Sobre Quando Reencarnei Como um Slime

Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 02 – Cap. 03 – O Enviado e a Reunião

Vários dias se passaram desde que eu tinha designado meu pseudo gabinete de Onis.

Assim como eles disseram, as coisas pareciam estar indo bem entre eles e os hobgoblins, Rigurdo incluído. Soei estava fornecendo matérias-primas para Shuna, e ela já estava girando o fio de seda com sucesso. O tecido que ela produzia tinha feito dela o alvo de espanto das goblinas da vila. O que fazia sentido. Comparados aos simples cânhamos da época dos goblins, esse era de outra dimensão.

Shuna estava agora instruindo as goblinas sob a liderança de Ririna – incluindo Haruna, logo na frente – na arte de costurar. A ogra estava agora servindo de fato como a líder da oficina de roupas. Ela também estava trabalhando de forma próxima com o armeiro Garm, trocando opiniões, fazendo roupas confortáveis e tentando melhorar suas produções.

Não demoraria muito para que tivéssemos uma linha de roupas formais e cotidianas à nossa disposição. Eu estava ansioso por isso.

Da mesma forma, Kurobe estava liderando nossa forja de armas. Era uma experiência de aprendizado para ele e para Kaijin, e ambos eram os melhores artesãos nisso.

Kaijin era mais focado em supervisionar a produção em massa – afinal, não era como se uma única pessoa tivesse a resistência para bater metal todos os dias por semana – mas ele ainda tinha muito conhecimento para colher. Ele provavelmente pensou que seria melhor deixar os detalhes da armaria com Kurobe enquanto focava em suas paixões no campo de pesquisa.

Isso já estava dando resultados. Eu o peguei conversando com Kurobee sobre algum tipo de arma que os hobgoblins poderiam usar enquanto montados. Esperançosamente, eles permanecerão como um time sólido por um bom tempo.

Soei, estava liderando um pequeno grupo de hobgoblins enquanto construíam um tipo de rede de segurança pela cidade, alinhada com dispositivos de pequena escala que soariam um alarme se alguém se aproximasse. Ao mesmo tempo, ele estava constantemente reunindo informações e as transmitindo para mim, conforme o necessário.

Isso era graças à Replicação, que Soei agora podia usar para criar até seis cópias de si mesmo de uma vez. Nós também podíamos nos manter atualizados através da Comunicação por pensamento, e como não parecia haver um limite de distância para esses clones, ele poderia enviá-los por toda a terra para realizar a espionagem, se necessário.

Vale a pena ressaltar que os clones gerados por Replicação tinham exatamente as mesmas habilidades em batalha que seus corpos originais. A diferença estava na energia, ou na falta dela. Os clones não tinham nenhuma, na verdade, o que significava que eles não tinham energia o suficiente para lançar artes místicas. Habilidades eram outra história, e usar habilidades como Movimento das sombras e Teia de aço pegajosa não era problema. Que útil.

As habilidades de Soei pareciam mais que um pouco herdadas das minhas, e ele já as dominava completamente. Era interessante, na verdade, ver como pessoas diferentes podiam usar as mesmas habilidades com graus tão diferentes de virtude. Não era como se eu fosse burro, eu acho que era mais como se Soei fosse um gênio nisso.

Pra falar a verdade, eu atualmente tinha enviado um ou dois olheiros meus antes de contratar formalmente Soei para o trabalho. A reunião de informações era uma parte fundamental da minha missão, e se os orcs e lizardmen estavam agindo de forma suspeita, eu não podia simplesmente assumir que o nosso pescoço estava seguro. Os hobgoblins ainda eram amadores nesse tipo de coisa, no entanto. O melhor que eles podiam fazer era observar seus longínquos vizinhos à distância.

Por mais irritante que fosse, eles corriam o risco de serem capturados se chegassem muito perto de alguém, e mesmo se eles escapassem, ainda iriam alertar nossa presença a inimigos em potencial.

Colocar Soei na tarefa foi absolutamente a resposta certa. Esses eram os produtos da Replicação, afinal, se eles fossem capturados, poderiam simplesmente desaparecer. E ter Comunicação por pensamento em mãos era uma grande vantagem – mesmo em um mundo sem celulares — agora nós podíamos conversar e trocar informações mais rapidamente do que antes.

— Eu deveria ir em reconhecimento, Rimuru-Sama? — Eu me lembrei dele perguntando, completamente tranquilo.

— Você se importaria? — Eu disse.

E ele imediatamente respondeu:

— Imediatamente, meu lorde — e simplesmente desapareceu. Uma manobra de Movimento das sombras.

Soei parecia ser cabeça fria, não o tipo de cara que faz movimentos precipitados. Em outras palavras, ele era bem adequado para reconhecimento. O Agente Secreto perfeito.

Benimaru, enquanto isso, estava conferindo como manter essa cidade segura com Rigurdo e os outros anciãos.

Eu tinha estabelecido um novo departamento militar e o deixei no comando, embora o único outro membro no momento fosse Hakurou. Rigur e o resto da força de segurança da cidade estavam ocupados garantindo alimento e recursos naturais; eu não poderia recrutá-los para o exército tão facilmente. Eu provavelmente teria que reorganizá-los em algum momento e em voluntários de campo.

Parecia ser o que Benimaru estava falando sobre com Rigurdo.

— Eu gostaria de criar uma organização adequada para o combate — ele me disse. —, Seleta de candidatos dignos, dispostos a se dedicar ao dever de batalha. Tudo bem para você?

— Claro. — Eu disse. — Parece bom. Me avise quando tiver uma lista útil.

Eu queria deixar tudo com ele, na verdade, mas isso me pareceu um pouco irresponsável demais, até para mim. Eu fui encarregado de tomar a decisão final, e eu tinha que cumprir esse dever, no mínimo.

Ainda éramos basicamente uma coleção de monstros, mas, de pouco em pouco, eu senti como se nós estivéssemos formando atualmente uma nação do tipo. Não era nada que eu pudesse ter feito rapidamente, pelo menos – sem Benimaru e os outros ogros. – Eu esperava poder contar com eles por um tempo.

Isso deixou restando Hakurou, parado na minha frente agora, com a espada de treino de madeira em mãos. Ele era um mestre da espada; não havia dúvidas nisso. Você o subestimava por sua conta e risco. Ele era idoso, mas seu espírito ainda era forte.

Por ter essa nova forma humana e tudo, eu pensei que poderia aprender algumas habilidades de espada por mim mesmo. Isso foi, para dizer o mínimo, extremamente otimista, assim como a perspectiva de aprender novas Artes para mim logo. Minha última experiência com esse tipo de coisa foi nas aulas de educação física do ensino médio, e eu nunca nem mesmo segurei uma espada antes. Não havia como ser tão fácil assim.

Eu pensei que seria um estudo rápido, com Aceleração de pensamento e tudo isso, mas Hakurou rapidamente me ensinou os meus erros. Ele também tinha isso, então eu não tinha nenhuma vantagem desde o início. O resultado final? Eu basicamente fiquei lá e deixei esse Oni me bater por uma hora ou mais.

A facilidade com a qual eu vinha aprendendo habilidades provavelmente tinha me estragado. Ao contrário delas, Artes eram conquistadas estritamente através de treino e esforço combinados. Nunca seria tão fácil para mim. E enquanto magia parecesse um pouco com as Artes, elas essencialmente funcionavam como dois mecanismos diferentes.

Yeesh. Lança de gelo veio para mim assim também, quando eu a absorvi. Não adiantava reclamar, no entanto eu poderia ser capaz de fazer a mesma coisa com Artes também, mas parecia complicado. Não haveria atalhos para isso, eu teria que desistir e admitir que isso precisaria de uma prática constante e intensa.

Oops. Agora não era hora de refletir sobre isso. Eu tinha minha própria espada de treino em mãos. Manifestar-se como adulto diminuía meu tempo de reação, o que significava que eu estava em forma de criança para poder me dedicar completamente a isso.

Ao lançar Percepção mágica, eu aprimorei minha consciência no mundo ao meu redor. Percepção de calor e Super olfato também estavam ativados.

<< Pergunta: Aprimorar Ondas Ultrassônicas para a habilidade extra Percepção de Ondas Ultrassônicas? >>

<< Sim >>

<< Não >>

Ah. Bom trabalho, Sábio. Apenas o que eu estava esperando ouvir. Eu pensei “sim” para mim mesmo, e com isso, eu abri um tesouro de informações – os movimentos, temperatura, cheiro, som, e tudo mais relacionado às magículas nos cercando. – Agora não havia nada que pudesse escapar dos meus sentidos.

Isso me deu uma pontada extra de confiança quando eu assumi Hakurou, sua espada casualmente levantada até seu peito. A próxima coisa que eu senti foi um golpe no topo da minha cabeça. Não poderia ter sido um golpe mais claro – sem dor, sem danos. – Ele não colocou nenhuma força nele. Ainda assim… Isso era habilidade, não velocidade. Nós estávamos em níveis completamente diferentes.

— O que foi isso?

— Hoh-hoh-hoh! Eu chamo isso de ‘Neblina’. — Ele explicou com um sorriso. — Faz parte do meu conjunto de habilidades Ocultar, e quanto mais magia eu investir, mais eu posso diluir a presença que eu projeto. Acredito que você tem a capacidade de obtê-lo, Rimuru-Sama.

Não parecia muito provável. Aparentemente, ele levou um bom século ou mais para aprender, então eu não gostava tanto das minhas chances.

— É, eu… eu com certeza, gostaria, algum dia.

Hakurou assentiu em aprovação.

Isso feriu um pouco meus sentimentos, mas eu não podia fazer muito quanto a isso. Artes não eram habilidades, afinal. Elas levavam tempo. E qualquer vantagem que eu tivesse em habilidades – e eu tinha uma grande, eu tinha certeza – não era nada se comparada ao que Hakurou podia fazer.

Eu não acho que eu estava agindo todo alto e poderoso, mas ele com certeza me humilhou lá. E talvez eu pudesse apenas lançar um Círculo de fogo e acabar com ele, mas esse não era o ponto. Ele era um espadachim. Um nascido como um ogro sem nome, praticando suas habilidades nas sombras incansavelmente, longe da vista do público. Não é à toa que ele era o mais forte em sua tribo. Eu duvidava que ele tivesse mostrado um esforço total, e estava certo de que sua recém-descoberta juventude o tornou mais resistente.

Em um mundo ideal, ele seria conhecido em toda a terra por seus talentos.

Esses eram meus pensamentos honestos.

— Certo. — Hakurou disse, sorrindo como um avô amoroso. — Mais uma vez, então.

Antes que nós pudéssemos fazer outro movimento, no entanto, nós ouvimos o som de um grande sino tocando. Alguma coisa havia acionado o sistema de alarme de Soei. Graças a Deus por isso. Eu não tinha chance de derrotar Hakurou, e eu estava pronto para encerrar o dia. Então nós fomos para a residência de Rigur.

— Eu tenho notícias para reportar, Rimuru-Sama. — Ele disse, meio em pânico. — Um enviado dos lizardmen veio visitar!

Lizardmen? Eu estava esperando essa visita indesejada mais cedo ou mais tarde, mas eu acho que eles estão aqui, huh? À frente dos orcs, nada menos. Vamos ouvi-lo.

Eu me dirigi à entrada da cidade para cumprimentar esse enviado. Eles ainda não haviam chegado, ao invés disso enviando um mensageiro na frente que nos disse para trazer todos para a frente da aldeia. Eu perguntei por que o guarda não só o ignorou, mas ele estava montando num lagarto de montaria, uma grande montaria reservada apenas para cavaleiros, e eu tinha certeza de que isso deve ter feito Rigurdo mijar nas calças.

Se fosse uma tropa de lizardmen no nível de cavaleiros, nenhuma vila goblin teria alguma chance. Elas seriam destruídas. E se um cavaleiro foi o primeiro a nos cumprimentar, eu só poderia imaginar como a equipe principal era. Precisávamos cuidar das nossas maneiras.

Haviam quatro de nós lá na entrada – eu, Rigur, Benimaru e Hakurou. – Eu fiz questão de que todos soubessem ter cautela.

— Polidez absoluta, a menos que eu diga o contrário. — Eu disse.

— Sim, meu lorde. — Rigurdo disse, o resto acenando com ele.

— Hmm? Onde Shion está? — Benimaru disse. Aparentemente, a palavra polidez o lembrou de alguma coisa.

— Oh, eu acho que ela está fazendo um chá se não me engano, mas…

— O-o quê?!

Por algum motivo, Hakurou parecia chocado com a minha resposta.

— Hum, isso é um problema?

— N-não… De jeito nenhum…

— De fato. — Benimaru adicionou. — Ela cresceu. Deve ficar tudo bem…

Isso estava começando a me preocupar. E, como se viu, eu deveria ter ficado alarmado. Shion logo chegou à entrada, providenciando chá. Trabalhando duro como minha secretária, eu pensei. Eu queria elogiá-la por isso, e então eu senti o cheiro.

