Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 04 – Cap. 07.1 – Almas Salvadas

Fizemos nosso caminho à Habitação dos Espíritos, localizada na parte mais profunda do labirinto. Não importava o que acontecesse, meu único papel era manter as crianças seguras. Tínhamos Ramiris do nosso lado e, apesar de toda a sua estranheza, ela ainda era a ex-Rainha Espírito. Ela estava muito longe do ser nobre e imponente que Treyni descreveu, mas eu tinha certeza de que daria tudo certo. Provavelmente.

Também descobri que Ramiris sabia sobre Treyni, já que a mente da fada era transmitida a cada encarnação em seu corpo.

— Oh, ela ainda está bem? — Perguntou Ramiris. — Ela era um espírito tão fofo antigamente.

Ela teorizou que quando foi rebaixada a fada, como um efeito colateral, Treyni foi afetada e se tornou uma dríade. Parecia uma história bastante razoável para mim.

Como uma fada, Ramiris dá à luz a uma versão replicada de si mesma sempre que sua força mágica que cresce constantemente atinge seu limite. Era uma nova Ramiris, uma que retinha todas as memórias da anterior. Aparentemente, por meio desse processo, os filhos crescidos podiam reter mais força mágica do que seus pais; porém, até amadurecerem o suficiente, eles eram mais fracos.

Isso a tornou a única lorde demônio com uma árvore genealógica, com um ciclo constante cheio de evolução e retrocesso. Não havia necessidade desse absurdo geracional no passado quando era a Rainha Espírito, mas após ser rebaixada, ela acabou renascendo como uma fada, que, como ela lamentou por muito tempo, não era um corpo tão útil para cumprir suas responsabilidades.

Ramiris ainda era uma criança no momento, o que era parte da razão pela qual eu estava tão ansioso em confiar tanto a ela…, mas não tem o que fazer.

Chegamos ao nosso destino enquanto conversávamos sobre isso. Do outro lado da porta havia uma grande câmara aparentemente vazia. Era a Câmara do Oráculo, conectada diretamente à própria Habitação. Um corredor de luz se estendia a partir dele, com cerca de um metro de largura e cerca de dezoito metros de comprimento. No final dele havia uma plataforma redonda, com cerca de cinco metros de diâmetro. Eu não sabia do que era feito, mas parecia estar flutuando no ar.

— Tudo bem, me escutem. Eu quero que vocês subam naquela plataforma e chamem os elementais!

— O que a gente tem que dizer exatamente?

— Oh, não se preocupe com isso. Diga, “Me ajude!” Ou “Vamos jogar um jogo!” Ou qualquer outra coisa. Se o espírito se interessar por você, ele atenderá ao seu chamado e sucesso.

— Eles vão… vir atrás da gente?

— Mas é claro! Você vai se juntar a nós lá, não é, Senhor Rimuru?

Eles já estavam ficando bem nervosos, não tenho dúvida. Bem, não tem problema. Se o pior acontecer, farei o demônio ou qualquer outra coisa que aparecer se curvar à minha vontade. Um-há-há.

— Ei, você acabou de fazer uma cara malignaaaaaa?

Ramiris era mais esperta do que eu pensava. Só ignorei a pergunta e incentivei as crianças a seguirem em frente.

— Fiquem tranquilos, tudo vai ficar bem! Vocês vão conseguir!

Eu precisava subir lá também, apenas no caso de algum elemental aparecer.

— Não se preocupem, irei com vocês.

— …Hum, tem certeza? Por mim tudo bem. Você pode colocar quantas pessoas quiser lá em cima, mas é um espaço bem apertado. Eu também irei com vocês, então talvez seja melhor levar uma criança de cada vez.

Faz sentido. Não tem por que chamar mais de um espírito por vez. Além disso, dependendo do que acontecer, nós teríamos que negociar com eles. Eu gostaria de evitar de ter que usar minhas habilidades.

— Certo! Cada um de vocês irá em ordem, então. Quem será o primeiro?

Decidimos quem iria quando. Gail, o mais velho, seria o primeiro, seguido por Alice, Kenya, Ryota e por último Chloe. Demorou um pouco para estabelecermos essa ordem, mas foi assim que ficou.

O ar na sala estava calmo. Não tinha nenhum som, apenas uma luz fraca. Isso me lembrou do interior da caverna de Veldora, que explodia com energia natural. Nossos passos pareciam não parar de ecoar.

— Senhor Rimuru, se alguma coisa acontecer comigo… cuide dos outros, ok?

