Rei Demônio ao Trabalho

Rei Demônio ao Trabalho – Vol. 02 – Cap. 03.4 – O Rei Demônio e a Heroína Arriscam Suas Vidas Pelas Responsabilidades dos Seus Trabalhos

O raio que Satan repeliu estava agora reunido em uma única mão. Ele o segurava sem fazer esforços, como se tivesse sido ele mesmo quem o conjurou, apesar de ser um produto do poder sagrado de Sariel.

— Acho que o Olho Maligno do Caído fez com que se sentisse mais poderoso do que isso, hein? Nunca lutou com alguém que não tinha poder sagrado, lutou?

Como se jogasse uma bola com corrente, Satan arremessou aquela pequena massa de energia em Sariel, usando nada mais do que força bruta.

— O quê?!

Sariel tentou mais do que depressa cancelar o ataque, mas, com a bola de raio diante dele, disparou um raio roxo dos olhos para estilhaçá-la.

— Aquela sua habilidade te torna praticamente invencível contra qualquer usuário de força sagrada, estou apostando que…

Da sua mão, Satan invocou uma bola de fogo negro. Tinha o tamanho de uma bola de baseball, então, com a pose de um arremessador da Liga Principal, arremessou-a na direção de Sariel, que estava no céu.

— Mas, quando está diante de outro tipo de poder, perde total noção. Não deveria ter escolhido implicar com os outros, hein?

No momento em que aquela massa chegou até Sariel, tornou-se uma enorme bola de fogo, grande o suficiente para envolver todo o seu corpo.

— Grraaaghhhh!!!

— Eu iria sugerir que você vendesse aquelas suas asas de frango, mas provavelmente faria com que as vendas do Sentucky despencassem.

O grito dolorido de Sariel ecoou dentro da bola ardente de chamas negras.

Satan estalou os dedos na hora. A massa de fogo infernal desapareceu em um instante, relevando um Sariel claramente queimado, com sua proteção sagrada lhe deixando na mão.

— Oop.

No momento em que apareceu, Satan moveu seu esfregão sem rodeios na direção do pescoço de Sariel.

— Gahahhh…

Isso foi o suficiente para quebrar o cabo do esfregão ao meio. Os olhos de Sariel reviraram enquanto perdia a consciência, caindo do céu.

— Agh!

Quando desmaiou, a cruz roxa na qual Emi estava presa dissipou-se, lançando-a violentamente na direção do heliporto.

Sariel, por sua vez, chocou-se direto contra o chão.

— E… opa.

Satan pegou Emi, que não tinha forças nem foi capaz de se preparar para o impacto, logo antes de atingir a zona de pouso.

— O que achou, Emi?

— … Achou o quê…

Quase sem fôlego, Emi, com uma expressão depressiva, olhava para Satan, desamparada em seus braços.

— Estou aqui para te pegar. Você podia apreciar um pouco, né?

— ………………

Emi, bem ciente do que ele estava falando, gemeu e contorceu o rosto em mais de mil combinações, como se mastigasse algo nojento. Então:

— Eu preciso… Não consigo fazer mais nada.

A Heroína sempre tinha que ter a palavra final.

Satan riu para si mesmo, então, silenciosamente, colocou Emi no chão.

— Ei, Emi, a sua blusa.

— Hã?

O Rei Demônio batia no próprio peito enquanto Emi gemia em resposta, com os ombros ainda rígidos por causa da tensão.

— Cara, sua blusa. Abotoe isso. Pff…!!

Então Emi enfim percebeu o que ele queria dizer. Ela pegou um dos seus sapatos e jogou direto na cara de Satan.

— Ai! Saiba que, demônio ou não, ainda dói! Agh…!

O outro sapato acertou direto na testa dele.

— Eu disse para não olhar!

Emi colocou um braço na frente do peito, com o rosto brilhando de vermelho. Satan virou-se, dando tempo o suficiente para que ela arrumasse os botões da blusa.

A raiva rapidamente voltou à voz dele.

— É culpa sua por não ter prestado atenção em primeiro lugar! Eu ainda fui gentil o bastante para lhe avisar, lembra-se!? Além disso, não é como se os mostrando faria com que ficassem ainda menores, então… gaghhh!!

Emi, desprovida de munição, não entregou o último golpe de misericórdia que parou o discurso retórico de Maou. A honra pertencia a Bell e seu martelo de guerra.

— Sua… mal… dita…!

— Mil perdões. Eu simplesmente achei difícil demais ficar escutando.

Bell não podia ter dito com mais sinceridade do que isso enquanto colocava o martelo atrás do ombro.

— Hmmm, vejam, pessoal, vocês deram uma surra naquela aberração e tal, então podiam parar de discutir por…

Chiho tentou falar por trás da barreira sagrada que a protegia.

— O quê?!

— O que você quer?

Emi e Bell foram estranhamente grossas enquanto se viravam para ela. Chiho se perguntava por que elas não a olhavam nos olhos, mas sim direto para o seu peito.

— Hã… sinto muito. — Então decidiu diplomaticamente se afastar.

Emi, ao perceber que Bell estava preocupada com a mesma coisa que ela, teve uma estranha sensação de afinidade.

Maou não estava nem um pouco emocionado com isso.

