Rei Demônio ao Trabalho

Rei Demônio ao Trabalho – Vol. 03 – Cap. 04.5 – O Rei Demônio Sente a Dor da Perda

— Ei, Chi.

Assim que ela estava saindo de seu turno, Kisaki impediu Chiho de sair.

— Oh, oi, Senhorita Kisaki! Estou de saída já.

— Claro. Bom trabalho hoje. Você tem um minuto?

— Ah, é claro. O que foi?

Eram nove da noite. Chiho, chamada por um gesto de mão de Kisaki, teve um palpite bastante claro sobre o assunto.

— Eu só estava pensando… Aquela garotinha que você trouxe, ela voltou para a família?

Chiho acenou resignadamente para si mesma por dentro.

— Oh, acho que você notou, hein?

— Bem, sabe, ele estava meio que cambaleando por aí como um zumbi, então…

Ela estava se referindo a Maou.

Na área de alimentação e atrás do balcão, Maou agia como uma marionete que teve suas cordas cortadas. Não havia força em sua voz, ele cometeu uma onda de erros bobos e seu desempenho geral no trabalho estava muito longe do típico Maou — o suficiente para deixar Kisaki mais preocupada do que com raiva.

— E eu sei que vamos ter que esperar ele superar seus sentimentos e tudo mais, mas isso é… Lamento colocar esse fardo sobre você, Chi, mas se isso continuar com ele, posso contar com você para talvez dar um pouco de apoio na frente de trabalho?

— Claro. Sem problemas.

— Eu sei que fui um pouco rude com ele hoje, mas… bem, não posso ficar muito mole, então…

— Oh, não, de forma alguma, Senhorita Kisaki. Tenho certeza de que Maou sabe que você está dizendo tudo isso pelo bem dele. Enfim, vejo você amanhã.

— Pode deixar. Tome cuidado.

Depois de deixar Kisaki com uma reverência, Chiho verificou a hora e começou a caminhar em direção à estação de Sasazuka.

Alas Ramus havia desaparecido.

Maou, vendo Emi voar com Gabriel e voltar sozinha, ficou arrasado. Com o coração partido, foi como Suzuno colocou, e essa foi a única informação que Chiho teve referente à batalha que aconteceu nas primeiras horas da manhã.

Ela pensou que tinha vindo para Vila Rosa de Sasazuka cedo o suficiente para um lugar na primeira fila antes que a gangue de Gabriel chegasse. Mas não foi assim. Em vez disso, Suzuno a chocou com as palavras.

— Alas Ramus… foi embora.

Suzuno, Ashiya e Urushihara estavam sentados nas escadas, desanimados, suas mentes distantes, em outro lugar. O enorme buraco na parede do andar de cima contava a história bem o suficiente por eles.

Chiho estava acostumada a testemunhar eventos extraordinários engendrados por seres de outros planetas até este ponto para perceber que ela estava no cenário de uma batalha.

O fato de esse aparente furor da madrugada não ter sido suficiente para alarmar os vizinhos ou chamar a polícia a incomodou um pouco, mas não havia tempo para pensar nisso.

— Hum, Ashiya, isso é…!

— Meu soberano está… ileso. Ele está descansando no Castelo Demoníaco…, mas deseja ficar sozinho no momento.

— O que aconteceu com Alas Ramus?! Aquele cara, Gabriel, fez alguma coisa com ela?!

Uma súbita onda de preocupação levou Chiho a mencionar o nome de Gabriel. Urushihara ficou perplexo.

— Cara, como vamos saber? Emilia também está meio perdida em seu mundinho, então… Mas é meio lógico supor que Gabriel a levou embora.

— N-Não!

A voz de Chiho era uma mistura de dor e tristeza.

— Não havia como restaurar o poder do meu soberano desta vez. Não com o Regimento Celestial de olho na gente. E duvido que Emilia pudesse ter se defendido sozinha contra um anjo que guardava a Árvore de Sephirot. Nenhum deles está ferido, pelo menos, mas… por mais que me doa dizer, as chances são de que Gabriel foi embora com ela.

— Bem, não é como se pudéssemos ter feito algo sobre isso, certo? Quer dizer, aquela garota era um fragmento de Yesod, cara. É meio natural que Gabriel a queira de volta ao Paraíso. Além disso, não é como se tivéssemos qualquer obrigação de—

— Urushihara… — Chiho gritou para Urushihara, o que o fez se calar. — Não diga mais nada! Se você fizer isso, eu… vou fazer com que se arrependa!

