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Sword Art Online – Moon Cradle – Vol. 19 – Cap. 02

 

O vasto espaço no quinquagésimo andar da Catedral Central, conhecido como o Grande Salão da Luz Fantasmagórica, era agora o local de reuniões do Conselho de Unificação Humana.

No centro do piso, onde antes havia apenas mármore polido, erguia-se uma imponente mesa redonda, esculpida em um antigo carvalho platinado, rodeada por vinte cadeiras.

Sentado em uma delas, com os ombros curvados de vergonha, estava Kirito. Um homem corpulento pairava sobre ele, bradando com uma voz que ribombava como um trovão.

— Agora, Delegado Espadachim, vou te dar uma boa lição desta vez!!

— …Sim, senhor.

— Eu não vou destruir nada desta vez, você jurou por suas espadas! Presumo que não se esqueceu de ter dito isso!!

— …Não, senhor.

O maior espadachim de todo o reino humano estava sendo repreendido como um estudante, e o papel de professor era desempenhado por um cavaleiro trajando uma armadura de bronze em tom vermelho escuro. Seu rosto era severo e imponente, seus cabelos curtos e olhos penetrantes tinham a cor das chamas. Aquele era Deusolbert Synthesis Seven, um dos mais antigos Cavaleiros da Integridade.

— Se Lady Asuna não tivesse usado seu poder divino, o nonagésimo quinto andar da catedral estaria completamente carbonizado neste momento! Não me importa se está desabitado agora, pense em como o povo da cidade lamentaria se a histórica e simbólica Torre Branca ficasse conhecida como a Torre Carbonizada! Parece-me que você desconhece completamente o status que possui! Deixe as questões mais delicadas de desenvolvimento de artes e ferramentas para os mestres das artes e ferreiros que têm isso como vocação!

Outra cavaleira, sentada um pouco distante à mesa, interrompeu a palestra de Deusolbert antes que ela se prolongasse indefinidamente.

— Já chega por agora, Deusolbert. Olhe para o delegado espadachim, ele está tão murcho quanto uma lesma ao sol.

Sua voz voluptuosa, contendo mais do que um toque de divertimento, acompanhava uma armadura polida como um espelho e longos cabelos negros que caíam pelas costas. Uma espada longa com cabo de platina repousava em seu quadril esquerdo, e em seu braço direito ela embalava um bebê com um tom de cabelo azul-escuro, raro no reino humano.

— Mas, Comandante…

— Não seria bom repreender tanto o delegado a ponto de ele fugir de casa novamente. Temos a reunião com o Território Negro no próximo mês, afinal.

A mulher sorridente, tão bela e graciosa quanto uma flor, era a Comandante dos Cavaleiros da Integridade, Fanatio Synthesis Two. Ela era a segunda comandante na história da cavalaria e possuía a maior habilidade com espadas do mundo, mas ninguém diria isso pela forma como ela embalava gentilmente o bebê adormecido.

Fanatio olhou para o jovem desanimado, um sorriso brilhando em seu rosto, e disse:

— Então você terá que se comportar por um tempo, garoto.

Kirito ergueu o olhar, com uma careta grande e sem jeito.

— É muito mais assustador quando você me chama de “garoto” em vez de “delegado”.

— Haha. Você não diria que seu medo é uma admissão de culpa vinda de dentro? — disse Fanatio, olhando de soslaio para Asuna, a subdelegada, que estava por perto de braços cruzados. Asuna sorria, mas seus olhos não; na verdade, pareciam estar tremendo.

Fanatio então olhou para Ronie, que estava ao lado de um pilar não muito longe da mesa. Por alguma razão, o sorriso de Fanatio pareceu um pouco travesso. Mas o olhar maroto desapareceu rapidamente, e ela deu um tapinha no ombro de Kirito.

— O importante é que não houve dano real mais uma vez, então suponho que podemos encerrar sua repreensão por aqui. Em vez disso, vou apenas insistir que você passe o resto do dia até a hora do jantar cuidando do seu trabalho de escritório.

— …Tudo bem — murmurou Kirito em resignação. Fanatio agarrou seus ombros enquanto ele ainda estava sentado e o empurrou em direção à mesa antes de acenar para Ronie. A garota correu para receber o bebê.

— Você se importaria de cuidar do Berche um pouco, Ronie? Ultimamente, sempre que o deixo brincar sozinho, ele acaba destruindo coisas.

— S-sim, ficaria feliz em ajudar! — disse Ronie, estendendo os braços. A Comandante dos Cavaleiros então lhe entregou o bebê adormecido. A aprendiz ficou atordoada com o aumento repentino de peso. Como uma cavaleira em treinamento, Ronie conseguia facilmente brandir uma grande espada padrão de dois mels com uma única mão, mas o peso de uma criança era algo completamente diferente.

Ela reequilibrou os braços com cuidado, provocando um murmúrio sonolento do menino de um ano, embora não fosse o suficiente para acordá-lo. Ela fez uma breve reverência a Fanatio e voltou para o pilar. Tsukigake a cumprimentou ali, estendendo o focinho para cheirar o bebê com curiosidade.