Hum… Isso é chá, certo? Havia essas folhas estranhas, parecidas com alga marinha, caindo sobre a borda da minha xícara. Isso não poderia ser alguma bebida potável.

Eu olhei para Rigurdo, procurando uma possível explicação. Ele desviou seu olhar. Que diabos? Benimaru, enquanto isso, estava com seus olhos firmemente fechados, sem me dar uma segunda olhada, e Hakurou tinha desaparecido, usando suas Artes para se tornar um com o vento.

Eles sabiam, não é? E o tempo todo, enquanto eu hesitava, Shion estava olhando diretamente para mim, esperando pelo meu elogio.

Como eu deveria elogiá-la por isso? Meus instintos estavam gritando comigo para jogar o copo no chão, mas eu estava condenado a esse destino esse tempo todo…? Por que diabos eu tinha que ser um humano bem agora?! Teria sido muito mais fácil lidar com isso como um slime sem paladar. Bastaria usar Predador para destruir isso, e eu estaria completamente seguro.

Mas era tarde demais para amaldiçoar minha má sorte agora. Fortalecendo minha determinação, eu lentamente estendi a mão para a xícara na mão de Shion. Assim que eu o fiz…

— Oh, chá? Eu estava sentindo um pouco de sede!

Gobuta, recém-recuperado da patrulha, pegou a xícara e a esvaziou com um só gole.

Boa, cara!! Perfeito! Uma salva de palmas para esse homem!! O rosto de Shion agora era uma máscara de pura raiva, mas Gobuta não se deu ao trabalho de perceber. Ou melhor, ele não estava em condições de perceber. Quando uma pequena nuvem de espuma escapou de sua boca, ele imediatamente desabou, se contraindo em um espasmo. Yeesh. Poderia ter sido eu, cara.

Shion olhou confusa, aparentemente não esperando por isso. Havia uma linguagem corporal fofa em sua aparência, mas eu não fui enganado. A partir de agora, ela estava banida de qualquer trabalho envolvendo comida ou bebida.

— Uh, Shion — eu disse —, da próxima vez que você fizer algo que queira que as pessoas comam ou bebam, tenha certeza de passar por Benimaru primeiro, tudo bem?

Benimaru me lançou um olhar congelante. Como se eu me importasse. Você é o chefe, cara. Eu respondi silenciosamente. Você lida com isso.

Ele se juntou à Shion em olhar sem jeito para o chão.

Eu ainda me sentia justificado. Se alguém realmente tivesse se machucado aqui, o que eles fariam então? …Oh, certo, eu acho que Gobuta se machucou, mais ou menos. Mas… Ahh, ele ficará bem. Eu teria que agradecê-lo depois por servir como meu inadvertido degustador. E eu também tinha que contar com Benimaru para impedir que contagem de corpos subisse mais.

Quando nós ouvimos o enviado dos lizardmen trovejando em nossa direção, cerca de uma hora tinha se passado desde o primeiro alarme. Eu voltei à forma de slime, alistando Shion para me segurar em seus braços. Só por precaução, eu expliquei. Eu não podia deixar de me sentir mais seguro como um slime.

Shion também estava animada com seu papel de guardiã, e não havia motivo para criticar isso. Eu aposto que ela quer compensar pelo desastre do chá, além disso imagino como ela fez para limpar a minha casa, pensando bem… Não, eu não devia deixar isso me preocupar agora. Eu afastei os presságios no fundo da minha mente e me concentrei no enviado à frente.

Havia cerca de dez lizardmens, e após um momento, um deles, com o peito estufado, desmontou de seu lagarto de montaria e passeou.

O líder, eu acho?

— Obrigado por me cumprimentarem! Eu darei a essa aldeia, também, a chance de se submeter ao meu domínio e autoridade. Espero que vocês considerem uma honra!

Pense em uma frase de abertura ridícula. Isso não foi muito uma negociação, e sim uma declaração. Eu estava muito pasmo para ter uma resposta fácil. O que esse idiota estava falando? E nenhum dos meus companheiros sabia o que fazer.

— Me desculpe, senhor — Rigur ofereceu —, mas de repente pedir para nós nos submetermos a você assim–

— Pfft! Vocês não ouviram ainda? Aqueles porcos, a raça orc, estão em movimento! Eles atacarão esta vila em pouco tempo. E eu sou o único que pode salvar suas peles, patéticas e insignificantes!

De acordo com esse lizardmen, pelo menos, nós já éramos seus súditos leais.

Certamente, se nós estávamos prestes a sermos invadidos por uma horda de orcs, procurar consolo na direção dos lizardmen seria uma opção. Eu ainda estava esperando pelo relatório de Soei, mas até nós sabermos exatamente com o que nós estávamos lidando, seria útil trabalhar juntos, talvez.

Ainda assim…

— Ah, sim! Eu ouvi que alguns entre vocês domaram a raça dos lobos de presa para cumprir suas ordens. Quem quer que tenha realizado essa tarefa, eu ficarei feliz em apontar como um dos meus conselheiros principais. Tragam eles aqui agora!

Humm…

Ok. Nós poderíamos lutar juntos, sim, mas e se a equipe a qual nos aliássemos fosse um bando de idiotas? “O que devemos realmente temer não é um inimigo competente, e sim um aliado incompetente.” Napoleão ou alguém assim disse isso, certo? Parecia verdade para mim.

Um aliado incompetente não seria nada mais que um obstáculo. Especialmente em um ambiente tão volátil quanto um campo de batalha. E especialmente se o aliado fosse meu chefe. Simplesmente considerar essa ideia me fez estremecer.

Eu dei uma olhada em Rigurdo. Ele estava em silêncio, de boca aberta. Benimaru estava olhando para mim como se pedisse permissão para matar esse cara. Eu não estava muito disposto a dá-la… mas eu ainda não tinha certeza de como reagir. Eu fiquei sem palavras, ainda mais do que com o “chá” de Shion.

Hakurou cruzou os braços e fechou os olhos, sem palavras. Ele estava dormindo? Shion, enquanto isso, ainda me tinha em seus braços, que ela estava apertando de raiva. Whoa, você está me esmagando, lady!!!!!

Eu me balancei um pouco para lembrá-la de que eu ainda estava lá. Ela se desculpou, suando frio.

Parecia que ela tinha o pavio curto. Eu teria que me lembrar disso. Ser segurado por ela com certeza não era ruim, eu pensei, mas era meio perigoso. Ela tinha obtido as habilidades duplas Força de aço e Corpo fortificado, tornando-a um livro que você absolutamente não poderia julgar pela capa. Baseado em seu ato agora, ela não possuía um total controle de seus poderes, e ser estrangulado até a morte não estava na minha lista de desejos. Eu teria que me cuidar perto dela.

Mas… yeesh. Eu não fazia ideia de que o enviado seria tão idiota.

— Ok. — Eu disse, tentando levar as coisas para a frente. — Hum… eu acho que fui em quem domou os lobos de presa. Ou melhor, fiz amizade com eles, talvez?

— Huh? Você, um humilde slime? Já chega de piadas. Deixe-me ver alguma evidencia. E então eu decidirei se acredito ou não em você.

Esse cara tinha o péssimo hábito de dar ordens de cima de qualquer topo que ele acreditava estar. Eu estava começando a ficar irritado. Recusar-se a ouvir o outro lado em conversas como essa… Alguém precisava fazer esse cara tirar o cavalinho da chuva.

Eu ocasionalmente tinha que lidar com presidentes de companhias e funcionários do governo em meu antigo trabalho, mas nem mesmo eles me tratavam como um idiota. Uma coisa que eu havia aprendido rapidamente com esses caras era que o único jeito de os derrotar era se recusando a fazer seus jogos, em primeiro lugar. Você não ganharia nada se juntando a idiotas.

Então eu decidi mudar as minhas táticas.

— Ranga.

— Aqui, senhor.

Ele pulou de minha sombra. Ele tinha adotado isso como um tipo de posto de espera, outra forma de adaptar Movimento das sombras, eu supunha.

— Bom. Esse cara tinha uma ou duas coisas para te perguntar. Você poderia ouvi-lo?

Está certo. Eu passei a bola para Ranga. Não que eu fosse preguiçoso ou algo do tipo, eu apenas pensei que Ranga seria mais efetivo lidando com esse palhaço do que eu. Assumir que eu não fosse digno do espaço que eu ocupava no mundo só porque eu era um slime foi mais rude do que Rigurdo quando nós nos conhecemos. Alguém poderia me culpar por querer me retirar? Além disso, esse cara não tinha nem percebido minha aura ainda. Ele não poderia ser ninguém especial.

Isso tudo foi realmente muito estranho.

Então Ranga, aceitando minha ordem, se virou para encarar os lizardmens. Um único olhar dele foi o suficiente para fazer mesmo os guardas de aparência robusta em seus peitorais de ferro darem um passo para trás, em autodefesa. E por que eles não o fariam? Ranga era enorme. Afinal, ele não estava encolhido. Tudo dele estava aqui.

— Meu mestre ordenou que eu interagisse com você. Fale, e eu ouvirei.

Ranga estava usando Coerção enquanto falava. Isso atingiu todos os guerreiros, que estavam agora congelados no lugar. Um, no entanto, não estava – o enviado – que parecia um pouco grogue, mas ainda mantinha sua postura imponente e inflada. Eu tive que reconhecer; talvez ele tivesse mais força de vontade do que eu pensei.

— Ah… sim. É você, então, o ‘alfa’ ou o que quer que seja dos lobos de presa? Eu sou Gabil, lorde guerreiro da tribo dos lizardmen! Eu estou lisonjeado em conhecê-lo. Eu sou, como você já deve ter percebido, um lizardmen nomeado. Você gostaria de abandonar esse slime e se unir a mim?

Que descarado. Eu queria nocauteá-lo, mas eu me segurei. Eu tinha que sair por cima aqui. Apenas deixei isso passar.

Eu sou um adulto, então relaxe. E relaxe você também, Shion. Você vai me machucar permanentemente me apertando assim. Mais algumas sacudidas, e ela se curvou em desculpa. Eu realmente gostaria que ela pudesse reprimir um pouco mais a sua raiva.

No entanto, por que esse lagarto Gabil estava agindo como se fosse o dono do mundo? Eu nunca tinha ouvido falar dele. Eu animei Ranga silenciosamente. Vá pegá-lo, garoto!

— Sua lagartixa idiota… como você ousa zombar de meu mestre?

Ele rangeu seus dentes, os olhos ficando vermelhos, enquanto ele silenciosamente fervia de raiva. Uh, não exagere, ok, Ranga? Não tenho certeza de que esse lagarto aguentaria. Se ele tentasse fazer alguma graça, bem, ele já tinha feito, mas eu queria evitar confusão, caso ele seja mesmo um lagarto superior.

— Me parece — ele disse —, que você foi enganado. Muito bem. Me deixe usar os meus poderes para derrotar esse tão-chamado mestre que assumiu o controle de você. Quem deseja me enfrentar? Eu ficaria feliz em cuidar de todos vocês de uma vez, se quiserem!

Whoa… O que diabos ele está dizendo agora? Pense em uma piada de mau gosto. Esse lagarto realmente precisa saber o seu lugar. Você é o mais fraco aqui, cara.

…Ok, eu retiro o que disse. Tem o Rigurdo. Ele provavelmente poderia derrotar o Rigurdo.

Mas ainda era de um rank B que nós estávamos falando; rei dos hobgoblins e provavelmente seu guerreiro mais forte. Se um hobgoblin médio era um C+, esse era um salto muito grande, e com a armadura forjada por Kaijin que ele tinha, eu o colocaria no topo do B agora.

Dito isso, ele realmente não tinha aprendido muito em termos de esgrima e tática de batalha. Contra um profissional, eu não gostava de suas chances. Eu tinha aprendido há pouco tempo que a presença, ou a falta dela, de Artes poderia mudar e muito o seu valor em batalha. E enquanto Gabil tinha uma boca grande e quantidade inútil de arrogância, ele parecia ser bem treinado o suficiente como lutador, ao meu ver ele certamente estava cheio de confiança, de qualquer maneira.

Nossos olhares se encontraram.

Então quem eu deveria colocar contra ele para começar…?

— Huh? O que vocês estão fazendo?

Gobuta, sem dúvidas o melhor na cidade em aparecer exatamente na hora errada, executou essa habilidade perfeitamente ao acordar.

— Você está bem?

— Oh, você tem que ouvir isso! — Ele respondeu com um sorriso despreocupado. — Eu estava atravessando o rio, e essa voz gentil disse que eu tinha obtido Resistencia a veneno ou algo assim! Então eu me senti muito melhor, e então acordei!