— Cara, por que eu resgatei vocês duas, hein? Eu deveria ter pegado a Chi e dado o fora daqui! Mano, eu ferrei com tudo!

Ele começou a visivelmente fazer beiço, ignorando a própria tirada de alguns momentos atrás.

Então, com um tom desajeitado e nada demoníaco, disse:

— Portal, abra-se!

De repente, um Portal veio à vida diante dele, com tamanho suficiente para que uma pessoa passasse.

— Uou, uou, uou! Não vai voltar agora, vai…

Emi, chocada ao ver Satan abrir um Portal tão casualmente diante dos seus olhos, tentou pará-lo.

— Pois é, eu gostaria! Mas você sabe que isso não vai acontecer!

Com isso, ele pegou Sariel do chão e o jogou no Portal como um cliente do MgRonald jogando os restos em uma lata de lixo.

— Ahhh!!

— Rei Demônio! O que você…

— Maou?!

Esse tratamento excessivamente duro contra o arcanjo foi o suficiente para espantar até mesmo suas vítimas.

— Não vou o matar. Ele ainda tem grande parte do seu poder intacta. Talvez acabe em algum lugar habitável, se tiver sorte. Mas vai saber se vai conseguir voltar a Ente Isla a partir de lá, não é? — Satan deu de ombros. — Portal! Fecha-te Sésamo! Ou sei lá!

Com o encantamento que não parecia um encantamento, o Portal sumiu da existência.

E, com o seu conjurador fora de cena, a barreira de força sagrada que cobria o prédio devia ter desaparecido também. Logo, o murmúrio da noite do bairro de Shinjuku pôde ser ouvido uma vez mais. Satan virou-se para os outros enquanto eles olhavam para a cidade e sua cacofonia de neon e jingles de anúncios.

— Não vão me culpar, vão? Mantê-lo por perto só causaria mais problemas para nós, mas matá-lo traia ainda mais problemas para mim. Essa era a melhor opção.

— Sim, mas… ele não era só uma pilha de lixo…

— Não estou interessado em matar um arcanjo e dar início a uma guerra de grande escala com o paraíso ainda. E, caso aceitem isso como Sariel ferrando com a missão e sendo mandado para outro lugar, tudo funcionou. Tudo exceto sua reputação, eu acho.

Ninguém podia negar isso, mas este era mesmo um problema que podia ser resolvido com tanta facilidade? Emi e Bell ficaram lá, boquiabertas, incapazes de reagir.

— Portanto! Agora vem o grande problema. — Satan bateu as mãos uma vez mais, fazendo parecer que Sariel já era algo do passado para ele, e olhou para Bell com uma expressão séria.

— Temos que limpar toda essa confusão. Vamos indo, Bell.

— Limpar?

— Não me venha com uma simples confusãozinha, cara! Não pode parar todos os trens de Tóquio e dizer Oops, perdão! depois! Vai ter uma pancada de linhas elétricas e transformadores para consertar, e, agora que a barreira de Sariel se foi, alguém vai vir aqui em cima logo. Então vamos sair daqui! Preciso voltar mesmo. Não posso deixar o MgRonald antes de fechar!

Satan, soando exatamente como Sadao Maou apesar da sua forma aterrorizante de rei de todos os demônios, era uma visão pesada demais para Bell evitar de ficar desorientada.

— Oh, é mesmo, Emi?

— O… O quê…?

Satan lançou um olhar para a adolescente que esteve o encarando pela barreira de energia sagrada o tempo todo.

— Leve Chi de volta para casa. Desta vez para valer. A mãe dela está preocupada.

Não foi Chiho nem Emi, mas sim Bell, que ficou mais surpresa.

Ela olhou para Satan, uma criatura estranha, que agora tinha o dobro da sua altura.

Apenas Chiho continuava serena, mostrando um sorriso pequeno, mas inegavelmente triunfante.

— Eu sempre soube que você era um cara legal, Maou.

— Ah, caramba, vamos sair daqui. — Satan as mandou embora com as mãos. — Eu sou da realeza, sabiam? Tipo um dos chefões, entendem? Gosto de tratar meus subordinados direito e, já que vou conquistar essa terra, quero ter certeza de que esteja tudo em perfeito estado primeiro.

— Isso tudo me parece bom, por enquanto.

Chiho agilmente mostrou um sorriso para ele, que ficou rígido por um momento, envergonhado.

— Ugghhhhh! Vamos indo, Bell!

— Ah, espere, onde você está me agarrando… aaaaaaahhhhhhhh

Ele a agarrou pela gola do quimono, erguendo-a e voando, como se fugisse de Chiho e Emi.

Chiho enfim escapou da barreira depois que eles partiram.

— Ei… Yusa?

— …

Emi observou Satan e Bell voarem para longe por um tempo, com as mãos curvadas diante do peito. Ela franziu as sobrancelhas para Chiho.

— Vamos deixar assim hoje. Mas só hoje, entendeu?

Sua voz derrotada era quase um sussurro. Chiho riu um pouco em resposta.

— Neste caso, posso te pedir um favor, Yusa?

— O que foi?

Ela parecia um tanto preocupada enquanto se virava da direção de onde Maou partiu, olhando para o céu sobre Hatsudai-Hatagaya.

— Maou disse que deixou o MgRonald aberto. Acho que ele provavelmente estará encrencado. Bem encrencado.

