Rei Demônio ao Trabalho

Rei Demônio ao Trabalho – Vol. 01 – Cap. 03.8 – O Rei Demônio e a Heroína Permanecem Fortes em Sasazuka

As vendas do MgRonald de Hatagaya estavam horríveis naquele dia, mas, pelo menos, estava muito claro de quem era a culpa.

 

As ruas locais estavam vazias. Maou tinha limpado cada traço de dano e usou uma hipnose de larga escala para convencer a todos de que nada acontecera, mas, no fundo do coração de todos, ainda tinham uma incomoda impressão de algo horrível aconteceu ali perto.

 

Chiho esteve de mal humor o dia todo, não se aproximando de Maou uma vez sequer. Supondo que tinha sido devido à batalha contra Lúcifer e o mal-entendido entre ela e Emi antes daquilo, ele finalmente decidiu falar com ela.

 

— Ei, Chi?

 

— Ah… Sim?

 

A voz estava apática. Não parecia estar com medo de dividir o local de trabalho de fast-food com o Rei Demônio, mas se esse não era o caso, Maou não conseguia saber o que estava a incomodando tanto. Será que é pelo fato de eu a ter envolvido em tudo isso? De qualquer forma, se isso continuar, o seu desempenho no trabalho pode acabar sendo prejudicado. Maou continuou:

 

— Sabe, com o meu poder, eu posso apagar todas as memórias ruins… que você… tem.

 

Ele percebeu no meio da frase que isso voltaria para assombrá-lo, pois, no momento em que ouviu aquilo, os olhos da Chiho se arregalaram tanto que ela parecia estar prestes a gritar a qualquer momento. Ela olhava direto para Maou enquanto ele gaguejava no final da frase.

 

— Não, valeu.

 

— Hei?

 

— Você é tão idiota, Maou!

 

— Heeeeein?

 

Essa resposta foi algo que estava totalmente fora de suas expectativas. Chiho virou as costas para ele, sem dizer nenhuma palavra até às dez horas da noite.

 

— Obrigada. Vejo você no próximo turno.

 

Então foi embora, sem hesitar em momento algum.

 

Infelizmente, para Maou, ele não tinha mais nenhum traço da presença avassaladora do Rei Demônio Satan. O trabalho do dia terminou com ele falhando dolorosamente na tarefa e entender o coração de uma jovem adolescente.

 

Cabisbaixo, montou em seu poderoso corcel, Dullahan, e partiu para casa, mas encontrou Emi de pé em frente ao restaurante no cruzamento onde tudo começou. Eles se cumprimentaram com a cabeça, como se o encontro tivesse sido arrumado de antemão, e trocaram olhares enquanto mantinham distância um do outro.

 

— E aí…

 

— Oh, é assim que você cumprimenta a sua inimiga mortal? Por que está agindo tão deprimido? — Emi, em suas roupas casuais, segurava as mãos atrás das costas por algum motivo. Não havia dúvidas de que carregava algo.

 

— Não estou. E não é nada. Por que está aqui a essas horas? Se acabarem adiantando o cronograma dos trens hoje à noite, você não vai dormir na minha casa.

 

— Então eu pego um táxi, okay? Já recuperei a minha carteira.

 

— Cara, veja se não é a Senhorita Dinheiruda aqui. Você sabe que as taxas aumentam 30% quando é tarde da noite, né?

 

A conversa vazia deles não tinha muito rumo, então Maou desmontou da Dullahan. Não havia nada de inquietante ou potencialmente letal neste encontro, mas ele sempre aceitou como padrão colocar o seu fiel corcel entre os dois.

 

— Então, e aí? Está aqui para me agradecer ou…?

 

Ele disse como provocação, mas a resposta de Emi foi além de suas expectativas.

 

— Você não fez nada de ruim a Chiho, fez?

 

Maou parou, perdendo o equilíbrio, então deu um suspiro complexo.

 

— Eu perguntei se poderia apagar as memórias dela sobre hoje e ontem, mas ela me chamou de idiota.

