Uma manada de cavalos alados voava sobre a cidade. Olharam de soslaio para nós enquanto os observávamos, dando voltas ao redor do espaço aéreo da cidade algumas vezes antes de pousar em um campo aberto logo além de suas fronteiras. Também tínhamos um pouco de espaço aberto na cidade, as áreas onde planejávamos construir a maioria de nossas instalações centrais, por exemplo, mas suponho que não pousaram imediatamente na cidade por educação. Isso seria quase uma declaração de guerra, não seria, se uma nação fizesse isso com outra? A lei internacional provavelmente não se aplica a monstros, e eu nem tinha certeza de que tal coisa existisse neste mundo…
Não adianta pensar nisso.
Mais pertinentemente, agora tínhamos a confirmação de que o rei anão estava liderando o grupo. Isso era um pouco mais importante, assim como a garantia de que não queria nos atacar à primeira vista. Ele teria feito isso sem hesitação se nos visse como inimigos.
Talvez Kaijin estivesse certo? São apenas reforços ou algo assim? Não se esta for supostamente uma força secreta, e não se o próprio rei estiver em campo.
Deixando os esforços de evacuação para Hakuro, Kurobe e Gobta, saí da cidade para recebê-los. Acompanhando-me estava Rigurd, que insistiu que as negociações com o mundo exterior estavam em sua jurisdição. Supondo que tivéssemos espaço para negociar…
Obviamente, Kaijin e os três anões também estavam comigo.
Os cavaleiros estavam alinhados em fileiras organizadas no campo além da cidade. Na frente estava aquele cuja força de presença dominava todos eles. Estava flanqueado por quatro guarda-costas, cada um obviamente várias vezes mais forte do que o resto do grupo.
Contando o próprio Rei Gazel, isso significava que cinco anões incrivelmente poderosos estavam diante de nós. Eu não sabia exatamente que tipo de ameaça representavam, mas eram pelo menos A. Considerando a aura de perigo que senti quando fui colocado na frente dele pela última vez, e considerando que a aura ainda estava lá, sua força estaria em outro nível. Se eu tivesse que supor, seus quatro compatriotas vinham de seus dias na estrada como Rei Heróico. Não admira que seu reino fosse tão forte. Se topasse com esses caras na estrada, correr seria a melhor aposta para sobrevivência, com certeza.
Realmente temos que evitar o combate. Caso contrário, a coisa vai ficar feia.
— Ora, ora, Vossa Majestade. Já passou muito tempo… e também foi uma exibição bastante impressionante! Posso perguntar o que o traz aqui hoje? — Kaijin deu um passo à frente e ajoelhou-se diante de Gazel.
Pensando bem, eu nunca conversei diretamente com Gazel. Eu não tinha permissão para voltar ao seu reino, de acordo com a tradição dos anões. Em vez disso, incapaz de me defender, fomos transformados em criminosos, Kaijin deu um soco no nobre Vester, mas ainda assim…, e quase transformados em trabalhadores forçados. O rei deles era um governante justo e correto o suficiente para que pudéssemos evitar isso, então imaginei que ele não iria começar uma guerra sem uma explicação justa, mas se o fizesse, eu estava preparado para lhe dizer poucas e boas.
— É um prazer vê-lo novamente, Kaijin… e você também, slime. Lembra de mim?
O rei foi surpreendentemente casual conosco enquanto eu avaliava sua abordagem.
Estamos acabando com as formalidades desagradáveis? Eu alegremente me perguntei quando senti algo sombrio e ameaçador por trás.
Em um piscar de olhos, o sorriso de Benimaru desapareceu e ele tinha uma mão firme em sua espada, aparentemente não era um fã do rei me chamando apenas de “slime”.
Soei, por outro lado, manteve a calma suprema, o leve sorriso em seu rosto dizia a todos nós como ele se sentia. Estava indignado. Ele normalmente não tinha expressão alguma, mas deixe-o bravo e vai te mostrar um sorriso. Um homem perigoso para se brincar, e era muito engraçado como a única maneira de fazer Soei sorrir era induzi-lo a matar.
