Encerramento emergencial de Humano.exe;
Humano.exe exibindo comportamento nocivo ao núcleo: analisando…
Calculando…
Probabilidades de despertar uma presa em potencial: 0,002%
Probabilidades de encontrar um indivíduo não-herói superpoderoso: 0,4342%
Probabilidades de encontrar um mutante com design de combate: 67,897%
Probabilidade de encontro letal em cenário de combate: 0,9276%
Probabilidades de descoberta: 23,354%
Limpeza do kernel possivelmente prejudicial para a formulação de solução: redefinindo parâmetros…
Reiniciando Humano.exe;
Por duas horas, estive caçando ratos ou gritador negro (banshees, como os mais velhos os chamavam) sem sucesso. Não encontrei nenhum organismo nos becos ao sul da rua Ashwood, nem mesmo assaltantes. A irritante falta de presas me incitou a começar a calcular o melhor método possível de ter um civil como alvo, e eu precisei me conter antes que pudesse fazer algo totalmente estúpido.
Tim afirmou que a chance de despertar era de uma em cinco mil durante o Verão Bizarro, mas eu já havia causado um despertar acidental com a mulher do ácido. Eu não arriscaria despertar uma segunda, especialmente porque suspeitei que qualquer despertar que eu causasse daria ao indivíduo a capacidade de me combater. Os poderes eram teoricamente baseados no que o organismo “queria” durante o evento de despertar, e presumi que qualquer coisa que eu despertasse iria querer me matar; a mulher ácida poderia ter sido uma situação bem pior sem a arma. Considerando que “civis” eram o grupo demográfico humano com maior probabilidade de despertar, a caça ativa de humanos definitivamente teria que ser reservada para após o Verão Bizarro, a menos que absolutamente necessária.
Portanto, o fato de eu ter entretido a ideia de caçar civis era um problema. O pensamento nem deveria ter sido listado entre as possíveis soluções, muito menos inserido no cálculo ativo.
O problema vinha do meu cérebro humano. Desde que ganhei acesso a mais recursos, fui capaz de operar uma versão mais robusta e completa do órgão de processamento do pensamento humano. Isso era imensamente benéfico, já que as habilidades preditivas do cérebro de um humano eram incomparáveis. Comparar meus processos de pensamento agora, com os de antes de receber Humano.exe, era ridículo. Antes, eu mal conseguia descobrir a maneira correta de espancar um pelo marrom até a morte, e levei meses para perceber que reagir passivamente aos testes acabaria me matando. Se eu tivesse o poder de processamento que tinha agora na época, teria descoberto ambos em minutos, não meses.
Infelizmente, esse poder de processamento tinha uma desvantagem. Ou seja, todas as pequenas peculiaridades que afetavam os processos de pensamento humano agora também tinham o potencial de vazar para os meus. Nesse caso, eu estava com raiva, o que aumentava a agressividade, o que fez com que o pensamento errôneo de caçar civis entrasse em um cálculo ativo. Não é algo que teria acontecido sem Humano.exe simulando raiva por mim.
Sigh. Eu tinha vários logs na memória de limpeza de kernel anteriores. A frequência caiu conforme eu me acostumei a usar Humano.exe, mas não estavam desaparecendo completamente. A redução estagnou. O que eu precisava agora era uma maneira de melhorar, mas não tinha certeza de como proceder. O problema era um acúmulo de fatores entre meu núcleo, meu cérebro humano e Humano.exe, mas principalmente de Humano.exe. É ele que simula a emoção “raiva” em mim. Sem isso, o mais próximo que eu poderia chegar de uma emoção semelhante à raiva era uma leve irritação, se tanto. Eu não sentia emoções da mesma forma que um humano, e seria difícil explicar a diferença, caso alguém perguntasse. Mesmo desligar o Humano.exe e tentar simular a raiva no órgão cerebral, as sensações não eram as mesmas para mim. Era difícil ser influenciado por órgãos quando você tinha controle manual total sobre todos eles.
Então. Como impedir que Humano.exe influencie minhas decisões com raiva e outras emoções?
