Super Minion – Cap. 08.1 – Carne de Rato

 

Esta era a primeira vez que tinha tanta energia estocada. A “limonada rosa” acabou sendo basicamente “açúcar” puro com um pouco de sabor. Assim que percebi isso, comecei a adicionar o maior número possível de pacotes à minha bebida; “Cola”, “Explosão Laranja”, “Surto Cítrico” e um pacote particularmente rico em açúcar chamado “Néctar”. Maggie ficou um pouco brava comigo quando percebeu quantos pacotes eu tinha adicionado (e um pouco preocupada por eu ter bebido tudo), mas quando me ofereci para pagar com o resto do meu dinheiro, ela olhou para as poucas moedas que eu tinha e disse que apenas adicionaria à “conta de Jasper. Decidi não testar minha sorte e logo fui embora.

E era em operação contínua, sem hibernação e sem racionamento. Eu havia caído para cerca de um ciclo e meio de energia depois de lutar contra o drone da lâmina, e esta única refeição tinha me dado mais de quatro ciclos de energia por si só. Seis ciclos contínuos era o dobro do meu recorde.

Claro, eu teria que levar em consideração as possíveis lutas contra drones anômalos em quaisquer cálculos futuros. Eu havia sido alvo de explosivos e quase morto a facadas até agora, e o ciclo ainda não havia acabado, ainda eram apenas três horas após a metade. Até agora, escapar das câmaras de teste não tinha aumentado minhas chances de sobrevivência tanto quanto eu esperava, mas pelo menos a comida definitivamente valia a pena.

Por hora, vaguei pela seção da cidade em torno do café de Maggie. Meu plano era explorar o local que Jasper mencionou e então ir para o esgoto para passar a noite. Tudo que eu tinha que descobrir era como usar os símbolos que Jasper tinha desenhado para navegar. Eu podia lê-los, mas não sabia como usá-los. Bem, se eu não conseguisse descobrir, iria perguntar para Maggie. Por enquanto, eu queria explorar minha nova casa.

Decidi ficar nesta seção da cidade. Uma decisão fácil, qualquer alteração física que eu fizesse não se destacaria e a segurança geral parecia muito mais relaxada aqui. Além disso, havia uma abundância de lugares para se esconder. Percebi muitos edifícios que pareciam em desuso, sem falar nas possibilidades do sistema de túneis. Se eu aprendesse a me mover usando o sistema de túneis, como Jasper parecia sugerir ser possível, manter uma toca escondida era definitivamente uma opção.

Comecei a me concentrar nos símbolos dos prédios ao meu redor. Muitos edifícios tinham placas exibindo “letras” e “números”. Os sinais de “Aberto” e “Fechado” eram os símbolos predominantes, o que fazia sentido se fossem todos dispensários. Alguns símbolos pareciam bastante inúteis e coloridos, inscritos nas laterais dos edifícios e em qualquer outra superfície aberta. Frequentemente, imagens acompanhavam os símbolos, porém, se tivessem o objetivo de transmitir um significado, parecia haver muita estática aleatória na mensagem. Rapidamente me concentrei apenas nos símbolos que pareciam ser fabricados mecanicamente.

Ah, isso fazia sentido. Alguns símbolos para classificar uma rua específica e um número para especificar qual prédio na rua. Comecei a andar de interseção em interseção lendo as placas, mas um cálculo rápido sobre o tamanho da colmeia me fez perceber que isso era realmente ineficiente. Eu poderia vagar por dias antes de encontrar. Decidi pedir informações a algum drone que passasse perto.

— Com licença, você sabe onde posso encontrar este endereço? — e mostrei o papel. Ele olhou para os símbolos, mas assim que leu o endereço, suas sobrancelhas se franziram e me olhou com preocupação.

— Hmm, tem certeza que é para onde quer ir?

— Sim, eu preciso ir para este lugar.

— Bem, tudo bem, eu acho, apenas siga para o sul e vire à esquerda quando chegar na rua Ashwood.

— Okay, obrigado.

Agora faltava apenas descobrir o que era “sul”…

Os próximos drones a quem perguntei me deram respostas semelhantes, das quais fui capaz de triangular a direção geral do sul. A reação dos drones foi muito variada, uma vez que perceberam onde eu queria chegar. Alguns se tornaram mais amigáveis, outros me avisaram que era um “bairro violento” e um, em particular, recusou-se a falar mais comigo.