Benimaru podia ter um temperamento explosivo, mas pelos padrões de ogro mago, estava mostrando uma contenção notável.
Enquanto isso, a aura que senti de Shuna e Shion também não era algo a ser ignorado. Elas estavam mostrando o oposto de contenção, ativamente exalando perigo com cada fibra de seu ser.
A situação estava preta. Eles ainda respeitavam minhas ordens o suficiente para cumpri-las, suponho, mas se algo mais acontecesse, estariam propensos a explodir a qualquer momento. Eu precisava resolver isso antes que saíssem do meu controle.
Enquanto me preocupava com isso, percebi que o próprio Kaijin estava profundamente perturbado com a saudação do rei.
— M-Meu soberano?! — gaguejou ele, os olhos prontos para saltar de suas órbitas.
Aparentemente, este não era o Gazel que Kaijin conhecia, mas, para mim, isso era um bom sinal. Significava que o senhor de um reino havia se dado ao trabalho de visitar pessoalmente, acabar com todas as bobagens de procedimento e começar a trabalhar comigo. O fato de ele não ter mandado logo de cara os seus cavaleiros para cima de nós foi, por si só, uma vitória. Independentemente do quanto isso irritasse os ogros, eu tinha que aproveitar essa chance.
— Hahaha! — irrompeu o rei. — Vejo que sua cabeça está inflexível como sempre, Kaijin. Não percebe? Vim aqui estritamente como um cidadão. Pelo menos no papel. Caso contrário, dificilmente teria permissão para sair do meu próprio quarto.
Kaijin, ainda perturbado, trocou olhares com seu rei e comigo. Percebendo que ninguém na cena tinha mais comentários, ele entendeu que Gazel estava falando a verdade. Foi difícil de engolir. Então ficou paralisado.
Enfim. O rei anão não estava nos fazendo uma visita oficial, mas sim um pouco de turismo? Então, por que todos aqueles cavaleiros de aparência sinistra atrás dele? Hmm. Pensando nisso, nunca permitiriam que um rei simplesmente andasse pela floresta sozinho. Deviam ser guardas enviados com ele para apaziguar os anciãos e burocratas que formavam o núcleo do governo anão.
Bem, se estamos acabando com o procedimento, não vejo razão para não falar com ele diretamente. Confiando no meu palpite de que Gazel não queria conflito, decidi adotar uma abordagem otimista.
— O que significa, senhor, que sou livre para falar o que quiser?
— Claro que sim. Este não é um lugar para nos permitirmos ser limitados por uma cerimônia formal.
— Certo. Bem, deixe-me apresentar-me primeiro. Meu nome é Rimuru. Você tem razão quando diz que sou um slime, mas prefiro que não me chame assim. Quer dizer, sou meio que o líder da Grande Aliança da Floresta de Jura, então você poderia dizer que as coisas mudaram um pouco desde a última vez. — Aproveitei este momento para me transformar em minha forma humana. — Isto aqui não é exatamente quem eu sou, mas acho que é mais fácil para conversar.
Eu sorri, esperando sua reação.
— Ele… Ele se transformou?!
— Um nascido da magia… e de alto nível.
— Hmm. Eu sinto a força mágica, mas nenhum uso de magia em si. Uma transformação de status baseada em habilidades, eu diria. Não sinto nenhuma explosão repentina de magículas, então é provável, como disse, ser simplesmente uma mudança de aparência, não de natureza. Mas isso pode mudar seu método de batalha. No mínimo, ser capaz de empunhar equipamentos como o nosso poderia aumentar seus próprios poderes ofensivos e defensivos.
— Parece um problema… Faz um bom tempo que não vejo uma variante rara como essa. E os monstros por trás disso são bastante estranhos!
— Hmm — disse uma idosa entre eles. — Estes eu posso identificar. São ogros magos, uma raça tão rara quanto os lordes orcs.
— São? Essa é a forma evoluída de um ogro, não é? Não deveríamos dar um jeito neles antes que fiquem fortes demais para lidarmos?