Deixar Humano.exe desativado era inaceitável. Ele gerenciava uma grande parte dos meus cálculos de combate e todas minhas habilidades sociais.
Eu poderia remover as seções do cérebro que lidam com o processamento emocional, mas isso afetaria minhas reações sociais. Além disso, quando tentei, várias limpezas de kernel foram adicionadas imediatamente ao log e não notei nenhuma redução na raiva de Humano.exe. Eu realmente gostaria de poder acessar o código interno.
Preciso de mais informações. Os humanos lidam com emoções todos os dias e não acabavam morrendo, e eles nem mesmo conseguiam desligá-las. Como eles lidam com isso? Peguei meu celular e fiz uma busca sobre raiva. Talvez houvesse um manual médico que eu pudesse usar para modificar melhor o cérebro, ou talvez um…
Primeiro resultado: uma definição de raiva.
Segundo: Causas de raiva.
Terceiro: Como controlar a raiva.
Controle da Raiva.
Como controlar a raiva.
Raiva e Agressão: uma Análise Psicológica.
Terapia de grupo de controle da raiva.
E mais alguns milhares de links para tópicos relacionados ou tangencialmente relacionados. Bem. Eu definitivamente sabia que emoção estava sentindo agora: vergonha. Claro que os humanos já teriam pesquisado isso, e com uma profundidade impressionante. Sua habilidade proativa de resolver problemas nunca deixava de me impressionar.
Abri alguns dos links em abas e comecei a ler os diferentes guias sobre gerenciamento e controle da raiva. Parte do conteúdo não era aplicável à minha situação única, e outros não faziam muito sentido, mas o que percebi rapidamente foi que precisava de mais “consciência emocional”. Parecia que até os humanos tinham dificuldade em perceber quando as emoções estavam afetando seu pensamento lógico, e o passo número um era perceber que estava acontecendo enquanto acontecia. Para esse fim, meu curso de ação era claro. Eu deixaria Humano.exe em execução e meu cérebro inalterado, enquanto identificava e catalogava proativamente os efeitos das emoções em meus processos de pensamento conforme ocorressem (e procuraria uma lista de emoções, aparentemente havia muito mais do que apenas as básicas que estava ciente). Uma vez feito, no futuro seria capaz de ajustar todos os meus cálculos de maneira mais precisa.
Vamos ver, descobrir uma solução para o problema emocional era… agradável. Um bom começo.
Tendo resolvido o problema mais urgente, comecei a caminhar na direção da toca de Nicole. Com meus planos de caça fracassados, eu precisaria encontrar rapidamente uma fonte alternativa de comida para compartilhar com ela. Eu queria dar a Nicole algo que a convencesse a ajudar com meu pedido: me acompanhar no sistema de túneis enquanto eu investigava os ratos costurados. Sandra não me queria no esgoto sem a presença de uma pessoa mais experiente, e Nicole era a pessoa mais experiente que eu conseguia pensar. Afinal, ela vivia lá há anos. Uma pena que não consegui encontrar uma banshee, tenho certeza que ela teria apreciado carne fresca de um organismo ao qual ela normalmente não tinha acesso. Pelo que eu sabia sobre ela, ela parecia preferir carne fresca, mas acho que também gostava de carne cozida. Pelo menos, ela disse que o bife kobe estava delicioso em suas mensagens.
Comecei a analisar os fornecedores da área; Mega Burger, Pretzels de Quebrar Cabeça, Salada do Bar-baro, Canto da Pizza. Todos eram opções decentes de “fast food”, mas eu precisava de algo melhor, de preferência algo que realmente tivesse uma opção de carne. Não poderia voltar a Maggie a tempo de encontrar Nicole, o que significava encontrar outro “restaurante” nas proximidades. Mas aonde ir?
Fui passando por uma lista online de distribuidores de alimentos para E13, rejeitando um após o outro. Havia um restaurante “italiano” nas proximidades, mas o menu online não incluía carne. Um restaurante servia sopa com caldo de galinha de verdade, mas ficava na direção oposta. Se ao menos eu pudesse encontrar…
Ah! Perfeito.
