Sobre Quando Reencarnei Como um Slime

Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 05 – Cap. 02.1 – Prelúdio Para a Calamidade

 

O Rei Edmaris de Farmus estremeceu com o relatório que acabou de entregar. Não foi à toa. A situação de seu reino acabara de enfrentar mudanças dramáticas para pior.

Tudo começou quando o selo colocado em Veldora, o Dragão da Tempestade, desapareceu da Floresta de Jura. Isso levou a uma enxurrada de pedidos de apoio monetário e militar do conde Nidol Migam e de muitos outros nobres que tinham domínio de territórios no interior. Não era um problema que a nação pudesse ignorar. Edmaris ordenou que medidas fossem tomadas imediatamente – mas em vez de dar a nobreza o que ela desejava, ele procurou consolidar ainda mais sua autoridade.

— Proponho a exterminação dos monstros somente depois que eles devastarem uma ou duas de nossas províncias fronteiriças.

— Isso certamente ajudaria a provar a força dos nossos cavaleiros.

— Heh-heh-heh… Sacrificar alguns daqueles homens barulhentos e insignificantes da Guilda Livre não vai prejudicar nosso orçamento em nada. Você não pode pagar a um credor se ele deixar de existir.

— De fato, de fato. E qual seria o melhor cenário que poderíamos criar para impulsionar seu poder político, Vossa Alteza?

As perdas foram consideradas na equação, por assim dizer.

Era função de um rei garantir a segurança daqueles que juravam lealdade a ele e que seguiam sua vontade para proteger a província. O Rei Edmaris acreditava nisso. Mas não havia necessidade de salvar gente como Nidol Migam, um patife ganancioso mais preocupado em encher os bolsos do que em servir seu povo. As coisas haviam mudado dramaticamente, sim, mas Migam falhou em se preparar para o futuro, e essa situação era o que ele merecia por sua negligência.

Um ato como este pode prejudicar temporariamente a reputação de Farmus em outras terras, mas uma vez que seus cavaleiros provassem seu valor em combate, este problema seria resolvido. Em vez de tentar manter todo o país seguro, era mais barato e seguro atacar apenas quando atacado primeiro. As províncias fronteiriças eram um escudo que protegia a terra de Farmus. Eram ferramentas úteis, facilmente substituíveis em caso de perda, e não havia necessidade de arriscar o pescoço tentando salvá-las.

Porém…

Os esforços do governo de Farmus, que se preparou totalmente para o ataque dos monstros, foram frustrados. Um único campeão, Yohm, havia acabado com todo o plano. Este homem, ascendendo da plebe para formar seu próprio bando, tinha ido tão longe ao ponto de derrotar um lorde orc e todo o seu exército – assim como diziam os rumores. E os prejuízos causados por monstros ficaram abaixo da média neste ano. O rei não tinha ideia do porquê Veldora desapareceu, fazendo com que os monstros se tornassem mais caóticos – porém, a situação atual parecia ser o oposto. Isso também tornou a história desse novo campeão mais verossímil.

— Um campeão? Ridículo.

— Inacreditável. Mas a Guilda Livre falou sobre o aparecimento de um lorde orc. Talvez não seja totalmente mentira.

— De fato. Podia até não ser uma força esmagadora, mas um novo lorde orc talvez teria várias centenas de soldados orcs o servindo. Isso ainda seria uma ameaça grande o suficiente para as terras fronteiriças, mas—

— Há! Que seja. Se isso é tudo, eu poderia eliminá-los sozinho! E agora este homem anda por aí se autodenominando campeão…

O núcleo do governo – os conselheiros nos quais o Rei Edmaris confiava – havia chegado a uma conclusão.

— Bem, se isso significa que uma ameaça foi eliminada, então foi bom. Apesar de ser uma pena que isso signifique que nossos Cavaleiros Reais não podem demonstrar seu valor.

Folgen, chefe do Batalhão de Cavaleiros, parecia menos do que feliz com a declaração do feiticeiro real chefe Razen. Porém, por enquanto o assunto estava resolvido. Ele sabia muito bem que Razen estava simplesmente dizendo a verdade. Não havia necessidade de entrar na batalha apenas pela diversão – uma opinião que o Rei Edmaris parecia compartilhar.

No entanto, a próxima questão a resolver não era do tipo que eles poderiam se dar ao luxo de deixar de lado. Suas receitas fiscais estavam diminuindo. Normalmente, descobrir o estado do tesouro nacional exigia uma análise cuidadosa por pelo menos alguns anos. Porém, neste caso, a tendência de queda foi iminente e extremamente óbvia na receita fiscal anterior. Mês após mês, os números falavam por si só. Depois de certo ponto, a receita resultante do comércio simplesmente despencou.

O Reino de Farmus, graças a sua localização geográfica, participou de quase todas as relações comerciais internacionais com o Reino dos Anões. Era parte do motivo pelo qual servia como porta de entrada, por assim dizer, para as nações ocidentais. Eles tinham a vantagem de poder realizar comércio direto com o reino; não havia necessidade de utilizar rotas marítimas ou terrestres perigosas. Os altos impostos que cobravam sobre as mercadorias que importavam de lá e vendiam em outros lugares proporcionavam-lhes enormes lucros.

Mas então, um dia, o número de aventureiros entrando na nação começou a diminuir. Anteriormente, Farmus estava cheia deles, todos trazendo uma boa quantidade de dinheiro para comprar armas e armaduras feitas pelos anões. As poções de Farmus podiam literalmente salvar vidas; os aventureiros sempre queriam mais.

