Sobre Quando Reencarnei Como um Slime

Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 04 – Cap. 05.1 – As Crianças Convocadas

 

 

 

Ele deu a seu visitante um sorriso caloroso, conduzindo-o a um assento.

— Ahh, que droga! Nossa estratégia foi um completo fracasso. Infelizmente, pode demorar um pouco mais até que Cayman desperte para se tornar o primeiro lorde demônio verdadeiro.

Laplace, o visitante em questão, se sentou e deu a notícia. Fracasso, depois de anos de esforço ele não parecia muito chateado com isso.

— Hmm, e eu aqui pensando que um Lorde Orc em fúria nos garantiria pelo menos dez mil ou mais mortes.

O mestre da sala pareceu levar a notícia bem de boa.

— Mas suponho que obter a energia necessária não será tão fácil para nós. Existem outras condições que precisamos levar em conta também.

— Sim. Ele é bem forte, mesmo sem ter que precisar de qualquer coisa esquisita. Embora eu ache que tenha algo contra Leon, ao menos um pouco.

— Ele ainda tem muito o que aprender, aquele Calyman. Então, você veio aqui só para dizer isso?

Laplace sorriu confiantemente para o dono da sala.

— Oh, claro que não! Essa notícia foi só um extra. Aposto que você já ouviu tudo sobre isso do Clayman, não é? Tudo que fiz foi ajudar um pouco, então não sei de toda a história. Mas deixando esse assunto de lado, eu tenho me disfarçado para manter o controle dos paladinos recentemente. Eles realmente querem começar algo, sabia disso? Agora que eles têm certeza de que Veldora se foi para sempre.

— Hmm? Você acha? Sabe o que eles procuram?

— Seria muito mais fácil para nós se eu soubesse, né? Eu já te digo, a Santa Igreja Ocidental é um grupo perigoso de se envolver.

Laplace encolheu os ombros. A máscara escondeu sua expressão, mas apesar de seu pessimismo, sua atitude era tão ousada e despreocupada como sempre.

— Você com certeza está certo. Se passando por guardiões justos dos fracos ou sei lá o quê. Eu duvido que eles estejam agindo por pura boa vontade. São realmente um enigma para mim.

— Sim, eu também acho. Mas sabe, se eles estão começando a ficar mais ativos, essa é a nossa chance de pegá-los, não é? Eles existem desde os tempos imemoriais, então não consigo me esgueirar para chegar à alta administração*. Mas da maneira que estão agindo atualmente, pode ter um jeito de eu conseguir entrar, sabe?

Ele sorriu mais uma vez.

— Então, acho que já é hora de levarmos a infiltração na operação um pouco mais a sério. Provavelmente vou ficar fora de contato por um tempo por causa disso, tudo bem por você?

— Não, por mim tudo bem. Oh, mas se você descobrir o que está por trás da Santa Igreja, te concederei um desejo com o maior prazer.

Laplace ouviu isso e gargalhou.

— Mesmo?! Bem, isso realmente me motivou um pouco!

— Aposto que sim. Mas não exagere. Não quero que você estrague tudo.

— Não precisa me lembrar! Nesse caso…

Laplace se levantou, se preparando para sair.

— Oh, mais uma coisa — uma voz calma disse atrás dele —, a principal causa por trás dos seus fracassos mais recentes foi ter viajado pelas Nações Ocidentais. As coisas estão prestes a ficar bem interessantes, eu diria.

— O q-quêêêêêêêêêêêê? Por que diabos? Aquele slime de aparência idiota devia ser o grande ban-ban-ban da Floresta de Jura! O que raios ele está fazendo perambulando por terras humanas?!

— Há-há-há-há! Isso te surpreendeu tanto assim? Você realmente é um monstrinho único, não é, er, qual era o nome dele mesmo?

— Hmm… Rimuru, eu acho.

— Ah, certo. Deve ser isso mesmo. Ele entrou no Reino de Blumund vários dias atrás.

