela engoliu um soluço trêmulo, pressionou o rosto contra o peito de Ronie e gritou:
— Eu quero vê-lo… Eu quero ver Eugeo de novo!
Ronie abraçou Tiese com força enquanto ela soluçava. Ronie sentiu seus próprios olhos esquentarem também.
A experiência delas como aprendizes de pajem na Academia de Esgrima durara apenas um mês. Mas para as meninas, aquele tempo fora o próprio destino, um milagre que aconteceria apenas uma vez em suas vidas.
Há muito tempo, Ronie jurara viver por aquele milagre e nunca amar outra pessoa em sua vida. Provavelmente fora por isso que ela esperara que Tiese conseguisse seguir em frente e encontrar essa felicidade por ambas — uma esperança que ela agora percebia ter sido incrivelmente egoísta de sua parte.
Porque, diferente de Ronie, Tiese nunca mais veria o amor de sua vida. Ela nunca mais conseguiria tocar sua mão, falar com ele ou mesmo observá-lo de longe.
Ronie não tinha palavras que pudessem confortar sua melhor amiga enquanto ela chorava. Em vez disso, esfregou suas costas e acariciou seus cabelos pelo tempo que o momento durou.
Quando as lágrimas de Tiese finalmente cessaram, a escuridão do pôr do sol invadia o Jardim das Rosas. Sua cabeça repousava sobre o ombro de Ronie, e ela estava claramente esgotada e exausta. Juntas, elas observaram a lenta descida de Solus em um torpor entorpecido.
— …Desculpe. Obrigada. — Tiese disse, finalmente, sua voz um coaxar miserável.
Ronie balançou a cabeça.
— Está tudo bem. Na verdade, eu sinto muito, Tiese. Eu… eu falhei completamente em entender como você se sentia. E eu aqui, apenas esperando por conta própria que você seguisse em frente e fosse feliz com Sir Renly…
— Está tudo bem. Há uma parte de mim que quer fazer exatamente isso. — Tiese concordou. Ela respirou fundo; a força estava voltando à sua voz agora. — Vou pedir a Sir Renly para esperar um pouco mais. Talvez um tempo adicional não faça diferença alguma… mas eu simplesmente tenho um pressentimento.
— Um pressentimento…?
— Sim. Desde o momento em que vi o dragoncraft de Kirito… tive a sensação de que algo estava para acontecer. Algo ia mudar.
As palavras de Tiese forçaram Ronie a recordar aquele momento inesquecível. Uma luz prateada subindo incessantemente contra o fundo do céu azul. Aquilo a enchera de um júbilo tão agudo que fora doloroso. Havia, de fato, algo naquela imagem que era um presságio de mudança revolucionária.
— …Sim. Eu também sinto. — Ela murmurou. Tiese assentiu.
As duas aprendizes de cavaleiro ficaram sentadas no banco de pedra por mais um tempo. Eventualmente, o sino das cinco horas tocou. Tiese se levantou, olhou para Ronie e disse, para a surpresa da outra garota:
— E você, Ronie?
— Uh… e eu o quê?
Os olhos vermelho-maple de sua amiga piscaram, e ela pareceu até sorrir o mais leve dos sorrisos.
— Você contou a Kirito como se sente? Mesmo que um pouquinho?
— N… não, claro que não! — gritou Ronie. Ela encolheu os ombros e olhou ao redor, depois balançou a cabeça e sibilou. — Você sabe que eu… eu não poderia fazer isso. Estou bem com as coisas como estão.
— Se você sente que precisa se conter por minha causa, não há necessidade disso — disse Tiese, com toda a seriedade.
— Não, honestamente, está tudo bem. — Ronie insistiu. — Afinal… ele tem Lady Asuna. E há Lady Alice, que certamente voltará a este mundo eventualmente, e o General Serlut, e… e até mesmo Lady Fanatio, talvez…
— Oh, Ronie. — Tiese lamentou com um suspiro. — Kirito não é casado com nenhuma dessas pessoas. E ele está acima até mesmo de imperadores neste momento, então se você fosse seguir a Lei Imperial Básica, ele poderia ter… três esposas? Quatro…?
— V-você sabe que ele nunca faria algo assim! — disse Ronie, gritando novamente, se levantando rapidamente para evitar que Tiese visse o rubor em suas bochechas. — Honestamente, estou bem! Apenas se preocupe consigo mesma, Tiese!
Ela girou os calcanhares para se afastar. Sua amiga suspirou audivelmente mais uma vez, depois caminhou até ela.
— Bem, acho que o próprio Kirito nunca diria isso… Vamos, Ronie, vamos voltar. Shimosaki deve estar com fome agora.
— Sim, eu ia mencionar isso também. Mas… — Ronie disse, olhando para a esquerda e para a direita observando as sebes. — Você sabe o caminho de volta, Tiese?
— …Eu estava chorando. Como eu saberia para onde estava indo?
Elas se entreolharam. No meio do imenso labirinto de rosas, as duas garotas suspiraram pesadamente.
Naquela noite, Ronie deitou em sua cama no vigésimo segundo andar da Catedral, mas achou difícil adormecer.
Você tinha mesmo que tocar nesse assunto, Tiese, pensou ela, encarando a grossa parede de pedra que separava seu quarto do adjacente. Então ela se sentiu mal, percebendo que sua amiga provavelmente também estava tendo problemas para dormir.
Tiese, é claro, estava lidando com sua primeira proposta de casamento.
Onde será que ele fez isso no prédio? O que ele disse a ela? ela imaginou, descobrindo que seus pensamentos rapidamente se desviavam. E se… e se Kirito me pedisse em casamento? Que tipo de lugar ele escolheria para o pedido? O Mirante da Estrela da Manhã no nonagésimo quinto andar…? Ou talvez o pátio dos fundos da Academia de Esgrima, onde compartilhamos tantas memórias…? Na verdade, ele poderia até usar suas artes de voo para me levar ao topo das nuvens…
Ronie respirou fundo e puxou o cobertor sobre a cabeça para afastar esses pensamentos de sua mente. Ela disse a si mesma que não deveria nem imaginar essa possibilidade. Havia apenas uma coisa que ela podia esperar: que a paz persistisse. Ela não podia pedir nada mais. Nada.
Ela rolou de bruços, enterrou o rosto no travesseiro e permitiu que a fada do sono se aproximasse, fechasse suas pálpebras e as mantivesse assim.
Tradução: Gabriella
Revisão: Pride
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