Sobre Quando Reencarnei Como um Slime

Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 04 – Cap. 05.2 – As Crianças Convocadas

 

Depois de nos apresentarmos, começamos uma sessão de perguntas e respostas. Tudo começou com um pouco de conversa fiada enquanto tentávamos descobrir as motivações um do outro e tudo mais, ainda assim não demorou muito para que eu estivesse completamente à vontade com Yuuki.

Ele era apenas um cara gentil e bem-humorado, supostamente em seus vinte e poucos anos, mas nem mesmo parecia ter saído da adolescência. Eu lhe perguntei o porquê; e ele me disse que era por causa de algum tipo de maldição. Ele não obteve nenhuma habilidade especial ou única no seu caminho para este mundo, mas o concedeu habilidades físicas aprimoradas ao extremo.

— Fiquei me perguntando… — Ele coçou a cabeça. — O que devo fazer? E realmente, levei cerca de cinco anos para perceber que algo de estranho estava acontecendo comigo.

Sua aparência externamente infantil, entre outras coisas, significava que nunca teve um relacionamento. Não pude deixar de rir e animá-lo. Eu estava começando a gostar do cara.

— Uau! Sério? Ooh, isso bem ruim mesmo, ha-ha-ha! Mas, ei, a sorte estará do seu lado eventualmente!

— Isso realmente não está ajudando…

Yuuki parecia um pouco irritado, mas tenho certeza de que era apenas a minha imaginação.

De qualquer forma, nós rapidamente quebramos o gelo.

— Ainda assim, tenho que reconhecer… Um monstro construindo uma cidade inteira?

— Oh? Não é uma coisa tão incomum, é?

— Bem, quero dizer, com certeza não ouvi falar de nada parecido… e meio que duvido que vou ouvir de novo, depois de você.

— Você acha?

— Sim.

Olhamos um pouco um para o outro. Qual é o problema com monstros construindo cidades? Yuuki está muito preso às pequenas coisas. Deixei a discussão de lado quando o assunto mudou para nossas atuais situações, e uma vez que a conversa seguiu seu fluxo, Yuuki trouxe à tona sua principal preocupação.

— Então, Rimuru… Você é um monstro, certo? Foi assim que Fuze o descreveu para mim, mas estou muito surpreso que tenha atravessado a barreira que temos sobre o prédio da sede. Como se transformou desse jeito?

— Hã? Ah, eu sou um monstro. Um slime para ser mais específico. Mantenha isso entre nós, mas tenho uma habilidade chamada de Mudança de Forma Universal que faz isso para mim. Posso me transformar em qualquer monstro que já consumi. Isto, e esta máscara aqui contribui muito também.

Tirei a máscara. Eu sabia que teria que lidar com o grão-mestre por um tempo. Se alguma vez fôssemos hostis, seria um inferno ser aceito pelas pessoas deste país. Este era um momento decisivo. Eu não podia deixá-lo pensar que minha cidade era uma casa dos horrores. Vamos apenas contar toda a verdade, agora mesmo.

— Se transformar nos monstros que você… Espere. Essa é a Senhorita Shizu?!

Um olhar assassino cruzou o rosto de Yuuki. Então, ele desapareceu em um instante do lado oposto da mesa. Trocamos um par de chutes. A onda de choque resultante dividiu a mesa em duas. Foi um golpe impressionante, pesado, furioso, do tipo que nada como um humano pudesse lançar. Eu posso até nunca sentir dor, mas por apenas um momento, minha perna ficou dormente demais para eu me mover.

— Acalme-se garoto. — Eu disse, calmo e sem demonstrar reação.

Olhando para trás, Shizu conseguiu identificar a minha origem puramente através de conversas comigo. Uma façanha incrível, agora que penso nisso. Realmente é necessária muita imaginação que um japonês acabou virando um slime.

A raiva havia sumido dos olhos de Yuuki, mas ele ainda estava de pé, pronto para continuar.

—Você poderia me explicar isso detalhadamente? — Ele perguntou, me encarando fixamente.

Nos sentamos frente a frente mais uma vez, deixando a mesa quebrada onde estava.

— Hmm, tudo bem. Olha, para ser honesto com você, eu sou um alienígena de um planeta distante…

 

 

 

— Que merda você está falando? Eu quero que seja honesto comigo! Sinceramente, estou impressionado que você ache que essa é uma boa hora para brincadeiras!