— Credo…

Urushihara fez beicinho por um momento, mas ainda entendeu a dica.

— Mas o que há de errado com Yusa?

— Emilia já voltou para casa. Aparentemente, ela teve que se apresentar ao trabalho… Eu entendo que suas roupas e pertences foram arruinados, mas como aquela garota pode ser tão sem coração…  — A resposta de Ashiya foi fraca e monótona. — É melhor você ir para a escola, Senhorita Sasaki. Receio que Vossa Alteza Demoníaca…

Ashiya fez uma pausa para dar uma olhada pensativa para buraco no andar de cima.

— … provavelmente não está com humor para uma conversa.

Chiho seguiu seus olhos para cima. Só então sentiu uma sensação desconhecida borbulhando em seu peito, algo forte o suficiente para formar lágrimas em seus olhos.

— S-Sinto muito… É melhor eu…

Ela se curvou rapidamente para o trio, escondendo essa onda de emoção, e deixou o prédio para trás.

— Alas Ramus…

Ela sussurrou o nome da menina maçã no caminho para a escola quando outra lágrima caiu de seus olhos.

Eles estavam juntos há pouco tempo, e mesmo assim Chiho estava experimentando uma profunda sensação de perda. Ela só podia imaginar como seria para o homem que Alas Ramus amava como seu pai.

E mesmo em um momento como este, não posso estar ao lado de Maou. Ela cerrou os dentes em seu desamparo.

— Ooh. — Ao perceber que o telefone em sua bolsa vibrava, Chiho enxugou a lágrima e o pegou. — Yusa?

Era uma mensagem de Emi, convidando Chiho para se encontrar com ela, quando fosse conveniente.

Chiho respondeu que ela tinha trabalho depois da escola, mas Emi disse que até tarde da noite seria bom, então poderiam se encontrar. Se ela estava tão insistente, não havia razão para recusar.

E agora, no caminho para casa após seu turno, Chiho avistou Emi dentro da estação de Sasazuka.

— Ei, Yusa! Desculpe fazer você esperar.

— Oh, oi, Chiho. Lamento fazer você vir aqui. Deve estar cansada. — Emi parecia muito mais cansada do que Chiho.

A perda de Alas Ramus também deve ter pesado sobre ela, à sua maneira.

— Oh, não, está tudo bem… Mas e aí?

— Hm… Bem, que tal conversarmos dentro daquele Tacoma’s Best? Há uma mesa livre naquele canto. Eu pago.

— Oh? Hum, claro, mas…

Emi pediu um blend na cafeteria Tacoma’s Best, na extremidade do shopping da estação de Sasazuka. Chiho escolheu um café com leite de soja gelado.

Examinando uma mesa em um canto isolado da cafeteria, Emi sentou-se no assento almofadado e soltou um suspiro longo e profundo antes de mergulhar direto no assunto em questão.

— Então, alguém te falou sobre o que aconteceu essa manhã?

Então era isso. Chiho acenou com a cabeça solenemente.

— Eu fui até o apartamento.

— Ah…

— Hum… então, Alas Ramus realmente foi levada embora?

— …

Emi parecia ainda mais sombria do que Chiho, franzindo as sobrancelhas.

Isso foi o que deve ter acontecido.

— Se eu tivesse um pouco mais de poder…

— Oh, não, Yusa, isso não é sua culpa…

— Se eu tivesse o poder de lutar contra Gabriel sozinha, isso não teria acontecido.

— Não, você… você realmente não precisa se torturar por isso…

— Não. Tudo isso aconteceu porque eu não tive forças.

— Mamãe, você está bem? Você se sente doente?

— Yusa…

— Mana Chi! Mamãe, você está machucada? Onde está doendo?

— Não, estou bem. Só no coração, um pouco… Hein?

— Ooh!?

Emi e Chiho olharam para seus pés.

— Aaaaggghhhhhhhhh?!!

Chiho instintivamente tentou se levantar, batendo nos joelhos e quase derrubando seu café com leite de soja.

— Ai!

O golpe foi suficiente para fazê-la cair no chão.

— Mana Chi! Está bem?!