Ah, meu deus Gail, você não precisa ser tão sério. Apenas relaxe. Eu não disse nada disso enquanto acariciava sua cabeça.

Estávamos na plataforma com formato de disco agora. Parecia que estávamos flutuando no espaço. Eu ia dar um passo para frente, mas parei assim que olhei para baixo. Eu não conseguia ver nenhum chão à frente, porém meu Sentido Mágico me disse que tinha um. Era feito de vidro transparente? Algum tipo de acrílico?

Eu caminhei para frente, surpreso.

— Está tudo bem, — eu disse a Gail, que estava claramente assustado. —  Tem uma plataforma aqui. Não importa o que acontecer, eu vou te ajudar.

Foi o suficiente para persuadi-lo. Devagar, com cuidado, fomos para o centro do disco.

— Ok, — Ramiris gritou alegremente, — Vocês estão no lugar certo! Mal posso esperar para ver o que vai sair!

Eu dei outro tapinha na cabeça de Gail. Ele fechou os olhos e começou a orar, ajoelhando-se enquanto oferecia todo o tributo que podia aos deuses. Eu cruzei meus braços e observei.

Um tempinho se passou.

Eventualmente, pequenas partículas de luz começaram a flutuar do céu, como se nevasse levemente. Eu não conseguia sentir nenhuma sensação de força ou vontade vindo disso. Gail, inconsciente do que acontecia em torno dele, continuou orando. Sua prece foi respondida não por um elemental de nível superior, mas por aqueles de nível inferior, sem senso de identidade.

Fragmentos de energia natural. Mais ou menos como magículas, mas não exatamente. Se juntássemos o suficiente deles, será que eles ganhariam livre arbítrio e se tronariam um espírito de alto nível? Ou mesmo se não quisessem, eles ainda poderiam se espalhar, formar um todo novamente e se transformar em algum outro tipo de elemental.

Apesar dos pequenos espíritos no ar, nada mais aconteceu. Parecia que nenhuma criatura de alto nível estava lá para responder ao chamado de Gail. Eu sabia que isso não seria fácil. Não havia nenhuma garantia de que um grande espírito estaria presente, independentemente do quanto você implorasse por um.

Então, nós apenas criaríamos um novo! Se esses pequenos espíritos fossem pedaços de um maior que Gail havia separado para si… então juntá-los faria com que evoluíssem para um elemental completo.

Pergunta. Você gostaria de usar Glutão para consumi-los e sintetizar um espírito?

Sim

Não

 

— Continue orando, Gail!

Não perdi tempo e consumi os espíritos.

— No-nossa! O que você está fazendo aí?

— Apenas cale a boca e me observe. Eu tive uma ideia.

Mantendo minha mente tranquila, usei o Grande Sábio. Ele aceitou meu pedido e começou a triturar a enorme quantidade de pequenos espíritos em alta velocidade, sendo essa a melhor resposta e iniciando a síntese.

Relatório. A habilidade única Divergência concluiu a síntese de um espírito de alto nível. Seu elemento é terra. Analisando os dados de vontade própria de Ifrit e criando uma pseudo personalidade auxiliar… Bem-sucedido… Adicionando. Você gostaria de sintetizar o espírito de pseudo-alto nível (terra) com Gail Gibson?

Sim

Não

 

Coloquei a mão na cabeça de Gail e pensei em Sim.

Com essa ordem, o espírito de pseudo-alto nível (terra) que o Grande Sábio criou se fundiu com segurança com Gail, começando a servir ao seu propósito. Usei Analisar e Avaliar nele, com altas esperanças. A energia excessiva descontrolada dentro dele havia diminuído nitidamente; o pseudo-espírito o havia colocado perfeitamente sob controle.

Pareceu ter funcionado muito bem. Em breve, ele seria capaz de controlar essa enorme quantidade de energia até certo ponto; e a medida que crescesse, gradualmente ganharia novas habilidades.

Deu certo! Eu mentalmente apertei a mão do Grande Sábio, não que ele se importasse muito com como eu o imaginava.

— Ok, já acabou. Bom trabalho!

Tudo isso aconteceu no intervalo de alguns segundos. Gail, ainda rezando nervosamente, não parecia se sentir diferente. Ele olhou para mim sem expressão. E então acenou fortemente com a cabeça.

— Está tudo bem agora. Você não vai morrer, eu juro!

