Sobre Quando Reencarnei Como um Slime

Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 03 – Cap. 02.2 – A Invasão da Lorde Demônio

 

Poucos minutos antes, Milim, a Lorde Demônio, avistou a cidade abaixo dela. Era um lugar bonito, fileiras de edifícios bem organizados, árvores atraentes ao longo das ruas da cidade. Era uma cidade que parecia existir em perfeita harmonia com a natureza e ela podia dizer que vários nascidos da magia de alto nível, com classificação A ou superior, viviam lá.

A maior surpresa de todas, no entanto, foi que mesmo os residentes comuns da cidade também eram, pelo menos, pessoas nascidas da magia de baixo nível. Seu potencial mágico variava, mas eram todas criaturas com inteligência, pensando por si próprias e realizando o trabalho que lhes foi designado.

Nada parecido com essas pessoas existia na Floresta de Jura antes deste ponto. Ver tal cenário aparecer praticamente da noite para o dia seria normalmente impensável. Todos estavam trabalhando juntos, independentemente de suas diferenças de força. Milim não conseguia nem imaginar que tipo de habilidade de liderança era necessária para que todos seguissem isso.

Isso a animou como poucas coisas fizeram recentemente, e usou sua habilidade única reveladora da verdade, Olho do Dragão, para avaliar as habilidades das pessoas na cidade. Incrível, admiravelmente pensou consigo mesma. Inacreditavelmente, quase todos os residentes da cidade eram monstros nomeados.

De jeito nenhum, todo mundo aqui tem nomes?!

Pela primeira vez em vários séculos, Milim sentiu uma mistura de choque e excitação emanando de seu coração. De jeito nenhum poderia se incomodar em fazer algo assim, dar uma parte de seu próprio poder vinha com a chance de nunca o ter de volta. Qualquer nascido da magia em sã consciência nunca tentaria algo tão perigoso. Em um mundo onde o vencedor leva tudo, igual a este, não havia nada mais desagradável do que deixar seu próprio poder fluir para longe.

Milim riu um pouco. Ela estava feliz. Isso…! Que bom que dissuadi todos de virem até aqui!

No momento em que seu encontro terminou, Milim já estava saindo porta afora, mas instintivamente sentindo que precisava estabelecer um pouco mais de terreno, também se envolveu em discussões diretas com dois Lordes Demônios que poderiam apresentar problemas. No decorrer das negociações, foi bem simples: não coloquem um dedo na floresta, ou terão Milim como sua inimiga. E eles terminaram com um acordo mútuo.

Clayman, Carrion e Frey eram a geração mais jovem; aos olhos de Milim, poderiam fazer o que quisessem; ela tinha certeza de que poderia dominá-los se houvesse necessidade, mas havia alguns Lordes Demônios que até ela considerava um pé no saco. Isso também se aplicava ao contrário, entretanto, desde que fizesse um ou dois acordos com antecedência, não precisava se preocupar com eles se intrometendo em seus assuntos.

Agora estava feliz por ter feito o esforço. Tinha a sensação de que estava prestes a conhecer alguém muito especial e ninguém iria interrompê-la. Vamos começar, pensou, rastreando este nascido da magia…

Ela assinou a proposta de Clayman pelo mesmo motivo de sempre: uma maneira de passar o tempo. Enquanto respirava, a rotina de seu dia-a-dia era simplesmente entediante, sempre que algo interessante aparecia, sempre ia atrás. O que quer que aquele nojento nascido da magia de baixo nível, Gelmud, estivesse tramando, não importava; a única motivação de Milim era ver o quão forte o lorde orc resultante se tornaria. Se Gelmud o trabalhasse para se tornar um novo Lorde Demônio, tudo bem. Estar por perto para o momento mágico, imaginou, acrescentaria um pouco de tempero ao tédio usual.

Gelmud falhou, é claro, e dadas as expectativas que Milim havia acumulado sobre isso, a decepção a atingiu com bastante força, mas as imagens que Clayman posteriormente mostrou foram o suficiente para concluir que o lorde orc não importava mais.

