Rei Demônio ao Trabalho

Rei Demônio ao Trabalho – Vol. 01 – Cap. 03.4 – O Rei Demônio e a Heroína Permanecem Fortes em Sasazuka

— O quê? Tudo aquilo foi um blefe!?

Maou e Emi estavam usando um esconderijo em um beco para escaparem de seus perseguidores aéreos. Mas Ashiya deixava um rastro de gotas de sangue enquanto era carregado nos ombros deles. Sem dúvidas de que os seguiriam a partir daquilo.

— Bem, o que você queria que eu fizesse? Usei quase toda a minha força mágica também.

O vaso de planta, que estava no jardim logo à frente deles, foi despedaçado com um enorme som estalante.

— Foram eles que dispararam!?

— O que você acha!?

Sem conseguir ao menos se virar para olhar, Emi correu para trás de um poste de luz, enquanto Maou se escondia entre os beirais de uma casa. Mas, já que carregava o enorme Ashiya logo atrás, era como um urso se escondendo atrás de um cesto de roupas.

— Qual é! Cadê toda aquela falação de antes!?

Uma enorme bola de magia atingiu a casa que Maou usava para se esconder, acompanhada por uma voz trovejante de Lúcifer.

— Uwaaahh! — Maou e Ashiya foram facilmente jogados para longe pela explosão, sem conseguirem sequer tentar pousar de forma correta.

— C-Como pode…?

Emi ficou pálida ao ver Lúcifer, um demônio que não se importava nem um pouco com os efeitos colaterais. Não havia tempo para checar se tinha alguém dentro daquela casa que fora atingida.

— Vamos!

Maou ainda tentou o máximo que pôde para fugir, erguendo Ashiya sozinho e deixando de fingir que lutaria.

— Oh, não vai, não!

Lúcifer fez uma arma com a mão, mirando direto nas costas de Maou.

— Cuidado!

O grito de Emi foi tarde demais. O disparou atingiu Maou de raspão no ombro, fazendo com que ele e Ashiya caíssem no chão.

— Ai, ai, ai, ai, aaiii. — Com dor, Maou sibilava. — Este corpo é tão frágil! Sempre soube que era, mas ugghhhh, é demais! Droga! Não quero morrer!

— Está choramingando por quê? Você não é Satan, o Rei Demônio!?

Emi saltou de onde se escondia e ficou na frente de Maou e Ashiya, encarando Lúcifer.

— Hmm…? Emília? Está tentando proteger o lorde de todos os demônios? — Lúcifer emitiu uma risada repreensiva, a qual foi ignorada por Emi.

— É só isso o que tem, Lúcifer?

Ela precisava ganhar tempo, pois precisava ter uma noção da situação como um todo. Ashiya estava à beira da morte, e ainda não era certo se Maou conseguiria ajudar por muito mais tempo.

Além disso tudo, enquanto Chiho permanecesse sob o braço de Lúcifer, Emi não poderia sair atacando de qualquer jeito.

 — Então…? — Lúcifer não negou as palavras dela.

— Aqueles disparos com os dedos e as balas de magia… Este não é o Lúcifer que eu conheço.

— É mais do que o suficiente para matar vocês três agora. — Lúcifer mostrou uma abertura, da qual Emi se aproveitou.

— Qualquer demônio que age como se tudo estivesse sob controle acaba perdendo no fim.

— Isso mesmo! — interrompeu Maou. — Este é o enredo mais brega nos… arghhh!

Emi, sem olhar para Maou, que choramingava, lhe deu um chute rápido, fazendo-o gemer em resposta.

— Então, basicamente, você é igual a mim. Nenhum de nós pode liberar o poder total. Além disso…

Olba, por motivos que apenas ele mesmo sabia, seguia atrás de Lúcifer, devagar.

— … não pode se dar ao luxo de gastar energia também, estou certa? Você ainda é um bispo, afinal. Diferente de Lúcifer, não pode usar de meios malignos para restaurar o próprio poder. Mas queria que fosse fácil assim, não é?

Era certo que tinha a ouvido, mas recusou-se a responder.

— Mas até eu perco a paciência uma hora ou outra. A Heroína Emília não enalteceu esse nome para que fosse espancada a toda hora.

— Espere! Não faça isso agora-ooof! — O salto do calçado de Emi parou a frase de Maou no meio mais uma vez.

— Você tocou o meu pé, seu pervertido!!

— Agarrar seu pé porque eu queria que percebesse, o meu sangue na rua é um crime punível com um chute no estômago?

Cambaleante, Maou ficou de pé, mas não parecia estar estável. Ashiya, que ainda pendia em seu ombro, fazia com que fosse mais fácil para ele cair a qualquer momento.

— Se você morrer… Vou te deixar aí.

— Não se preocupe com isso. Caso eu deixe que um dos meus capangas me mate, seria uma vergonha gigantesca para toda a minha linhagem sanguínea.

Depois disso, Maou agarrou a mão de Emi de repente, puxou-a e começou a correr, ainda cambaleando.

