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Uma leve brisa, advinda das frestas do buraco recém coberto, congelava os três demônios poderosos, enquanto sentavam-se ao redor de um pequeno pacote, cada rosto taciturnamente encarando o outro.
O pacote, bem preenchido, estava inexplicavelmente envolto em camadas de fita adesiva transparente, com NÃO ABRA escrito em letras grandes e trêmulas.
— Pelo que estão esperando? Abram — Emi suspirou, frustrada com o trio congelado.
— Bem…não tem muito o que fazer agora, então…
— É…
— Verdade.
Emi nunca foi uma mulher paciente, mesmo nos melhores momentos. Logo, empurrou os habitantes do escuro, ainda indecisos, agarrou o pacote e o rasgou com as próprias mãos.
— Ahhhhh! Mas que caralhos você está fazendo?!
— Cala a boca! Não fique aí sentado esperando alguma coisa acontecer! Apenas abra!
— M-maldita…! Você vai pagar por isso.
— Não! Nãããaoo!!
Ignorando o lamento dos demônios, Emi rasgou o resto do pacote em pedaços.
— O que é isso? um vídeo? — ela perguntou.
Eles deram de cara com uma fita VHS sem etiqueta.
— Ah, merda! É um vídeo amaldiçoado! só pode ser amaldiçoado!!
Maou desesperadamente esfregou seu cabelo.
— É p-p-provavelmente tem algum tipo de… vídeo horrível, hediondo aí dentro!
Ashiya apoiou-se contra a parede, com seu rosto pálido.
— Suas fotos já eram destrutivas o suficiente! Não consigo nem pensar em um vídeo dela!!
— Vocês já podem parar com isso?…Quero dizer, a senhoria enviou isso para vocês, certo? Por que cobriram com toda aquela fita?
— Cara, é a porra de uma mensagem em vídeo da nossa senhoria! Você já encontrou ela antes!
— Eh? Vocês só não estão fazendo nenhum sentido para mim. Só coloque para rodar e vejamos o que está dentro, beleza?
Logo após o fatídico inquérito de Maou com o agente imobiliário, uma entrega também chegou no Castelo Demoníaco.
Não foi uma carta cheia de babados cheirando a perfume, pelo menos. Foi um pacote, algo que os demônios imediatamente desconfiaram. Por um lado, provavelmente não era nada muito importante. Por outro lado, pode conter algo tão aterrorizante quanto… aquela foto.
Em algum momento, um sermão da Suzuno finalmente convenceu os demônios a abrir o pacote.
Mas não havia nenhuma etiqueta ou carta dentro. Apenas um vídeo em fita preto. E depois de pagar um preço alto por ver a foto desastrosa da grande senhoria no começo do ano, quem poderia culpar os demônios pelo receio de deixar a fita em qualquer lugar perto do videocassete?
Isto é, assumindo que havia um videocassete no Castelo do Demoníaco. Que, obviamente, não era o caso.
Em última análise, decidiram que esconder a fita e fingir que ela nunca existiu era o melhor curso de ação. A esconderam nas profundezas de um armário pré-montado que ficava no canto da sala, mas agora aquela fita era a única chance que os habitantes do Castelo do Demoníaco tinham para evitar de alguma forma sua iminente falta de moradia.
E ainda assim, mesmo agora, o trauma da foto ainda pesava muito em seus corações.
— Que seja! Se você não acredita em nós, ficarei mais do que feliz em liberar toda a fúria da foto sobre você, Heroína!!
— N-Não, meu suserano! Essa foto era um tabu que nunca deveria ser convocada! Mesmo os próprios deuses nunca colocariam suas mãos nela!
— Cala a boca! Se não a usarmos agora, então quando?!
— ahhh! Eu posso sentir minha memória sendo subvertida por aquela… Aquela Foto! O fim do mundo está próximo!
— O Castelo Demoníaco está desmoronando, Vossa Alteza Demoníaca! Por favor! Chega disso!
Ignorando completamente os lamentos dos demônios sobre alguma foto – não significava nada para ela de qualquer maneira – os olhos de Emi pararam no computador de Urushihara.
— Se tivermos um vídeo videocassete barato em algum lugar, você acha que poderíamos usar para assistir?
Com DVD e Blu-ray sendo o padrão atual em todo o mundo, os dispositivos que converteram formatos analógicos antigos para mídia digital eram comumente vistos nas grandes lojas.