Sua habilidade única, Olho do Dragão, permitia que vislumbrasse a verdade por trás de tudo o que via, algo que funcionava até mesmo através das esferas de cristal de Clayman. Não era uma imagem completa, mas fornecia informações suficientes para despertar o interesse de Milim. O misterioso nascido da magia que lutou contra Gelmud possuía poder suficiente para colocá-lo muito além de um nível meramente alto. Carillon e Clayman podiam não ter notado, mas não havia como esconder de seu Olho do Dragão.

Ela também tinha um palpite sobre quem matou Gelmud, alguém que então ganhou o poder de Gelmud para si próprio, permitindo que evoluísse para quase um passo de distância do status de Lorde Demônio. Devia ter sido uma batalha inspiradora.

Espera… Talvez não. O lorde orc só poderia evoluir para uma criatura de nível Lorde Demônio. Este nascido da magia já está muito além disso…

E então viu que, assim como imaginou, foi apenas o misterioso nascido da magia que sobreviveu. Ela esquadrinhou a cidade a partir dos céus, satisfeita consigo mesma.

Quando construíram uma cidade como esta?

Havia pessoas fazendo a manutenção das estradas, pessoas carregando a madeira cortada de um lado para outro, monstros entrando e saindo dos canteiros de obras. Estavam claramente construindo sua própria cidade.

O próprio castelo de Milim foi feito por mãos humanas, os devotos que a adoravam como uma deusa. Foi construído para funcionar como um templo e, na realidade, as pessoas não eram nada mais do que um incômodo, mas nunca interferiam em suas atividades. Para ela, não valiam nada, mas para eles, servir Milim lhes valeu um milênio de paz. Suas terras foram reconhecidas como terras dela e, portanto, estavam a salvo de qualquer coisa, incluindo uma invasão de Lorde Demônio. Nenhum Lorde Demônio reclamou disso; poucos sequer tinham o direito de reclamar sem sofrer com as consequências.

Mas, graças a isso, a vida entre seus crentes estagnou. Estavam se afogando em serenidade e nenhum ousou se desafiar a tentar coisas novas. Simplesmente seguiram em frente, de geração em geração, obtendo felicidade absoluta por servir a Milim. Um marasmo de mil anos.

Os habitantes desta cidade são bem diferentes daqueles velhos tolos chatos…

Ela não estava ali porque queria novas pessoas para adorá-la. Buscava algum novo estímulo, algo para afastar o tédio, essa era a única razão. Se Clayman ou Carillon queriam mais poder de guerra, estava disposta a entregá-lo assim que estivesse entediada. Ela tiranizaria os jovens Lordes Demônios, observaria eles cozinhando em seus próprios sucos e, uma vez que estivesse satisfeita, pensaria em algum novo jogo para jogar.

Esse era seu plano original… mas o misterioso nascido da magia era muito mais forte do que qualquer um dos Lordes Demônios imaginava. Ela não poderia simplesmente deixar esse cara em paz e estava velha demais para que alguém lhe dissesse o que fazer. Poderia lutar e matá-lo, ou…

Agora, os outros jovens Lordes Demônios não estavam presentes em sua mente. Havia encontrado, aquele com os poderes da classe lorde demônio nesta cidade.

Wah ha ha ha ha! Ele realmente cresceu à altura de um Lorde Demônio!!

Então mergulhou para frente, esperando ansiosamente por sua presa.

 

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De alguma forma, consegui evitar deixar “Um Lorde Demônio?!” escapar alto. O que alguém como ela estava fazendo?! Não tive que perguntar se era real, pois a força absoluta que exalava por todos os poros estava entre as mais fortes que eu já tinha visto. Era tão opressora quanto Veldora. Além disso… quero dizer, essas pessoas não mandam seus subordinados para trabalhos como esse? Ou, tipo, um dos quatro sub-chefes? Algo parecido? Queria repreendê-la, mas optei por não fazê-lo.

Mas como deveria responder a ela…? Estava na forma de slime e sabia que minha aura não estava vazando. Tinha me acostumado a controlar minha magia ultimamente e podia contê-la até certo ponto, sem pensar ativamente sobre isso. Para um observador desinformado, eu deveria parecer apenas um slime fraco. Sabia disso porque criei uma cópia de mim mesmo e executei Sentido Mágico nela; a única aura que liberei foi a que veria de um slime na floresta, em qualquer lugar.