Lágrimas começaram a se formar em seus olhos. Ele pode se pagar de durão, mas uma criança ainda era uma criança. A pura sensação de alívio tornou impossível ele se conter, tenho certeza disso.

— Obrigado, Senhor Rimuru!!

— Ei, não foi nada. É meu trabalho manter meus alunos seguros.

Eu dei um tapinha na cabeça dele de novo, meio que escondendo meu constrangimento enquanto o levava de volta para baixo. Todos aplaudiram alegremente para nós. Mas ainda não tinha acabado. Eu teria que fazer isso dar certo mais quatro vezes, ou então não faria sentido.

— Ainda é muito cedo para comemorar, pessoal. Vamos guardar os vivas para quando estivermos todos curados!

Eles acenaram a cabeça em resposta, mas a preocupação estava começando a sumir de seus olhos, sendo substituída por uma cor de esperança.

Agora é hora do número dois.

A próxima era Alice. Percorrer aquele caminho estreito era muito assustador para ela, então decidi carregá-la. Ela e Chloe estavam conversando sobre alguma coisa; algumas palavras finais de encorajamento? Afastei esse pensamento de minha mente enquanto a pegava e a levava para a plataforma.

Espero que funcione de novo… Não, eu sei que vai. Enquanto observávamos, Alice fechou os olhos como se rezasse, agarrando a saia com força com as duas mãos. O mesmo que aconteceu com Gail se repetiu, e em alguns momentos aquelas partículas de luz voltaram a flutuar mais uma vez. Ramiris olhou para mim, sem saber se deveria dizer algo, mas eu apenas a ignorei. Essa já era a segunda vez e eu estava começando a me acostumar.

Relatório. A habilidade única Divergência concluiu a síntese de um espírito de alto nível. Seu elemento é o ar. Criando espírito de pseudo-alto nível (ar)… Bem-sucedido. Além disso, através da análise e avaliação do elemento ar, Movimento das Sombras evoluiu para Movimento Espacial. Você gostaria de sintetizar o espírito de pseudo-alto nível (ar) com Alice Rondo?

Sim

Não

 

Parece que Alice captou o interesse de um elemental de ar. Consumir, analisar e avaliar também aprimorou uma das minhas próprias habilidades. Esse foi um acontecimento inesperado. O Movimento Espacial parecia ser muito útil, então eu fiquei feliz.

O processo de síntese terminou sem incidentes. Eu a peguei do chão.

— Você fez bem, Alice! Está tudo bem agora!

Ela sorriu feliz e depois me deu um beijo na bochecha. Ela era mais precoce do que eu imaginava. Receber carinho de uma criança de nove anos me fez… feliz, sim, mas também infeliz. Bem, tá bom, admito, mais feliz do que qualquer outra coisa. Eu sou um cavalheiro, não um pervertido; que isso fique claro.

— Muito obrigada!

Eu afaguei sua cabeça enquanto a levava de volta para baixo. Quando chegou, ela já começou a conversar animada com Chloe. É bom ver que as duas são boas amigas, pelo menos.

Agora eu estava de volta ao disco, desta vez com Kenya. Eu estava começando a me sentir mais confiante. Tudo estava indo muito bem. Faltavam três crianças.

Eu achava que precisaria forçar a convocação, chicotear qualquer espírito que aparecesse e enfiá-los dentro de cada um, mas parecia que não seria necessário. Na verdade, poderia até ter sido melhor, já que sintetizar todos esses elementais de baixo nível exigiu mais força mágica do que eu esperava. Ainda assim, faltavam apenas três. Tenho que aguentar.

No momento em que Kenya começou a orar, a luz começou a banhar a plataforma, antes mesmo que ele pudesse fechar os olhos. Senti uma pressão sobre mim como nenhuma outra antes nesta câmara. Uau! Esse cara está em outro nível!

Depois de alguns instantes, lá estava no altar à nossa frente: um único espírito. Parecia… um menino?

— Eae! Como vocês estão? Porque eu estou bem. Achei que deveria descer para me divertir hoje!

Uma forma meio informal de nos cumprimentar. Mas não havia dúvida de que era um espírito de alto nível.

— Ah, aahhhhhh!! Por que você está invadindo minha casa?!

Ramiris se aproximou mais do menino espírito, olhando para o seu rosto. Acho que eles se conheciam.

— Hum, ele é…? — Eu perguntei.

Antes que Ramiris pudesse nos apresentar, o menino respondeu.

— Oh, sim! Ei! Eu sou um elemental da luz! Ao contrário daquela fada do mal que foi derrubada pelos monstros, eu sou um bastião de luz totalmente puro!