— Ugh…  Por que você fez tudo isso…? — Sadao Maou, grogue, arrastou-se para fora do táxi em frente à estação de Hatagaya, perto da entrada da linha Keio.

— Haha… hahahaha! Bem, sabe… quero dizer, Chiho mencionou que o Rei Demônio restaurou toda a Via Expressa de Shuto de volta ao normal, então eu queria me certificar de que teria um impacto amplo. Desta forma, podia ter certeza que você usaria o máximo de energia demoníaca possível.

— Mentirosa. Não tem como você ter planejado tudo isso!

Suzuno Kamazuki ria estridentemente enquanto começava a suar de nervosa.

A Shinjuku que Satan e Bell viram era um desastre de tráfego sem precedentes.

Pela forma com que Bell havia redigido, Satan não esperava mais do que alguns cabos de energia caídos aqui e ali perto da estação de trem. Entretanto, as tais expectativas foram destruídas quando viu que ela tinha demolido toda uma estrutura de transformador.

— Sim… bem, não era tão fácil cortar os fios com o meu martelo, por isso temia que um abalo fosse comum…

Satan ainda a salvou do incômodo de inventar mais desculpas fracas ao dar um peteleco em sua testa. Com poder demoníaco no golpe, sua mensagem foi transmitida.

Primeiro, a estação do transformador tinha que ser totalmente restaurada; em seguida, precisava desfazer o caos que se desenrolava nos trilhos através da grande Tóquio. Então vinha os reparos em todo o dano em cascata que o transformador descontrolado causou para o terminal elétrico da cidade. A força demoníaca, que estava a todo vapor quando jogou o arcanjo pelo Portal, estava se esgotando ao final disso tudo, transformando o Rei Demônio Satan de volta em Sadao Maou, funcionário de meio período em cuecas alargadas.

Bell também não foi de grande ajuda durante os reparos.

Considerando que ela não tinha consumido uma grande parte de sua força sagrada em batalha, usar todo esse poder maligno na frente dela foi um risco para a vida de Maou, agora que parou para pensar nisso. Mas nada aconteceu. Ela meramente sentou-se e observou enquanto Satan trabalhava para trazer tudo de volta ao antigo status quo.

E, quando ele usou todo o seu poder, ela foi gentil o bastante para pegar o uniforme dele, o qual foi deixado perto da prefeitura, e chamou um táxi para ele.

 Maou não tinha muita ideia do que começou essa mudança de opinião dela. Porém, ao invés de tentar tirar uma explicação, decidiu pensar em questões mais precisas.

Já era quase meia-noite, hora de fechar o MgRonald em frente à estação de Hatagaya.

— Rei Demônio! O que tem de errado?

Suzuno corria atrás dele enquanto este se afastava rapidamente assim que o táxi foi embora. Mas não havia tempo para lidar com ela. Cada minuto — cada segundo — contava enquanto fazia o caminho de volta.

Mas não tinha como evitar a punição pelo seu crime de faltar no seu turno por quase duas horas.

Maou viu-se congelado na luz ofuscante quando uma visão familiar passou à sua frente.

— Então… o que está acontecendo aqui, Marko?

— Senhorita… Kisaki…

A expressão de Kisaki enquanto ela estava ereta e usando seu traje de negócios, encarando o Maou emasculado, estava escondida pelo olhar. Mas, mesmo assim, ele podia ver o quão sério e julgador aquilo era.

— Quero dizer… por quê?

— Eu recebi uma ligação… algo tinha acontecido com a Chi.

O olhar dela, tão afiado e perfurante quanto o da Heroína, despencou sobre o rosto de Maou como cometas de luz branco-escaldante.

— Sim, e parece que você pegou um esfregão, saiu correndo e nunca mais voltou. Isso causou vários problemas para um monte de gente.

— Eu… não, mas…

O rosto dele se contorcia enquanto se afastava dela. Suzuno permanecia imóvel ao seu lado, talvez tão perplexa quanto ele.

— Você tem bastante coragem, sabia? O supervisor de turno, aquele que ainda não compensou as perdas da manhã, faltando ao trabalho por duas horas sem dizer a ninguém onde estava indo. O que foi isso, um encontro? Então? Foi?

— Hã…

O cérebro dele andava em círculos. Aquilo não podia ser mais estranho.

Maou não esperava Kisaki ali, mas, ao pensar melhor, deve ter realmente assustado a equipe. Afinal de contas, saiu correndo do lugar com não mais do que uma palavra após a ligação de Urushihara.

Já que consertar o sistema de trens tomou mais tempo do que o esperado — e muito mais força demoníaca do que imaginava —, acabou tendo que desperdiçar mais tampo esperando por Suzuno, que tinha ido buscar o seu uniforme.

E, por ter voltado ao trabalho com uma garota usando quimono, não era ultrajante pensar que Maou faltou ao trabalho para sair com mulheres por um tempo.

Kisaki não parecia tão aberta para o verdadeiro motivo do seu sumiço, e ele não tinha nenhuma outra desculpa útil para ela. Dar mais desculpas transparentes para ela só a deixaria mais irritada…

— O Senhor Maou me resgatou, senhora.

— O quê?

Kisaki olhou para a direção da voz inesperada, notando uma mulher desconhecida em sua frente.

De onde ela veio? Maou bruscamente virou-se, não imaginando que ouviria essa voz naquele momento.