Se esta Lorde Demônio visse através disso, definitivamente não era alguém com quem se mexer. Não adiantaria tentar enganá-la. De qualquer forma, eu não tinha ofensiva que pudesse usar com ela. Melhor não tropeçar e fazer algo para irritá-la.

— Bem, boa tarde — falei, olhando para ela de perto. — Meu nome é Rimuru e sou o líder desta cidade. Estou impressionado que você reconheceu este slime como a presença mais forte aqui.

Na verdade, podia ser Hakuro. Foi o que pensei, mas não havia necessidade de dizer.

— Hee hee hee! Isso é coisa de criança para alguém como eu. Meu Olho do Dragão pode medir toda a energia mágica que as pessoas tentam esconder de mim. Não tente bancar o bobo perto de mim, ouviu? — Ela se gabava com orgulho.

Seu peito estava esticado para enfatizar sua magnificência, embora o tamanho do fosse, digamos, decepcionante. Poderia dizer só de olhar que ainda não estavam totalmente desenvolvidos. A roupa minúscula tornava ainda mais impossível de esconder. Eu, é claro, era um adulto muito maduro para mencionar isso em voz alta. Não sou estúpido o suficiente para dançar em um campo minado óbvio como aquele.

Mas ela tinha uma habilidade parecida com a minha Analisar e Avaliar, hein? Não adianta tentar esconder nada, então. Isso era um pouco perigoso, minha própria análise revelou que ela tinha uma clara vantagem de poder e tenho certeza de que seus níveis de habilidade estavam muito acima dos meus.

Eu não poderia vencer. Se brigássemos, acho que nada funcionaria contra ela. Poderia juntar minhas habilidades para manter as coisas equilibradas e ganhar algum tempo, mas isso é tudo. Isso fez com que o Desastre Orc parecesse brincadeira de criança.

— A propósito — continuou ela —, é assim que você realmente se parece? Então aquela pessoa de cabelo prateado que vi espancando aquele vagabundo do Gelmud era uma transformação?

Ela sabia daquela luta? Ou ouviu sobre isso de Soei, ou alguém estava nos observando. Sabia que Gelmud estava, mas nem pensei que alguém também estaria observando ele. Então seus planos vazaram desde o início, ou Gelmud não passava de outro fantoche, apenas outro personagem do grande show. Ele fez menção de que tinha o suporte de um Lorde Demônio, pensei que estava apenas sendo um mau perdedor, mas talvez tivesse algumas conexões em posições elevadas. Alguém neste nível, por exemplo.

— Ah, você quis dizer isso? — falei enquanto me transformava. Estava sem minha máscara; não havia necessidade de esconder minha aura.

— Oooh, era você! Então você derrotou o Lorde Orc? Pensei que tinha, tipo, consumido Gelmud e se transformado em um Lorde Demônio.

A Lorde Demônio Milim parecia gostar muito dessa novidade. Então sabia que Gelmud estava morto, mas nada além disso, hein? Talvez eu pudesse esconder um pouco a verdade… mas ainda parecia perigoso. A honestidade era provavelmente a melhor política.

— Impressionante! Sim, o Lorde Orc evoluiu para um Desastre Orc, mas… bem, lutei e venci de qualquer maneira, eu acho. Então… — Tentei mudar de assunto. — Você está aqui apenas para dizer olá, ou posso te ajudar com algo? Você não está aqui para, digamos, se vingar por Gelmud, está?

Se respondesse sim a isso, estaríamos condenados, mas ela não parecia o tipo de pessoa que recorresse a tamanha mesquinhez. Poderia insistir para que eu me tornasse seu vassalo em troca de perdão, mas é isso. Além do mais, não havia muito mérito em nos apagar do mapa. De qualquer maneira, porém, precisava descobrir o que ela queria e como pretendia alcançar seu objetivo.

— Hmm? Me ajudar? Hum, só estou dizendo oi, mas…

— …

— …

Um silêncio constrangedor. A Lorde Demônio Milim e eu nos encaramos sem palavras por um tempo. Então:

— Prepare-se para morrer!!

Com um grito, Shion cortou a Lorde Demônio.

Toda a força que esta Lorde Demônio exalava devia ter tirado a compostura de Shion no momento em que ela me alcançou. Estava tentando atacar primeiro e ganhar a vantagem, acompanhada por uma sombra preta ultrarrápida; Ranga, saltando de uma sombra no chão, da mesma forma se lançou para Milim. Foi um ataque de surpresa total, cronometrado de forma que mesmo se um ataque fosse defendido, não haveria como lidar com o próximo.