Uma mão pequena e gordinha deu um tapinha no rosto de Chiho.

— Alas Ramus… — Chiho, ainda ajoelhada no chão, gritou de surpresa. — O quê? Por quê? Como?! Por que você está aqui agora, Alas Ramus?!

Ela olhou para Emi, de costas para se sentar, seu rosto claramente vermelho enquanto apoiava o cotovelo na mesa.

— Uou! Você está bem! Que ótimo!! — Chiho deu um grito de alegria ao abraçar a criança.

— Wabpf!

— M-Mas por quê?! Maou, Suzuno e Ashiya pensaram que Alas Ramus se foi!

Ela não mencionou Urushihara, que em grande parte não poderia ter se importado menos.

— Eu também nunca pensei que isso fosse acontecer. — Emi murmurou a resposta, ainda de costas.

Pelo que disse, Emi sentiu algo estranho em sua espada sagrada no momento em que viu Alas Ramus emitir um clarão de luz brilhante.

— Sabe o que eu fiz? Eu comi a espada.

— Hein?

Alas Ramus comeu a espada sagrada.

Os olhos de Chiho quase saltaram enquanto ela tentava analisar a frase em sua mente.

— Foi como se ela tivesse apenas juntado um pedaço de pão e colocado na boca. Você consegue imaginar o nível do meu pânico na hora?

— …

Não havia como ela formular uma resposta para isso também.

— De qualquer forma, acho que essa foi a maneira de ela se “fundir” com o fragmento de Yesod que havia. Gabriel e eu ficamos chocados. Nenhum de nós sabia o que tinha acontecido.

— Estou com a Mamãe para sempre agora!

— Então, acho que esses foram dois fragmentos de Yesod reunidos, e a espada é uma espécie de parte do meu corpo, então acho que isso meio que levou à próxima coisa.

Emi colocou as mãos acima da cabeça, tentando manter Alas Ramus fora da vista dos outros frequentadores do café.

— Uou!

Então, Alas Ramus desapareceu em um enxame de partículas de luz.

No tempo que levou para Chiho piscar de surpresa, uma bela adaga apareceu na mão direita de Emi.

Devia ser a espada sagrada de Emi, mas era totalmente diferente da que ela tinha antes, o globo de luz roxa ao redor dela era visivelmente mais brilhante.

Então, uma luva de prata finamente forjada apareceu sobre a mão de Emi, algo que Chiho nunca tinha visto em batalha antes. Em seguida:

— Mamãe, você me assustou! — falou a espada.

— Isso… fala…? Quêêêê?! Isso é mesmo…

— Com certeza.

— Como estou, Mana Chi? Eu pareço legal?

— Alas Ramus tornou-se parte da espada sagrada. E do Tecido do Dissipador.

O queixo de Chiho caiu no chão.

— Então… então você não contou a Maou nem a mais ninguém? Quero dizer, deveria ver como ele está deprimido agora. Já não é totalmente ele mesmo no trabalho.

— Ah, não? Bem, é. Deve tê-lo machucado, eu acho.

— Bem, sim! Você viu o quanto ele gostava de tê-la por perto…

— Teehee! Sinto muito. Mas achei que poderia me safar com isso. Além disso… — Em outro momento, a adaga desapareceu da mão direita de Emi, e Alas Ramus voltou à existência diante dos olhos de Chiho. — Achei que seria melhor se ele entendesse o que significa perder um pouco também.

Assim que o brilho que acompanha a transformação se dissipou, Emi deu a Alas Ramus uma carícia reconfortante na cabeça.

— Gabriel foi para casa com o rabo enfiado entre as pernas. Não que ele pudesse fazer muito. Quero dizer, se o Olho Maligno do Caído de Sariel não foi o suficiente para puxar a espada de mim, o que seria, sabe? A última coisa que Bell e o Rei Demônio viram foi Gabriel choramingando como uma colegial antes de mergulhar de volta através de seu Portal… Mas, de qualquer maneira, não era sobre isso que eu queria perguntar.

— Hm? Oh, uh, então o que é?

O cérebro de Chiho estava tendo problemas para acompanhar essa esteira de revelações. Emi continuou a não mostrar misericórdia.

— Como pode ver, Alas Ramus se fundiu com minha espada sagrada, então agora podemos nos mover com um pouco mais de liberdade.