 Porém, depois de um tempo, o número de mercadores itinerantes caiu, assim como o de aventureiros. Ainda vinham multidões semelhantes deles de Englesia, mas o fluxo de pessoas vindas de Blumund e outras nações vizinhas de Jura proporcionava muito mais lucro para eles – sem competitividade, Farmus foi capaz de vender poções para esses mercadores pelo preço que quisessem. E agora, essas pessoas se foram. Com todos esses visitantes estrangeiros desaparecendo repentinamente, obviamente não demorou muito para que as pousadas e tavernas que os serviam sofressem com o prejuízo.

Bastou um mês para que os números no papel deixassem claro a situação, então o Ministro da Economia ordenou apressadamente ao seu departamento que descobrisse a causa. O relatório dado após a investigação foi o suficiente para chocar a todos presentes.

— Uma nova cidade foi estabelecida na Floresta de Jura, uma cidade habitada por monstros.

A notícia, entregue por um espião enviado à floresta, fez o Rei Edmaris sussurar “Não pode ser” no momento em que a ouviu. Mas ele manteve a compostura. Era o governante de uma nação e precisava transparecer sua autoridade como rei.

Não consigo acreditar… Mas devo. O mais importante é: como eu posso nos fazer lucrar em cima disso?

Seu intelecto diferenciado já pensava muitos passos à frente.

 

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Pouco tempo depois, Edmaris ordenou uma reunião de emergência entre todos os lordes provinciais de seu reino.

— Mas, vossa alteza, os mercadores estão profundamente cientes de seus próprios interesses. Eles já estão viajando para esta terra de monstros, ignorando Farmus completamente.

— É dito que a nação oferece uma rota segura até o Reino dos Anões…

— Ouvi o mesmo. Eu soube que eles têm essas “estações” – pequenas guaritas localizadas a cada dezesseis quilômetros ou mais, cada uma com monstros alojados nelas servindo como guardas…

— É uma história difícil de engolir, mas vários comerciantes de confiança confirmaram. Se um viajante for atacado no meio de sua jornada, aparentemente podem lançar sinalizadores fornecidos a eles na cidade para pedir ajuda. O socorro chega em cinco minutos ou menos.

— O quê?!

Os ministros e a nobreza chamados para a conferência pareciam prontos para pularem de suas cadeiras enquanto trocavam as histórias. Contos incríveis e aparentemente inacreditáveis voaram de suas bocas. Nenhum deles conseguiu esconder o choque.

A Floresta de Jura estava repleta de monstros. Graças ao seu enorme tamanho, apenas criaturas pouco perigosas vivem nas terras fronteiriças perto da civilização humana. Mas nem sempre foi assim. De vez em quando aparece um monstro de rank b (ou superior). A ideia de construir uma cidade bem no meio desse caos era impensável – e até mesmo construir rotas para ela de Blumund à Dwargon? Quanto dinheiro e poder militar seriam necessários? Nenhum dos presentes conseguia sequer imaginar. Mesmo fora da floresta, eles tiverem que gastar uma boa parte da receita tributária para defender as vilas e cidades fronteiriças. As quais eram o escudo da nação, mas que precisavam ocasionalmente de manutenção.

E monstros viviam nesta cidade? Isso era inédito.

A nação era aparentemente liderada por alguém que se autodenomina o líder da Floresta de Jura. Ele, entretanto, não se autodenominava um lorde demônio; até queria construir relações amigáveis com nações humanas. Um monstro construindo um estado miscigenado. Era uma conversa de maluco.

O Rei Edmaris ergueu a mão para silenciar a todos na sala, olhando para um de seus ministros.

— A nação — disse ele por ordem do rei —, é conhecida como “Federação Jura-Tempest”. Os mercadores se referem a ela simplesmente como “Tempest”. É liderada por Rimuru Tempest, um slime que aparentemente…

— Um o quê?! Você está brincando comigo?!

O ministro foi interrompido por um jovem de cabelos e olhos escuros que apareceu subitamente. Nem um único ministro ou nobre se atreveria a exibir tal grosseria diante do rei, mas este homem vivia em um reino onde a etiqueta não era o mais importante. Ele estava em posição de ser perdoado por tais explosões.

Ele era, em outras palavras, um campeão de Farmus. Um invocado. Sendo assim, ninguém se ofendeu com sua atitude – ou, para ser mais exato, não expressaram nenhuma reclamação. Alguns dos nobres mais poderosos claramente o desprezavam, mas ninguém precisava demonstrar isso. Revelar publicamente qualquer inimizade prejudicaria os próprios lucros.

Esta era uma arma humana, uma das pessoas convocadas pelas “cerimonias de convocação” trienais de Farmus e um homem dotado de habilidades de batalha. Seu nome era Shogo Taguchi, um japonês de vinte anos.

— Basta, Shogo — repreendeu o feiticeiro-chefe Razen. — Ouça até o fim.

— Mas um slime? Isso é o fundo do fundo do poço. Como pode um verme como aquele se tornar o lorde de toda a floresta? Ou o que, a cidade está repleta de fracos? Vocês estão me treinando dia após dia apenas para matar um bando de monstrinhos patéticos?

Como parte deste “treinamento”, Shogo conseguiu ferir gravemente dez ou mais dos cavaleiros de elite de Farmus no dia anterior. Razen sorriu amargamente ao recordar os eventos. Esse jovem, Shogo, sem dúvida exercia um tremendo poder – mas seu coração e sua mente eram muitos subdesenvolvidos e imaturos para suportá-lo. Passaram-se três anos desde que ele foi convocado aos dezessete anos, e aos olhos de Razen, sua ferocidade aumentou a cada dia desde então. Se não estivesse sendo subjugado pela magia controladora colocada sobre ele durante a convocação, ele seria ameaçador o suficiente para arrasar uma nação inteira. Felizmente para Farmus, a magia era absoluta.

— Eu disse, silêncio.

— Geh.

Shogo voltou ao seu assento, seguindo humildemente o alerta de Razen. A raiva ainda queimava em seus olhos, mas Razen era muito orgulhoso em seu papel de feiticeiro-chefe para prestar atenção.