— Posso perguntar quem é você…?

— Meu nome é Yusa. Sou amiga de Chiho Sasaki e… — Ela congelou por um momento, tomando tempo para reunir coragem. — … do Senhor Maou também. — Então disse.

Maou já estava se sentindo uma ovelhinha antes, mas, agora que viu Emi, sentia-se com se fosse todo um rebanho.

Emi desviou os olhos, focando-se apenas em Kisaki.

— Amiga… do Marko?

— Sim. Quando estávamos voltando para casa com Chiho e a Senhorita Kamazuki, estávamos sendo seguidas por um molestador. Nos escondemos, e o Senhor Maou foi ao nosso resgate.

— Um molestador? Oh, sabe, eu ouvi mesmo sobre algo assim acontecendo no cruzamento em Sasazuka.

— Éramos apenas três mulheres, e não tínhamos nada para nos defender. Tudo o que conseguimos fazer foi nos mantermos fora de vista…

Kisaki ouvia, ainda com dúvidas. Então Suzuno decidiu entrar junto na montanha-russa por vontade própria.

— Sim… ela está, hm, Yusa está correta.

— Suzu… hã, Senhorita Kamazuki…

Maou evitou por pouco de revelar sua familiaridade com Suzuno. Isso mostrava o quão inesperado a sua ajuda foi.

— M-Maou espantou o stalker para nós, mas, hm, precisou voltar ao MgRonald, pois o deixou sozinho, por isso achei, hã, pensei que deveria o acompanhar de volta…

Foi um desempenho estranho, mas as lágrimas que Suzuno, de alguma forma, conseguiu formar em seus olhos fizeram maravilhas.

Maou teve que resistir à vontade de perguntar se ela tinha inventado aquela personagem sozinha ou se estava imitando alguém da TV.

Então, Emi deu um susto ainda maior:

— Sadao…

— O quê…?

Foi a primeira vez que Emi o chamou por aquele nome na frente de todo mundo.

— Acabamos de levar Chiho de volta para casa. A mãe dela estava na espera dela.

— Oh? Oh, bem, ótimo. Me parece, hã, bom.

Maou viu-se incapaz de formar uma sentença coerente, por isso decidiu assentir levemente.

Kisaki assistiu tudo àquilo em silêncio, então falou:

— Bem… suponho então que não seja a sua culpa.

Ela suspirou, com as sobrancelhas ainda baixadas, como se estivesse arrependida da “verdade”.

— Acho que eu já sabia que não deveria pedir para meninas jovens trabalharem na hora do jantar sozinhas. Você nunca sabe que tipo de pessoas está por aí, esperando para pegá-las.

Ela colocou uma mão no ombro de Maou, claramente um tanto mais calma do que antes, mesmo enquanto refletia pesarosamente sobre suas práticas de escala.

— Ouça, Marko. Você realmente é uma parte importante do time, tanto para mim quanto para a equipe. Por isso tente não se machucar, beleza? Estou feliz que tenha sido corajoso o suficiente para proteger a Chi e essas suas duas amigas, mas, caso se machuque, isso vai doer demais para mim… e para eles.

— Senhorita Kisaki…

— Espero que hoje tenha sido uma experiência construtiva para você… e espero que entenda como essas garotas se sentem. — Então, ela enfim colocou os olhos em Suzuno. — Obrigada por trazer o Marko… quero dizer, Maou, de volta para mim. Por que não descansam lá dentro? Vou preparar um pouco de café. Você também.

Ela deu outro tapinha amigável no ombro de Maou enquanto chamava Suzuno e Emi.

— O que acha?

— Oh, acho que devemos…

Suzuno e Emi trocaram olhares, hesitantes.

— Ah, só bebam alguma coisa. — Maou abruptamente as parou antes que pudessem recusar. — É estranho o quão bom é o café do Mag quando a Senhorita Kisaki os prepara.

Isso soou ainda mais estranho do que ele esperava. Suzuno e Emi trocaram olhares mais uma vez.

— Ahh, não seja bobo. O café tem o mesmo sabor, não importa quem prepara. — Kisaki queixou-se levemente de Maou, então virou-se para as garotas. — O que acham?

— Bem, se você está oferecendo…

As duas entraram na área de refeição, não querendo ofender muito Kisaki.

— Se… Senhorita Kisaki! — Mas, assim que entraram, um membro da equipe entrou no local com o rosto pálido. — Oh, Maou, você voltou! Ah, mas temos outro problema no momento!

Ele balançava as mãos freneticamente, em um estado de quase choque. Uma simples ordem de Kisaki foi o suficiente para o trazê-lo de volta à disciplina militar.

— Acalme-se! Ninguém da minha equipe precisa ficar em pânico desse jeito! Diga-me o que aconteceu, e seja rápido!

O funcionário rígido respondeu ao comando do sargento experiente:

— Sim, Senhorita Kisaki! Alguém saiu de dentro da geladeira!

— Como é?

Kisaki, Maou e até mesmo Suzuno e Emi reagiram em uníssono, fazendo parecer quase um coral.

— Tinha um cara dentro da geladeira, e as roupas dele estavam todas queimadas e tal! Acho que está inconsciente. O que vamos fazer?

— Oh, sem chance!

— Ei! Marko, espere! — Ignorando Kisaki, Maou correu para a cozinha.