— Sim.

— Mas… e isso é algo que ela disse antes de tudo acontecer…, mas, aparentemente, ela acha que eu e seu “Papai” ficaremos juntos para sempre…

Houve um breve silêncio, seguido por um gemido do outro lado da mesa.

— Uhhngh?

— Tipo, durante todo o dia, tudo que ouvi em minha mente foi “Eu quero ver o Papai, onde está o Papai” e assim por diante… Mas se eu continuar deixando esta garota no Castelo Demoníaco e algo acontecer, então? Não terei minha espada sagrada comigo.

— Eu não sei se eu me preocuparia com isso primeiro…

— E a pior parte, você sabe, é que Rika não me ajudou em nada hoje. Ela estava pirando com alguma coisa também.

— Você quer dizer Rika Suzuki?

— Durante todo o nosso turno… Mesmo depois disso, ela estava agindo toda estranha e inquieta, sabe? E ela também ficava checando o telefone.

Emi engoliu o resto de seu blend morno e levou a mão à cabeça em desespero.

— Não posso fazer isso! Se continuar assim, não poderei trabalhar… nem na central de atendimento nem como Heroína! Eu ainda tenho que matar o Rei Demônio, mas isso significaria ter Alas Ramus matando seu próprio “Papai”, e se eu a armazenar em meu corpo em forma de espada sagrada, ela fica gemendo e choramingando em minha mente e eu não consigo me concentrar em qualquer outra coisa… Simplesmente não sei o que fazer.

— Um caso estranho de estresse pós-parto…

Chiho podia sentir uma dor de cabeça se formando quando a Heroína da Espada Sagrada gemeu rapidamente. Nada disso a estava ajudando a entender a situação.

Em sua mente, Emi possuía uma das posições mais invejosas do mundo, uma pela qual ela trocaria de lugar em um piscar de olhos.

— Não sei se isso vai ser uma solução ou algo assim, mas…

— Mas o quê?

Chiho continuou calmamente enquanto Emi quase saltou da cadeira.

— Mas, hum, se você se mudasse para um apartamento vazio no prédio de Maou, isso pelo menos faria Alas Ramus feliz.

— Não, não. Nem ferrando. Isso me faria sentir como se tivesse perdido para ele, mais ou menos.

— Yusa, você também não precisa começar a agir como uma criança!

— Mas, qual é…

— Ebaa! Mudando para a casa do Papai!

Alas Ramus, a menina maçã completamente alheia à angústia de Emi ou aos costumes do mundo adulto, continuou a notar apenas as coisas que importavam para ela.

— Você está acendendo aquela fogueira de novo?

Emi e Chiho, visitando o Vila Rosa de Sasazuka juntas, encaravam indiferentes enquanto Maou queimava um monte de gravetos de ogara. O fio de fumaça se estendia no alto do céu enquanto o sol do oeste mal aparecia acima do horizonte.

— Isso se chama okuribi, beelza? Você poderia pelo menos tentar aprender um pouco sobre o Japão?

Okuribi? Ah tá. Ótimo. Então, por que você está fazendo isso?

— É para que eu possa guiar as almas dos ancestrais que chamei com os mukaebi de volta ao seu próprio mundo. Normalmente se faz isso no final do feriado de Obon, mas não acho que alguém vai se importar se eu adiantar um pouco.

Maou soltou um suspiro lânguido.

Com o canto do olho, Emi percebeu que a mão apática de Maou estava segurando a foto emoldurada que eles tiraram junto com Alas Ramus.

— Esta é o meu jeito de levar Alas Ramus de volta para lá, para… onde quer que seja, beleza? E acho que desperdicei meu dinheiro com isso aqui também. Não usei uma vez sequer.

Os olhos de Maou estavam voltados para Dullahan II, seu assento infantil de plástico amarelo refletindo a luz branca do pôr do sol de mais um verão.

Uma leve brisa entrou em cena, levantando o fio de fumaça e dispersando-o no céu.

— Não estou com vontade de falar com você hoje. Vá embora.

— Oh, muito obrigada. Estou aqui porque queria te perguntar uma coisa, beleza? E é melhor eu obter uma resposta.

— …

Maou distraidamente virou sua careta para baixo sem dizer uma palavra.

