Rei Demônio ao Trabalho

Rei Demônio ao Trabalho – Vol. 04 – Cap. 03.5 – O Rei Demônio Admira o Vasto Mundo (e Choshi)

 

O Farol de Inuboh-saki foi projetado e construído em 1874, por Richard Henry Brunton, um arquiteto britânico convidado ao Japão para ajudar a reforçar sua infraestrutura costeira.

Depois de várias remodelações e reconfigurações para adaptá-lo para a guerra e em tempos de paz, a torre era agora um dos apenas seis faróis “Tipo Um” restantes no Japão, sua lente Fresnel de primeira categoria oferecia um alcance de varredura de quase 22,5 milhas.

Era noite. Na base do farol, o feixe de luz se movia preguiçosamente acima, Maou, Ashiya e Urushihara enfrentavam Emi, com uma caixa de papelão em suas mãos.

— Sozinha, hein? E quanto a Chi e Suzuno?

— Eu disse à Bell. Ela está segura com Chiho agora, só por precaução.

As chances de Emi escolher este momento para uma batalha final com o Rei Demônio pareciam pequenas. Mas ela ainda estava antecipando um “só para ter certeza” afinal?

Talvez ficasse claro quando ele descobrisse onde sua amada filha estava.

— E Alas Ramus?

— Aqui. — Desta vez, Emi apontou não para a cabeça, mas para a mão direita.

— Tudo bem, então… pera… o que? Você não nos chamou aqui para lutar agora, né?

O texto que recebeu quando fechou a loja veio de Emi.

Ele não se lembrava de ter dado a ela o número de trabalho. Eles eram familiarizados com exatas zero redes sociais. Ela deve ter tirado de Chiho ou alguém.

O texto era bastante simples.

NA FRENTE DO FAROL, HOJE À NOITE, 11 HORAS. TRAGA CUMIO. NÃO DEIXE AMANE TE VER.

Ele não respondeu, estava muito ocupado rindo da forma como escreveu “Camio”, mas Emi devia saber que eles apareceriam.

— Isso seria divertido, mas, infelizmente, não. Diga a eles, Camio, por que eu chamei o Rei Demônio aqui?

— Então, que seja. Piu! — A voz de Camio era mais clara e inteligível do que antes. O dia de descanso deve ter feito maravilhas.

Os três demônios espiaram dentro da caixa. Que tipo de entendimento a Heroína teve com o Regente Demônio de Maou?

A vista para o mar do Cabo Inuboh-saki era escura, turva e sombria.

Um vento frio, estranhamente frio para uma noite de verão, brincava com os cabelos dos demônios do outro mundo.

— Senhor Satan… General… da Ilha Oriental… Lúcifer… Temo que o perigo esteja rapidamente piu se aproximando desta terra.

— Uh, cara, eu também tenho um título?

Camio ignorou o choramingo de Urushihara.

— Quando ouvi que a heroína Emília estava aqui, uma criança servindo como sua espada sagrada… Pensei que iria desmaiar na mesma piu… hora. Enquanto conversamos, existem forças, não os demônios do Rei Demônio, nem mesmo do nosso reino em geral, mas outra força, em uma busca frenética pela espada da  piu Heroína.

— Não do meu reino? Que diabos…? — Maou curiosamente olhou para a galinha na caixa.

Piu! Foi há várias quinzenas. Um humano…um mero humano… me visitou em nossa capital, Arco de Satanás. Essa figura afirmava que qualquer um que adqui-piu-risse a “espada sagrada” ganharia poder suficiente para governar nosso reino, os céus e Ente Isla com uma só cajadada piu. Esta declaração, dói-me dizer, alimentou a sede de sangue de muitos entre as nossas forças restantes, buscando vingança contra o vencedor do Senhor Satan.

Ashiya e Urushihara soltaram um suspiro de surpresa atrás de Maou.

Um humano visitou os reinos demoníacos. Não houve um único caso anterior disso em toda a longa história do reino.

Quando confrontado com o poder demoníaco que percorria o próprio ar naquela terra, um ser humano comum acharia difícil permanecer consciente.