— Gehh!

A visão fez com que gritasse bem alto.

Sariel, o arcanjo que ele tinha acabado de jogar pelo Portal em direção a um lugar desconhecido, estava deitado no chão, com metade do corpo para fora do refrigerador industrial usado para armazenar os ingredientes do MgRonald.

Por não haver tanto espaço para ele entre os sacos de batatas e frango, ele devia ter “caído”, assim como o membro da equipe falou.

— M-Mas o que diabos é isso?!

Kisaki e os outros ficaram igualmente chocados ao chegarem na cena.

Suzuno e Emi mais, é claro.

— Maou! Aquela árvore sasa… — Suzuno virou-se de volta para a entrada.

Não podia ter sido uma mera coincidência que o Portal do Rei Demônio conectava a um lugar como esse. A única explicação era que a árvore de bambu que ele colocou logo ao lado da porta da frente, agora uma manifestação do poder demoníaco de Maou, tinha ressoado de alguma forma com o poder demoníaco que Satan usou para abrir o Portal.

A árvore atraiu um grupo de clientes, incluindo alguns que jamais teriam sido clientes. Mas tirar de lá agora não faria Sariel ir embora.

— Gnh… nngh…

Mas antes que o caos pudesse diminuir, Sariel lentamente começou a gemer e contorcer-se no chão, lutando para recuperar a consciência.

Tê-lo causando problemas ali não causaria nada além de desespero.

Sariel tinha apenas sido nocauteado na batalha de antes. Os seus poderes ainda permaneciam. O seu Olho Maligno deixaria Emi e Suzuno incapacitadas, e Maou — o único que poderia machucá-lo de verdade — havia acabado de esgotar a sua força demoníaca.

Não havia tempo para pedir que Suzuno destruísse o sistema de trens novamente. Enquanto a mente de Maou ficava em branco, a cabeça de Sariel ergueu-se.

— E quem… seria você?

Foi Kisaki quem se atreveu a confrontá-lo, a única no grupo que Sariel não conhecia. Ela estava se preparando para lidar com um intruso, sem dúvidas. O Rei Demônio, a Heroína e a Chefe do Júri de Reconciliação começaram a pensar ao mesmo tempo sobre como a manteriam em segurança.

— Você… é… linda…

Aquilo soava como os murmúrios de um bêbado, e a expressão facial dopada de Sariel também ajudava.

— Como é…?

Levou um tempo para Kisaki processar o que ele disse. Ela sorriu estranhamente, não querendo irritá-lo.

— A deusa da beleza… Ela existe em outro mundo…

— Devo dizer que não faço ideia do que você está falando. — Nem mesmo ela conseguia esconder seu espanto.

— Sariel, não me diga que…

Maou gemeu diante da terrível suposição que passou pela sua mente. O grito frenético que Sariel deu logo em seguida confirmou.

— Ahhh! Que belo destino! Que milagre estupendo! Aqui, no Japão, me encontrei com a deusa da beleza! Oh, por todos os deuses no paraíso! Meu corpo queima com as chamas do amor proibido! Estou prestes a cair de alturas angelicais!

— ………………

Maou, Emi e Suzuno congelaram, incapazes de saber como reagir.

— Quem é esse idiota? — Apenas Kisaki tirou a expressão amigável de negócios, zombando para a figura patética diante dela.

De repente, Sariel ficou de joelhos, gritando enquanto pressionava seu corpo encarvoado contra a perna dela:

— Ah, este rosto venerável olhando de cima para mim de tais alturas! Isso faz o meu coração pulsar como a torre do grande sino que governa a passagem do tempo nos céus!

— Alguém pode me explicar isso? Quem é esse esquisito?

— Bem… ele, tipo assim, é o gerente do Sentucky que fica do outro lado da rua.

Sariel assentiu bruscamente para a apresentação de Maou, apontando para a janela, frenético.

— Meu amado ícone da beleza, meu nome é Sarue. Sou o gerente do Sentucky Fried Chicken localizado em frente à estação de Hatagaya. Nós dois somos rivais condenados a competir entre si… Realmente, somos Romeu e Julieta da indústria de fast-food!

— Aberração…

— Não importa quão vulgar ou abusivas sejam as palavras que saem dos seus lábios carnudos, elas soam como belíssimas orquestras do paraíso em meus ouvidos! Eu me atiraria por livre e espontânea vontade no fogo e enxofre do inferno se isso fizesse seus olhos se virarem na direção dos meus! Que tipo de rosa cheirosa poderia servir como sua semelhante, minha doce flor de amor?

Foi um belíssimo improviso.

— Alguém… poderia traduzir o que esse cara está dizendo?

— Eu, hã, acho que ele está dizendo que fará qualquer coisa que você disser, Senhorita Kisaki.

Sariel assentiu com orgulho para a interpretação hábil de Maou. Kisaki fechou os olhos e suspirou.

— Tudo bem… Venha aqui.

Naquele momento, os olhos incrustados de laranja brilharam como uma lua cheia enquanto ele se arrastava diante dos pés dela.

— Aaaaaahhh! O pináculo da euforia! Oh, que os deuses no paraíso me perdoem! Retiro-me do rebanho e lanço-me nas loucuras da paixão!!