— Senhor Razen — uma voz soou claramente —, acho que Shogo não disse por mal. Em nosso mundo, os slimes são conhecidos por serem os monstros mais fáceis de se matar – bem, depende do jogo, na verdade, mas em geral é assim.

— Ah, Kyoya. Se você está presente nos ajude a manter o Shogo comportado. Estamos na mesma sala de Sua Alteza. Não me envergonhe ainda mais!

O homem chamado Kyoya era outro invocado do Japão. Seu nome completo era Kyoya Tachibana, e ele havia sido trazido para cá depois de ser convocado para uma pequena nação distante de Farmus. Isso o tornava o rosto mais novo entre os invocados, e agora ele encolheu os ombros em uma demonstração de lealdade e olhou para Shogo. O outro jovem acenou com a cabeça, se calou e voltou a ouvir a conversa. Razen, vendo isso, pediu ao ministro que continuasse.

Esta cidade chamada Tempest aparentemente era o lar de um grande número de monstros que eram evoluções de goblins, orcs e assim por diante.

No Reino dos anões que era autodeclarado neutro, não era incomum ver criaturas como hobgoblins, orcs e kobolds, mas essa era a exceção à regra. Uma comunidade inteira de monstros evoluídos era algo muito além do bom senso de qualquer um.

Ocasionalmente, a cada poucos anos, você veria o líder de uma matilha ou rebanho evoluir espontaneamente para uma criatura de nível superior. Sempre que um era encontrado, era amplamente caçado de uma vez antes de ficar mais poderoso. Aos olhos dos humanos, a maneira como os anões se associavam livremente com essas feras era uma heresia por si só.

Em pouco tempo, todos os habitantes daquela cidade evoluíram. Você provavelmente não veria nada parecido na história, independentemente de quantos séculos voltasse no tempo. Mas não havia dúvidas da veracidade do relatório de seu espião.

Com isso em mente, suprimir esta nova federação normalmente seria a primeira coisa a se fazer… Mas desta vez não seria tão fácil. Esses eram monstros com características demi-humanas; eles tiveram acesso a conhecimento e tecnologia, desmatando florestas, construindo estradas e até mesmo usando a linguagem humana para fazer negócios. Além disso, também tinham os rumores daquele sistema de “estações” ao longo da estrada – informação vinda de outro relatório de espionagem. Cada uma era oficialmente chamada de “subestação”, com monstros que trabalhavam nela em turnos de dia e noite.

Essas subestações, como o ministro explicou calmamente, foram instaladas em pontos importantes ao longo da rodovia. Elas serviram como alojamento temporário para as equipes que construíram a estrada, e agora estavam sendo reaproveitadas como guaritas – os monstros posicionados nelas tinham a tarefa de manter os viajantes seguros.

— Subestações? — Shogo zombou. — Eles são o quê? Policiais?

— Shogo—

— Sim, Razen. É para eu ficar calado. Já entendi.

— Não é isso. O que são esses policiais que você falou?

— Hã? Hm, sabe, um policial…?

Kyoya riu da estranha conversa enquanto resumia rapidamente a Razen como o policiamento funcionava no planeta Terra.

— Hoh… Uma organização de guardas, cada um encarregada de patrulhar uma região específica. Entendo. Mas como um bando de monstros conseguiria fazer isso?

— Bem, talvez haja um invocado como nós com eles. Se ele tiver as habilidades certas, talvez tenha sido fácil para esse cara se dar bem com os monstros.

— Hã? E quem se daria todo esse trabalho? Se este hipotético invocado fosse tão poderoso, ele não teria nenhum problema em sobreviver neste mundo sozinho. Então, por que ele se incomodaria em chamar a atenção para si mesmo?

— Realmente, você tem um bom ponto.

Shogo e Kyoya perderam rapidamente o interesse no assunto, mas Razen não. Concentrado, com o rosto sério enquanto pensava.

… Um invocado? Poderia ser possível? É, isso parece ser um pouco mais convincente agora…

O feiticeiro acenou com a cabeça de volta para o Rei Edmaris, percebendo os olhos do governante sobre ele. Ter um possível invocado espreitando nas sombras atrás desta problemática nação era preocupante, mas ele queria sinalizar a seu líder que não via isso como um grande obstáculo para seu plano. Razen e seus aprendizes convocaram muitos outros invocados além de Shogo e Kyoya. Uma possibilidade, era apenas isso – uma que eles poderiam levar em conta em seu plano de ação. Nada a se preocupar.

Heh-heh…, pensou Razen enquanto o ministro continuava. Mesmo que eles tenham um invocado como líder, não são nada comparados a Shogo, a maior arma de nosso arsenal…

 

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Farmus estava recebendo menos comerciantes, e isso significava que as finanças do país estavam ruins. Assim que o ministro terminou de explicar isso, ele foi para o tópico principal desta reunião emergencial – a notícia de que havia uma nova cidade na Floresta de Jura, uma que os aventureiros estavam usando como base para coletar ingredientes oriundos de monstros.

Esta cidade vendia poções que eram tão boas quanto, senão melhores do que aquelas fabricadas pelos anões, além de um ferreiro capaz de fazer ao menos a manutenção básica de armas e armaduras. Alguns comerciantes até se instalaram permanentemente em residências, não tendo mais que viajar para vender os itens que obtinham. Não é à toa que o lugar tenha se tornado um imã para aventureiros. Por mais longe da floresta que estivesse, não havia mais motivos para eles viajarem para a capital de Farmus.

E esse nem era o maior problema. O pior de todos – a razão pela qual o rei convocou esta reunião da nobreza – era a ligação rodoviária recém estabelecida entre os Reino dos Anões e a terra de Blumund. Uma rodovia totalmente nova, patrulhada por monstros demi-humanos que garantiam a segurança de quem a usasse. Isso significava que a maioria dos mercadores agora poderiam viajar diretamente para Dwargon sem ter que passar por Farmus.