Caramba. Yuuki parecia muito chateado. Achei que uma piadinha ajudaria a aliviar a tensão, mas talvez não…

— Tudo bem, tudo bem. Vou falar sério agora, então só relaxe um pouco…

— Você veio até aqui, e essa é a piada que faz? É a primeira vez que ouço isso. Por acaso você está…?

Yuuki adivinhou antes mesmo que eu pudesse contar a ele. Decidi começar do início.

— Então… fui atacado por um cara na rua…

Passei os próximos momentos entrando em detalhes do que aconteceu.

— Ah… Então você é japonês, não é, Rimuru?

He he he. Assim como o planejado. Eu só faço uma piada que só alguém com a mesma formação que eu entenderia, e ele imediatamente ficou mais tranquilo. Isso o deixou com raiva no início, sim, mas, ei, funcionou! Foi a maneira mais rápida de fazê-lo perceber quem eu realmente sou! Se ele realmente acreditou que essa era a minha intenção era outra história, mas você tem que concordar comigo que deu certo!

Assim que resolvemos o mal-entendido, conversamos sobre todo o tipo de coisas. O que temos feito nesse mundo. As provações e turbulências que tivemos de enfrentar. Os momentos finais da Shizu…

— Foi assim que ela decidiu partir? Tenho que aceitar, ela sempre me disse o quanto não gostava desse mundo…

Yuuki fechou os olhos.

Não adianta ficar pensando em assuntos deprimentes. Eu trouxe outras coisas do nosso velho mundo. Ele particularmente demonstrou um grande interesse em saber como seus mangás e animes favoritos terminaram.

— Ahh, vamos lá! Você tem que me dizer o que aconteceu depois disso!

— He he he he! Você quer saber? Bem, então adivinhe? Praticamente todos os mangás e animes que você gostava terminaram antes de eu morrer! E você sabe que eu acompanhei todos. Um verdadeiro cavalheiro sempre se certifica de abordar todos os gêneros!

— Isso é incrível! Por favor, senhor! Por favor, me ilumine com o seu conhecimento!

Ele estava começando a soar desesperado. Isso fez a mulher de antes quase deixar cair sua bandeja de chá e lanchinhos quando se teletransportou de volta. Talvez eu tenha levado a brincadeira um pouco longe demais.

— Certo, eu vou te mostrar, então. Você tem algum pedaço de papel?

— Papel?

— Sim.

Yuuki olhou para mim confuso, mas me entregou um. Eu engoli em meu estômago-

— E com isso, está pronto.

Tirei meu trabalho recém terminado, entregando-o a Yuuki.

— Nem fodendo! Que tipo de truque de mágica é esse, senhor?!

Eu não poderia culpá-lo por ficar surpreso. Eu tinha acabado de entregar a ele um volume de mangá bem encadernado. Esse foi o resultado de eu ter extraído 100% do potencial do Grande Sábio. Basicamente, peguei o papel e copiei as imagens que repassei da minha memória nele. Com certeza um desperdício de um grande talento. No entanto, muito eficaz.

— Beleza! Se você quiser ler mais, vou precisar de mais papel!

Sem dizer uma única palavra, Yuuki se levantou e ordenou que outra mulher trouxesse um pouco de papel. Seu rosto estava mortalmente sério, então a mulher se apressou para trazer algumas resmas de papel. Passei os momentos seguintes queimando todas as minhas memórias sobre o que tinha acabado de acontecer, para me certificar de conseguir algumas folhas extras para mim. O papel ainda era um produto sofisticado, a quantidade que peguei valia uma pequena fortuna. Nunca é demais ter alguns.  Eu tinha alguns usos reais e não só estúpidos para ele também.

Além disso, eu não estava vendo o Yuuki reclamar. Aposto que não ser capaz de acompanhar sua série favorita foi uma grande decepção para ele. Tendo essa chance agora nesse mundo, ele não tinha do que se queixar.

— Muito, obrigado senhor!

Claro, algumas das séries que ele pediu não tinham ido a lugar nenhum em termos de enredo, muito menos tiveram publicação física. É uma pena como essas séries costumavam ser as mais envolventes. Eu também queria saber como algumas delas acabaram. Espero que um reencarnado ou invocado japonês apareça em tipo, dez anos ou mais para me falar sobre isso.

— Sabe, Rimuru, eu estou curioso…

— Hã? Com o quê?