O salto de Kisaki afundou no rosto de Sariel, que avançava. Ele uivou como uma besta de outro mundo, então caiu.

Mas mesmo com essa resposta, a expressão do arcanjo portador do Olho Maligno era de pura alegria, mesmo enquanto era deformado e torcido pelo salto da gerente do MgRonald, que o pressionava.

— Acha que estou de brincadeira? Gerência de franquia não é um tipo de brincadeira, entendeu!? E qual é a dessa maquiagem de panda idiota? E esse galão de perfume que jogou sobre a cabeça?! É isso o que o Sentucky espera dos seus gerentes?!

O salto afundou ainda mais no rosto de Sariel, que aceitou avidamente a punição.

— Ahh, a isca do caído! Uma cena deveras doce e atraente, a qual não consigo resistir!

— Cale a boca, seu pervertido!

Kisaki olhou para Maou, com olhos arregalados, enquanto continuava sua onda de abusos. O seu olhar, afiado o suficiente para que até o Olho Maligno estivesse relutante em focar nele, fez não só Maou, como Emi e Suzuno também, engolir em seco, nervoso.

— Marko… está me dizendo que ficamos em segundo lugar em número de clientes por causa desse idiota?

— Hã… bem, não, eu… hã.

— Hã. Espero que você e todo mundo não reclame quando os mandar para Antígua e Barbuda.

— Eu, eu nem sei onde fica isso, Senhorita Kisaki…

— Bem, esse problema era meu e seu, e nós ferramos com ele. Teremos que nos voluntariar para devolver nossos salários do dia. Ugh, acho que ainda tenho muito a aprender, não é? Bem feito pra mim por ter choramingado sobre aquela sessão de treinamento de gerente.

 Com apenas um golpe, Kisaki juntou a situação em sua mente, expressou seu arrependimento e então fez com que Maou se juntasse à sua punição. A rapidez disso fez com que o sangue drenasse da cabeça de Maou.

— E-Espere… está brincando, certo, Senhorita Kisaki?!

— Achei que tivesse lhe dito, só conto piadas quando quero que as pessoas deem risada!

— Vou rir o quanto você quiser! Por favor! Só me diga que está brincando!

Agora foi a vez de Maou jogar o corpo sobre ela, não totalmente diferente daquilo que Sariel tentou.

— Ugh! Chega! Você é um homem! Aceite! Um verdadeiro samurai iria preferir morrer de fome do que deixar sua honra ser manchada em público!

— Mas este é o século vinte e um! Sou um simples plebeu, Senhorita Kisaki!

O plebeu do século vinte e lorde de todos os demônios implorava a Kisaki para que ela mudasse de ideia, o que ele sabia que seria improvável.

Emi e Suzuno, observando o argumento do funcionário de meio período e da gerente, com o seu arqui-inimigo sexualmente hiperativo prostrado diante dos seus pés, trocaram olhares.

— Que piada, realmente.

— Eu não estou rindo aqui.

Mas a Heroína de Ente Isla e Chefe do Júri de Reconciliação da Igreja sorriam enquanto olhavam para aquilo.

— Eu, amiga de Maou… Ugh. Isso não foi nem um pouco divertido. Por que tive que chamá-lo pelo primeiro nome?

— S-Suzuno!! O que está fazendo aqui?! — gritou Chiho bem alto ao abrir a porta do Castelo Demoníaco e encontrar Suzuno lá dentro.

— Ah, bem-vinda, Sasaki! Eu precisava mesmo de você. Estava tentando fazer um bolo com sabor de chá com essa panela de arroz. Gostaria de experimentar?

— Ooh, obrigada, Ashiya! Eu adoraria! Espere… não!

Chiho entrou com tudo no Castelo Demoníaco. Suzuno estava de frente para Maou do outro lado da única mesa do aposento, apontando um par de hachis cheios.

Aquela parecia a clássica cena do “abra sua boca e diga ahhh”, mas, considerando como os hachis estavam cutucando a bochecha dele no momento, parecia ter uma quebra de comunicação em progresso.

Enfiando-se entre eles, Chiho olhou pesarosamente para Suzuno.

— O que você está fazendo? Podia evitar de ficar no meu caminho, por favor?

— Não, o que você está fazendo?! E por que está aceitando isso dela, Maou?!

— Uhh…

Maou virou os olhos para baixo, claramente tão cansado disso quanto Chiho.

— Vocês dois não deveriam ser inimigos, Suzuno?! Por que já foi entrando aqui e tentando alimentar Maou assim? Isso me deixa com tanta… inveja…

— Chihooooo, você talvez devesse tomar um pouco mais de cuidado…

— Fique fora disso, Urushihara!

Urushihara fechou a boca, quieto. Agora os olhos de Chiho estavam encarando os de Suzuno.

— Sim. É como diz. Sou, acima de tudo, inimiga do Rei Demônio. — Ela se reposicionou, com as costas eretas e rosto frio e composto. — Mas, ainda que o Rei Demônio possa não ter tido essa intenção no começo, realizou um grande serviço para mim. Por isso estou fazendo o meu melhor para preparar meus ingredientes consagrados das formas mais saborosas possíveis e fingir compensar os esforços dele com comida enquanto, secretamente, encho a barriga dos demônios com força sagrada prejudicial…

— Suzuno, não tenho ideia do que isso significa! Ashiya, você não se importa com o que ela está dizendo?!