Ouvir isso, deixou Laplace atordoado e em silêncio.

— … Bem, não tem problema. Isso não importa para mim. Digo, eu nunca vi um monstro que representasse menos ameaça para mim em toda a minha vida.

Com isso, Laplace saiu da sala.

O mestre do cômodo sorriu satisfeito.

— Dado o seu comportamento estranho… ele com certeza não é um monstro normal. O que significa… que ele talvez tenha memórias de sua vida passada? Talvez eu possa tirar vantagem disso. Pelo menos, vale a pena tentar…

 

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A Floresta de Jura era cercada por várias nações. Havia o Reino de Blumund, que acabei de partir. Havia Farmus, um reino muito maior adjacente a ele. Além deles, tinha Englesia e vários outros países menores.

Todas essas nações se uniram para formar o que ficou conhecido como Conselho, que consistia em representantes eleitos por cada país. A maioria das decisões importantes que influenciam a região eram administradas por este Conselho. Cada nação tinha seus próprios métodos para eleger representantes, mas na maioria das vezes, os assentos eram ocupados por nobres de nível inferior, sem muitos direitos de herança.

O Conselho do Oeste, como era formalmente chamado, foi originalmente fundado como uma espécie de cooperativa de combate contra monstros, antes de se tornar uma força com a função de manter o Império do Oriente sob controle. Nem todas as nações da área faziam parte dela; a poderosa Dinastia Feiticeira de Thalion era uma das exceções por exemplo, mas isso era raro. Em um mundo tão brutal para seus habitantes, é vital reunir seus recursos para uma maior chance de sobrevivência, eu suponho.

O Reino de Englesia está no centro deste Conselho, e por boas razões. Geograficamente Englesia era o ponto central mais fácil para os membros se reunirem. Naturalmente, a Guilda Livre estabeleceu seu quartel-general lá também. Você poderia dizer que a nação mais poderosa do Conselho era o Reino de Farmus, mas para evitar que qualquer país tivesse muita influência sobre a assembleia, as nações concordaram em se estabelecer em Englesia por motivos logísticos.

Em parte, por causa disso, as relações entre Farmus e Englesia eram aparentemente tensas, na melhor das hipóteses. E havia outro motivo: Englesia era a única nação membro que não compartilhava fronteira com a Floresta de Jura, logo não tinha que se preocupar com a ameaça dos monstros. Esse foi outro fator que levou à sua escolha como Sede do Conselho.

Mas o que o Conselho faz exatamente? Em termos gerais, ele atuava como mediador entre as nações, supervisionando as intrigas e discussões entre os membros para prevenir conflitos. Detinha poder nos círculos econômicos e políticos, se tornando um grupo notavelmente influente na região; como as Nações Unidas (ONU) do meu antigo mundo, porém com muita mais força e liberdade de agir.

Muito parecido com as Nações Unidas, o Conselho não tinha uma força militar fixa. Não havia necessidade. Isso porque, de certa forma, ele formava a alta burocracia da Guilda Livre em si. O dinheiro pago aos aventureiros para matar monstros vinha dos fundos do Conselho, e em troca, tinha o direito de dar ordens à guilda. Este financiamento vinha de contribuições fornecidas por cada nação membro, que variava dependendo de quanto direito de falar cada um tinha.

Se recusar a pagar significava deixar o Conselho. Foi uma forma da organização ganhar mais influência nos assuntos locais, usando a segurança que fornecia aos membros. Muitas nações dependiam quase totalmente da guilda para o controle dos monstros, logo não havia escolha para eles a não ser apoiar o Conselho.

Falando em segurança, ouvi outra história interessante: a principal característica que mantinha as nações ocidentais fortemente unidas umas às outras era a religião.

Neste mundo, onde os monstros eram uma ameaça real e constante, a religião fornecia mais do que apenas suporte espiritual, era uma espécie de último bastião para a sobrevivência. Deste modo, as pessoas tinham a Santa Igreja Ocidental, a fonte de todas as atividades religiosas da região, com Luminus como sua divindade única e absoluta. Em outras palavras, as Nações Ocidentais eram a principal esfera de influência da igreja, e o Sagrado Império de Lubelius a “terra santa” da igreja.