Mas não contra Milim.

— Wah ha ha ha ha! Ah, você querem brincar comigo?

Com uma risada provocante, Milim parou a espada de Shion com a mão direita, balançando o braço esquerdo como se fosse golpear Ranga para longe. Ouviu-se um clang agudo, como se alguém martelasse metal sólido e a espada parou de repente. Ela pegou a espada longa diretamente contra sua pele, e não a machucou nem um pouco. Ranga, enquanto isso, foi jogado para trás por uma onda de choque invisível, todos os pelos de seu corpo se arrepiaram. Só percebi depois que tudo acabou que seu golpe com o braço esquerdo havia desencadeado uma onda de choque mais rápida do que o som.

— U-Uau, espera, pessoal…?!

No momento em que pude dizer a eles para pararem, já estavam fazendo seus próximos movimentos.

— Nem mesmo um Lorde Demônio pode escapar desta teia restritiva.

Usando Ranga como uma distração, Soei usou Fio Demoníaco para capturar Milim. Benimaru, entretanto, estava se preparando para envolvê-la em uma Explosão de Chamas Infernais.

— E agora, o golpe final. Queime até ficar crocante!

Foi um ataque impiedoso, feito com pleno conhecimento de que se tratava de um Lorde Demônio. Colocaram cada grama de energia que tinham nisso. Imagino que tenha sido a melhor ideia que tiveram para lidar com algo assim, mas…

— Wah ha ha ha ha!! Impressionante! Se fosse qualquer Lorde Demônio, exceto eu, não tenho certeza se esse tipo de ataque os deixaria ilesos. Vocês podem até serem capazes de derrotá-los! Mas…

Sua aura começou a se expandir rapidamente. Então, outra onda de choque, como se um vulcão tivesse acabado de entrar em erupção no local. Ela não havia desencadeado um ataque ou feito nada de verdade, tudo o que fez foi liberar a aura que estava mantendo contida.

— Não vai funcionar em miiiim!

Em um momento, a teia que restringia Milim foi despedaçada em pedaços finos. Ela teve sua liberdade de volta e, embora fosse um pouco tarde para dizer isso, a Lorde Demônio era demais. Tentar usar truques baratos ou sobrecarregá-la com números nunca iria funcionar. Como disse o Rei Gazel, dos Anões, os nascidos da magia de alto nível eram classificados como calamidade ou perigos de classe desastre. Um Lorde Demônio era um desastre e certos tipos de dragonoides (como Veldora) eram temidos como “catástrofes”.

Agora podia ver por mim mesmo. Isso era uma catástrofe. A Lorde Demônio diante de mim tinha força como uma tempestade uivante da natureza, algo que nenhum ser humano poderia contestar. Uma pessoa, representando uma grande ameaça. Que pesadelo, mas era a nossa realidade.

E então…?

Nesse exato momento, todos os meus quatro aliados, Shion, Benimaru, Soei e Ranga, estavam no chão. Não mortos, mas certamente fora de combate. Entretanto Shion e Benimaru ainda encontraram forças para tentar se levantar, dando-me a chance de fugir.

— Senhor… Senhor Rimuru… Por favor, fuja…

— Nós podemos… cuidar di…

Eu sabia que era impossível e sabia que escapar não era uma opção. Além disso, não tinha exatamente muito respeito próprio, mas nem mesmo eu poderia jogar fora meus amigos e fugir sozinho.

— Vocês só fiquem aí e descansem. Eu cuido disso.

— M-Mas…

— Se eu desistir, isso acaba, então farei o que puder, certo? — Dei de ombros. — Só não esperem muito.

Isso pareceu acalmá-los um pouco. Não havia como fugir e eu tinha que tentar, pelo menos.

— Hohh? — A Lorde Demônio me deu um sorriso curioso, acenando para mim com uma mão. — Você quer me enfrentar? Isso é divertido!

Bem, claro, se colocar dessa maneira. Se é nisso que se tornou, não adianta tentar ser modesto. É hora de blefar e fazer barulho para sair dessa.

