Sword Art Online

Sword Art Online – Aincrad – Vol. 02 – Cap. 07 – Calor do Coração

O dia amanheceu mais frio do que o normal.

Entrei na oficina esfregando as mãos. Puxei a alavanca da parede e estendi as palmas sobre a fornalha, que já começava a queimar, para esquentá-las. A roda d’água rangia como sempre, mas se estava tão frio no comecinho do inverno, me perguntei o que faria se, no meio da estação, o córrego acabasse congelando.

Depois de pensar muito, voltei a mim em um estalo e conferi meu cronograma. Tinha oito encomendas programadas. Precisava começar a trabalhar imediatamente ou o dia chegaria ao fim antes que me desse conta.

A primeira encomenda era uma espada leve de mão única. Encarei a lista de lingotes disponíveis por um tempo até que encontrei um que correspondia com o valor e as especificações solicitadas pelo cliente. Em seguida, joguei-o pela abertura da fornalha. Agora era só esperar o tempo certo para aquecê-lo e colocá-lo sobre a bigorna. Depois, selecionar o martelo e brandi-lo.

Minha habilidade com o martelo tinha melhorado e passei a comprar novos metais. Por isso, minha produção nos últimos tempos era um fluxo constante de armas de alta qualidade. Mas quando o assunto eram espadas longas de mão única… Nenhuma tinha superado aquela que criara no início do verão anterior, o que me deixava frustrada e contente ao mesmo tempo.

Aquela espada com um pedaço do meu coração deveria estar naquele mesmo instante, mais uma vez, guerreando lá longe, na linha de frente. Às vezes, eu tinha a chance de vê-la diante de mim e cuidar dela, afiando-a, e, diferente das outras armas, ela parecia ficar cada vez mais translúcida com o uso constante. Eu tinha a impressão de que, em vez de se desgastar e perder alguns pontos de atributos, ela um dia se partiria por completo, como um cristal.

Bom, isso provavelmente só aconteceria em um futuro distante. A vanguarda estava agora no 75° andar. Aquela espada precisava dar duro por mais um bom tempo. Na mão direita dele… Kirito.

Sem perceber, eu havia atingido o número de batidas necessárias e só fui me dar conta disso quando o lingote começou a brilhar em um tom avermelhado e mudar de forma. Depois de assistir o momento da magia acontecer com a respiração suspensa, estiquei o braço para avaliar a arma recém-forjada.

— Acho que tá bom — murmurei, colocando a espada sobre a mesa. Logo em seguida, escolhi o próximo lingote. Desta vez era um machado de duas mãos com ênfase no alcance…

 

Era quase fim de tarde quando finalmente consegui terminar todas as encomendas. Levantei, girei lentamente o pescoço e dei uma grande espreguiçada. Uma pequena foto pendurada na parede chamou minha atenção.

Eu e Asuna, de ombros grudados, fazendo sinal de paz. Ao lado dela, meio passo atrás, estava Kirito, com um sorriso desajeitado no rosto. Tiramos aquela foto do lado de fora da loja. Isso tinha sido há umas duas semanas… Quando os dois vieram anunciar seu casamento.

Qualquer um poderia ver claramente que os dois foram feitos um para o outro, mas demorou meio ano até que finalmente juntassem os trapos. Até eu já estava perdendo a paciência e tive que ajudá-los várias vezes, então, quando vieram anunciar os planos do casamento, fiquei realmente feliz… Com apenas uma dorzinha no peito.

Aquela noite mágica ainda aparecia constantemente em meus sonhos. As lembranças dela brilhavam como uma joia nesses meus dois anos de estagnação em SAO. Era como uma chama que ainda me aquecia, mesmo três meses depois.

— Até mesmo eu…

É incrível, murmurei para mim mesma, enquanto traçava a superfície da foto com o dedo. Sempre me achei pragmática e realista, mas nunca percebera que, na realidade, eu era mesmo uma romântica. 

— E, no fim, ainda estou apaixonada por você. 

Dei um último tapinha na foto e me virei. Enquanto debatia comigo mesma se preparava alguma coisa para meu almoço tardio ou se saía para comer pela primeira vez em muito tempo, deixei a oficina… E foi então que aconteceu.

Um efeito sonoro que nunca tinha ouvido antes soou bem alto, acima da minha cabeça. Parecia um sino, uma espécie de alarme que soava: ding dong, ding dong… Eu imediatamente olhei para o teto, mas o som parecia vir de um ponto muito mais alto, de algum andar superior.