Surpreendentemente, isso não significava necessariamente que a Santa Igreja Ocidental gerenciava Lubelius, já que era uma organização religiosa independente. No entanto, o líder de Lubelius era chamado de Santo Imperador, definido como o porta-voz mortal da divindade, semelhante ao papa, cujas ordens deviam ser seguidas sem objeção.

Sendo assim, Lubelius era uma espécie de estado fantoche da igreja? Sim e não. Era muito complexo para eu realmente entender a explicação de Fuze, e eu não tenho certeza se ele realmente sabia do que estava falando também. “É só, você sabe, esse tipo de coisa”, como ele disse, e acho que ele está certo.

A Santa Igreja Ocidental não era a única religião nesse mundo. Havia outros nativos que adoravam uma variedade de deuses e deusas diferentes. Mas em termos de seguidores, Luminus tinha a maioria esmagadora. E isso simplesmente porque essa divindade em particular tinha os paladinos, os guerreiros mais poderosos do mundo.

Estes formaram os grupos chamados de Cruzados, exércitos de cavaleiros cuja força ia além do rank A, e seus números totalizavam mais de trezentos. Eles eram considerados os salvadores da humanidade, especialistas em matar monstros com o objetivo de erradicá-los da terra.

Me disseram que quando foram formados por um motivo “virtuoso” para proteger as nações ocidentais, embora eu não saiba o quanto disso é verdade. Algumas pessoas até os respeitaram o suficiente para chamá-los de defensores da justiça.

Porém, o ponto é, Luminus aparentemente não aceitava a existência de nenhum outro deus. O Único Deus Luminus, como era o seu nome completo. Como resultado, os devotos de outras religiões não estavam qualificados para receberem a salvação. Houve várias nações do Conselho que não designaram o Luminismo como religião oficial, e paladinos nunca foram enviados para lá. Acho que não posso culpá-los, se você acha que alguém é indigno de salvação, então é claro que não vai arriscar sua vida para salvá-lo, mas isso não parecia muito “justo” para mim. No entanto, essa era apenas a minha opinião.

Aliás, a Dinastia Feiticeira de Thalion não tinha religião oficial. A família imperial de lá afirmava ser descendente de deuses, então nenhuma outra religião foi oficialmente instaurada. Por outro lado, seu povo gozava de total liberdade religiosa, o que a tornava uma nação única nesse aspecto. Eles também se recusaram veementemente a ingressar no Conselho, tornando-a uma força completamente independente na região. Suas fronteiras não eram totalmente fechadas, mas eles não tinham interesse em serem gentis uns com os outros. Foi muito interessante; eu queria dar uma olhada nessa nação em algum momento, especialmente porque se parecia um pouco com o Japão da minha vida passada.

Essa informação completou o meu aprendizado no tempo que passei em Blumund. As nações ocidentais eram sustentadas pela economia de um lado e pela religião de outro, ajudando a formar fortes laços entre os países. Uma configuração bem legal, pensei. Em um mundo com tantas coisas tentando te matar, eu acho que não deve ter acontecido muitas guerras entre nações humanas.

Ah, e eu aprendi algo surpreendente sobre Hinata Sakaguchi. Acontece que ela é a líder dos paladinos, a principal oficial que comandava os paladinos. Eu acho que Veldora mencionou que os invocados geralmente tendiam a ganhar habilidades especiais quando vinham e este mundo. Talvez fosse esse poder que a deixasse liderar a maior força de cavaleiros conhecida na terra? Ela já era uma pessoa durona quando deixou Shizu; eu não conseguia imaginar o quão forte ela era agora.

Pensando nisso, eu era um monstro atualmente. Se eu casualmente caminhasse até ela, ela poderia decidir me matar. Melhor eu não tentar nada do tipo. Acho que vou apenas manter distância, até compreender melhor que tipo de pessoa Hinata é. E, para isso, preciso reunir mais algumas informações.

