No momento em que o sol pairava totalmente acima do horizonte, já se preparava outro dia quente na praia de Kimigahama.
Apesar do dia anterior caótico, Ohguro-ya, a única loja de praia em operação, se preparava para cair de cabeça no trabalho novamente. Como Amane colocou — Faça chuva ou faça sol, qualquer japonês digno sempre mantém a loja aberta! — Maou tinha algumas coisas a dizer quanto a isso. Mas o que a chefe fala está falado.
No dia seguinte em que ela testemunhou os três demônios em suas verdadeiras formas enquanto travaram uma guerra transdimensional com invasores alienígenas, Amane precisava de apenas sete palavras para calar os três:
— Não vou pagar vocês se não fizerem.
Então Maou limpava as mesas, Urushihara enchia a piscina infantil e Ashiya se esforçava para preparar ingredientes suficientes para alimentar um grupo tão grande quanto o do dia anterior.
— Sabe, quando eu apareci pela primeira vez, Chiho e Kamazuki… bem, meu Deus, elas estavam tão fora de si! O que diabos vocês estiveram falando sobre mim?
— Bem, quero dizer, você era uma incógnita para nós, então… — Maou fez o possível para criar uma desculpa.
Suzuno e Chiho, da segurança da pousada, observaram Emi e Maou voarem sobre o mar.
Inicialmente Maou ficou ressentido com Emi por deixar Chiho em Kimigahama enquanto os Malebranches sobrevoavam os céus. Mas assim como Emi explicou:
— Se Amane realmente tivesse algum tipo de poder, imaginei que ela a encontraria se as coisas realmente ficassem ruins.
— Oh, calma calma, não era apenas Chiho. Havia mais alguém, lembra? E quanto a ela?
Suzuno, fazendo beicinho para si mesma em um canto da loja, estremeceu quando Amane à tornou tema da conversa.
— Eu não estava procurando a ajuda de ninguém! Contra um Malebranche, eu poderia lutar com uma mão e ainda proteger Chiho!
— Sim, quero dizer, Suzuno é forte o suficiente, e… Certo, é ótimo se ela manteve a Chiho segura. É só isso.
— Eeeee!!
— Vossa Alteza Demoníaca, não aprendeu nada? Ela não foi sequer informada sobre Camio. A estranha do grupo, o tempo todo! Você tem que pelo menos mostrar um pouco de cuidado com-grrgbbh!
Ashiya começou a palestrar novamente, mas cometeu o erro de fazê-lo tão na cara de Suzuno. Desta vez, foi recompensado com uma garrafa de molho de soja na parte de trás da cabeça.
— Eu não sou nada estranha! Não me importo com esse absurdo! Se eu estivesse lá, teria transformado o exército de demônios em nada além de pedaços. Mas Emília! Como foi que você se saiu?! — Suzuno franziu a testa uma espécie de carranca solitária enquanto dirigia sua ira para Emi no canto.
— Eu ouvi que você não matou um único demônio, Emília! Qual é o significado disso?!
— O que? Não é nada sério.
Emi, sentada em uma área da loja que tinha sombra, era a única de maiô.
Por conta do seu pequeno mergulho noturno, suas roupas estavam sendo lavadas. Mas por conta de não ter nenhuma muda de roupa, foi forçada a esbanjar o visual litorâneo pelo resto do dia.
— Eu só… Não permiti meu ódio tomar o controle para matar todos em meu caminho. Se precisar ser feito, farei com certeza. Eu juro que não hesitaria em tirar a vida de alguém… mas…
Emi olhou para Maou, atualmente preocupado limpando as mesas e cadeiras.
— Se eu vou fazer isso com alguém, não vai ser justo a menos que voltemos para lá primeiro. Também acredito que Ciratto é bem mais forte que isso, no nosso universo. E também não posso usar toda a minha força no Japão, é claro. É fácil matar alguém, mas fazer alguém do outro lado te odiar por isso… é, isso é um pé no saco, sabe? Isso… — Emi encolheu os ombros e ergueu os braços no ar. — Essa guerra ridícula que estamos travando… Não quero continuar adiando para o futuro. Quando acontecer, eu quero ganhar. E quero dominá-los com meu poder. É por isso que não os matei.
— Ahhhh… Um dia ensolarado desses e vocês garotas falando sobre matar, mutilar e arrancar olhos. O que aconteceu com as lindas pérolas do Japão que apareceram há alguns dias? — Amane comentou com ninguém em particular enquanto enchia a caixa registradora com troco.
— Então… aquela luz era do farol, certo? E você estava controlando o nevoeiro e tudo mais, Amane? O que foi aquilo afinal? E aquele ciclope e a besta demonóide… E quanto a eles? Estão mortos?
Amane não se mexeu nem um centímetro diante da saraivada de perguntas de Urushihara. Ela fez uma pausa e tomou um gole de 5-Honest Energy.
— Os filhos da Árvore da Vida pertencem à terra dos Sephirah.
— Hã? — A palavra Sephirah sendo usada sem aviso chamou a atenção de todos.