O Bar & Grill Darksiders estava tão lotado quanto da última vez que vim. Pessoas comendo, bebendo, fazendo “queda de braço”, exibindo truques com facas, jogando “xadrez”, etc. Uma atmosfera única entre os estabelecimentos humanos, mas muito semelhante a grandes reuniões dos Capangas de Hellion. Isso me fez pensar se todos os grupos de minions tinham isso em comum.
Me aproximei do bar: um longo balcão que se estendia quase de parede a parede. Diferente da maioria dos móveis que encontrava, a parte superior deste balcão era revestida com uma substância polida chamada “madeira”. Supostamente, era o mesmo material com o qual papel era feito, proveniente de um organismo semelhante ao meu vaso de planta, mas maior. Papel não era muito incomum, mas qualquer coisa feita de grandes quantidades de material orgânico era rara na Cidade Fortaleza. Presumivelmente devido aos perigos de coletá-lo na “região selvagem” fora das muralhas da cidade.
— Nada de crianças no bar. Volte quando tiver vinte e um — disse o homem careca atrás do balcão, o “bartender”. Eu não o reconheci da última vez que estive aqui.
— Err, eu só queria comprar comida?
Ele franziu a testa, mas perguntou:
— O que vai querer?
— Seu menu on-line mencionou que vocês têm “Peixe & Fritas”1“Fish n’ Chips”, popular prato típico do Reino Unido.. Posso pedir dois para viagem?
— Tudo bem. Espere em uma mesa, estou falando sério sobre o bar.
Paguei com cartão, em seguida, procurei um assento vazio na sala. Havia várias opções, mas reconheci um dos jogadores de xadrez; um homem grande de aparência “hispânica”, com longos cabelos grisalhos enrolados em uma trança. Ele usava óculos escuros, mesmo com a iluminação não sendo muito forte.
— Olá, Teddy. Se importam se eu sentar aqui?
— Hm? Quem… Ah! O pequeno amigo perdido! O que diabos você está fazendo na nossa área de novo? Espero que não esteja perdido de novo!
— Dessa vez, não. Na verdade, estou indo para a casa de minha amiga novamente esta noite e queria comprar comida. O bar estava no caminho.
— Então você encontrou sua amiguinha. Bem, senta, senta e nos conte sua história. Sua amiga deve ser bem especial se você está fazendo outra viagem noturna.
— Ela é.
— AYYYYYYYYY!
Tanto Teddy quanto vários dos outros humanos próximos soltaram vários ruídos estridentes, bem como me cutucaram nas costelas com os cotovelos. Felizmente, eu já tinha visto esse comportamento entre humanos com frequência suficiente para saber que não era um ataque, embora ainda não soubesse exatamente o que significava. Se minha breve experiência na escola servisse de referência, eu ou disse algo anormalmente engraçado, algo para me envergonhar, propus reprodução a alguém, mencionei uma conquista digna de celebração ou provoquei uma “piada interna”. Caramba, os humanos às vezes atribuem muitos significados diferentes a uma única ação ou frase. Isso tornava a análise da gíria difícil em algumas ocasiões.
Demorou apenas quinze minutos para os Peixe e Fritas ficarem prontos, mas de alguma forma foi tempo suficiente para a multidão ao redor do tabuleiro de xadrez de Teddy ficar mais densa, mais barulhenta, mais bêbada, e para surgir uma pequena disputa sobre quem poderia colocar uma faca entre os dedos abertos da mão o mais rápido (Teddy interrompeu essa atividade porque estavam lascando as mesas, mas acho que era porque eu estava ganhando). Quando as refeições ficaram prontas, Teddy se ofereceu para me dar uma carona até Nicole novamente.
— Não precisa, Teddy, eu sei o caminho agora.
— E deixar as batatas fritas esfriarem enquanto você caminha até lá? Assim você não conquista ninguém, cabrón. Vamos lá, boa noite para um passeio.
