Em meio à escuridão de estrelas que não piscavam, havia uma grande terra, banhada em vermelho e azul.
Esta terra, que brilhava com um tom celeste cintilante, assumiu a forma de uma enorme cruz gravada; cada ramo repleto de vida.
Em uma parte dessa grande paisagem azul, as estrelas eram acompanhadas por um planeta repleto de vida. Lá havia um vasto deserto, desprovido de qualquer som. Nem mesmo uma única brisa soprava por ele.
Uma única árvore grandiosa, da mesma cor que a terra azul, assomava-se ameaçadoramente na terra devastada.
Esta árvore, situada no vasto deserto plano, viveu por incontáveis meses e anos. Transbordava com a força de incontáveis almas, incontáveis vidas; mas, por fora, parecia pouco mais do que uma casca seca.
Não havia folhas para cobrir os céus, nem botões de flores para decorar as nascentes que corriam, nem frutas com as quais celebrar a generosidade deste mundo azul. Lá estava apenas a árvore, parada ali, sozinha, como se tivesse cometido um grande pecado pelo qual nada pudesse fazer para expiar.
Dez santuários foram construídos ao redor dessa grandiosa árvore, como se a cercassem, cada um com um nome esculpido em sua entrada.
O primeiro santuário era Keter. O próximo era Chokhmah, então Binah, Chesed, Gevurah, Tifaret, Netzach, Hod, Yesod e, por fim, Malkuth.
Esses nomes pertenciam a alguém. Eles devem ter ido embora. Mas ninguém poderia dizer onde as pessoas que podiam ler e escrever esses nomes esculpidos poderiam estar agora.
Esses santuários não eram edifícios majestosos, sem pilares brilhantes ou telhados requintados adornando-os. Em vez disso, eram dez esferas perfeitas, como grandes pedras retiradas da terra, espalhadas pelo local como o enorme fruto que a grande árvore deve ter gerado em algum tempo distante no passado.
Um dia, o deserto azul foi saudado com agitação mais uma vez.
Da esfera esculpida com a palavra Yesod, uma grande figura apareceu.
— Ah. Ótimo. Até que encontrei rápido.
Parecia uma voz de homem.
Com aquele sussurro, quatro pilares de luz apareceram ao redor da grande figura, cada um logo assumindo a forma de pessoas.
— Depois que não recebemos nenhuma resposta do Continente Central, eu esperava passar séculos procurando…, mas parece que não perdemos nada. Os “fragmentos” ressoaram uns com os outros em um determinado lugar.
As pessoas dentro dos pilares de luz começaram a murmurar.
— O lugar onde Sariel desapareceu recentemente. Ele, e talvez…
O grande homem avaliou toda a extensão da árvore azul quase apodrecida.
— Sim. Aquela garota que roubou a Yesod Sephirah também está lá.
O grande homem ergueu os braços para as estrelas. No momento seguinte, um enorme buraco para outra dimensão se abriu, cheio de luz e pairando no ar.
— Deixe-nos ir. Vá, e traga de volta a árvore de Sephirot à sua forma pretendida. — Então, as cinco figuras desapareceram Portal adentro.
Logo, a luz do Portal se foi, e o silêncio voltou à terra azul.
As cinco figuras que antes ficavam ao lado da grande árvore agora contemplavam a terra gravada com a cruz da vida — Ente Isla, a Terra da Cruz Sagrada. A terra azul ficava perto deste terreno da vida, preguiçosamente girando em torno dela, mas nunca ousando se perder perto do orbe vermelho que espreitava além de ambos.
~*~
Foi um pouco antes de Maou e Emi desembarcarem da roda-gigante do Tokyo Big-Egg.
— Ei! Bell Você está por aí?!
— Nrgh… O que foi, Lucifer?
Suzuno ficou surpresa ao encontrar Urushihara fora de sua fortaleza chamada armário. Ficou ainda mais surpresa ao encontrá-lo visitando seu quarto, em estado de pânico.
Ela estava saboreando um almoço tardio de udon fervido, fazendo-a quase engasgar com a boca cheia quando ele irrompeu pela porta.
