O local do teste era um prédio parecido com um ginásio. Lá estava eu, Thegis, Kabal e sua equipe, e alguns membros da guilda querendo matar o tempo nos observando. A falta de opções de entretenimento nesse mundo devia fazer algo assim parecer uma ocasião épica.
Era ali também que a guilda realizava exames para decidir se aumentava o rank dos membros ou não. Os empregos que eram oferecidos baseavam-se estritamente no seu rank, de modo que os resultados desses testes estavam diretamente relacionados ao salário. Sendo assim, havia seis dias na semana para quem estivesse preparado para tentar.
Os examinadores foram designados para cada ramo da guilda para tornar isso possível. Esses examinadores precisavam ser habilidosos o suficiente para intervir e prover assistência caso necessário, então seus ranks eram, em sua maioria, A- para mais. Thegis devia ter se juntado a eles depois de perder a perna.
— Primeiramente, deixe eu dizer uma coisa. — Ele rapidamente começou a falar. — Depois de obter um rank E, você terá a chance de tentar passar imediatamente para o D, e, sem seguida, no exame de rank C também. No entanto, se falhar, não será capaz de aceitar outro desafio de promoção de rank até que recupere seu rank atual e ganhe pontos suficientes em seu trabalho para fazer isso. Entendeu?
Em outras palavras, se eu fosse reprovado em um teste de ranking, teria que recomeçar de um rank abaixo dele. Apreciei como os melhores cargos ofereciam uma melhor gama de serviços, mas isso me pareceu um tanto chato. Provavelmente fizeram assim para evitar que os aspirantes a aventureiros incomodassem os examinadores o dia todo com testes nos quais não conseguiriam passar.
— Parece bom — respondi. Thegis assentiu e se virou para Kabal.
— Hmph. Estou ansioso para ver exatamente como você é mais poderoso que Kabal e sua equipe. Apenas espero que não seja um lobo em pele de cordeiro, hein?!
Eu não poderia culpá-lo por duvidar deles, com aquela quantidade de partes de monstros que estavam conseguindo no momento. Preencher sua contagem de pontos tão rapidamente tornaria qualquer um em alvo. Eles também eram culpados.
Então, Thegis apontou para o chão.
— Faremos o exame dentro deste círculo mágico. Temos uma barreira de segurança nele, mas não confie muito nisso, entendido? Se estiver disposto a arriscar sua vida, entre e me dê um sinal quando estiver pronto.
Olhei para onde ele apontou. Havia um grande círculo desenhado no chão, talvez com 18 ou 21 metros de largura. As formas geométricas empilhadas umas sobre as outras indicavam que era um círculo mágico. Uma barreira em forma de semicírculo se materializou quando entrei. O público observou com atenção, esperando minha resposta.
— Pode começar! — falei, tentando não parecer muito agitado.
— Entendido. Derrote o inimigo antes que ele te derrote!
Thegis lançou uma magia que havia conjurado anteriormente. O teste havia começado.
Ele estava usando magia de invocação para encenar uma situação real nesse exame. Como Elen mencionou para mim, ele era um invocador profissional, que convocava monstros para lutar contra o inimigo em seu lugar. Se bem me lembrava, invocar monstros mais fortes do que você só poderia ser feito sob uma série de condições, então qualquer um poderia dizer sua força com base no nível do usuário.
O primeiro monstro que Thegis invocou foi um Cão de Caça, um monstro de baixa patente que eu nunca tinha visto. Foi bem treinado, mas nada além disso. Antes que pudesse soltar um latido, cortei sua cabeça com um golpe de minha katana. Isso me concedeu o rank E. Foi fácil, fácil.
— Certo, terminei. Pode mandar o próximo.
Ficaram todos em silêncio. “Uau”, eu podia ouvir alguém sussurrar. Thegis não ficou nada impressionado.
— Oh ho? Bem, você lidou com isso, pelo menos. Porém, baixe a sua guarda e você vai pagar caro por isso. Está pronto para o próximo desafio?
— Aham. Na verdade, eu meio que gostaria de poder pular direto para o rank A.
— Hã? Você acha que pode se safar sendo tão arrogante? Só porque consegue vencer um grupinho como o de Kabal, não significa que pode agir como se fosse o rei do mundo. Vamos para o próximo!