Saímos para o estacionamento e fomos para sua motocicleta; uma máquina grande decorada com “cromado” que era quase duas vezes mais ornamentada que qualquer das outras motos. Alguns outros nos seguiram para fora, mas Teddy mandou os bêbados de volta. Ele me entregou um capacete extra e eu pulei no assento de trás enquanto os Darksiders ligavam suas motos. Cada moto emitia um zumbido suave quando os motores eram ligados e logo estávamos percorrendo as ruas quase vazias. Com tão pouco tráfego, fomos mais rápido que o esperado o que também nos deu visibilidade suficiente para avistarmos um caminhão em chamas bem antes de ele entrar no cruzamento adiante, evitando que colidíssemos com ele enquanto avançava no sinal vermelho.
— Porra, mais um. Ei Dale, Carlos! Siga aquela puta e fique de olho nela, ok? — gritou Teddy.
Os dois motoqueiros em questão assentiram e partiram para perseguir a caminhonete.
— Eles vão persegui-la? — perguntei.
— Alguém tem que ir. Essas chamas em rodas são um perigo.
— Pensei que a polícia ou os heróis lidavam com isso.
— Tch, quem dera. Esses carros ainda não atingiram ninguém, então os Cs começaram a ignorá-los. É só uma questão de tempo até que alguém se machuque, então temos ficado de olho neles.
— … os Darksiders são um grupo de vigilantes?
— Haha, nah, não somos nada tão sério. A gente só fica de olho nas coisas, como uma vigia de bairro. Qualquer coisa que encontrarmos, apenas tentamos informar os C’s para que eles resolvam, ou às vezes passamos para a equipe de Hellion… cof…. Só porque eles costumam agir se for algo importante, veja bem. Normalmente não recorreríamos a eles, mas eles tendem a resolver problemas mais rápido que os C’s, e as pessoas precisam disso durante o Verão Bizarro. Você sabe como é.
— Eu sei.
Teddy me deixou na rua Manchineel antes de ir fazer uma “patrulha de bairro”. Aparentemente, uma patrulha de bairro era um tipo de rede de comunicação, com o objetivo de identificar ameaças e passar as informações para alguém mais qualificado para lidar com elas. Muito mais sensato do que ação direta de vigilantes, na minha opinião, embora Teddy tenha afirmado que algumas situações precisavam ser resolvidas com um “sanduíche de soco”. Parecia saboroso.
Levantei a tampa do bueiro que levava à toca de Nicole e desci para o túnel escuro. Havia alguns nessies nadando no canal próximo à escada, e eu tive que tocar e segurar em um que tentou ver se eu era comestível. Era o maior do pequeno grupo, e eu o reconheci como o que Nicole chamava de Sr. Chonkers; um visitante frequente dos canais em torno da toca de Nicole. Uma pena que eu não podia simplesmente matar um dos nessies para comer, mas Nicole era firme que eles não fossem machucados. A habilidade dos nessies de vasculhar os túneis e filtrar a água os tornava inestimáveis para ela, e ela tentava incentivá-los a habitar sua área. Seus esforços estavam dando resultado; definitivamente havia mais nessies do que o normal agora.
Contornei a esquina e vi Nicole parcialmente fora de sua toca. Ela estava concentrada, mexendo em um longo cano de metal, com cerca de quinze centímetros de diâmetro e mais de três metros de comprimento.
— Olá Nicole.
— Ei, Tofu, um segundo. Só preciso fazer este corte… na… medida.
Ela estava segurando o centro do cano com as garras da mandíbula e, após alinhar uma das garras de combate maiores, cortou uma porção de 60 centímetros da extremidade do cano. O pedaço caiu na “palma” de sua outra garra maior, soando fracamente contra sua armadura de quitina. Ela ergueu o pedaço até os olhos e o examinou criticamente.
— Hmmm… yup, parece bom.
— No que você está trabalhando, Nicole?
— Apenas cortando alguns canos. Preciso desviar um pouco o fluxo de água para os nessies. Eles gostam de uma corrente fluindo, e estão meio que bloqueando tudo agora.
— Sim, parece que há muitos deles.
— Não é? Não sei o que está acontecendo. No começo eu pensei que foram atraídos por aquele enxame de ratos que eu matei, mas os restos já se foram há tempos e eles continuam vindo.