Não era algo que podiam ignorar. Se deixassem passar, isso poderia se tornar uma questão de vida ou morte para o reino. Afinal, Farmus não tinha nenhum produto manufaturado de sua especialidade. Não tinha recursos subterrâneos para minerar. Ter o Reino dos Anões fazendo fronteira significava que sua própria indústria era subdesenvolvida. Eles cultivavam o suficiente para evitar que seu povo não morresse de fome, mas isso não seria o suficiente.

Toda a economia era dependente tanto do comércio quanto do turismo. Sem isso, de onde os cofres públicos retirariam dinheiro?

O ministro saudou o Rei Edmaris enquanto finalizava seu relatório. O rei acenou de volta, examinou a nobreza reunida diante dele e fez uma pergunta.

— Bem, e agora?

Não havia ninguém para responder.

O mesmo relatório que o rei recebeu tinha sido distribuído entre a nobreza e os ministros presentes, que descrevia os detalhes por trás da recém-concluída investigação. Todos ali reunidos eram oficiais nobres de alto escalão, fortemente envolvidos com a administração do país e extremamente abastados. Pessoas de profunda influência no governo central e que sabiam o que estava em jogo caso sua pátria perdesse sua receita tributária e sua vantagem competitiva perante as demais nações.

Eles não conseguiam responder à pergunta do rei, mas todos compartilhavam a mesma opinião. No entanto, se alguém ousar falar o que pensa, pode ser forçado a assumir a responsabilidade por tudo isso. Ninguém era corajoso o suficiente para arriscar.

Todos achavam o mesmo: atacar a cidade e queimá-la completamente.

Farmus era uma grande nação. Com os recursos que dispunha, poderia enviar até cem mil soldados ativos. Mas eles estavam lidando com monstros evoluídos. Uma infantaria normal seria inútil. Cavaleiros bem treinados ou mercenários experientes precisariam ser enviados. Ao contrário das batalhas entre nações humanas, esta era uma missão de aniquilação – matar ou morrer. Não era um lugar para amadores. Despachar novatos apenas aumentaria a contagem de corpos e atrapalharia os soldados experientes.

Então, quantos desses cem mil soldados eram realmente úteis em combates como este?

Havia os cinco mil membros do Batalhão de Cavaleiros Reais de Farmus, o exército-todo poderoso liderado por Folgen, seu capitão. Servindo diretamente a Sua Alteza, era um grupo de elite, com permissão para se mover livremente sob as ordens do rei. Cada um deles recebeu rank B em combate e ostentavam a reputação de os lutadores mais fortes entre as nações ocidentais.

Também havia a Aliança de Feiticeiros de Farmus, um grupo liderado por Razen de mil pessoas graduadas na academia real de magia. Cada um deles era especialista em magia, escolhidos a dedo por seus dons únicos em feitiços de batalha.

Além deles, tinha a Federação de Cavaleiros Nobres de Farmus, um pelotão de elite de cinco mil soldados especialmente selecionados (incluindo alguns dos nobres mais jovens) que serviam diretamente a nobreza de mais alto escalão. Eles eram uma força a ser considerada, mesmo que fossem principalmente soldados com pouca experiência de combate real.

Por fim, havia os seis mil membros das Brigadas de Mercenários de Farmus. Divididos em pequenos grupos, normalmente eram encarregados de manter a paz dentro e fora de Farmus, mas poderiam ser todos convocados em emergências para aproveitar ao máximo sua força. Suas fileiras continham uma grande quantidade de homens e mulheres jovens ambiciosos, ansiosos para provarem seu valor em batalha e ganhar um lugar no batalhão de cavaleiros.

Esses 17.000 indivíduos eram a elite de Farmus, prontos para lutar a qualquer momento. Eles eram uma força e tanto, mais do que capazes de dominar qualquer nação próxima.

Mas os relatórios diziam que a nação monstro tinha pelo menos dez mil habitantes. Se todos eles já tivessem evoluído, então provavelmente eram uma força de rank C ou mais, e não seria errado esperar que alguns deles também tenham alcançado o rank B. Mesmo que a vitória fosse garantida para Farmus, eles teriam que pagar com sangue por ela – talvez até mesmo com o sangue dos cavaleiros reais e feiticeiros, os maiores tesouros da nação. Quaisquer baixas em suas fileiras com certeza levariam a perguntas e acusações mais tarde. Farmus gastou uma fortuna cultivando essas forças; desperdiçá-las em combates desnecessários estava fora de questão, e “porque temos medo de perder a base da nossa receita tributária” não seria uma desculpa boa o suficiente para apaziguar os nobres.

Dado que apenas as brigadas mercenárias não seriam capazes de lhes trazer a vitória, era necessário que Farmus usasse 100% de sua força. Todos na sala chegaram a essa conclusão em um instante. Se qualquer um deles sugerisse guerra, poderia sobrar para eles a responsabilidade pelos exércitos – e quaisquer perdas ao longo do caminho.

E como se explicariam para as nações ocidentais? Principalmente Blumund, que supostamente já tinha relações com essa terra de monstros? Sem dúvida, não havia ninguém que não estava relutante. Todos com grande influência diplomática estavam muito conscientes disso e do futuro para ousar falar imprudentemente.

Ninguém queria perder seus privilégios, mas também não queriam perder dinheiro. Não era uma opção, mas não fazer nada levaria a perdas inevitáveis – isso poderia levar a nação à beira do precipício, se estiver enfraquecida o suficiente. Cada um deles pensava a mesma coisa: temos que fazer algo. Se apenas alguém pudesse tomar a frente para nós…

Eles precisavam silenciar seus vizinhos diplomaticamente. Poder para tornar a vitória na guerra uma garantia. E, mais importante do que tudo, um plano para lidar com os aventureiros que vivem na cidade dos monstros. Farmus tinha que se certificar de que eles não seriam hostis – ou até mesmo convencê-los a se juntar ao seu lado.