Os três demônios sabiam disso. Mas por que eles jogariam seu dinheiro valioso no vaso sanitário para desfazer o selo colocado neste falso e fétido ídolo de desgosto?
— E-Escute, Emi, não há nada no mundo que possa tocar essa coisa. Vamos apenas esquecer isso, está bem? Tipo, podemos pensar em alguma coisa! Totalmente!
Assim que Emi deu um chute no Maou, Suzuno entrou carregando Alas Ramus.
— Ouvi um grande clamor, Emilia. Você já resolveu esse problema?
Emi balançou a cabeça, apontou o dedo para os demônios em pânico e deu de ombros enquanto explicava sobre a fita.
— Hum…nesse caso…
Chiho hesitantemente falou do lado de Suzuno.
— Acho que ainda temos um videocassete funcionando em casa… Podemos assistir lá se quiserem.
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— Ei, mãe, eu estou –waah!
— Ah, meu deus, oi, oi! Você deve ser o Maou, nãaao é?
No momento em que Chiho abriu a porta da frente, quase foi enviada voando pela força sônica de uma voz alta e aguda.
Maou teve uma conversa por telefone com a dona dessa voz, não muito tempo atrás. Pertencia a Riho Sasaki, a mãe da Chiho, em seus quarentões, resplandecente em sua maquiagem e escolha de roupas perfeitamente aplicados, enquanto cumprimentava Maou e seus companheiros.
— Um… obrigado. Sinto muito por ter vindo tão tarde.
Maou sentiu as gotas de suor escorrerem pelas suas costas enquanto diplomaticamente se curvava.
— Emi Yusa. É um prazer conhecê-la.
Atrás dele, Emi foi curta.
— Hum…isso não é nada extravagante, mas… a senhora sabe, Chiho tem sido uma grande ajuda para mim esse tempo todo, então…
Gaguejando as palavras em uma tentativa estranha de ser polido, Maou apresentou o pequeno bolo que Ashiya o forçou a trazer.
— Ai, minha nossa! Um jovem tão atencioso! Muito obrigada. Por favor, entrem! Sinto muito por incomodá-lo pelo telefone mais cedo. Vamos para a sala de estar! Ficarei feliz em fazer um chá. Chiho, você pode levá-los até lá?
— Hum, está bem… — Chiho começou — É por aqui, uh… Maou. Ah, e Yusa.
— O-Obrigado.
— Obrigado.
A residência Sasaki era uma casa bastante típica, situada em um bairro do outro lado da avenida Koshu-Kaido da estação Sasazuka, bem do outro lado da rua do Castelo Demoníaco.
Esta era a única escolha para o grupo se quisessem verificar o conteúdo daquele vídeo o mais rápido possível. Mas também significava que Maou e o resto dos visitantes estavam completamente sob os caprichos da matriarca da família Sasaki.
Ashiya correu com a Dullahan II para comprar um presente adequado, mas um único deslize dentro desta casa poderia arruinar toda a confiança que Chiho depositou neles. Para Maou, essa era uma cruzada de tudo ou nada.
Pior ainda, eles estavam sendo acompanhados por Emi.
Ashiya deveria estar com eles. Mas se os dois fossem sozinhos, Emi temia que provavelmente jogariam a fita em uma lixeira solitária em algum lugar.
Para não irem em muitos, todos, exceto Maou e Emi, optaram por ficar na Villa Rosa Sasazuka, mantendo Alas Ramus entretida enquanto aguardavam esperançosamente por boas notícias.
Mas quanto a Emi? Considerando seu hábito de desejar de forma verbal mortes terríveis a Maou e seus capangas, ela parecia estranhamente motivada em ajudar Maou a solucionar sua crise.
— …Mãe, você sempre exagera demais…
A cabeça de Chiho caiu no momento em que ela entrou na sala de estar.
Nem uma única partícula de poeira estava presente. Um vaso repleto de flores coloridas decorava a nova toalha de mesa, no meio da sala.
O leve cheiro de flores que permeava o local indicava uma vela aromatizante ou alguns tipos de potpourri1https://pt.wikipedia.org/wiki/Pot-pourri.
As almofadas nas cadeiras eram cheias, fofas e claramente não eram do uso diário. Era evidente, para o aparente pesar de Chiho, que Maou e Emi estavam recebendo uma recepção extremamente calorosa.
