Rei Demônio ao Trabalho

Rei Demônio ao Trabalho – Vol. 02 – Cap. 03.3 – O Rei Demônio e a Heroína Arriscam Suas Vidas Pelas Responsabilidades dos Seus Trabalhos

O grito aflito de Sadao Maou ecoou pelos arranha-céus de Shinjuku ocidental.

Maou apertou o amontoado metálico que costumava ser a sua fiel Dullahan enquanto encarava Suzuno.

— Suzuno, você é uma incrível e incorrigível incompetente! Por que diabos fez isso?! Tem algum tipo de rancor contra a Dullahan ou algo do tipo?! Me devolva os dois meses que passei com ela! E, depois disso, me dê uma nova bicicleta também! E as taxas de registro! E me ajude a pagar as taxas de um tele-entulho para dar a ela um enterro decente!

— Cale-se!

— Agh!

Suzuno, sem dar a mínima atenção, mirou o seu próximo golpe direto na cabeça de Maou, que se esquivou no susto, e a visão do martelo passando a algumas polegadas do seu nariz fez com que começasse a suar frio.

— Uou, uou, espere! Dá um tempo!

— Silêncio!

— Cara, cara, ouça só um seg-…

— Silêncio, silêncio, silêncio!

— Aaaggggh!

Ao enfrentar um martelo de guerra que atacava com toda a força, Maou virou as costas e correu.

— Pare! Rei Demônio Satan!

— Nem ferrando que eu paro! Pare você primeiro! Por favor!

Correndo a toda velocidade, Maou enfim conseguiu abrir um certo espaço entre ele e Suzuno.

— Um minuto! Qual é, só um minuto! — Maou tinha o dedo indicador erguido.

— …?

Suzuno o encarava, temporariamente aturdida pela visão, mas:

— !!!!!!!

Maou devia ter confundido a indecisão que ela mostrou para o pedido dele, e ela ficou surpresa em silêncio.

O esfregão dele agora estava no chão enquanto ele lenta e deliberadamente começava a tirar as roupas.

Tirou a camisa polo vermelha do MgRonald, revelando uma camisa que tinha as cores debotadas de tanto lavar. O seu cinto foi o seguinte, acompanhado por suas calças de trabalho, permitindo que sua cueca suada da sua marca favorita, UniQlo, dissesse olá ao mundo externo.

Quando o tirou o boné, Maou ficou apenas com as roupas de baixo, uma camiseta e um sorriso enquanto dobrava seu uniforme, largando-o ao lado da calçada. Então, ao pegar o seu esfregão sujo, virou-se para Suzuno.

— Tudo bem, agora estou pronto.

— O-O que você está fazendo?! — Suzuno teve que perguntar.

Não importava em que mundo estivesse, um Rei Demônio jamais ficaria praticamente nu antes da batalha. Mas ali estava ele, com uma cueca depravada, sapatos de couro falso e esfregão sujo, bufando zombeteiramente para Suzuno como se ela fosse uma idiota.

— Hah! Como se uma bocó desempregada como você fosse entender. — Os olhos dele viraram-se para o uniforme dobrado ao lado. — Ouça, eu não sou o dono dele. O MgRonald me emprestou! Se eu cometer algum erro que não tenha relação com o trabalho, vou ter que pagar a restituição, entendeu? E o Castelo Demoníaco meio que não tem esse tipo de verba extra no momento!

— O qu…!

Maou exalava uma grandiosidade diabólica enquanto falava.

Apesar de tudo o que tinha acontecido até agora, Suzuno não pôde evitar de ficar corada.

— Além disso, o que você está fazendo, hein?! E como é que se atreve a meter os meus funcionários nessa?! — Ele apontou o esfregão com audácia para Suzuno. — Não queria pegar pesado com você. Mas vejo que teve coragem para se mudar para perto de mim, e também é uma baita cozinheira. Porém, se zoar com o meu trabalho e machucar meus colegas de equipe, vai ter um gerente assistente indignado para lidar!

Por um instante, ela vacilou em face deste impacto avassalador.

— O quê…!

Então, em um instante, Maou já estava sobre ela.

— Ngh!

Tentou se esquivar por baixo, evitando o cabo do esfregão enquanto ele o manejava, mas então jogou-se para trás em pânico enquanto o esfregão, que possuía uma grande quantidade de pedaços pretos e macios de lixo misterioso presos a ele, disparava em direção ao seu rosto.

Suzuno ficou perplexa com a forma que Maou manejava o esfregão; como um ninja anfíbio usando um bastão. Ela enfim conseguiu evitar aquilo com a parte intermediária do seu martelo, preparando-se para o retrocesso dele para contra-atacar.

— Opa!

Mas o ataque foi mais uma vez tarde demais, pois Maou já havia dado um grande salto para trás.

Não foi um salto qualquer. Uma perna foi tudo o que precisou para pular alto, rápido e em linha reta para pousar em cima de um poste de luz. Suzuno ficou chocada, com os olhos bem arregalados enquanto olhava para o corpo dele — para a parte mais baixa — e mais uma vez sentiu que suas bochechas ficaram vermelhas com aquilo.

— Não… não é hora para isso, seu monstro pervertido!

— Não gostou? Problema é seu!

A camisa de Maou, talvez raspada pela luz do martelo de Suzuno, rasgou-se na parte do estômago, fazendo com que retalhos voassem pelo ar.