Chiho, quando confrontado com Maou em sua forma de Satan a curta distância, mal conseguia respirar diante de sua força todo-poderosa.

— Do jeito que Camio colocou, depois que seu exército de invasão entrou em colapso, as tropas sobreviventes se dividiram em duas facções. Uma queria iniciar outra invasão para vingar sua morte. A outra adotou uma abordagem mais moderada, pedindo às massas que acreditassem na sobrevivência de seu senhor e preservasse a força da nação. Camio acabou tentando fazer os dois lados chegarem a um acordo. Mas esse visitante humano fez o delicado equilíbrio que ele construiu desmoronar.

Era uma imagem estranha, Emi explicando os eventos atuais do reino demoníaco para Maou. Ela continuou, prestando pouca atenção ao sorriso desconfiado.

— Essa pessoa disse que havia duas espadas sagradas. E uma delas —, sem sequer fazer uma pausa para garantir que não houvesse cidadãos japoneses comuns por perto, Emi fez sua espada se materializar a partir do nada. A Cara-Metade. — Não existem muitos humanos que saibam que a Cara-Metade está aqui no Japão comigo.

A dica foi suficiente para finalmente fazer Maou entender.

Por que Sariel sabia desde o início onde estava a espada de Emi? Onde ele descobriu essa informação valiosa?

Ela estava certa. Não havia muitos em Ente Isla que sabiam a localização da espada sagrada. Não muitos humanos.

Havia os companheiros de viagem da Heroína, Emeralda e Albert. Suzuno, mais conhecida em outros lugares como Crestia Bell, tornou-se amigável o suficiente com Emi para descobrir a verdade. Havia os seis arcebispos que se reuniam regularmente no Santuário de Todos os Bispos para deliberar sobre os assuntos da Igreja, aqueles que souberam da sobrevivência de Emília por Suzuno antes de ela partir. Além disso…

— O humano chegou acompanhado da facção da “vingança” antes de desaparecer. Ele piu se chamava Olba Meiyer.

— O-o que diabos ele está pensando? Que merda ele está fazendo? E, cara, tipo, quando?!

O mais chocado com o nome foi Urushihara, dado o quanto o anjo caído tinha dedicado a ele nos últimos dias.

Olba era a única pessoa no Japão que sabia que Emi estava lá. Ele se envolveu em hostilidades com ela, e nunca se resolveram depois daquilo. Ele tinha uma ideia de que isso aconteceria, mas a notícia ainda era difícil para ele engolir.

— Eis o resultado de ter pena dele…

Ashiya, que uma vez cruzou espadas com Olba no Japão, apertou os dentes enquanto cerrava os punhos com raiva.

— Regente Camio. Quem estava liderando a facção da “vingança” que seguiu Olba?

— Foi… Barbariccia, assessor de Malacoda, General da Ilha do Sul. Piu.

— Eu gostaria que você parasse de falar como um pokamon enquanto estamos tentando ser sérios.

Maou coçou a cabeça distraidamente.

— Mas se vamos ter essa conversa, porque aqui fora desse jeito? Por que não voltar para Ohguro-ya? Amane já se foi.

— Você não ouviu Camio? Amane poderia ter matado todos com sua força.

— Sim, eu ouvi isso, mas…

— Bem, talvez você tenha esquecido porque ela é uma personalidade tipo A, mas ela é sobrinha daquela senhoria, lembra? Talvez ela não seja nossa inimiga, mas não se esqueça — ela também não é exatamente uma pessoa normal.

Emi não poupou nada em sua dura repreensão.

Mas esse não era seu antagonismo habitual. Havia algo mais para acusar agora.

— Mas mesmo que Amane tenha algum poder misterioso que não conhecemos, algo forte o suficiente para derrotar Camio e um esquadrão de demônios… não podemos simplesmente deixar o que está por vir para ela resolver.

— O que vem a seguir? Do que você está falando? — Camio girou a cabeça em direção à dúvida de Ashiya.