— Ummm…um, desculpe, acho que podem se sentar agora? Oh! Maou, seu vídeo…
Chiho pareceu escolher suas palavras cuidadosamente enquanto aceitava a fita, ajoelhando-se na frente da tela LCD no canto da sala.
Maou e Emi se entreolharam, depois se sentaram cuidadosamente. O som de um novo conjunto de almofadas podia ser claramente ouvido.
— Vamos lá! Eu tenho um chá gelado , bem aqui para vocês!
Então Riho, tão intensa quanto antes, entrou rapidamente. Maou e Emi se encolheram um pouco surpresos, mas Riho não se importou enquanto colocava um par de copos na frente de seus convidados, o chá cheirava levemente a frutas cítricas. Emi tomou um gole.
— Obrigado… Tem um cheiro ótimo. É daqui que está vindo esse cheiro de quadril de rosas? Deve ser algum tipo de chá de ervas.
Os olhos de Riho brilharam.
— Oooh, muito observador! Eu deveria ter pensado que pessoas tão sofisticadas e experientes quanto vocês identificariam rápido! E muito obrigado por cuidar tão bem de Chiho para mim! Ela me diz todo tipo de coisa sobre vocês. E se me permitem dizer, Chiho e meu marido têm muita dificuldade para distinguir diferentes tipos de chá!
— Entendo.
— Mamãe! Você não precisa contar tudo a eles!
Com a fita inserida com segurança no videocassete, Chiho concentrou seus esforços para expulsar sua mãe da sala, toda vermelha. Riho nem se mexeu.
— Ah, só toca esse vídeo antes de me expulsar! O futuro da moradia do Sr. Maou depende disso, não é?
Com isso, ela se sentou em frente a Maou e Emi. Chiho forneceu uma breve explicação para obter acesso ao videocassete, mas agora duas preocupações passavam pela cabeça de Maou — E se nossa senhoria fizer algo estranho? E se a aparência da senhoria fizer com que Chiho e Riho percam toda sua sanidade?
— Ugh! Certo, certo. Você está pronto, Sr. Maou?
— Ah, claro. Vá em frente.
Eles não podiam expulsar Riho de sua própria casa. Sua mente se encheu de anseios variados, Maou observou Chiho enquanto pressionava o botão de TOCAR, depois sentando-se desconfortavelmente ao lado de sua mãe.
Uma tela preta piscou por um momento. E então uma imagem ganhou vida.
Sob um céu azul, em meio a uma paisagem dourada, uma fileira de edifícios em forma de pirâmides acalmavam os céus. Cem em cada cem pessoas teriam identificado instintivamente a visão como sendo o Egito.
— Uh, isso está ligado…? Ah-hem!
A voz da senhoria saiu do alto-falante. Maou cerrou os punhos em terror.
— Bem, Já faz um bom tempo, Sr. Maou e Sr. Ashiya. Hoje estou gravando para vocês na frente das três grandes pirâmides de Gizé!
Ela estava no meio de um deserto brilhante e impecavelmente claro.
A mera visão da Miki Shiba – sua senhoria, seu vestido de corte alto e blusa de manga curta com as mangas esfarrapadas quase rasgando, um chapéu chique em sua cabeça que fornecia apenas proteção simbólica contra o sol, sua roupa revelando uma quantidade robusta de espólios flácidos em torno de seus braços e pernas – foram o suficiente para fazer a pressão de Maou cair.
Ainda assim, em comparação com o tiro certeiro do traje de banho, isso ainda era mais uma advertência do que um ataque frontal. Não precisava desviar o olhar, pelo menos. Maou não podia se deixar encolher na presença dela para sempre.
O que era ainda mais surpreendente para Maou, já suando frio, era que as outras três pessoas na sala não reagiram, elas mantinham o olhar focado na senhoria assassina além da tela.
— Durante minhas viagens, recebi a notícia de que você se deparou com algum tipo de desastre em seu apartamento. Como sua senhoria, realmente sinto que preciso me desculpar por isso.
Era bem difícil que fosse culpa da senhoria o fato de Maou ter um rombo em sua parede, causado por uma criança alienígena que esmurrou um arcanjo renegado. Mas para Maou, ser atingido pela visão amaldiçoada do vale volumoso enquanto ela se curvava profundamente para se desculpar era algo que ele sentia que merecia um pedido de desculpas por si só.