Comecei a sentir que ele estava com raiva de mim. Eu só estava tentando ser honesto, mas… Ah, bem. Vamos acabar com isso.
Mesmo estando irritado, Thegis convocou meu próximo oponente. Um Goblin Sombrio, negro como um azeviche, totalmente armado e cheio de músculos.
— Hmmm… aquele não é o principal servo de Thegis?
— Ele está com uma armadura completa! Eu acho que seria difícil até mesmo para um rank C vencer…
Antes que eu pudesse processar os sussurros da audiência, os berros do examinador silenciaram todos.
— Comecem!!
Disseram que é complicado até mesmo para um rank C, mas este é um exame de rank D, certo? Ah, bem, de qualquer forma, não é como se fosse um desafio para mim.
— Achei fácil. Próximo, por favor.
Eu tinha cortado e derrotado o goblin com um único golpe. Isso fez Thegis estremecer de raiva.
— Oh-hohhhh! Nada mal. Beleza, então o próximo vai ser um pouco diferente!
O ambiente ficou em silêncio mais uma vez, o público estava mais dominado pela tensão do que eu.
— Você também precisará de experiência de combate em grupo. Está pronto para isso?
Ele invocou três Morcegos Gigantes. Ooh, que nostalgia. Quando foi a última vez que um desses me atacou? Parecia que foi há muito tempo.
— Claro, claro, só começa logo.
Nosso pequeno grupo de curiosos parecia querer comentar sobre isso, mas foram impedidos pelo sinal de Thegis. Não que isso me importasse. Golpeei os morcegos no ar, um após o outro. Não havia nem mesmo a necessidade de aumentar minha percepção para isso, como antes. Esses monstros pareciam congelados no ar. O público assistiu silenciosamente, extasiado com a performance. Duvido que poderiam seguir os movimentos com seus olhos. No momento em que os Morcegos Gigantes se aproximaram, um único clarão da minha lâmina os abateu.
— Beleza, já tenho o rank C garantido. Manda o próximo.
Meu pedido fez Thegis voltar aos seus sentidos.
— Nem mesmo meus olhos puderam ver…?!
Agora ele estava começando a perder a compostura.
— Heh heh heh heh… Muito bem. Não tenho mais dúvidas de que você consegue derrotar a equipe de Kabal. Sendo assim, o próximo desafio é enfrentar o julgamento de rank B!
Então agora é um julgamento, não um exame? Eu podia ver as veias nos olhos de Thegis saltando quando começou a entoar sua magia mais uma vez, desta vez com claros raios de magia sendo disparados para cima e para baixo em seus braços. Os observadores olharam em silêncio.
— Eu, uh, vou chamar o mestre da guilda — gritou alguém antes de sair correndo, mas antes que qualquer um percebesse, a invocação de Thegis estava completa.
Uma criatura maligna apareceu diante de mim. Era um demônio inferior, um monstro com quatro braços contorcidos. Eu nunca tinha visto uma criatura do tipo demônio. Meu impulso foi de consumi-lo para aprender suas habilidades.
Falando nisso, aquele não era mais o feitiço de Invocação de Monstro, não é? Era Invocação de Demônio. Essa magia também me seria útil…
Relatório. A magia Invocação de Demônio foi… aprendida com sucesso
Oh, opa. Acabou sendo mais fácil do que eu esperava. Era engraçado como dominar artes marciais levava eternidades, enquanto para magia bastava um estalar de dedos, de tão rápido que era. Podia ter sido tão simples porque ele conjurou bem na minha frente, mesmo assim era incrível.
Então obtive essa habilidade, mas agora não era hora de pensar nisso.
— Este monstro é um Demônio Inferior! Ele tem a capacidade de anular ataques corpo a corpo simples. Agora, o que vai fazer? Se quiser desistir, é melhor me dizer logo!
Thegis estava ficando animado, enquanto eu estava refletindo sobre quão fácil era aprender uma nova magia. Seus objetivos mudaram completamente. Ele odiava Kabal e seus amigos e queria descontar sua raiva em mim.