— Quando você ingressou na guilda, como preencheu o formulário de inscrição? Você ainda não teve tempo de aprender a língua desse mundo, não é?

Agora ele me pegou. Pôs sal na ferida.

— He he he! Bem, sobre isso. É porque estudei o idioma, é claro! Depois de dias de árduos esforços!

O Sábio estava decifrando e copiando tudo que eu precisava para mim, na verdade. Mas Kabal e sua turma me ensinaram o alfabeto básico, e o resto veio rapidamente logo depois.

— Mesmo? Você não usou algum truque de mágica ou algo assim…? Digo isso porque aprender a língua daqui foi uma das coisas mais difíceis que tive que lidar.

— Eu? Trapaceando desse jeito? Não seja bobo! Não importa quão velho fique, estudar nunca deixa de ser importante!

Eu hesitei um pouco, mas acho que consegui manter a fachada. O peso da culpa bateu um pouco ao ver Yuulo me mostrar tanto respeito, mas eu não estava exatamente mentindo, então está tudo bem. O Grande Sábio era o que me permitia ler e entender as coisas, mas, ei; ele é minha habilidade. Só porque omiti esse fato, não o tornou menos verdadeiro.

 

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Durante o jantar, nossa conversa voltou para tópicos mais sérios, em particular, sobre o que nós dois faríamos a seguir.

— Então você arriscou sua vida para viajar para cá, Rimuru, porque a Senhorita Shizu disse que nós dois somos do Japão? Quero dizer, eu adoraria continuar ajudando você no futuro, mas esse foi mesmo o seu único motivo?

— O que quer dizer com isso?

— Nada demais, só pensei que você poderia ter algum outro motivo. Tipo, talvez esteja tentando encontrar um caminho de volta para casa ou algo assim?

Um caminho de volta para casa.

Sim, já tinha pensado nisso. Mas desisti. Eu já estava morto lá; tinha certeza de que eles cremaram meu corpo há muito tempo. Não havia realmente nenhum lugar para onde eu pudesse voltar. Se retornasse, apenas tornaria a vida de todos caótica. Se eles pensassem em mim de vez em quando, refletindo sobre os bons e velhos tempos, já era o bastante. Para os invocados mais jovens, no entanto, tenho certeza de que voltar para casa era a prioridade número um.

— Acha que é possível? — perguntei. A resposta que recebi foi o silêncio. Acho que não é tão fácil. Ele já teria voltado se fosse possível. Suponho isso pelo que descobri dele até agora.

— Bem — Yuuki disse —, meio que parece uma rua de mão única. Isso porque este mundo… eu acho que você poderia chamá-lo de semi-físico.

Ele entrou em detalhes sobre o que sabia até agora. Essencialmente, nosso velho mundo era puramente físico, um mundo livre de magículas. O oposto disso é um mundo espiritual, repleto de espíritos, anjos, demônios e outras formas de vida místicas; cheio de uma energia misteriosa e surpreendente. Os dois eram pólos opostos, mas ainda mantinham algumas conexões profundas e importantes.

O que levou a este mundo, um mundo de caos. Uma existência extremamente única que compartilhava propriedades dos mundos físicos e espirituais. Sua atmosfera estava repleta de magículas, possibilitando que fadas, ghouls e outras formas de vidas espirituais se manifestassem. Isso foi algo que Yuuki descobriu por conta própria através de suas experiências.

Viajar de um mundo físico para este significava que nossos próprios corpos tinham que ser destruídos uma vez e depois reconstruídos em uma forma semi-física. É por esse motivo, ele explicou, que não poderíamos voltar a um mundo puramente físico novamente.

— No entanto — ele acrescentou —, não acho que a possibilidade seja nula. O Japão está cheio de histórias sobre demônios, monstros e coisas do tipo, e você vê os mesmos tipos de contos e mitos em todo o mundo. Então, se formos capazes de atender a certas condições, acredito que talvez possamos, sabe?

Ele parecia estar certo para mim. Eu também tinha meus próprios pensamentos sobre isso. A essa altura, tudo parecia um sonho vago, mas eu definitivamente me lembrava de ter ouvido a Voz do Mundo desde o momento em que fui esfaqueado. Sem dúvida havia algum tipo de conexão entre a Terra e este mundo no qual ela tinha que passar.

— Além disso… Você consegue usar magia, não é, Senhor Rimuru?