Algo me disse que foi por sorte que ele não atravessou esse rio… eu pensei que seria mais gentil não dizer isso.

— Wow! Resistencia a veneno, huh? Isso é muito legal. Nem mesmo eu tenho essa.

— S-sério! Ooh, incrível!

Gobuta parecia honestamente orgulhoso. Mas seu talento para um timing terrível tinha selado seu destino.

— Heh-heh-heh. — Ranga rosnou. — Muito bem. Se você for capaz de derrotar um de nós que consideramos digno, nós ouviremos a sua história.

Então ele apontou para Gobuta. Eu sabia o que ele faria.

— O-o quê? — Ele protestou, seus olhos bem abertos. — O que você está…?! — Mas isso já tinha sido decidido. O que foi bom para mim. Eu não tinha certeza de quem escolher, por mim mesmo. Todos no nosso lado estavam prontos para dar uma surra nesse lizardmen, seus olhos baixos em uma posição ameaçadora. De certo modo, isso me ajudou a manter minha cabeça fria. Sempre que alguém fica visivelmente irritado, tende a acalmar todos os outros na sala.

Mas realmente, Ranga pode ser muito malvado também, huh? Eu podia ver isso em seus olhos. Ele estava usando Gobuta como um cordeiro de sacrifício.

Não seria exatamente honroso machucar esse enviado, mas se ele atacasse primeiro, isso seria o suficiente para uma desculpa. Eu imaginei que era assim que Ranga estava pensando. Inteligente da parte dele. Me pergunto de onde ele tirou isso.

— Você tem certeza? — Gabil perguntou para mim, com um olhar triunfante. — Porque eu ficaria feliz em desafiar você ao invés disso. No entanto, talvez você prefira que um de seus subordinados se aproxime para você, ao invés de revelar ao mundo o quão impotente você é!

Agora ele só estava me ofendendo. Ele pensava seriamente que eu estava conduzindo um golpe em larga escala com Ranga e o resto. Eu queria soca-lo, com força total. Minha cabeça claramente não estava mais fria.

— Não mostre piedade a ele, Gobuta. Pegue-o! Perca, e eu mandarei Shion cozinhar uma refeição de cinco pratos para você!

— E-espere um segundo, Rimuru-sama! E-eu acho que você já tomou sua decisão… mas eu gostaria de algum tipo de recompensa se eu vencer, pelo menos! E por favor, qualquer coisa menos a comida da Shion…

— Eu não estou gostando dessa linha de conversa. — Shion adicionou sombriamente.

Ele estava certo, no entanto. Eu tinha o pau; agora eu precisava da cenoura. Eu pensei que o gosto dos esforços caseiros de Shion seriam o suficiente para fazê-lo lutar como se sua vida dependesse disso. Eu sabia que era inútil – eu quero dizer, ele não tinha chances – mas eu queria pensar em uma recompensa.

— Tudo bem. — Eu disse. — Nesse caso, eu mandarei Kurobe fazer uma arma para você. O que acha?

— S-sério?!

— Vamos, Gobuta, eu já menti para você?

— N-não, não mentiu, exatamente… talvez meio que ocultou as coisas de mim algumas vezes, mas…

— Você só está imaginando.

— Eu estou? Oh, tudo bem!

É por isso que eu gostava de conversar com Gobuta. Era fácil trabalhar com ele.

Sentindo que nossa conversa terminou, Ranga lançou um sinal em minha direção. Eu assenti em resposta.

— Se você deseja nos emprestar seu poder — ele disse a Gabil —, então mostre o que você tem primeiro. Você pode começar!

Com isso, a luta começou, Gobuta, pronto para qualquer coisa, e Gabil, calmamente carregando sua lança. Gobuta possuía uma lança de cavalaria também, tornando isso em um duelo entre duas armas de médio alcance. Ele não tinha chance, com certeza. Sua arma habitual era uma adaga.

— Hmph. — Gabil respondeu, dando um sermão em seu inimigo, apesar do fato de que a luta já havia começado. — Você pode ser mais do que um mero goblin, mas mesmo um hobgoblin não é ameaça para mim! Nós somos os lizardmens, os poderosos descendentes dos dragões…

— Você não vai vir? Bem, aqui vou eu, então!

Ignorando a vanglória, Gobuta atirou sua lança diretamente em Gabil. Ele estava sério sobre isso, mais sério do que eu esperava.

— Tolo imprudente. — Gabil murmurou apático enquanto desviava o míssil. Isso, aparentemente, era exatamente o que Gobuta queria. Por apenas um instante, a atenção de Gabil estava focada na lança arremessada, e o hobgoblin levou esse instante para desaparecer.

Espere… O quê…?!

A menos que meus olhos estivessem me enganando, Gobuta tinha acabado de executar um perfeito Movimento das sombras para se esconder. Perfeito o suficiente para Gabil perdê-lo de visão.

— Onde você está?! — Ele gritou, olhando furtivamente ao seu redor. Mas nesse momento, a batalha já tinha sido decidida.

Voando para fora da sombra nas costas de Gabil, Gobuta se atirou no ar enquanto executava um chute.

Imaginei que Gabil não fazia ideia do que tinha acontecido. O ataque traseiro foi uma surpresa total, e ele o levou direto na parte de trás de seu pescoço, o fazendo desmaiar imediatamente. Gobuta tinha mirado exatamente onde nem a armadura nem o elmo de Gabil podiam protegê-lo, e ele mirou bem. Nem o mais resistente dos lizardmens poderia resistir contra um ataque direto em uma coleção vulnerável de nervos. Suas escamas poderiam impedir que o golpe fosse letal, mas ele sem dúvidas levaria um tempo para se recuperar.

O que significava… que Gobuta realmente venceu.

— Está decidido! O vencedor é Gobuta!

A proclamação de Ranga foi quase abafada pelos aplausos e comemorações dos ogros. Gobuta absorveu isso por um momento ou dois.

Cara…

Gobuta, de todas as pessoas, dominando um lorde guerreiro lizardmen? Eu imaginei que Gabil fosse B+ ou maior, e ele caiu com um só golpe.

Eu tinha que reconhecer Gobuta. Ele tinha amadurecido. Eu estava chocado, e tenho certeza de que não era o único.

— Muito bem, Gobuta. — Ranga disse enquanto assentia com aprovação. — Eu sempre soube que você era capaz.

— Sim! — Exclamou Rigurdo. — Excelente! Você mostrou ao mundo o que os hobgoblins são realmente capazes!

— Ele pode estar certo. — Shion observou. — Acho que eu vou perdoar o que você disse a um momento atrás, afinal.

— Um golpe de mestre. — Benimaru disse. — Você ficou mais forte do que quando nós lutamos da última vez.

— De fato. — Hakurou disse, seus olhos afiados e focados em Gobuta. — Muito impressionante. Me pergunto como ele pode responder a mais treinamentos.

Porra. Ser elogiado por pessoas como Hakurou? Esse dia pode mudar a vida do Gobuta. Se aquele velho exigente ogro sábio viu potencial nele, eu era a favor. Isso ajudaria a desviar a atenção de Hakurou de mim no treinamento, pelo menos.

No entanto… espere um segundo. Todo mundo aqui estava esperando que ele vencesse? Eu dei uma outra olhada ao meu redor, e era essa vibe agora. Eu era o único que duvidava dele.

É melhor eu deixar isso de lado. Eu sabia entrar no clima.

— Hum… é, bom trabalho, Gobuta. Isso me surpreendeu! Eu mandarei Kurobe começar a fazer sua arma antes do anoitecer.

E quanto a Gabil e sua comitiva de lizardmens?

O lorde guerreiro não teve ferimentos externos. Ele foi nocauteado, mas não foi afetado.

Quanto aos seus homens, eles tinham congelado antes mesmo de terem a chance de formar uma seção de aplausos. Eles ainda não faziam ideia do que tinha acabado de acontecer.

— Hey, uh, nós vencemos, ok? — Eu gritei para eles. — E eu tenho que recusar a oferta também, tudo bem? Se vocês quiserem ajudar lutando contra os orcs, nós pensaremos sobre isso, mas por hoje, vocês se importam em nos deixar em paz? E não se esqueçam de levá-lo com vocês.

Isso foi o suficiente para eles entrarem em ação. E, com isso, nossas tentativas de chegar a um acordo entre as espécies acabaram.

Eu fiquei feliz ao ver esse idiota ir embora, realmente, mas nós ainda precisávamos formular um plano para o futuro. Eu nos reuni em uma pequena cabana que eu tinha construído próxima aos maiores alojamentos da cidade para uma reunião, ordenando que Rigurdo chamasse todos os outros que nós precisássemos.

— Eu os convocarei imediatamente. — Ele disse, enviando Gobuta até eles enquanto eu usava Comunicação por pensamento para trazer Soei.

A maioria das figuras importantes da cidade estavam aqui. Dos hobgoblins, estavam Rigurdo, Rigur, Rugurdo, Regurdo, Rogurdo e Ririna. Eles se juntaram com o anão Kaijin, e os Onis Benimaru, Shuna, Hakurou, Shion e Soei. Doze no total, sem contar comigo, e eles abrangiam a maioria dos deveres administrativos da cidade, além da produção.

Kaijin, representava os interesses de construção e produção da cidade. Ririna, cuidava da administração, e Rigurdo, Rugurdo, Rogurdo e Regurdo, eram os principais líderes políticos. Rigurdo estava no comando, e os outros três eram seus ministros, apesar de eu não ter lhes atribuído tarefas concretas ainda – era melhor resolver isso. – Benimaru e Hakurou eram nossos militares, Soei nossa inteligência, e Rigur nossa segurança.

Isso significava que o nosso governo agora consistia de seis departamentos, com as seções militares e de operações secretas recém-fundadas por mim. Nós ainda éramos fracos como uma organização, mas até agora isso tinha funcionado bem o suficiente. Uma vez que a estrutura estivesse em vigor, seria mais fácil preencher os detalhes ao longo do tempo. Por enquanto, pelo menos, nós tínhamos telhados sobre as nossas cabeças e comida em nossas barrigas.

Falando nisso, Rigur estava fazendo um ótimo trabalho para todos nós.

Benimaru estava deliberando sobre quem recrutar para o exército. Eu ouvi que ele e Rigurdo estavam discutindo uma lista de possíveis candidatos que eles poderiam pegar da segurança. O que era bom. Eu tinha acabado de indicá-lo, mas eu precisaria de alguma ação nessa rapidez, com os orcs e os lizardmens agindo por aí. Era um fardo pesado para colocar em Benimaru, mas eu tinha certeza de que ele faria o seu melhor.

Ririna era uma trabalhadora esforçada. E inteligente, também. Ela era a administradora da cidade, mas quanto aos seus deveres, ela era a principal responsável por nossos esforços agrícolas. Ela tinha pegado algumas plantas de batata selvagens, e obteve sucesso em cultivá-las. Elas cresciam rapidamente e forneciam uma grande quantidade de nutrientes, o que fazia maravilhas para a nossa situação alimentar. Ela também estava envolvida com coisas como domesticação de bestas mágicas para pecuária e construção de viveiros de peixes – uma variedade muito decente de projetos. – Isso ia além de administrar os nossos estoques, às coisas que nós fazíamos, os recursos que nós colhíamos, os materiais que nós recolhíamos. As secretarias de agricultura, silvicultura, água e pecuária, tudo em um.

Nós ainda éramos pequenos, o que fazia isso possível, mas, daqui pra frente, nós teríamos que nos adaptar com o tempo. Se nós começássemos a construir relações comerciais com a raça humana, eu amaria pegar algumas mudas de vegetais deles. A essa altura, Ririna provavelmente teria muita coisa pra fazer, então, eu precisaria nomear mais administradores.

O resto das goblinas também estavam aprendendo a costurar com Shuna, e assim por diante. Nós tínhamos muitas vencedoras entre elas, incluindo Haruna. Eu imaginei que nós estivéssemos em boas mãos.

Na frente de produção e arquitetura, eu ainda estava deixando quase tudo com Kaijin. Ele era treinado como um ferreiro, mas depois de colaborar com Kurobe, ele tinha meio que subido para a posição de supervisor do andar. Eles tinham dividido suas cargas de trabalho muito bem, ao meu ver, Kurobee na forja, Kaijin trabalhando em novas ideias.

— Nós ainda estamos muito ocupados montando tudo — ele disse —, mas uma vez que as coisas se acalmarem, eu gostaria de me dedicar mais a fazer coisas criativas.

Eu tinha a sensação de que Kurobe estaria se juntando a ele em pouco tempo, uma vez que a onda atual de produção de armas se acalmasse. Porra, eu mesmo não me importaria em me juntar a eles. Mas antes disso, eu precisava que as coisas – como Kaijin disse – se acalmassem.

