Emi estava em silêncio dentro da sala de espera para qual a levaram. Suas sobrancelhas estavam franzidas profundamente em sua testa, como se tivessem sido esculpidas.
O mau humor estampado em sua cara fez com que até mesmo a oficial a cargo da recepção do Departamento de Polícia de Yoyogi optasse por manter distância.
— Desculpe pela demora. — Logo depois, um policial de uniforme entrou na sala de espera e cumprimentou Emi, que não tinha mais tranquilidade o suficiente para retornar o favor no momento. — Agradeço por tirar um tempo para vir aqui. Há todo um processo que precisamos realizar, sabe?
— Sim…
— Hm, primeiro, se eu puder conferir sua identidade… Obrigado. Agora, se você puder escrever seu nome e endereço nesse papel e colocar seu selo aqui…
Ela estava começando a se perguntar por que se incomodou em trazer seu cartão de seguro. Supostamente, era para eles ajudaram-na a conseguir um novo cartão de banco, mas agora lá estava ela, esperando, esperando e esperando.
Emi assinou os documentos, colocando tanta pressão que quase rasgou o papel; então bateu o seu selo na almofada de tinta, antes de carimbar a folha e fazer a tinta sair do outro lado, manchando a mesa.
Um pouco assustado com essa cena, mas sem saber o porquê disso, o oficial continuou sorrindo com a maior sinceridade que conseguia para essa cidadã cumpridora da lei.
— Certo. Isso deve servir para a transferência dos documentos. O Senhor Maou e o Senhor Ashiya estão esperando em outra sala, então você pode ir em frente e sair junto. Pode ser que precise voltar depois, caso a gente encontre algo.
— Não vou sair com eles!
Ela rosnou para o oficial como um tigre enjaulado.
— Pois é… desculpe por isso. Não conseguimos pensar em mais ninguém, então…
— Nós realmente queríamos evitar ter que contar com você para isso, porém…
Maou e Ashiya tentavam ao máximo manter tudo sob controle em frente à entrada da delegacia.
— Quando aquele detetive apareceu na nossa porta, cara, ficamos apavorados. Não tinha ideia de que eles conseguiriam rastrear nosso endereço por causa da minha bicicleta! Esse é um trabalho policial assustador.
— E a Heroína estava mesmo mentindo sobre sua idade.
— Sim, foi como eu disse. Não se pode fazer algo como alugar um apartamento se for de menor, a não ser que tenha alguns fiadores e a aprovação dos pais. Não sei que tipo de truque usou, mas eu já imaginava que ela devia estar registrada como uma adulta, no mínimo uns vinte anos. Engraçado, né? Na maioria das vezes, as pessoas arredondam para menos quando querem mentir sobre a idade.
— Concordo. A menos que queira comprar alguma bebida. Será que não é essa a principal motivação?
— Não importa!
O grito agudo de Emi fez Maou e Ashiya se encolherem, cobrindo os ouvidos.
— Por quê? Por que tinha que ser eu…? — Ela tremia de raiva agora. — Por que eu, a Heroína de Ente Isla, precisei servir como contato de referência para dois demônios!?
— Ca-Cale a boca! Você está falando alto demais!
Maou levou Emi para o lado de fora da estação enquanto sorria distraidamente para as pessoas que os encaravam.
— O que a gente poderia fazer? Eu disse a você, não conseguimos pensar em mais ninguém!
— Eu até pensei na Kisaki, do MgRonald…, mas, mesmo que meu soberano seja a vítima aqui, temia que ela pudesse demiti-lo por estar envolvido em problemas com a lei.
— Ahh, duvido que ela seja esse tipo de gerente…, porém, não, não quero incomodá-la.
Emi não estava interessada nas desculpas deles. Além disso, dar ouvidos às mentiras maliciosas de um demônio a tornaria uma Heroína indigna.
— O quê!? Então não tem problema me incomodar!?
— Bem, é o trabalho do Rei Demônio incomodar a Heroína, né?
Ela passou uma mão nervosa no cabelo. Ele não precisava agir tão pretencioso com relação a isso!
— A propósito, como você conseguiu meu número!? Não me diga que fuçou no meu celular ontem à noite?
— Claro que não! Você precisou dá-lo quando fomos levados para a delegacia aquela vez, se lembra?
— Tudo bem, mas…, mas por que você deu o meu nome!?
— Não tinha mais ninguém! O que queria que fizéssemos? Não temos amigos também! Além disso, qual é, deixamos você passar a noite lá em casa.
— Nnnnnghhhh!!
— Ei, esse não é o seu uniforme de trabalho? A Heroína é uma secretária? Que maneiro.
— Quem te perguntou!?
Ela arrancou a gravata do pescoço, então baixou a cabeça, sentindo-se envergonhada.
— Ouça, acalme-se, Emília. Que tipo de Herói age assim?
— Não preciso que você me ensine boas maneiras, Alciel! Se olhem no espelho! É o começo de mês, mas a geladeira de vocês está completamente vazia! Costumavam chamá-lo de “o maior estrategista do exército dos demônios”! Hah! Vocês não planejam direito as compras!?
— Urrgh!
Alciel caiu de joelhos, parecia que sofreu ferimentos graves por causa daquele golpe verbal preciso. Ele murmurava que não era sua culpa.
