Sobre Quando Reencarnei Como um Slime

Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 03 – Cap. 03.1 – A Congregação

 

 

O Reino de Farmus era uma vasta nação, uma espécie de porta de entrada que conduzia às diversas nações do oeste.

Essas nações não tinham laços diretos com o Império Oriental. Em vez de relações oficiais, elas tinham mercadores poderosos que assumiam pessoalmente a responsabilidade de distribuir os produtos demandados entre as duas terras. A maior parte desse comércio informal passava pela Nação Armada dos Anões, que — publicamente, pelo menos — era neutra e, portanto, dava seu consentimento tácito para as mercadorias que iam e vinham entre eles.

Parte do território de Farmus era adjacente ao Reino dos Anões, o que significa que qualquer um que vivesse em uma das chamadas Nações Ocidentais teria que passar por Farmus para chegar a Dwargon. Isto é, a menos que eles estivessem dispostos a abrir caminho pela Floresta de Jura. O caminho de Farmus era muito mais seguro e livre de monstros e, mesmo com as tarifas e impostos aplicados, ainda resultava em uma jornada mais lucrativa. Nenhum comerciante em sã consciência optaria por evitá-la.

Tudo isso significava que não apenas produtos raros do Império Oriental, mas também armas e armaduras anãs de alta qualidade, poderiam ser obtidas pelas Nações Ocidentais através do mercado de comércio informal com Farmus. Isso tudo tornou a capital de Farmus, Marris, uma cidade comercial bem financiada e em expansão, lar de pessoas de todo o mundo, ganhando o apelido de “porta de entrada” para o oeste. Também significava que os cofres do reino estavam cheios a ponto de transbordar, tanto com os impostos cobrados dos comerciantes quanto com as receitas dos comerciantes mais abastados, pagos em troca de serviços diversos.

Entre as nações do oeste, certamente era a mais rica ou estava muito próxima dela.

 

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Nidol Migam, Conde de Migam, estava indignado.

Farmus era, de fato, um reino rico, mas tanto poder era direcionado para seu governo central que praticamente nenhuma dessas riquezas alcançava a nobreza encarregada de administrar suas regiões mais remotas. A redistribuição de riqueza era um conceito estranho por aqui e o condado de Migam nunca pareceu ver qualquer alívio dos impostos que deveriam coletar de seus cidadãos.

Como acontece com outras nações, eles eram tributados com base em suas safras agrícolas — e, no entanto, também eram encarregados ​​de defender suas fronteiras contra as ameaças postadas pela floresta. Essa era a fonte atual da indignação do Conde de Migam.

— Você já ouviu algo tão ridículo? — Ele cuspiu, lembrando-se do que o ministro das finanças acabara de lhe dizer. Só lembrar disso fez seu sangue ferver: O Dragão da Tempestade desapareceu e, portanto, os pagamentos de suporte especial do governo central serão encerrados a partir de hoje. E foi isso, não é permitido questionar ou debater. Depois de ser convocado para a capital, depois de ser forçado a esperar por três horas.

Esse estipêndio era uma grande ajuda para eles, certamente. As terras do conde iam direto para a Floresta de Jura, tornando-a uma pedra angular da defesa da fronteira de Farmus, mas esse não era apenas o problema de Migam, era um problema que pairava sobre todo o país.

— E ainda assim… de todas as coisas paternalistas que eles poderiam ter feito…!

Nidol estava com tanta raiva que ele não pôde evitar verbalizar seus pensamentos. Havia muito a considerar. Ele tinha que pensar em como manter o condado funcionando.

Selado ou não, Veldora, o Dragão da Tempestade, era um monstro especial de classe S e, portanto, ignorado por sua própria conta e risco. Com o desaparecimento agora de conhecimento público, talvez fosse compreensível que tais pagamentos de auxílio “especiais”, isto é, provisórios, não fizessem mais sentido.

Mas o momento não poderia ter sido pior. O Dragão da Tempestade era uma ameaça para os monstros também e não haver mais o dragão significava não haver mais um suserano para mantê-los sob controle. Eles precisavam fortalecer suas forças na fronteira, no mínimo, para toda a atividade de novos monstros; e então eles perderam seu orçamento para isso.

Isso, em poucas palavras, era o que irritava Nidol no momento.

O governo pode ter razão, mas para o Conde de Migam, isso não importa.

Como faço para proteger minha terra agora…?