— Sim — respondi à mudança repentina de assunto. — Me ensinaram um ou dois feitiços.

Yuuki fechou um pouco os olhos para mim, com ciúmes.

— Isso com certeza é bom… Eu estava muito animado com a magia também, no início…

Como disse, quando ele veio pela primeira vez a este mundo, lamentou a sua situação e ficou com um fascínio profundo pela força desconhecida da magia. Eu me sentia da mesma forma. Qualquer pessoa que seja fã de anime e mangá deve ter desejado poder usar magia pelo menos uma vez na vida.

— Eu queria aprender um pouco, mas por algum motivo, simplesmente não conseguia. Acho que é por causa da forma como meu corpo mudou. Parecia tão romântico também, mas não …

Sim. Era algo parecido com uma aventura, não é? Se algo está ao seu alcance, é óbvio que você vai desejá-la. Mas Yuuki simplesmente não tinha as características necessárias para isso. A realidade às vezes é uma merda.

— Apesar disso, ainda consigo fazer pesquisas sobre. E o que descobri foi que a magia é o poder de interferir nas leis da natureza. Há um misterioso conjunto de leis neste mundo que as pessoas chamam de Voz do Mundo, e quando você ganha um novo poder, ou o valor da sua vida aumenta de alguma forma, como quando você evolui, é essa a forma da natureza lhe falar sobre isso. A magia segue as mesmas regras desta Voz do mundo; quando você lança um feitiço, ela transforma aquele fenômeno não físico em realidade. E se você olhar de outra forma…

Yuuki fez uma pausa. Tentei adivinhar aonde ele queria chegar com isso. Olhei para as coisas de outro modo.

— Tudo tem uma causa e efeito, e se você descobrir as leis por trás de tudo isso, pode até ser capaz de encontrar um caminho para casa… é o que você está querendo dizer?

Eu já estava familiarizado com a Voz do Mundo. Minha habilidade, o Grande Sábio, usava dessa voz ao falar comigo. Foi isso que me levou a essa conclusão.

— Exatamente. Você fez muito bem, Rimuru. Estou surpreso… você entendeu um conceito que tive que passar anos pesquisando.

Pegue o conceito de voltar para casa, transforme-o em um conjunto de leis e o traduza para Voz do Mundo. É fácil para mim dizer isso, mas tentar descobrir essas leis exigiria uma vida inteira de pesquisas. Mesmo com tanto esforço, pode até não ser possível.

Mas se desse para interferir com a Língua Mundial em um nível mais profundo…

……………………………………

O Grande Sábio ficou em silêncio. Não, uma habilidade como essa é apenas uma ilusão. Acho que apenas teríamos que continuar trabalhando nessa pesquisa.

Yuuki sorriu para mim ironicamente.

— Claro, eu acredito que eu nunca teria tempo o suficiente para descobrir tudo isso. Eu teria que decifrar e avaliar cada uma das leis, uma por uma.

E esse é provavelmente o seu objetivo principal. Tenho certeza de que ele não desistirá de sua pesquisa.

— Bem, com certeza vou ajudá-lo em tudo o que puder e vou tentar pesquisar por conta própria também.

Tive que me oferecer como voluntário para ajudar, dessa forma poderia animar seu espírito.

— Mas de qualquer maneira, se você não está tentando voltar para casa, o que o trouxe aqui, Rimuru?

Agora ele estava voltando ao assunto, e eu achei que ele merecia uma resposta completa.

— Bem, se eu puder relaxar e aproveitar um pouco nesta vida, isso é tudo que eu realmente quero. Eu governo uma cidade muito boa e, basicamente, estou aqui apenas para me divertir com meus amigos. Mas tem algo me incomodando ultimamente …

Minha outra missão foi comprar pedras mágicas e verificar as cidades, para descobrir o quão avançada suas civilizações eram; isso definitivamente era relevante. Mas eu não tinha me esquecido do mais importante. As crianças que vi em meus sonhos.

— Entendo. A senhorita Shizu devia estar realmente preocupada com elas. Mas essas crianças são … Bem, se é isso que ela quer que você faça, então eu acredito que você está à altura da tarefa.

Ele então mergulhou em uma longa história, me contando sobre as crianças que eu tinha visto antes.