 

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A viagem para Englesia foi tranquila. Era hora de entrar na carroça de lobo novamente. Havia uma estrada armada, embora não fosse pavimentada. Eu já deveria ter esperado por isso. Levaria muito tempo e dinheiro para pavimentar todas as estradas por aqui… isto é, por meios normais, é claro.

Eu fiz Ranga puxar a carroça em uma forma um pouco menor. Ele agora não parecia muito diferente de um velho lobo preto normal, logo, achei que não seria um problema. Se ele corresse a toda velocidade quebraria o vagão, então estava indo mais devagar no momento. Percorrendo cerca de quinze a vinte milhas por hora, talvez? Não podíamos correr o risco de ir muito rápido nessas estradas inacabadas No entanto, como Kabal e sua equipe haviam dito, não poderia ter sido uma viagem mais confortável.

Encontramos vários soldados montando patrulha no caminho. Todos eles afirmaram que eu não deveria esperar ver muitos monstros fortes por aqui. Havia ladrões e saqueadores com os quais tínhamos que ficar espertos, mas nunca nos encontramos com nenhum. O que quero dizer é que vinte e cinco milhas por hora não pareciam tão rápido para a gente, mas não é como se pudessem nos alcançar a pé. Um cavalo até poderia, mas não por longas distâncias que o Ranga poderia percorrer. Assim, as coisas correram bem durante os meros três dias que demorou para chegar à capital de Englasia.

O portão tinha um processo de entrada ainda mais rígido do que o do Reino dos Anões. Havia três níveis de inspeção, sendo que o primeiro exigia identificação. Qualquer um que não pudesse apresentar ou produzir os documentos no local era forçado a voltar para o final de uma fila extremamente longa do nível dois; faça muitas besteiras e você será guiado para o nível três, onde praticamente será tratado como um criminoso.

Nesse ponto, uma vez que eles fizessem isso com você, você seriamente começaria a se perguntar por que tentou entrar em primeiro lugar. Mas muitas pessoas estavam dispostas a arriscar. Isso mostra o quão atrativa a nação era. Graças aos documentos que consegui na guilda, eu não precisava me preocupar com nada disso. Sorte a minha. Se eu não os tivesse, ficaria na fila mais tempo do que fiquei na do Reino dos Anões.

Minha única reclamação:

— Ei, ei, você é uma aventureira, senhorita? Não é algum tipo de piada que você está pregando na gente, não é?

Os três guardas me trataram como uma garota mimada.

— Eu não sou uma senhorita, obrigado. Apenas verifique os papéis.

— Hehe. Acho que você tem mais ou menos a idade em que as adolescentes querem se fingir de adulto, né? Você tem essa voz fofa, mas com essa máscara e o jeito que você fala…

O blábláblá continuou enquanto eles passavam os papéis por algum tipo de dispositivo mágico. Então, a atitude deles mudaram.

— Oh, minhas desculpas! Senhor Rimuru, aventureiro de rank B? Bem-vindo ao Reino de Englasia!!

Bem, isso foi fácil. Com certeza não parecia tanto assim se comparássemos com a forma que Kabal e sua equipe andavam por aí, mas ser classificado como rank B lhe rendia muito status, eu acho.

— Não deixe isso te incomodar, chefe, — Kabal comentou assim que passamos pela vistoria. — Os guardas não quiseram dizer nada pessoal com isso.

Eu não fiquei com raiva, mas ser chamado de “senhorita” me pareceu desnecessariamente cruel. Mas… minha voz, hein? Não é à toa que todos me confundem com uma garota. Eu não estava esperando por isso, com a máscara cobrindo meu rosto e tudo mais, mas minha voz me faz parecer uma criança, não é? Isso nunca me incomodou nem um pouco antes… embora, pensando bem, eu tenha recebido um tratamento semelhante em Blumund, né? Talvez eu deva tentar alterar o tom para soar mais maduro? Um pouco tarde demais para isso, pensei.