— Os moderados entre nós desejavam impedir que nosso piu… conflito se espalhasse para outros reinos. Assim, antes que a facção da “vingança” agitada pelo humano pudesse despejar sua fúria neste mundo, decidimos começar uma piu… operação secreta… para garantir a espada sagrada de Emília. Olba Meiyer afirmou apenas que estava em uma terra conhecida como Tóquio, no reino conhecido como Japão. Nossa intenção, como resultado, era conjurar um Portão que existia na costa leste do reino, depois procurar para o oeste e fazer um piu… pente fino.

O que significava que a aparição de Camio sobre Choshi, o ponto mais oriental da região de Kanto, era uma pura coincidência?

— Uh, mas aqui não é Tóquio, sabe? Aqui é Chiba.

— Sim, mas um monte de edifícios e coisas em Chiba ainda são chamados de “Tokyo Alguma coisa”, sabe?

— Cala a boca, Lúcifer.

— Não foi uma sim-piu coincidência. Usamos um objeto que Olba deixou para trás, alegando que forneceria pistas sobre a posição da espada. Essa foi a primeira região que reagiu.

— Pista para esse lugar? — Aquilo era novidade. Antes que Maou pudesse vasculhar sua memória, Camio continuou. — Porém, receio, agora é exatamente como você piu… vê. Fomos incapazes de nos defender contra a grande força que habita neste reino…

Os olhos brilhantes de Camio flutuaram em direção a um canto da caixa. Sua maneira de expressar vergonha, talvez. Emi pegou a deixa.

— Ele está dizendo que a facção da “vingança” já está vindo para o Japão… Para a Terra!

— O quê?!

— O que você disse?

— Por que você não disse isso primeiro?!

— Eeep! — Todos os três demônios expressaram verbalmente sua surpresa, Maou acentuando seu choque por distraidamente deixar cair a caixa.

— O… o Portão se abrirá no meio da noite, com base em seu tamanho e em piu nossa inteligência prévia. Acreditamos que eles também confiarão em seus números para vasculhar esta terra, do extremo oriente adiante.

A galinha saindo da caixa colocou os pés embaixo das asas e sentou-se no chão.

— Para ser franco com você, o poder daquela piu mulher era simplesmente inconcebível. Temo que haja todas as chances de que um destino semelhante caia sobre a força que avança…

E para ser ainda mais franco, Camio estava mais ou menos condenando essa força de terceiros à morte, não vendo esperança para eles contra o poder de um proprietário trapalhão de uma lanchonete beira-mar fajuta.

Maou, baseado nas informações, teve problemas para imaginar Amane como uma presença forte o suficiente para vaporizar exércitos inteiros. Mas Camio era sério, mais do que seu bico naturalmente franzido sinalizava.

— Podemos ter piu nos separado, mas Barbariccia foi um companheir em nossa luta para unificar os reinos demoníacos. Eu não tenho coração para travar hostilidades contra ele… e eu não posso sentar de braços cruzados e assistir como seus lutadores enfurecidos, mas ainda assim decentes e sensatos morrer tolamente contra o poder daquela mulher.

— E eu realmente não me importo com o que acontece com vocês… — Emi manteve sua abordagem rígida com os demônios que a cercavam.

— Mas se Olba está realmente envolvido aqui, não posso ignorar isso. Não me importa se Amane é essa super-mulher ou algo assim. Amigo ou inimigo, eu não me importo. — Ela voltou o olhar para Maou. — Se o Japão é atacado por esse exército de demônios atrás da minha espada sagrada, então é nosso trabalho expulsá-los. O meu e o seu. Fomos nós que trouxemos a luta para cá. Não podemos simplesmente jogar isso em Amane. — Um poderoso feixe de luz varreu os céus acima de Emi conforme falava.

— Eu, uh… meio que preferiria que Amane fosse uma amiga, mas… De qualquer forma, ela e minha senhoria ainda são boas pessoas. Se elas não estivessem por perto, estaríamos mendigando agora. — Maou abriu um sorriso solitário. — Emi!

— O quê.

— Você realmente acreditou nisso?

— Perdão?

A pergunta fez a expressão de Emi se alarmar. O tom da voz de Maou sugeriu que ele havia plantado uma história para Camio contar o tempo todo.

— Você provavelmente acha que isso é uma armadilha, não é? Tudo criado por esse demônio que arriscou sua vida tentando me resgatar.