— E-Ei! O que pensa que está fazendo!?

O braço de Maou mostrou uma força inesperada ao puxar Emi. Mas aquele não era um oponente do qual poderia escapar com passos instáveis.

— O que está tentando fazer agora? Não podem fugir de mim. — Com um sorriso, Lúcifer disparou na direção de Maou mais uma vez, que caiu quando o tiro atravessou sua perna.

Gritos foram ouvidos quando o trio, todo ensanguentado, entrou em um cruzamento em espaço aberto.

— Uouuu…

— O que está querendo fazer!? Quer tanto assim morrer!?

— Hehe… Parece mesmo que estou prestes a…?

Emi tentou apoiar Maou, que estava caído, mas Lúcifer e Olba os seguiam como um par de abutres atrás de sua presa enfraquecida.

— Hehe…

— Pare de rir! Ugh, você me enoja! Isso não é brincadeira! Se alguém for matar o Rei Demônio, esse alguém será eu! Por que preciso me sentar aqui e ser morta perto de você!?

Maou e Ashiya acabaram em uma vaga de estacionamento para carro na rua, ambos não moviam um músculo sequer.

Por pura sorte, o cruzamento onde estavam era o mesmo em que ficava o restaurante em que Emi e Maou se encontraram pela primeira vez no Japão.

Um disparo de dedo, vindo de Lúcifer, passou perto do nariz de Emi, atingindo Maou no ombro. A força do tiro fez com que os dois caíssem no chão.

— Patético! Este é o Rei Demônio que estava acima de mim? Aquele que tinha Ente Isla na palma da mão!? — O lamento na rizada zombeteira de Lúcifer era quase palpável.

— Vamos, rápido! Podemos matar os dois de uma só vez! Preciso guardar meu poder para usar o Portal! — Quando Olba parou de falar, colocou a mão por dentro de suas vestes e pegou… uma arma. Os olhos de Emi ficaram arregalados ao verem aquilo.

Armas de fogo nunca tinham sido vistas em Ente Isla. Olba e Lúcifer deviam a ter encontrado depois que vieram a este mundo.

Olba, muito provavelmente, tinha sido um participante ativo na onda de assaltos nas ruas, sem contar nos primeiros ataques que Maou e Emi sofreram.

 Durante as jornadas deles por Ente Isla, ele era um humilde servo da Igreja, aquele que tinha o título de arcebispo, que era altamente estimado e ganhou o respeito daqueles que estavam no mesmo nível. Com seus poderes celestiais e sorriso paternal, forneceu consolo e conforto à Emília e seus amigos durante os trajetos. Agora havia outra força por trás daquela fachada, uma que lhe apontava uma arma mortal. Emi — Emília — cerrou os dentes, triste e frustrada.

O que poderia tê-lo feito mudar tanto?

O sacerdote corrupto, sem dar a mínima para as emoções de Emi, apontou um revólver para os dois, que estavam caídos.

Então, Emi ouviu o som de várias sirenes vindo de longe. A polícia e os bombeiros já estavam cercando a área. Milhares de pessoas tinham visto Maou e Lúcifer no momento em que chegaram ao cruzamento. Era claro que as autoridades seriam chamadas. Mas tentar parar Lúcifer agora só faria aumentar o número de vítimas.

Maou entrou em cena, tentando controlar a mente que parecia estar perdendo o foco devido à perda de sangue e fadiga.

— Bom… Bom. Agora é provável que eles vão… — Sua voz estava baixa demais para ser ouvida, então…

— Emi, espere! — Ele pegou a mão da garota perto dele, a qual tinha caído após ter sido derrotada.

— Hmm?

Uma luz, clara e suave, envolveu Maou e Emi. Quando o disparo mágico de Lúcifer e o tiro de Olba chegaram neles, tudo o que restou foi o sangue que Maou e Ashiya derramaram. Os três tinham desaparecido.

— Ele tinha poder o suficiente para se teleportar?

— Lúcifer!

— Ele só estava esperando por este momento. Não pode ter ido muito longe, então será fácil rastreá-lo.

— Gah! Você me assustou! — Emi ficou chocada por Maou ter usado uma magia de teleporte sem avisar antes, mas agora não era hora para reclamar. Precisavam dar um jeito na situação.

Não tinham ido muito longe. Na verdade, simplesmente tinham voltado ao local em que viram Lúcifer pela primeira vez, por isso não demoraria para que seu rastro mágico fosse seguido.

A diferença no local agora era a grande quantidade de típicos japoneses curiosos — ainda sem senso algum de perigo! —, a polícia e os veículos dos bombeiros, que atendiam as vítimas pegas pelos disparos mágicos de Lúcifer.

— Mas… mas qual é a sua intenção ao nos trazer para cá?

Desta vez, não tinham mais lugar algum para correr. Não tinham forças para isso. A julgar pela forma com que seus inimigos trataram aquela residência de antes, Maou e Emi sabiam que não hesitariam um momento sequer para considerar os inocentes.

— Ei! Aguente firme! Tudo bem?