— Deixe-me perguntar sobre aquele amuleto que o viajante recebeu do anjo. O que aconteceu com ele depois que ele se tornou rei?

— …!

Maou soltou um gemido suave, o rosto ainda voltado para baixo.

— Eu só quero saber como referência. Se você já tinha isso planejado, pode me dizer?

— Então isso é tudo? Você está aqui apenas para brincar comigo?

— Claro. Beleza. Sou só eu, vindo aqui para rir do Rei Demônio enquanto ele está deprimido sozinho.

— Vocês, Heróis e anjos, são os desgraçados mais nojentos, não são?

— Não tanto quanto vocês, demônios.

Chiho silenciosamente observou o desenrolar da discussão.

Ela pensou que Maou iria explodir de raiva, mas depois de alguns momentos, ele falou baixinho:

— Assim que o viajante se tornou rei, ele esqueceu completamente o encanto. Então, muitas coisas aconteceram com ele, e quando estava de volta à estrada como apenas mais um andarilho empoeirado, deparou-se com aquilo novamente. Jurou que trataria melhor desta vez, mas… talvez fosse uma vingança pelo que fez como rei, quem sabe, mas de qualquer maneira, alguém roubou dele, provavelmente.

— Hohhh. Innnnteressante. Mas ainda se lembrava de que realmente significava algo para ele, hein?

— Diga logo, o que você quer?

Maou olhou para Emi, encarando-a com raiva.

Mas, por suas próprias razões, Emi não estava mais pronta para intimidar Maou. Seu rosto estava um pouco vermelho, seus olhos afastados dos dele.

— Hein?

Ver isso o deixou ainda mais desconfiado.

— Então eu acho que ele provavelmente vai tratá-lo muito bem da próxima vez. O que acha?

— Concordo.

Chiho falou pela primeira vez:

— O que há com vocês dois hoje…?

Até o Maou normalmente lento na compreensão percebeu que elas estavam insinuando algo.

— Bem, não é como se eu soubesse que tipo de tesouro era esse para o viajante, mas se é assim que você diz, deve ter sido muito importante, não é?”

Emi ergueu a mão direita, a qual emitiu um brilho opaco.

— Você sabe como é perder algo que lhe é precioso agora? Se sim, é melhor tratar bem desta vez.

Então, um pequeno milagre de repente se desenrolou diante dos olhos dele.

— Papai!!

Maou ficou surpreso ao ver a menininha aparecer, como se tivesse se materializado do nada em frente à fogueira de okuribi. Ele congelou, os olhos bem abertos, como um cervo observando uma minivan avançando na rodovia.

— Alas… Ramus…? O que foi, espere um pouco, como você…?

Cambaleando, Maou acidentalmente deixou cair a foto que estava segurando.

Alas Ramus, a garota que ele pensava ter se ido para sempre, não se impressionou.

— Papai, não! Não deixa cair. Você vai machucar ela!

Ela agilmente pegou a foto e segurou-a contra o peito.

— É…? Não pode ser, isso é real? Você é mesmo Alas Ramus?!

Maou caiu de joelhos no chão, dando tapinhas na cabeça, rosto e ombros da garota enquanto ela segurava a foto.

— Eek! Papai, isso pinica!

Alas Ramus, em resposta, riu como um cachorrinho, agarrando a mão de Maou com a sua.

— Então, aí está.

Maou não deu atenção às palavras de Emi.

— Uau, então… então ele não te levou embora…

— Achei melhor te deixar experimentar do próprio veneno um pouco mais. Mas Alas Ramus continuou falando sobre ver seu papai, e isso me pareceu uma espécie de ação de “demônio” no geral, então eu a trouxe aqui. Espero que aprecie… Espera.

A enxurrada de desculpas de Emi foi interrompida por algo que a surpreendeu.

— Você está chorando?

— Uh? Ahn? Buh?

Maou levou a mão ao próprio rosto. Lá, pela primeira vez desde aquele dia em que pensou que perderia a vida, havia uma única lágrima escorrendo.

— Q-Que tipo de Rei Demônio é você? Chorando assim?! Você é burro? Para com isso!

Emi, nervosa com a reação de Maou, não conseguia decidir o que fazer a seguir. Ela optou pela escolha segura de gritar com ele.

— Papai, você está dodói? Está dodói?!