 

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Após o fim de nossa longa conversa, saí da sede da guilda, convidei meus amigos para jantar em compensação por fazer eles esperarem tanto. Todos me disseram que não tinha problema, mas já era início da noite. Yuuki e eu conversamos praticamente do amanhecer ao anoitecer. Eu não esperava que a reunião durasse tanto tempo, então me senti mal por eles.

Fomos a um restaurante de renome na cidade, muito longe de nosso hotel. Enquanto comíamos com vontade os pratos gourmet que nós pedimos, repassei tudo que Yuuki e eu tínhamos combinado.

— Então, sim, daqui uma semana a partir de hoje, concordei em me tornar um professor.

— Hã?

— De onde veio essa ideia?

— Você com certeza é um brincalhão, chefe!

Nem Kabal, nem seus companheiros estavam prontos para acreditar nisso logo de cara. Que maravilha. Então achei melhor começar do início.

— Basicamente, vou morar em um quarto vazio no dormitório da escola a partir de amanhã. Eu contei a vocês sobre os sonhos que tenho tido, não é? Yuuki acha que conhece as crianças, então ele está arrumando um jeito para que eu trabalhe como o professor delas.

Eles reagiram à minha explicação com várias perguntas, que respondi todas na ordem. Consegui convencê-los no mesmo tempo em que o jantar terminou, embora eles ainda não conseguissem esconder suas expressões de surpresa.

— Uau, o chefe, um professor. Mas, né …?

— Muito difícil de imaginar …

— Estou preocupado com essas crianças.

Por que está me olhando assim, Gido?

— Sim, e já aviso a vocês que não precisam me guiar mais.

— Tão de repente, chefe.

— Achei que tivéssemos sido contratados para guiar você até a volta?

— Oh, eu vou ficar bem! É por isso que criei aquele círculo de teletransporte, se lembram? Eu já imaginava que algo assim poderia acontecer. Agora, posso voltar para Tempest ou Blumund em um piscar de olhos. Mas vai ser um pouco mais difícil para vocês, hein? Boa sorte lá fora!

— Ei, ei, você está falando sério? Eu pensei que íamos voltar por aquela carroça de lobo, cara …

— Sim, fala sério! Ugh, só de pensar na viagem agora me deixou tão deprimida!

— Ah, vamos lá, Kabal, — repreendeu Gido. — E você também, Elen. Vocês estão se acostumando demais com a vida fácil nas viagens, não estão? Não que eu esteja ansioso para ser espancado e surrado em uma carroça normal de novo, mas …

Esses caras … Em um momento ficam falando sobre como vão assumir a responsabilidade e me proteger até o fim; no outro, eles estão reclamando de perder suas viagens de luxo. Essa certamente era uma característica de todos eles, mas ainda assim.

Então, nós quatro começamos a beber para afastar a solidão e o arrependimento até tarde da noite. Na manhã seguinte, do lado de fora dos portões da cidade, disse meu último adeus ao trio que estava com uma baita ressaca.

— Fale conosco se acontecer alguma coisa, chefe!

— Tem certeza de que ficará bem sem a gente …?

— Vamos sentir falta de ter você por perto, mas tome cuidado! Não se esqueça de nos avisar quando estiver de volta à cidade!

— Claro, — eu disse. — Eu avisarei vocês caso algo aconteça.

Eu tirei a carroça do meu estômago enquanto um comerciante se aproximava de nós, trazendo dois cavalos.

— Hmm, chefe … Ah, cara, por quê?

— Você, você, não está …?

— Você está falando sério?!

Ignorando seus apelos, ordenei ao vendedor que atrelasse seus cavalos à carroça.

— Certo, obrigado por entregá-los, — eu disse enquanto assinava o formulário de pagamento.

Kabal e companhia finalmente aceitaram a verdade amarga até então.

— Sim, então considerem esta carroça como meu presente de despedida para vocês, beleza? Se não quiserem, basta devolverem ao Rigurd.

— Aí sim, acho que vamos precisar muito disso, chefe!

— Você é tão bom com a gente, Senhor Rimuru!

— Uau! Que homem. Bem que eu gostaria que Fuze pudesse aprender a ser tão legal com seus subordinados quanto você.

Todos ficaram tocados pelo presente. Fico feliz que a surpresa foi um sucesso. Mais uma coisa:

— O pagamento de vocês está dentro do vagão também. Deem uma olhada mais tarde—

 Mais tarde, se quiserem, é o que eu queria dizer, mas eles já estavam tentando subir na carroça antes mesmo que eu pudesse terminar.