Na mesa redonda, Kirito, Asuna, Fanatio e Deusolbert foram acompanhados pelo líder da brigada de artífices sagrados — o grupo que antes era conhecido como sacerdotes ou monges — e outros altos funcionários da catedral sentados aqui e ali, enquanto a reunião começava.

— Vamos começar com a reabertura da caverna sul nas Montanhas do Fim, conforme relatado anteriormente…

— Escavar a caverna deve ser possível, mas o maior problema será construir uma estrada que atravesse as densas selvas do sul…

Esta não era uma reunião formal do Conselho, então, como aprendiz, Ronie não era obrigada a estar presente. Sua parceira, Tiese, por exemplo, estava na grande biblioteca estudando as fórmulas de artes sacras que ela achava tão difíceis.

Mas havia algo que Ronie queria perguntar a Kirito em segredo. Ela queria saber a verdade sobre uma imagem mental fugaz que capturara enquanto assistia ao teste de voo mais cedo naquela manhã. E se você tirasse os olhos de Kirito por um instante sequer, ele desapareceria para algum outro local na Catedral ou no distrito comercial de Centoria — ou até mesmo voaria para alguma outra cidade ou vila no Reino — então ela precisava pegá-lo quando a reunião terminasse, antes que ele pudesse sumir.

Durante o treinamento de incarnação, às vezes forçavam os treinandos a se equilibrarem no topo de um estreito pilar de metal em um pé só por horas a fio, então encostar-se a um pilar e esperar o fim da reunião não era problema algum. Seu dragão era mais comportado que o de Tiese, então, pelo menos, ela não precisava se preocupar que ele tentasse afiar os dentes na pedra por tédio.

Enquanto estava ali, ouvindo o debate animado na mesa, veio um espirro adorável do bebê em seus braços. Ele não acordou, mas ela se preocupou que ele pudesse estar com frio, então caminhou até a janela, por onde os raios de Solus espreitavam. Seus cabelos azul-escuros brilhavam à luz do sol, e a visão daquelas bochechas inocentes e rechonchudas fez Ronie prender a respiração.

Um bebê… pensou ela, sorrindo.

Sua mente viajou de volta ao mês anterior, quando ela retornara para casa, no lado norte da capital. Essas memórias não eram nem de perto tão agradáveis.

A família Arabel fora originalmente uma casa nobre de sexta categoria sob o antigo sistema de nobreza.

Eles não levavam uma vida rica e extravagante. Não possuíam sua própria propriedade como os nobres de escalão superior, e sua única renda era o salário do trabalho de seu pai como líder de pelotão da Guarda Imperial e uma pequena pensão nobre. Estava longe das vastas somas de dinheiro de impostos que os nobres de primeira e segunda categoria recebiam todos os meses sem trabalhar, e nem sequer se comparava à renda dos comerciantes bem-sucedidos que faziam negócios no distrito central de Centoria.

Ainda assim, ela se divertia, vivendo com sua mãe brilhante e meticulosa, seu pai severo, mas gentil, e seu irmãozinho travesso.

A única coisa que minava seu ânimo eram as festas que a família de quarta categoria de seu pai dava de vez em quando. Ele era o quarto filho e, embora o avô de Ronie tivesse falecido quando ela era apenas um bebê, o primeiro filho, que se tornou o patriarca — o tio de Ronie — mantinha uma atitude de que ele e sua família eram nobres orgulhosos e estavam acima de tudo. A tia extravagante de Ronie usava uma expressão de nojo indisfarçável sempre que o costume social exigia que ela elogiasse o vestido velho e desbotado da mãe de Ronie, e a filha frequentemente fazia birra e ficava emburrada quando chegava a hora de ir a outra festa.

Mas após a repressão da Rebelião dos Quatro Impérios, o sistema de nobreza foi revolucionado. Todas as propriedades foram liberadas, e os nobres não foram mais separados em categorias. As pensões nobres permaneceram por um curto período depois, mas não eram suficientes para viver, então todos os nobres foram forçados a encontrar emprego no recém-reformado exército humano.

Para as grandes casas nobres, isso não foi nada menos que uma profunda transformação, mas do ponto de vista de Ronie, era simplesmente colocá-los de volta no lugar a que pertenciam. O tempo em que o nome da família de uma pessoa lhes rendia títulos extravagantes como general ou estrategista havia acabado. Apenas aqueles que eram reconhecidos por sua habilidade, inteligência e experiência reais eram colocados em posições de importância.

Em outras palavras, no presente, todas as famílias nobres estavam no mesmo nível.

Mas havia algumas pequenas exceções a essa regra. E de todas as famílias nobres em Centoria, calhou de serem as famílias de Ronie Arabel e Tiese Schtrinen, as duas pessoas escolhidas para serem aprendizes de Cavaleiras da Integridade.

No mês passado, Ronie voltara para casa pela primeira vez desde que se tornara aprendiz. Seus pais e irmão estavam bem, especialmente seu irmão, que agora era estudante na Academia Imperial de Esgrima de North Centoria. Ele ficou animado em vê-la e tentou brandir sua espada (ele não conseguia nem tirá-la da bainha) e desafiá-la na queda de braço (ele não conseguia empurrar seu pulso nem meio cen) e assim por diante. Seu pai queria perguntar tudo sobre a vida na catedral, e a comida de sua mãe estava deliciosa como sempre. Foi uma noite maravilhosa…

Mas no dia seguinte, seus três tios e suas famílias invadiram a casa e, para sua surpresa, trouxeram muitos presentes:

Propostas de casamento para Ronie, era isso.