Definitivamente, esse não era o tipo de monstro que invocaria para um exame de rank B. Alguém tinha acabado de sair correndo para buscar o mestre da guilda, que eu presumi ser Fuze. Com sorte, eu poderia fazer um novo teste sem ter que derrotar esse cara, mas… bem, eu tinha certeza de que venceria do mesmo jeito.
No meio dessa confusão, comecei a ouvir o público novamente.
— Ei, não era para ser um exame para testar lutas em grupo…?
— Sabe, eu estava pensando na mesma coisa, na verdade.
— Sério mesmo, ele quer que o mascarado vença aquele monstro sozinho? Isso seria difícil até mesmo para um B+.
Até eles conseguiam perceber que havia algo de errado. E se eles puderam, Kabal e seus amigos também já deviam ter notado.
— Hm, Thegis, isso não está indo um pouco longe demais? Sem querer me gabar, mas contra um Demônio Inferior, precisaria de nós três para acabar com ele, não é?
— Sim! — Elen entrou na conversa. — Nem dá para causar dano a monstros do tipo demônio com armas normais!
— Isso aí. Odeio ter que admitir, mas eu seria completamente inútil contra um. O máximo que poderia fazer seria distraí-lo para tentar ganhar tempo para a retaguarda nos curar e para a linha de frente dar um jeito de derrotá-lo.
Thegis não ligou nem um pouco para essas reclamações.
— Hmph! Acredito que é o pequenino com aquela máscara fazendo o teste, não é? Se ele quer ser um frangote e amarelar porque as coisas estão um pouco perigosas, então nunca foi adequado para o trabalho de aventureiro! Vamos lá, ainda querem que eu cancele?
Ele estava agindo todo durão, mas se olhasse de outra forma perceberia que algo estava errado. Ele estava suando, fazendo o possível para se concentrar. Quando voltei meus olhos para o Demônio Inferior, notei que ele parecia pronto para escapar de suas restrições e nos atacar a qualquer momento. Thegis estava começando a perder o controle, o que fazia sentido, se pensasse bem. Ele tinha usado magia de invocação consecutivamente, sem parar. Seria difícil para qualquer um se concentrar por tanto tempo, especialmente quando isso exigia tanta força física.
Vamos facilitar as coisas para ele.
— Acho que isso está um pouco estranho, mas não tem problema. Vamos lá.
Thegis arregalou os olhos, parecendo querer dizer algo, mas se detendo um pouco antes. Ele já estava no fundo do poço. Derramou ainda mais força mágica no demônio antes de gritar para mim, entusiasmado:
— Falou bem! Mas quero ver se você consegue sobreviver a esse teste final!
Huh? Teste final?
No momento que esse pensamento passou pela minha cabeça, o Demônio Inferior foi liberado. O “julgamento” para o rank B havia começado.
O que eu devo fazer? Não queria mostrar muito da minha magia ou do meu arsenal de habilidades.
Enquanto eu me preocupava com isso, os olhos do Demônio Inferior piscaram em um vermelho brilhante quando começou a entoar um feitiço.
Quatro bolas de fogo voaram em minha direção. Esse monstro realmente era um demônio, para conjurar magias era mais fácil do que tirar doce de criança. Eu poderia simplesmente comê-las com o Glutão, e pronto, mas não queria expor ele na frente de tantas pessoas.
Em vez disso, me esquivei de todas as quatro, que explodiram na barreira atrás de mim, parecendo cena de filme. Eu tinha Anulação de Ataques de Fogo, então isso não era uma grande ameaça, mas emergir completamente ileso das explosões também teria sido suspeito. Tentei parecer um pouco agitado, agindo como se estivesse em pânico quando comecei a conjurar um feitiço.
— Lança de Gelo!
A magia de gelo que lancei neutralizou parte das chamas que agora queimavam dentro da barreira, criando uma zona segura. Os gritos ao meu redor se transformaram em vivas, mas não me importei com isso enquanto preparava minha espada. Como um flash de luz, eu o golpeei, porém não surtiu muito efeito. Acho que os demônios realmente são muito resistentes a danos corporais. Senti uma sensação estranha quando ataquei.
Relatório. Ataques corporais são ineficazes contra formas de vida espiritual.
É melhor eu me lembrar dessa sensação. Sempre que minha espada reagir dessa forma, significa que não estou causando dano algum.