Agora Suzuno estava olhando para um Rei Demônio de cueca que corria grande risco de se expor um pouco demais.

— Então você manteve um pouco do seu poder demoníaco esse tempo todo. Não é mesmo, seu sexualmente degenerado Rei Demônio?

— Pois é, bem, não tinha como saber quando alguém como você poderia aparecer. Chamam isso de carta na manga porque não é mostrada até o final.

— Quando que… notou que eu não era japonesa?

Maou suspirou como um motorista de ônibus amargurado.

— No momento em que te vi pela primeira vez, o que você acha? Nenhum japonês certo das ideias começaria a se importar com um bando de zé-ninguém carentes que moravam ao lado no momento em que se mudasse! Nem mesmo uma beldade da era samurai japonesa como você! Claro, fiquei feliz, mas, antes disso, foi incrivelmente superficial, sabia?

 

 

No final, Suzuno era a única que não tinha dúvida alguma da sua atuação.

— E… por que você se importaria com a Chiho?!

— Ensinei a Chi tudo desde o zero sobre o trabalho! Ela é a minha mão direita agora! E, caso tenha pensado que não passava de uma relação frágil e pequena, está bem enganada!

Maou desceu para o chão, mantendo uma distância segura de Suzuno.

— Mas é uma pena, hein? Pensei que você tivesse algum potencial por tentar nos derrubar sozinha e ficar toda sociável com Emi, mas vejo que não passa de outro Olba, não é?

Os dentes de Suzuno rangeram-se uns nos outros.

— Contanto que possa ganhar mais poder, não se importa com os sacrifícios que fará ao longo do caminho, não é? Não se importa com o quão hipócrita isso a torna. Se eu deixar alguém como você me matar, a pura chatice disso tudo me faria chorar. O que os tornam diferentes de todos os demônios?

— S-Silêncio…!

— Não vai rolar. Sou um demônio e amo fazer as pessoas me desprezarem. — Os olhos de Maou estavam apontados direto para Suzuno. — Então, responda-me! Enganar Emi, envolver a Chiho… Não se sente nem um pouco envergonhada?!

— Siiiiiilênnnnncio!

— Eita!

— Como…?

Ela havia golpeado com o martelo acreditando completamente que ele se esquivaria de novo, mas viu que tinha acertado em cheio.

O Maou só de cueca era uma visão difícil de se observar. Estava com as mãos e joelhos no chão a uma certa distância, rastejando como uma aranha esmagada.

— Droga… isso dói… rngh!

— O que está fazendo?! Por que não se esquivou?!

Frustrada, Suzuno correu até ele, apesar de tê-lo jogado longe havia pouco.

Ele agora estava coberto de escoriações da cabeça aos pés, um efeito colateral da sua abordagem sem compromisso ao combate mortal.

O amontoado de sangue que tossiu indicava o que a onda de choque do martelo fez aos seus órgãos internos.

— Eu… eu tentei, mas… mas esgotei a minha força demoníaca… Não consegui liberar tanto poder quanto queria…

— O quêêêê?!

— Antes de vir para cá… hipnotizei alguém pelo telefone… e tive que passar pela barreira sobre a prefeitura da cidade… Oh, droga, eu errei feio nos cálculos. Pensei que aguentaria um pouco mais do que isso.

Maou enfim pôs-se de pé, mas rapidamente caiu de cara no chão, incapaz de reunir força alguma.

Mais um golpe com força total de Suzuno agora mandaria Satan, o Rei Demônio, para o lugar em que o seu bando estivesse aproveitando a vida após a morte, mas…

— O… quê? Não vai fazer nada? Essa é a sua chance… cof, cof… de ser um herói.

Na frente de Maou, que ainda ria desafiadoramente mesmo enquanto gemia de dor, Suzuno não pôde fazer nada a não ser virar os olhos para baixo, envergonhada. Não havia nada, nenhuma carta na manga, que o Rei Demônio pudesse usar para encurralar Suzuno. Mas ela não conseguia.

— Dever ser uma vergonha imensa para você, hein?

— O… quê?

— Quer me derrotar de maneira justa, então ir para casa triunfante com Emi. Foi por isso que usou o celular da Chi para me ligar. Queria que eu derrotasse um oponente que você não tem poder para desafiar.

Maou ergueu um braço trêmulo na direção do céu, e o prédio da prefeitura de Tóquio o dominava.

— Você… percebeu… isso…?

O martelo dourado desapareceu da mão de Suzuno, e ela caiu de joelhos ao lado de Maou, que estava deitado.

Um prendedor de cabelos de vidro em formato de cruz caiu da mão que uma vez segurava o martelo, quicando no chão.

— Bem, não foi difícil de imaginar. Você está prosseguindo de acordo com o plano, gradualmente nos enfraquecendo com a sua comida. Não tinha como partir pra ignorância de repente e sequestrar as duas. Se fosse fazer isso, poderia simplesmente ter nos envenenado do jeito certo. Ou, infernos, poderia ter nos matado de várias outras formas e ir para casa. Não precisava se importar com a Emi.

Um celular de capa rosa, o qual Maou conhecia bem, caiu da manga do quimono de Suzuno. Era o celular de Chiho. O cordão com o clip art dos itens do cardápio do MgRonald nele entregava tudo.