Vamos ficar com a atual mesmo. Meu corpo era bem baixinho de qualquer maneira, com menos de um metro e sessenta de altura, então se eu tentasse parecer mais velho apenas ficaria parecido com um jovem definhado. Afinal, eu não era culpado de nada, então está tudo bem. Um Menino Mascarado Misterioso funcionaria muito bem nesse mundo. Já que está cheio de lordes demônios e heróis; por que não lançar outra moda de fantasia enquanto estou vestido desse jeito?

A primeira coisa que me surpreendeu na cidade foi o quão avançada ela era. Bastante grande, sim, mas também cercada por muralhas que pareciam se estender até o horizonte, com entrada presente em apenas dois portões. Eu não conseguia imaginar quanto tempo e dinheiro levou para construir uma parede que cobrisse tanto terreno assim.

Entrando, por mais incrível que pareça, a vista era ainda mais deslumbrante. Podia até não ter exatamente arranha-céus ao longo das ruas, mas os edifícios eram muito mais altos do que qualquer outro que Blumund poderia oferecer.

Consegui ver edifícios de pedras de cinco andares por todo o lugar, junto com uma variedade de construções de tijolo e madeira. Mas, mais impressionante do que tudo era o castelo branco como giz que estava no centro da capital, facilmente visível de qualquer um dos bairros bem construídos da cidade. Ostentando majestosidade, ficava claro que a capital tinha uma legião de arquitetos talentosos. Era realmente algo lindo de se ver.

Outra coisa que chamou a minha atenção foi a localização do castelo. Havia um grande lago no meio da cidade, e o edifício foi construído bem no centro, fazendo com que parecesse que ele estivesse emergindo diretamente das águas. Certamente impressionava os visitantes, Quatro estradas se espalham a partir de cada direção do castelo, conectando-o ao resto da cidade. Durante emergências, essas estradas podem ter suas pontes derrubadas para evitar invasões de inimigos. Foi uma visão impressionante, uma exibição de poder exemplar. Eu tinha que dar o braço a torcer; aquilo é demais.

A segurança em torno da capital era feita por cavaleiros posicionados em pontos importantes. Você teria que estar muito desesperado para realizar um crime por aqui. Eu realmente não esperava nada menos da sede do Conselho. Quaisquer questões envolvendo representantes desencadeariam um incidente internacional, então eles não poderiam ser desleixados quanto a isso.

 Fiz Ranga se esconder em minha sombra antes de nos aproximarmos da capital, colocando a carroça de volta no meu estômago. Algo me disse que os guardas não gostariam de lobos correndo pelas ruas, e eu não era louco ao ponto de fazer isso.

Assim, ninguém nos incomodou enquanto caminhávamos, apreciando todos os pontos turísticos. Foi nosso primeiro passeio tranquilo em um bom tempo, e como descobri, o mais incrível não era a beleza da cidade, mas sua cultura. Descobrimos uma grande arena esportiva, próxima ao que parecia ser um teatro ao ar livre. Havia obras de arte sendo exibidas de maneira proeminente por toda a cidade, aparentemente, pôsteres de peças de teatro. O papel era relativamente barato por aqui, e eu até vi pessoas distribuindo panfletos anunciando produtos ou eventos.

A cidade grande. Eu podia sentir o gosto do ar pela primeira vez em muito tempo. Mas a única coisa que me fez pensar “nem fodendo que eles têm isso aqui” foram os edifícios revestidos de vidro que vi. A mercadoria estava alinhada lá dentro, um pouco parecido com as vitrines de uma loja de departamentos. Na verdade, realmente eram vitrines; a única diferença eram as armas e armaduras nas prateleiras de dentro da loja.