Resumindo, este Demônio Inferior tinha o que é chamado de corpus mágico totalmente formado, uma forma constituída totalmente por magículas. Ao contrário das versões replicadas de nós mesmos que Soei e eu conseguíamos fazer, aquilo poderia se regenerar instantaneamente da maior parte dos danos físicos, uma vez que seu “criador” estava bem ali. Em primeiro lugar, eu nem consegui machucar ele, e não estava tendo progresso.
Era dito que uma forma de vida espiritual como esta se tornaria um demônio com inteligência desenvolvida ao habitar um corpo físico. Isso o tornaria mais suscetível a ataques corporais, mas essa situação realmente não se aplicava no momento.
O Demônio Inferior, talvez zangado por eu ter me esquivado das bolas de fogo, começou a atacar com os quatro braços ao mesmo tempo. Duros como aço, cada um balançava sem parar. Sua velocidade não era nada para se subestimar, mas, para mim, seus membros ainda pareciam estar parados no tempo.
Isso acabaria muito mais rápido se eu pudesse comer esse cara. O que fazer? A Lança de Gelo poderia até causar algum dano, mas acho que não seria um golpe decisivo. Os demônios também têm muita resistência mágica…
Oh, espere um pouco. Magia é simplesmente a materialização de tudo que se imagina. Se a Lança de Gelo era a materialização do calor sendo retirado do corpo, as bolas de fogo tinham que ter a ver com queimar algo. Enquanto isso, Modelar Vontade, uma das artes marciais que aprendi, pega a aura (a força de combate) e a converte diretamente em poder ofensivo.
Isso devia funcionar contra uma forma de vida espiritual, e como eu já sabia usar projéteis mágicos, controlar minha aura ficou fácil. Mas, ooh, se eu começar a expandir minha aura, todos saberão que sou um monstro. Ou seja…
Bem, vamos testar uma coisa… Usando cuidadosamente um pouco da minha aura, a converti de volta em força mágica, combinando com a energia de magículas que normalmente se usa para conjurar uma magia. Para um ser humano com poucas magículas fluindo em suas veias, precisaria reunir a energia necessária na atmosfera. Porém, como um monstro, eu podia pular essa etapa. Meu suprimento era tão grande que poderia usá-lo a qualquer momento.
Então, peguei essa nova quantidade de força mágica pura e apliquei diretamente em minha espada, como se a embrulhasse em papel. Imaginei o ato de fortalecer, fatiar e destruir em minha mente. Ela começou a brilhar, dizendo aos meus instintos que estava pronta.
Relatório. Habilidade extra: Aura Mágica obtida.
No fim, a fortifiquei ainda mais do que o esperado. Basicamente, Aura Mágica era uma habilidade que me permitia adicionar facilmente magia a ataques com minha própria aura. Uma espécie de combinação de magia com artes marciais. Agora tudo que eu tinha que fazer era cortar.
No momento em que minha espada encostou no Demônio Inferior, ele foi partido ao meio, virando pó e desaparecendo.
— Fiz como pediu. Então, passei no exame de rank B?
Os espectadores saíram de seu transe.
— Nooooosssaaaa!! Isso foi tããããão legal!
— Ei, ei, ei, ei, ei! Esse cara é forte demais!
— Você está brincando comigo…?
— Ei, tire essa máscara por um segundo! Quero ver seu rosto!
— Oh, para que isso? Ei, ignore esse idiota! Vamos festejar mais tarde nesta noite, beleza?
Foi um verdadeiro alvoroço.
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Foi tudo rapidamente silenciado pelo aparecimento de uma pessoa.
— Basta, todos vocês!!
Um grito de Fuze foi o suficiente para acabar com a confusão. Ele ignorou a multidão enquanto se aproximava de mim.
— Senhor Rimuru, você está… bem, eu acho? Se algo acontecesse com você, seria um desastre para todos nós.
Ele olhou para mim por apenas um momento, aliviado, antes de ficar irritado e se virar para Kabal.
— E o quê diabos vocês estão fazendo…? Eu pedi a vocês um milhão de vezes, não foi, para simplesmente levar o Senhor Rimuru diretamente a mim? Não fazer desvios? Então, porque eu o encontrei assim, hein?