Todos esses sérios problemas a se resolver e nenhum lucro a ser tirado disso. Manter o status quo da Floresta de Jura já era difícil o suficiente. Se eles atacassem e destruíssem uma nação inteira de monstros, não poderiam nem reivindicar as terras para suas próprias províncias. Não é de se admirar que estivessem enfrentando uma grande falta de voluntários.

 

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O Rei Edmaris sabia exatamente o que todos os seus nobres estavam pensando. Ele raciocinava da mesma forma. A diferença era que ele já estava tomando contramedidas.

No momento em que ouviu o relatório, junto com seus assessores mais próximos, começou a pensar em como reagir. Eles discutiram em como tirar o maior proveito da situação. O cerne da questão era como lidar com isso sem afetar o interesse nacional.

— Se deixarmos a nação monstro fazer o que quiser — conjeturou Razen —, sua presença se tornará mais conhecida pelas nações ocidentais. Uma vez que isso aconteça, será impossível fazer qualquer movimento contra eles. Se formos atacar, agora é a hora.

— Há! Monstros? — O Capitão dos Cavaleiros Folgen quase cuspiu antes de perceber que estava na presença do rei e imediatamente se arrependeu. — Realmente — ele continuou com um tom de descontentamento —, monstros evoluídos são difíceis de lidar. O conhecimento que um demi-humano possui certamente o torna um inimigo formidável. Eles estão demonstrando pelo menos métodos de organização rudimentares e seus números ultrapassam os dez mil. Em termos de ameaça, poderíamos chamá-los caridosamente de classe calamidade e podem até mesmo ser da classe desastre. Se o líder de tal grupo de monstros for hostil à humanidade, isso poderia levar ao nascimento de um novo lorde demônio.

— O quê? — O rei gritou. — Se for realmente da classe desastre, a mera ideia de tentar lidar com isso sozinho é ridícula!

Ninguém poderia responder a ele. Razen apenas acenou com a cabeça em aparente concordância com Folgen.

— Não se preocupe, senhor.

Era Reyhiem falando, a figura religiosa mais poderosa de Farmus. Como um arcebispo enviado pela Santa Igreja Ocidental, ele estava (no papel, pelo menos) em uma posição de poder igual ao do próprio rei, dada a adoção de Farmus ao Luminismo como sua religião oficial. No entanto, isso era apenas uma formalidade; na realidade, Reyhiem era mais um braço direito de confiança, seguindo os conselhos do rei.

— Ah, Reyhiem. Você tem alguma ideia?

O bispo abriu um sorriso que parecia um pouco sinistro para um membro do clero.

— É claro que tenho. Em relação a esta terra de monstros, nossa igreja já a definiu como uma presença muito perigosa. Fui contatado anteriormente pelo Cardeal Nicolaus Speltus, e ele me disse que planejamos destruir esta nação, pois ela representa uma ameaça clara aos céus. No entanto, mal conseguimos infligir algum dano a ela até agora, e até encontramos traidores entre as nações humanas… Nossa Igreja quer evitar fazer do conselho nosso inimigo, e ele me disse para manter meus olhos bem abertos para qualquer nação disposta a nos ajudar.

— Ele disse! Então a Igreja já os vê como inimigos dos deuses… Mas buscam a ajuda de outras nações?

Os olhos do Rei Edmaris brilharam. O cardeal Nicolaus Speltus era um confidente íntimo do papa, o líder supremo do Santo Império de Lubelius, o homem que detinha de fato o poder em todas as nações ocidentais. Ele também era o superior direto do Bispo Reyhiem e um homem arrogante de coração frio, ocasionalmente considerado como um “diabo sob a máscara de santo”. Era um indivíduo perspicaz, sempre disposto a entrar em ação, o suficiente para fazer até mesmo o Rei Edmaris ficar atento sobre ele – e esse homem havia tomado sua decisão. O que significava que a mulher que o servia estava pronta para agir. Isso fez um sorriso sincero se formar no rosto do rei.

— Pensando hipoteticamente, e se os cidadãos de Farmus fossem prejudicados por causa desta nação monstruosa, o que aconteceria então?

— Acredito que a Santa Igreja Ocidental assumiria total responsabilidade em prestar socorro a seus seguidores.

— Ótimo, ótimo! Afinal, sempre fomos e seremos seguidores devotos da fé.

— Vocês são, vocês são. Definitivamente.

O rei e o bispo compartilharam um sorriso.

— Nesse caso — interrompeu Folgen —, prometo que teríamos o maior prazer em marchar adiante e acabar com esses monstros. Acredito que o Batalhão de Cavaleiros Reais seria o suficiente para aniquilar esta nação, mas todo cuidado é pouco. Arcebispo, a Igreja seria capaz de prover mais recursos para nós?

Reyhiem, aparentemente esperando por esta pergunta, abriu um sorriso de orelha a orelha.

— Nós conseguimos, Senhor Folgen. Eu entendo sua preocupação. O Cardeal Nicolaus já aprovou o envio de Cavaleiros Templários.

Os Cavaleiros Templários era um termo comumente usado para chamar os soldados filiados à Igreja enviados do templo central para outras nações. Contados em dezenas de milhares, mantinham e aumentavam a imensa influência que a Igreja tinha na área, os mais talentosos dentre eles eram denominados de paladinos e formavam os grupos dos cruzados. As próprias Igrejas de Farmus tinham Cavaleiros Templários posicionados nelas, cerca de três mil homens – Nenhuma outra nação próxima tinha tantos.