Comecei a me dirigir em direção a rua Ashwood e, lentamente, o design geral dos edifícios começou a mudar quanto mais eu ia para o “sul”. Agora eles tinham de cinco a seis andares cada, com passagens mais estruturados que contornavam a rua e os conectavam entre si, em alguns lugares isso criava grandes áreas escuras onde uma quantidade suficiente de passagens bloqueava o sol. Dispositivos de iluminação brilhantes tentavam iluminar essas áreas, quando não estavam quebrados. A aparência de um tanto fora de uso continuou a prevalecer, apesar do aumento no tráfego de drones.

Subi alguns degraus para chegar às passagens do terceiro andar. A luz do sol iluminava este nível e era mais fácil ver as ameaças em potencial chegando. O nível do solo quase escuro parecia cada vez mais perigoso, com um aumento perceptível nos drones de modelo de combate apenas vagando por aí.

Vários quarteirões passaram sem que eu tivesse que descer de volta ao térreo, passando pelo que pareciam ser dispensários, embora não tivesse visto nem cheirado comida, e as placas descrevendo para que serviam deixavam muito a desejar. Talvez as placas também estivessem em mau estado?

Por fim, cheguei a um cruzamento com uma placa de rua declarando “Rua Ashwood”. Tanto à minha esquerda quanto à direita, as passagens haviam se tornado uma simples superfície sólida e, exceto por pequenas partes cercadas aqui e ali, eu não conseguia mais ver o andar térreo. Parece que esta rua não foi projetada para ser usada por dispositivos de transporte, em vez disso, exigia que você andasse ao longo do caminho alargado enquanto quaisquer dispositivos de transporte tinham que passar por baixo. Uma medida de economia de espaço, suponho.

Fui para a esquerda, examinando os números ao longo dos edifícios até chegar ao que correspondia ao endereço que Jasper me deu. O edifício era bastante normal. Assim como os outros, tinha uma entrada ao nível da passagem, mas não tinha dispensário visível ou placa indicando a sua finalidade. Eu não estava no lugar errado, o número na parede ao lado da porta era de fato 512 e o endereço que Jasper me deu era rua Ashwood 512.

Irritante, não gostava de saber tão pouco sobre onde estava me metendo, mas não queria me demorar na área Eu ainda não tinha modificado meu disfarce, e ainda não tinha certeza de como Jasper sabia que eu o segui desde o metrô. Se ele podia me notar, outros também podiam, então por enquanto eu iria embora e trabalharia para melhorar meu disfarce. Parece que, embora meu disfarce parecendo jovem fosse bom para interações com a maioria dos drones, como com Maggie e Jasper, não era muito bom para dissuadir predadores.

Porque eu estava sendo seguido.

Ele começou a me perseguir no caminho para o local de trabalho, então pelo menos eu sabia que não era alguém de lá. Não tenho certeza do que ele queria, mas isso não importava. Eu sabia que eu atualmente parecia fraco e a fraqueza atraía predadores. Ou, pelo menos, aqueles que pensavam que eram predadores.

Eu sabia que ele estava me seguindo pelos seus passos, regular e constante desde que passei por uma saliência escura em meu caminho para a rua Ashwood. Quando me virei para voltar, notei três drones os quais os passos poderiam pertencer. Um drone normal olhando para a janela de um dispensário. Outro drone normal parecendo vagar e olhando por uma das lacunas na passagem. E um drone de combate com escamas e longas garras em seus dedos, subindo o caminho mais devagar do que o comprimento de sua perna sugeria precisar. Esses drones não estavam aqui quando eu passei pela primeira vez, então um deles tinha que ser meu perseguidor.

Voltei para onde Jasper e eu tínhamos saído do sistema de túneis. Durante todo o caminho até lá escutei os passos, às vezes perdidos entre as pequenos grupos, às vezes obscurecidos pelos dispositivos de transporte que passavam, mas quando as coisas se acalmavam lá estavam de novo. Ele ainda não havia tentado se aproximar de mim, havia muitos outros drones ao redor, mas eventualmente a quantidade de drones diminuiria conforme nos afastávamos de Ashwood. O sol também estava ficando mais baixo no “céu” e muitos dos drones estavam voltando para casa, pois logo seria “noite”.

Eu esperei até passar por um grupo maior de drones, me escondendo de vista entre eles. Antes de passar completamente pela multidão, virei a próxima esquina em um beco e comecei a correr. Direita, esquerda, direita, em frente, queimei um pouco da minha energia extra para aumentar um pouco de velocidade, e corri pelos becos atrás dos edifícios para tentar despistar meu perseguidor. Eu ouvi os passos atrás de mim no início ganhando velocidade, mas eu tinha bastante energia e continuei na velocidade máxima até que finalmente o despistei. Corri alguns quarteirões a mais só por segurança.