— Claro, pelo que posso dizer, há apenas um ataque que tem chance de funcionar contra você.

— Oh?

— Acha que tem confiança para tentar resistir a isso?

Francamente, eu sabia muito bem que nada do que pudesse fazer venceria isso. Como posso explicar…?

Entendido. A fase mensurável indica um suprimento de energia mágica pelo menos dez vezes maior que o seu, na melhor das hipóteses. Na pior, é incomensurável.

 Suponho que o Sábio expressou isso muito melhor do que eu. E a contagem de magículas de alguém não era tudo, realmente, mas ser superado dez vezes era uma diferença um pouco intransponível. Não é de se admirar que o melhor dos ataques dos ogros não tenha funcionado.

Portanto, há apenas uma estratégia para tentar. Se fosse garantido que nenhuma de minhas habilidades funcionasse, teria apenas que formar um plano usando os itens que tenho comigo. Tudo isso, é claro, pressupondo que Milim caia no meu plano.

— Wah ha ha ha ha! Tudo bem. Parece divertido para mim, mas se não funcionar, prometa que vai se tornar meu servo, certo?

Ooh, foi um golpe de sorte. Ela é ainda mais generosa do que eu pensava. O fato de que não iria nos matar, apesar de nosso ataque preventivo, foi uma grande vitória. Em vez disso, poderíamos ser apenas seus lacaios pelo resto da vida. Isso já serve.

— Tudo bem, tem minha palavra, mas se isso acontecer, vai deixar minha equipe ficar impune, combinado?

— Tudo bem. Vamos começar!

Aceitando meu desafio, Milim me lançou um olhar de expectativa. É melhor eu corresponder às expectativas dela. Com um chute no chão, corri com todas as minhas forças em direção a ela. Sem remover minha espada, corri direto em sua direção e criei uma pequena esfera de água na palma da minha mão. Ela observou, cheia de curiosidade, enquanto eu me aproximava a toda velocidade. Ela poderia dizer exatamente como eu estava me movendo, então sabia que nenhum truque barato funcionaria.

— Toma essa!

— Mmmm…?!

Parei bem na frente da Lorde Demônio, então joguei a esfera de água nela. Ela parecia descontroladamente perplexa com isso, sabendo muito bem que não era exatamente um ataque. É por isso que ela deixou respingar nela, sem contestação… direto em sua boca.

Este pouco de água não foi um ataque, de forma alguma. Estava lá apenas para garantir que o item que eu tinha para ela não vazasse no meio da entrega. Agora era só uma questão de Milim se interessar pelo item ou não. Todo o nosso destino dependia da reação dela.

— O que… o que é isso…?! Nunca provei nada tão delicioso na minha vida!!

Ela gritou a plenos pulmões, claramente animada. Sua pequena língua fofa estava lambendo as gotas grudadas em seus lábios. Ufaa. Parece que a vitória é minha.

— Heh heh heh! O que há de errado, Lorde Demônio? — Sorri enquanto conjurei outra esfera de água para mostrar a ela. — Encoste um dedo em mim e o segredo por trás do que acabei de te dar será perdido e enterrado para sempre, mas se aceitar que ganhei, vou lhe dar um pouco mais disso. O que acha?

Os olhos de Milim estavam fixos na esfera, seguindo-a enquanto eu a lançava no ar. Não poderia estar mais encantada. Eu estava começando a sentir que poderia sair disso ileso.

Na verdade, era um pouco do mel que Apito estava coletando para mim depois que o resgatei. Estaria mentindo se dissesse que pensei que seria útil em um momento como este, apenas escondi em mim porque queria comê-lo mais tarde. Eu não tinha comido nada açucarado desde que cheguei neste mundo.

Finalmente fui capaz de desfrutar de uma comida decente com este corpo, então queria satisfazer meu desejo por doces em seguida. Mas! Mesmo quando perguntei para Shuna, ela disse que doces eram considerados itens mega luxuosos e quase nunca encontraria nenhum. A única maneira de provar algo doce era, falando realisticamente, comendo frutas. Os reinos do oeste e o Império Oriental aparentemente cultivavam açúcar, mas raramente saía de suas fronteiras, e não por um preço que uma pessoa comum pudesse pagar.