— Alguém capaz de sequestrar a Heroína sem precisar lutar não iria ficar sentada enquanto a Chi tentava me ligar por um minuto e meio. Quem quer que tenha me ligado, precisava ser capaz disso. Caramba, você realmente me deu uma martelada, sabia? É melhor pagar as contas médicas se eu quebrei algum osso.

 Maou lentamente checava o corpo enquanto alegava o seu caso. Tentou colocar-se de pé com muita dor, mas foi interrompido.

— O anjo… está lá.

Suzuno pegou a mão enfraquecida dele, que aceitou prontamente.

— Huh. Sim, acho que você não poderia desafiar um Ente Islano. Por que ele está aqui?

— Para recuperar a espada sagrada de Emi… foi o que disse.

— Hein? Sem me matar primeiro?

Isso deixou Maou confuso. Por que os anjos queriam tirar a espada deles da Heroína se o Rei Demônio ainda estava vivo e bem?

— Não sei o motivo… Ele disse que não era algo que um humano deveria portar…

— Bem, podemos deixar ele lidar com isso a seu tempo. E quanto a Chi?

Tranquilamente deixando o assunto de lado, um que poderia muito bem decidir todo o destino de cada humano de Ente Isla, Maou continuou. Para um demônio, quanto mais longe a Cara-Metade estivesse, melhor.

Suzuno hesitou por um momento antes de continuar:

— Uma amostra valiosa, é como ele diz. Quer a transformar em uma cobaia de pesquisa… alguém com sentimentos pelo Rei Demônio, mesmo sabendo de todas as suas maldades… Quer examinar o coração dela e a mente.

— Aquele maldito…

Naquele instante, Suzuno olhou instintivamente para cima.

A voz de Maou ficou mais sombria, energética e furiosa do que ela já tinha ouvido antes.

— Você.

— O-O quê…?

— Quem foi? Quem foi o maldito psicopata com cara de vômito que fez isso?

— Hm… cara de vômito…?

Maou agarrou a confusa Suzuno pelos ombros, gritando com ela:

— Eu disse para me dar o nome do anjo maldito que está tentando sequestrar um membro da porcaria da minha equipe, droga!

— É… é Sariel.

A pura contundência do discurso fez Suzuno gaguejar o nome.

— O Olho Maligno do Caído, hein? Infernos, não é de admirar que Emi não teve chance.

— Você… sabia disso?

O aparente conhecimento de Maou sobre os arcanjos a surpreendeu.

— Sim, temos uma história. Tinha que ser aquela aberração mulherenga, né? Eu sabia… Mitsuki Sarue!

Enfim, aquele aspirante a gerente de loja extravagante conectou-se aos atuais acontecimentos na mente de Maou.

— E-Espere! Está indo agora? Você está ferido!

Suzuno tentou parar Maou, que resfolegava e estava pronto para correr até a prefeitura.

— É claro que sim! Minha preciosa colega de trabalho está tremendo de medo e esperando por mim!

— Você não pode! Será morto! Quanto mais próximo da lua, maior é a força de Sariel! Não tem como derrotá-lo no telhado, desprovido de-

— Então você acha que eu devo fugir? — A resposta baixa dele parou de repente o conselho tomado pelo pânico de Suzuno. — É o meu trabalho lidar com as crises administrativas pela equipe do meu turno. Chi é uma funcionária valiosa, por isso preciso protegê-la. É basicamente minha culpa Sariel ter perseguido Emi até esse mundo. Não sou burro o suficiente para jogar a responsabilidade para outro e correr para as montanhas. Isso é falta de vergonha na cara!

— !!

Suzuno congelou, pega de guarda baixa pelo discurso inesperado.

— Como diabos vou conquistar o mundo se não posso cuidar dos negócios por aqui? Não tem como! Por isso eu vou! E, no pior dos casos, se não conseguir derrotar Sariel, posso ser capaz de tirar a Chi de lá!

Então, com um rugido demoníaco, ele fez o seu corpo dolorido disparar em uma corrida frenética.

— Hyaaahhh! Aguenta aí, Chi!

Ele estava dentro da prefeitura antes que Suzuno pudesse pará-lo. Ela ficou embasbacada por um momento, mas rapidamente voltou a si e virou os olhos na direção do telhado.

Sariel havia isolado toda a área por fora, o que significava que ninguém iria parar a corrida ensandecida de Maou, mas os elevadores não estariam funcionando. Subir até o topo sugaria ainda mais da sua energia.

E mesmo que não o fizesse, aquele era um homem ferido só de cueca. Era difícil imaginar como ele possivelmente venceria.

— Por que… por que está fazendo isso? Você é um demônio! — Suzuno lamentou para os céus acima. — É o Rei Demônio… como pode dizer coisas assim?

Então pegou o celular de Chiho e pôs-se de pé. Na tela, viu a palavra Maou seguida por um modesto símbolo de coração.

— Se aquela era a postura do Rei Demônio, eu dificilmente poderia me manter tão descarada como estava.

Depois de limpar as lágrimas que se acumularam, respirou fundo, sentindo o seu pulso se acalmar.

Nunca confunda o que é preciso proteger. Nunca perca de vista a justiça que deve prevalecer. Como chefe do Conselho de Inquisidores, como um membro orgulhoso da Igreja, era um credo que sempre reinou em seu coração.