— Ah. algo assim? — A voz de Emi traiu sua decepção. — Mesmo que você e aquela galinha me prendessem, você acha que eu faria algo sobre isso? — Agora ela estava cheia de confiança, embora ainda parecesse atuação.

Ela manteve a postura, olhando para os demônios, mas depois relaxou, pensando melhor… ou, talvez, achando a atuação muito idiota para continuar.

— Você se importaria de não me tratar como uma mulher estúpida?

— Hum?

Emi estremeceu e levou a mão à testa.

— Quando Camio estava falando comigo, você sabe que eu tinha Chiho e Alas Ramus lá também, certo?

— S-Sim… ? E daí?

Ele pensava que sabia. Ou, talvez, ele não soubesse de nada. Então decidiu continuar olhando em vez disso. Emi virou as costas, como se tentasse fugir dele.

— Então, olhe, você é um demônio maligno, o rei de todos os demônios, um pobre vagabundo sujo, o assassino do meu pai, o inimigo de toda a humanidade, que não vale nada além de um pedaço de lixo espacial para ninguém. Para ninguém! Mas sabe de uma coisa? — A raiva parecia vir do coração enquanto seu nariz e pálpebras se contraíam em supremo aborrecimento. — Pelo menos, até onde sei, você não vai contar uma mentira que esfaqueia Chiho ou Alas Ramus pelas costas… Confio em todos vocês, demônios! Então…

Ela lançou um olhar para os três, cada um piscando impotente para ela, sobrepujados.

— Eu quero que você dê um passo adiante e assuma a responsabilidade por isso! Comigo! — O brado ecoou pela costa.

— Você está a bordo ou não? Se está, esqueça tudo o que acabei de dizer! Seu monte de lixo espacial!

Ela estava gritando, a ponto de parecer pronta para jogar sua espada (e Alas Ramus) neles.

Uma rajada de vento soprou, talvez apressado pelo eco de Emi, e criou um silêncio estranho.

— Uh, eu realmente não sinto que você confie em mim, e não tenho certeza se “lixo espacial” funciona como um insulto…

Maou olhou para o céu noturno, um amplo feixe de luz girando através dele e assentiu.

— Mas obrigado. Fico feliz em saber.

Talvez fosse apenas sua imaginação, mas pareceu a ele que o rosto de Emi se abrandou um pouco.

E depois daquele amolecimento momentâneo, quase ilusório, houve um lamento semelhante ao uivo de uma cria do inferno que gargalhava.

Eu disse para esquecer isso!

Emi balançou a Cara-Metade, criando um arco de luz que imitava a varredura vagarosa do farol.

— Ei, uh, ei, Alas Ramus também trabalha duro, ok?

Ela quase parecia um ser celestial, parada ali como uma donzela de guerra, mas a voz saltitante de sua espada não combinava.

Contudo, não era ruim.

— Que piu- relação bastante enigmática essa.

— Você que disse. Mas, o que vamos fazer agora? Porque se realmente estivermos cara a cara com um esquadrão demoníaco inteiro, eu realmente não gosto das minhas chances.

— Sim, bem, piu, eu tenho um plano. A espada de jóias eu trou-piu-xe junto comigo…

O chilrear estava começando a irritar a todos, mas ainda assim se inclinaram, dando ouvidos abertos à ideia de Camio.

Então aconteceu. Em um ponto distante sobre o mar, a luz da torre piscou por um momento.

Uma fenda na escuridão foi avistada.

— Eles estão AQUI.

Urushihara, surpreendentemente, notou primeiro.

Embora nem Maou, nem Emi, nem Ashiya tenham percebido isso na época, ele também foi o primeiro a detectar o Portão que cuspiu Gabriel neste mundo.

O grupo se virou para a direção que ele estava olhando. A visão que viram os fizeram duvidar de seus olhos.

Na escuridão da noite, havia agora uma fenda longa e horizontal no espaço, que estendia-se pelo céu.

— Uh, caramba, pessoal, isso é mais do que apenas um esquadrão.

Como um bando de morcegos gigantescos se espalhando pelo escuro, ou um grupo de pássaros migratórios voando em direção a algum destino distante, um grande número de sombras emergiram da fenda.