Alas Ramus, também percebendo as lágrimas, olhou para Maou, parecendo prestes a chorar com ele.

— Não, isso é apenas, hum, é tipo um acidente.

O ex-Rei Demônio fez o possível para esconder as lágrimas, mas não funcionou.

— Você deve estar muito feliz, Maou. Quero dizer, Alas Ramus está de volta! — Foi o sorriso de Chiho que explicou tudo para ele. — Todo mundo chora quando está feliz assim, sabe.

Maou olhou para Chiho sem expressão.

— Então, aprendeu algo novo sobre este mundo?

— Mana Chi, o Papai está bem? Ele não está dodói?

Chiho deu um tapinha na cabeça da chorosa Alas Ramus.

— Ele está bem. Papai está muito feliz em ver você, só isso.

— Eu não estou chorando! — De repente, Maou se levantou indignado. — Q-Quem diabos está chorando aqui?! Além disso, eu já sabia de tudo, mesmo! Sou o pai desta garota! E também sabia que Gabriel e o Regimento Celestial fugiram!

Nem mesmo um aluno do ensino fundamental representaria um homem forte como aquele nos dias de hoje.

— Wabpf!

Deixando clara sua opinião, ele então abruptamente pegou Alas Ramus.

— Nós… nós até preparamos a comida de Alas Ramus para hoje! Ei! Ashiya! Suzuno! Vamos comer! É hora de comer!

Com isso, ele subiu correndo as escadas, sem se importar nem mesmo em apagar o fogo do okuribi.

— Estou surpreso que ele tenha conseguido manter o show por tanto tempo. Mas eles vão mesmo comer lá?

— Acho que vão comer na casa da Suzuno por enquanto. Eles ainda vão dormir em seus próprios quartos, no entanto. Vai ser mais fresquinho assim, pelo que falaram.

— Sim, isso com certeza é a cara deles.

Com um sorriso irônico, Emi olhou para o segundo andar do Vila Rosa de Sasazuka.

Ao ver aquela reação de Sadao Maou, ela foi forçada a admitir que havia uma sensação de alívio em algum lugar em seu coração.

Os mistérios por trás de sua espada Cara-Metade apenas se aprofundaram, e ela não tinha ideia de como o Soberano Demônio que Gabriel mencionou estava envolvido.

No andar de cima, ela já podia ouvir Ashiya e a turma exclamarem sua surpresa.

— Mas você sabe… não acha que alguém vai chamar a polícia ou algo assim, não é?

— Eu estava pensando sobre isso, na verdade, mas… bem, está recebendo muitos olhares das pessoas, mas aquele lugar está meio que desmoronando mesmo, então… Além disso, não queremos a polícia aqui, né? Tudo fica bem quando acaba bem.

— Verdade. E não é como se eu tivesse que me preocupar com isso. Vou precisar de Alas Ramus em minha casa por um tempo, de qualquer maneira.

— Mamãe! Mana Chi! Vamos lá! Hora de comer!

— Uou, Alas Ramus! Cuidado! Você vai acabar caindo igual à Mamãe!

Alas Ramus estava perto do topo da escada, chamando Emi e Chiho. Maou chegou bem a tempo de agarrá-la por trás.

— Venha, juntem-se a nós. Suzuno fez tudo, então não vai te fazer mal nem nada.

— O que acha?

— Bem, apesar de todas as minhas intenções, sou a mãe dela agora, eu acho. Melhor ficar de olho na dieta dela.

Emi cautelosamente começou a subir as escadas.

Pensou que podia sentir Chiho rindo para si mesma enquanto seguia atrás. Aparentemente, a atuação de Emi foi tão convincente quanto a de Maou.

Não havia como saber o que Gabriel queria dizer com suas palavras de despedida. Mas como uma Heroína genuína, não tinha como ela prosseguir no caminho da ruína. Não se quisesse preservar a paz durante o jantar esta noite.

Por enquanto, pelo menos, era capaz de pensar isso consigo mesma.

 

 

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— Aquela criança se fundiu com a espada sagrada de Emilia?!

— Sim! Completamente! E cara, eu simplesmente não conseguia acreditar!

— Céus. Deve ter sido terrível. Chega disso. Eu estava pensando em finalmente chamar minha deusa pra sair, mas o que você acha!?