Havia algum outro motivo para ter viajado de tão longe até o Japão?

Suzuno forçava os neurônios, buscando uma maneira de abrir um buraco maior para a justiça que precisava tirar para a superfície.

Então lembrou-se da observação de Sariel.

“Energia negativa é arreio para o Rei Demônio”.

Ao erguera a cabeça, agarrou o prendedor de cabelo que tinha caído no chão, virou as costas para a prefeitura e, em um clarão, voou pelo céu noturno.

— Hmph… Não me enche de alegria, mas que seja. Odeio ter que realizar tamanho desserviço em uma dama, então me perdoe. É apenas parte da tarefa que me foi ordenada. Eu esperava que meu Olho Maligno fizesse a Prata Sagrada simplesmente se separar do seu corpo, mas acho que terei que tirar direto de você. — O rosto de Sariel mostrava dor enquanto falava com a exausta e vacilante Emi.

 — Direto…?

Exposição contínua ao Olho Maligno do Caído tinha esgotado praticamente toda a sua estamina, mas a sensação de Sariel de repente estendendo a mão até o botão da sua blusa enviaram sinais de emergência por todo o seu corpo, fazendo com que abrisse os olhos e revidasse:

— Ei! O que está fazendo?!

— Colhendo a Prata Sagrada do seu corpo. Oh, mas não vai ser uma cena de filme de terror, então tente não se preocupar com isso. Pense como se fosse um tipo de cirurgia, uma em que toda a minha força sagrada irá fornecer toda a anestesia que precisa…

— Este não é o problema aqui! Eu… pare! Vou te matar!

Emi gritava enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro, pois era a única parte do seu corpo que estava livre. Entretanto, Sariel não deu atenção alguma à medida que removia calma e eficientemente os botões do colarinho da blusa social de Emi.

— O… O que você está fazendo com a Yusa, seu maníaco?!

Outra voz de dissidência ecoou atrás de Sariel. A mão dele parou por um momento, então ele se virou.

— Confie em mim, eu jamais faria algo para humilhar uma mulher. Na situação atual, apesar disso, posso ser considerado um grande cavalheiro nos céus. Mas, se tivesse que colocar meu bom nome contra a recuperação da nossa Prata Sagrada, temo que minha missão deve ter prioridade.

— Isso é maldade! Maldade demais! Por que todos vocês, anjos, têm que ser pessoas absolutamente horríveis?!

Chiho Sasaki, a garota que Crestia Bell levou até o telhado, encarava Sariel com os olhos repletos de todo o ódio que conseguia reunir.

Ela tinha despertado logo antes de Bell ter descido para eliminar o recente intruso. Desde então, esteve atacando o arcanjo com o tanto de ofensas criativas que sua mente era capaz de gerar.

— Bem, considerando a sua posição como alguém próxima do Rei Demônio, suponho que Lúcifer seja a sua primeira experiencia com eles, não é? Eu prefiro que não o misture com o resto de nós, pode ser?

— Urushihara é uma aberração reclusa e egoísta, mas pelo menos não é um molestador como você!

Aparentemente, havia uma certa hostilidade entre os dois.

— Sim, sim, tudo bem. Ficarei feliz em ouvir seus comentários depois que voltarmos. Então, se importaria de ficar calada por um momento?

— Uou, não tão rápido aí! O que vai fazer com a Chiho?! — Agora foi a vez de Emi gritar em protesto. — Você não vai a levar junto para Ente Isla, vai?!

— Mas é claro que sim. Eu tenho que fazer isso se quiser pesquisá-la.

— Oh, sim, isso é uma coisa totalmente normal de se dizer… Ei! Não toque em mim!

— Sou um cavalheiro. Farei o possível para não olhar, então, por favor, aquiete-se. Além disso, não sou um fã de, como posso dizer, mulheres “pequenas”.

Sarial não hesitou em dizer uma das poucas coisas que nenhum homem deveria falar para uma mulher.

As emoções de Emi irromperam a ponto de quase a fazerem ter um ataque cardíaco. Rapidamente recobrou os sentidos e deu uma resposta ainda mais cruel a Sariel:

— Oh, você está morto! Mas tão morto! E também não vou deixar que levem a Chiho! Me certificarei de que se arrependa de todas as coisas que está fazendo agora!

— Caramba, você realmente faz bastante barulho, não é? Você achou que eu iria usar um bisturi naquela menina como se fosse um animal de laboratório? — O rosto dele logo enrugou-se, como se tivesse sido ferido pela reprimenda. — Não tenho nada além de grande apreço pela beleza dela. Quando minha pesquisa estiver completa, ficaria mais do que feliz em promovê-la ao alto escalão dos anjos e apresentá-la como minha nova esposa.

O seu rosto, e apenas o dele mesmo, era a exata definição de angelical. Mas a justaposição com o que estava falando transformou o seu sorriso em algo francamente indecente.

— Eu prefiro morrer! — Chiho abriu a boca o máximo que pôde para recusar a proposta.

— Mas, é claro, precisarei examiná-la com bastante detalhes, da cabeça aos pés, antes disso. Tenho que saber como construir uma relação próxima ao Rei Demônio pode afetar um ser humano, tanto em corpo quanto em alma.

— Você é um monstro sem salvação! N-Não toque em mim! Você me deixa enojada!

— Molestador!

— Pervertido!

— Morra!