— Caralho! Olha esse escudo!!

— Aaaaaahhhh! Esse cajado é incrível!!

— Olha para essa belezinha! É uma adaga bem afiada. Pera aí, isso é uma arma mágica?!

Cara, eles são como hienas. Eu esperava que fossem abrir as caixas enquanto eu não estivesse por perto, mas essa ideia com certeza foi para o lixo.

— Não acredito, vocês … Ah, tanto faz. Esse é o pagamento. Um Escudo de Escamas para Kabal, um Cajado de Dríade para Elen e uma Adaga de Tempestade para Gido. Cuidem bem deles para mim, entenderam?

— Claro, chefe!

— Seriamos loucos se não cuidássemos! Como você sabia que eu estava procurando um novo cajado …? Muito obrigado, Senhor Rimuru!

— Mas, hmm… esses são todos equipamentos únicos, não são?! Acho que nunca vi uma arma tão incrível quanto esta. Tem certeza de que quer dar elas para a gente, chefe?

— Claro, tenho certeza. Não pagamos nem um centavo pelos materiais. O cajado é um presente que Treyni foi muito generosa em dar, então trate-o com cuidado, entendeu?

— Oh, sim, claro!

Elen esfregou amorosamente a lateral de seu rosto no cajado. Eu tinha certeza de que ela iria cuidar bem dele, mesmo que eu não pedisse. As armas de Gido e Kabal eram bens manufaturados, mas o Cajado da Dríade era realmente único, então se ela o perdesse ou quebrasse, Treyni com certeza me mataria. Mas eu disse a ela que o cajado era para a Elen também, então eu provavelmente estava me preocupando mais do que deveria.

O Escudo de Escamas de Kabal foi outro produto feito por Garm, criado a partir de escamas tiradas do Charybdis que também constituíam a Adaga da Tempestade de Gido, que foi infundida com magia de vento para aumentar a velocidade de movimento do portador. Ainda assim, obtivemos um grande estoque dessas escamas; eu tinha dado várias centenas ao Rei Gazel como presente de agradecimento. E as que eu havia consumido pessoalmente ainda estavam praticamente em perfeitas condições. Tínhamos pesquisado um uso para elas em equipamentos de batalha, esses dois itens foram os primeiros exemplares de testes produzidos. Como disse Gido, eram armas de calibre único.

Graças aos três abrindo seus presentes mais cedo, aquele não era mais um adeus solitário e deprimente para nós. Todos estavam muito animados quando os vi partir, o que é bom. Ninguém gosta de despedidas tristes. Além disso, toda essa agitação parecia ter curado suas ressacas. E este é o grupo de Kabal que conheço, eles sem dúvida vão rastejar a mim para conseguir ajuda em alguma outra crise em breve.

Sendo assim, foi com uma estranha sensação de satisfação que eu os mandei embora.

 

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Depois que se foram, era hora de dar início ao meu grande plano.

Que se baseava inteiramente em, é claro, eu ir para o dormitório e pegar minha chave. Depois de preencher toda a papelada, disse ao gerente que estaria me mudando já naquela noite. Como Yuuki disse animadamente para mim, eu poderia desfrutar de “um dormitório dedicado aos funcionários, mais três refeições e dez moedas de prata por dia!” O gerente me confirmou isso, afirmando que eles limpariam o local até o fim do dia.

Diga-se de passagem, o salário médio na capital era de sete moedas de prata por dia. Os professores eram tratados muito melhor por aqui do que eu poderia imaginar. Uma noite em nossa pousada custava quatro pratas, sem incluir refeições, e embora o serviço fosse bom, ainda parecia caro em comparação com aquele na vila dos fazendeiros. Seria muito mais econômico me mudar para o dormitório que Yuuki tinha arrumado para mim.

Também dei uma olhada rápida no quarto enquanto estava lá e devo dizer que não era muito inferior ao da pousada da noite passada não. Fiquei feliz com isso.

Como eu disse a Kabal e seu grupo, começaria a ensinar em sete dias, embora precisasse me apresentar à gerência da escola em seis para concluir a transferência. Sendo assim, ainda tinha cinco dias para usar como eu quisesse, embora o primeiro tenha sido gasto principalmente para comprar diversos utensílios domésticos. Eu tinha dinheiro para comprar a maior parte do que queria e levar de volta ao dormitório, então dei uma volta pela cidade um pouco mais enquanto fazia compras o dia todo.