Urushihara percebeu a pilha de macarrão apimentado na tigela de Suzuno, que agilmente seguiu seus olhos.
— Não tem nada aqui pra você.
— Sim, não quero saber de udon por um tempo. Pedi pizza agora há pouco, então… Espera! Cara, isso não importa!
Depois de fazer a confissão, o que provavelmente deixaria Ashiya irritado e o faria voltar à sua forma demoníaca se ele a ouvisse, Urushihara fez uma pergunta a Suzuno:
— Você notou isso de agora há pouco?
— Notei o quê?
Suzuno inclinou a cabeça, confusa.
— Pelo visto parece que não, hein? Ei, sabe como entrar em contato com a Emilia? Eu vou ligar pro Maou. Acho melhor trazê-los de volta aqui o mais rápido possível.
— Por quê? O que quer dizer com isso?
Suzuno franziu a testa, notando Urushihara agindo com sinceridade para variar.
— Apenas faça isso, cara. Não sei por quê, mas um Portal enorme se abriu em algum lugar de Tóquio. Acho que temos alguns problemas vindo aí.
Com isso, Urushihara voltou para seu quarto e abriu o aplicativo SkyPhone em seu computador. Suzuno, achando difícil acreditar que seu comportamento era apenas uma atuação, pegou o telefone e discou o número de Emi.
Foi quando cinco figuras se materializaram no jardim da frente do Vila Rosa Sasazuka.
— Ei, ei, você não disse nada sobre visitantes.
Maou deu um sorriso tranquilo, mas ainda se certificou de manter Alas Ramus atrás dele.
— Então, o que aconteceu primeiro? O Portal ou isso aqui?
— Peço desculpas, Rei Demônio… fomos pegos completamente de surpresa.
— Sim, admito que não achei que eles fariam um movimento tão rápido.
Suzuno fez o pedido de desculpas, esforçando-se para tal. Urushihara, entretanto, demonstrou sua falta de consciência habitual.
— Ohh, não há necessidade de culpá-los, belê? Afinal de contas, eles foram legais o suficiente para ligarem para vocês dois.
Maou e Emi, voltando às pressas para o Vila Rosa Sasazuka, não foram saudados nem por Urushihara nem por Suzuno.
— Além disso, não estamos fazendo nada muito difícil, sabe? Seria uma enooorme vitória para todos nós se pudéssemos conversar sobre isso, então esperamos poder evitar quaisquer pontos de conflito e coisas assim, belê?
O ar dentro do Castelo Demoníaco estava sufocante.
Principalmente porque a densidade populacional interna estava fazendo com que a temperatura ambiente disparasse.
Afinal, havia dez pessoas em um apartamento de cem pés quadrados. Porém, em termos biológicos-humanistas estritos, Suzuno Kamazuki era a única “pessoa” ali.
— Gabriel?
— Ooh, bingo! Acertou em cheio! Quero que me diga como adivinhou! Já nos encontramos antes?
O homem gigante, descontraído e estranhamente intenso, um que Maou adoraria socar agora, parecia ser o líder dos convidados indesejados.
Ele tinha cabelo azul, bem cortado na altura dos ombros, e seus olhos não mostravam nenhuma preocupação ou ansiedade aparente por nada. A parte superior de seu corpo era facilmente tão longa quanto a de Ashiya, no entanto, e os músculos protuberantes o faziam parecer um lutador profissional. Ele usava uma toga do comprimento do corpo, algo que seria estiloso entre os gregos antigos, e não poderia parecer menos natural nele.
Além daquele que Maou chamava de “Gabriel”, quatro outros homens estavam no Castelo Demoníaco. Um estava segurando uma espada longa ridiculamente ornamentada na garganta de Suzuno, enquanto os outros três montavam guarda ao redor de Urushihara enquanto ele estava sentado de pernas cruzadas no chão.
— Pois é, uh, eu soube que um dos arcanjos lá em cima era uma aberração enorme que fazia sua cabeça doer sempre que você falava com ele.