— Estou feliz que nenhum de vocês tenha se machucado. É desnecessário dizer que eu vou de bom grado cobrir todos os custos de reparação do seu apartamento, então não há necessidade de se preocupar com isso. Prometo que isso também não afetará seu aluguel. No entanto, como esses reparos serão em grande escala, temo que terão de desocupar o apartamento por um período de tempo.
Dessa vez ela falava de negócios, seu discurso referente em grande parte ao conteúdo da carta de Suzuno.
Finalmente se acostumando com a presença incrível que olhava para a câmera, Maou agora tinha tempo para acusar Shiba silenciosamente. Sério, por que ela teve o trabalho de filmar isso só para nos enviar? Isso tudo poderia ter sido resolvido muito mais rápido se ela tivesse escrito uma carta.
O vídeo continuou depois que Shiba terminou sua explicação.
— Oh! E a propósito, senhores Maou e Ashiya, tenho um pequeno pedido para vocês dois. Não tenho certeza se já lhes contei isso, mas na verdade tenho uma sobrinha, sabe.
Maou e Emi trocaram olhares.
A sobrinha da senhoria? Eles nunca imaginaram que essa mulher tivesse pais, irmãos, sobrinhas ou sobrinhos, ou qualquer outra coisa que uma família normal teria. Havia mais delas?
— Agora, esta minha sobrinha tem um pequeno restaurante e mercadinho na praia de Chiba.
As palavras-chave senhoria e praia trouxeram de volta memórias vívidas do Grande Massacre do biquini. Este vídeo vai expor sua crueldade em breve. Maou se segurou para não socar o botão de PARAR.
— Se quiserem, gostaria de saber se poderiam ajudar minha sobrinha a administrar o lugar por um tempo.
Maou parou.
— É em uma praia no canto nordeste da prefeitura de Chiba. Um pouco longe de vocês, eu sei, mas considerando o estado do seu apartamento, acho que provavelmente ficariam lá por enquanto, ao em vez de ter que viajar para lá todo dia. A casa da minha sobrinha deve ficar livre por pelo menos parte desse tempo, então, como gostariam de ficar lá, digamos, da primeira metade de Agosto ou mais?
Um lugar livre para morar? E trabalhar desde o início de agosto até depois do fim do feriado de Obon?
A definição perfeita de timing tinha sido encontrada. Ela está apenas me bajulando – ou a si mesma, talvez literalmente – antes de dar o golpe final, não é?
— Nordeste de Chiba… A cidade de Choshi, talvez?
Chiho assentiu para si mesma enquanto tentava se lembrar da geografia local.
— Sabem, ter um homem lá para ajudar durante a temporada movimentada ajudaria a me deixar despreocupada. Tenho certeza que vocês tem seus próprios trabalhos para se preocupar, é claro, então eu não vou forçá-los ou qualquer coisa, mas eu adoraria se pensassem um pouco, de qualquer maneira. Então, se estiverem interessados, basta ligar para este número de telefone…
Shiba apontou o dedo para baixo quando um número de celular passou pela parte inferior da tela. Maou olhou fixamente para a tela por um momento.
— Uau, Dev… Maou, isso é ótimo! Apresse-se e ligue para ela!
Maou engasgou com a própria saliva depois que Emi de repente deu um tapa nas costas dele.
— Cooff coff…!! O que se está fazendo, Emi?!
— Ela deve ter enviado isso há muito tempo. É melhor ligar para ela agora. Se ela contratar outra pessoa, será tarde demais!
— M-mas, senhorita Yusa, aqui é tipo, meio longe dessa loja beira-mar em Chiba…
Chiho, desconfiada da reação inesperada de Emi, foi cortada por sua mãe.
— Não, ela está certa, Sr. Maou! Que oferta maravilhosa é essa! Uma casa, um emprego estável… Todos os seus problemas, resolvidos de uma só vez! Vai nessa! Você pode ligar para ela aqui mesmo!
A reação de Riho era esperada de uma mãe de meia-idade intrometida, mas a de Emi era quase inexplicável. Ela parecia quase feliz pela reversão da situação de Maou.
Apesar de todas as dúvidas que ele sentiu com esse mistério, Maou, no entanto, digitou o número em seu telefone enquanto gesticulava para que a sala ficasse quieta por um momento.