Mesmo sendo o Arcebispo, Reyhiem não tinha autoridade para emitir ordens a eles. Porém, agora o Cardeal Nicolaus estava disposto a usá-los. Todos eles poderiam ser enviados para a batalha na floresta sem nenhum problema.

— Você tem a permissão para ordenar os Cavaleiros Templários…? — Satisfeito, Folgen acenou com a cabeça. — Entendo, a Santa Igreja realmente deve levar isso muito a sério.

O rei sorriu junto a ele enquanto ponderava. A julgar pela forma como a Santa Igreja Ocidental vê todos os monstros como inimigos comuns da humanidade, não há como eles permitirem a existência desta nação. Ainda assim, sem uma causa convincente o suficiente, teriam dificuldade em encher seus exércitos. E é exatamente por isso que eles querem nos usar, não é? Heh-heh-heh-heh… Bem, faremos o mesmo…

Se ambos os lados tivessem interesses iguais, seria mais fácil para eles unirem forças na batalha. Essa foi a conclusão do Rei Edmaris.

— Eu sugeriria — acrescentou Reyhiem. — Que enviemos um batalhão ao mesmo tempo em que a Santa Igreja Ocidental declara o início da guerra. Vocês vão desfrutar de toda a glória de servir como a espada da humanidade!

O rei estava de acordo. Fosse diplomacia ou poder militar, não havia nada a temer com a Santa Igreja ao seu lado. Isso deixou apenas um problema:

— Agora, que isca podemos preparar para os nobres atacarem?

Eles precisavam fazê-los disponibilizar seus soldados e de algo para pagar os mercenários. Uma causa nobre e alguns discursos bonitos não os motivaria. Isso poderia até mesmo afastá-los.

— Imagino que só a glória não os moverá — carrancudo, Razen elevou o tom. — Se juntarmos o Batalhão de Cavaleiros Reais, a Aliança de Feiticeiros e os Cavaleiros Templários, somaremos nove mil soldados. Isso deve ser o suficiente para nos levar à vitória, mas…

Com exceção de Reyhiem, todos os presentes queriam que seu plano fosse infalível. Mas foi Reyhiem quem quebrou o silêncio mais uma vez.

— Oh, sim, sim — ele disse com um sorriso. — O cardeal Nicolaus também mencionou isso em sua mensagem: “monstros não são pessoas. Portanto, a Igreja não tem interesse em suas terras. Faça o que quiser com eles.”

Monstros não são pessoas? Não é óbvio? O Rei Edmaris teve de se conter para não perguntar em voz alta. Uma vez que eles destruíssem a nação monstro, seria um desperdício de esforço se não pudessem gerenciar suas terras depois. Mas eles conseguiriam?

Talvez se abençoassem a terra e depois recebessem permissão da Igreja para governá-la? O rei não tinha escrúpulos em governar sobre bestas – escravos monstros e semelhantes não eram visões raras. Se estivessem dispostos a negociar e a se submeterem, Edmaris poderia garantir-lhes proteção sob o nome de Farmus – presumindo que eles se converteriam e se tornariam servos de Luminus. Caso contrário, arrasariam a terra, escravizariam os monstros sobreviventes e anexariam todo o território.

Se estivessem lidando com demi-humanos como anões, poderia haver alguns problemas. Mas monstros normais evoluídos? Não eram pessoas. Eles poderiam até usar magia para escravizá-los sem pensar duas vezes.

— Entendo. O Cardeal Nicolaus é um homem de mente aberta, já pensando no futuro…

— Sim, ele é! E não deseja nada mais do que a prosperidade contínua de seu reino, senhor.

O Rei Edmaris acenou firmemente com a cabeça. Farmus ganharia um novo território, junto com todos os recursos naturais que a Floresta de Jura tinha a oferecer. Ninguém reclamaria se ele deixasse a defesa da região para os escravos monstros. O Conselho já havia os reconhecido legalmente.

O melhor de tudo é que isso daria a Farmus novas rotas comerciais – que a fariam superar Blumund e possibilitariam a volta de suas antigas relações lucrativas com o Reino dos Anões. A cobrança de pedágio pelas rodovias já construídas na floresta poderia até gerar ganhos maiores. Dar à nobreza lampejos dessa fortuna em potencial deveria ser o suficiente para fazer todos eles se alistarem para a batalha.

Além disso… Eu adoraria pôr as mãos e escravizar os engenheiros daquela nação monstro…

Com todos os problemas aparentemente resolvidos, era hora de ver o que mais havia a se discutir. O Rei Edmaris se recordou de um certo item que chamou sua atenção não muito tempo atrás – rolos de tecido de seda. Disseram a ele que tinha sido obtido daquela nação monstro, e o toque era mais agradável do que qualquer outro que tinha visto antes. Fibras mágicas e tecidos convencionais pareciam meros brinquedos em comparação. Depois de analisarem, confirmaram que era feito intrinsecamente de fibras obtidas de casulos de Mariposas do Inferno. Esses monstros eram ameaça de rank B, e a ideia de usar seus casulos era vista como o cúmulo da imprudência…, mas olhe o que você poderia fazer com elas!

Ele simplesmente tinha que aprender como isso era feito e, em seguida, divulgá-lo como especialidade de Farmus e exportá-lo. E este não era o único produto maravilhoso feito pelos monstros – de acordo com o relatório, havia outros. O rei já havia ordenado a seu governo que conseguisse o máximo de exemplares possíveis – mas para que fazer esse esforço? Exorcize o mal das terras dos monstros e todos os seus produtores se tornariam seus. Não poderia ser mais simples.