— Aww, isso aí é maldade! Ei, que tipo de boatos as pessoas estão espalhando sobre mim pelas minhas costas? Vou ter que bater pernas por aí, se é que me entende!
— Isso, e você é o anjo da guarda da Sephirah, conhecida como Yesod, não é?
— Ee-hee-hee! Você sabe bajular um homem, não é?
— Poderia parar com isso? Certo. Vamos cortar o papo furado e ir direto ao ponto. O que quer?
— Bem, aquela garota se escondendo atrás de você, para começar. E, ooh, se não se importa que eu seja totalmente ganancioso, a espada sagrada de Emilia também! Além disso, comemos toda a pizza que Lucifer pediu no Pizza Hat. Maaaal aí!
— Você pediu isso agora? De todos os momentos possíveis, justo agora?!
Nem mesmo Maou conseguiu manter a compostura. Urushihara estremeceu.
— Oh, pare de fazer draminha! Pagaremos por isso mais tarde, belê?
— Não é com isso que estou preocupado! Bem, ok, eu estou, mas ainda assim!
Maou parou no meio da frase. Havia a ira de Ashiya para se preocupar mais tarde também.
— Oh, espera, espera, espera! Que tal isto: Dê-nos a garota, ou você nunca verá o seu precioso dinheiro da pizza novamente!
— Que tipo de pai entregaria sua filha a um bando de sequestradores para pagar a conta de uma pizza?! — Maou estava gritando agora. — Além disso, vocês não estão meio atrasados? Há quantos dias acha que ela está aqui conosco?
— Ei, calma, talvez tenha sido alguns dias para você, mas estivemos procurando por séculos já. Séculos! Então dá um tempo se estamos meio fora do combinado, belê? Quer dizer, quando captei os pulsos do fragmento de Yesod, eu estava quase enlouquecendo! Você não acreditaria como foi deprimente quando o fragmento daquela garota foi levado do Castelo Demoníaco em Ente Isla. Eu estava tipo “Oooh, sem mais séculos gastos procurando por aquela coisa de novo…” Oh!
O homem aparentemente chamado Gabriel parou de falar.
— Isso! “Chega de papo furado”, você disse! Sim, sim, sim! Vai nos entregar a garota ou não? Então?
Ele não era nada parecido com o que Maou esperava — eles nunca foram, por experiência própria —, mas a julgar por sua fixação na espada sagrada de Emi, deviam ser servos do Paraíso. Em outras palavras, anjos.
O homem grande não negou que seu nome era Gabriel, também. O que significava, provavelmente, que este era o verdadeiro pai de Alas Ramus, ou tutor, ou o que seja.
— …
Mas a expressão no rosto de Alas Ramus enquanto olhava para Gabriel era claramente de medo. De jeito nenhum ela nutria qualquer sentimento amigável em relação a ele.
— Ei, Alas Ramus? Você conhece este grande bobalhão aqui? Porque parece que ele quer te levar com ele.
— Não!! Eu odeeeeeeeio ele!!!!
— Nããããããããããããooooo!!!
Gabriel teve um desempenho shakespeariano de choque após a resposta instantânea de Alas Ramus.
— Pare de me chamar de “grande”, maldito! Palavras podem machucar, belê?
Foi isso que o surpreendeu? Os homens que seguravam Suzuno e Urushihara se mexeram, silenciosamente tentando esconder o constrangimento.
— Market, Ketter, Binah, Cocama, todos se foram! Eu odeeeeio ele!!
— Ooooh, dá a facada e depois torce, por que não?
O acompanhamento de Alas Ramus foi suficiente para fazer Gabriel levar a mão à cabeça.
— Eu realmente não entendo o que está acontecendo aqui, mas se Alas Ramus não quer, então eu não dou a mínima se você é o pai dela ou não. Ela não vai a lugar nenhum.
— Awwww… Beleza, que tal a espada sagrada…?
— Passo essa, valeu. Nem mesmo se os próprios deuses implorassem. Não vou entregá-la a ninguém até cumprir minha missão
— Ooooh, você está tornando isso terrivelmente difícil, sabia? Que tipo de Heroína e Rei Demônio são esses? Tão difícil. Eu realmente não quero ser duro aqui, mas agora que encontrei essa garota, estou meio que na obrigação de recuperá-la, entããão…
— Como se eu me importasse.