Bem, que assim seja. Primeiro virei meus olhos para o mel, imaginando que começaríamos com algo simples. Nesse caso, sorte que ajudei Apito quando tive a oportunidade. Ainda não estávamos em condições de produzir mel em massa, tive que trabalhar muito para obter esse pequeno suprimento dele, então, por mais culpado que isso me fizesse sentir em relação a todos os outros, estava escondendo para mim mesmo.

Enquanto isso, a Lorde Demônio Milim estava claramente em um impasse. Podia ver que ela estava tendo um conflito interno, intercalado com “Nnnhh… Mas… Mas…” e outros murmúrios. Fiquemos duplamente seguros disso. Joguei a esfera com a qual estava brincando na minha boca.

 

 

 

— Mmmm, isso é bom!

— Ah!!

— Uau. Muito bom. Ops! Estou quase sem.

— Quêêê?!

Isto é divertido. Ela é como uma criança, pronta para ser atormentada.

— Então, vai admitir que ganhei?

— Espera… Tenho uma sugestão.

— Vamos ouvir.

— Chamemos isso de empate. Que tal chamarmos de empate desta vez?

— E o que eu ganho por concordar com isso?

— Vou esquecer tudo o que aconteceu.

— Oh?

— Isso também não é tudo! Juro que não vou me meter com vocês de jeito nenhum! E, sabe, se tiver algum problema, pode falar comigo sobre ele, que tal?!

Eu venci!

Sua força era avassaladora, mas, por dentro, ela era exatamente a criança que parecia. Contra as habilidades de negociação de um adulto, não tinha chances. Sim, adultos jogam sujo.

Claro, tentar extrair qualquer outra coisa dela seria perigoso, ela era uma Lorde Demônio de classe catástrofe, e se eu espetasse seu lado ruim ainda mais, corria o risco de minha cidade ser transformada em cinzas. Decidi jogar minha mão antes que ela mudasse de ideia.

— Parece bom para mim. Eu aceito. Então vamos chamar de empate.

Tinha um estoque razoável sobrando, então coloquei um suprimento generoso de mel em um frasco e entreguei a ela. Não era um frasco chique, era deformado e feito à mão a partir do barro, mas Milim ainda o aceitou com um sorriso, pegando um pouco e engolindo com gosto.

O perigo se foi. Ela estava de bom humor e a catástrofe mais sem precedentes que já atingiu nossa cidade terminou antes mesmo de começar.

 

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Terminei de curar os ogros e comecei a voltar para a cidade quando percebi que Milim estava me seguindo. Ah, cara. Achei que tinha me safado dessa, então presumi que ela voltaria para casa, mas meus planos já estavam falhando.

Segurando o pote de gotas de mel com cuidado, a Lorde Demônio acompanhou meus passos ao meu lado, em sincronia. Ela quer mais mel? Eu tinha um suprimento, mas nenhuma intenção de deixá-la ficar com mais. Não queria que minha parte fugisse de mim.

— Ei — perguntou ela, se aproximando de mim enquanto caminhávamos. — Ei, já pensou em se denominar como Lorde Demônio ou tentar se tornar um?

O que diabos ela está falando…?

— Por que iria querer me apresentar dessa forma? — perguntei.

Ela me lançou um olhar genuinamente perplexo em resposta.

— Huh? Quer dizer… Estamos falando de Lordes Demônios, aqui! São muito legais, sabe? Você meio que quer… ser como eles, certo?

— Não.

— Huh…?

— Huh?

Parecia que Milim, a Lorde Demônio e eu, víamos as coisas de maneiras muito diferentes. Nós olhamos um para o outro.

— Bem, deixe-me perguntar: Você consegue alguma coisa boa em ser um Lorde Demônio?

— Huh? Hmm, bem, um monte de caras fortes procuram você para tentar começar brigas. É divertido!

— Já estou entrando em brigas o suficiente por agora, obrigado. Não estou interessado.

— O quê?! Bem, como você se diverte?

— Ah, com todos os tipos de coisas. Há praticamente coisas demais para eu fazer, de todo tipo. Acabei de colocar minhas mãos naquele mel. Há muitas outras coisas que quero também, então realmente não tenho tempo para ser um Lorde Demônio. Ou há algo além de lutar?

— Não, mas… pode agir cheio de si perto de humanos e nascidos da magia…?