Edmaris se viu lutando para manter a compostura ao pensar em todas essas riquezas incalculáveis. Isso o fez querer sorrir como uma criança. Se tivesse o apoio da Santa Igreja Ocidental, esta batalha se tornaria uma guerra santa, com ele como líder e comandante. Em um instante, a honra que a vitória traria a ele assumiu um significado ainda maior. Isso o estabeleceria no cenário mundial e colocaria até mesmo o mais arrogante dos nobres em seu lugar.

Ele acreditava que precisava comandar esta guerra santa – e assim que tudo acabasse, seria capaz de se deleitar da reputação de ser o Rei dos Campeões. Folgen, o campeão que derrotou uma ameaça classe desastre e Razen, o sábio que o ajudou. Cada um deles teria sua glória. E com o Cardeal Nicolaus olhando, Reyhiem poderia até mesmo ser o candidato mais provável a próximo cardeal.

Todos tinham muito a ganhar com esta batalha. E embora a Santa Igreja Ocidental recebesse apenas as “esmolas” deles em troca, era um preço pequeno a se pagar por todas as fortunas que estariam acumulando. E qualquer um dos nobres que se destacassem em batalha poderia receber parte do território conquistado como tributo. O rei queria a indústria e tecnologia deles; a terra não o importava. Contanto que mantivesse o direito de cobrar tarifas e pedágios, ele não se importava em dividir um pouco as sobras. Em comparação com o gasto necessário para defender as terras fronteiriças, esta seria uma grande economia de dinheiro.

Em suma, o Rei Edmaris queria controle exclusivo sobre todas as riquezas de sua nação. Portanto, ele precisava criar uma situação em que a nobreza não tivesse espaço para reclamar se não agissem.

 

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Toda esta reunião de emergência era uma farsa para que isso acontecesse. Para convencê-los de que o rei pensou: Bem, se ninguém vai se voluntariar, então suponho que seja meu dever como líder.

Edmaris olhou ao redor da sala mais uma vez, certificando-se de que nenhum dos nobres ou ministros mais influentes estava prestes a abrir a boca. Agora ele tinha a atmosfera que desejava. O próprio rei teria que tomar a frente. A hora havia chegado.

— Eu esperava contar com vocês, mas talvez seja um fardo muito pesado para carregar…

Ele tentou continuar. Antes que pudesse, um único nobre levantou a mão.

— Meu senhor, desculpe por interrompê-lo! Esta nação monstro, Tempest, já firmou laços com Dwargon e Blumund. Eles começaram a comercializar produtos com aventureiros. Sendo assim, eu me pergunto se é mesmo sábio fazer qualquer movimento precipitado…

— De fato — disse outro.

— E sabendo que eles contam com a ajuda de ferreiros anões para desenvolverem suas próprias tecnologias… Se levantássemos um exército, quem poderia dizer qual seria a reação dos nossos vizinhos?

Quem levantou essa questão foi o Marquês Muller – que era o líder de uma das maiores facções aristocráticas – e o Conde Hellman, que geralmente seguia sua liderança em assuntos da corte. Os dois se viraram para Razen, resistindo ao impulso de olharem feio para ele.

— … Vocês estão certos. Sendo honesto, sei que todo cuidado é pouco…

— Estou de acordo com você, Razen — afirmou o rei. — Mas-

— Sim, estou ciente, senhor. Se deixarmos essa nação por conta própria, nossa autoridade na região vai despencar. Portanto, devemos atacá-los antes que isso aconteça, independentemente do lucro potencial em jogo… Esta é uma luta pela sobrevivência.

O Rei Edmaris concordou acenando a cabeça, com seus olhos cegos pela ganância. Assim como os de Razen. A conversa deles era ensaiada. O rei, sempre pensando em sua própria nação, e seu leal braço direito que o servia. Nada disso era real, mas a armadilha de Edmaris já havia caído sobre o público.

— Também tenho um anúncio a fazer — acrescentou Reyhiem. — Ainda não tornamos público, mas já recebemos uma iluminação divina sobre o assunto. Nossos deuses nos dizem que a terra dos monstros deve ser destruída.

Isso enervou os nobres. Agora eles estavam falando de uma guerra santa, um conflito com a aprovação da Santa Igreja. Seus cidadãos apoiariam esta causa.

— Eu entendo as preocupações dos nossos queridos conde e marquês — disse o rei. — Mas não seria sensato duvidar das palavras da Igreja.

— E considerem isso! — Folgen gritou. — Considerem isso como uma forma de abrir os olhos das nações que foram enganadas por este país. Nenhum monstro é digno de confiança – uma lição que acho que devemos ensiná-los pessoalmente!

— M-mas…

— Fazendo isso talvez a culpa recaia sobre nós…

— Hã? — O Rei Edmaris dirigiu um sorriso gentil para seus dois nobres que estavam relutantes. — Então o que sugerem que façamos?

Qualquer preocupação com os países vizinhos não seria mais necessária no momento em que a Santa Igreja os apoiasse. Farmus era uma superpotência, com grande influência no Conselho. Se a causa apresentada fosse justa, tanto política quanto religiosamente, seria simples impedir qualquer interferência externa. Os dois nobres se viraram um para o outro por um momento.

— Podemos enviar um mensageiro? — Muller sugeriu. — Se pudéssemos negociar com eles, conseguiríamos dizer se são dignos de nossa confiança ou não! E se parecerem dispostos a se aliarem a nós, a ameaça dos monstros seria algo do passado. Não teríamos nada a temer. A Igreja ainda não fez uma proclamação oficial porque quer entender as verdadeiras motivações deles, tenho certeza disso.

— Exatamente — O Conde Hellman concordou.

Ele e Muller eram donos de domínios que faziam fronteira com a floresta, o que tornava a defesa uma preocupação constante. As terras do marquês também compartilhavam a fronteira com Blumund, com quem tinha boas relações. Deve ser isso que motivou sua oposição. Se bem que Blumund talvez tenha o subornado…, mas isso já foi resolvido.