— Eles simplesmente retornaram para onde precisavam estar. A luz simplesmente lhes mostrou o caminho… Bem, eu mostrei o caminho para o penhasco e meio que empurrei eles, mas você sabe como é. Pessoas assim são encrenca, sabe. Não precisamos que atrapalhem nossos negócios.
Após a resposta enigmática, Amane olhou para Maou.
— Você já conheceu minha tia Mikitty antes, certo, Maou?
— Uh, sim, é claro…
— Ela te contou alguma coisa sobre nós?
— Sobre vocês … “Nós”?! Quer dizer, além do fato de serem parentes?
— …Ahh. Bem, esquece. Da minha boca não sai mais nada. — Amane fechou o caixa e balançou a cabeça ironicamente.
— Mas o que você quer dizer? Que você é mais do que uma simples humana?
Amane negou com a cabeça novamente para Ashiya, enquanto ele embrulhava os vegetais do dia e seguia com sua faca para o amolador.
— Beeeeem… Se quer dizer que não somos humanos, acho que até poderia seguir nessa linha, mas… Sabe, eu faço meus exames de rotina todo ano e nunca tive problemas nos testes. A encarnação da saúde!
— Não, er, não era bem isso que eu estava perguntando…
— Bem, está tudo bem, não está? Estamos todos vivos, então. — com isso, Amane caminhou até Emi.
—…Um?
— Ah, olhe para o cansaço dela. — Levou a mão à testa de Emi, os olhos focados nos dela.
Emi a encarou de volta. Ela não tinha nada de “cansada”.
Talvez Amane soubesse sobre Alas Ramus dentro dela, afinal.
— Certifique-se de não decepcionar aquela garota, ok? Ela merece isso. Na verdade, ela pode ser apenas uma parente muito, muito distante minha.
— Hum?
Antes que Emi pudesse analisar o que isso significava, Amane tirou a mão e se virou.
— Beleza! Estamos prontos para abrir?
Ela estava falando com os demônios.
— Ah, acho que cheguei na hora certa.
Chiho entrou pelos fundos carregando uma troca de roupa para Emi.
— Hoje vai ser mais um dia quente. Elas ficaram pouco tempo no varal, mas já estão secas. Aqui está, Yusa.
— Oh, obrigada Chiho.
Emi aceitou as roupas sem tirar os olhos de Amane.
— Ah, timing perfeito! Certo, então.— Amane bateu as palmas duas vezes para atrair a atenção de todos.
— Eu sei que foram apenas alguns dias, e gostaria de agradecer muito a todos, mas temo que não posso ter vocês trabalhando aqui por mais tempo.
— Uhm?
— Uhmm?!!
Os demônios não conseguiram responder com nada além de um lamento sofrido.
— Vou descobrir como gerenciar melhor esse lugar, então não se preocupem com isso. Oh, e… ei, Maou e Kamazuki? A Tia Mikitty terminou os reparos em tempo recorde, aparentemente, então seu apartamento está pronto.
— Uh, do que você está falando? Eu não entendo de onde veio isso. — Finalmente assimilando o anúncio inusitado, Maou se sentiu embranquecer quando a luz do sol o atingiu.
— Eu te contei sobre os moren-yassa? Eu esqueci.
— Moren-yassa? — Ele se lembrou vagamente de algo sobre isso durante aquela noite com fogos de artifício.
Os moren-yassa, eram fantasmas marítimos que espreitavam os mares de Choshi.
— Bem, essa história é verdadeira, tá ligado. Os detalhes são um pouco estranhos, mas…
— Er…
— Mas, ééé, eu imaginei que tinha que ter algo por trás de vocês desde que a Tia Mikitty fez a recomendação. Mas, meu deus, vocês são demais para os meus clientes! Especialmente vocês, Maou e Ashiya. Por que, assim, vocês podem bagunçar todo o balanço energético dessa praia, sabe?
— …Uh, umm, Amane, desculpe interromper você e tudo, mas… — Com o rosto tão branco quanto o de Maou por algum motivo, Chiho encarou a situação. Ela apontou um dedo trêmulo para um canto da loja em frente ao assento de Emi.
— Aquilo… é a sombra de uma criança ali?
— …Ops. — Amane deu uma olhada, depois virou o rosto para o teto.
Nenhum dos demônios, nem Emi ou Suzuno, notou qualquer tipo de sombra ali.
A sombra de repente se virou para cima, como se percebesse que agora era o centro das atenções.
— …!!!! — Emi soltou um grito silencioso e saltou da cadeira.
A sombra não tinha rosto. Ou, para ser exato, realmente não era nada mais do que uma sombra escura contra a parede.
Parecia a silhueta de uma criança, e enquanto todos olhavam para ela, congelados de medo, ela correu em direção à praia.
— M-M-M-Meu, meu, meu suserano…
Todos eles tiveram o choque de suas vidas mais uma vez quando Ashiya apontou para fora.
O mar, e a própria praia, estavam lotados.
Não com banhistas.
Mas com o que pareciam ser centenas de sombras, assim como aquela que saiu correndo da loja.