Mercenários custam caro, aventureiros da Guilda Livre não eram confiáveis quando o problema viesse. Agora era exatamente quando o governo deveria estender uma corda de salvamento para ele. Eles eram tolos sem talento, falhando completamente em entender a situação.

Se, que os céus me livrem, as terras de Nidol Migam fossem engolidas por hordas de monstros, isso custaria a Farmus toda a confiança depositada nela por países vizinhos e mercadores de grande escala. Seria o governo quem pagaria o preço por isso e, neste exato minuto, estava se preparando para a ruína.

O conde continuou a amaldiçoar seus superiores baixinho. Nada disso era responsabilidade dele. Ele sabia disso, mas ainda assim…

Ele suspirou em sua carruagem, sua mente um pouco mais tranquila. Não sobrou ninguém se não a família real para pressionar… Lembrou-se do rosto do rei. Isso o encheu de desespero. A pura avareza daquele homem nunca permitiria que ele se importasse com o destino de algum pedaço de terra de fronteira. Seria uma blasfêmia dizer isso em voz alta, mas esses eram os sentimentos honestos de Nidol.

Sem o pretexto do Dragão da Tempestade para sustentá-lo, o Conde de Migam poderia até ser forçado a aumentar os impostos.

Seu território delimitava apenas duas outras áreas: Farmus Central e a floresta. Não havia razão para se preparar para a invasão de outros países e, portanto, não havia necessidade de fixar um exército permanente. A força territorial do conde, encarregada de expulsar monstros e feras mágicas, não contava com mais de cem cavaleiros.

O número fez Nidol estremecer.

Tecnicamente falando, o conde estava pegando o estipêndio especial e embolsando-o. Os pagamentos eram feitos para manter patrulhas rígidas através da fronteira com a Floresta de Jura, mas nesta região distante, sem a necessidade de um grande exército, tudo o que eles tinham que se preocupar era lidar com monstros. Com a ascensão da Guilda Livre na última década ou mais, também, os custos de despachar monstros caíram muito.

Portanto, todo esse desastre foi uma espécie de punição para o próprio conde, uma recompensa por não ter aprovado as medidas que deveria ter tomado. Ele estava ciente disso, mas ainda era algo amargo para Nidol engolir.

Tudo começou com uma carta da Santa Igreja Ocidental. O anúncio oficial de que o Dragão da Tempestade havia desaparecido veio por meio de um mensageiro mágico e forçou o Conde de Migam a agir.

A Santa Igreja Ocidental era a religião oficial do Santo Império de Lubelius. Adoravam um único deus, Luminus, como sua divindade absoluta e serviam como sede do que era geralmente a maior religião praticada nas nações ocidentais. Essa ampla fé era por um bom motivo, haviam paladinos em seus exércitos, cavaleiros sagrados que ostentavam poderes de rank A e além e eram confiáveis ​​e reverenciados como especialistas confiáveis ​​na matança de monstros.

O credo central da Igreja girava em torno de erradicar monstros do mundo e, portanto, sempre que uma nação menor tinha um problema com essas criaturas que não podia controlar sozinha, a Igreja enviava forças de paladinos cruzados para ajudá-los.

Uma organização tão virtuosa, trabalhando para o bem dos fiéis, nunca enviaria informações falsas a seu povo. A Igreja já o estava alertando sobre monstros cada vez mais ativos na floresta; tinha que ser verdade, concluiu Nidol. Por isso, ele relutantemente procurou reforçar sua própria força de cavaleiros. Cem seriam suficientes para simplesmente patrulhar a floresta, mas se os monstros saíssem do controle, estar despreparado para isso seria um problema. Seus cavaleiros precisavam permanecer no mesmo lugar, essa foi sua conclusão.

Então, citando disposições de emergência, ele chamou cavaleiros aposentados e outros semelhantes, aumentando com sucesso sua força para três vezes o tamanho original, mas isso ainda não acalmou seus medos. Levaria pelo menos dez anos, ele pensou, para uma nova hierarquia se tornar conhecida entre os monstros. Contar com cavaleiros aposentados para resistir a essa longa, longa década seria difícil.

Requisitar aventureiros da Guilda Livre colocaria pressão em suas finanças. Pedir um esboço de emergência era o último recurso. Por enquanto, ele teria que esperar por uma equipe forte de voluntários.