Kenya convocou um elemental de luz de alto nível. Esse garoto tinha talento. Conversamos um pouco e, como disse o elemental, Keyna tinha as características que procurava…

— …Então, é isso, eu decidi descer e ajudar o Ken!

Elementais da Luz e Escuridão eram tipicamente classificados como os superiores dos superiores, o nível mais elevado que os espíritos podiam alcançar…, mas ter esse garoto maloqueiro passando um tempo conosco certamente tornava isso difícil de acreditar.

Eles também eram incumbidos do importante papel de selecionar Heróis e conceder a eles sua proteção. Eram esses elementos heróicos dentro de uma pessoa que lhes permitia ter um elemental da luz ou da escuridão.

Como Milim havia falado, simplesmente chamar a si mesmo de herói era considerado uma proibição e uma arrogância extrema. Talvez Masayuki, aquele Herói de quem ouvi falar em Englasia, tenha passado por um “teste” como este. Mas será mesmo? Não me pareceu que sim. Meu palpite era de que ele só estava tentando parecer legal…

…Mas agora não era hora de pensar nisso. Eu nem conhecia o cara; não tem por que eu me preocupar com ele.

— Então, vou manter Ken seguro até que ele cresça. E entre mim e você, ele pode até acabar se tornando um herói algum dia!

Essa observação me tirou do meu devaneio. Kenya, um herói? Uau. Outra grande surpresa. Mas enquanto eu estava lá perplexo, o elemental de luz sem pedir a permissão de ninguém voou direto para o corpo de Kenya. Logo de cara, a magia dentro dele ficou tranquila.

— Senhor Rimuru…?

— Hm? Oh, hum, você está bem. Assim como o planejado.

Como se você tivesse planejado algo!

Eu não pude deixar de me repreender por isso. Mas seria idiotice continuar insistindo. Ei, essas coisas acontecem em convocações elementais. Só tenho que aceitar isso e seguir em frente.

Kenya parecia estar com algumas dúvidas, mas até ele poderia dizer que seu corpo estava melhor agora. Então ele se conformou, sem fazer mais perguntas, e depois desceu para contar a todos o que aconteceu. Esse garoto realmente tem tudo sob controle.

Então Ryota é o próximo, eu acho. Já que ele era um pouco covarde, não pude deixar de me perguntar que tipo de espírito ele convocaria.

O menino subiu na passarela sozinho, embora com um pouco de tremedeira, então com certeza ele estava preparado para isso. Sendo este o número quatro, eu já estava acostumado com o processo e fiz com que ele começasse a orar sem mais nem menos.

Vamos ver o que acontece.

Dessa vez, a lua simplesmente não parecia querer se mostrar para nós. Ficando impaciente, comecei a pensar se eu deveria convocar um espírito de alto nível para ele. Mas então, bolas de luz azul e verde começaram a cair de cima, traçando uma espiral no céu.

Eu acho que as duas forças estavam brigando para saber qual delas iria alcançá-lo, mas nenhuma delas era de alto nível, então eu as consumia na hora sem perder tempo. O tempo era essencial. Ao usar Analisar e Avaliar descobri que seus elementos eram água e vento. Qual seria a melhor opção para Ryota? Hora de perguntar ao Grande Sábio.

Relatório. A habilidade única Divergência concluiu a síntese de dois espíritos de alto nível. Seus elementos são água e vento. Criando espírito de pseudo-alto nível (água/vento) … Bem-sucedido. Além disso, a análise e avaliação de todos os cinco elementos foram bem-sucedidas. Obtendo o Controle Quantum… Falhou. Você gostaria de sintetizar o espírito de pseudo-alto nível (água/vento) com Ryota Sekiguchi?

Sim

Não

 

Pensando Sim, executei a síntese.

Espírito de pseudo-alto nível (água/vento) significava que tinha dois elementos, embora a quantidade de energia mágica fosse a mesma que a de Gail e Alice. Kenya realmente teve sua energia aumentada, mas graças ao poder do elemental de luz, ela estava sendo controlada perfeitamente, então não tinha problema.

Independentemente dos resultados, Ryota agora estava seguro, e só restava a última. No entanto, eu tenho que dizer… Eu fingi não ouvir, mas o que diabos era Controle Quantum? Isso soava como uma habilidade bem medíocre. Eu não conseguia nem imaginar para que eu poderia usá-la.