“A espada sagrada, suponho que posso ficar sem. Mesmo que Sariel tenha ferrado bonito nessa, pelo menos sabemos onde está, mais ou menos. Mas eu vou ter que bater o pé no chão quando se trata da garota. Então, por favor? Só devolve, pode ser?
— Não.
— Ela foi tipo minha primeeeeeira…
— E eu sou o pai dela agora.
— Não importa o que aconteça?
— Não importa o que aconteça.
— Mesmo que isso signifique você contra todo mundo no paraíso?
— Parece um risco aceitável. Não vou fazer essa criança chorar.
Gabriel murmurou desamparadamente para si mesmo:
— Tão difícil. Essa me complica de verdade, você entende… bem?!?!
Ele lançou uma explosão de energia sagrada veloz de todo o seu corpo, forte o suficiente para quase esmagar todos contra as paredes do apartamento.
Tudo aconteceu num piscar de olhos. Foi o suficiente para fazer Maou cambalear.
— Eu realmente odeio forçar as pessoas assim. Se você quiser se render a qualquer momento, não tenha vergonha de dizer, belê?
Gabriel, ainda tão intensamente despreocupado como sempre, estava diante dos olhos de Maou antes que ele percebesse.
— Uou!
Com o canto do olho, Maou percebeu os buracos que Gabriel fez no chão do tatame com os pés, como resultado da explosão.
— Sabe, mesmo se você tivesse toda a sua força de Rei Demônio, eu provavelmente ainda venceria e tal, entende? Então… o que acha de só devolver?
Havia um ar quieto, quase santificado, no apartamento, tão opressor que parecia prestes a esmagar todos lá dentro.
— Merda, isso é sério?
Maou engoliu em seco, nervoso. Contra todos os inimigos que ele lutou em sua vida, ninguém o intimidou tanto antes.
Não era porque estava mais fraco agora.
Era porque ele estava lutando contra um guardião da Sephirot, um anjo vários níveis mais poderoso do que qualquer coisa que ele já havia experimentado.
Foi uma surpresa. Mas isso não o fez ceder.
— Bem, ainda é um não para mim. Eu sou o senhor de todos os demônios. Amo fazer coisas que os humanos e os anjos simplesmente odeiam. Assim que eu conquistar o mundo, vou criar essa garota para ser a herdeira do meu trono.
— Vou tentar pegar leve com você, belê? Não seria justo de outra forma, com sua total falta de força demoníaca e tal… E não se esqueça da rendição também!
Esse foi o sinal de que as negociações fracassaram.
As condições de Gabriel pareciam generosas o suficiente. Nem era preciso dizer que Maou não tinha chance de vencer.
Um simples toque de sua mão no braço de Maou teria sido o suficiente para transformá-lo em confete.
Mas havia uma coisa no apartamento capaz de parar a luz sagrada de um arcanjo.
— Maou!!!!
Foi um grito simples. Não foi magia, nem um golpe de espada, mas um grito.
Porém, o grito foi o suficiente para parar o ataque do arcanjo.
Todos se voltaram para a fonte.
— Maou…
Foi Chiho.
Suada e sem fôlego, Chiho estava no topo da escada, olhando para dentro do apartamento.
— Chiho?! Não! Sai daqui!
Emi correu para alertar Chiho para que fugisse. Mas a garota apenas balançou a cabeça.
— Achei que precisava me desculpar por hoje…
— Por hoje?
— E então… isso aconteceu… Eu sei que não posso fazer nada, mas não podia simplesmente ficar sentada lá.
Maou ainda não tinha ideia de que havia sido submetido a uma vigilância de Chiho e seus companheiros.
Chiho havia voltado para Sasazuka antes do bando, mas depois foi para casa, incapaz de suportar o arrependimento de trair a confiança de Maou nela. Mas se trancar em seu quarto também não trouxe nenhum consolo, e agora ela estava ali novamente.