Os Cavaleiros da Integridade, dos quais Ronie um dia seria um membro pleno, eram os protetores da Igreja Axiom sob o antigo regime e eram objetos de medo e reverência avassaladores para toda a população. Essa situação não havia mudado muito agora que a Igreja havia sido reformulada com o Conselho de Unificação Humana. Se alguma coisa, como o fato de muitos Cavaleiros da Integridade terem perdido suas vidas na Guerra do Underworld, apenas os tornavam mais heroicos aos olhos do público.

Se pudessem casar uma dessas cavaleiras com sua família, sua posição e renda aumentariam exponencialmente, seus tios e tias pareciam pensar. Famílias com filhos em idade apropriada os ofereciam como prêmios. Se não houvesse filhos, herdeiros de parentes próximos seriam oferecidos em seu lugar. O número de documentos de identificação pessoal que eles haviam reunido para apresentar a ela com o propósito de fazer suas ofertas parecerem melhores era realmente impressionante.

— Aprendiz de cavaleira ou não, o dever mais importante de uma mulher é gerar e criar filhos. Até mesmo a Comandante dos Cavaleiros da Integridade deu à luz um menino! Então não pode haver nenhuma lei que diga que você não pode fazer o mesmo, minha menina. Olhe aqui, eu recomendo meu filho.

— Não, o meu é melhor!

— Mas você ainda não viu o nosso menino…

Há muito tempo, Kirito havia contado um segredo a Ronie e Tiese. A pontífice que governara a antiga Igreja Axiom encontrara os indivíduos mais habilidosos em esgrima e artes sacras de todo o país e os moldara em Cavaleiros da Integridade. Na realidade, isso significava realizar um processo proibido chamado Ritual de Síntese, que removia todas as suas memórias antigas e implantava uma falsa.

De acordo com essa falsa memória, eles não eram seres humanos, mas cavaleiros convocados ao plano mortal do reino celestial.

Era uma coisa terrível, pavorosa de se fazer — mas na presença de suas tias e tios, Ronie não pôde deixar de admitir, a contragosto, a genialidade lógica de como isso havia estabelecido o funcionamento da cavalaria.

Ela resistiu ao impulso de realizar a arte sacra de criar uma cortina de fumaça e fugir e, em vez disso, explicou a seus parentes que um Cavaleiro da Integridade na família não traria maiores propriedades ou bens nobres. Mas eles se recusaram a acreditar nela, a ponto de acusá-la de viver no luxo dentro da Catedral, momento em que seu pai ficou furioso e os expulsou de casa.

Mas, embora agradecesse ao pai, não conseguia afastar o pensamento.

Ele sempre dizia que ela deveria ficar com o homem com quem quisesse se casar, mas certamente ele devia estar ansioso para ter netos. E, mais importante que isso, seus pais deviam estar terrivelmente preocupados com ela fazendo parte da Cavalaria da Integridade. Se a guerra não tivesse eclodido, Ronie teria se formado na Academia de Esgrima, tomado o segundo ou terceiro filho de alguma outra família nobre como marido e continuado o nome da família Arabel.

Então, estava claro que eles esperavam que ela se casasse e começasse uma família o mais rápido possível. E, por sua vez, ela queria realizar isso para que eles soubessem que seu futuro estava seguro.

Mas depois que ela partiu e retornou à Catedral Central, Ronie se viu pedindo desculpas silenciosamente a eles repetidas vezes.

Sinto muito, Pai. Sinto muito, Mãe. Tenho quase certeza — muita certeza, na verdade — de que nunca me casarei ou terei filhos em minha vida.

Porque nunca estarei com aquele que eu realmente amo.

Ronie foi tirada de suas reminiscências quando o pequeno Berche acordou e começou a se mexer em seus braços. Em pânico, ela tentou desajeitadamente acalmá-lo, mas o bebê não mostrava sinais de se acalmar tão cedo.

— Está tudo bem. Pronto, pronto. Quem é um bom menino? — Ela arrulhou enquanto o rosto do bebê ficava cada vez mais vermelho. Bem quando ele se enrugou, e Berche se preparou para cair no choro, uma mão se estendeu e agarrou o bebê por suas roupas.

— Vai precisar de mais do que isso, confie em mim — disse sua mãe, a Comandante Fanatio. Seu sorriso benevolente e feições belas eram emoldurados por longos cabelos negros esvoaçantes.

— Lá vamos nós! Olhe, você está voando! — Ela disse, jogando o pequeno Berche para o ar. Parecia tão fácil quanto um movimento do pulso, mas esta era a mais forte dos Cavaleiros da Integridade, afinal.

O bebê girou e rodopiou cada vez mais alto em direção ao teto altíssimo do Grande Salão da Luz Fantasmagórica.