A partir daqui, a navegação era fácil, os edifícios ao redor do café de Maggie eram mais organizados do que perto de Ashwood, dispostos em blocos perfeitamente quadrados, e por fim entrei no beco onde ficava a entrada do túnel. Fui até a barreira e verifiquei ao redor uma última vez antes de girar a alça e entrar no túnel, fechando a barreira atrás de mim.

Claro, estava escuro, mas eu simplesmente ajustei meus olhos um espectro inferior até que conseguisse enxergar. Eu ainda estava desapontado por não ter pensado em imitar essa habilidade de Jasper, mas ele entrou no escuro primeiro e eu pensei que era normal para drones. Os olhos de Jasper pareciam bem normais para mim, apesar de ter quatro deles.

Agora, meu próximo objetivo era adquirir massa. A refeição e o açúcar encheram minhas reservas de energia, mas eu ainda estava com pouca massa e provavelmente precisaria de mais para qualquer que fosse esse trabalho. Do contexto, era fácil entender que um trabalho era uma tarefa, e completar essa tarefa me renderia uma recompensa, neste caso, dinheiro. Dessa forma, era basicamente um teste de inteligência, como nas câmaras de teste.

Comecei a explorar os túneis a sério, em busca de qualquer sinal de vida biológica. Rapidamente comecei a encontrar coisas como arranhões na pedra ou manchas de mortes antigas e eliminação de resíduos. Aparentemente, Jasper realmente conhecia bem esses túneis, porque ele desviou de todas as áreas que tinham sinais biológicos.

Eu estava andando por um corredor de pedra quando ouvi um barulho vindo da próxima esquina. Lentamente, me aproximei e estendi um dos meus olhos em um tentáculo para espiar na esquina. O corredor continuava até terminar em uma parede com vários canos quebrados saindo dela. Pilhas de lixo haviam sido acumuladas nos cantos e formadas em algum tipo de ninho, e ocupando esses ninhos estava um tipo de organismo que era surpreendentemente familiar para mim.

Pelos cinzentos! Ou “ratos”, que presumo ser sua designação drone. Eu não os via há muito tempo. Nos primeiros dias dos testes de combate, eles foram um oponente frequente, mas à medida que eu ficava mais forte e mais inteligente, eles foram substituídos por organismos mais fortes até que não os vi mais. Na verdade, os daqui eram um pouco maiores do que os das câmaras de teste, mas ainda não eram comparáveis com, digamos, um pelo amarelo. Eles só chegavam até meus joelhos. Havia cinco grandes que eu podia ver, e vários bem pequenos em volta.

Se todos os ratos atacassem como um, eu poderia ter alguns problemas, mas duvido que eles sejam tão coordenados. Por segurança, eu fiz algumas modificações em mim mesmo. Primeiro, mudei meus pés para serem com garras em vez dos “sapatos” que os drones preferiam, para aumentar a tração. Então, aumentei o comprimento dos meus braços para não ter que me dobrar tanto para atacá-los, além de poder usar meus braços para ajudar na corrida. Eu parecia um pouco esquelético agora, tendo usado ainda mais a carne do meu torso para reforçar meus membros. Por último, anexei no pulso a lâmina que roubei dos Espadas para poder usá-la para esfaquear sem precisar segurar.

Verificando a esquina novamente, esperei até que um dos ratos mais próximos estivesse olhando para o outro lado antes de atacar. Meu plano era pegar o máximo possível deles de surpresa antes que tentassem me atacar.

Alcancei o primeiro rato e ataquei, cravando minha lâmina brevemente na base de seu crânio. Ele tremeu e caiu enquanto eu corria para o próximo. Ele me viu chegando e tentou atacar, mas era muito lento e eu tinha melhor alcance, permitindo que acertasse minha lâmina em seu olho. Isso não o matou imediatamente e fui forçado a segurá-lo com uma das mãos enquanto usava a lâmina para destruir seu cérebro.

Terminei e me preparei para me defender do grupo… que não tentou me atacar? Eles estavam todos fugindo! Eu esperava que eles se aproveitassem de seus números e tentassem me oprimir, mas em vez disso, eles estavam correndo para entrar nos canos quebrados no fim do túnel. Se eu não me apressasse, todos iriam fugir!

Corri atrás deles e matei todos que alcancei. Infelizmente, significava que matei apenas cinco dos minúsculos ratos. Os outros três ratos grandes conseguiram encontrar um cano grande o suficiente para escapar. Rapidamente me vi sozinho no corredor.

Eu tinha cometido um pequeno erro de cálculo. Eu esperava que o comportamento dos ratos fosse igual aos da câmara de teste, ou seja, tentar atacar todos ao mesmo tempo e torcer pelo melhor. Mas aqui, onde não estávamos presos em uma jaula, a estratégia óbvia era correr quando um predador desconhecido atacasse. Afinal, eu tinha feito exatamente a mesma coisa apenas duas horas atrás.