— Você deve ser deste mundo, hein? Bem, isso não é algo com o qual esteja familiarizada. Chamar a polícia não vai ajudar em nada. Aposto que não vai acreditar em mim, mas eu e esse cara, Sadao Maou…
— Eu sei de tudo!
O grito de Chiho parou os lábios de Gabriel.
— Eu moro aqui no Japão, mas sei de tudo isso. Tudo sobre Maou, sobre Satan, a Heroína Emilia e Ente Isla também. Isso… e você provavelmente é um anjo que está aqui para pegar Alas Ramus.
Gabriel balançou a cabeça em uma descrença cômica.
— Bem! Fiquei impressionado o suficiente por você estar interagindo tão naturalmente com visitantes de outro mundo, mas até descobriu na hora que sou um anjo! Céus! Eu realmente pareço tão angelical para você?
A descida do arcanjo de volta à exuberância trivial abalou Chiho por um momento.
— Até agora, se alguém fez algo realmente ruim para Maou ou Yusa, foi um anjo, então…
A resposta foi quase honesta demais para seu próprio bem.
Maou, Emi e Suzuno olharam com espanto. Gabriel e seu bando estremeceram dolorosamente. Urushihara, entretanto, explodiu em gargalhadas.
— Bem. Nenhum comentário quando se trata de Lucifer, deixe-me dizer a vocês, mas o que Sariel fez com vocês?
Gabriel foi claramente pego de surpresa. Havia muitas evidências anteriores para negar a verdade ainda mais.
— Sim, vou admitir que Sariel e eu não vivemos exatamente à imagem que as pessoas têm dos anjos por aqui…
— Beeeem, então por que você não para de ficar estranhando, belê? A imagem é importante, sabe?
— Oh, como se você pudesse falar sobre imagem. E quanto a esses caras que trouxe junto? Esses são, tipo, delinquentes de rua de primeiro nível em um filme da Yakuza.
Urushihara olhou para as quatro figuras que cercavam ele e Suzuno. Por alguma razão, eles recuaram, como se tivessem medo dele.
Gabriel suspirou exasperado quando Urushihara deu um sorriso vitorioso.
— Bem. Enfim. Sinto muito, mas estamos um pouco ocupados agora. De várias formas. Estou tentando conversar sobre isso, mas se não quer se machucar, recomendo dar o fora daqui enquanto pode, belê?
— Ooh, cara, eu adoro isso. Esse sem dúvidas é um diálogo de chefe delinquente de rua nível um. Posso assistir essa porcaria o dia todo.
Ninguém estava dando ouvidos à conversa animada de Urushihara. Seus olhos estavam em outra pessoa.
— Por favor, não tire Alas Ramus de nós.
Eles estavam focados em Chiho, sua cabeça inclinada profundamente para baixo em direção a Gabriel.
Mesmo sabendo que o movimento acalmou seu ego mais do que qualquer outra coisa, mesmo que ela não tivesse ideia do que realmente faria Alas Ramus mais feliz, tudo o que Chiho viu a levou a agir.
— Alas Ramus realmente ama Maou e Yusa. Então… por favor. — Uma gota caiu em seus pés.
— Chi…
— Chiho…
— Aw, caramba, moça, pare com isso! Vamos, erga a cabeça para cima…
Então, para surpresa de todos os envolvidos, Gabriel se sentiu profundamente comovido pelas ações de um simples humano, um mero vestígio de uma adolescente.
— Isso é muito injusto, belê? Vocês estão me fazendo parecer o anjo malvado aqui! É como se eu fosse algum tipo de vigarista em um programa de TV, amedrontando a garota até ela chorar enquanto eu surrava com força um pobre coitado pelo dinheiro que ele me devia!
— Que diabos você está falando?
Maou, um tanto não versado no mundo do drama policial da TV, estava curioso.
— Por favor… Eu estou falando sério… por favor…
— Ahhhh!! Qual é, chega! Pare de chorar! Sério, me dê um tempo! Caramba, se eu soubesse que isso iria acontecer, teria escolhido levar uma surra de alguém com um taco de beisebol! Ei, qual é, dê um tempo pro anjinho aqui!