— Então, esse não é um comportamento normal? — Eu olhei para os nessies. Vários estavam colocando a cabeça para fora d’água, curiosos com o trabalho de Nicole nos canos. Muito mais do que eu havia visto reunido antes ocupavam a interseção iluminada em forma de T onde Nicole fazia sua morada. — Isso não é perigoso? Pode ser relacionado ao Verão Bizarro.
— Talvez? Mas eu nunca vi um nessie despertar. Não tenho certeza se são capazes. De qualquer forma, elas estão mantendo o lugar limpo o suficiente para abrir um restaurante, então não vou reclamar.
— Falando em restaurantes. Aqui, eu trouxe comida.
Peguei os recipientes de comida (ainda quente dentro) que continham os peixe & fritas, e nós jantamos, Nicole dando algumas mordidas simbólicas antes de dar a desculpa usual de retirar-se para sua toca para guardar o resto para “mais tarde”. Eu tinha certeza de que ela devia ter uma segunda boca em algum lugar, provavelmente mais próxima do núcleo que ela mantinha escondido. Normalmente eu aprovava totalmente tais medidas defensivas, mas, neste caso, temia que isso pudesse atrapalhar meus planos. Se eu não conseguisse convencê-la a me acompanhar, não poderia investigar os esgotos. Terminei meu peixe (um pedaço retangular empanado de carne oleosa; muito saboroso) e limpei os embrulhos enquanto ouvia Nicole detalhar seus planos de construção para o esgoto.
— Eu não posso desviar a linha principal em apenas um lugar, entende. A quantidade de água de que preciso para aumentar o fluxo nesta área alertaria imediatamente a cidade sobre um vazamento, e isso poderia causar outros problemas, então planejo fazer vários pequenos pontos de vazamento em áreas adjacentes e deixar que os pequenos vazamentos se acumulem em uma corrente mais forte aqui.
— Parece um bom plano.
— Espero que sim. A única coisa é que eu não percebi o quanto seria difícil cortar os canos haha. Minha serra circular quebrou, e minhas garras não são exatamente feitas para cortes precisos; eu acabo esmagando o cano metade das vezes.
— Posso ajudar com isso. Qual o comprimento você precisa que a seção tenha?
— Sério? Hum, cerca de sessenta centímetros, se puder.
Peguei o pedaço de cano do chão e medi uma seção de 60 centímetros. Então coloquei minhas mãos ao redor dele e coloquei minhas microunidades para trabalhar. Um breve teste inicial do material (em sua maior parte de bronze, com leve oxidação onde o revestimento protetor havia sido danificado), e alguns segundos depois eu tinha um corte uniforme e preciso. Passei a peça para Nicole para ela avaliar o resultado.
— Uau! Isso é ainda melhor do que uma serra circular. Que incrível! Você fez isso com seu poder? Como é que isso funciona, achei que você fosse um metamorfo. AH! É molecular, certo? Você está alterando os átomos. É como se você estivesse desmontando em vez de cortando.
Argh. Ela conseguiu deduzir muito com uma demonstração tão pequena. Uma coisa era as pessoas saberem sobre as minhas habilidades, mas outra bem diferente era saberem como funcionavam. Melhor fingir ignorância.
— Deve ser? Eu meio que apenas “faço”.
— Entendo. Mas ainda assim, isso é tão versátil. Consigo pensar fácil em uma dúzia de usos. Será que funcionaria em aço reforçado ou em compostos tinkers! Isso tornaria o acesso à linha tubulação muito mais fácil…
Os olhos de Nicole vagaram enquanto ela provavelmente imaginava os diferentes usos do meu poder. Um efeito curioso, considerando que ela tinha oito, e a maioria se movia em direções diferentes. Humanos tinham maneiras tão interessantes de demonstrar concentração intensa.
— Se você quiser — comecei — eu poderia te ajudar a instalar esses fluxos de água de que você estava falando.
— … Eh? Oh, hum, eu posso fazer isso sozinha. Eu não quero te incomodar…
— Não seria incomodo nenhum, Nicole. Eu tenho bastante tempo agora. Na verdade, eu preciso de ajuda para investigar os túneis, então você estaria me ajudando.