— Você acha que seria fácil assim? Quatro deles carregam chifres. Teríamos que nos preparar para uma luta intensa.
— Odeio parecer fracote, mas, sim… Melhor não subestimá-los.
O rei observava em silêncio, mas seus companheiros pessoais pareciam bastante nervosos. Eles até adivinharam o que Benimaru e seus amigos eram. Aquela velha devia ter usado algum tipo de magia para nos avaliar em busca de dados. Eu não gostava de ser avaliado assim, mas estava em grande parte fora do meu controle. Precisava mostrar um pouco de força, ou então pisariam em mim. Mesmo se sobrevivêssemos, eu com certeza não queria ser subserviente a esses caras.
— Silêncio! — berrou o rei de repente, sem tirar os olhos de mim. — Chega desse tumulto. Este slime e eu estamos conversando. Perdão, Rimuru, quero dizer. Vou avaliá-lo por mim mesmo e agradeceria se todos vocês segurassem a língua dentro da boca enquanto isso.
Foi uma pura demonstração de força e deixou todos em silêncio.
— Sim, uh, desculpe se assustei a todos. Acabei de me transformar porque pensei que seria mais natural para você. Exatamente como aquela senhora disse, este é o trabalho da minha habilidade, Mudança de Forma Universal. Uma forma de mimetismo, por assim dizer. Então não precisa pirar com isso.
— Eu que irei julgar isso. Eu dificilmente acreditaria nas palavras de alguém, a menos que estivesse razoavelmente certo de que fosse um amigo… ou inimigo.
Verdade. Amigo ou inimigo, hein? Pode ser por isso que o Rei Gazel está aqui, então: para descobrir exatamente quem diabos somos. Se eu tivesse que adivinhar, ele sabia sobre a derrota do lorde orc, e isso o obrigou a se mover. Contanto que eu pudesse ganhar sua confiança, não havia necessidade de ser hostil.
— Bem — arrisquei —, pode duvidar de mim o quanto quiser, mas não podemos realmente manter uma conversa assim, podemos?
— Não precisa se preocupar. Não necessito de palavras para julgar seu caráter. Em vez disso, usarei minha espada para avaliar sua verdadeira natureza. Se você insiste nessa tagarelice obscena, chamando-se de “líder” desta floresta, pode ser hora de mostrar a você o seu lugar. Se essa sua espada não é mera decoração, peço que aceite meu pedido.
Com isso, ele entregou a alabarda que carregava em suas mãos para um cavaleiro assistente ao seu lado. Minha espada estilo katana devia ter desencadeado seu desejo de batalha ou algo assim.
— V-Vossa Majestade, com certeza…
— Ha! Que maneira mais rápida de resolver isso do que com um duelo homem a homem? — O rei riu, feroz.
A julgar pelos olhares chocados dos cavaleiros e companheiros de Gazel, seu monarca estava seriamente procurando por uma luta. Eu não tinha motivo para recusar. Ainda estávamos evacuando a cidade, então seria uma maneira útil de ganhar algum tempo.
— Aceito o desafio. E vou fazer você se arrepender de me chamar de tagarela — falei, olhando o Rei Gazel nos olhos.
Nós dois demos um passo à frente, os ogros magos observando atentamente. Tenho certeza de que não achavam que eu poderia perder. O lado do rei também parecia decidido a deixá-lo lutar; ninguém se atreveu a dissuadi-lo da ideia. A multidão já havia formado um círculo, conosco um de frente para o outro no centro.
— Em relação às regras — disse Gazel. — Se você puder bloquear uma única sequência dos meus ataques, pode se considerar o vencedor. Não que precise ser dito, mas você também está livre para me atacar a qualquer momento. Mas, lembre-se: eu sou Gazel Dwargo, Mestre da Espada, e minha lâmina não deve ser levada na brincadeira.
Ele pegou sua arma e apontou-a na frente de seus olhos. Tinha um único gume, com um pouco de curva, e belos arabescos estavam gravados de cima a baixo em seu comprimento. Parecia uma espada de samurai, mas tinha seu próprio design único. Certamente, uma arma muito bem feita para o Mestre da Espada carregar.