— Luz Ofuscante Longínqua.

Urushihara murmurou as palavras, depois concentrou os olhos nas sombras, ainda com uma linha fraca de névoa.

— Camio estava certo. Não vejo Barbariccia, mas são da tribo Malebranche. Os servos de Malacoda.

— Pode ver daqui?

Urushihara revirou os olhos para Emi, semicerrando os olhos enquanto examinava o mar.

— Cara, isso é como a 101° Magia Sagrada. Sou meio anjo, e tenho comido a comida de Bell praticamente todos os dias ultimamente. Sua comida consagrada. Mais alguma pergunta?

Isso foi pelo menos metade do caminho para entender por que as asas de Urushihara eram brancas quando dissipou o nevoeiro há um dia.

Mas essa não era a pergunta a ser feita agora. Ashiya aproveitou a deixa.

— Se eles estão no Japão, por que ainda estão em forma de demônio?

— Sei não. Talvez tenham trazido uma fonte com eles, talvez seja porque deixaram o Portão aberto, algo assim?

De qualquer forma, eles não poderiam dizer a partir daqui.

A questão mais premente era que, bem diante dos olhos de Maou, um enorme exército de guerreiros demoníacos estava pressionando o Japão. Em suas formas demoníacas originais, e provavelmente com a mesma força.

A tribo Malebranche liderada pelo Grande Demônio General Malacoda era dotada do que a raça humana chamaria de necromancia.

No mundo humano, a arte de reviver cadáveres e espíritos para fazer a sua vontade era vista como um tabu, uma forma proibida e arcana de magia. Mas, praticamente falando, não era nada mais do que carregar um cadáver com um pouco de poder demoníaco. O necromante tinha que controlar completamente cada parte desse fantoche, ou então não teria utilidade nenhuma na batalha.

Entre os Grandes Generais Demônios que trabalham sob o domínio de Satan, Malacoda — líder da Malebranche, uma tribo habilidosa nos caminhos da guerra psicológica — foi o último a seguir uma carreira militar.

Sua tribo tinha a altura semelhante ao humano médio, mas suas asas de morcego e as garras preocupantemente longas que cresciam de cada membro eram únicas entre os demônios.

— Uhh, eu só fiz uma contagem rápida, mas… eu acho que estamos olhando para mil ou mais.

Era quase demais para as suas necessidades. E o fato de serem visíveis do Cabo Inuboh-saki significava que os barcos de pesca já poderiam ter pegado neles.

— As pessoas nos barcos lá podem estar em perigo! Estou indo em frente!

Emi tirou uma garrafa de energia do bolso e rapidamente bebeu o conteúdo.

Limpando os lábios com as costas de uma mão, se concentrou em suas pernas enquanto todo o seu corpo começava a brilhar em uma aura infundida de luz.

— Aqui vamos nós, Alas Ramus!

— Okay!

— Passos Rápidos Celestiais!

Antes que Maou pudesse detê-la, Emi voou em direção ao mar como uma estrela cadente.

O Malebranche deve ter notado a vasta magia sagrada de Emi. As sombras no céu noturno começaram a oscilar para lá e para cá, juntando-se em formação.

— Hm… Certo, Camio? Ainda estou esperando algumas idéias quentes de você? Algo sobre uma espada de jóias?

Maou e Ashiya tinham apenas um mínimo de força demoníaca sobrando. E mesmo que Urushihara tivesse o básico da magia sagrada à sua disposição, não estava nem perto o suficiente para enfrentar uma multidão de gárgulas maníacas.

Nesse ritmo, tinham poucas opções a não ser assistir Emi se chocar contra Malebranche. Como espectadores, não era o programa mais atrativo de se assistir. Por exemplo, provavelmente eles morreriam no final.

Piu! Como poderia piu me esquecer?! Sim, Senhor Satan. A espada que eu trouxe comigo… Se você pegá-la com a mão e desembainhá-la de sua bainha…… piu?

Camio de repente percebeu que todos os três demônios estavam olhando para ele com horror abjeto.

— Ah, cara, cara.

— Meu Regente Demônio! Um erro tão fundamental de julgamento!