— Dahh! Só uma vez, esperava que você pensasse em alguém além de você. É bom ver que estou errado de novo!

— Ora, ora. O que espera de mim, afinal? Meu Olho Maligno do Caído é inútil contra ela. O que posso fazer para ajudar?

— Muito menos do que eu esperava, pelo jeito.

— Isso é, hum, realmente uma má notícia, não é? O Yesod que eles chamam de Alas Ramus fundindo-se com a Cara-Metade?

— Por isso vim te procurar! É por isso que estou praticamente me coçando agora, se você não percebeu! É por isso que estou pedindo alguns conselhos! Você não vê em quanto perigo isso vai colocar todos nós?! Não é hora de trabalhar no seu jogo com as garotas, belê? Ugh! Por que eu dei àquela garota pelo menos um momento de gentileza naquela vez?

— Parece que o sexo oposto está dando a nós dois alguns problemas, hmm? Estou começando a sentir um pouco de empatia por você.

— Oooooh, eu poderia muito bem dar um soco em você agora!

— Ahh, não fique tão nervoso. Mas o que acha? Ela não é linda? Eles a usaram em um dos anúncios de papel de mesa, sabe. Essas coisas estão custando mil e quinhentos ienes no ReLay agora!

— Você que pediu por isso!

— Gah!

— Eu avisei, tente agir um pouco preocupado, belê?!

— Você não vê nenhum valor nisso? Pff. Filisteu. Mas Emilia não sabia o que estava fazendo, certo? Ela não pretendia fundir Alas Ramus com a Cara-Metade?

— Não! Provavelmente, não! Por quê?!

Tarde da noite, no andar de cima do Sentucky Fried Chicken em frente à estação ferroviária de Hatagaya, o arcanjo Sariel mordia uma asa de frango e alguns palitos de batata frita enquanto se dirigia a Gabriel.

— Então talvez pudéssemos evitar o pior cenário se encurralássemos a outra “metade”. A segunda asa, além da Cara-Metade.

— Poderíamos. Mas quem poderia saber onde está…

— Pfft! Eu não deveria ter esperado que você entendesse nada. Alguém tem muito que aprender sobre o amor entre um homem e uma mulher.

— …

— Ei! Não fique aí sentado balançando o punho para mim! Basta pensar por um segundo!

— Quem?! Desculpe, sou tão estúpido, mas não sei, cara! Além disso, não me lembro exatamente de ter ouvido sobre você ter sucesso em encontrar uma garota em sua vida!

— Heeheehee. Ah, mas todas as minhas experiências se resumem a agora, neste exato momento, quando eu finalmente consigo minha deusa… Aiiii!! — Sem aviso, Gabriel deu um tapa na cara de Sariel.

— Nem parece que você é o arcanjo que teve que lidar com todas as reclamações de assédio sexual apresentadas contra você, belê?

— T-Tudo bem…! Foi mal, foi mal! Só pare de me bater! Preciso mostrar o melhor rosto para o trabalho amanhã!

— Se esse é seu melhor rosto, meu bem, você tem problemas. Lembre-se de onde eu venho. Eu é que não consegui recuperar a espada, então sou eu que vou ter que responder por isso. Mas e se eles soubessem que é tudo porque você está interpretando o semideus Casanova com uma garota humana, hein? Quer terminar como ele?

Sariel esfregou a bochecha inchada enquanto soltava uma gargalhada do exasperado Gabriel.

— Eu farei qualquer coisa… até mesmo fazer os deuses, fazer o mundo inteiro, meus inimigos… para consumar meu amor!

— Eu gostaria que você tivesse um sinal ou algo que pudesse mostrar quando não está sendo sarcástico comigo… E daí? Quem é? Quem é esse cara com a outra metade, de quem eu certamente saberia a identidade se eu fosse um garanhão tão gostosão como você?

— Bem, quem fugiu com o Yesod Sephirah em primeiro lugar? Pense sobre isso, e a resposta deve ser óbvia. — Sariel sorriu maliciosamente enquanto mantinha o rosto reservado.

— Uma das asas foi concedida à filha dela. Quem pegou a outra? Bem, quem mais poderia?

Sariel acenou com um osso de galinha no ar para mostrar seu ponto de vista.

— Nord Justina. Pai de Emilia.

 


 

Tradução: Taiyo

Revisão: Taiyo

 

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