Eu ficaria pensando que eu talvez conseguisse fazer isso ou se seria bom se eu conseguisse fazer aquilo e, logo em seguida, conseguir os efeitos que eu desejava; era assim que minhas habilidades eram, de certa forma. Sempre que eu queria algum resultado, o Grande Sábio fazia isso acontecer na realidade para mim. Mas eu tinha que ser capaz de imaginar. Se eu não entendesse algo, o Sábio não tinha com o que trabalhar. Talvez seja por isso que a evolução da habilidade falhou.

Por outro lado, se eu realmente queria algo, isso significa que sempre teria uma chance de fazer acontecer. Hm, interessante.

Chloe, a última criança, também estava um pouco assustada, então eu a carreguei até o disco. Ela pareceu gostar disso. Não dava nem para acreditar que ela estava com medo no início, na verdade.

— Sabe, Senhor Rimuru?

Ela sussurrou em meu ouvido, com as bochechas fortemente coradas.

— Eu te amooooooooooooooo!

Bem, eu também. Mas eu gostaria que você tivesse dito isso pelo menos oito anos mais velha, e de preferência dez. Ou que tal me dizer isso quando eu ainda era um ser humano? Cara, coitado de mim. Um homem solitário, incapaz de encontrar uma parceira antes de morrer. Mas isso me levou a obter o Grande Sábio, a habilidade única superior a todas as habilidades únicas. Então estamos… quites, talvez? Tinha minhas dúvidas.

De qualquer maneira, isso foi fofo da parte dela. Crianças podem ser tão honestas. É tarde demais para mim agora, mas acho que é verdade; você precisa desfrutar o amor enquanto ainda está na escola. Não deixe as chatices do ensino médio te atrapalharem.

Mas não era hora de falar sobre isso; a confissão repentina de Chloe me desconcentrou um pouco. Então, que tipo de espírito viria a ela? Agora é a hora. Se preparem.

Assim como os outros, Chloe começou a orar.

Foi então que as coisas mudaram.

Acho que foi algo como o céu caindo. Com uma forte rajada de pressão de ar e uma aura incrivelmente vívida, uma bela mulher apareceu. Seu cabelo era longo e brilhante, de cor prata com uma tonalidade levemente preta, irradiando luz por toda a câmara. A energia, a pura força de sua existência, era além de qualquer outro elemental que eu conhecia. Mas ela não tinha uma forma física…?

Recebido. Este é um corpo espiritual, a mesma forma de existência de um elemental de alto nível. Níveis de energia excepcionalmente altos detectados… Limite máximo incalculável.

E lá vai ele de novo. Pela segunda vez, depois de Millim. Como o Grande Sábio explicou, havia três formas de vida topológicas no mundo: corpos astrais, a forma mais fraca que envolve a alma; corpos espirituais, que podem formar uma base sobre a qual construir sua força interna; e corpos materiais, aqueles diretamente conectados com este mundo. O corpo humano é a combinação de todas as três formas.

Um elemental de alto nível nada mais é do que uma massa de energia que ganhou consciência. Em outras palavras, ele usa o “coração” protegido pelo corpo astral para controlar o espiritual, por assim dizer.

Isso também se aplicava a raças dracônicas como Veldora, mas, no caso dele, ele não apenas tinha um corpo espiritual, mas também um corpo material feito de matéria em uma área que ele podia controlar livremente. Elementais de alto nível não tinham esse tipo de poder, então quando deixam o mundo espiritual, sua energia se dispersa e eles desaparecem. Este é o destino que aguardava qualquer tipo de forma de vida baseada no espírito que viessem ao mundo físico, incluindo anjos e demônios.

Para evitar que sua energia se disperse eles devem encontrar um receptáculo físico para fazer um pacto ou descobrir uma maneira de encarnar fisicamente. Esse era o porquê de o corpo material ser tão importante nesse mundo.

Esta mulher de cabelos prateados que apareceu diante de nós claramente não era humana. Ela era algo como um espírito de alto nível, mas com mais energia do que até mesmo o Grande Sábio poderia imaginar. No entanto, ela não tinha um corpo material e normalmente desapareceria rapidamente, mas a Habitação dos Espíritos estava banhada com tanta energia que ela não precisava se preocupar com isso. Sua força absoluta fazia com que até espíritos de alto nível parecessem criancinhas.

Ela me olhou de cima a baixo. Então, do nada, me abraçou e me deu um beijo. Infelizmente, eu não senti nada, já que parecia ser um fantasma e tudo mais. Que desperdício. Com uma beleza como essa, mesmo que ela seja apenas um fantasma… Espere aí, esse não é o problema! O que diabos é ela?!