 

— Ugh…

 

Maou não percebeu o significado por trás do gemido de Emi.

 

— Você acha que foi tão ruim assim? Ela não disse uma palavra sequer para mim desde então. — Ele baixou os ombros, decepcionado consigo mesmo.

 

Emi sabia que Maou devia saber como a Chiho se sentia, mas ele ainda pisou na terra de ninguém do coração dela e disse aquilo. Foi um movimento grosseiro demais, o qual a deixou exasperada. Mas nada lhe obrigava a dar um conselho romântico, então continuou com o assunto principal.

 

— Então… você quer mesmo voltar?

 

— Já não tinha me perguntado isso? Por que está o fazendo de novo? Eu estaria mais do que feliz ao voltar.

 

— Entendo. Bem, por enquanto, eu posso voltar a hora que quiser, pelo menos.

 

— Hmm?

 

A voz de Emi foi forte, quase arrogante.

 

— Eu também não preciso procurar poder sagrado como uma louca para conseguir controlar o Portal.

 

— Ei, qual é-

 

— Eu posso simplesmente continuar com o meu trabalho e voltar a hora que bem entender…, mas… — O seu rosto se contorceu quando ela chegou no mas — Ainda estou preocupada. Enquanto o Rei Demônio estiver vivo, eu preciso dar um passo à frente e ser a Heroína de todos. E, enquanto você estiver aqui, estou destinada a continuar te perseguindo.

 

— Aham, bem, sinta-se à vontade para aparecer quando quiser. Não vou reclamar.

 

— Você pode tentar tramar algo com o Lúcifer e o Alciel mais uma vez. Então, a menos que você desista de Ente Isla, ou que eu te derrote primeiro, não poderei voltar.

 

— Quer dizer que vai continuar por aqui? Mesmo que esteja totalmente livre para ir?

 

Ela estava confundindo o assunto, mas, em resumo, Emi ficaria no Japão enquanto Maou também estivesse. Ela desviou os olhos para um pouco longe de Maou e continuou, mas, desta vez, estranhamente apologética:

 

— Eu não me importo nem um pouco com o que os arcebispos e o resto pensam de mim lá, e seria maldade a minha desaparecer da vida dos amigos que tenho aqui.

 

— Os seus companheiros de guerra concordaram com isso?

 

— Eles entendem. Como eu posso simplesmente deixar o Rei Demônio correr a solta? Por isso Albert e Emeralda vão me ajudar a partir do outro lado. Eles vão me enviar uma forma de reabastecer a minha força sagrada para que possa ser recuperada aqui.

 

— “Correr a solta”? O que eu sou, um leão do zoológico?

 

— Você é um monstro.

 

— Sim, uh… aham.

 

Emi o pegou de jeito.

 

— Então, e daí? Eu estou praticamente sem força mágica. Você vai acabar comigo aqui mesmo?

 

Levando as palavras de Emi em consideração, se ela acabasse com a sua vida agora, poderia voltar no mesmo instante para Ente Isla, sem arrependimento algum. Os músculos em seu corpo ficaram tensos.

 

Era uma oportunidade de ouro, da qual Emi riu.

 

— Quantas vezes eu preciso dizer? Sou uma Heroína. Quando eu tiver a chance de te pulverizar, de maneira justa, com o seu poder no máximo, o farei.

 

Ela sorriu como um raio de luz solar, assim como naquela tarde chuvosa, quando se encontraram pela primeira vez no Japão. Isso foi o suficiente para pegar Maou desprevenido. Ele reagiu bruscamente, sem imaginar que ela lhe mostraria aquele sorriso de novo.

 

— Então você quer me emboscar aqui mais uma vez? Como acha que dizer isso vai te ajudar?

 

Emi ponderou por um tempo, e o seu rosto ficou incomodado de repente.

 

— Bem… hmm. Quer saber, foi um brinde, entendeu? Um brinde. Você acabou de ganhar uma informação vital do seu inimigo. Eu não quero ouvir reclamações disso.

 

As palavras saíram hesitantes, e Maou não conseguiu entender bulhufas.