— A-agora!? Não, e-eu não tenho o que preciso pronto ainda. Por que você precisaria entrar nos túneis?
— Quem quer que tenha feito aqueles corpos que você encontrou parece que os fez funcionar, e tem aumentado a produção. Um bando de ratos modificados destruiu um shopping no sábado passado, e várias pessoas desapareceram.
— Ah, meu Deus! Que horrível! — ela exclamou, uma pinça estalando no que parecia ser um tique nervoso. Ela olhou para a garra estranhamente e murmurou a próxima parte. — Caramba, por que você não mencionou algo assim primeiro…Os heróis não estariam investigando? Por que você está fazendo isso?
— Tenho certeza que estão, mas estão sobrecarregados no momento. Já confirmei que precisaram ignorar as emergências de prioridade mais baixa, então quanto mais rápido isso for resolvido, melhor.
— Entendi… sabe, eu posso ir sozinha. Eu procuro por aqui e você procura lá em cima. A gente cobre mais terreno e tal…
— Seria melhor se nós dois fossemos. Espero uma luta assim que encontrarmos o culpado. Eu iria sozinho, mas me disseram que não posso ir sem companhia, e acredito que seja por um bom motivo.
Nicole ficou em silêncio, exceto pelo estalo ocasional de uma de suas grandes garras. Seus olhos olhavam para qualquer lugar, menos para mim, enquanto ela provavelmente calculava o risco de me acompanhar pelos túneis. Achei um pouco preocupante (confirmação: emoção detectada = nervosismo), se ela não fosse comigo eu não sabia qual seria meu próximo curso de ação. Algumas menções casuais sobre o assunto na base me mostraram que a maioria dos minions não tinha absolutamente nenhum interesse em descer para o sistema de túneis, e eu não estava confiante de que os tenentes estariam mais dispostos, se tivessem tempo. Eu realmente precisava da ajuda dela com isso.
— Eu te compro um pãozinho de canela.
Seus olhos piscaram enquanto ela se focava novamente em mim. — O quê?
— Um pãozinho de canela. Eles vendem no shopping e são deliciosos.
Nicole me encarou enquanto um silêncio bastante desconfortável se estendia. Fiquei preocupado por ter dito algo rude, quando ela quebrou o silêncio com uma risada sem entusiasmo.
— Tudo bem, Tofu. Eu não vou ignorar um problema assim. Eu vou com você. Mas vai ter que esperar até amanhã, eu realmente preciso arrumar algumas coisas… Certifique-se de trazer tudo o que for necessário, afinal de contas você estará caminhando pelo esgoto. E os pãezinhos de canela! Dois para mim! Se você vai me subornar, não vai ser barato, viu?
— Pode deixar.
Fizemos planos para nos encontrar no dia seguinte por volta do meio-dia, e deixei Nicole para que ela pudesse fazer seus preparativos sem distração. Eu mesmo planejava visitar o mercado para repor minhas reservas, e então deixar Humano.exe “dormir” durante a noite. O que quer que encontremos nos túneis amanhã, eu estaria pronto.
A emoção que estava sentindo desta vez era bastante familiar para mim: satisfação.
Na manhã seguinte, me certifiquei de que todas as minhas facas e munições estavam em ordem, então fui para o treinamento de rotina com Adder. Depois, me sentei no refeitório para tomar café da manhã (torrada com geleia) enquanto calculava possíveis cenários de combate para o dia. Eu tinha me familiarizado com os túneis sob o restaurante de Maggie quando comecei a morar em E13, mas admito que não poderia fazer uma avaliação de risco precisa apenas com isso. Todos que encontrei pareciam desconfiar dos túneis sob a Cidade Fortaleza, então devia haver alguma ameaça que eu desconhecia. Talvez um grande predador que eu ainda não havia encontrado? Outras bioarmas, como Jasper havia mencionado? Algum tipo de… grande… dispositivo metálico… de armadilha? Como um teste de inteligência?… Huh. Previsão proativa de riscos era mais difícil do que parecia. Os humanos faziam isso parecer fácil. Talvez eu devesse apenas praticar tiro ao alvo em vez disso.
