Sword Art Online – Aincrad – Vol. 01 – Cap. 17

Em SAO existiam quatro tipos possíveis de relacionamento entre dois jogadores.

O primeiro tipo era de completos estranhos. O segundo era amizade. Pessoas que haviam se registrado como amigas podiam mandar mensagens curtas uma para a outra, não importava onde estivessem. Elas também podiam procurar a localização uma da outra no mapa.

O terceiro era de companheiros de guilda. Fora os benefícios de amizade, elas ganhavam um leve aumento nos atributos quando formavam uma party com membros da mesma guilda. Contudo, elas tinham que dar uma pequena parte do col que ganhavam para a guilda como um imposto.

Até então, eu e Asuna éramos amigos e membros da mesma guilda, apesar do fato de estarmos momentaneamente afastados dela. Mas decidimos entrar no quarto tipo de relacionamento.

Casamento… Mesmo que fosse esse o nome, o procedimento era tão simples que chegava a ser decepcionante. Uma vez que uma das partes enviasse a mensagem de proposta de casamento e a outra aceitasse, os dois estavam casados. Mas a diferença entre estar casado e ser apenas amigos ou membros da mesma guilda era incomparavelmente grande.

Casamento em SAO significava o compartilhamento de todas as informações e itens. Ambos tinham livre acesso para a janela de atributos do parceiro e os inventários se fundiam numa lista única. Em outras palavras, isso significava confiar suas redes de segurança mais importantes ao seu parceiro, e em um lugar como Aincrad, onde traições e fraudes eram comuns, casamento era algo raro de se acontecer até mesmo entre os casais mais próximos. É claro que outro motivo era o grande desequilíbrio na proporção de homens para mulheres.

O 22° andar era uma das áreas menos populosas de Aincrad. Como era um dos andares mais baixos, sua área total era bastante grande, mas a maior parte era ocupada por suas várias florestas e lagos, então sua área habitável era tão pequena que poderia ser chamada de povoado. Monstros raramente apareciam nos campos, e como o nível de dificuldade do labirinto era excepcionalmente baixo, o andar foi completado em três dias, e a maioria dos jogadores se esqueceu dele.

Asuna e eu decidimos comprar um pequeno chalé dentro da floresta do 22° andar e morar nele. Comprar uma casa em SAO não saía barato, mesmo que fosse um imóvel pequeno. Asuna propôs vender sua casa em Selmburg, mas fui totalmente contrário à ideia, já que seria um desperdício grande demais vender um lugar perfeitamente mobiliado. Então, no fim, nós juntamos todos os nossos itens raros e os vendemos com a ajuda de Agil, conseguindo o suficiente para comprar nossa casa.

Agil nos disse que podíamos passar um tempo com ele, mas ficar de favor em uma loja logo no começo do casamento estava fora de cogitação.

— Uau! Que vista linda!

Asuna estava com o corpo inclinado para fora da janela do nosso quarto, mas, apesar de o chamarmos assim, nossa casa tinha apenas dois cômodos.

Era realmente um cenário e tanto. Como ficava próxima à beira de Aincrad, era possível ver os lagos cintilantes, a floresta verdejante e a imensidão do céu, tudo de uma vez. Como costumávamos viver com um teto de pedra a uns cem metros acima de nós, o céu aberto nos dava uma inexplicável sensação de liberdade.

— Só toma cuidado pra não cair enquanto estiver distraída com a vista!

Parei de organizar os itens da casa e coloquei os braços em volta de Asuna. Aquela mulher era agora minha esposa. Enquanto esse pensamento passava pela minha cabeça, fui tomado por um furor, uma mistura do calor do sol de inverno com uma forte fascinação e surpresa por termos chegado tão longe.

Até ficar preso neste mundo, eu era apenas uma criança que passava os dias indo da casa para a escola, sem um objetivo em particular. Mas agora, o mundo real havia se tornado um passado longínquo.

Se… Se o jogo fosse zerado, nós conseguiríamos voltar para o mundo real… Este era o desejo de todos os jogadores, incluindo Asuna e eu, mas eu não podia evitar de sentir uma certa insegurança toda vez que pensava no que seria depois que isso acontecesse e, sem perceber, comecei a aplicar mais e mais força nos braços em volta de Asuna.

— Está me machucando, Kirito… Aconteceu alguma coisa…?

— D-Desculpa… Sabe, Asuna…

Por um segundo, parei de falar, mas precisava terminar a pergunta.

— …O nosso relacionamento, ele só existe dentro do jogo…? Ele vai acabar quando voltarmos pro mundo real…?

— Eu vou ficar brava, Kirito.

Asuna se virou e olhou para mim com os olhos cheios de emoção.

— Mesmo que este fosse um jogo normal e não essa situação estranha, gostar de alguém, para mim, não é brincadeira.

Ela apertou minhas bochechas com ambas as mãos e disse:

— Eu aprendi uma única coisa aqui, e é continuar sempre tentando e nunca desistir. Se um dia voltarmos pro mundo real, eu vou com certeza te encontrar de novo e gostar de você de novo.

Quantas vezes já tinha ficado maravilhado com o coração honesto e forte de Asuna? Ou será que eu que era fraco demais?

Mas tudo bem. Eu havia esquecido há muito tempo como era bom poder depender e contar com o apoio de alguém. Não sabia quanto tempo mais poderíamos ficar assim, mas pelo menos durante o período em que estivéssemos longe do campo de batalha…

Deixei meus pensamentos correrem soltos e me concentrei apenas no aroma doce e na maciez daquela que tinha em meus braços.