 

— Uh, okay, mas se esse foi o brinde, qual é o verdadeiro motivo para você estar aqui?

 

— Mngh…

 

Emi tentou o máximo que pôde para falar algo. Na mente de Maou, ela ficou idêntica à Chiho, quando esta pediu para segurar a sua mão.

 

Mas não havia como Emi ser tão amigável com ele. Pela primeira vez nesta conversa, ela mostrou as mãos, as quais seguravam um objeto longo e reto, e, meio que de repente, tentou enfiá-lo nas mãos de Maou.

 

Maou recuou, temendo que pudesse ser outra faca de cozinha e/ou uma espada sagrada.

 

Mas, então, percebeu o que era o objeto, então inclinou a cabeça, confuso.

 

Era o cabo de um guarda-chuva.

 

Com uma expressão dolorida e bochechas vermelhas, Emi apontou o cabo do guarda-chuva masculino novinho em folha. Ele estava envolto no papel de proteção de uma loja de departamento de alta qualidade, uma que Maou sabia o nome, e o logotipo de uma marca masculina estava estampada no cabo.

 

— Um… guarda-chuva? Quê?

 

— Eu… sabe, joguei aquele no lixo aquele que você me emprestou, né? Pensei que foi maldade… da minha parte, por isso…

 

Ela estava certa. O guarda-chuva de plástico, que ele lhe empresou antes de perceber que ela era a Heroína, foi jogado fora quando descobriu que ele era Satan, o Rei Demônio. Quer dizer que… ela estava o compensando?

 

— Agora deixe-me te dizer uma coisa! — Emi olhou para Maou, que ainda se perguntava o que fazer. — Tudo o que estou fazendo não passa de uma compensação por causa de um favor! Pegar um guarda-chuva seu emprestado é uma ferida profunda demais para a minha virtude pessoal e honra! A qual jamais irá se curar nem em milhares de anos! Mas deixar qualquer favor sem um agradecimento seria uma mancha ainda maior sobre a minha reputação! É isso!

 

 

Ela atingiu o nariz de Maou várias vezes com o cabo do guarda-chuva enquanto falava alto a sua diatribe.

 

— Pegue logo isso! Essa coisa é pesada!

 

— Ah… tudo bem.

 

Ele pegou o cabo, e Emi largou o guarda-chuva, não jogando nele. Era um cabo de madeira, pesado e firme, algo que Maou nunca tinha tocado antes. O tecido era espesso e brilhante, e os arames pareciam ser reforçados e duráveis. Sua cor cinza-carvão era uma combinação boa para qualquer traje, e era grande o bastante para proteger um casal quando estivesse aberto.

 

— Ei, isso aqui não saiu caro?

 

— Você é um Rei Demônio tão denso. É nisso que consegue pensar? Cinco mil ienes ou mais não são algo que alguém da sua idade deveria estar se preocupando!

 

Maou, em silêncio, estava chocado. O preço estava além da compreensão para ele, mas Emi apenas lhe deu como se fosse algo que colocaria fora.

 

— C-Cinco…!? Você… você gastou cinco mil ienes em um guarda-chuva idiota!? Tipo, eu simplesmente lhe dei um que encontrei dependurado em uma caixa de correio, e velho, ainda por cima!

 

— Não me importo! Cale a boca! Eu só não conseguia mais ver o meu nêmesis eterno andando por aí com um pedaço quebrado de lixo o dia todo! Se você se chama de Rei Demônio, pode, pelo menos, tentar se parecer com um!

 

— Uh… pois é. Faz sentido. Mas… mesmo assim, cinco mil? Uau. É engraçado pensar que isso aqui está na mesma categoria do lixo que eu usava. Se importa se eu tirar a capa dele.

 

— Eu te dei. Faça o que quiser!

 

Emi não estava mais olhando para Maou, pois tinha virado as costas, franzido as sobrancelhas e cruzado os braços, enojada.

 

Removendo a fita com cuidado, Maou dobrou o papel que o envolvia e o colocou no bolso, então, abriu o seu novo guarda-chuva.