— Psicopata!

— Anjo de araque!

— Tarado!

— Ladrão de calcinhas!

— Eu não fui tão longe assim!!

Ser esmagado pela surra verbal de Emi e Chiho enfim foi o suficiente para fazê-lo pirar.

— Já chega! Agora! Vocês duas! Não entendem o quão fácil estou deixando as coisas para vocês?!

Sariel removeu as mãos do peito de Emi com força o bastante para jogá-las para trás, com raiva escrita em seu rosto.

Do nada, a foice de antes se materializou, a qual também devia ter Prata Sagrada em seu núcleo.

Deixando-se levar pela raiva, encostou a ponta da foice contra a roupa sobre o peito dela.

— Se eu quiser, estou permitido a colocar a Prata Sagrada acima da vida de Emília se for necessário! Tive pena de você, mas fui retribuído com nada além de tagarelice incessante! Não tenho problemas para arrancar isso de dentro de você, sabia?!

Chiho ofegou diante da declaração aterrorizante dele, mas Emi recusou-se a recuar.

— Então? Vá em frente. Não sei como a Prata Sagrada foi fundida ao meu corpo, também. É uma pena eu não poder ver vocês de coração partido depois que a Prata desaparecer junto com o meu corpo.

Emi estava colocando um limite, mas Sariel emitiu um rosnado irritado.

— Neste caso, ficarei feliz em dar um jeito nesta garota primeiro.

Os seus olhos roxos viraram-se na direção de Chiho, que estava caída, e a foice continuava apontada direto para Emi.

— Uma humana que está intimamente ligada aos demônios. Levá-la para Ente Isla e examinar o seu corpo pode nos oferecer uma forma de resgatar aqueles atormentados pelos demônios em nossa terra.

O rosto de Chiho ficou drenado de todo sangue. Seus olhos ainda estavam fixados em Sariel, determinados, mas ela era uma simples adolescente, a qual não tinha poderes especiais para salvar uma amiga meio-anjo que estava presa a uma cruz no momento. Se fosse jogada em um mundo desconhecido sozinha, estaria totalmente desamparada.

— Não se atreva a colocar um dedo sequer em Chiho, pois irá se arrepender!

Sariel vangloriava-se enquanto se virava de novo para Emi.

— Bem, aprecio sua coragem, mas o que você acha que pode fazer agora?

Os olhos escuros de Emi focaram-se nele. A frustração era palpável.

— Não eu.

— O quê?

O seu ódio borbulhava, superando até mesmo o de Sariel, enquanto agitava-se.

— Eu disse que, caso encoste um dedo sequer em Chiho, o Rei Demônio não vai deixar quieto.

— O Rei Demônio?

A pura hilaridade da ideia ofuscou qualquer surpresa que Emi pretendia. Sariel riu alto e com desdém:

— Então essa é a sua grande revelação? O Rei Demônio? A Heroína Emília está colocando suas esperanças no Rei Demônio?! Você esteve em conluio com ele esse tempo todo, não é?

— Não. Você não percebeu? Você estava do outro lado da rua, em frente ao MgRonald.

Emi falava com um tom firme, como se sentisse uma neblina úmida se formando sobre seu coração.

— Aquela garota ali é uma funcionária lá, e o Rei Demônio é o seu gerente assistente e supervisor de turno. Se um funcionário está em perigo, é trabalho do chefe intervir.

— Você perdeu a cabeça, Emília? Realmente acredita que o Rei Demônio está preso as leis e práticas do mundo humano? Você está bem ciente do estado atual dele. Um fracote insignificante com apenas uma última centelha de força demoníaca restando. Mesmo que venha até aqui, o que poderia conseguir contra um arcanjo como eu?

Aquilo tudo era verdade. Maou era só outro jovem, um que não tinha mais força demoníaca do que um demônio qualquer de baixo nível em seu próprio reino, isso sendo otimista. Mas mesmo que os seus objetivos e comportamento tenham entrado em um rumo totalmente diferente, o orgulho pertencente apenas ao Rei Demônio não sumiu nem um pouco.

— Ele não está preso a nada. Ele protege tudo sozinho. Esse é o Sadao Maou. Supervisor de turno no MgRonald da estação de trem de Hatagaya.

— Yusa…

Os olhos de Emi encontraram os de Chiho, buscando sua aprovação.

Chiho, com o rosto molhado de lágrimas, assentiu com a cabeça, firme.

— Essa é uma perfeita palhaçada! A Heroína está confiando no Rei Demônio! Hehehe… Bem, onde ele está? Quero ver este Rei Demônio amante de humanos com meus próprios olhos! Deixe-o aparecer no palco na hora que preferir! Não que ele exista! E não é como se pudesse vir voando pra cá mesmo. A Luz de Ferro de Bell deve tê-lo transformado em cinzas agora.

— Eu acho que tenho minhas dúvidas quanto a isso.

Emi olhou mais uma vez para Chiho.

— Chiho, já parou para pensar por que foi trazida aqui para cima?

— Porque a Bell seguiu minhas ordens e a trouxe como refém, para que assim você me obedecesse. Qual outro motivo poderia ter. É por isso que a fiz limpar toda a cena, desta forma, a polícia não vai seguir o nosso rastro.

Os pertences de Chiho e de Emi foram colocados na extremidade mais distante do heliporto.