Em um quarteirão chique perto do castelo, encontrei uma loja de vestidos e outras roupas. Com certeza não era um lugar destinado às massas. O simples fato de morar dentro das muralhas da cidade provavelmente indicava que você estava, pelo menos, um pouco bem de vida, mas possuir uma casa perto do castelo era aparentemente um direito reservado exclusivamente para a nobreza. A desigualdade era enorme. Suponho que quanto mais você paga em impostos, melhor é o tratamento que você recebe. Além disso, normalmente ser da nobreza significa ter um trabalho dentro do castelo, então provavelmente você poderia desfrutar de uma casa de luxo a uma curta distância do local de trabalho.

Assim que fizemos nossa ronda inicial, procuramos uma pousada para passarmos a noite. Em termos gerais, a cidade era dividida em quatro seções: comercial, turística, industrial e residencial. O castelo estava no meio dentre as quatro, com o resto da cidade a rodeando, e quanto mais perto você estava do centro, mais sofisticado a região era. Muito fácil de se localizar por aqui.

Seguindo o exemplo de Kabal, nós rapidamente fomos direto para o bairro turístico, encontrando uma variedade enorme de pousadas, e vielas cheias de tavernas nos fundos, abertas. Eu podia sentir meu coração disparar, mas, infelizmente, não estávamos lá para beber naquele dia. Eu franzi a testa um pouco enquanto arrumávamos o quarto.

 

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Partimos na manhã seguinte para a sede da Guilda Livre.

Quanto mais perto você fica das muralhas da cidade no bairro turístico, mais apresentações públicas e pequenas lojas você encontra. Também havia uma grande variedade de barracas de comida. No entanto, em direção ao centro, você via residências mais diplomáticas, centros de conferências, escolas e outros edifícios municipais. Era o mais policiado das quatro seções, e, bem no centro dela, encontramos o quartel-general da Guilda Livre.

— Por aqui, chefe.

— Rapaz, realmente tem um monte de gente, hein? É como se só essa seção fosse uma cidade.

— Ei, cuidado com os batedores de carteira, entendeu? Este lugar está cheio de guardas, mas é assim que muitas pessoas se deixam levar por uma falsa sensação de segurança.

Gido tinha razão, mas todos os meus pertences importantes estavam no meu estômago, então eu não tinha com o que me preocupar. Se alguém precisava tomar cuidado, era Elen.

Kabal nos guiou para mais perto do centro. A presença autoritária do castelo de marfim tornava impossível alguém se perder.

O prédio do quartel-general era uma estrutura grande, imponente e de aparência moderna, muito diferente das outras construções medievais desse mundo. Os EUA tinham arranha-céus de aço com cerca de doze andares no século dezenove, quando o Japão ainda era composto principalmente por estruturas de madeira de um só andar. Em comparação, essa era uma nação poderosa, e o Reino de Englesia começou a parecer familiar para mim.

Adjacente à guilda estava um edifício alto que exalava uma presença igualmente grandiosa, adornado com a estátua de uma deusa e uma grande cruz sagrada no telhado.

— Aquela é a Igreja?

— Obviamente, — respondeu Gido. — A filial de Englasia da Santa Igreja Ocidental, em suma, a sede da coisa toda.

Ah, a Igreja; a única coisa com a qual eu tinha que ser mais cuidadoso por aqui.

— A sede?

— Hm, é uma história um pouco complicada na verdade…

Como disse Gido, a sede oficial da Igreja estava localizada no Sacro Império de Lubelius. No entanto, era usada principalmente para cerimônias religiosas e coisas do tipo, com a maior parte do trabalho real acontecendo aqui na capital de Englasia.

— Eles não permitem que pessoas comuns entrem aqui, — disse ele, — e tenho certeza de que é dessa forma que a Igreja quer que seja nessa cidade.

Eu não tinha nada a ver com a Igreja, afinal sou ateu. Então, sinceramente, esperava não ter que me envolver com eles durante toda a minha vida, já que eles veem os monstros como inimigos, e não importa o quanto eu quisesse me encontrar com Hinata, eu não podia arriscar nenhum movimento que chamasse a atenção deles.