Bem quando eu estava me preparando para sacar minha própria lâmina, uma voz clara surgiu.
— Permita-me ser a juíza da disputa!
Ao fazer isso, senti a presença de mais três entre nós, corações puros e desprovidos de maldade. Quem falou foi Treyni, uma dríade com quem eu estava familiarizado. Como sempre, ela tinha um talento especial para aparecer e desaparecer sempre que lhe convinha. As outras duas se pareciam com Treyni, então presumi que estivessem entre as “irmãs” de quem falava.
— Dríades?! — exclamou a senhora idosa que nos avaliou antes. Eu não poderia culpar sua surpresa. Qualquer um ficaria alarmado com um monstro se teletransportando do nada.
Treyni sorriu enquanto nos olhava rapidamente.
— Rei Anão, você está sendo terrivelmente arrogante com nosso líder da floresta. Chamar o Senhor Rimuru de tagarela me diz que está disposto a fazer de cada habitante desta floresta seu inimigo. É isso mesmo? No entanto, se o Senhor Rimuru aceitou este desafio, é meu papel como sua súdita permiti-lo. Farei vista grossa para isso desta vez. Mas confie em sua promessa e não espere misericórdia de nós.
Ela estava disposta a não aceitar contra-ataques para isso. Meus companheiros acenaram um para o outro, foi como se Treyni dissesse o que todos estavam pensando.
Os anões, por outro lado, não pareciam nada bem.
— A presença mais elevada da floresta — sussurrou alguém. — Aliando-se com uma única força…?
— Eles são tão poderosos quanto elementais de alto nível. Três deles! Espero que estejam prontos para isso, meus amigos…
O clima ficou sombrio entre eles.
Era exatamente por isso que eu queria evitar o combate…
— Ha! Ahahahahaha! Portanto, “líder da floresta” não era uma tagarelice, afinal. Peço desculpas por tratá-lo como mentiroso, Rimuru. E acho que tenho uma vaga compreensão da situação aqui. Mas ainda procuro avaliar sua verdadeira natureza. E se tivermos um árbitro para esta disputa, tudo o que resta é cruzar espadas! — Gazel parecia completamente impassível.
Ele estava me observando o tempo todo, sem vacilar.
— É, tem razão. Teremos uma batalha rápida e então podemos conversar sobre o que o trouxe aqui.
— Heheheh… E se você conseguir me vencer, farei o que puder para responder. — Não houve mais um pio da nossa audiência.
Treyni, com o rosto tenso, ficou entre nós dois enquanto nos confrontávamos. A disputa teve início.
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— Comecem! — Soou a voz estridente da dríade sobre o campo silencioso.
E, com isso, Gazel e eu imediatamente entramos em ação.
Minha habilidade Sentido Mágico me permitiu ler todas as informações disponíveis dentro do alcance local e reproduzi-las em minha mente. Usando-a, peguei o campo por completo, como se estivesse olhando para nós mesmos de cima. Acelerando meu processo de pensamento em mil vezes, comecei a considerar minhas táticas.
Fazia muito tempo que eu não tinha dado tudo de mim na batalha. Desde minha luta com Geld, o Desastre Orc, eu não tinha faltado um dia de treino com Hakuro, mas o fato de que nada disso era “para sempre” me impedia de realmente tratá-lo com seriedade, em algum canto da minha mente. Aprimorei todos os sentidos do meu corpo enquanto avaliava meu inimigo.
No momento, minha altura era de cerca de um metro e meio. Consumir o Desastre Orc havia expandido meu próprio armazenamento de magículas, então eu tinha mais tecido viscoso que podia ser usado para todos os fins. O Rei Gazel, por sua vez, tinha um pouco mais de um metro e meio, um pouco maior do que a média dos anões. Acima de uma cabeça mais alta do que eu, e em minha mente, assomava como uma montanha. Seu papel como rei sem dúvidas contribuía para isso.