Passei a maior parte do dia seguinte desempacotando e organizando todas as minhas compras. Eu sabia que não deveria ter dispensado aqueles cara tão cedo, me arrependo disso agora.

No terceiro dia, decidi ir à biblioteca. Eu ainda não tinha ouvido nada sobre o que eu estaria ensinando na escola. Yuuki estava resolvendo isso para mim agora, mas em paralelo, achei que deveria revisar um pouco conhecimento básico.

 Isso e cumprir um dos meus mais importantes objetivos: aprender magia. Eu queria aproveitar essa oportunidade para ler tantos tomos mágicos quanto eu pudesse. O acesso à sala com esses tomos era restrito, mas você poderia entrar se mostrasse uma identidade provando que era um aventureiro de rank B ou superior. Mas não era permitido a retirada de nenhum dos livros também, e eu queria ler todos eles enquanto estivesse na capital, então esse foi o trabalho de mais um dia inteiro.

Esta era a maior biblioteca da cidade, mas não era de propriedade governamental. A Biblioteca Real ficava dentro do castelo, disponível apenas a nobreza e magos da corte. Aventureiros de rank A que eram convidados oficiais do Estado talvez também pudessem solicitar acesso, mas isso não se aplicava a mim agora. Certas magias eram classificadas como informações confidenciais por algumas nações específicas, então não era apenas uma questão de entrar e pedir um cartão da biblioteca.

Por enquanto, eu teria que me contentar com uma biblioteca comum como essa. Além disso, havia muitos livros valiosos lá, cheios de contos de habilidades e técnicas proibidas coletadas por aventureiros de todo o mundo. Alguns dos tomos mais antigos descobertos durante expedições da Guilda Livre também foram reunidos aqui. A coleção é tão valiosa quanto qualquer coisa que a Biblioteca Real pudesse oferecer, pensei.

Foi maravilhoso. Me senti realmente sortudo por ter sido abençoado com tanto conhecimento logo após chegar. Tenho certeza de que foi o carma me compensando por todas as minhas boas ações.

Não perdi tempo e rapidamente comecei a navegar pelos tomos mágicos. Havia tantos que seria impossível terminá-los em vida se alguém lesse de forma normal. Então, hum, desculpas aos diligentes estudiosos por aí, que dedicam todo seu tempo pela leitura, mas vou usar o Grande Sábio para ler essa porra.

Se alguém estivesse me observando, provavelmente pareceria que eu estava apenas passando a mão sobre um livro e, em seguida, devolvendo-o humildemente a estante. Mas minha mão estava entendendo por completo cada um deles, gravando todas as usas informações para mim de forma completa. Executando as habilidades do Grande Sábio e do Glutão em paralelo, copiei cada tomo mágico em minha mente a uma velocidade vertiginosa. Eu poderia usar um tempo para ler o conteúdo mais tarde ou eu realmente poderia só deixar o Sábio fazer isso por mim. Tudo que eu precisava fazer era tirar um livro das prateleiras e colocá-lo de volta.

Mas será que isso seria o bastante para aprender a magia de dentro deles…?

Recebido. É possível examinar minuciosamente o conteúdo com Analisar e Avaliar e, em seguida, compreendê-lo com a habilidade Toda a Criação. Uma vez compreendida e armazenada no espaço de memória, a magia pode ser executada com a Conjuração Rápida.

 Sério? Ótimo. Então, tudo que tenho que fazer é pensar em que tipo de magia quero? Que conjunto louco de habilidades. Simplesmente não tem fim para as maravilhas que o Sábio me traz.

Nesse caso, está resolvido. Nem preciso me dar ao trabalho de ler os títulos desses livros. Basta entrar, sair, arquivar e abrir, indefinidamente. Cada volume se converte em conhecimento para mim. Só de pensar nisso me dá vontade de querer fazer isso mais do que nunca.

Então, pelos próximos dois dias, li aqueles livros até ficar com o rosto azul, memorizando com sucesso cada uma das pilhas de tomos mágicos. Foi assim que terminei minhas pequenas férias. Os bibliotecários e os outros visitantes me olharam de passagem, como se eu fosse algum tipo de maluco, mas não me arrependo nem um pouco. Comparado com meu grande objetivo de aprender magia, esse era apenas um detalhe trivial.

 

 


 

Tradução: Another

Revisão: ZhX

 

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