Apesar disso, é engraçado ver eles ao lado da Guilda Livre. A máscara estava escondendo minha aura, então eu não achei que seria descoberto. Não adiantava me preocupar com isso. Se eu fizesse, eu descobriria algo.

A entrada do quartel-general da guilda era protegida por um par de portas de vidro que devem ter custado uma fortuna para instalar. Era algo que eu nunca esperei ver neste mundo. Os outros reencarnados e invocados aqui devem ter sido uma grande influência, aposto que se esforçaram para fazer isso também. Desde que tenha vontade, tudo é possível, eu acho. Eu ainda tenho muito o que fazer. Em vez de me preocupar com a possibilidade, eu apenas deveria ir e realizar.

Uma lição para servir como aprendizado, pensei enquanto estava diante das portas. Ao fazer isso, senti algo escaneando meu corpo. Neste mesmo tempo, as portas se abriram. Puta merda, isso é real mesmo? Existe algum tipo de sensor que abre as portas automaticamente? Nossa, eles usam alta tecnologias até mesmo para as coisas mais triviais! Ver esta tecnologia da Terra replicada aqui foi um choque para mim, especialmente em comparação com o prédio de madeira da Igreja ao lado, com suas velhas maçanetas. Parecia que o arquiteto queria algo o mais diferenciado possível dos vizinhos.

— Realmente mudou algumas coisas em dois anos, — comentou Elen.

Bem, eu não ia perder. Se esse é o meu oponente, é melhor começar a planejar um ou dois arranha-céus quando chegar em casa.

Ao entrar, sentimos vários pares de olhos sobre nós. Todos eles pareciam ser de alto escalão à primeira vista. Era natural que o quartel-general estivesse com as pessoas mais qualificadas que eles têm.

— Bem-vindos! Como posso ajudá-los? — Disse uma mulher posicionada perto da porta.

Sua saudação perfeitamente sincronizada entre suas respirações, fez com que este parecesse um saguão de um hotel cinco estrelas. Sem querer ser rude, mas estava a anos luz da filial da capital em Blumund.

— Sim, estamos aqui para ver o grão-mestre. Aqui está a nossa carta de apresentação. — Eu entreguei a ela.

— Certamente. Por favor, me dê um momento enquanto confirmamos.

Ela se afastou quando outro homem se aproximou de nós.

Opa…

— Ei, ei, o que uma criança como você está fazendo aqui?

Eu sabia! Alguém querendo causar problemas. As primeiras impressões eram tudo por aqui. Se eu os deixasse implicar comigo, tudo estaria acabado. Mas assim que eu estava pronto para retrucá-lo…

— Uau! E aí, Grassé! Você também chegou no rank B?

Kabal falou, mandando algumas palavras gentis. Isso fez Grassé congelar no lugar.

— Ahh! Bem, olhe para você, Kabal! Não te vejo faz um tempo!

Que decepção. Eu estava pronto para mostrar a ele o quão poderoso eu também era. Claro, eu tenho uma tendência de estragar tudo de qualquer maneira, então talvez isso tenha acontecido para melhor.

Alguns outros membros da guilda começaram a notar meus amigos. Em instantes, todos já estavam trocando brincadeiras nostálgicas uns com os outros, o que se seguiu ao narrar histórias de glórias passadas em aventuras, blábláblá. Me sentei em um sofá e esperei. Um atendente me trouxe um pouco de chá. Tudo estava tão perfeito.

Desfrutando do aroma, resolvi perguntar sobre algo que estava me incomodando.

— Ei, Kabal, como você sabia que Grassé era um aventureiro de rank B?

— Calma lá, garotinha, — respondeu Grassé, — cuidado com os modos! É senhor Kabal para você, senhorita! Você deve ser uma novata se não sabe como as coisas funcionam por aqui, não é? Que tal você mostrar algum respeito pelos mais velhos?