 

— Uau! É enorme! Parece ser bem forte também! Agora sim, isso que eu chamo de guarda-chuva!

 

A euforia dele era sincera, pois ele parecia estar maravilhado. Emi, ao ver aquilo com o canto dos olhos por um instante, levantou o canto dos lábios, parecendo estar sentindo uma leve satisfação.

 

— Bem… Era isso que eu tinha para fazer.

 

Com isso, ela se afastou de Maou, mas, então, ele a chamou:

 

— Hein? Bom, obrigado! Desculpe pelo incômodo.

 

Por alguma estranha razão, a expressão de agradecimento que escapou dos lábios do Rei Demônio se enfiou profundamente no coração de Emi. Isso fez com que ela se virasse para trás uma última vez.

 

— Quase me esqueci.

 

— Hmm? O quê?

 

É provável que ninguém jamais irá saber o que havia por trás do sorriso que estava em seu rosto.

 

— Tente ajeitar as coisas com a Chiho, pode ser?

 

Essa era a última coisa que ele esperava ouvir dela. Os seus olhos se iluminaram de surpresa, deixando-o incapaz de responder. Aparentando estar satisfeita com aquilo, Emi sorriu, então se virou novamente.

 

— Até mais.

 

Assim, a Heroína e o Rei Demônio viraram as costas um para o outro, ambos indo para casa.

 

 

— Oh, boa noite, Vossa Majestade Demoníaca! Preparei alguns ovos e panqueca para o jantar.

 

— Podia ter pelo menos chamado de omelete. Não me importo se mentir para mim.

 

Ashiya, com sua força — se não algo mais — recuperada, esperava por ele no apartamento, e suas sobrancelhas se torceram para cima ao ver o novo guarda-chuva nas mãos dele. Maou antecipou a sua pergunta:

 

— Foi um presente, okay? Um presente! Não usei dinheiro algum!

 

— Presente? Meu soberano, você tem um benfeitor que está disposto a te dar um guarda-chuva tão chique?

 

— Se está sendo sarcástico, Ashiya, pode parar! É um daqueles… sabe… “Aquilo que vai, volta”, certo?

 

Maou pendurou o guarda-chuva no vestíbulo da frente, que ficava na parede. Não era algo barato que poderia ser jogado de qualquer jeito em um canto. Ele precisava comprar um porta-guarda-chuvas logo, era o que pensava consigo mesmo.

 

De repente, olhou para cima, sentindo olhos pesados sobre si. Era Lúcifer, em sua forma típica de um japonês baixinho e de cabelo comprido, ajoelhado em um canto e mastigando alguns ovos fritos.

 

Seus olhos se encontraram, mas ele não disse uma palavra sequer.

 

Maou ficou confuso.

 

— Você tem para onde ir ou…?

 

— Se tivesse, não estaria comendo ovos fritos nesse muquifo, não acha?

 

— Acho que não. Parando para pensar, você era um homem procurado no Japão, né?

 

Ele ainda não tinha ouvido nada sobre Olba, mas, se fosse preso por causa dos assaltos à mão armada, o arcebispo, sem dúvidas, daria com a língua nos dentes sobre o seu cúmplice, Lúcifer.

 

Era duvidoso se a polícia de Tóquio acreditar por completo na história dele, mas, de qualquer forma, Lúcifer estava em uma situação perigosa.

 

— Ei, posso te perguntar uma coisa? Como você descobriu uma maneira de invadir o trabalho da Emi? Tipo, a linha telefônica dela?

 

— O quê?

 

Confuso, Lúcifer piscou.

 

— Pois, dependendo de como fez, podemos conseguir isso para alguma coisa. Você me ajuda a conseguir o meu poder de volta, e, em compensação, eu te ajudo. O que acha?

 

 

Logo, a rotina não tão normal da vida diária de Maou em Sasazuka, parte do pátio de Shibuya, em Tóquio, Japão, voltou.

 

Na manhã após a batalha de Maou e Ashiya, eles visitaram a casa de Miki Shiba, a senhoria deles. Sentiam a necessidade de investigar os segredos daquela mulher, a qual sabia a verdade sobre eles; uma senhoria que, em vários sentidos, parecia sobre-humana.