Emi riu diante de Sarial, quase parecendo uma expressão de pena.

— Então a Bell não deveria ter levado Chiho para algum lugar em que eu não pudesse a ver? Ela seria uma refém muito mais efetiva desta forma, já que meio que perde o valor uma vez que eu não tenho que me preocupar com sua segurança. Bell não é estúpida. Tudo o que faz tem um motivo. E…

Nem mesmo Emi tinha completa certeza disso. Entretanto, a agitação que mostrou no cruzamento pareceu ser a resposta que procurava.

— E comanda o Júri de Reconciliação. O conselho reconcilia os falsos ensinamentos do passado. É melhor cuidar para que o cão de guarda fiel não morta a mão que o alimenta.

— E daí se for assim? Eu a punirei. Simples. E dificilmente vou precisar me preocupar mesmo. Contanto que eu seja um arcanjo, não há clérigo algum da Igreja que se atreverá a me desafiar.

O prédio um da prefeitura de Tóquio tinha 797 pés de altura. Era alto o suficiente para que a turbulência de ar fosse uma ventania no telhado.

Uma rajada particularmente forte jogou o cabelo longo de Emi na direção do céu no momento em que ele enfim chegou.

— Hahh… Hahh… Hahh… S-Sinto muito in-… interromper… Urrgghh…

A voz amena desapareceu sob a força do vento, mas ainda foi ouvida pelas três pessoas.

— Por que… diabos… o elevador… não está funcionando… huff… huff…

Lá, ao lado do alpendre que servia como saída do telhado, estava um homem que não poderia estar mais fora do lugar do que em um heliporto de um arranha-céu.

— Ah… Ah!

A surpresa e alegria que Chiho sentiu trouxe um enorme sorriso ao seu rosto manchado de lágrimas.

— Maou!

Ele tinha um velho esfregão sujo na mão direita, estava sem camisa e coberto apenas pela cueca, e também estava coberto de arranhões e cicatrizes. Mas, para sua donzela em perigo, ele era um cavaleiro em um cavalo branco, confiantemente cavalgando ao seu resgate.

Emi, enquanto isso, deparou-se com a visão desamparada de um Rei Demônio seminu vindo ao resgate em uma bicicleta extremamente usada.

— Não olhe pra mim!

— É assim que você diz oi?! — interviu Maou, frio, mesmo com a fadiga quase o fazendo perder a consciência.

— Além disso, não fique desse jeito! Por que está vestido assim?! Saia da minha frente!

Emi, na situação inevitável de estar presa por Sariel e à beira de também ficar despida, não tinha muita outra opção a não ser gritar.

— Bem… é uma surpresa. — Sariel fechou a boca, então reposicionou sua foice do peito de Emi para a direção de Maou. — Você parece bastante humano para mim. Desprovido de todo o seu poder mágico, não poderia ter derrotado Bell.

— Parece isso…? Ela me deu uma surra lá. E quem sabe o que teria feito em seguida se eu tivesse deixado.

Maou certamente não parecia ter gostado tanto assim dos eventos da noite.

— Isso é confuso para mim…, mas, pelo que vejo, você está longe de parecer bem para mim. É uma visão inacreditável, sem dúvidas, mas aqui está! Você certamente não é mais o Rei Demônio que eu conheço, Satan.

— Pois é, bem, eu não esperava que a aberração afeminada do outro lado da rua, que tomava banho de perfume todo dia, fosse ser o Olho Maligno. Ainda correndo atrás das anjinhas lá em cima?

— O quê…?

Um estrondo profundo temperava a voz de Sariel.

— Isso aí! Ouvi que você esteve assediando um bando de pessoas. Não que eu vá dizer quem. — Sem explicar mais, Maou virou-se na direção de Chiho e Emi.

— O que eu acabei de dizer? Não olhe para mim!

Ignorando o protesto excentricamente fora de lugar de Emi, Maou voltou a olhar para Sariel, e agora os dois se encaravam.

— Claro, não dou a mínima para o que está rolando com vocês lá no paraíso. O que me preocupa neste momento é o fato de você ter ferido uma colega de trabalho minha. Fez a Chi passar por um bocado de coisa, maldito.

— Maou! — Chiho engasgou de emoção.

— Preste atenção. Até onde sei, até que volte para casa, ainda estará no horário!

— Maou…? — Chiho congelou, pois esta não era a garantia valente que esperava.

— Um gerente precisa assumir a responsabilidade pela segurança dos seus funcionários quando estes também estão na rua! E vou fazer você pagar por ter feito a minha preciosa equipe se envolver nessa merda toda de Ente Isla!

— Maou… — Desta vez, a voz de Chiho estava repleta de decepção.

— Sou o gerente assistente agora. A segurança do meu grupo no trabalho é a prioridade número um! Chi é um membro valioso da minha equipe! E nenhum Rei Demônio, nem supervisor de turno, abandonaria seu grupo, jamais!!

— Ngh…

Este foi o golpe final de Maou na autoconsciência de Chiho. Sua cabeça baixou enquanto segurava as lágrimas.

— Temo que não tenho ideia do que esteja falando. Mas há uma coisa que sei de certeza… — Uma faísca afiada formou-se nos olhos roxos de Sariel. — O quão idiota você deve realmente ser por tentar obstruir a minha missão com esta casca frágil.