Gabriel, agora ignorando completamente Maou e Emi, fez o possível para acalmar os nervos de Chiho.
— Por favor… por favor…
Mas Chiho se recusou a levantar a cabeça, repetindo seu apelo a Gabriel sem parar.
— Ugggghhh, tudo bem!
Gabriel acenou com as mãos em sinal de rendição, sua voz indignada.
— Vocês têm até amanhã!!
— Lorde Gabriel?!
— O que está falando?!
Os homens ao redor de Urushihara e Suzuno se viraram para Gabriel, seus rostos mostrando total descrença.
Gabriel os ignorou enquanto observava desconfortavelmente a Chiho com lágrimas nos olhos o encarar.
— Eu… Oooooh!! Sabe, nós anjos temos nossos próprios problemas para lidar também, belê? Então, amanhã de manhã cedo, vamos voltar! Sinta-se à vontade para tirar fotos de sua família ou qualquer outra coisa nesse meio-tempo! Mas não pense que pode escapar ou algo assim, belê?
— S-Sério?!
O rosto de Chiho se iluminou.
Gabriel, incapaz de continuar a encarando, desviou os olhos.
— S-Só até amanhã! Eu não posso esperar mais do que isso, belê? E você, Rei Demônio! Se tentar juntar seu poder demoníaco por aí, vai pagar caro por isso! E eu estou falando sério!
— Mu-muito obrigada!
Ele pretendia encerrar o trabalho ali mesmo, mas esta expressão pura e imaculada de boa vontade de Chiho o parou no meio do caminho mais uma vez.
— V… Vamos, cambada!
A explosão de poder sagrado de antes era agora uma névoa quase imperceptível enquanto Gabriel caminhava em direção à porta.
— Oh, boa frase de encerramento, Gabriel! “Vamos, cambada!” Eu pareço delinquente de rua… — Com esse comentário modesto final, Gabriel sacudiu os ombros com raiva e marchou para fora com sua comitiva.
Os capangas o seguiram em fila, como patinhos seguindo sua mãe, cada um deles cutucando o ombro de Maou no caminho, como um clássico mafioso.
— Ai! Ei! Ei! Droga!
Maou os encarava com uma carranca enquanto saíam, sabendo muito bem que ele estava na desvantagem, e logo Gabriel deu o primeiro passo para descer a escada.
— Agh!
Os demônios ouviram o som de algo pesado caindo pelas escadas com um estrondo tremendo.
— Lorde Gabriel?!
— Lorde Gabriel!!
Gabriel havia pegado as escadas pela via expressa. E não estava sozinho.
— Ah!
— Wah!
— Whoa!
— Nragh!
Quatro gritos estridentes e cortados, seguidos por quatro objetos pesados exaurindo suas energias potenciais em rápida sucessão, foram ouvidos de fora.
— Oh, como se eu não estivesse tendo um dia ruim o suficiente!!
Gabriel foi ouvido discutindo com sua comitiva por mais um tempo antes que as vozes se dissipassem.
Como se seguindo o fluxo…
— Estou de volta, meu soberano. Ah, esse calor opressor…
Ashiya, adentrando de maneira nada tranquila, enxugou a sobrancelha enquanto subia as escadas. Totalmente inconsciente da cadeia de eventos do passado, seus lábios se curvaram um pouco para cima quando viu que Maou e Alas Ramus estavam seguros.
— Notei um grupo de pessoas saindo. Mais pessoas da MHK implorando pela sua taxa de licença de transmissão?
— Você não tem preocupação alguma, hein? Temos uma emergência aqui. Onde tinha se metido?
— Hein? Eh?! O quê?
Ashiya aproveitou esse momento para notar a atmosfera sombria e fria que prevalecia no Castelo Demoníaco, apesar do calor sufocante do lado de fora.
— Hm… Ignorando o Ashiya completamente sem noção por um momento…
Agora que a ameaça imediata se foi, Urushihara escolheu este momento para quebrar o gelo.
— O que vamos fazer agora?
Tradução: Taiyō
Revisão: RedBaron
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