Assim que Soei retornou de sua última patrulha de reconhecimento, toda a gangue estava na sala de conferência. Hora de começar isso.

Ao meu sinal, Soei começou seu relatório. Ele geralmente era dividido e três partes – o estado das coisas nas outras aldeias goblin, o que estava acontecendo nos pântanos, e o avanço dos orcs. – Cada área tinha dois clones do Soei dedicados a ela, agilmente reunindo informações. Alguns ainda estavam em campo, procurando por mais.

Todos nós ficamos em silêncio, ouvindo sua história.

Primeiro, as aldeias goblin. A maioria tinha se afiliado com Gabil, lorde guerreiro dos lizardmen.

Ah, o que acabou de nos visitar. Eles estão seguindo aquele idiota? Bastardos inconstantes.

Os goblins que se recusaram a isso fugiram para as colinas em estado de pânico, muitos tentando fugir para territórios humanos. Ninguém lhes deu muita chance de sobrevivência. Se eles vivessem em humildes aldeias da floresta em terras desconhecidas seria uma coisa, mas se eles cruzassem a fronteira seria outra. É natural para qualquer um querer manter sua terra natal protegida, e os humanos, sem dúvida, não dariam um quarto a eles.

Eu não sabia que tipo de poder de fogo os humanos por perto tinham, mas eu tinha certeza de que seria rápido lidar com goblins exaustos e retardatários. O que significava que os goblins não tinham escolha, a não ser viver em segredo, o que não parecia muito bom para o futuro deles.

Soei tinha mais algumas informações sobre o Gabil para nós. Ele aparentemente tinha reunido lutadores goblins de diversas aldeias, que totalizava numa força de sete mil soldados. Eles agora estavam acampados no pé da cordilheira próxima a nós.

É um bom número. Eles tinham aceitado a exata oferta que foi dada a nós – segurança contra os orcs, em troca de todos os recursos alimentares que eles possuíam. — Eu acho que essa foi a melhor decisão, mas com toda a sua comida nas mãos dos outros, eles estavam condenados a morrer de fome, independentemente de como a batalha contra os orcs terminasse.

Foi completamente descuidado, na verdade – sem consideração dos anciãos das aldeias, que concordaram com a proposta. — Acho que eles imaginaram que isso era melhor do que ter suas cabeças decapitadas por um machado orc, ou eles estavam apostando que um número considerável sobreviveria à guerra? Que haveria o suficiente para continuar?

Era algo que todos nós também deveríamos considerar. Essa cidade ainda não estava completa, mas eu não podia aguentar o pensamento de abandoná-la nesse ponto. Se nós deixássemos os orcs invadirem até aqui, eles saqueariam toda a floresta ao redor, o que dificultaria nos manter alimentados.

Se nós quiséssemos continuar com a vida que desfrutávamos agora, nós teríamos que repelir os orcs, e repeli-los nos pântanos, não aqui.

Falando nos pântanos, o chefe dos lizardmens tinha convocado alguns exércitos ele mesmo. Uma força de dez mil já tinha sido montada, segura e bem alimentada com os peixes do Lago Sisu. Eles estavam escondidos em um labirinto de cavernas naturais, prontos para resistir ao cerco dos orcs o quanto fosse necessário.

Então, eles pensavam que os orcs eram uma grande ameaça? Os lizardmens, um grupo forte de lutadores, apesar da pequena exibição de Gabil, estavam em um estado de preparação quase total para guerra, ao ponto em que eles estavam recrutando até mesmo os mais fracos goblins.

Finalmente, eu perguntei sobre os orcs.

— A força dos orcs… — Soei parou por um momento. — Aproximadamente 200 mil guerreiros.

— 200 mil?! — Alguém gritou.

Eu pensei que tinham sido uns poucos milhares que destruíram o forte dos ogros…

— Então, você quer dizer que a força que atacou o nosso lar era meramente uma fração do exército inteiro?

— De fato. — Soei reportou. — Foi isso que eu descobri em minhas investigações. Nós acreditamos que o número total envolvido seja de duzentos mil. Nós acreditamos que a força principal está avançando ao longo do Rio Grande Ameld do sul, cobrindo uma faixa relativamente ampla ao fazer isso. Minha estimativa é baseada estritamente no comprimento de suas forças de marcha e na largura das estradas que eles estão usando, mas baseado nisso, eles não podem numerar menos que 150 mil. Eu confirmei que alguns esquadrões afiliados a eles estão fazendo incursões aqui e ali dentro da floresta, então, alertaria a não minimizar a nossa estimativa.

Uma parada massiva de orcs, ocupando estradas inteiras por milhas, até onde os olhos podiam ver.

— Você sabe para onde eles estão indo?

— Sim, meu lorde. A força está apontando para os pântanos espalhados ao redor do Lago Sisu, avançando diretamente até o território lizardmen. Entretanto…

— Entretanto?

— Entretanto, com sua trajetória atual, eles alcançarão o território humano logo após isso. Seus objetivos finais não estão claros, mas se eles continuarem em linha reta, serão incapazes de evitar confronto com diversos reinos humanos.

Wow. O que eles estão pensando? Espere um segundo… se tudo que eles quisessem fosse controlar a floresta, eles simplesmente parariam uma vez que destruíssem os lizardmens? O que eles queriam, afinal?

— O que você pensa sobre tudo isso, Soei? Os orcs estão procurando destruir os lizardmens? Ou eles continuarão sua conquista nas terras humanas?

— É difícil dizer ainda, Meu Lorde.

Eu suponho que não. Eu só tinha uma vaga ideia da geografia envolvida, de qualquer forma.

— Bem, eu acho que descobrir isso deveria ser nossa próxima prioridade. Você tem um mapa ou algo assim em mãos, Soei?

— O que você quer dizer com… ‘mapa’, Senhor?

— Huh?

………

……

Essa foi uma grande surpresa. O conceito de mapa parecia estranho para a maioria dos que estavam na sala.

Kaijin, abençoado seja, sabia do que eu estava falando. Ele sabia, mas ele não tinha pistas sobre um que nós pudéssemos comprar. Aparentemente, do jeito que o mundo estava nesse ponto da história, mapas ainda eram considerados informações militares confidenciais.

Bem, que assim seja. Então, eu fiz os membros reunidos alinharem algumas tábuas de madeira na mesa, e depois criarem algo simples para que eu pudesse ver onde as coisas estavam, uma em relação à outra. A maioria dos monstros tinham Telepatia, o que os permitia compartilhar um conjunto de informações uns com os outros. Isso foi útil, mas teve o efeito contrário de atrasar o desenvolvimento da mídia, impressa ou gravável.

Hakurou começou desenhando a área em torno da terra natal dos ogros, utilizando o que ele aprendeu com seu avô como referência. A falta de papel estava começando a realmente me incomodar, mas eu tinha trazido mais tábuas, para que nós pudéssemos desenhar a região ao redor da nossa cidade. Comunicação por pensamento foi útil para isso, deixando as pessoas entenderem exatamente o que as outras estavam imaginando em suas mentes. Muito útil, na verdade, dado como isso permitiu que as pessoas trocassem informações precisas sem colocá-las no papel. Eu não chamaria isso necessariamente de melhoria sobre a vida na Terra. Honestamente, era um dilema, mesmo se não representasse obstáculo no dia-a-dia dos monstros.

Era certo que os humanos eram muito melhores em transmitir conhecimento para as futuras gerações do que os monstros. Esse era o segredo por trás do desenvolvimento de uma civilização, afinal. Os monstros ao redor poderiam considerar esse mapeamento como um passo extra e desnecessário agora, mas eu tinha certeza de que eles me agradeceriam agora.

Eu pedi ao Sábio para reunir todas as informações que as pessoas estavam me passando com suas mentes. Uma vez que eu as tinha, as anotei nitidamente nas tábuas de madeira. O resultado foi um mapa razoavelmente útil. As distâncias eram meramente estimativa, é claro, mas poderia servir bem o suficiente para uso prático. Foi ruim eu ter que gastar muito tempo nesse mapa antes de chegarmos no assunto principal, no entanto.

Para os negócios.

— Então, isso é o que um mapa é. — Eu disse. — Uma forma de mostrar como a região se parece, de modo que todos possam entender. Eu quero que vocês olhem para ele enquanto eu falo com vocês.

Todos se juntaram em torno das tábuas no meio da mesa. Eu o vinculei a todos via Comunicação por pensamento, para ter certeza de que todos nós estivessem focados na mesma coisa.

— Ok. Eu vou usar esse mapa para prever como os lizardmens e os orcs agirão. Nós estamos tentando descobrir o que os orcs estão pensando aqui. Se conseguirmos descobrir isso, será mais fácil planejar nosso próximo passo.

Todos eles assentiram.

Eu pedi para Soei colocar um pequeno pedaço de madeira na localização atual das forças orc. Eu tinha escrito ORC nele em letras grandes, como uma peça de um jogo.

Do centro da Floresta de Jura, havia três direções básicas que um exército tão grande quanto o dos orcs poderia ir. Todas envolviam acompanhar o Rio Ameld, que se estendia das Montanhas Canaat. Esse rio se bifurcava em dois afluentes perto do centro da floresta, um deles desaguando no Lago Sisu. O maior ramo se movia para cima em uma orientação norte-sul, atravessando quase todo o continente. No final, ele fazia uma curva lenta antes de desaguar no oceano ao leste.

A floresta abrangia esse rio por grande parte de seu fluxo externo, e no geral, a área ao leste dele era ocupada pelo Império do Oeste – terras humanas. – Após sair da floresta, o Grande Ameld abastecia as planícies férteis que eram governadas por lordes demônios. Esse plural era importante. Shizu tinha dito isso também, que o lorde demônio Leon era só um deles. Essa ideia de múltiplos lordes demônios parecia um pouco estranha, mas está bom. Até onde eu sabia, Leon e o que nomeou o filho do Rigurdo eram duas pessoas diferentes.

Esse tópico merecia ser mais explorado, mas isso teria que esperar. Nós estávamos tentando descobrir a rota de invasão dos orcs, e seu objetivo definitivo.

Segundo o relatório de Soei, após saírem de seu habitat próximo às terras dos lordes demônios, os orcs tinham avançado ao longo do Grande Ameld. Era a única rota larga o suficiente para manter um exército inteiro, mas, aparentemente, eles também tinham enviado esquadrões para dentro da floresta, mirando nos monstros mais fortes que poderiam os ameaçar no caminho – incluindo os ogros. – Eles estavam atrás de comida, eu imaginei, mas parecia estranho.

— O que você acha? — Eu perguntei enquanto movia as peças de madeira para simular os orcs ultrapassando o forte ogro.

— Em que sentido, Meu Lorde?

— Eu quero dizer, por que eles enviariam uma força separada assim? Por que eles não apenas atravessaram a floresta?”

— Mover uma força tão grande dessas — Hakurou disse —, seria muito difícil, com todas as árvores no caminho.

Fazia sentido. Mas nesse caso…

— Por que destruir a nossa terra natal, então? — Benimaru perguntou. — Se nós não estávamos no caminho da força principal, por que eles simplesmente não nos deixaram lá?

— Hmm… É uma boa pergunta, na verdade. — Hakurou respondeu.

Eles estavam certos. Os orcs não pareciam ter nenhuma motivação para atacar inimigos superiores que não estavam diretamente em seu caminho. Eles poderiam aproveitar seus estoques de alimentos, sim, mas se esse fosse o único objetivo, eles pagaram um preço extremamente caro por isso. Os orcs numeravam vários milhares, mas isso ainda era pouco em comparação com a força principal. Por que dedicar tão poucos soldados contra um oponente tão obviamente difícil? Comida realmente era a única razão para eles estarem dispostos a aceitar tantas baixas?

— Lembre-se — Benimaru disse,—, que eles nem se ofereceram para nos contratar como mercenários. Eu só posso concluir que eles estavam preparados para matar todos nós desde o momento em que chegaram.

Shuna assentiu.

— É verdade. Minha habilidade extra Percepção de ameaças me mostrou isso. Eles eram totalmente hostis a nós, nada mais, nada menos.

Então os orcs queriam os ogros mortos. E isso não era tudo.

— A julgar pelas rotas que a força principal e suas equipes separadas adotaram — Hakurou disse, seus olhos focados no mapa —, eles provavelmente se reagrupariam nos pântanos.

Todos olharam para baixo enquanto ele movia duas peças rotuladas como ORC para frente. Ele estava certo. Seguindo em uma linha reta, eles se encontrariam nos pântanos que os lizardmens chamavam de casa. Uma região grande o suficiente para a força principal orc se reagrupar e se preparar para a batalha, assumindo que eles não se importassem com a falta de terra seca.

— Então, eles definitivamente colidiriam com os lizardmens mais cedo, ou mais tarde, certo? Eles querem erradicá-los para que possam ser os reis da floresta, ou algo assim?