Os aventureiros assumiriam de bom grado o papel de caçadores de monstros na floresta, mas isso tinha um preço… um preço que aumentava dependendo da classificação de perigo concedida. Tê-los permanentemente estacionados em Migam estava fora de questão, mas se o pior acontecesse, ele ainda precisava considerar explorar seus recursos. Ele já havia usado a maior parte do estipêndio especial do governo, mas seu condado ainda não estava enfrentando uma crise financeira, na maior parte, esses fundos iam para seu entretenimento pessoal de qualquer maneira.

Agora, enquanto os aposentados estavam de volta à força, Nidol percebeu que precisava criar uma nova geração de jovens cavaleiros de uma vez. Era, ele imaginou, a melhor medida que poderia tomar no momento. Então, canalizou todos os fundos de estipêndios especiais futuros para a força, junto com parte de seu próprio dinheiro; não havia por que economizar agora.

E pareceu funcionar. Com o tempo, parecia que tudo iria se encaixar. E então o governo central o convocou e retirou seu financiamento. Quem poderia culpar Nidol por perder a paciência? Não que ser um governante preguiçoso e fraudador lhe fornecesse muita simpatia…

Em sua carruagem, ao voltar para casa, Nidol continuamente vasculhou seu cérebro, tentando descobrir o que deveria fazer a seguir. Sua mente estava cheia de questões financeiras. Não havia mais espaço nela para os problemas ainda mais espinhosos que o aguardavam em breve.

 

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Ao chegar de volta ao seu próprio condado, o Conde de Migam foi saudado com um pedido de Franz, o mestre da guilda local, para uma reunião. O conde concordou, querendo discutir como defender a terra no futuro, e marcaram uma conferência para o dia seguinte.

O mestre da guilda estava praticamente respirando no seu cangote, implorando que agora não era hora de agir mansamente. Franz era, na maioria das vezes, um líder calmo e equilibrado, e vê-lo tão alterado era uma preocupação. Isso fez Nidol temer o pior, então ele ignorou o procedimento usual e imediatamente deu permissão para a reunião.

— Este é um relatório não verificado, mas dizem que um Lorde Orc apareceu. — No dia seguinte, Franz deu apenas um breve olá e disse a ele.

— … O que você disse? Um Lorde Orc?! E o que quer dizer com não verificado?

Quase fez o bom conde desmaiar no local. Era uma crise séria e apenas sua raiva o mantinha em pé enquanto confrontava Franz.

Imperturbável, Franz continuou seu relatório, declarando que aventureiros do reino de Blumund tinham ouvido rumores sobre o Lorde Orc.

— Gostaria de sua ajuda para avaliar a natureza desta ameaça. Para ser exato, gostaria que você enviasse uma força exploratória para nós.

Não havia nada de incomum nesse pedido do sereno mestre da guilda ao conde meio histérico. A Guilda Livre não era uma instituição de caridade e não era filiada a nenhum governo. Eles existiam em cooperação, mas não dentro da estrutura do condado.

— Se quiser que lidemos com esta investigação, poderíamos aceitar isso, a um preço especial de emergência…

— Silêncio! Sua doninha avarenta!!

Olha quem está falando, Franz pensou, permanecendo em um silêncio composto. Ele sabia que o assunto precisava ser examinado de qualquer maneira. Franz tinha o dever de manter os membros de sua guilda em segurança; ele não iria expô-los a missões perigosas sem uma recompensa adequada.

Normalmente, solicitações de caça a monstros como essa precisam seguir um determinado procedimento. Uma cidade ou vila registraria um pedido oficial, fornecendo todas as informações relevantes para a Guilda Livre. A guilda então usaria relatos de testemunhas oculares e similares para atribuir um nível de perigo ao monstro — ou monstros — em questão, às vezes enviando pessoal apropriado para examinar mais a fundo o problema.

Os regulamentos da guilda ditavam que, para trabalhos particularmente arriscados, a pré-avaliação era ainda mais vital para garantir que a classificação certa fosse atribuída. Se você queria um monstro morto, você precisava de vários aventureiros — as regras da guilda estabelecem três ou mais — de nível semelhante ou superior para enfrentá-lo.

As promoções eram concedidas aos membros com base em sua capacidade de derrotar um determinado alvo cara a cara, mas com base em considerações de segurança, tais duelos não eram a norma durante os negócios da guilda. Isso porque, mesmo se um grupo de aventureiros fosse contra um monstro, se a disparidade de nível fosse significativa, eles provavelmente seriam eliminados; ou, na melhor das hipóteses, obteriam uma vitória ao custo de várias mortes e ferimentos graves para os sobreviventes.