— Isso não é, tipo, chato?

A pergunta fez com que Milim fizesse uma careta como se tivesse sido atingida por um raio. Acho que era meio chato. Eu estava tão certo que ela não tinha nada a dizer.

Estávamos quase de volta à cidade, e se ela estava tão chocada com isso, eu meio que desejava que fosse embora e me deixasse em paz.

— Bem, acho que agora você conhece minha história. Tenha cuidado no seu caminho de volta para casa, certo?

Achei que essa era uma maneira muito prática de dar uma dica. Estava errado.

— Espera! V-Você…?! Está fazendo coisas mais divertidas do que ser um Lorde Demônio? Isso não é justo! Isso é totalmente injusto!  Agora estou irritada. Me diga o que é! E também me deixe acompanhá-lo!!

Fiz o meu melhor para não chamá-la de criança mimada bem na cara. Ela era uma Lorde Demônio; irritá-la poderia ter consequências inesperadas. Sério, apenas pensar nela como uma criança tornava muito fácil lidar com ela. A julgar por nosso confronto há apenas um momento, era super fácil, como um adulto, falar perto dela. Não poderia tentar ler alguém assim profundamente, basta contornar o egoísmo dela e empurrar a conversa em sua direção, essa é a verdadeira chave para isso e, nesse sentido, eu já estava tratando Milim como os filhos de meus parentes.

— Tudo bem, tudo bem. Vou te dizer, mas com uma condição. Pode começar a me chamar de Senhor Rimuru a partir de agora?

— O quê? Não! Você está louco! Deveria ser o oposto. Você devia me chamar de Lady Milim! Não vá me tratando pelo meu primeiro nome assim…

Opa. Talvez eu tenha ficado um pouco arrogante? Ela parece e age como uma criança, mas irritar uma catástrofe ambulante em potencial pode ser letal.

— Bem, espere um segundo. Acabamos de empatar na nossa última luta. Tudo bem, não é?

— Nnngh…

— Tudo bem. Vamos fazer assim, vou chamá-la de Milim e você pode me chamar apenas de Rimuru. Parece bom?

— Mmmmhh… Bem, tá. Entendi! Vou permitir que me chame apenas de Milim. É melhor apreciar isso! Apenas meus amigos Lordes Demônios têm permissão para isso.

— Bem, obrigado. Acho que agora somos amigos também, hein?

— Huh?!

Apesar de todas as faíscas, havíamos superado nossa disputa de nomenclatura. Apenas chamávamos uns aos outros pelos nossos próprios nomes; sem títulos honoríficos ou qualquer coisa assim.

— Certo, bem, vou te dar um tour pela cidade, mas sem ficar vagando por aí sozinha, tudo bem?

— Certo, Rimuru! Ee-hee-hee!

A Lorde Demônio Milim, apenas Milim para mim, estava estranhamente alegre.

— Excelente. Boa garota, e nada de começar brigas na cidade sem minha permissão, promete?

— Claro! Eu prometo, Rimuru!

Até aí tudo bem. Mais fácil do que eu pensava, inclusive. Provavelmente ficaria tudo bem.

— Muito bem, Senhor Rimuru. Domando a Lorde Demônio selvagem tão rapidamente…

— Não deveríamos esperar menos do Senhor Rimuru!

— Vou deixar o Senhor Rigurd ciente disso… e dizer para tomar cuidado para não irritar a Lorde Demônio.

O feedback dos ogros magos também parecia positivo o suficiente. Ainda sem reclamações. E se tivessem alguma, não adiantaria muito as apresentar à Lorde Demônio, pensei enquanto guiava Milim em direção à cidade.

A propósito, parecia que chamar a si mesmo de Lorde Demônio era uma boa maneira de fazer com que os outros Lordes Demônios o punissem. Se não pudesse provar sua força, o expulsariam do clube.

Uau. Isso foi realmente por pouco. Se eu me declarasse um Lorde Demônio, como Milim estava quase me forçando a fazer, eu começaria a ser vigiado por Lordes Demônios de verdade. Não que Milim não fosse uma, mas, de qualquer forma, me esquivei de uma bala sem perceber. Ouvindo essa história depois, me dei um tapinha mental nas costas por recusar a isca.

 


 

Tradução: Nero

Revisão: n2ny

 

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