— Colocando dessa forma, eu não tenho certeza… faz um pouco de sentido.

— Ou talvez eles estejam conspirando com um lorde demônio, como você disse?

— Eles estão recebendo suporte, não restam dúvidas sobre isso, mas eu não posso dizer se é de um lorde demônio ou não. É melhor não tirarmos conclusões precipitadas.

— Ok, mas mesmo que eles estejam trabalhando com algum, o que eles ganhariam ao aniquilar os principais influenciadores na floresta?

Todos ofereceram sua própria resposta. No final, entretanto, ninguém tinha uma ideia definitiva sobre o que os orcs queriam, a questão mais importante.

— Além disso, — Shuna sussurrou —, como os orcs estão alimentando um exército de 200 mil?

A observação fez todo mundo congelar por um momento.

— Como? — Benimaru se aventurou. — É por isso que eles estão apreendendo suprimentos de comida, não? — Então, ele ficou em silêncio, percebendo o quão duvidoso isso soava.

Shuna tinha um ponto. Isso não parecia certo.

— …Eu não vi nada, não. A força principal parecia ter uma caravana carregando alimentos na retaguarda, mas… de fato, não estava nem perto de ser o suficiente, em termos de tamanho. E não estava perto o suficiente para manter um exército de 200 mil nutrido.

Marchar próximo ao rio eliminava qualquer preocupação quanto a água fresca, mas eles eram essencialmente incapazes de se abastecer sozinhos. Qualquer comida que eles tivessem diminuiria rapidamente. Ambas as forças precisavam de alguma coisa, não é? Eu duvidava que os orcs tivessem um método perfeito de abastecer na hora certa uma força militar completa que ninguém conhecia, mas eu também duvidava que eles deixassem todos os orcs morrerem de fome enquanto lutavam.

E se eles não se importaram em abastecer a força separada, não tinha como eles terem apreendido a comida dos ogros e apenas levado tudo de volta ao exército principal. Eles tinham suas próprias bocas para alimentar. E força “separada” ou não, nós ainda estávamos falando de milhares de orcs crescidos, e isso era uma quantidade absurda de pessoas para forçar à fome em potencial.

Eu percebi que Soei se adiantou para dizer algo, mas se segurou.

— O que foi? — Eu o pressionei.  — Você quer dizer alguma coisa?

— É apenas uma especulação da minha parte, mas eu me pergunto se, talvez, eles estejam… usando os corpos dos que morreram de fome ou em batalha. Eu digo isso porque, enquanto eu conduzia investigações nos campos de batalha em que eles lutaram, eu não encontrei um único cadáver.

— O quê?! — Benimaru exclamou. — Incluindo nossa própria terra natal?

— …Sim. Não havia absolutamente nada, e nenhum, restando.

— Como?

— Oh não…

Os Onis ficaram sem palavras. Oof… eu podia entender o porquê. É assim que os orcs são? Só imaginar isso já me deixava enjoado.

— Isso é… muito difícil de aceitar…

— Eles são onívoros, eu sei, mas… sério?

Soei olhou para Rigurdo e Kaijin impassível.

— É uma simples especulação. — Ele repetiu. — Mas em todos os lugares em que eles estiveram, eu não encontrei um único cadáver, e nossa terra natal estava completamente desprovida de qualquer coisa. Essa é a verdade. E isso me traz à mente uma certa habilidade…

Ele parou, e seu rosto se contorceu.

— Não! — Benimaru gritou. — Um Lorde Orc?

— De fato. Eu não confirmei, mas não posso negar a chance de um Lorde Orc ter aparecido. Eu tenho confirmado, no mínimo, a presença de Altos Cavaleiros Orcs. Seus atacantes, provavelmente.

— De fato. Eles teriam que ser, julgando pela força deles, Eu podia imaginar mesmo Generais Orcs entre eles.

— Isso certamente explicaria tudo…

Os rostos dos Onis ficavam cada vez mais preocupados. Eles pareciam saber quem esse Lorde Orc era, não que ele significasse algo para mim, Kaijin, ou para os outros hobgoblins.

— Whoa, quem é esse Lorde Orc? — Kaijin perguntou, finalmente se descongelando. — Talvez você possa nos incluir na conversa, por favor?

— É. — Eu adicionei. — Vocês se importariam?

Essa foi a nossa primeira visão sobre exatamente o quão terrível o Lorde Orc era.

Para resumir, um Lorde Orc era um monstro único com habilidades de liderança avançadas. Eles aparecem um por vez, do nada, uma vez em centenas de anos, para espalhar caos pelo mundo. Um cara ruim, em outras palavras.

O que os fazia tão nefastos era a habilidade com a qual eles nasciam – a habilidade única conhecida simplesmente como Faminto. – Ela permitia ao usuário fazer seus aliados devorarem tudo ao seu redor, como um enxame de gafanhotos, os afligindo com uma severa fome que eles nunca teriam esperança de saciar. Parecia tortura para as vítimas, mas tinha grandes benefícios para o usuário. Isso removia, com muita eficiência, toda a matéria orgânica de regiões inteiras de uma vez, as transformando em energia para si mesmo. E mesmo se isso deixasse o seu povo com fome, bem, o efeito final era tremendamente poderoso porque isso os deixava com fome.

Mas o mais assustador de tudo era que os monstros que eles consumissem em suas investidas loucas por sustento teriam suas habilidades transferidas para o usuário. Poderes de monstros, atributos físicos e até habilidades. Não era certo que aconteceria todas as vezes, mas quanto mais monstros ele consumisse, maiores seriam as chances. Em outras palavras…

— Os orcs não estão tentando erradicar os monstros superiores da floresta, então? Eles estão tentando pegar seus poderes para si mesmos?

O silêncio caiu sobre a sala. O que indicou, de uma vez por todas, que meus compatriotas já tinham chegado a essa conclusão.

Todos nós paramos por alguns momentos. O ar tinha ficado pesado ao nosso redor, quer tivéssemos ou não evidências sólidas de um Lorde Orc ter aparecido.

Nós não estávamos impotentes contra essa ameaça, é claro. Esse monstro já tinha aparecido em cena antes, múltiplas vezes, e já havia uma estratégia conhecida para lidar com ele.

— E ela é? — Eu perguntei impacientemente. Os Onis responderam olhando uns para os outros. Kaijin e Rigurdo os encararam, um pouco ofendidos.

— Me envergonha dizer isso, — Shuna finalmente começou —mas os Lordes Orcs do passado foram todos derrotados por esforços humanos. Faminto é uma habilidade única poderosa, não restam dúvidas quanto a isso, mas ela só funciona apreendendo os poderes daqueles que o Lorde Orc derrota. Enquanto os monstros podem ter habilidades intrínsecas, ou outros efeitos baseados em magia que um Lorde Orc pode pegar para si, humanos não possuem nenhum deles. Eles carregam Artes, não habilidades, e elas são estritamente frutos de prática e esforço. É isso que permitiu uma nação humana, ou um bando de nações, derrotar tal ameaça.

Huh. Não alimente a besta, e ela não crescerá, huh? Eu acho que eles hesitaram em dizer isso porque significava que nós teríamos que envolver humanos nisso, mais cedo ou mais tarde.

Bem, pelo menos nós tínhamos algo para continuar agora. Nós tínhamos uma ideia geral das habilidades que o Lorde Orc poderia ter apreendido, e nós poderíamos descobrir modos de combatê-las. Ele ainda não seria uma ameaça tão grande, assumindo que ele não estava por aí há muito tempo.

Talvez isso seja mais fácil do que eu pensava? Talvez não. Ele já tinha um corpo de cavaleiros, sem mencionar a horda com a força de 200 mil orcs escravos e famintos. Isso, e qualquer organização que enviou os fundos para equipar e armar todos esses caras. Não tinha sentido ser muito otimista. Se ele ganhou um aumento de inteligência com Faminto, aposto que ele poderia até mesmo se tornar um lorde demônio no futuro.

Más notícias por toda parte. Nós definitivamente deveríamos ter chegado a ele mais rápido. Mas tudo bem. Agora teria sido uma boa hora para um herói nobre aparecer, mas eu não tinha nenhum por perto, infelizmente.

— Tudo bem. Vamos descobrir se esse Lorde Orc existe ou não, antes de qualquer outra coisa. Se um realmente tiver nascido, eu acho que nós deveríamos passar uma mensagem para Kabal e o resto dos meus amigos aventureiros.

— Sim, meu lorde! — Rigurdo assentiu com a ideia.

Eles tinham mencionado que eram afiliados a um grupo – a guilda, como eles chamavam – que fornecia tarefas. Talvez a guilda pudesse nos ajudar, se Kabal a providenciasse. Eu estava esperando mais reações negativas, na verdade, mas eles não tiveram nenhuma. Kabal e seus amigos certamente foram gentis conosco antes, pelo menos. Sem estereótipos ou algo do tipo.

Eu imaginei que poderia vender alguns pedaços de Aço demoníaco que sobrou para arranjar dinheiro para a ajuda da guilda. Eles poderiam rejeitar monstros transeuntes, mas eles não poderiam recusar com o preço certo – isso, ou eu poderia só pedir aos irmãos anões para negociar em nosso nome. – Um Lorde Orc seria tão ameaçador para os humanos quanto para nós. Nós tínhamos muitas moedas de troca.

De fato, se nós sabíamos que humanos teriam um papel fundamental nisso, talvez nós deveríamos enviar uma mensagem assim que possível. Se os lizardmens já estavam perdidos, os orcs provavelmente iriam atrás dos reinos humanos em seguida. E, mesmo que não pudessem se “alimentar” de humanos, 200 mil orcs seriam uma ameaça de vida ou morte para praticamente qualquer nação.

Por agora, nós precisávamos de mais informação. Esse foi o meu lema quando eu continuei a conferência, mas, subitamente, Soei enrijeceu, estremecendo.

— O que foi?

— Bem… — Ele começou. — Um dos meus clones de Replicação fez contato com alguém que insiste em se comunicar com você, Rimuru-Sama. O que você acha…?

— Contato? E eles falaram o meu nome mesmo? Quem diabos…?

Eu ainda não tinha muitos conhecidos nesse mundo, na verdade. Talvez fosse Kabal, falando no diabo? Nah. Eles disseram que levariam semanas para viajar até aqui de sua base. Mais de um mês, para ida e volta. Não seria possível.

— Esse contato não me deu um nome, Meu Lorde. Ela simplesmente queria te enviar uma mensagem, e está muito determinada. Ela é uma dríade.

As sobrancelhas de todos se levantaram de surpresa. Um monstro bem conhecido, eu acho.

— Não! — Rigurdo exclamou. — Faz décadas desde que uma dríade apareceu, não faz?

— Elas praticamente desapareceram! Por que uma apareceria agora?!

Para os hobgoblins, elas eram figuras místicas. E, a julgar pela resposta do ex-ogro Soei, elas deviam ser de alto nível. Uma que tinha avistado e entrado em contato com Soei, apesar do quão talentoso ele era em ocultar suas Replicações. Isso mostrava com qual calibre nós estávamos lidando. É melhor não irritar essa dríade, então.

— Tudo bem. Eu me encontrarei com ela. Traga-a até aqui.

Parece que meu pensamento estava correto. Pouco depois de eu dar o meu consentimento, a porta da sala de conferência se abriu, para revelar uma nova figura. Isso não havia perdido um segundo com a Replicante de Soei, mesmo quando ele usou Movimento das sombras para trazê-lo de volta.

Chamá-la de “isso” seria rude. Ela era uma mulher, e uma bonita. Seus cabelos eram verdes, sua pele clara, sua figura bem tonificada – esculpida, até, como uma deusa nórdica. – Seus lábios luxuriantes eram de um tom azul-claro, combinando perfeitamente com seus olhos azul-profundos. Ela parecia ter cerca de vinte anos pelos padrões humanos, mas humana ela definitivamente não era. Ela era semitransparente, e qualquer observador poderia falar que seu corpo não tinha peso ou qualquer presença física.

Dríades eram, de fato, descendentes das raças de fadas, tão próximas da forma de vida espiritual como ninguém jamais testemunharia. Eu descobri mais tarde que elas serviam como guardiãs dos treants, uma população de árvores vivas que era outra presença de nível alto na floresta. Em termos de rank, elas seriam facilmente A ou maior, no nível de Ifrit, e sem dúvidas uma presença aterrorizante para Rigurdo e os hobgoblins.

Mas o que ela queria?

A mesa da conferência foi envolvida em silêncio. As dríades, tendo uma expectativa de vida longa, raramente saíam de seus santuários sagrados. Elas eram nomeadas por alguns como guardiãs de toda a Floresta de Jura, e apenas uns poucos sortudos as veriam por si mesmos. Elas eram conhecidas por aplicar a punição divina aos perversos, aqueles que danificavam as florestas.