Uma aura nebulosa de cor dourada fluía do corpo de Sariel. Era um ataque de poder sagrado levado pelo forte vento, a qual era tão intensa que Emi, que estava presa perto dele, teve que fechar os olhos.

— Não dou a mínima para a sua Prata Sagrada, espadas e essas coisas todas. Na realidade, se vai manter essa Heroína maluca na linha para mim, pode ir em frente. Eu só me importo em tirar a Chi daqui…

A onda de choque de poder sagrado teria sido o suficiente para vaporizar um demônio comum. E ela ainda foi capaz de fazer Maou suar.

— Mas parece que não vai rolar… caramba. Bem, isso é ótimo.

Raios de luz crepitante percorriam o corpo de Sariel. Sem qualquer força demoníaca para apoiá-lo, Maou não poderia colocar um dedo nele sequer.

Tudo o que pensava era em como iria carregar tanto Chiho quanto o esfregão consigo enquanto fugia. Mas, então:

— ?!

Era difícil descrever como a atmosfera mudou naquele instante.

O ar ao redor do heliporto, discutivelmente o local mais puro na Terra graças à energia sagrada de Sariel, de repente tornou-se pesado e úmido.

Então, uma escuridão completa começou a se forçar sobre a área de pouso, empurrando a energia sagrada de volta enquanto cegava a todos que ali estavam. Sariel sentia um formigamento na pele, como se sua mão estivesse em uma esfera de plasma.

— O-O que é isso…? — A presença misteriosa fez com que até ele vacilasse.

— Isso está… me deixando mal… — Chiho soava sem fôlego enquanto gemia. Emi girava a cabeça de um lado para o outro, forçando-se para ver o que estava acontecendo.

Apenas Maou permanecia sereno. Mais do que sereno. Na realidade, ambos os seus olhos tinham agora a cor de sangue, como se revidasse contra a aura de Sariel.

Um traço de espanto passou pelo seu rosto, mas apenas um traço, pois percebeu o que estava por trás daquele fenômeno.

— Oh, infernos. Eu realmente não estou a fim de ajudar Emi, mas… que seja. Ouça, Sariel, você assustou a Chi e manchou a minha carreira em potencial. Estes são crimes graves, fique sabendo.

Encorajado de repente, Maou deu um único passo na direção de Sariel. Isso sozinho fez com que toda a atmosfera ficasse mais opressiva.

Sariel gritou, com o puro choque óbvio em seu rosto:

— Isso é… poder demoníaco! Você, como?!

Até aquele momento, ele era Sadao Maou, só mais um jovem normal. Entretanto, em meros milissegundos, o ar que o cercava transformou-se em algo grotesco.

Aquela sensação opressora de intimidação. Aqueles olhos cor de sangue. A estranheza demoníaca que agora impregnava o ar.

— Uou! Rei Demônio! Pare com isso! Se fizer isso agora… — Emi tentou avisar Maou sobre sua transformação, mas ele balançou a cabeça, com um sorriso desafiador no rosto.

— Não precisa se preocupar. — Ele puxou o elástico da cueca. — Essa boxer se estica conforme as curvaturas do corpo. Não vão rasgar, prometo.

Então, como se a sua afirmação tivesse sido a catalisadora que deu início, uma metamorfose veloz tomou lugar.

— Quem diabos está falando da sua cueca, idiota?!

O grito de Emi foi abafado pelo vendaval violento e transcendental que percorreu o heliporto naquele instante.

Um brilho vermelho sobrenatural envolveu o corpo seminu de Maou. Seus músculos se expandiram, suas pernas se deformaram e ficaram semelhantes às de uma besta. E a cueca da UniClo, feita apenas para noites de verão como essa, habilmente lidaram com cada uma das mudanças de forma e tamanho, em particular o tamanho.

O Rei Demônio de um chifre só, com seus olhos vermelho-sangue e cascos divididos, desceu do céu de Tóquio.

— Fiuuuuuuuu… — Com a transformação completa, o Rei Demônio Satan, só de cueca, começou a espreguiçar o pescoço, como se executasse calistenia. — Ahh, que sensação ótima. O que aquela maldita fez, afinal?

Ele alongava o resto dos membros enquanto falava, e a resposta foi entregue logo em seguida.

— Você se transformou enquanto deixava a Chiho naquele estado perigoso?! Imbecil!

Ela voou como uma estrela cadente da direção da estação de Shinjuku, com o cabelo flutuando ao vento enquanto segurava seu martelo de guerra dourado.

— Bell!

Suzuno, mais conhecida como Crestia Bell para Sariel, pousou ao lado de Chiho, enquanto o arcanjo observava com um olhar de malícia. A primeira coisa que ela fez foi criar uma barreira de energia sagrada ao redor dela e Chiho.

— Pffahh! — Chiho imediatamente exalou, como se ejetasse o ar negro e sujo do pulmão. — Ufa… essa foi difícil.

— Está tudo bem?

— S-Sim… Oh! Suzuno!

Chiho, que tinha testemunhado o momento em que Bell arremessou Emi para longe, ficou tensa por um momento. Então, seus olhos se arregalaram ao ver seu celular jogado diante dela.

— Peço perdão. Explicarei mais tarde, então… — Bell virou-se na direção do demônio e seus olhos carmesins aterrorizantes. — Permita-me tomar vantagem daquele que você gosta, Chiho.