 

Se ela tinha um dedo em tudo o que aconteceu com eles, havia uma chance extremamente alta de ela ser a pessoa misteriosa que enviou uma mensagem sobre o terremoto junto com a de Chiho.

 

Eles estavam totalmente preparados para uma conversa de coração a coração enquanto apertavam o botão do interfone, mas não importava o quanto chamassem, a senhoria não respondia. Depois de um tempo, Ashiya percebeu um pedaço de papel preso ao portão.

 

De: Mikitty

 

Para: Residentes do Vila Rosa Sasazuka

 

Devido a negócios pessoais, estarei no exterior por um período de tempo estendido. Por favor, caso haja qualquer problema, contate a companhia administradora da propriedade usando o contato abaixo.

 

 

 

Não foi isso que fez Maou e Ashiya estremecerem, mas sim a marca de beijo vermelho-carmesim que ela usou para encerrar a nota.

 

Se ela estava no exterior, era provável que não voltaria por um tempo. Durante um momento, eles se perguntaram se ela acabaria presa na verificação de segurança, já que o seu corpo e sua aparência eram, evidentemente, armas letais.

 

Maou estava no turno da tarde naquele dia também. As coisas ainda estavam estranhas entre ele e a Chiho quando ela chegou, mas, depois, voltou a agir como sempre.

 

E depois de terminar de limpar o apartamento e lavar as roupas, Ashiya partiu para mais um tour no museu, então para o supermercado.

 

— Bom dia, Emi! Espero que nada de ruim aconteça hoje, né? — No momento em que Emi voltou ao trabalho, Rika começou a brincar com ela.

 

Mas Emi olhou diretamente para ela.

 

— Ouça, Rika, eu…

 

Com o tom mais apologético que conseguia usar, Emi explicou que ela tinha se envolvido em um acidente depois de se separar da Rika ontem, arruinando a roupa que pegou emprestada dela. Rika deu de maneira tranquila, não se sentindo incomodada.

 

— Ooh, é mesmo. Ainda dá para ver alguns machucados em você. Sério, Emi, é um milagre você ainda não estar morta!

 

Emi não se curou depois da batalha contra Lúcifer. Isso levantaria muitas suspeitas se tivesse se curado por completo depois de apenas dois dias após ser quase esmagada no corredor subterrâneo.

 

— Bem, aquela roupa era bem velha mesmo, então não precisa se preocupar com isso. No entanto, se realmente quiser me compensar, pode me fazer companhia enquanto fico na fila para o almoço, o que acha?

 

Com uma risada, Rika bateu no ombro de Emi, que concordou, sentindo-se honestamente aliviada por dentro, e elas continuaram conversando sobre isso e aquilo até que o turno delas começasse.

 

Uma chamada chegou na estação de Emi de repente, fazendo com que mal tivesse tempo para ler o e-mail matutino regular. Ela atendeu, ligando o seu cérebro mentalmente no modo trabalho.

 

— Obrigada pela sua paciência! Aqui quem fala é Yusa, da central de atendimento ao consumidor da Dokodemo—

 

— Uou! Boa! Conectou mesmo!

 

— Hein?

 

A voz do outro lado da linha era muito familiar para ela, não importava o quanto desejasse o contrário.

 

— Yo! Emi! Consegue me ouvir?

 

— Kkhhh—

 

O sangue correu para a cabeça de Emi enquanto ela gemia dolorosamente por entre os dentes.

 

— Cara, eu não tinha ideia de que você podia realmente mirar nas pessoas dessa forma. Isso vai ser muito mais útil do que eu imaginava!

 

— Ei, o que está fazendo!? Eu estou no trabalho agora!

 

— Uouou, se acalme. É só uma experiência.

 

— Que tipo de experiência!?

 

— Hackear.

 

— Ha… O quê?