Benimaru e os outros ex-ogros, reagiram do mesmo modo que Rigurdo. Mas a dríade não deixou isso perturbá-la. Ela avaliou a sala por um momento antes de fixar seus olhos em mim.

— Meus cumprimentos a você, Líder dos Monstros, e seus seguidores. Eu sou Treyni, uma dríade. É um prazer conhecer todos vocês.

Ela sorriu, como uma flor desabrochando. Isso foi o suficiente para eu me perguntar, eu estou sendo cauteloso com ela, talvez? Ela tinha uma beleza feérica, isso absolutamente era verdade.

— Hum, para você também. Meu nome é Rimuru. Nós podemos ser casuais aqui, ok? Nada dessa merda de ‘Líder dos Monstros’.

Eu já odiava apelidos o suficiente na Terra. Eu não queria nenhum aqui, então eu fiz questão de acabar com isso antes que o resto da sala pudesse usá-lo.

— Então… — Eu disse, ainda tentando superar meu constrangimento. — Para que você queria me ver?

— Obrigada, Eu vim aqui para discutir os eventos ocorrendo nessa floresta, eventos que eu imagino que todos vocês estão cientes. Como uma das guardiãs nomeadas da Floresta de Jura, eu não posso permitir que essa série de calamidades não seja resolvida, então eu tive que aparecer na sua frente. Eu fiz isso porque eu espero poder participar da sua conferência.

Ela assentiu com a cabeça para cada um dos participantes antes de voltar a olhar para mim.

Treyni, huh? Um monstro nomeado, então. De alto nível, sem dúvidas.

— Mas por que aqui? — Benimaru ousou perguntar. — Certamente existem raças mais poderosas que os goblins para você pedir por assistência.

— Esse é o posto avançado mais poderoso da região. — A dríade respondeu. — Os outros não existem mais, seus povos estão afiliados com o lizardmen conhecido como Gabil. Os treants são incapazes de se mover de um lugar para o outro, então interagem pouco com outras raças. Se eles fossem arrastados por um inimigo de fora ou um desastre natural, haveria pouco para eles fazerem para se defender. Nós dríades só temos permissão para viajar mundo afora nessas formas espirituais, e eu lamento que existam poucas de nós… se a causa principal de tudo isso foi atacar a comunidade treants, com quem compartilhamos nossas vidas, nós não temos números o suficiente para fornecer a eles uma defesa eficaz. É por isso que eu desejo aproveitar sua força, se eu puder.

Ela encerrou com outro sorriso alegre.

Em contraste com seus olhares espantosos, o modo como ela falava era surpreendentemente tranquilizante. Eles devem ser uma raça de vida longa, de fato – ela deve ter visto muita coisa ao longo dos anos. – O problema era se nós podíamos acreditar nela ou não. Alguém tão forte quanto Ifrit, vários deles vivendo nessa comunidade, ou o que quer que fosse. Nem mesmo eles podiam lidar com os orcs. Ela queria nos usar como isca, talvez? Ou havia um outro objetivo?

— Você falou de uma ‘causa principal’. — Hakurou disse. — Isso significa que você sabe o que está acontecendo na floresta agora?

— Sim. — Treyni respondeu sem hesitação. — Um Lorde Orc está invadindo-a, com uma força imensa o acompanhando.

A revelação mergulhou a sala de conferência em silêncio mais uma vez.

— Nós devemos considerar, — Benimaru disse —, que você confirmou a presença do Lorde Orc?

— Sim. E se eles virassem seus olhares para a nossa comunidade de treants, nós não teríamos nenhum meio efetivo de resistir. Eles não podem sair de onde estão enraizados, e suas magias místicas não podem fazer muito contra uma raça orc sem medo da morte. Talvez nós pudéssemos queimá-los com magia de chamas, os reduzindo a cinzas, mas isso poderia sair pela culatra e queimar a população de árvores, e ninguém a dominou, de qualquer maneira. E qualquer coisa mais poderosa que isso – algo que pudesse acertar um exército inteiro de uma vez – acabaria com os treants. Isso…

Treyni parou, avaliando todos nós antes de novamente focar seu olhar em mim.

— Além disso, nós descobrimos que um Nascido da Magia de alto nível estava trabalhando por trás das cenas para apoiar esse Lorde Orc. Como dríades, nós devemos nos preparar para isso. Nós não temos certeza de qual lorde demônio possa estar por trás de todos eles, mas nós não estamos interessadas em deixar esses intrusos fazerem o que quiserem com a nossa floresta.

Seus olhos pareceram brilhar cada vez mais enquanto ela falava. Como uma das criaturas mais poderosas da floresta, Treyni exalava uma presença na sala que era elétrica, Era como energia percorrendo todo o seu corpo.

— Bem, nós gostaríamos de ajudar, mas o que você quer nós façamos, exatamente?

— Eu gostaria que você derrotasse o Lorde Orc. — Treyni respondeu imediatamente.

Isso deixou todos sem palavras.

— Whoa, — eu protestei —, esse monstro é, tipo, forte pra caralho, não é? Por que alguém como eu teria que enfrentá-lo?

Treyni respondeu com um olhar ininterrogativo

— Mas os Onis aqui pretendem lutar contra os orcs, não pretendem? E você planeja contribuir com o esforço, certo? Você foi quem estendeu a mão para salvar todos esses goblins indefesos, há pouco tempo. Eu tinha pensado que você mostraria uma gentileza semelhante para nós e para os treants.

Ela sorriu novamente.

Eu não tinha certeza de que fontes ela estava usando, mas Treyni parecia saber uma quantidade considerável sobre o que acontecia na floresta. Ela deve ter visto minhas variadas façanhas nesse mundo, e concluído que eu era um tipo de bom samaritano onipotente. Talvez a vida isolada que as dríades levavam as fazia assumir o melhor de todos que elas conheciam.

Pelo menos passou pela sua cabeça que nós – ok, eu – poderíamos esfaqueá-la pelas costas? O sorriso fazia impossível de dizer com certeza, mas quando os nossos olhos se encontraram, eu pude sentir em meu intestino, não havia nenhum mentiroso na minha frente. Eu decidi seguir meus instintos.

Se sua história era verdade, nós realmente tínhamos um Lorde Orc em nossas mãos, bem como um Nascido da Magia de alto nível à espreita atrás dele. Eu ainda não sabia exatamente como eu poderia contribuir com a causa, mas se ela confiava em mim, eu deveria retribuir o favor.

Eu respirei fundo. Mas antes que eu pudesse falar:

— É claro! Para o nosso líder, Rimuru-Sama, o Lorde Orc não é mais ameaçador que uma barata qualquer!

Shion roubou a minha cena, um corajoso olhar de determinação em seu rosto. Geez. Eu não sou um deus ou algo assim. Gostaria que ela tivesse conferido comigo primeiro. E por que é  que estou certo de que sou eu quem está bancando o assassino de orcs por aqui?

Antes que eu pudesse protestar, Treyni me deu outro sorriso.

— Oh! — Ela exclamou. — Então, é como eu ouvi. Desejo boa sorte contra o Lorde Orc!

Eu tinha sido mais ou menos empurrado para o papel de assassino de Lorde Orc pela Shion, mas isso não marcou o fim da conferência. Nós continuamos, enquanto Treyni se juntou a nós para o resto.

No mapa, na área dos pântanos, tinha um pedaço de madeira com LIZARDMEN escrito nele. Atrás dele, um outro marcado com GOBLINS. Na frente dele estava o local onde os dois diferentes contingentes orcs iriam se cruzar. Colocar todos no mapa assim fez com que o tamanho da força dos orcs ficasse em nossas mentes, mas meus olhos estavam voltados para outro lugar.

— Sabe, — eu disse —, se aquele idiota de antes, decidir encenar um ataque ao QG dos lizardmens, ele o capturaria rapidamente, não é?

De fato. Gabil, o suposto enviado lizardmen. Se ele decidisse invadir o território dos lizardmens enquanto sua força principal estivesse ocupada com os orcs, ele seria recebido com apenas uma pequena resistência. As cavernas seriam dele em um piscar de olhos. E a força goblin estavam em uma posição perfeita para isso.

— Você tem certeza de que essas são as posições certas, Soei?

— Sim. — Soei disse. — Os goblins estão acampados nas planícies ao pé da cordilheira. Se eles mobilizarem suas forças a partir daí, eles farão exatamente no local indicado.

Eu confiei em suas palavras, mas por que eles estavam apenas sentados por aí, ao invés de se juntarem aos outros lizardmens? Esse era o problema. Mas eu tinha que me lembrar de que eu estava fazendo suposições muito grandes também. Gabil não tinha motivos para atacar seus companheiros lizardmens. O jeito estranho com o qual ele escolheu posicionar suas forças me fez pensar, mas havia poucas razões para pensar nisso, eu achei.

— Ah, talvez eu esteja pensando demais. Eu sou meio que um amador nisso, então…

— …Não. — Hakurou interferiu, seus olhos brilhando. — Acho que você pode ter razão. Se a força principal dos lizardmens estiver implantada diretamente na frente deles, seria mais fácil tentar atacar por trás. Mas os orcs claramente não têm tempo para tentar circular atrás deles, e mesmo se eles tentassem tal insensatez, eles poderiam ser facilmente atacados e cercados de ambos os lados enquanto suas linhas estivessem sendo esticadas. Não há nenhum motivo para manter um exército aqui.

— Mas qual seria o objetivo aqui? — Benimaru rebateu. — Mesmo se os goblins derrotarem os lizardmens, tudo que estaria à sua espera seria a morte pelas mãos dos orcs.

— Talvez, mas Gabil parecia se intitular como um líder. Ele pode querer roubar a posição de chefe para si.

— É possível. E na verdade, e não vejo outro motivo para ele posicionar suas forças aqui.

Gabil certamente era confiante. Sonhava alto. Mas ele realmente era tão descarado?

— Se é isso que vocês acham, — eu disse —, se vocês acham que isso é possível, então esse é mais um motivo para nós não podermos nos juntar a ele.

Ninguém discordou.

— Você acredita que Gabil pode estar se rebelando contra o seu próprio povo? — Treyni perguntou.

— É, parece possível, do jeito que esse mapa está mostrando. Ele nos pediu para nos juntarmos ao seu exército, mas eu não acho mais que isso seja uma boa ideia.

— …Entendo. Talvez exista alguém o compelindo a fazer isso. Eu vou investigar.

Eu apreciei o gesto, mas se ela estava cobrindo Gabil para nós, o que o resto de nós deveria estar fazendo agora?

— Eu gostaria muito de formar uma aliança com os lizardmens. — Hakurou disse.

— Sozinhos, nossos números são muito baixos. Além disso, eu odiaria deixá-los sozinhos e indefesos.

Todos acenaram com a cabeça em torno da mesa. Ninguém parecia ter alguma objeção quanto a isso.

— Mas tendo ou não uma aliança, nós nunca vamos superar os orcs em números. — Eu rebati. — Você tem certeza de que eles não apenas tratariam a oferta como um insulto?

Os hobgoblins pareciam ver isso como um problema. Os Onis riram deles.

— Rimuru-Sama, você se preocupa muito! — Hakurou comentou. — Cada um de nós é tão poderoso quanto um exército inteiro. Eu duvido muito que eles desprezariam tipos como nós.

Eu pensei que ele estava dando muito crédito para si mesmo. Parecia algo que Gabil diria, na verdade, mas aparentemente, ele quis dizer isso.

— Eu irei negociar com eles. — Soei disse.  — Está tudo bem para você se eu falar com o chefe lizardmen em seu nome, Rimuru-Sama?

Eu o analisei, enquanto ele esperava a minha resposta. Ele certamente parecia confiante. Eu não tinha certeza de onde isso veio. Mas ele parecia digno de confiança.

O mapa tinha acabado de nos dizer para esperar um confronto entre orcs e lizardmens em pouco tempo. Assumindo que isso fosse verdade, nós tínhamos mais tempo para salvar essa cidade do que eu pensava. Ter uma ideia geral do futuro próximo também ajudou a acalmar todo mundo.

— Certo. Então nós vamos pegar duas tachas diferentes. Eu liderarei uma força avançada até os lizardmens, e nós acabaremos com os orcs juntos. Nós vamos tentar vencer a batalha, mas se começar a parecer complicado, nós iremos para o Plano B, onde nós, basicamente, abandonaremos a cidade, nos reagruparemos onde os treants estão, e focaremos em defendê-los. Nós provavelmente vamos precisar chamar ajuda humana se isso acontecer, então eu vou contatar o aventureiro Kabal, e pedir que eles nos ajudem a apagar o Lorde Orc. Ele é tão ameaçador para eles quanto para nós, então eu tenho certeza de que eles nos ajudarão. É claro, isso tudo depende de formar uma aliança com os lizardmens. Você será fundamental para isso, Soei. Faça isso acontecer.