Tudo isso significava que Franz não poderia simplesmente lançar um pelotão de homens e mulheres corajosos contra um monstro no momento em que ele fosse avistado.

Normalmente, eles teriam tempo para fazer uma abordagem mais gradual, mas eles estavam sendo inundados. Monstros apareciam cada vez com mais frequência nos últimos dias. O lapso de tempo entre aceitar um pedido, enviar pessoas para atendê-lo e voltar estava se transformando em um problema. Começava a não haver aventureiros suficientes para todos.

Eles precisavam de algum tipo de organização que pudesse patrulhar as aldeias, encarregada de lidar com os deveres dos monstros sem ter que registrar um pedido formal. E eles não tinham isso, então, em vez disso, Franz pediu ao conde mais informações. Tudo estava perfeitamente normal.

Ter esta situação tão educada e completamente exposta para ele fez o conde cair em silêncio.

Ele não queria enviar seus próprios cavaleiros para manter sua cidade segura, mas não podia simplesmente deixar as aldeias do interior para se defenderem sozinhas. Enquanto pagassem os impostos, o conde tinha o dever de proteger a todos, mesmo que apertasse o laço com mais força em seu pescoço. A orientação de Franz era perfeitamente lógica, e Nidol não podia fazer objeções a ela. Essa falta de pessoal da guilda foi provavelmente a razão pela qual Franz solicitou essa reunião em primeiro lugar.

E aquele Lorde Orc? Essa besta que consome tudo que encontra? Isso também não era nada para ser ignorado. Ele teria que apresentar um relatório completo ao governo central e pedir reforços. E, como resultado, reunir mais informações era a primeira tarefa. Inteligência confiável era a única coisa que faria aquela burocracia agir.

Portanto, uma investigação era obrigatória e urgente.

— E outra coisa, tenho outro relatório não verificado e acho um tanto difícil de retransmitir para você… — A voz de Franz era grave enquanto o Conde de Migam se preocupava com o que fazer com a força expedicionária.

Seu rosto estava amargo o suficiente para fazer o conde temer o pior.

— Chega de rodeios. Desembucha.

— Mil perdões, senhor. Os exércitos do Lorde Orc supostamente…

— Seus exércitos?! Ele já acumulou tanta força?!

— Sim, fico triste em dizer. E são relatados em um número de… aproximadamente duzentos mil.

— … O quê? Está mesmo falando sério?!

Nidol gritava com toda a força de seus pulmões. Não fez nada para afetar a expressão facial de Franz. Ele não era de fazer piadas, e o conde sabia que isso era verdade, mas era difícil de aceitar. Estava muito longe da realidade.

— E o quanto você tem certeza disso? — perguntou ele, silenciosamente elogiando a si mesmo por não desmaiar.

— Com base em evidências circunstanciais, acreditamos que é bastante provável que seja a verdade.

— Alguma sugestão de como lidar com isso?

— Nossa única opção é determinar em que direção seus exércitos estão indo e decretar medidas de evacuação rápidas…

— Você quer que eu abandone esta cidade?

— Se acredita que tem uma chance de vitória, então não vamos impedi-lo de tentar, mas se nos pedir para participar do esforço, então, infelizmente, não podemos aceitar isso sem ouvir alguns planos estratégicos concretos.

— … Tudo bem — sussurrou Nidol, a cabeça baixa. — Você sabe que não há chance de qualquer maneira.

— Nesse caso, deixarei o desdobramento da força expedicionária em suas mãos.

Com esse lembrete final, Franz saiu rapidamente da sala.

O Conde de Migam pensou por um momento.

Se a cidade teria que ser abandonada ou não, ele tinha que considerar o pior cenário possível. O que significava que seus cavaleiros precisavam ficar parados, mas deviam fazer com que essa expedição acontecesse.

O que devo fazer?

Era como se toda a sua negligência e má administração estivessem voltando para ele como uma onda violenta, mas não adiantava reclamar disso.

Depois de refletir por alguns momentos, Nidol teve o que considerou uma excelente ideia. Tudo o que realmente precisava era de informações sobre a ameaça. Talvez pudesse enviar um mago versado em magia de teletransporte, alguém que pudesse retornar à cidade no momento em que terminasse sua investigação. A equipe de escolta deste feiticeiro não saberia sobre sua própria missão; tudo o que precisavam fazer era protegê-lo até chegarem à floresta. E se ele apenas juntasse alguns dos cavaleiros dispensáveis ​​para construir esta expedição, ele deveria ser capaz de manter os salários que pagou no mínimo.