Veias azuis apareceram acima de sua testa enquanto ele fazia uma careta para o trio. Foi bastante impressionante, e fez os três congelarem no lugar, dando desculpas como “Hm” e” Bem, sabe” e “Eu tentei impedi-los…” Mas Fuze não engoliu nada disso.
— Silêncio, seus idiotas! Deste momento em diante, serão conhecidos como os Três Tolos de Blumund!!
— Pera aí, espera um pouco…
— Não fizemos por mal! Rimuru disse que queria se tornar um aventureiro, então…
— Podemos ficar com um nome melhor, por favor?
O pedido foi rapidamente negado.
— Vocês têm merda na cabeça? Eu poderia ter usado meus privilégios como mestre da guilda para simplesmente conceder ao Senhor Rimuru uma licença de rank B sem ele ter que passar por nada disso!!
Isso estava se transformando em uma baita de uma bronca. Também deixou claro à multidão que eu era o convidado pessoal de Fuze e um cara muito poderoso.
Não demorou muito para que eu estivesse de volta ao escritório de Fuze. Os Três Tolos se ajoelharam humildemente no chão enquanto Fuze permanecia sentado, passando a mão para cima e para baixo na testa, agoniado. Thegis estava parado bem ao lado dele, parecendo estar extremamente desconfortável.
— Tenho que dizer, Senhor Rimuru, você realmente poderia ter feito melhor do que se destacar tanto logo após sua chegada. Não deve haver mais do que um punhado de pessoas neste mundo capazes de derrotar um Demônio Inferior com um único golpe de espada. Aquilo foi algum tipo de arma mágica? Um encantamento ou a arte marcial Espada de Aura não produziria tanta força em um golpe. Ah, imagino que os fofoqueiros vão fazer festa nas tabernas hoje a noite…
— Foi uma ideia tão ruim assim? Tipo, se você estava me assistindo, poderia ter me impedido.
— Eu não tive tempo para isso, Senhor Rimuru! — Fuze suspirou. — Mas o que está feito, está feito. Uma arte que aplica magia a uma arma é uma habilidade de alto nível, mas sei que paladinos são capazes de tal proeza. Alguns aventureiros de rank A no quartel-general da Guilda Livre têm habilidades exclusivas parecidas com essa, então não é algo tão surpreendente assim. Mas ser capaz de derrotar demônios com isso? A menos que você queira uma multidão de pessoas te assediando aonde quer que vá, recomendo que tome cuidado com o que for fazer. Mais tarde você pode se arrepender por se tornar conhecido por isso.
Na opinião de Fuze, esse era o resultado do fracasso do trio de Kabal em seguir suas ordens, mas, como ele disse, havia uma fresta de esperança:
— A multidão era toda formada de ranks C para baixo, então tenho certeza que nem conseguiram entender o que estavam vendo.
Ao que parecia, Espadas mágicas, ou espadas infundidas com Aura Mágica, eram bem mais usadas discretamente, onde não havia nenhuma testemunha ocular. Ainda bem que descobri isso cedo.
— Bem, obrigado. Vou tomar mais cuidado.
Mas é uma pena. Mais um teste e eu poderia estar no rank A. Se Fuze fosse me tornar um aventureiro honorário de rank B, eu gostaria de ter uma chance de ir até o fim. Também tinham ranks especiais A e S, mas ser apenas A já fazia as pessoas te tratarem de uma maneira bem diferente.
— Uma pena, eu estava tão perto do rank A — murmurei.
— Ahh, isso não seria possível — respondeu Thegis. — Não porque você não é forte o suficiente para isso, Senhor Rimuru, mas porque os regulamentos estabelecem que um ramo da guilda pode conceder no máximo o rank B. Você precisaria trabalhar e alcançar a classificação B+ antes de ter o direito de fazer o teste.
Ao ir de E para D, de C para B, estaria livre para pular ranks e conseguir um superior, caso estivesse pronto para isso. No entanto, se falhasse nesse exame, precisaria acumular pontos suficientes antes de tentar novamente. Porém, para se qualificar para o exame de rank A, era necessário ter um portfólio de trabalho em campo estabelecido, e ele só era oferecido no quartel general da Guilda Livre. Examinadores de até A- podiam lidar com qualquer teste de rank B, mas quando se tratava de um teste de rank A, precisava ser realizado por alguém de rank A ou superior. O que fazia total sentido. Então, só terei que seguir a orientação de Thegis e aumentar minha pontuação.