— Sim, Meu Lorde!

Soei acenou de volta para mim. Eu tinha fé de que ele iria passar, certamente.

— Certo! Nesse caso, sinta-se livre para falar com o chefe lizardmen do jeito que quiser. Apenas tenha certeza de que ambas as partes serão iguais nessa aliança. Nenhum servindo o outro!

— Entendido. — Ele disse, e então desapareceu, como se estivesse desaparecendo nas sombras. Ele trabalha rápido, não é?

— Bom. Agora, se Soei falhar em seu trabalho, nós iremos direto para o plano B. Eu quero que todos vocês estejam preparados para isso, se for necessário.

O resto da sala assentiu, concordando.

— Obrigada a todos por aceirarem meu pedido repentino. — Treyni disse, se curvando na minha direção. — Eu farei meu melhor para garantir que o relacionamento seja benéfico para todos nós.

— Oh, não, uh, o mesmo para você. — Eu gaguejei.

Ela sorriu um pouco em resposta, talvez achando a minha hesitação fofa, ou algo assim.

— Nós nos encontraremos novamente, Líder dos Monstros, ou melhor, Rimuru-Sama. — Então, ela se foi lançando sua própria magia para voltar para casa.

Então, nós tínhamos nossas ordens. Seria bom se nós pudéssemos formar essa aliança, mas se não desse, nós teríamos que pensar um pouco mais rápido.

— A propósito, Rimuru-Sama, você tem algum interesse em entrar em contato com Gabil novamente?

— Hmm… Boa pergunta, Hakurou. Eu acho que gostaria de guardar isso para o Plano B, quando nós estivermos procurando apoio humano… Hmm, mas os reinos precisarão de tempo para mobilizar suas forças quando a coisa ficar feia, huh? Você acha que talvez nós pudéssemos apenas falar que há um Lorde Orc por aí, por enquanto?

— Me parece uma boa ideia, Meu Lorde. Eu vazarei a notícia para os comerciantes kobold. Eles vão espalhá-la bem o suficiente depois disso.

— Obrigado.

Isso parecia ser o suficiente por enquanto. Eles provavelmente iriam querer alguma evidência sólida sobre o nascimento do Lorde Orc antes de juntarem suas forças conosco, além de tudo.

Rigurdo já estava fora da cabana da sala de conferência, cumprindo minhas ordens. Mesmo como rei goblin, ele ainda corria por aí o dia inteiro como uma galinha decapitada. As coisas estavam começando a acontecer. Isso estava começando a me deixar nervoso, mas não havia motivo para ficar pensando nisso. Nós precisávamos fazer o que podíamos e, agora, isso queria dizer que nós tínhamos que nos preparar.

Mas um Lorde Orc, huh? Parecia bem complicado. Roubar habilidades das pessoas soava extremamente injusto, não que eu pudesse falar algo sobre isso, mas eu tinha sido persuadido a confrontá-lo, e eu não poderia desapontar Treyni agora. Eu não estava certo das minhas chances, mas eu tinha feito o acordo, e iria até ele com tudo que eu tinha.

Se eu estragasse tudo, eu não teria chances de cumprir a promessa que fiz com Shizu. Eu tinha que pensar no futuro, mesmo que isso me deprimisse um pouco.

O exército orc invadiu a floresta, seus pés batendo contra o solo; árvores inteiras tombaram ao longo do caminho.

— Destrua-os! Destrua-os! Destrua-os! Destrua-os!

Tal era o canto estrondoso dos orcs enquanto eles marchavam, seus olhos amarelos brilhando de raiva.

Eles não eram capazes de pensar de um jeito normal. Aos seus olhos, tudo que se movia era presa. Eles estavam eternamente famintos, e todas as suas consciências estavam dedicadas em encher seus estômagos vazios.

Whump.

Outro caiu. Aqueles o cercando ficaram felizes. Eles tinham uma presa agora. Em algum ponto, eles poderiam ter sido amigos – mas ele era apenas um pedaço de algo comestível. – Parecia que ele ainda estava respirando, mas para os outros, isso só significava que a carne estava fresca.

Aqueles que tiveram a sorte de estar marchando ao lado dele imediatamente começaram a desmontar o corpo. O fígado foi levado para o líder do seu grupo, com o resto sendo pego pela ordem de chegada.

O ar rapidamente se encheu com sons repulsivos de carne e osso sendo dilacerados.

Eles estavam sempre famintos. E, quanto mais famintos eles se sentiam, mais poderosos eles se tornavam em batalha. Esse era o benefício oculto da habilidade única conhecida como Faminto. Quanto mais orcs caíam e eram comidos – e a fome dos sobreviventes crescia – mais forte o exército ficava.

Eles numeravam 200 mil, o valor de uma cidade de escravos famintos sob o comando do Lorde Orc. Não haveria salvação para eles, enquanto eles trabalhassem febrilmente para encher os seus estômagos…

Era tudo um esforço inútil demais nesse inferno sem fim.

Agora a terra natal dos ogros estava em frente a eles. Os orcs eram monstros de rank D. Os ogros, de rank B, os faziam se encolher de medo, nem mesmo em seus sonhos eles ousariam desafiá-los para uma luta.

Mas olhe para eles agora…

— Destrua-os! Destrua-os! Destrua-os! Destrua-os!

Eles nunca pararam. Na verdade, a caça por presas os fez irem mais rápido.

Seus companheiros caíam enquanto os ogros se enfureciam, exercendo o peso total de seus poderes, os cortando, cavando nos seus crânios com os cabos de seus machados…

Mas tudo que isso significava era que os orcs de repente tinham um abundante suprimento de carne fresca. Eles ficaram emocionados, esperando que isso ajudasse a conter suas fomes por no mínimo um momento.

Um ogro caiu. Vários orcs imediatamente atacaram, se banhando em seu sangue enquanto roíam seu corpo. Mas… ahh, isso não funcionou. Não encheu nada.

Mas agora veja, os corpos dos orcs estavam mudando. O poder do ogro estava agora com eles. E agora os ogros foram engolidos pelas hordas dos orcs supostamente inferiores, gritando, sofrendo com a aparente inutilidade de seus poderes.

E lenta, mas seguramente, alguns entre os orcs começaram a manifestar novas e inesperadas habilidades.

— A força dos companheiros que eu como se torna minha!

— O poder da presa que eu consumo se torna meu!

A alimentação continuou.

Nenhum deles tinha medo da morte. Qualquer sensação de medo em suas mentes tinha sido consumida com a carne de seus companheiros. E o poder fluindo dentro deles agora estava se dirigindo ao rei. Seu rei. O Lorde Orc, aquele no topo da cadeia alimentar.

A marcha continuou. A próxima presa estava bem na frente deles.

O chefe lizardmen estremeceu ao ouvir o relatório. O que ele mais temia se tornou realidade.

De acordo com o mensageiro, o forte da poderosa raça ogro foi destruído antes mesmo do fim do dia. Como se engolido completamente pela horda orc.

Não havia mais dúvida. O Lorde Orc estava aqui.

Em termos de estatística, eles ainda eram orcs de rank D, 200 mil deles ou não. Dez mil lizardmens de rank C+, jogando em seu território nos pântanos, tinham chance de lutar equilibradamente ou melhor, mas se a coisa que ele mais temia – um Lorde Orc – estava em cena, eles não eram mais de rank D.

Se eles tinham dominado os ogros completamente, essa era uma indicação de seu poder – desde o cara no topo, até o peão mais inferior no exército. – Eles podem não ser tão poderosos quanto ogros, mas você poderia colocar um sinal de + ao lado desse D, no mínimo. E os orcs que estivessem no nível de cavaleiro ou acima seriam no mínimo um C. Porra, a essa altura eles poderiam estar em C+, se igualando aos lizardmens.

Já seria difícil o suficiente afastar um exército tão massivo tentando atacá-los em seu elo mais fraco. Mas se não havia uma diferença de força significativa no nível da infantaria agora, eles não tinham chance. A presença do Lorde Orc significava que se esconder nas cavernas e tentar resistir a um cerco seria inútil. Seria diferente se eles tivessem reforços, mas fechar todas as saídas em potencial só faria os lizardmens morrerem de fome, e não os orcs.

Eles simplesmente teriam que se jogar contra eles. Foi uma decisão amarga para o chefe, mas uma que teve que ser tomada.

Gabil, enviado para ganhar o apoio dos goblins, ainda não tinha reportado. Eles não poderiam desperdiçar tempo procurando por ele – isso só aumentaria o nível de ameaça dos seus inimigos. – O chefe começou a temer que ele mesmo teria que liderar as forças.

Um soldado correu, gritando.

— Chefe! Nós temos um intruso! Ele deseja se encontrar com você na entrada da gruta de calcário!

Os guardas do chefe prepararam suas lanças em resposta.

— Acalmem-se. — Ele disse. Ele podia sentir a presença de uma aura forte por perto – mais poderosa que qualquer outra que ele tinha sentido antes – e ele percebeu que não gostaria de ver a raiva de seu dono. Uma batalha levaria a incontáveis baixas, provavelmente, e ele não podia detectar nenhuma hostilidade na aura.

— Quem quer que seja, — ele disse quando se recompôs — ele é muito corajoso, para vir até aqui sozinho. Eu gostaria de vê-lo. Traga-o aqui.

— Mas e quanto ao risco, Meu Lorde?

— Essa aura está no nível de um Nascido da Magia. Se nós quiséssemos afastá-lo, teríamos que pagar caro por isso. Ele não parece ser uma ameaça imediata, então, nós não temos nenhum motivo para ameaçá-lo imediatamente.

— Nós devemos forrar a área da câmara com nossas tropas de elite, então?

— Por favor. Mas eu não quero que ninguém mova um dedo até eu dar a ordem. Deixe isso claro.

— Sim, Meu Lorde!

O chefe assentiu para o seu guarda real, e esperou o visitante não convidado aparecer. Eles estavam em um labirinto natural, um com inúmeros cantos escondidos. Se esse Nascido da Magia inimigo tentasse causar alguma confusão, eles teriam modos de lidar com isso – se isso acontecer, na pior das hipóteses. – O chefe tinha esperança de que eles podiam conversar, ao invés disso.

Agora que a aura se aproximava, seu tamanho dizia tudo que o chefe precisava saber. Qualquer insensatez, ele pensou, e nem mesmo uma centena da minha força de elite seria o suficiente para derrotá-lo.

Depois de mais alguns momentos, um de seus homens trouxe um único monstro para dentro de sua câmara. Ele tinha pele escura, cabelos pretos com toques de azul e olhos de um azul mais claro e frios como o gelo. Ele era tão alto quanto um de seus lizardmens médios, não gigantesco para os padrões dos monstros, mas ele parecia composto, insensível, pronto para qualquer coisa.

O poder que ele parecia exalar era esmagador por si só, mesmo enquanto ele estava cercado por vários guerreiros lizardmens para mantê-lo sob controle. Uma outra centena de tropas estava estacionada ao redor, pronta para pular nesse visitante assim que o chefe instruir.

O chefe olhou para o visitante, e se conformou. Se isso der errado, ele pensou, eu terei desperdiçado a vida de todos nessa sala. Tal era a extensão da aura desse monstro, exponencialmente maior do que qualquer outra que ele conhecia.

— Minhas desculpas. — O chefe começou. — Nós temos estado muito ocupados com as nossas preparações que temo que eu não possa lhe fornecer a cortesia adequada que você merece. Eu posso perguntar o que te traz aqui?

Sua escolha de palavras irritou os lizardmens mais jovens na câmara. Para que toda essa polidez diante de um completo desconhecido como esse? O chefe apreciava esse pensamento, mas agora ele estava ansioso. Se eles fizessem qualquer coisa para desagradar esse visitante, eles não sairiam dessa câmara vivos. Os guerreiros mais jovens tinham muito pouca experiência, e não tinham a habilidade de medir com precisão seus inimigos. Eles não tinham vivido tanto quanto o chefe, nem desenvolvido suas habilidades de detecção de perigo como ele.

Mas sem se importar com as preocupações do chefe, o monstro falou.

— Meu nome é Soei. Não há necessidade de excesso de cerimônia. Eu sou um mero mensageiro.

Contrariando os piores medos do chefe, o monstro se introduziu serenamente. Não havia nada selvagem em seu comportamento enquanto ele encarava o chefe, não se importando com todos os guardas resmungando ao seu redor.

Soei, é? Um monstro nomeado. Isso explicaria a sensação esmagadora de poder. E esse monstro nomeado estava sendo empregado por outra pessoa, um pensamento que fez o chefe suar frio.

— Permita-me declarar meus negócios. Meu mestre deseja formar uma aliança com você, e solicitou que eu tomasse as providências necessárias. Eu sinto que nós temos boas notícias para você, meu mestre não pode simplesmente assistir à toa enquanto os orcs dizimam suas fileiras. É por isso que ele solicitou essa aliança.