— L-Lúcifer? Er… General… da Ilha Oriental… piu, por que vocês estão …?

— Se precisássemos daquela coisa, porra, diga isso antes de sairmos, seu idiota!!

Maou agarrou Camio.

— Ah! Piu!

— Não me venha com “ah”! Você sabia que íamos precisar o tempo todo! Quer que eu corra até Ohguro-ya daqui para buscá-lo? Emi vai estar acabada até lá!

Piu, piu, piu. Senhor Satan… eu não posso… piu.

— Ugh, nós nem temos tempo para fazer yakitori sair de você. Ei, Ashiya. Você se importa de correr por mim?

— S…Sim, meu soberano…!

Ashiya abaixou seu corpo e começou a correr.

— Ah!

Então, depois de cinco passos, tropeçou.

Assistir a um homem de quase um metro e oitenta de altura, participar de um dos próximos vídeos virais mais engraçados do Japão, causou pouco mais do que aborrecimento aos seus amigos.

— Eu… Essas sandálias de praia… Não estou acostumado com elas…

Ashiya entendeu isso, ao que parecia, enquanto esfregava sob o olhar murcho dos demônios. Em pouco tempo, já estava de saída novamente.

— Vocês estão procurando por isso?

Então, vendo algo balançando na frente dele, acionou os freios.

— Eu pensei que esta era uma espada um pouco chique demais para o nosso passarinho aqui. Mas é mais uma ferramenta do que uma arma, certo? Uma das boas.

Havia o rosto refinado e sem maquiagem, a camiseta, o avental… e uma espada de jóias que nunca perdia o brilho, mesmo quando Camio perdeu a forma e sua armadura se despedaçou.

— Um… Amane? Senhora?

— “Senhora”? Senhor, espero não parecer tão velha ainda!

Amane Ohguro, mais ou menos a proprietária de Ohguro-ya, acenou e mostrou seu sorriso habitual.

— Sabe, eu também estava me perguntando, por que havia apenas um pouco de força demoníaca depois que eu tirei tudo. Bem, não admira … Olhe para esta espada. Tome-o pelo seu punho incrustado de pedras preciosas, desembainhe-a de sua bainha…

Amane desembrulhou a capa de Camio e lentamente removeu a espada de sua bainha.

A lâmina que apareceu era vermelho escarlate, a cor do sangue.

Et voila! Olhe para a espada demoníaca que temos aqui!…Uff. Só de tirar ela já me dá arrepios. Para que você vai usar isso, afinal?

Amane deslizou a espada de volta para dentro de sua bainha e voltou os olhos para Maou.

— Ah, e eu agradeceria se você não viesse com aquele papo de “Puxa vida, dona, o que você está fazendo aqui?” Para cima de mim. Não há necessidade de toda essa bobagem. O que eu preciso saber agora é, o que você está planejando fazer com esta espada, ponto de interrogação.

A pergunta era leve e arejada, como se Amane estivesse perguntando que comida precisava ser preparada para amanhã.

Nem Ashiya quando viu pela primeira vez a espada empurrada à sua frente, nem Urushihara, Camio ou Maou atrás dele, se preocuparam em esconder sua perplexidade. Por um momento, todos hesitaram em responder.

O tempo passou — o suficiente para que Emi estivesse pronta para se envolver em um combate ativo com o Malebranche.

— Sadao Maou! Controle-se! — Amane repreendeu o indeciso Maou. — Você deixa garotas passarem por cima sem dizer nada! E se considera um homem? Que bundão!

Ela seguiu jogando a espada misteriosa, com bainha e tudo, para Maou.

— Wah! Ah, eu, um

— Bzzt! Resposta errada, seu idiota! Sei que só nos conhecemos há dois dias, mas acho que já sei que tipo de cara você é. Então vá e me mostre do que é feito! Mostre-me como vocês assumem a responsabilidade por aqui. Vamos, tire a espada! E você se auto-denomina…

Tudo menos coagido pelas garras de Amane, Maou colocou a mão no punho e removeu a espada.

No momento em que o fez, um único pilar de luz negra subiu aos céus, escuro o suficiente para dissipar a luz desnorteante do farol de Inuboh-saki.