— Ainda assim — disse Thegis com a cabeça abaixada —, sua força é nada menos do que surpreendente, Senhor Rimuru. Achei que você era um charlatão, visto que foi Kabal que te recomendou…, mas vejo que estava tremendamente enganado.
— Ah, não seja tão mau, Thegis!
— Você realmente confia tão pouco na gente?
— Dá um tempo, senhor!
E, assim, Thegis e eu passamos a nos conhecer melhor, independentemente do quanto o trio ali reclamasse disso. Felizmente, seriam capazes de restaurar seu nome, cuidando um pouco mais de mim durante o resto da jornada.
Então, naquela noite, traçamos nossos próximos planos. Era eu, meus amigos aventureiros, Fuze e Thegis. Minha missão principal, obviamente, era me encontrar com Yuuki Kagurazaka, com quem acreditava compartilhar uma pátria. Fuze já havia escrito a carta de apresentação que pedi para o Kabal; aceitei com gratidão e a coloquei em meu estômago, para que não a perdesse. Se apenas conseguissem produzir algum documento de identidade para mim, seria perfeito.
— Acho que seus documentos estarão prontos amanhã de manhã. Só diga à pessoa no balcão que você me conhece que eles te entregam rapidinho.
— Acho que aquela senhorita no balcão também estava no meio da multidão, Chefe. Aposto que ela virou uma fã sua!
— Ooh, pode ter virado mesmo. Quem não viraria depois de uma luta daquelas?
— Sim. Foi muito boa de assistir.
— Isso me entristece como examinador, mas tenho que admitir que a luta foi impressionante.
Todos esses elogios de Thegis e da equipe de Kabal estavam começando a me envergonhar.
— E é por isso — ressaltou Fuze —, é por isso que eu esperava premiá-lo o quanto antes com seu credenciamento, para que você pudesse manter sua força em segredo. Já que vai se destacar, não importa o que faça.
Kabal encolheu os ombros.
— Sim, uh, desculpe por isso.
— Sentimos muito! — Elen e Gido gritaram em uníssono.
Mas, sério, eu deveria ter tomado mais cuidado. Estar em uma grande cidade humana me deixou tão animado que devo ter perdido um pouco o juízo.
— Tentarei não ser tão precipitado da próxima vez, então espero que os perdoe pelo que fizeram, Fuze.
Por hora, o mestre da guilda parecia disposto a deixar isso passar. Nosso plano, então, era terminar as preparações até o fim do dia seguinte e partirmos o mais rápido possível… mas Fuze tinha outras intenções.
— Na verdade — disse ele —, o rei de Blumund queria ter uma conversa confidencial com você.
Minha chegada já devia ter chegado aos seus ouvidos. Aparentemente, ele estava interessado em fazer uma conferência em três dias. Concordei na hora. Antes disso, planejamos conversar com um nobre bem influente que Fuze conhecia, a fim de discutir as questões em torno do relacionamento entre nossas nações. A cúpula real então se concentraria nessas questões, isso evitaria que ficasse “atolada e sem rumo”, como disse Fuze, já que encontrar o rei sem itinerário seria uma perda de tempo. Os decretos reais, ocasionalmente, vinham diretamente do rei quando havia pouco tempo, mas isso era raro, e não estávamos com pressa, então o rei só desejava conversar sobre as questões mais amplas.
Não tive problemas com isso. Se tivesse três dias de folga antes do meu encontro com o rei, precisava preencher esse tempo com algo. Além disso, provavelmente ficaria uma pilha de nervos despreparada, de qualquer maneira, então saber o que esperar com antecedência me ajudou muito.
Assim, nossos planos para o dia seguinte e para dentro de três dias foram estabelecidos. Nossas conversas continuaram até tarde da noite, tão tarde que acabamos ficando no quarto de hóspedes da filial da guilda de Fuze.
Mais uma coisa que devo acrescentar: apesar da novidade de estar em uma cidade humana e de todas as experiências que tive aqui até então, infelizmente não explorei nenhuma nova fronteira com meus sonhos naquela noite.
Tradução: Another
Revisão: ZhX
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