— O quê—? Fana… C-cuidado…!! — gritou Ronie, congelando desajeitadamente. O impulso ascendente do menino diminuiu pouco antes de sua cabeça tocar o mapa do reino celestial no teto, e ele começou a cair reto. Quando ele aterrissou de volta nos braços de sua mãe, imediatamente deu uma risadinha e gargalhou de excitação.

— Não consigo imaginar como vou lidar com ele. Obrigada por cuidar dele, Ronie. Terei que pedir sua ajuda novamente no futuro — disse Fanatio, agraciando-a com um sorriso e seguindo para a saída. Deusolbert e os outros líderes a seguiram; a reunião havia terminado.

— Parece que parte do problema é como ela o está criando… — murmurou uma voz ao fundo. Ronie se virou para ver Kirito, sua expressão uma mistura de exasperação e medo. Ao lado dele, Asuna também fazia uma careta sem jeito.

— B-bem, um dia ele vai ser um cavaleiro e montar em um dragão, e-então… provavelmente é bom para ele se acostumar com alturas desde cedo.

— Entre o bebê de Sheyta e ele, o futuro vai ser um verdadeiro desast… digo, um verdadeiro deleite. — Kirito continuou, balançando a cabeça e colocando as mãos na cintura. — E agora que meu trabalho do dia acabou, vou verificar a Unidade Dois…

— O-o quê?! Você já tem outra?!

— Sim, e esta é incrível. Entre o motor de elemento de calor e os propulsores, há um compressor de elemento de vento, o que torna possível engatar o turbo…

— Talvez em vez de focar na potência, Kirito, você devesse fazer algo sobre a segurança dela!

Ronie mal teve força de vontade para se interpor entre o Espadachim Negro e sua parceira divina, que falava na desconhecida língua sagrada consideravelmente mais do que uma pessoa comum.

— Hum, lic… com licença, Kirito…

— Sim?

— Hum, eu queria conversar… Ah, bem, eu queria te perguntar uma coisa, na verdade…

Os olhos negros de Kirito piscaram para ela, mas ele rapidamente a agraciou com um sorriso amigável.

— Sim, claro. Suponho que podemos ter um chá da tarde mais cedo. E você, Asuna?

Ele olhou para a subdelegada espadachim, que murmurava para si mesma.

— Bem, eu gostaria de me juntar a vocês, mas devo assistir a uma palestra sobre artes sacras na Grande Biblioteca depois disso.

— Ah, entendo. Bem, o segundo escriba é intimidador, admito. Melhor não se atrasar — disse Kirito com um arrepio visível.

— Apenas para estudantes com desempenho ruim, talvez. — Asuna sorriu. Ela deu um passo para trás e se virou para Ronie. — Bem, te vejo no jantar, então. Ronie, certifique-se de que Kirito não se encha de doces.

— Eu… eu vou! — Ela disse, curvando-se, enquanto Kirito resmungava sobre ser tratado como criança. Asuna acenou e se virou para sair, deixando uma imagem residual tingida de arco-íris para trás. Kirito a observou atravessar as grandes portas ao sul, depois olhou de volta para Ronie.

— Então… acho que poderíamos ir até o octogésimo andar ou algo assim. Eu realmente gostaria de um bolo de ameixa da neve agora…

— Vou pedir para o pessoal da cozinha preparar um para você.

— Pegue duas… não, três fatias para mim! Te vejo lá em cima! — Kirito disse sem dar a Ronie tempo para intervir, e correu pela porta norte para o poço de levitação.

Ela estendeu a mão para acariciar o pescoço de Tsukigake, que finalmente estava cochilando, e murmurou:

— Acho que deveria trazer o bolo inteiro…

Na cozinha do décimo andar, Ronie pegou um bolo inteiro com ameixas da neve cobertas de açúcar por cima — para o olhar de desaprovação do chef —, colocou-o em uma cesta com uma chaleira portátil e seguiu para o octogésimo andar da catedral.

Quando ela pisou na plataforma elevatória, ela subiu sozinha. Antes era operada por uma pessoa, mas agora que era automática, aquela garota havia sido dispensada do serviço. Pelo que Ronie ouvira, ela havia iniciado uma nova carreira no arsenal em reconhecimento à sua excelente habilidade com artes do vento.

Como seu nome informal de Jardim das Nuvens sugeria, o octogésimo andar da Catedral Central era coberto de flores, apesar de ser um ambiente interno. No topo de uma colina pequena e suave no centro do espaçoso prado coberto por lírios-geada prateados, estava o delegado espadachim, vestido de preto.

Kirito tinha a mão apoiada na jovem osmantus plantada no meio do topo da colina. Enquanto Ronie se aproximava, ele se virou e sorriu para ela.

— Oi. Obrigado.

— Este é um dos deveres de uma pajem, afinal. — Ela riu e estendeu um pano. Então tirou pratos da cesta, assim como o bolo grande, já fatiado, para o deleite infantil de Kirito. Ela serviu fatias para si mesma, Tsukigake e Kirito; serviu duas xícaras de chá; e disse a ele para se servir.

— Obrigado, isso parece ótimo! — Kirito disse, começando a comer rapidamente, como se estivesse em uma competição com o dragão. Ronie sentiu um calor se espalhando por seu peito enquanto o observava.