 

— Tipo, o Urushihara conseguiu se conectar diretamente à sua cabine porque foi até um Internet Café e hackeou o computador principal da sua companhia. Então eu achei que se tivéssemos um computador em casa, poderíamos fazer muito mais do que só isso… por isso eu fiz a primeira compra grande da minha vida! Parcelas mensais no meu cartão de crédito, baby!

 

Emi conseguia sentir os baques dos seus batimentos cardíacos em sua têmpora. Ela não conseguia parar.

 

— Bem, tem muita coisa que eu gostaria de te perguntar, mas, primeiro, quem diabos é Urushihara!?

 

— Ah, quero dizer, é o Lúcifer. Ele é, tipo assim, um mago dos computadores.

 

— Bem, ótimo! Perfeito! E o que você quer comigo!?

 

— Hm, eu só pensei que seria mais seguro se tentasse com alguém que eu já conhecia bem, então… desculpe pelo incômodo!

 

Maou não poderia ter soado mais apologético do que isso. Emi, irritada, bateu a mão na mesa.

 

— Alguém que você conhece bem!? Não me venha com essa merda! Por que eu preciso ser a sua—

 

— Oh, calma aí! Você é a única garota que pode dar um jeito em mim! Eu chamaria isso de “conhecer bem”, sabia? Foi mal! De qualquer forma, até mais!

 

Depois de dizer tudo o que queria, Maou desligou.

 

Emi resmungou, mas não havia um lugar onde pudesse deixar as suas emoções explodirem.

 

— Uh… O que foi, Emi?

 

A voz da Rika soava nervosa da outra cabine.

 

— Nada!!

 

O grito foi alto o bastante para ser ouvido em todo o escritório.

 

 

— Cara, isso foi incrível! Bem, preciso ir trabalhar agora, então tente se acostumar mais um pouco com esse computador nesse meio tempo, pode ser, Urushihara? — Maou sorriu enquanto removia o seu headset.

 

— Com esse pedaço de sucata…? — Hanzou Urushihara, também conhecido como Lúcifer, readmitido no Castelo Demoníaco de Maou depois de concordar em fazer parte do novo departamento de TI, estava claramente insatisfeito com o notebook que Maou comprou na promoção de Akihabara; o seu sistema operacional era bom há duas versões atrás. O computador que ele tinha no Internet Café era mais novo em todas as formas possíveis.

 

— Ei, eu comprei isso aí para você, entendeu? Devia estar feliz por eu ter conseguido ativar a linha da internet no mesmo dia! Quanto acha que isso me custou?

 

— Eu pensei que eles tinham te dado um desconto no serviço da internet quando você comprou o computador! Eles não te deram nada disso?

 

— Ei, você pode parar de se lamentar quando não for mais procurado por causa dos roubos, okay? Se quer tanto um computador novo, o que acha de encontrar uma maneira de recarregar o meu poder mágico primeiro? Então terá tempo para limpar o seu nome e trabalhar para mim.

 

— Isso é ridículo. Por que eu devo obedecer às leis desses meros humanos?

 

Maou e Ashiya se olharam entre si, então riram conforme as reclamações de Urushihara continuavam.

 

— Lembra quando nós dissemos a mesma coisa?

 

— Aham. Parece que foi há muito tempo, né?

 

De repente, os olhos de Ashiya foram em direção ao relógio de quinhentos ienes que ele comprou na loja de cem ienes.

 

— Vossa Majestade Demoníaca! Está na hora do trabalho!

 

Ele se curvou de maneira educada à medida em que abria a porta.

 

— Ei, estou ficando enjoado daquelas batatas fritas de pimenta preta, entendeu? Traga algo diferente na próxima!

 

— Vou preparar uma sopa de ovos hoje à noite. Cuide-se em sua bicicleta!

 

Maou foi trabalhar enquanto Urushihara reclamava com egoísmo e Ashiya se despedia ao estilo dono de casa. Sua renúncia com relação ao papel tinha subido tanto que já havia formado uma filosofia de vida.

 

Seria mais um dia pacífico no Castelo Demoníaco de cem pés quadrados, a cinco minutos de caminhada da estação de Sasazuka.

Bravo

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