Ainda assim, mantive meu batimento cardíaco calmo enquanto o observava. Ele tinha sua bela espada até os olhos, fazendo uma abordagem frontal e sem se mover um centímetro. Ele estava pronto para enfrentar qualquer coisa que eu pudesse lhe oferecer, e, realmente, eu não conseguia encontrar nenhuma lacuna para explorar.
Tive a sensação de estar enfrentando Hakuro. Mestre da Espada era algo correto. Ou talvez devesse estar mais surpreso com Hakuro, já que ele foi a primeira pessoa que surgiu à mente quando fiz uma comparação com Gazel.
Independentemente disso, isso não era treinamento. Eu não podia me dar ao luxo de pedir um tempo limite. Vamos testá-lo, então. Gazel falou apenas sobre “uma única sequência de ataques” e eu estava livre para tentar atacar o quanto quisesse enquanto isso. Ou mesmo derrotá-lo.
Quanto mais magistral for o lutador, melhor será a avaliação do espaço ao seu redor. Neste caso…
Usando Fortalecimento Corpóreo para aumentar os músculos das minhas pernas, avancei e ataquei o rei. Ele estava livre para receber o golpe; se tentou responder a isso, tinha ciência sobre a minha armadilha.
Eu tinha certeza de que havia dado a ele dados suficientes para trabalhar antes de entrar em ação, e tinha certeza de que ele leu tudo com precisão e fatorou em sua própria abordagem. O que significava que, se eu pudesse esticar meus braços dez centímetros ou mais enquanto cortava, isso seria o suficiente para ele julgar tudo mal. Não muito… apenas o suficiente.
Talvez essa estratégia pareça baixa, mas definitivamente funciona. Uma das regras mais importantes do combate corporal é não permitir que seu oponente ganhe uma noção sólida de distância. Usei o mesmo truque para acertar Hakuro uma vez. Nunca voltou a funcionar, e Hakuro realmente fez jus ao seu nome de ogro enquanto me mostrava o inferno pelo resto do dia, mas deu certo. Um ponto para mim. E se enganei um mestre como ele, funcionaria neste?
Mas, traindo minha total confiança, Gazel executou um movimento preciso para desviar minha mão, como se esperasse por isso o tempo todo.
Cara! Só pode estar tirando com a minha cara! Eu pensei enquanto preparava minha espada novamente. Gazel não mostrou interesse em contra-atacar, apenas me observando em silêncio. Eu tentei alguns outros ataques, mudando minhas táticas a cada vez, mas ele despreocupadamente encolheu os ombros em todas as ocasiões. Devo mencionar que não estava facilitando para ele. Eu tinha poções comigo, então poderia curá-lo, contanto que sobrevivesse.
Mas minha força total não foi suficiente contra ele. Devagarinho, ele estava me manipulando com a quantidade certa de poder, garantindo que não cortasse com sua espada no processo. Parecia que havia uma diferença clara e avassaladora de habilidades entre nós. Eu estava tão impotente que até tive que admitir.
— O quê? Terminou? Esse é todo o poder que você tem, Rimuru?
Pensando bem, ele não estava me impedindo de usar minhas habilidades. Não seria quebrar as regras, pensei. Mas confiar em tais habilidades parecia basicamente o mesmo que admitir a derrota. Isso me irritou. Eu tinha que dar um golpe certeiro, não importava o que acontecesse. Toda essa luta acendeu uma faísca sob a sequência competitiva que tive desde antes.
— Cale a boca! — gritei. — Eu ainda não usei tudo que tenho, então não me apresse! — Mas ainda não tinha novas ideias. Eu não queria perder, mas não tinha com o que trabalhar. E como se estivesse lendo esse estado de pânico moderado, o Rei Gazel começou a se mover, confrontando-me com uma força de combate incrível. Exposto a essa aura, meus movimentos foram totalmente controlados.
Ah, merda. Estou deixando uma baita abertura para ele!
Relatório. Análise concluída. Essa força é Aura Heróica, uma habilidade extra que é uma versão de nível superior de Coerção. Seu objetivo é fazer o alvo se acovardar e ficar incapaz de se mover. Alvos com baixa resistência se verão submetidos, e até mesmo adorando, ao portador.