O Rei Edmaris riu um pouco internamente, mostrando que essa resistência era inútil enquanto os marcava como alvos para serem mantidos sob vigilância. Sua mente já estava sonhando com as enormes riquezas e glórias que ele sem dúvida iria adquirir em breve.

— Não, meus queridos marquês e conde — Reyhiem interrompeu. A iluminação já nos foi concebida. Luminus se recusa a tolerar a presença de qualquer monstro – especialmente daqueles que ousam construir uma nação. Qualquer país assim marcaria o nascimento de um novo lorde demônio! Permitir que tal imundice exista é um pecado grave e imperdoável!

Muller e Hellman engoliram a seco, surpresos com esse surto de raiva.

— Eu entendo suas opiniões — acrescentou o Rei Edmaris solenemente. — Mas me respondam: Podemos confiar nestes monstros? Quem poderia garantir que eles não atacariam as pessoas algum dia? Vocês estão dispostos a assumir esta responsabilidade? Estão dispostos a proteger as vidas e fortunas do meu querido povo? Estamos lidando com monstros. Criaturas de comportamento imprevisível. Que estão em eterno conflito com a humanidade. Vocês não acham que os pontos de vista que defendem são um tanto quanto imprudentes?

Este discurso avassalador fez com que ambos ficassem pálidos, incapazes de responder. Como poderiam? O inimigo nem era humano. O que poderia levar alguém a confiar neles? Esse ponto era impossível de refutar.

No que dizia respeito ao rei, o chamado líder dessa nação era um molenga de coração mole. O discurso que ele supostamente proferiu na Nação Armada de Dwargon deixou isso bem claro. Quando Edmaris leu aquela fala ridiculamente idealista no relatório – “enquanto tentamos construir uma nação na Floresta de Jura que sirva como uma ponte entre as raças de humanos e monstros” – ele riu. Que líder tolo e facilmente manipulável aquele era! Alguém sem nenhum escrúpulo, um monstro que não conseguiria nem contar uma mentira, mesmo se quisesse – foi essa a impressão que o rei teve.

Essa pequena informação não foi incluída nos relatórios entregues à nobreza. Foi um pequeno truque, criado para garantir que não haveria opiniões divergentes. Mesmo se alguém descobrisse, ele apenas poderia se fingir de bobo.

Se o líder deles é tão compassivo, pode ser mais fácil fazer eles se submeterem do que eu pensava…

Na mente de Edmaris, é possível que ele ache a guerra tão desagradável que um pouco de propaganda sobre os benefícios da vida sob o governo de Farmus pode trazê-lo direito para a mesa de negociação.

E se for assim, podemos resolver tudo isso pacificamente. Se desistissem de sua fortuna, eu poderia até conceder a eles o direito de se autogovernarem.

Sua expressão se tornou mais definida, agora em perigo de se tornar distorcida com uma alegria avarenta. Confirmando que não havia mais dissidência, ele falou.

— Esta é uma guerra santa! Começaremos despachando as tropas de nossa vanguarda para nossos inimigos perceberem nossas intenções! Se forem submissos, então tudo bem. Se não, vou mostrar a eles a vontade divina com todas as nossas forças!

— Rahhhh!

E com essa declaração, ninguém ousaria expressar seu desacordo agora. O esforço para “limpar” Tempest havia começado.

Após a conferência:

— Mas e se eles não se renderem mesmo após nossa vanguarda causar um alvoroço em seu território? É possível que mostrem suas verdadeiras cores e resistam a nós.

— É possível — Razen respondeu a Folgen. — É por isso que acredito que devemos enviar o invocado Shogo junto com nossas tropas para provar nossa força…

— Oh? Não tenho certeza se enviar Shogo sozinho seria sensato. Ele pode falar muita merda na maioria das vezes, mas sua força é genuína. Não podemos permitir que saia do controle e se perca para sempre.

— De fato. Bem, você sabe bem a quantidade de monstros que tem por lá. Podemos até ser capazes de fugir de volta para casa, mas uma decisão errada e ele pode acabar morto. Com Kyoya junto, duvido que teremos problemas. Além disso, temos a pessoa perfeita para uma missão como esta.

— Ah. Ela, não é? Entendo.

O Rei Edmaris concordou balançando a cabeça. O objetivo deste ataque era de minar a vontade de lutar do inimigo. Se fosse possível subjugar Tempest sem derramamento de sangue, seria ótimo. Eles tinham os números para garantir a vitória caso fosse necessário, mas, como o rei raciocinava, quanto menos baixas melhor.

— Sim — ele disse. — Talvez não seja preciso usarmos todas as nossas forças, afinal. Mas mantenham a guarda alta.

— Não se preocupe, senhor. Levamos todas as possibilidades em consideração. Eu os mandei causarem uma pequena confusão para depois recuar.

Como o rei esperava, Razen estava planejando esperar para ver. Os três foram interrompidos por Reyhiem e seu sorriso diabólico.

— Meu senhor — disse ele —, se possível, eu poderia testar um dos meus feitiços secretos?

— Secretos? Que tipo de feitiços são esses, arcebispo?

— O que você está planejando agora, Reyhiem?

— Bem…

Ele lhes deu um resumo completo, seu sorriso ficando cada vez mais alegre. Provou ser contagioso, se espalhando para o rosto do rei, depois para Razen e Folgen enquanto continuava a falar.

— Heh-heh-heh… gostei.

— Sua resposta?

— Muito bem. Vá em frente! Você tem a minha permissão, Reyhiem.

— Fico feliz em ouvir isso, senhor. Eu prometo que vai lhe trazer a maior das glórias.

E então, os peões de Reyhiem lenta e secretamente, começaram a se mover.

 


 

Tradução: Another

Revisão: Flash

 

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