— Hey, Tofu! Exatamente o cara que estávamos procurando.
Me virei para ver dois rostos familiares. — Olá Brilla, olá Fred. Estavam me procurando?
— Bem, não exatamente você, mas qualquer um que a gente pudesse arrastar como músculo — respondeu Brilla.
— Ah. Desculpe, mas na verdade já tenho planos para hoje.
— Uh-huh. E esses planos incluem comer às custas da empresa?
— Hum…
— Enquanto o pobre Fred e eu precisamos trabalhar sem proteção? Sozinhos neste cruel, cruel mundo?
— Er, eu não–
— Tudo porque o Pebbles e o Buzzer, que deveriam estar nos ajudando, estão na cadeia porque alguém se esqueceu de carregá-los?
— … Vai demorar muito?
— Só uma ou duas horinhas, encontro você na garagem. Tchau tchau.
Brilla saiu na direção da garagem, e Fred me deu um sorriso apologético antes de segui-la.
Hmph. Outra emoção com a qual eu estava familiarizado: frustração.
— Então, o que é que vamos fazer? — perguntou Gregor. Ele também tinha sido arrastado para ajudar Fred e Brilla, e nós quatro saímos em uma van.
— Estamos indo para o Pit — respondeu Fred. — Arena de lutas ilegais na Zona Vermelha. Administrado por um cara chamado Ivan Belltoni. Parece que houve algum problema por lá, e ele quer que a gente de uma olhada. Ele é um vigarista nojento, mas paga um bom dinheiro para Hellion, então tentem não irritá-lo.
Quando chegamos à Zona Vermelha, Fred e Brilla nos levaram a um edifício que parecia muito mais discreto do que os estabelecimentos de entretenimento normalmente bem iluminados da Zona Vermelha. Parecia quase um armazém e teria se destacado se não estivesse escondido fora da via principal da Zona Vermelha, cercado por outras construções sombrias que, provavelmente, continham todos os recursos necessários para manter o distrito de entretenimento funcionando. Afinal, todos os alimentos e produtos ilegais precisavam ser armazenados em algum lugar.
Fred bateu com o punho contra uma porta de ferro sólida embutida na parede do prédio. Uma pequena abertura na altura dos olhos deslizou para o lado, e a porta logo se abriu para o lado permitindo nossa entrada. O vigia da porta era um homem magro, com manchas escuras sob os olhos. Ele gesticulou com a mão para seguirmos.
— O Chefe tá por aqui.
Ele nos guiou por um corredor mal iluminado, mas emergimos em uma grande sala retangular, brilhantemente iluminada. Ao longo das paredes, havia bancos dispostos em declive para maximizar a visibilidade e, no centro da sala, um palco elevado envolto em uma jaula de arame. Dois mutantes estavam atualmente na jaula, um tinha quatro braços e protuberâncias quitinosas ao longo de seus ombros e o outro possuía um exoesqueleto ósseo que envolvia sua cabeça, pescoço e grande parte do torso superior. Os dois estavam lutando, mas parecia ser um exercício de treinamento, já que apenas trocavam socos, e nenhum deles parecia realmente tentar matar o oponente.
Eu reconheci este lugar. Era uma câmara de teste. Claro, não era tão sofisticada quanto a qual eu fui feito, mas tinha o básico, uma área de combate e um espaço para os cientistas sentarem e observar.
…Mas eu pensei sobre as precauções de segurança. Aquela jaula não aguentaria se um pelo marrom ficasse berserk, muito menos se um pelo amarelo despertasse.
Havia algumas outras pessoas ao redor da grande sala, a maioria limpando detritos e outras coisas do chão (uma das quais parecia uma mancha de sangue). Nos aproximamos de um homem bastante acima do peso, de terno amassado, que estava sentado ao lado da jaula. Ocasionalmente, ele tirava uma “vara” fumegante da boca para gritar conselhos para os dois lutadores, embora eu não tivesse certeza de quão útil “Bate nele, porra!” seria como um conselho.
— Então, os cabeças duras finalmente resolveram aparecer. Vocês dois, façam uma pausa — ele disse aos lutadores — Tentem não ser tão merda da próxima vez.