Não era um cenário de pesadelo para o chefe, afinal de contas. Esse “mestre” parecia um pouco arrogante e vigoroso, sim, mas alguns aspectos da oferta mereciam ser ouvidos. O chefe pensou – sobre esse monstro, Soei, e os objetivos de quem ele servia. – Quem quer que fosse, ele estava trabalhando contra os orcs, pelo menos.

— Antes de eu responder à sua proposta, eu posso lhe fazer uma pergunta.

— Deixe-me ouvir.

A resposta foi simples, mas confirmou ao chefe que o outro lado estava disposto a negociar. Foi um alívio.

— Bem, então… se você procura uma aliança, é seguro assumir que seu metre está disposto a trabalhar ao nosso lado enquanto confrontamos os orcs?

— De fato. Como eu te disse, ele não deseja ver vocês aniquilados. Ele deseja lutar ao seu lado, se possível.

— Então, deixe-me fazer outra pergunta. O que seu mestre acha que seja a causa principal por trás dessa atividade dos orcs?

Soei permaneceu em silêncio por um momento. Um sorriso ousado começou a cruzar o seu rosto.

— Você está perguntando se é com um orc que nós estamos lidando? Então, deixe-me dar a você uma informação que eu garanto que é verdadeira. Meu mestre, Rimuru-Sama, recebeu um pedido das dríades, as guardiãs da Floresta de Jura, para matar o Lorde Orc. Ele prometeu solenemente realizar essa ação. Espero que você considere isso ao tomar sua decisão.

A resposta ofereceu ainda mais para o chefe do que ele esperava. A revelação de que as dríades estavam envolvidas fez com que todos na sala se mexessem. E o homem na sua frente tinha acabado de confirmar que o Lorde Orc era muito, muito real. Quem quer que fosse o mestre a quem esse monstro servia, ele realmente tinha o poder para derrotar essa ameaça?

Considerando que Soei tinha mencionado o nome das dríades, uma das presenças de primeira classe da floresta, parecia seguro assumir que ele estava falando a verdade. Ninguém seria burro o suficiente para falar o nome das dríades, já que isso poderia provocar a ira delas. Dizia-se que elas podiam ver e ouvir tudo, através das mesmas árvores que povoavam a floresta. Todos os residentes da floresta sabiam que seus nomes deviam ser tratados com respeito.

O termo aliança sugeria que os lizardmens não seriam submetidos à servidão. Eles seriam tratados como iguais. Era uma oferta, o chefe raciocinou, que tinha que ser aceita.

Mas antes que ele pudesse falar, um outro grupo de lizardmens entrou na câmara.

— Chefe! Não há necessidade de ouvir essa conversa!

— De fato! Nós somos a orgulhosa raça lizardmen! Por que um completo estranho pensa que pode simplesmente entrar e pedir o nosso favor?

Eles eram homens de Gabil, parte do grupo que ficou para trás enquanto seu líder partiu para garantir o apoio dos goblins. O chefe tinha pedido para eles ficarem quietos, temendo que eles fossem esquentados demais para serem úteis em negociações delicadas com os goblins, e agora ele estava pagando por esse erro.

Ele desejava poder estalar a sua língua e fazê-los desaparecer. Certamente, não havia como falar exatamente o quão poderosos seu mestre e seu povo eram. Mas simplesmente descartá-los imediatamente, por cima da autoridade de seu chefe?

Esse visitante estava exigindo muito, isso era verdade, mas ele era um mensageiro, e esses lizardmens meia-boca não tinham o direito de tratá-lo como lixo. Além disso, as exigências do visitante não eram, por si só, um problema. O enviado representava um monstro poderoso o suficiente para ser confiado até mesmo pelas dríades.

Em termos de nível, ele devia ser equivalente aos lizardmens, ou mais alto. E em um mundo de monstros, tudo girava em torno da sobrevivência do mais forte. Aqui estava uma presença de alto nível procurando por sua ajuda. Qualquer grosseria percebida poderia ser rapidamente perdoada. Mesmo esse enviado possuía uma quantia assustadora de força, um completo Nascido da Magia. Pressione seu lado errado, e ele poderia facilmente se tornar seu inimigo, e enfrentar um Nascido da Magia assim antes da horda orc chegar seria o ápice da tolice.

O chefe olhou para Soei, tentando ler suas emoções. Os olhos do enviado ainda estavam fixados no líder dos lizardmens. Ufa. Isso foi um alívio. Ele não podia deixar um espectador imbecil arruinar essa oferta.

— Silêncio! — Ele gritou, silenciando a câmara enquanto sinalizava para os seus guardas com os olhos. — Eu serei o único que decidirá o que nós faremos. Vocês não possuem o direito de intervir. Leve-os para a prisão! Uma noite passada lá deve ajudá-los a enxergar seus erros.

Os dois transgressores foram levados embora rapidamente, gritando

— Chefe, por favor reconsidere! — e — Gabil-Sama nunca permitirá isso! — Mas eles não importavam mais. Ele se voltou para Soei, e abaixou sua cabeça.

— Por favor, perdoe a grosseria do meu povo. Eu acho que gostaria de firmar essa aliança com você. No entanto, os assuntos com os quais eu devo lidar me obrigam a permanecer aqui. Em circunstâncias normais, eu amaria conversar com o seu mestre no local de nossa escolha, mas temo que eu não possa poupar um único momento. Seria possível que ele viesse até mim, ao invés disso?

Ele suou nervosamente, Ele sabia que estava pedindo muito, de alguém muito mais poderoso. Ele sabia que poderia irritar o enviado facilmente, mas Soei não demonstrou nenhuma preocupação.

— Eu aceito as suas desculpas. Estou certo de que meu mestre ficará encantado ao ouvir a sua resposta, e estou ansioso para trabalhar ao seu lado. Nesse caso, eu tomarei as providências necessárias para trazer as nossas forças aqui, e então você se encontrará com Rimuru-Sama, eu imagino.

O comportamento de Soei sugeria que ele não pensou nem por um momento que o chefe poderia recusar. Ou – o chefe subitamente pensou – se eu recusasse, seria isso. O fim da sorte dos lizardmens.

E essa não é uma suposição desnecessária, ele pensou. Sem esse encontro de hoje – sem essa aliança – nosso povo poderia muito bem ter perecido.

O enviado, Soei, tinha declarado que o Lorde Orc era real. O chefe já estava pensando na pior das hipóteses, e agora havia um vislumbre de esperança de que eles pudessem sobreviver. Isso encheu o chefe com um grande sentimento de alívio.

— Vamos nos reunir, então. — Soei disse. — Daqui a sete dias. Eu peço para que não se apresse em nenhum tipo de conflito antes disso. Eu também o aconselharia a cuidar das suas costas por enquanto.

— Muito bem. Eu estou ansioso para conhecer o seu mestre.

O monstro acenou para o chefe, e então desapareceu do local, sem fazer barulho, como se estivesse desaparecendo nas sombras.

Sete dias. Isso deve ser o suficiente, ele pensou. Se esconder nas suas cavernas para impedir os orcs de ficarem mais fortes, e esperar pelos seus reforços. Ele não sabia que tipo de números seu novo amigo traria, mas mesmo alguém tão poderoso quanto Soei sozinho seria uma grande ajuda. Se esse suposto mestre iria enfrentar o Lorde Orc ele mesmo, então os lizardmens precisavam conceder todo o suporte que eles pudessem para ele. Era uma abordagem incerta, mas com certeza era melhor que arriscar suas vidas em um confronto que não oferecia quase nenhuma chance de sobrevivência.

Agora, pelo menos, o chefe sabia o que devia ser feito.

— Preparem-se para um cerco, homens! Nós devemos segurar nossa força de combate até os reforços chegarem!

— Sim, meu lorde!

E então os lizardmens se esconderam em seu labirinto natural, discretos e quietos para o conflito que estava por vir.

Gabil abriu seus olhos. Levou um instante para ele se lembrar do que tinha acontecido. Quando ele finalmente se lembrou, ele saiu da cama, lívido.

— Você acordou, meu lorde?! — O lizardmen o servindo disse.

— Sim. Me desculpe por alarmar vocês. Eu devo ter caído na armadilha dele…

— Armadilha?

— De fato. Aquele tolo imprudente e seus truques inteligentes…

— …O que isso quer dizer, senhor?

— Quer dizer que o lutador que me derrotou era o verdadeiro líder da vila.

— O quê?!

Seus homens começaram a conversar nervosamente entre si, digerindo essa notícia devastadora. Isso explicava tudo… em suas mentes.

— O ladrãozinho fingiu que o slime era o seu líder para distrair a minha atenção. Ele fez o papel de um peão tolo, e então me acertou quando eu abaixei a minha guarda!

— De todos os truques sujos, meu lorde!

— E pensar que os Lobos de presa, de todos os monstros, estão cooperando de boa vontade com patifes de mente tão pequena. E já foram chamados de governantes das planícies! No final, são apenas um bando de cachorros sarnentos.

— Obra de um completo covarde! Indigno até mesmo de cruzar espadas com um guerreiro como você, Gabil-Sama!

— Sim, sim. Eu ofereci a ele uma chance de duelar comigo, justa e honesta, e agora eu vejo que isso foi um erro!

— Ah, eu… eu entendo, senhor. De fato, não teria como você perder de outra maneira.

— Bah! Malditas sejam aquelas bestas, Lobos de presa miseráveis e seus goblins conviventes! Só porque eles foram abençoados com uma evolução, meu lorde, eles andam por aí como se fossem os donos do mundo! Se eles pensam que podem se equiparar aos lizardmens, é melhor tirarmos essa ideia deles rapidamente!

Gabil fez um gesto de apreciação para os seus homens. Era verdade. Ele não podia imaginar outra razão para ter perdido esse confronto. Além disso, os Lobos de presa se provaram ser uma grande decepção. Toda aquela falácia sobre seu orgulho, seu trabalho de equipe impecável, e aqui estavam eles, compartilhando seus destinos com um bando de vagabundos disfarçados.

— Qualquer um que usa tais táticas covardes contra mim é desprezível! — Ele cuspiu, ainda lívido.

— Talvez tenha sido melhor não termos nos aliado a eles.

— Eu diria que sim!

— De fato, de fato…

Gabil se deliciava com a massagem de ego de seus homens. Então ele soltou uma risada calorosa. Para ele, ele não tinha sido derrotado, no final.

— Agora que penso sobre isso, — um outro homem disso —, eu acho estranho, Gabil-Sama, que você tem permanecido no posto de lorde guerreiro por todo esse tempo.

— O quê? — Gabil respondeu, zombando do lizardmen.

— N-não, eu… eu não quero dizer que você é indigno do posto, meu lorde. E sim o oposto! Eu sinto que isso é um desperdício de oportunidade, você servir aquele velho débil por todo esse tempo.

— Continue.

Agora Gabil estava do seu lado. O lizardmen endireitou sua postura, aliviado.

— Eu acho, Gabil-Sama, que está na hora de permitirmos que o nosso chefe se aposente e de estabelecermos você como o novo chefe lizardmen. Ah, se esse já fosse o caso! Então, talvez, nós não estivéssemos tão ameaçados pelos orcs como estamos agora.

Os outros rapidamente se aproximaram para concordar.

— Exatamente! Uma vez que Gabil-Sama mostrar sua verdadeira força, esse velho tolo e teimoso logo entenderá e se afastará. Será uma nova era para o povo lizardmen, e nada me faria mais feliz que ver isso acontecer!

— É verdade! Está na hora de um novo vento soprar em nossa pátria!

Gabil concordou com a bajulação gritada. Ele sentiu que, finalmente, estava na hora.

— Ah, — ele disse —, então vocês todos estavam pensando a mesma coisa? Eu estava apenas considerando que havia chegado a hora de agir por conta própria. Vocês estão dispostos a lutar ao meu lado?

Ele analisou os seus homens. Todos eles estavam olhando para ele, com os olhos cheios de paixão. Ele gostou do que viu. Eles estavam visando uma nova época na história lizardmen, uma em que eles teriam uma participação direta na criação. Gabil sentia que, em breve, eles seriam seus conselheiros mais confiáveis, oferecendo o apoio necessário para levar sua espécie a uma nova geração de glória abundante.

— Nós estamos, senhor. — Um disse. — Se você estiver disposto a nos liderar.

Essa era a chance pela qual Gabil estava esperando. Ele assentiu sabiamente.

— Então a nova era está aqui. — Ele proclamou. — Muito bem! Vamos todos nos erguer juntos!

Os ecos dos aplausos que o seguiram pareceram permanecer por minutos.

O tolo finalmente tinha subido ao palco. A farsa estava prestes a começar.

 


 

Tradução: TDDSK

 

Revisão: ZhX

 


 

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