— …o Rei Demônio de um mundo distante, não é?!

Buooooooooooooooonnnnnnnnnnnnnn…

Buooooooooooooooooooooonnnnnnnnnnnnnn…

Buoooooooooooooooooooooooonnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn…

Um grito baixo ecoou pelo mar de Choshi, como se estivesse horrorizado com o feixe escuro.

— Você está bem, Chiho? Como se sente?

— Ah, ótima. Muito bem desta vez, na verdade.

Chiho e Suzuno saíram de sua pousada, no agora deserto Cabo Inuboh-saki. Elas examinaram a névoa que quase cortava a visão.

— Estou sentindo vestígios de força demoníaca… Mas por quê… ?

A resposta se materializou na névoa.

— Bem, por que estando dentro de casa ou não, liberar tanto poder demoníaco de uma só vez faria com que todos ao alcance de Inuboh fiquem inconscientes, é só por isso. Aconteceu de eu tomar algumas precauções.

— !!

Suzuno ficou tensa, cuidadosamente mantendo Chiho atrás dela.

— Oh, não há necessidade de estar tão nervosa. Todos nós comemos yakisoba da mesma chapa, sabe.

Era Amane Ohguro, ainda em sua camiseta gasta.

— Só posso dizer que eu não sou seu inimigo. Eles me prometeram que assumiriam a responsabilidade por isso, então estou meio que apenas observando. Mas não se preocupe, se eles perderem algum deles ou começarem a jogar os caras para fora do ringue, por assim dizer, eu darei uma mão.

Dizer a alguém para não se preocupar com essa explicação era pedir muito.

De acordo com Emi, uma enorme brigada de guerreiros remanescentes do Rei Demônio estava iniciando um ataque total em Choshi.

Amane poderia apenas afastar qualquer um dos demônios que Emi deixasse passar? Parecia impossível para Suzuno acreditar que Amane era outra coisa senão a descontraída garota da praia que conhecera.

— Sabe, humana, você realmente não deveria me subestimar.

Mas, como se estivesse lendo sua mente, Amane lançou um sorriso extremamente confiante e colocou a mão no quadril.

— !!

— Agh?!

Inconscientemente, Suzuno e Chiho cobriram os olhos.

A névoa girou em um tornado, centrando-se na área ao redor de Amane.

Sua camiseta e avental, seu jeans e sandálias, o elástico simples segurando o cabelo para trás…

O tipo de lojista que você veria em um milhão de lugares ao redor do Japão agora era o mestre de um mundo cheio de névoa, mantinha seu domínio na extensão dos mares abaixo do Cabo Inuboh-saki. O poder que ela brandia não era demoníaco nem santo, mas algo totalmente desconhecido… e totalmente avassalador.

— Eles não me chamam de Ohguro por nada. São os caracteres para “grande” e “preto”, sabe? Se duvida de mim, eu sempre poderia levar todos esses intrusos para o nosso mundo e explodi-los até a borda do universo em um piscar de olhos. O que acha?

Como se seguisse um roteiro, o feixe do farol parou assim que iluminou as costas de Amane.

Chiho e Suzuno fecharam os olhos. A luz da lente Fresnel de primeira linha era demais para suportar.

Mas por apenas um momento fugaz, elas pensaram ter visto outro anel de luz atrás dela, separado e distinto do brilho branco que emoldurava seu corpo.

— Bem. Enfim. Só aquieta o facho e espere, ok? Além disso…

A pós-imagem desapareceu tão rapidamente quanto surgiu, e quando Chiho e Suzuno recuperaram a visão, tudo o que restava era uma agradável proprietária de casa beira-mar.

— Assim que Maou e o resto voltarem, talvez eu tenha algo que possa falar com você.

— Amane…

— Agora, tem uma coisa que Maou e aquele passarinho me pediram para fazer. Até mais tarde! — Com isso, ela deu-lhes um aceno amigável e desapareceu na névoa.

À sua frente estava o Farol Inuboh-saki.

Com mais um rugido do dragão, Chiho e Suzuno viram ela olhando fixamente para o mar de neblina.

 

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Tradução: Vinicius

Revisão: Bravo

 

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