Os dois mutantes saíram por um portão lateral da jaula, um deles apertando o nariz sangrando. Pelo comportamento do homem de terno, presumi que fosse Belltoni.
— Soube que teve alguns problemas ontem à noite, Sr. Belltoni? — perguntou Fred.
— Pode-se dizer sim. Seth, vá buscar os restos— disse ele ao guarda magro da porta, que saiu para cumprir a ordem. — Ontem à noite um bando de ratos do caralho invadiu. Coisa mais estranha que já vi. Eles não estavam atrás de qualquer comida. Não, em vez disso, eles foram atrás dos meus lutadores como se fossem feitos de queijo, bem no meio de uma luta.
— Eles machucaram seus lutadores?
— Claro que não, que tipo de lugar você acha que esse é? Os ratos levaram uma surra. O público adorou. Acontece que esses não eram ratos normais.
Seth estava voltando de uma sala ao lado, carregando um palete cujo conteúdo estava coberto por uma lona. Ele puxou a lona para o lado, revelando o cadáver de um rato costurado. Um dos grandes e cinzentos, como os que eu havia visto no shopping. As costuras e cicatrizes da cirurgia estavam claramente visíveis.
— Coisa feia, não é? — disse Belltoni — Guardei o melhor para vocês. Alguém tá brincando de Frankenstein, nunca vi um desses tão grande antes.
— Eles podem ficar ainda maiores, mas este é definitivamente um dos ratos costurados do shopping — eu disse.
— Não me importa — rosnou Belltoni — tudo o que sei é que um filho da puta fez essa merda e depois mandou para o meu negócio. Eu pago minhas contas como todo mundo, então eu agradeceria se isso fosse resolvido.
— Não se preocupe, Sr. Belltoni, vamos investigar isso com certeza. Gregor, Tofu, levem essa coisa para a van. Acho que vamos levar para o Stitcher, ver com o que estamos lidando — disse Fred.
Gregor colocou a lona de volta sobre o cadáver e pegou a parte da frente, enquanto eu segurei a parte de trás. Juntos, o levantamos facilmente e fomos levá-lo para a van.
— Merda, Hellion sempre abocanha os melhores mutantes — disse Belltoni — Algum de vocês está interessado em ganhar um dinheiro extra?
— Não — disse Gregor.
— Não sou mutante — respondi.
— Bah, inúteis. Que tal você belezinha? — disse ele, dirigindo-se a Brilla — Quer ganhar uma grana? Mais fácil do que para eles. Mais divertido também.
Brilla respondeu com um gesto rude e começou a se afastar. Não era para evitar irritá-lo?
— Heh. Todas são assim… no começo — finalizou Belltoni.
Fred e Brilla nos guiaram por um caminho alternativo (e menos movimentado) até a van, citando que ver dois minions carregando um cadáver pode ser um pouco “assustador” para os turistas. Era um pouco estranho que eles gostassem de ver os lutadores de Belltoni matando os ratos, mas não gostassem de ver o corpo depois. Falando em lutas…
— Você acha que Belltoni me deixaria lutar se eu prometesse não mudar de forma? — perguntei. Seria uma ótima maneira de praticar e ganhar dinheiro ao mesmo tempo.
— Er, acho que você provavelmente deveria evitar aquele lugar, Tofu — disse Fred.
— Por quê?
— Porque um lugar como aquele transforma homens em animais — respondeu Gregor.
— E animais em Belltoni — acrescentou Brilla — você pode praticamente sentir o desespero naquele lugar.
Eu considerei seus conselhos; não esperava reações tão negativas. Também não havia percebido as conotações negativas do estabelecimento de Belltoni, nem me senti “desesperado” lá.
Um palco de luta enjaulado. Dano físico. Uma plateia que queria ver violência. O dono do lugar não se importava com a segurança dos lutadores. Sangue.
Hmm, era muito mais difícil identificar que emoção o Pit me fez sentir, mas se eu tivesse que identificá-la…
Nostalgia?
Tradução: Lodis
Revisão: MoriSan
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