— Sei muito bem como se sente, Sasaki. Bem demais, na verdade… — Os olhos de Ashiya viraram-se para Urushihara enquanto mostrava a Chiho um caderno pequeno. — Mas, graças à maratona de compras não planejada de Lúcifer, nosso orçamento para o próximo mês estará bem no vermelho. É realmente doloroso para mim… ver isso…

Na última página do caderno rotulado como CONTAS DO CASTELO DEMONÍACO na frente, Chiho viu uma linha que dizia Pagamento do cartão: 40.000 ienes; Usuário: Trouxihara.

— Quarenta mil…? O que diabos você comprou, Trouxihara?

— Pare de me chamar assim, cara! Sei que o Ashiya está pirado e tal, mas se eu não tivesse comprado, você podia estar em Ente Isla com Sariel agora mesmo! Podia me agradecer um pouco, não acha!?

— Mas o dinheiro era de Maou, certo…?

Ashiya aproximou-se de Chiho, sussurrando em seu ouvido:

— Além disso, o dinheiro foi usado em um transmissor de GPS secreto que ele colocou na bolsa de Emília.

— Isso é tão… assustador. — A reação dela foi de puro nojo.

— Vocês todos são tão injustos! Que droga! — Urushihara tentou defender-se, ressentido, não mostrando sinais de arrependimento.

— Mas, por causa disso, estamos agora firmemente em território negativo… por isso fomos forçados a aceitar de má vontade a tentativa de Crestia contra nossas vidas via seu apoio com a comida…

— Vocês não precisam ferrar com a saúde para economizar um pouco de dinheiro! Faça meu favor!

Chiho bateu o caderno em sua mão contra a mesa.

— Mas somos obrigados! Agora que não podemos voltar para casa, voltar à nossa glória é a minha maior prioridade!

No final, o número de clientes para a semana que Maou serviu como supervisor de turno foi menor que o Sentucky Fried Chicken de Sariel…, mas apenas por margens minúsculas.

Talvez Kisaki tivesse despertado algo dentro de Sariel. Por razões que apenas ele poderia entender, oficialmente tornou-se um funcionário fixo do SFC no dia seguinte, servindo como gerente permanente na filial de Hatagaya.

Maou estava atento no começo, temendo que ele pudesse voltar a suas maneiras mulherengas, perturbadoras e nefastas, mas Sariel — vulgo Mitsuki Sarue — tornou-se um funcionário honesto e trabalhador no ramo de fast-food. Fora os buquês de rosas que mandava para Kisaki diariamente, ele era só mais um gerente lutando para melhorar as vendas da sua franquia, muito diferente da primeira vez que Maou o encontrou. Na realidade, um dos cartões inclusos no buquê dizia:

Estou ansioso para visitar no dia em que finalmente a superar.

Kisaki ficou profundamente ofendida, é claro. “Eu realmente pareço tão fraca assim para ele?!” foram as suas exatas palavras, mas já que nada disso foi culpa das flores, ela decidiu deixá-las do lado de fora para fornecer um pouco de decoração para o restaurante, junto com uma placa que convidava qualquer um que estivesse interessado para levá-las de graça.

Urushihara supôs que, além da sua súbita paixão por Kisaki, Sariel só estava por perto porque não tinha como voltar para casa.

Ele falhou em sua missão, afinal. Voar de volta para o paraíso depois de uma derrota dolorosa para Satan, o Rei Demônio, poderia colocá-lo em um grave perigo de ser banido do seu domínio atual.

Ele não tinha se infiltrado no SFC por um motivo estratégico. No fim, só não tinha nada que pudesse trocar por dinheiro, algo que Suzuno tinha feito, por isso arrumou um emprego para se sustentar, assim como qualquer outro exilado pobre da cidade.

E, quanto a Suzuno… a cena diante dos olhos de Chiho já dizia tudo o que ela precisava saber.

 — O que você está fazendo aqui, Suzuno? Como pode se sentar tranquilamente no território do inimigo assim?!

— Estou aqui para cumprir a justiça que deve ser feita. — sorriu para ela, um sorriso carregado por um significado oculto, diferente de qualquer outro que tinha mostrado anteriormente. — Desejo matar o Rei Demônio, é claro. Porém, mais importante, quero levar Emília de volta para casa e reformar a organização podre e corrupta da Igreja. A Igreja deve continuar sendo o ícone da fé, um lugar sagrado que a humanidade possa confiantemente colocar a sua fé. Mas, como pode ver, Emília recusa-se a voltar até que o Rei Demônio seja derrotado, não é? Por isso pensei em enfraquecer ele e os seus generais o máximo possível, a fim de deixar mais fácil para Emília dar o golpe final quando ela julgar mais apropriado.

Vindo da honesta e educada Suzuno, aquilo soava como uma perseguição idiota. E Chiho não era boba.

— Ugh! E você acha que Maou não vai fazer nada contra você?! — Ela balançava as mãos freneticamente enquanto falava. O gesto era inútil, dado o óbvio desinteresse de Maou em mover-se para longe do hachi cravado em seu rosto.

Por ter perdido todo o seu poder demoníaco e quase toda sua estamina naquela noite fatídica, além da severidade de seu dever como supervisor de turno e derrota amarga nas mãos do Sentucky, Maou estava derrotado, tanto em corpo quanto em alma.