Saí da oficina para ver o que era, mas algo muito mais surpreendente aconteceu. A NPC que ficava todos os dias atrás do balcão desde que eu tinha aberto a loja, obviamente sem tirar um dia de folga, havia desaparecido.

— Mas o quê?!

Fiquei encarando de olhos arregalados o espaço que ela costumava ocupar, mas não havia sinal de que retornaria. O que quer que estivesse acontecendo, era bem sério.

Praticamente rolei para fora da loja, só para me deparar com algo ainda mais chocante na rua. Foi então que ergui a cabeça para o céu do nosso andar.

No piso do andar superior, cem metros acima, logo abaixo da superfície plana e acinzentada, gigantescos avisos piscavam em letras vermelhas. Olhando bem para eles, consegui identificar duas frases em inglês: WARNING e SYSTEM ANNOUNCEMENT, que se repetiam e se entrecruzavam como em um tabuleiro de xadrez.

System… Announcement…

Era uma visão que eu conseguia reconhecer. Não tinha como esquecer. Dois anos antes, no dia em que o jogo mortal começara, dez mil jogadores presenciaram aquele mesmo padrão atrás do avatar gigante que anunciara as novas regras.

Depois de alguns momentos de paralisia, finalmente observei em volta e vi que, assim como eu, vários outros jogadores também olhavam para cima, completamente imobilizados. Franzi a testa, sentindo que havia algo de errado naquela cena, e logo percebi o que era.

Normalmente haveria vários NPCs vendendo suas mercadorias nas ruas, mas não havia nenhum à vista. Era provável que tivessem desaparecido ao mesmo tempo que a balconista da minha loja… Mas por quê?

De repente, o alarme ensurdecedor parou. Depois de um instante de silêncio, era a vez de uma voz feminina e suave ecoar no mesmo volume:

Esta é uma importante mensagem a todos os jogadores.

Diferente da voz de Akihiko Kayaba, dois anos antes, essa voz soava artificial, eletrônica. Era obviamente um anúncio do sistema, mas SAO parecia ter sido programado com o intuito de apagar todos os traços possíveis de envolvimento humano, então era a primeira vez que ouvia algo do tipo. Engoli em seco e prestei bastante atenção à mensagem:

— A partir de agora, o jogo entrará em modo administrativo forçado. Todos os aparecimentos de monstros e itens serão suspensos. Todos os NPCs serão removidos. O HP de todos os jogadores será restaurado para seu valor máximo.

Será que era um erro do sistema? Algum tipo de bug fatal?, pensei. Meu coração foi tomado pela ansiedade. Mas então o sistema declarou:

— Às 14h55 do horário padrão do Aincrad, do dia sete de novembro, o jogo foi concluído.

O jogo fora concluído.

Por alguns segundos, fiquei sem entender o significado por trás daquelas palavras. Os outros jogadores à minha volta também estavam atônitos, congelados. Porém, ao ouvir a mensagem seguinte, todos saltaram no ar:

— Todos os jogadores serão agora deslogados e deixarão o jogo. Por favor, permaneçam onde estão. Repito…

De repente, um alto clamor se espalhou. O chão — não, o castelo inteiro de Aincrad — tremeu. Todos se abraçaram, rolaram no chão, deram socos no ar e gritaram.

Não consegui me mover, não pude sequer emitir um ruído, apenas fiquei ali, parada diante da loja. De alguma forma, fui capaz de erguer as mãos e cobrir a boca.

Ele conseguiu. Kirito conseguiu! Sempre tão imprudente…

Eu tinha certeza de que fora ele. Afinal de contas, a linha de frente ainda estava apenas no 75° andar e só Kirito mesmo para fazer algo tão ridículo, impensado e impossível.

Tive a impressão de ouvir um sussurro no meu ouvido:

Cumpri minha promessa…

— Sim.. Sim… Você finalmente cumpriu sua parte…

Lágrimas quentes finalmente brotaram dos meus olhos. Sem me preocupar em secá-las, ergui o punho direito e pulei várias e várias vezes. 

— Eeeeei!!!

Coloquei as mãos em volta da boca e, na tentativa de minhas palavras chegassem até ele, inúmeros andares acima, gritei com todas as forças:

— Vamos nos encontrar de novo, Kirito! Eu te amo…!

FIM

 


 

Tradução: Axios

Revisão: Alice

 

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