A mulher bonita de cabelo prateado escuro olhou para mim, desapontada, e então estendeu a mão para tocar o corpo de Chloe. Antes que ela pudesse—

— Pare!! Você não pode fazer isso! Eu não vou deixar que faça o que quiser com ela!!

Ramiris, que só estava observando tudo silenciosamente até agora, de repente gritou. Estendendo suas duas mãos no ar, ela assumiu uma postura de ataque. A expressão relaxada de seu rosto se foi; ela estava falando sério.

— Ei! Do que você está falando?

— Cala a boca! Aquela mulher não é coisa boa! Não consegue perceber?

— Como eu saberia?! O que há de tão ruim sobre ela?

Mesmo enquanto gritávamos um com o outro, a mulher continuou a se mover lentamente em direção à Chloe. Não dava mais tempo de impedi-la; mesmo Ramiris, tão preparada quanto ela estava para uma batalha, não podia fazer nada.

— Aaaaaaaah! É tarde demais. Foda-se! Não me culpe por nada que acontecer.

Ramiris estava com as bochechas estufadas, obviamente aborrecida. Em pânico, usei Analisar e Avaliar em Chloe, mas toda aquela energia de um momento atrás se foi completamente. Não conseguia ver mais o problema. Seu corpo estava estável agora, e a ameaça das magículas saindo do controle não existia mais. Simplesmente… se foi. Ela piscou algumas vezes confusa, igualmente surpresa.

— … O que foi isso de agora?

Ramiris nem tentou responder. Os olhos do Chloe estavam totalmente abertos; ela se virou para mim, então para Ramiris, então para mim de novo. Ela não sabia o que estava acontecendo, e eu também não tinha ideia.

Perguntei à fada mais uma vez.

— Eu não sei! — Ela choramingou. — Eu também não sei muito dos detalhes, mas aquela mulher provavelmente era do futuro. Algo como um elemental do futuro? Eu realmente não consigo acreditar, mas ficar dentro daquela criança talvez garanta que ela tenha um lugar… para nascer…? Ahhhhhhhhh, eu simplesmente não sei!! Mas você viu quanto poder ela tinha. Se algo assim nascer no futuro, acho que vai ser uma pééeéééssima notícia. Talvez ela… esteja sendo protegida pelo grande espírito do tempo…?

Hmmmm. Ouvir isso tudo só deixou as coisas mais confusas. Como eu não tinha a menor ideia do que estava rolando, decidi só parar de tentar entender. Sou um homem voltado para os resultados, então se Chloe estivesse bem, está tudo ótimo. Quem se preocupa com o futuro? Essas coisas não eram pré-definidas de qualquer forma.

— Bem, não é ótimo, Chloe? Tudo saiu como o planejado! Agora você também não está mais em perigo.

Eu a segurei.

— Foi realmente como o planejado?

Urg. Pôr sal na ferida, por que não? Kenya foi muito mais cooperativo quando tentei isso com ele.

— S-sim, Sim! É claro!

Chloe finalmente sorriu. Ramiris suspirou em resignação enquanto nos observava.

— Bem, que seja. No momento em que ela entrou no corpo daquela garota, não havia mais nada que eu pudesse fazer de qualquer forma…

Ela virou as costas para nós.

— Ei, qual é o problema? — Eu perguntei enquanto voltávamos para os outros. — Esse último foi uma surpresa, mas estamos todos bem. De uma forma ou outra, foi um sucesso para eles. Então, te agradeço. Você ajudou a salvar a vida dessas crianças!

Depois que todas elas se reuniram de novo, pedi que agradecessem a Ramiris.

— Muito obrigado!

— Bah! Tudo bem, tudo bem.

Seu rosto ficou vermelho, comemorando enquanto voava por aí. Esta é mesmo uma lorde demônio? Eu me pergunto o que está acontecendo com o mundo às vezes.

As outras fadas voaram ao redor da câmara com ela, criando uma linda vista. Mesmo malcriada como ela era, aquela lorde demônio ainda era muito fofa quando sorria.

Parecia que era um pequeno espetáculo de comemoração para as crianças que realmente funcionou. Acendendo um contentamento caloroso em nossos corações. Logo, um sorriso genuíno se formou no rosto das crianças. Eu havia prometido salvá-los e, naquele momento, cumpri meu juramento.