Quando ela tinha oportunidades de ficar sozinha com Kirito atualmente, sentia tanto uma sensação de felicidade quanto um profundo anseio para que seu desejo se realizasse. Se ao menos houvesse uma arte sacra de congelar o tempo… Se ao menos ela pudesse viver dentro deste momento por toda a eternidade…

Mas, claro, nenhum comando de artes sacras poderia controlar o fluxo do tempo. Ele nunca retrocedia e nunca parava, mas continuava fluindo em direção ao futuro na mesma velocidade constante.

Foi por causa do fluxo eterno do tempo que o mundo sobreviveu ao seu maior perigo e alcançou a paz de que agora desfrutava. Algum dia, Ronie se tornaria uma Cavaleira da Integridade de pleno direito e cruzaria os céus nas costas de um Tsukigake adulto. Parte dela ansiava por isso, é claro. Mas ela não conseguia impedir a si mesma de desejar: Por favor, tempo, apenas pare.

— …nie. Ronie?

A voz de Kirito a tirou de seu devaneio gentil.

— Oh, d-desculpe! Você queria mais?

— Não. Quer dizer, sim… mas não era isso que eu estava dizendo. — Kirito estendeu seu prato vazio para ela. — Você não ia me perguntar algo?

— Ah…

Finalmente, ela se lembrou por que estava ali em primeiro lugar.

— Sinto muito! — Ronie gaguejou. — Isso mesmo… Hum, era sobre aquele dragão de aço que você criou… o dragoncraft.

Kirito deu uma grande mordida na segunda fatia de bolo que ela lhe ofereceu e assentiu.

— Aham.

— Hum, bem, eu estava pensando… er, na verdade, eu estava preocupada que… — Ela olhou para a esquerda e para a direita antes de continuar em voz baixa — Você poderia estar planejando usar aquele dragoncraft… para voar sobre a Muralha do Fim?

Kirito de repente soltou um gorgolejo abafado, bateu no peito com uma mão e tateou o ar vazio com a outra. Ronie apressadamente lhe entregou sua xícara de chá, que ele bebeu de uma só vez antes de expirar.

O jovem de cabelos negros sorriu da mesma forma que quando ela o conhecera — como um garoto travesso que sabia exatamente no que estava se metendo.

— Eu deveria ter imaginado que minha pajem me conheceria tão bem. Não consigo esconder nada de você.

— O quê? E-então é verdade?

— Sim, basicamente. — Ele admitiu, coçando a bochecha como se não fosse grande coisa. Ronie o encarou, incrédula.

A Muralha no Fim do Mundo. Esse era o nome comum da barreira que se estendia pelo perímetro ao redor tanto do reino humano quanto do reino sombrio — o Submundo como um todo. Sua altura parecia ser infinita, na verdade.

De Centoria, ela simplesmente se misturava ao azul do céu, escondendo sua existência dos residentes, mas Ronie a vira com seus próprios olhos apenas uma vez. Foi quando ela acompanhou Kirito em uma visita ao domínio dos goblins da montanha no extremo norte do Território Sombrio. Tirou-lhe o fôlego quando notou o penhasco desbotado e distante no horizonte.

Segundo os goblins, a muralha não era feita de terra, mas de algum mineral ultraduro. Eles tinham dificuldade até mesmo em cinzelar um pequeno buraco nela, muito menos em esculpir cavernas ou escadas em sua superfície. Em trezentos anos de história, todas as tentativas temerárias de escalá-la terminaram em morte.

Os gigantes e ogros tinham contos semelhantes sobre a muralha, deixando claro que havia um entendimento comum compartilhado pelos povos do Território Sombrio: a muralha era completamente intransponível e representava literalmente o fim do mundo.

Ou assim pensávamos.

— Então, hum, bem. — Ronie gaguejou, tentando recuperar o equilíbrio. Ela tinha uma vaga ideia de quais eram as intenções dele, mas não esperava que ele admitisse tão facilmente. Ela tomou um gole de chá para se acalmar. — Hum… Então isso significa que você já testou se consegue cruzar a muralha com suas artes de voo?

— Sim — disse Kirito, mas logo balançou a cabeça. — Eu tentei e desisti. Não consegui nem passar por cima com asas feitas de incarnação, muito menos voar com elementos de vento. Parece que atingir uma certa altura fixa aumenta a gravidade a um nível quase ilimitado…

Ele se recostou na osmantus, de braços cruzados, resmungando mais para si mesmo do que para ela.

— …Mas quando joguei uma faca para cima daquele limite de elevação teórico, ela foi muito, muito mais alto. O que significa que o limite não bloqueia completamente todos os objetos. Acho que ele bloqueia seletivamente humanoides. Afinal, desenvolver asas não muda minha ID de unidade… Então, a única opção que tenho é apostar que, ao me selar completamente dentro de uma carapaça móvel, o próprio sistema reconhecerá a carapaça como um objeto não vivo, permitindo que eu passe…

Neste ponto, Ronie estava completamente perdida. Ela levantou a mão.

— Hum, você está dizendo que não consegue cruzar a muralha com seu próprio corpo, mas se montar naquele dragão de metal, talvez consiga passar por cima dela?