E se eles conseguissem voltar vivos, então ele poderia lidar com isso. O ponto vital era descobrir para onde o Lorde Orc estava indo.

 

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O grupo que Earl Nidol Migam reuniu em resposta a isso foi chamado de Força de Expedição da Fronteira. Era composto por trinta membros.

Dentro da cidade havia uma instalação correcional que abrigava os pequenos criminosos de Migam, aldeões que se endividaram e tentaram roubar viajantes de fora da cidade; desordeiros presos por provocar brigas nas ruas. Eles geralmente eram colocados para trabalhar ajudando o corpo de cavaleiros, às vezes até servindo como oponentes para os exercícios de combate dos cavaleiros como parte de suas “correções”. Um desses internos foi nomeado líder da força de expedição.

Nidol não perderia um minuto de sono por causa de suas mortes. Eram leves em suas finanças também, como um bônus adicional.

Isso foi tudo o que Nidol pensou em sua seleção, mas o grupo não compartilhava dos motivos do conde.

Pfft, aquele velho ganancioso. Se esta é a liberdade que está nos dando, vamos aceitá-la com alegria, certo?

Esses eram os sentimentos de Yohm, o homem designado para liderar os trinta canalhas da Força de Expedição da Fronteira como uma unidade coerente. Sua pele era bronzeada e flexível, bem esticada sobre os músculos. Ele não era notavelmente alto, mas encará-lo ainda intimidaria um observador casual, fazendo-o temer por sua segurança. Frequentemente, isso era tudo que Yohm precisava para vencer a batalha mental. Isso era apoiado por seu rosto, que não era nada feio, mas seu sorriso gutural e zombeteiro tornava difícil para alguém atrever a se aproximar.

Seus talentos pareciam indicar uma rápida promoção de valentão de rua a chefe de uma gangue de um beco ou outro. Em vez disso, Yohm estava liderando uma força de trinta pessoas nas profundezas da Floresta de Jura.

Fazia uma semana que eles reabasteceram seus suprimentos na última aldeia na fronteira com a floresta. Rommel, o mago e protegido do conde, sentiu-se murchar em torno de Yohm, como se tivesse sido colocado na frente de um feroz tigre comedor de gente. Ele quase podia sentir seus joelhos batendo.

— Então, em que tipo de expedição estamos?

— Eu temo que não possa te dizer. É uma missão secreta.

— Oh-hohh? Que bobagem é essa, hein? Acho melhor você me contar enquanto ainda estou perguntando com educação, entende o que quero dizer?

— Estou dizendo a verdade! Eles também não me deram detalhes, acredite em mim.

— Hum! Entendo, entendo… Bem, tudo bem. Eles usaram magia contratual em nós para nos fazer seguir suas ordens, mas uma vez que isso seja feito, todos nós temos a promessa de nossa liberdade. Certo?

— Sim, exato. O contrato que foi assinado com meu cliente, o Conde de Migam, dizia exatamente isso.

— Sim, e eu estou te dizendo cara, isso é besteira! Como diabos vamos terminar esta missão se nem sabemos o que é, hein? Perambulando pelo meio desta floresta do mal… Você ferrou a cabeça, ou o quê?

Enfrentar todo o impacto da raiva de Yohm fez Rommel se sentir como se fosse desmaiar de medo. Ele entendeu que sua explicação fazia pouco sentido, mas de jeito nenhum ele poderia contar a verdade. Se o fizesse, acharia perfeitamente lógico se o matassem ali mesmo.

— E-escute, nós… recebemos um relatório da Guilda Livre de que algo estranho está acontecendo na floresta. Então, como eu disse a você, nossa missão é usar esta magimenta de captura de imagens para registrar o que está acontecendo e, em seguida, trazê-la de volta para a cidade…

— Oh-hohh! Então você quer morrer, hein? Agora eu entendi. Ou acha que algum feiticeiro de rua como você pode enfrentar um bando de lutadores naturais como nós? Não acredita que esse contrato significa que você tenha o direito de nos tratar como lixo porque não podemos fazer nada, não é?

O coração de Rommel ficou impressionado com a nítida sensação de que aquele homem falava sério. A magia contratual significava que ele tinha que seguir as ordens de Rommel, mas agora ele estava começando a se perguntar se essas coisas funcionavam bem.