— Bell! Você enlouqueceu?!

— Você é o único louco aqui, Sariel. — Suzuno permaneceu forte, mantendo Chiho atrás dela. — Forçando uma falsa paz sobre nosso povo; plantando as sementes do caos em outro mundo; apunhalando pelas costas as pessoas cuja fé nós dependemos e devemos proteger… Essa é a verdade que os deuses têm para nós?! Como chefe inquisidora do Júri de Reconciliação, recuso-me a negligenciar uma verdade tão desavergonhada e enganadora.

— E você juntaria forças com o Rei Demônio por causa disso?! Sua “reconciliação” não significa nada para mim! Você também é um demônio! Um demônio sujo, guiado pela sede de sangue dos inquisidores!

— Silêncio! A vida do Rei Demônio na Terra como Sadao Maou, pelo menos, não vai contra a justiça que buscamos!

— Uou, valeu. Acho que sou o chefão no MgRonald, afinal, hein?

Satan assistia enquanto o argumento se alastrava entre divindade e seguidora, orgulhando-se miseravelmente de sua posição praticamente insignificante como gerente assistente.

— Sabe, eu diria que a Heroína e os anjos têm sido verdadeiros vilões aqui ultimamente. Eu estou apenas ficando de boa aqui no meu dia a dia, sabe?

Satan deu outro passo, criando um buraco no heliporto.

O pequeno movimento foi o suficiente para deixar Sariel atento, hesitando no argumento e voando para trás para se proteger. Satan o viu ir para longe.

— Bell… o que você fez para reunir toda essa força maligna…?

Nem mesmo Satan esperava aquele tsunami de poder demoníaco invadindo a barreira de Sariel e adentrando aquele espaço. No máximo, esperava conseguir levar Chiho para um lugar seguro de alguma forma.

Bell virou-se e olhou para a vista noturna diante dela.

— Hoje à noite… aqueles homens e mulheres usando a estação de Shinjuku têm as minhas condolências.

— Hã?

— Como?

— Hein?!

Chiho e Emi olharam direto para ela.

— Como chamam aquilo? Transformadores elétricos? Havia essas linhas de energia entre os trilhos que iam até todos eles, e eu cortei alguns pela metade. Pensei que parar os trens criaria uma tempestade de fúria por toda a área…

— Cara, isso é um ataque terrorista! — Até mesmo Satan e suas visões de conquistar o mundo ficaram atordoados.

— Você… você tem ideia de quantos trens passam por Shinjuku?! Tipo, mesmo que conte apenas as linhas do Japan Rail, isso vai afetar quase todos os serviços na grande Tóquio!

— Ah, entendo. Então minha suposição estava correta. Estou feliz em ver que meu treinamento missionário não foi em vão. É um grande incômodo se os vagões de transporte em Ente Isla não chegam na hora marcada, afinal, não é? Assumi que atrasar tantos trens de uma vez criaria uma aura de fúria que poderia se transformar em força demoníaca…

— Não estou elogiando nenhuma habilidade analítica, entendeu?! Nunca estive em um desses vagões de louco aí!

A resposta alarmantemente dinâmica de Maou foi o suficiente para mandar outra onda de choque de força maligna pela área.

— Aagh!

A barreira que protegia Chiho estremeceu com o impacto, quase a derrubando inteiramente do heliporto.

— M-Maou! Por favor, tome cuidado!

— Foi mal, foi mal…

— Oh, mas e agora, Maou… Ou Rei Demônio, talvez? Ou Satan? Ooh, sequer sei como te chamar!

Maou tentou ignorar Chiho enquanto ela corava, começando a se sentir deslocado.

— Nós, hã, podemos pensar nisso depois. Ei, Sariel, aberraçãozinha, ninguém vai me acusar por ser impiedoso hoje à noite. Deixe-me lhe dar uma escolha. — Satan agora estava superior a Sariel. — Você coloca o rabo entra as pernas e volta para sua terra ou aceita sua punição e me deixa lhe dar uma surra. Qual prefere?

— É óbvio. — O arcanjo, com a grande foice em mãos, abriu suas asas brancas iguais a de um cisne enquanto olhava para Satan. — Rei Demônio Satan! O derrotarei e cumprirei minha missão!

Em um instante, Sariel estava no ar, focando seu poder sagrado enquanto a lua emoldurava seu corpo.

— O que tenho a temer de um Rei Demônio que só consegue recuperar seus poderes depois de ser dopado por energia negativa vinda de humanos?!

— Cara, cale a boca, mão boba.

As asas de Sariel brilharam no céu noturno como um par de luas crescentes.

— Luar da Asa Trovão!!

Um raio semelhante a um laser de luz passou por Emi, Chiho e Bell até chegar em Satan. Ele podia estar furioso, mas não esqueceu da sua missão. Satan teve que apreciar seu senso distorcido de feminismo também.

— Eu não afrontaria um Rei Demônio a todo poder, cara. — Ele ergueu seus braços contra o raio de luar que vinha em sua direção. — Nngh! — E um simples momento de concentração foi o necessário para repeli-lo.

— C-Como…?!

— Pfft. Aposto que está perdendo a vantagem da casa agora. — Satan ria do boquiaberto Sariel. — Algo me diz que você estava subestimando nossa força. Deixe-me lhe mostrar o que você realmente vale.

 


 

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Bravo

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