— Huh…? — Kirito finalmente ergueu o olhar, piscando repetidamente. — Ah, desculpe. Certo, sim, está correto. A verdade é que já tentei voar aviões de papel ou couro — er, dragões — com artes sacras e incarnação. Mas não funcionou… Se sou eu quem os move, parece que o sistema os trata como roupas ou armaduras. O dragão tem que ser capaz de voar por conta própria. Mas se ele vai suportar a temperatura dos elementos de calor, precisa ser feito de metal, e precisa de potência para conseguir empurrar todo esse peso, o que significa mais elementos de calor, e é apenas um ciclo vicioso, entende…

— Uau… isso tudo parece muito complicado… — Ronie murmurou, caindo no mesmo pântano de pensamentos que atormentava Kirito antes de ela voltar a si. — Ah, quero dizer, não isso! Eu queria te perguntar sobre outra coisa…

— Hmm? O quê?

— Por que você precisa passar por cima da muralha? Fui sua pajem por muito tempo, então entendo seu instinto de querer superar qualquer obstáculo que enfrente… mas sinto que há… coisas mais importantes para focar agora…

Ela começou forte, mas logo percebeu que estava começando a soar como um sermão e sentiu vergonha. Kirito deu um tapinha em seu ombro.

— Obrigado, Ronie. Sinto muito por te preocupar o tempo todo. — Ele disse com um sorriso, o que fez o coração dela dar um salto. Ela rapidamente reprimiu suas emoções. Kirito não pareceu reconhecer o efeito que tinha sobre ela, no entanto. Ele colocou as mãos atrás da cabeça e olhou para o céu.

— …Mas a verdade é que, por acaso, acho que passar por aquela muralha é, na verdade, a maior prioridade em todo o Submundo neste momento.

— Hum… o que isso significa?

— …Escute, não conte a mais ninguém. Nem mesmo para Tiese ou Fanatio.

Ela ficou surpresa com sua exigência repentina, mas concordou mesmo assim. O verdadeiro choque, no entanto, foi o que Kirito disse em seguida.

— Nesse ritmo, haverá outra guerra.

— …!! N-não, isso não pode ser…! Finalmente alcançamos uma era de paz…

Kirito balançou a cabeça, sua expressão severa.

— Receio que isso não vá durar muito… O Portão Oriental ruiu, o comércio começou entre os dois mundos, e turistas vieram em grande número do Território Sombrio. Por enquanto, eles estão apreciando paisagens e comidas que são raras e exóticas para eles. Mas, eventualmente, eles não conseguirão deixar de notar a diferença definitiva entre os dois mundos.

— Diferença…?

— Sim. O Reino Humano é rico demais em recursos, e o Reino Sombrio é pobre demais. Você viu aquele céu vermelho e o carvão negro como breu… A terra ao redor de Obsidia era o único lugar que era razoavelmente exuberante, mas os demi-humanos não têm direito àquele lugar — é administrado por humanos. Lenta mas seguramente, a agitação aumentará entre os goblins, orcs e gigantes. Asuna e eu tentamos fazer o que podíamos para tornar suas terras mais férteis, mas nada funcionou. Os recursos espaciais… o poder sagrado simplesmente não existe lá.

Ela o ouvia, sem dizer uma palavra. Sim, a visão da terra árida do Território Sombrio está gravada em minha mente. Mas até este momento, eu sempre presumi que era assim que deveria ser. Nunca considerei a ideia de realmente fazer algo a respeito.

— Kirito… eu… — Ela murmurou.

Ele a olhou com aqueles olhos negros profundos e sorriu gentilmente.

— Sinto muito, não estou te criticando. Ninguém pode evitar; é assim que o Submundo foi construído desde o início. Foi projetado para que a guerra acontecesse entre o reino sombrio faminto e o rico reino humano. A guerra de fato eclodiu, e muitas vidas foram perdidas. Tudo o que conseguimos fazer foi evitar o pior final possível. Então, pelo bem daqueles que morreram, temos que garantir que a história não se repita.

— M-mas, o que deveríamos…?

— Só há uma resposta. Os demi-humanos precisam de terras das quais possam se orgulhar, algo mais do que os desertos distantes para onde os humanos os levaram. Eles precisam de países reais próprios, onde não precisem ser os “não humanos”.

— Países… reais.

Ela estava tendo dificuldade em acompanhar qualquer coisa que Kirito dizia nesta conversa, mas essa frase foi a única coisa que ela entendeu instintivamente.

O território dos goblins da montanha era a única terra demi-humana que Ronie vira por si mesma. Seu país ficava na região montanhosa bem a nordeste de onde o Portão Oriental existira. Nenhum trigo crescia em seu solo, e nenhum peixe nadava em seus rios. Era literalmente um deserto árido.

Seus dois chefes anteriores, Hagashi e Kosogi, haviam morrido na guerra, e eles mal haviam conseguido um novo líder, então a tribo estava estagnada e lenta para se recuperar. Nos velhos tempos, quando o poder era lei, os gigantes, orcs ou talvez até mesmo os goblins da planície já os teriam exterminado.