— Espere um pouco, eu não falaria com o Senhor Rimuru desse jeito…

— Você realmente deveria disciplinar melhor essa garota, Kabal. Você sabe que não permitimos nenhum membro da guilda com rank menor que B aqui, e veja a atitude dela! Se você continuar pegando leve com ela, o que a menina vai fazer quando tiver que se defender sozinha?

— Pare com isso! Ele está aqui por seus próprios méritos! Sinto muito, vou deixá-lo ciente das coisas mais tarde, então…

Kabal se reverenciou a mim arrependido. Eu não me importava, contanto que as pessoas parassem de encher meu saco, mas essa coisa de “senhorita” já estava começando a perder a graça. Se bem que essa minha forma em particular, feita sem magia, estritamente pelo meu próprio corpo, era a mais confortável para mim de qualquer maneira.

— Eu não sou uma criança, entendeu? Ou uma senhorita. Lembre-se disso.

Mesmo assim, Grassé respondeu algumas das minhas perguntas. Nossas identidades foram verificadas na porta para confirmar nossas qualificações, se não fossem boas o suficiente não teríamos permissão nem para entrar. Suponho que seja por isso que o quartel-general não parecia tão fortemente guardado. Como Elen explicou, os membros abaixo do rank B usavam uma filial perto da entrada principal, que oferecia uma hospedagem mais barata e era mais conveniente para as atividades do dia a dia. Ainda bem que passei por todo aquele esforço para conseguir um B, então.

Enquanto tudo passava pela minha mente, a mulher de antes voltou.

— Obrigada por esperar, — ela disse com um sorriso. — Me disseram que apenas você tinha permissão para entrar, Senhor Rimuru, então, se puder me seguir, por favor…

Isso deixou todos no saguão extremamente tensos.

— O grão-mestre vai vê-lo…?

— Então aquela carta era real…?

— Real ou não, com que frequência o grão-mestre recebe um cara da rua?

— É por isso que estou dizendo a vocês, o Senhor Rimuru não é qualquer um não!

Kabal orgulhosamente se gabou de mim para público repentinamente interessado. Eu gostaria que ele parasse com isso; é embaraçoso.

— Volto em breve, — disse enquanto nos afastávamos.

A mulher me conduziu por um corredor profundo antes de bater em uma porta em específico. Não houve resposta, mas ela abriu e entrou mesmo assim, me convidando para segui-la.

Ao entrar, eu imediatamente notei um círculo mágico desenhado no chão, muito parecido com o que Vester havia feito. Provavelmente eram da mesma família. Convidado a entrar, fiquei ao lado da mulher, sentindo-a ativar a magia inscrita no desenho em um instante. Não devemos ter sido teletransportados para muito longe.

Esta nova sala, uma espécie de câmara de recepção informal, parecia hermética para mim; aquele círculo poderia ter nos levado a algum lugar no subsolo. Provavelmente eram todas medidas antiespionagem, imaginei, e a eficácia de todas elas me deixou muito com o que aprender.

A mulher, acostumada com esse procedimento, fez uma reverência antes de se teletransportar de volta. Deixado sozinho, sentei-me em uma cadeira e esperei. Depois de alguns minutos, uma porta se abriu, revelando um jovem desacompanhado. Ele era bastante bonito, com cabelos e olhos pretos, mas ainda havia mais do que apenas um traço de juventude em seu semblante, ele era jovem o suficiente para que eu acreditasse que ainda estava no ensino médio.

— Bem-vindo, — ele começou a falar, sorrindo. — Eu sou o grão-mestre Yuuki Kagurazaka. Prazer em conhecê-lo, Rimuru. Eu ouvi muito sobre você! Sinta-se à vontade para me chamar de Yuuki.

— É bom te conhecer também. Meu nome é Rimuru Tempest e sou o líder da recém-criada nação de Tempest que fica na Floresta de Jura. Apenas Rimuru está bom para mim também.

Assim, tive meu primeiro encontro com Yuuki Kagurazaka.

 


 

Tradução: Another

Revisão: ZhX

 

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