Justo quando eu temia o pior, meu parceiro confiável me deu um relatório. Esse é o meu Grande Sábio. Então, como neutralizar?
Entendido. Assim como acontece com a Coerção, a maneira correta de resistir à habilidade é por meio do espírito de luta.
Hum? Espírito de luta? Qual é…
Isso sim é inconfiável. Tive a sensação de que o Sábio estava começando a me zoar de vez em quando.
Mas não há tempo para isso. Preciso sair dessa. Como faço para conjurar o espírito de luta? Gritar pode ajudar, talvez. Eu não conseguia me mover, mas conseguia falar. Se não funcionasse, pensaria em outra coisa.
— Uh… Oraaahhhhh!!
Gritei o mais alto que pude. Isso acabou disparando um Canhão de Voz, uma das especialidades de Ranga, bem em Gazel. Também lancei um raio de Coerção de minha autoria, esperando que neutralizasse a Aura Heróica.
O rei dissolveu o Canhão de Voz sem se preocupar em evitá-lo. Mas ainda distraiu sua atenção o suficiente para que sua aura desaparecesse. Agora estávamos de volta à estaca zero. Nós dois nos encaramos, espadas a postos.
Se fosse assim, a única maneira de vencer seria pelas condições que ele oferecia. Veja através de seus ataques e bloqueie-os. Mas eu não esperava um lutador tão experiente. A profundidade de sua força era insondável. Realmente era como lutar contra Hakuro. Se ele quisesse me matar, provavelmente teria dado um golpe fatal há muito tempo. Ele não fez isso porque, como declarou antes, queria ver do que eu era capaz.
Mas eu não estava pronto para aceitar a derrota tão facilmente. Já tinha me proclamado líder da floresta e precisava fazer tudo para vencer. No mínimo, nunca me permitiria lutar como um covarde na frente de todas essas pessoas.
Limpando minha mente, silenciosamente levei minha espada até o nível dos olhos, de frente para Gazel, pronto para receber suas instruções, como fiz com Hakuro. Se eu conseguir bloquear seus movimentos, vencerei. Banindo todas as dúvidas de minha mente, concentrei-me em me tornar um com a minha lâmina. Aproxime o ouvido de seu som e torne-se um com ela, esse foi o conselho de Hakuro para mim. Eu não tinha ideia do que ele queria dizer, mas humildemente tentei segui-lo.
Observando-me, Gazel sorriu.
— Sim. É isso. Agora, é hora de eu me mover!
Você não precisa avisar isso, pensei. Mas assim como eu, ele desapareceu. Nem uma das minhas habilidades de busca poderia encontrá-lo.
O quê…?!
Foi apenas sorte e coincidência que me permitiram lidar com isso. De alguma forma, eu não tinha motivo para isso, tive a sensação de que o perigo vinha de baixo. Nunca tinha confiado meu destino a tais premonições vagas, mas, desta vez, decidi seguir meu instinto. Talvez tenha sido a “voz da espada” que senti, o que se ouve quando domina totalmente o seu ofício.
Mas ainda não tinha acabado. Pois esta habilidade…
Ah, merda!
No momento em que pensei nisso, segurei minha espada no alto.
Um tiiiing alto e agudo ecoou. A batalha havia terminado. Eu tinha impedido com sucesso o golpe de espada do Rei Gazel.
— Heheheh… Ahh… hahahahaha !! Você me parou!!
— S-Sim. Então, uh, se admite, isso significa que eu ganhei?
— Com toda certeza. Você não parece ser nada mau para mim. — Com outra risada berrante, Gazel guardo sua espada.
— Essa luta acabou! O vencedor é Rimuru Tempest!!
Com o aviso oficial de Treyni, minha vitória foi completa. Sentei-me no chão, aliviado. A batalha exigiu mais de mim do que eu pensava.
Então este era Gazel Dwargo, o rei anão. De alguma forma, eu senti como se tivesse recebido um vislumbre, apenas um vislumbre da força total desse herói.
Tradução: Taiyo
Revisão: ZhX
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