Quando Ronie acompanhou Kirito na viagem à terra deles, a visão dos enfraquecidos e abandonados em esteiras de palha rudes, assim como crianças famintas choramingando na sujeira, a deixara sem palavras. O grande estoque de suprimentos que eles trouxeram do reino humano ajudou a evitar um colapso total, mas não passou de uma solução de curto prazo para uma crise de longo prazo. O solo ali simplesmente não era capaz de sustentar a crescente população de goblins.

Mas antes disso, Ronie nunca havia pensado duas vezes sobre o assunto. Ela só tentara esquecer. Tentara esquecer a visão de crianças goblins arrancando de suas mãos o pão duro, renomado por sua textura duradoura e certamente não por seu sabor. O entusiasmo com que o devoraram foi suficiente para fazer o simples pão parecer um banquete digno de um rei.

Os suprimentos ainda estavam sendo enviados regularmente do reino humano, até onde ela sabia. dissera a si mesma que isso era suficiente e fechara os olhos para o fato de que vivera uma vida de conforto e luxo como uma nobre humana, mesmo sendo de baixo escalão.

Mas quando Kirito mencionou “países reais”, Ronie não pôde deixar de encarar a dura verdade. Aquele deserto não era país algum — não era nem mesmo território de verdade. Aquela era uma terra de exílio. Era um lugar de punição, não de habitação.

— …Kirito… Eu… Eu…

Ronie baixou a cabeça. Seu garfo tilintou no prato que continha seu bolo pela metade. Os nobres têm um dever muito maior do que os privilégios que lhes são concedidos. Devem lutar o tempo todo pelo bem dos impotentes. Na língua sagrada, isso é chamado de “noblesse oblige”.

Dois anos atrás, quando ela era uma ignorante aprendiz primária na academia, fora Kirito quem lhe ensinara isso.

E de alguma forma, eu me permiti esquecer… Na verdade, nunca pensei nos goblins como companheiros humanos, para começo de conversa. Eu me compadeci de sua situação, mas uma parte de mim achava que era apenas o destino deles na vida sofrer dessa maneira…

Uma lágrima brotou e pingou de seu olho no prato branco. Tsukigake soltou um trinado preocupado, e uma mão se estendeu e afagou a cabeça de Ronie.

— Sinto muito, Ronie. Eu sabia que falar sobre isso poderia te chatear. — Kirito murmurou suavemente. — Mas… você não precisa ser tão dura consigo mesma. Conseguimos enviar suprimentos para o Reino Sombrio porque controlamos a extravagância dos imperadores e nobres, e reconstruímos o Reino Humano muito rapidamente. Nenhuma dessas coisas teria acontecido sem o seu trabalho árduo. Então, a verdade é que você já tem feito sua parte para ajudá-los.

— Você… realmente acha isso?

— Acho. Estive na terra dos goblins da montanha desde então, e as crianças a quem você deu pão ainda se lembravam de você.

Mais lágrimas escorreram por suas bochechas, por um motivo um pouco diferente desta vez. Ele estendeu um lenço simples para enxugá-las. Ela teve que lutar contra o impulso de pular em seus braços, enterrar o rosto em seu peito e chorar. Em vez disso, ela deixou a cabeça baixa até as lágrimas pararem, então ergueu o rosto e sorriu.

— …Obrigada. Estou bem agora… Desculpe por chorar no meio da nossa conversa.

— Eu sabia que você era uma chorona desde o seu primeiro ano na academia, Ronie. — Kirito a tranquilizou com um sorriso. Ela fez uma careta e o encarou, mas houve outra rodada de dolorosas agulhadas no fundo de seu coração que ela teve que suportar.

Ela engoliu mais chá e piscou para afastar as lágrimas restantes.

— Hum… acho que entendo seus pensamentos sobre o assunto agora. Os goblins e orcs precisam de terras belas e férteis, assim como no Reino Humano. Se não houver um lugar assim no Submundo, teremos que ir além do Fim do Mundo. E o primeiro passo para fazer isso é passar pela muralha com aquele dragoncraft… Está correto?

— Você entendeu… Mas aposto que a parte realmente difícil vem depois de cruzar a muralha… — Kirito admitiu, balançando a cabeça.

— Mas… — Ela perguntou hesitante. — Existe realmente outro lado além da muralha? E se ela simplesmente continuar para todo o sempre…?

— Eu considerei isso. Mas a questão é… se aquela muralha realmente é o fim deste mundo, não acho que haja necessidade de ser uma muralha. Seria simplesmente um endereço impenetrável… Algo como um vácuo.

— Um vácuo… Como um espaço invisível que não pode ser atravessado?

— Isso mesmo. Mas a Muralha no Fim do Mundo é uma muralha física real, uma extremamente alta e resistente, só isso. E se a razão para isso for impedir que os residentes do mundo enfrentem algum fenômeno que não estão preparados para entender…? É possível que o fim do mundo não seja mais o fim quando você chegar lá… Embora tudo dependa de quanta energia e espaço sobressalentes o Visualizador Principal tem, é claro…

Ronie franziu a testa. Ele estava divagando em uma de suas tangentes impossíveis novamente. Kirito percebeu também e coçou a cabeça, se desculpando.