— …

Maou estava respirando, mas seu rosto parecia branco demais, muito provavelmente por causa do sangramento. Ashiya, enquanto isso, estava além de branco, parecendo estar azul-claro, beirando a morte.

— Você não veio aqui por causa das ambulâncias, veio?

— Está… brincando… comigo?

— Bem, então por quê!? Se ficarem aqui, vão morrer!

— Eu… sei.

Segurando a mão de Emi, Maou, de alguma forma, forçou-se para se sentar.

— Só mais… um pouco, eu acho.

— Oh, você ainda tem algum tipo de truque na manga agora?

Uma voz desamparada pairou sobre eles. Ao olharem para cima, deram de cara com a mesma cena de antes: Lúcifer e Olba flutuando abaixo da alta Via Expressa de Shuto. Se teleportar para uma distância curta como essa não estava nem perto de ser o suficiente para perdê-los de vista. Já não havia mais esperança.

— Lúcifer! Só estamos atraindo ainda mais testemunhas com essa demora!

— Ah, você é sempre tão tímido, Olba. Mesmo que sejam muitos, eu sempre posso me livrar de todos.

Emi estremeceu. O poder mágico de Lúcifer aumentava sem parar à medida em que dizia essas palavras inquietantes.

— O-O que planeja fazer!?

— Sei lá. Um bombardeio terrorista? Destruir a Via Expressa de Shuto? Inúmeras vítimas? Acho que seria adequado para esta nação. — Lúcifer mostrou um sorriso maligno. — Mas não preciso que o Rei Demônio volte à vida… da mesma forma que foi no subsolo de Shinjuku.

Uma luz passou por Emi.

— Ngh! Ah… — O gemido veio de alguém nos braços de Emi.

— Satan!!

O disparo de Lúcifer atingiu Maou no peito. Um buraco preto foi aberto bem no meio, e seus olhos perderam todo o brilho no mesmo instante. A força que usava na mão que apoiava Ashiya foi drenada, fazendo com que o seu corpo caísse.

— Não! Você é o Rei Demônio! Aguente firme!

Maou inclinava-se pesadamente nos braços de Emi, que batia várias vezes em seu rosto, sem ter resposta.

— Não! Só pode estar de brincadeira! Qual é, Satan!

Ela tentou o colocar deitado para fazer massagem cardíaca, mas, depois de ver o buraco em seu peito, ofegou e ficou congelada. A área do corpo onde seu coração estava localizado foi perfurada de um lado ao outro. Não havia como revivê-lo.

Lúcifer observava os dois, com um sorriso de satisfação no rosto.

— Meu trabalho está feito. Pode ficar com a garota agora. — Ele jogou a Chiho como se fosse um pedaço de papel amassado.

— Chiho! — Emi levantou seu rosto sujo de lágrimas, avançando até o ponto onde ela cairia, porém… — Ngh…

Seu corpo, humano e frágil, era capaz de ser esmagado pelo peso de uma garota que caiu cerca de vários metros. As pernas de Emi, que foram posicionadas abaixo do corpo em queda, estavam torcidas em direções improváveis.

Lúcifer, ao ver aquilo se desenrolar a partir de cima, mostrou um sorriso sarcástico.

— Está na hora de completarmos o contrato que fiz com você, Olba. Espero que cumpra sua parte do acordo.

Ele abriu bem os braços para ambos os lados. Enormes quantidades de poder mágico, muito maiores do que aquela que pulverizou a casa antes, fluíam de suas palmas como uma torrente.

— O-O que está…!? — Emi, segurando a dor, olhou para ele, mas Lúcifer não a olhava de volta. Seus olhos estavam na Via Expressa de Shuto, que ficava mais acima.

— Lúcifer! Lúcifer, pare!

Ela gritou, segurando Chiho no colo, pois entendia bem quais eram suas intenções. Mas não havia nada que pudesse parar um Grande General Demônio.

— Uma voz tão linda… Vá em frente. Cante um belo coral para mim, junto com o rugido da destruição e dos gritos de desespero até que o final chegue. — Ele liberou suas esferas de energia em direção à ponte de suporte da via expressa — Adeus, Heroína Emília! Você seguirá o mesmo caminho que Alciel e o Rei Demônio!

Duas explosões vaporizaram completamente as sustentações.

Todos os homens e mulheres olharam em direção ao céu. A rua de concreto preto, lá no alto, começou a desabar, como se fosse um ser de outro mundo emitindo um rugido estranho à medida em que sua mandíbula descia na direção deles.

Já não havia mais como parar a queda da via expressa.

Os painéis da rua começaram a se dividir, carros caíam em meio ao caos.

Emi agarrou a cabeça de Chiho com força conforme a estrutura caía, abafando os sons dos gritos da multidão frenética.

Seus rostos e corpos foram cobertos pela escuridão, suas almas, repletas de desespero e desamparo, a consciência e visão iam desaparecendo…

— Um completo filme de segunda classe… como eu imaginava.

Ninguém percebeu o sorriso que se formou no rosto de Maou.

 


 

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