Bom, aprender e adaptar.

Coletei os cadáveres e comecei a comer. Eles eram… decepcionantes, os cadáveres eram principalmente pelo, pele e ossos, os músculos finos e o conteúdo de gordura quase inexistente. Sem falar no sabor, bleh. Eu apenas deixei as micro unidades absorvê-los depois de tentar a primeira mordida.

Pensando bem, o que os ratos comiam aqui embaixo? Além da estranha mancha orgânica, eu não detectei nada que sequer sugerisse um suprimento de comida aqui. Talvez eles invadiam a superfície em busca de comida?

Melhor, mas não exatamente onde eu queria estar. Olhando em volta, decidi verificar os ninhos em busca de qualquer coisa que os ratos possam ter deixado para trás. Se estivessem morando aqui, poderiam ter escondido algo comestível.

Papel picado, sacos etiquetados com “Plástico Reciclável”, sujeira, pelo velho, tudo isso endurecido nas fendas do metal mastigado e da pedra para formar pontos de descanso macios. Tudo basicamente inútil para mim. Destrui parte do ninho para ver se conseguia pelo menos algum material útil.

E uma moeda saiu de baixo da pilha. Eu a agarrei.

Yep, era uma verdadeira moeda de dez centavos. Comecei a quebrar completamente o ninho e uma cascata de objetos brilhantes caiu. Nem tudo eram moedas, notei alguns pequenos pedaços de metal dobrado com pedras brilhantes embutidas, e alguns pedaços de vidro colorido, mas havia facilmente mais de cinco dólares em moedas aqui. Eu juntei todas as moedas com entusiasmo, mesmo que a caça não tivesse corrido muito bem eu ainda poderia comprar outro burger, o que para mim era uma recompensa ainda melhor.

Eles tinham um gosto tão bom.

Terminei de verificar os ninhos e comecei a voltar para a entrada do túnel. Com as moedas que já tinha, juntei sete dólares e trinta e quatro centavos.

Alcancei a barreira redonda e comecei a me transformar de volta no disfarce, mas desta vez mudei o design dos braços. Em vez de voltar como era antes, eu apenas mudaria um pouco a estrutura óssea e os comprimiria. Dessa forma, eu poderia estendê-los para o alcance máximo rapidamente, sem ter que gastar recursos tranformando-os toda vez que viesse aqui para caçar. Felizmente, os drones costumavam usar coberturas que envolviam seus braços, e mudei a cobertura do meu torso para fazer exatamente o mesmo, e mudei a cor para preto. Acho que isso se encaixaria melhor com os estilos que eu havia visto.

Depois disso, subi as barras da entrada, girando a alça para abri-la. Espero que o restaurante de Maggie ainda esteja aberto quando eu chegar.

— Não se mexa.

Droga.

Eu mal tinha colocado meu torso para fora da entrada quando ele falou. Era o drone que estava vagando, assim como um drone diferente que eu não reconheci.

E o novo drone estava segurando uma daquelas armas de projétil. Era menor e cabia em uma única mão, mas o design era muito semelhante para ser qualquer outra coisa.

— Saia do túnel e largue tudo o que tem. Sem movimentos bruscos.

Hmm, eram apenas os dois aqui, e apenas um deles tinha uma arma. A principal preocupação das armas de projétil era que elas perfuravam facilmente na carne, mas era apenas uma só arma desta vez. Não poderia me causar muito dano por si só, e as chances de atingir meu núcleo protegido desta posição eram bastante baixas.

— Se mexe, seu–

— Vocês dois ficaram esperando aqui nas últimas duas horas? Isso parece um cálculo ruim de risco/retorno. — Eu interrompi.

— Cala boca! Você foi e voltou entre Ashwood e os túneis, nem pense em mentir. Você encontrou algo aí embaixo ou está fazendo uma entrega a um capuz. Agora entregue ou diga onde está!

— Posso perguntar como vocês me rastrearam até aqui, pelo menos?

— Seu pequen–

Ambos os meus braços esticaram com um estalo e eu agarrei cada um deles pela garganta. Então eu me deixei cair no túnel, segurando as barras com meus pés para me dar uma força extra. Eles lutaram e golpearam meus braços, mas meu aperto era muito forte e eles não tinham como cortar os membros antes que eu os puxasse para dentro do túnel cabeça adentro.

Então eu os deixei cair.

Eu olhei em volta brevemente procurando por testemunhas antes de descer de volta para o túnel, certificando-me de fechar a barreira superior atrás de mim e selando o túnel novamente na escuridão.

Parece que esta foi uma caçada bem-sucedida, afinal.