Com um aceno final para Riho, ele respirou fundo e apertou o botão “ligar”.
Sua avaliação da situação não era nem de longe tão positiva quanto a de Emi ou Riho. Tudo estava se encaixando um pouco bem demais na sua opinião.
Além disso, lembre-se, esse estabelecimento é um lugar à beira-mar dirigido pelo parente daquela mulher. Não havia como dizer que tipo de poço de cobra ou covil de monstros sedentos poderia ser. Deslocar-se para algum MgRonald distante poderia ser um fardo emocional bem menor para ele quando tudo fosse dito e feito.
Chiho manteve uma apreensão semelhante, ocasionalmente lançando um olhar para Emi. O comportamento errático da Heróina deve tê-la confundido também.
Eles aguardavam, feições tensas. Vários toques passaram, e então, uma simples saudação:
— Ola?
A voz de uma mulher.
O que era esperado, já que era sua sobrinha, mas Maou estava preparado para qualquer coisa até, e incluindo, um ghoul que devora pessoas durante a noite. Ser cumprimentado por um ser humano aparentemente normal parecia quase decepcionante.
— Uh, olá. Desculpe se estou te ligando tarde.
— Não, não.
— Umm, então, a senhora Shiba me contou sobre algum possível trabalho disponível em seu restaurante, então pensei em ligar para você para falar sobre isso, portanto…
— Shiba… Ahhhh!
A voz de Maou diminuiu bem a tempo de seu tímpano ser estourado pelo berro da garota.
— Você é o cara que mora naquele apartamento que minha tia Mikitty administra em Tóquio?!
— Mikitty… Oh! S-Sim, eu mesmo. Meu nome é Maou. — Ele se lembrou da proprietária, quase exigindo que Emi a chamasse de “Mikitty” no passado.
— Ah, sim, sim, sim, sim! Ela me contou tudo sobre você! Eu quase desisti, sabe! Estamos quase no final de julho, mas você ainda não tinha ligado, então…
A mulher do outro lado da linha não poderia ter soado mais brilhante e animada.
Sua maneira de falar indicava que ela provavelmente seria um pouco mais velha do que Emi ou Suzuno, mas não conseguia captar nenhuma presença misteriosa, inescrutável e enigmática que Shiba sempre infundia em seu discurso.
— É, desculpe quanto a isso. Ela e eu meio que tivemos um mal-entendido.
Não havia como Maou confessar que estava tão assustado com o vídeo que o enrolou completamente com uma fita.
— Ah, sim, eu sei como minha tia gosta de dar voltas pelo mundo o tempo todo. Normalmente recebo um cartão de Ano Novo dela por volta de fevereiro, se é que me entende.
— Ohhh. Sério?
Se era assim que ela tratava seus próprios parentes, era quase um milagre que ela tenha enviado uma mensagem para Maou e Suzuno tão prontamente.
Enquanto ele refletia sobre isso, a mulher de repente mudou de assunto.
— Então…Maou, certo? Você vem, ou…?
Obviamente era o tipo de mulher que não perde tempo com formalidades. Maou teve que se impedir de concordar por reflexo.
Para Maou, um restaurante beira-mar e uma loja de suprimentos administrados por uma mulher solitária eram territórios inexplorados.
Eles ainda tinham que discutir a natureza do seu trabalho, por exemplo. Por falar nisso, a provável sobrinha da senhoria ainda não havia dito seu nome.
Havia uma frase que Maou aprendeu cedo na vida: Conhece o teu inimigo, conhece-te a ti mesmo, e não temerás cem batalhas. Esse era lema desde que começou sua jornada para unir o reino dos demônios, então já fazia algum tempo. Escolheu suas palavras com cuidado, procurando extrair as informações de que precisava.
— Bem, eu realmente não ouvi nada sobre o trabalho, exceto que é no seu restaurante em Chiba…
Seu parceiro de conversa interveio na hora.
— Ah, não? Sim, tia Mikitty nunca é muito exigente com detalhes como esse, eu acho.
Sua voz indicava que ela não tinha nada a esconder.
— Mas de qualquer forma, estamos praticamente à beira de Chiba, na cidade de Choshi. Você sabe onde é Kimigahama, talvez?
— Não…
Ao seu lado, Riho entregou a Maou uma caneta e papel. Maou assentiu para ela enquanto os aceitava.
Tradução: Vinicius
Revisão: Bravo
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