— Ah, ahh…

Ele deu um passo temeroso para trás, apenas para de repente sentir algo frio em seu pescoço.

— Ei, chefe, não seria mais rápido matá-lo de uma vez?

Um homem vestido de preto apareceu, como se deslizasse da escuridão. Ele segurava uma faca, completamente preta, que agora estava bem contra a jugular de Rommel.

— Não tão rápido. Eu não estava planejando, caso ele estivesse disposto a falar, mas…

— Não! Não, espere! Vou te contar tudo! Só não me mate…

— Ah, vai? Você está disposto a admitir que só estamos aqui para investigar aquele Lorde Orc?

— Huh?! Como sabia disso?!

— Ha! Qual, acha que eu sou uma criança ou algo assim? Tenho trinta pessoas aqui, pensou que eu não tinha ninguém dentro da guilda que pudesse trocar informações? Te deixei vivo para que pudesse desfazer aquele contrato conosco, só isso. Então… O que acontece a seguir depende de você, eu acho. O que vai ser?

Rommel, sem hesitar, decidiu liberar a magia contratual. Ele claramente não tinha muito tempo de vida agora e o tom de voz de Yohm indicava que era melhor não o desafiar muito. O terror tomou conta do coração de Rommel a ponto de ele estar disposto a fazer qualquer coisa que Yohm mandasse.

— Ainda bem que temos um cara aqui que ouve a razão, hein? Esqueça de ser usado e abusado até a morte! Enfim conseguimos ser livres de verdade!

— Então, o que vamos fazer com ele?

— Por favor! Poupe minha vida, pelo menos!

A voz de Rommel estava trêmula, seu rosto molhado de lágrimas, enquanto os homens de Yohm se aproximavam dele.

— Bem, esperem um pouco agora. Tenho certeza que ele tem pelo menos Procurar Vida lançado nele. Não podemos deixar este mago morrer sem sermos capazes de relatar os resultados de sua missão.

— Tudo bem, então… o quê? Se você está dizendo que temos que vigiá-lo todas as horas do dia, prefiro matar o homem.

Rommel mal se sentia vivo enquanto ouvia Yohm discutir com seu bando.

— Sim, sim, esperem. Ele é um mago, esqueceram? Talvez ele consiga algumas coisinhas por nós, hein?

— Sim! Sim, eu faço! Qualquer coisa!!

— Sim, vocês ouviram isso? Ele até nos libertou desse contrato e tudo mais. Eu não me sentiria muito bem em matá-lo, mas o que vocês acham?

— Bem, ainda assim…

— Não vou contar a ninguém! Juro que não vou contar a ninguém, acreditem em mim! Por favor!

Sendo empregado pela nobreza desde que se formou em sua academia de magia, Rommel não era exatamente um sábio do mundo. Yohm nunca teve a intenção de matá-lo; ele só queria colocá-lo para trabalhar. Rommel era muito ingênuo para perceber isso. Tudo o que ele podia fazer era implorar a Yohm por qualquer tipo de ajuda que pudesse oferecer.

— Ei, que tal isso, chefe? Jagi é um místico; talvez ele possa conjurar um feitiço para colocá-lo sob nossa escravidão?

— Dahh, de jeito nenhum! No meu nível, Rommel vai resistir com certeza.

— Eu não vou! Prometo que não vou oferecer resistência! Por favor, faça!

— Excelente. Alguém tem alguma objeção a isso? Porque, pessoalmente, não me importaria de tê-lo por perto como nosso conselheiro.

— Faremos tudo o que você disser, chefe!

— Se é isso que quer, mano, não tenho queixas.

Os homens de Yohm disseram suas falas, exatamente como eles pensaram de antemão. Rommel caiu direitinho, aceitando o feitiço de ligação mística em um esforço para fazer Yohm acreditar nele. O estratagema desmoronou imediatamente depois, quando todos começaram a rir dele, mas, para o mago, era um ponto discutível.

Um ponto discutível, mas Rommel ainda não tinha problemas com isso. Esse malandro de rua, Yohm, exalava uma espécie de magnetismo maligno que era difícil de expressar em palavras. Um que poderia fazer qualquer jovem inocente e de mente aberta perder o equilíbrio ao longo do caminho.

Este foi o início de uma Força de Expedição da Fronteira verdadeiramente livre; uma força livre das coleiras do Conde de Migam e com um mago que seguiria humildemente Yohm aonde quer que ele fosse.

 


 

Tradução: Nero

Revisão: Taiyo

 

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