— Desculpe, quando estou conversando com você, pareço ter o hábito de simplesmente dizer o que quer que esteja na minha cabeça. Vejamos… Que tal isto? O fato é que não há fim para o mundo.

— Sem… fim…?

Novamente, era um conceito desconhecido para Ronie. Ela nascera e fora criada em North Centoria, então o primeiro “fim do mundo” que conhecera foram as Muralhas Eternas que dividiam Centoria em quatro segmentos em forma de cunha. Mas então ela aprendera que o Império Norlangarth se estendia muito ao norte, além daquelas muralhas. Especificamente, que ele, junto com os outros três impérios de forma semelhante, compunha a totalidade do Reino Humano, que assumia a forma de um círculo.

Não foi até ela começar na academia de treinamento juvenil aos oito anos que lhe ensinaram sobre o assustador Território Sombrio que existia no espaço além das Montanhas do Fim, que cercavam o reino circular. Mas sua professora não lhe contou nenhum detalhe específico sobre o Reino Sombrio — olhando para trás, ela duvidava que a professora sequer soubesse — então não foi até ela se alistar no Exército Guardião Humano com Tiese e seguir para o Portão Oriental que ela aprendeu sobre a infinita Muralha no Fim do Mundo cercando o Território Sombrio.

Em outras palavras, o mundo como Ronie o conhecia sempre teve um fim. E sempre que ela ultrapassava essa fronteira, havia outra além dela. Apesar desse ciclo de revelações, ela sempre acreditou que uma delas realmente seria o fim completo e absoluto do que existia.

— Então… você está dizendo… além da Muralha no Fim do Mundo, haverá mais terra, como os reinos humano e sombrio… com prados e florestas e desertos, continuando para sempre? — Ela perguntou, incerta.

— Mmm. — Kirito cantarolou. — Como explico isso…? Ah. Venha aqui.

Ele se levantou e estendeu a mão para ela. Atrapalhada, ela a segurou; ele a puxou para cima, depois a guiou até uma das estreitas janelas na borda do Jardim das Nuvens.

— Ali. Olhe para aquilo.

Seu braço de manga preta apontava para o azul escurecente do céu oriental, onde um semicírculo branco-pálido estava surgindo — Lunaria. Ronie e Tsukigake olharam para o grande corpo que era a fonte do nome do pequeno dragão, Corrida Lunar. Então Kirito disse algo que parecia extremamente óbvio.

— É bem redonda, não é?

— S… sim. É redonda. — Ela concordou, imaginando qual era o ponto dele.

— Aquela lua não é um círculo plano no céu. É um corpo esférico. É por isso que ela aumenta e diminui, já que apenas as partes iluminadas pelos raios de Solus são visíveis. — Ele então perguntou, incerto. — Isso é algo que se aprende na escola em Centoria… certo?

Ela sorriu sem jeito e assentiu.

— Claro. Na academia de treinamento juvenil, nos ensinam que é a joia dourada que é o trono de Lunaria no reino celestial…

— Ah. Bem, hum… a verdade é que tenho uma hipótese bastante forte de que este mundo, incluindo o Reino Humano e o Reino Sombrio, é na verdade parte de uma esfera, assim como aquela.

— O-o quê?! Uma esfera?! — gritou Ronie. Seus pés de repente pareceram instáveis, e ela teve que se concentrar em seu equilíbrio. Tsukigake bufou levemente, como se zombasse da hipótese de Kirito.

Nos cinco minutos seguintes, ele lhe ensinou sobre o conceito de um mundo esférico — ele o chamou de planeta. Não era algo que ela achasse fácil de aceitar, mas havia uma coisa em que ela acreditava:

O nonagésimo quinto andar da Catedral Central, o Mirante da Estrela da Manhã, era totalmente aberto para o céu em suas bordas. Se você ficasse na borda e olhasse para a terra, poderia de fato ver uma curva suave no horizonte.

Se o mundo realmente tivesse a forma de uma esfera, seria natural que o horizonte parecesse assim — talvez — mas ela não conseguia juntar tudo em sua mente. Ela encarou a lua no céu.

De repente, palavras que ela nunca pensara conscientemente escaparam de seus lábios.

— Se este mundo é o mesmo tipo de esfera que a lua… então isso significa que a lua também tem prados e florestas e cidades com pessoas vivendo nelas?

— Huh…?

Kirito também não esperava essa pergunta. O espadachim de cabelos negros piscou teatralmente, mas seus olhos suavizaram rapidamente depois disso.

— …Sim, você pode estar certa. Dependendo da distância até a lua, pode não ser apenas um pequeno satélite, mas outro planeta de tamanho equivalente… Mas descobriremos isso quando formos lá. — Ele disse, tão casualmente que Ronie não achou tão surpreendente a princípio. Se alguma coisa, parecia inevitável para ela agora que ele dissesse algo assim.

Então Ronie apenas sorriu, inclinou-se um único cen mais perto de Kirito e sussurrou:

— Quando você for, eu o acompanharei. Como sua pajem.

— É melhor eu construir um dragoncraft bem grande, então.

Por algum tempo depois disso, dois humanos e um dragão contemplaram silenciosamente o semicírculo flutuando no céu distante.

 


 

Tradução: Gabriella

Revisão: Pride

 

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