Além do mais, a polícia encontrou o registro antifurto no poderoso corcel Dullahan, o qual Suzuno havia esmagado em frente à prefeitura de Tóquio, contemplando Maou com outra visita da polícia. O sermão seguinte foi o golpe final no fim de uma disputa já esgotante.

No final, ele arriscou sua vida, ferrou com a grande chance de recobrar sua força demoníaca, foi repreendido severamente por Ashiya… e, agora, Suzuno estava o enchendo com suas refeições sagradas e santificadas. Era o suficiente para acabar com os ventos das velas infernais de qualquer demônio.

— Eu vou cozinhar para Maou, beleza?! Não precisa se preocupar com ele, Suzuno, então peço para que vá procurar um emprego ao invés de ficar aqui o dia todo!

— Temo que esta proposta seja difícil para mim aceitar. Neste exato momento, este é o meu verdadeiro dever. Quando o Rei Demônio está mais fraco, esta é a grande chance que teremos!

— Está falando sério!? Pode tentar inventar a desculpa que quiser, mas só quer que Maou coma a sua comida caseira, não é?!

— Hohh? É assim que vê isso? Acha que o coração que coloquei naquela caixa de bento é um sinal do meu verdadeiro amor por Maou, e não que a sua real origem seja um símbolo do Santo Graal enquanto permeia e destrói o corpo do Rei Demônio?

— Eu… O quê? Não! Não “verdadeiro amor”! Qual é! Você que pensou que a culinária osechi fosse padrão da comida de bento! Pare de ficar inventando desculpas!

— Não entendo o que quer dizer.

— Pare de se fazer de boba! Qual é, Maou! Você não precisa ficar sentado aqui e deixar sua inimiga jurada tentando te matar! Vou pedir para que minha mãe me ensine como fazer todos os tipos de pratos!

— Oh? Ótimo, ótimo! Devemos visitar a sua mãe para mostrar nossa gratidão alguma hora, Sasaki!

Ashiya, sempre como o dono de casa, falou enquanto limpava o piso da cozinha.

— Pense nisso com cuidado, Rei Demônio. Se recusar minha comida agora, cortarei o fornecimento para sempre!

— O quê? Essa é a sua tentativa para ameaçá-lo?! Não dê ouvidos a ela, Maou! Eu vou cuidar bem de você, prometo!

— Cara… o estranho é que está parecendo que elas estão brigando por ele, hein? — Urushihara preguiçosamente deu sua opinião, com o ombro na mesa do computador. — É como se ele fosse algum tipo de playboy gostosão.

As duas garotas não deram atenção, enquanto o conflito excêntrico continuava.

— Bem, qual vai ser? Chiho ou eu?

— Vai comer a comida de quem?!

Confrontado pelas duas, Maou mostrou uma expressão exausta enquanto murmurava:

— Por favor… apenas me deixem aproveitar meu café da manhã, pelo menos…

Seu pedido lamentoso foi destruído no momento seguinte.

Com um grande estouro, a porta do Castelo Demoníaco foi arrombada. O grupo imediatamente virou-se para a frente do aposento, e viram…

— Lúúúúúciiiiferrrrr…

… Emi Yusa, furiosa o suficiente para transformar-se em semi-anjo a qualquer momento.

Emoldurada pelo sol da manhã, ela entrou no aposento, quase quebrando o piso sob os pés enquanto segurava um objeto pequeno e quadrado.

Urushihara fez uma careta ao ver aquilo, deslizando-se contra a parede em uma tentativa fútil de escapar.

— O que diabos você estava pensando?! Escondeu isso dentro da minha bolsa?!

Era o aparelho de GPS que tinham acabado de comentar, aquele que apontava a localização de Emi.

— Então, hã… cê sabe…

— Não, não sei! Por que colocou isso na bolsa de uma mulher? Para que pudesse saber onde eu estava o tempo todo, seu estúpido anjo caído recluso?! Vai pagar caro por ser uma porcaria de um esquisito o tempo todo!!

O ataque frenético desenfreado de Emi deixou Urushihara pálido de medo. O resto já tinha se voltado para Emi, que estava pronta para o trabalho.

— Ei! Ashiya! Pare Emília por mim!

— Não é problema meu.

— Meio que é, cara! Uou! Credo, qual é, Bell!

— Se Emília fosse gentil o suficiente para acabar com todos vocês de uma só vez, nosso trabalho estaria pronto aqui.

— Vocês estão me assustando, pessoal! Chiho Sasaki! Tire Emília de perto de mim!

— Qual é, Yusa! Pegue ele de uma vez!

— Isso é tão injusto! Espero que vocês todos vão para ao inferno! Cara, Emília, acalme-se! Posso explicar tudo!

— Não quero desculpas! Mate-se agora, antes que eu o faça!

— Isso é insano!!

— Por favor… eu imploro… me deixem comer em paz…

O sussurro doloroso de Maou foi abafado pelo barulho da luta de vida ou morte que logo começou.

Até mesmo com todo o perigo e intrusos enfurecidos, um tipo de paz estável, ou insana, continuou a tomar conta do Castelo Demoníaco de cem pés quadrados.

A luz do sol que entrava sinalizava que a verdadeira chegada do verão estava logo ao virar a esquina.

 


 

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Bravo

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