Um final de semana em Kimigahama, brilhante e ensolarado, agora abrigava uma grande reunião de silhuetas negras.
Todos eles tinham a forma de pessoas. Alguns até tinham tubos internos e bolas de praia na mão, tão escuros quanto. Havia até alguns desfrutando do que parecia ser um almoço antecipado.
Mas era tudo sombras. Apenas uma enorme multidão de sombras.
— A-Ama, ma, ma, ma, Amane, o que é isso?!
A visão veio tão de repente, tão sem aviso, que todos entraram em pânico, sem saber como lidar.
O que eram aquelas silhuetas? Não pareciam hostis, mas definitivamente não era a multidão para quem venderam bebidas e curry no dia anterior.
— Bem, em parte é culpa de vocês, é isso que é.
Amane, completamente imperturbável, acenou com a mão para a multidão de sombras, como se estivesse cumprimentando seus vizinhos na rua.
— O-o-o-o-o que você quer dizer?!
Maou, mantendo Chiho protegida, quase gritou com Amane.
— Bem, pense assim. Força demoníaca e energia sagrada. Você já considerou o que são realmente?
— O-o que você…?
— Dizem que há algo especial em um belo nascer do sol, certo? Um tipo de energia que você não pode encontrar em nenhum outro lugar. Tem os moren-yassa, tudo bem, mas eles não são os espíritos dos afogados nem nada assim. Este é um santuário sagrado, um dos poucos na Terra onde uma alma pode ir para se purificar. A temporada só vai de meados de julho a agosto, praticamente, mas é aqui que eles relaxam e descarregam. E eu e meu pai… Nós mantemos o forte, por assim dizer. Lutamos para proteger as almas dos mortos que aparecem aqui. Mas, sabe…
Amane deu a Maou um olhar de desaprovação bem incomum.
— Suas forças demoníacas e sagradas só poderiam existir em um mundo que estava à beira do colapso de qualquer maneira. E ontem, quando você atirou toda essa energia sobre o reino distante… Acabou com o equilíbrio quase perfeito que tínhamos neste santuário. Eles têm a chance de assumir a forma humana enquanto estão aqui, mas agora quase a perderam. Então é por isso que tenho medo de não poder mantê-lo por mais tempo.
— À beira do colapso? Do que você está falando?
Amane abriu um sorriso sugestivo com a pergunta de Suzuno.
— Aqui no planeta Terra, você sabe… Existem muitas forças e mistérios que vocês desconhecem. De muito, muito tempo atrás. Muito antes de existirem deuses, até.
Ela mostrou o talento de um político com respostas ambíguas, mas Amane não lhes deu chance de responder.
— Então! Agora que estamos esclarecidos sobre isso… Mais uma vez, desculpem por isso, pessoal. Vocês definitivamente encheram o lugar, então vou dar a todos um bônus por isso. Meu pai sempre me ensinou que eu preciso recompensar as pessoas quando elas dão duro, então não se preocupem com isso.
Amane levantou um braço e estalou os dedos.
Buooooooooooooooonnnnnnnnnnnnnn…
Buooooooooooooooooooooonnnnnnnnnnnnnn…
Buoooooooooooooooooooooooonnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn…
A sirene de nevoeiro disparou.
Junto com ela, o nevoeiro retornou à praia de algum local desconhecido, como se um ninja tivesse jogado a maior bomba de fumaça de todas.
Entre os vendavais do oceano e a areia, Maou mal conseguia manter os olhos abertos conforme ouvia Amane falar.
— Me chame de “Binah” da Terra.
Ela estava bem na frente deles há pouco, mas com a voz abafada e em meio ao vento e a névoa, era difícil dizer onde ela estava.
— Procure pelo Da’at do seu mundo e o restaure de volta ao que deveria ser. Tenho certeza de que é por isso que tia Mikitty está esperando.
E aquele foi o fim.
No momento em que a sirene de nevoeiro ficou em silêncio, a neblina foi afastada por uma explosão repentina.
Assim, quando abriram os olhos, Kimigahama, as sombras estranhas brincando, e Ohguro-ya desapareceram.
Em vez da praia ampla e ensolarada, havia um caminho ao longo de um dique de concreto, com tetrapos anti-erosão empilhados na costa. Foi a mesma visão que Chiho viu entre as ondas no primeiro dia em Choshi, na van para Ohguro-ya. A água era rasa, repleta com recifes e totalmente inadequada para se banhar.
Maou, Ashiya, Urushihara, Emi, Chiho, Suzuno e todas as suas bagagens estavam alinhadas ordenadamente na passarela repleta de ervas daninhas.
— O que…o que…o que…
A voz de Maou tremeu.
— Onde diabos estamos?!!
Seu grito repercutiu pelo mar antes de se dissipar no horizonte.
Não havia como receber alguma resposta, mas foi então que notou algo flutuando no ar: pedaços de papel vermelhos. Eles poderiam ser facilmente contados, pois todos caíram no chão aos pés de cada um deles.
— M-Maou, isso é…?
Chiho mostrou um dos envelopes para ele.
— O nosso… bônus?
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Tradução: Vinicius
Revisão: Bravo
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