— Poderiam fazer o favor de se cuidarem mais!? Alguém me ameaçou de morte pelo telefone hoje! E você também é alvo deles, Rei Demônio! É melhor tomar cuidado, entendeu!?
— Como assim?
Emi colocou uma mão no quadril, estufou o peito e apontou um dedo para ele, ignorando sua pergunta.
— Entendeu!? É um aviso! Mas não se esqueça! Eu sou a Heroína e vou matar o Rei Demônio, levando Ente Isla para uma nova era de paz! Tudo bem!?
— Aprecio o seu entusiasmo, mas, por favor, tente não se esquecer que estamos em público.
Maou parecia nervoso. Ashiya estava rolando no chão, chorando, e Emi continuava a apontar o dedo para Maou, mostrando raiva com a voz retumbante de uma rabugenta inata.
De repente, ela percebeu os policiais e visitantes a encarando. Em um instante, toda a região entre seu pescoço e ponta das orelhas ficou brilhando de vermelho.
— Eu… eu… uh… Ouça, tenha cuidado, tá!? Só queria dizer isso!
— Obrigado pelo aviso…
Ela ignorou a resposta apática dele, balançou a bolsa que carregava e partiu rapidamente, como se tentasse escapar.
— Eu… e ela. Eles estão atrás de nós dois. E ainda avisaram?
Maou precisou de um tempo para levantar do chão o fatalmente ferido Ashiya.
— Ashiya, volte a si.
— N… Não foi minha culpa… eu mantive um orçamento perfeito…
— Deixa disso! Ouça, vamos para casa. Preciso encontrar a Chi mais tarde.
— Droga! Aqueles policiais fizeram com que eu perdesse muito tempo hoje.
— Mas deu tudo certo no final, não deu? Eles até consertaram os pneus furados para você.
Não foi o suficiente para fazê-lo parar de resmungar enquanto levava sua bicicleta de volta para casa. Ele foi interrogado pela polícia, mas foi tratado como vítima de um assaltante, não como suspeito do tiroteio.
A desculpa que deu para a bicicleta abandonada na intersecção não foi exatamente seu momento mais eloquente como Rei Demônio.
— Eu, hm, estava assustado… Não sabia o que estava acontecendo, por isso a larguei e fugi.
O oficial o interrogando aceitou isso sem um pingo de suspeita. Até mesmo disse que sentia muito por eles. Uma enorme humilhação.
De volta no apartamento, O Rei Demônio e seu companheiro de batalha discutiam os problemas mais urgentes.
As mensagens que receberam na noite passada de Chiho e do número desconhecido falavam sobre os terremotos. Maou respondeu a ambos, mas o desconhecido não disse mais nada depois. Enquanto isso, Chiho escreveu:
Não estou louca e também não é brincadeira. Acho que um terremoto está vindo. –Chiho
Era difícil entender o que ela queria dizer com isso. Para começo de conversa, por que ela colocava o nome em cada mensagem? E emojis?
Depois de mais algumas mensagens, Chiho esclareceu que acreditava na chance de um terremoto acontecer logo. Ofereceu-se para explicar, mas Maou pediu para encontrá-la à tarde, já que uma conversa direta parecia ser a forma mais fácil para entender bem a situação.
— O que a Sasaki disse?
— Alguma coisa sobre ter ouvido uma voz.
— Hm?
— A voz de um homem. Ela disse que estava dando algum tipo de aviso estranho e tal.
— Isso não faz sentido. Não estamos em um filme ou em um anime. Você não vê garotas colegiais ganhando poderes telepáticos assim, do nada.
— Pois é, até achei que ela só estivesse tendo estranhas desilusões adolescentes no começo. — Maou sorriu sombriamente. — O fato é, pensei que tivesse uma história maior por trás disso tudo, mas parece que ela começou a ter essas estranhas experiências depois de ser contratada pelo MgRonald.
— Depois que entrou em contato com você, meu soberano? Foi assim que começou?
— “Entrou em contato” não é exatamente o termo que eu usaria, mas pode-se dizer que sim, aham. Ela começou a ouvir um eco, e, sempre que um terremoto acontece, é algo imenso ao redor dela. Sabe, pode até não parecer, mas ainda sou o rei do reino dos demônios, né?
— Com toda a certeza. E você não parece, meu soberano.
— Quero dizer, não seria estranho se minha simples presença estivesse afetando as pessoas e coisas ao meu redor. Sou o Rei Demônio, afinal.
Podia-se perdoar caso pensassem que era Maou quem estava tendo estranhas desilusões adolescentes agora.
— Mas, nesse caso, por que você não está afetando o resto dos funcionários do MgRonald?
— Sei lá. Talvez eles não tenham percebido ainda. Ou pode ser que seja apenas a Chi imaginando coisas. Mas nós fomos atacados por disparos mágicos recentemente, e Emi também recebeu uma ameaça de morte, não é? Não sei quem estamos enfrentando, mas é possível que saibam quem somos e por isso conseguem colocar mais pressão sobre nós. E, no pior dos casos…
— No pior dos casos, você acha que a Chiho pode estar envolvida com o inimigo?
— Não quero pensar que seja isso, mas… sim. De qualquer forma, precisamos investigar todas as possibilidades, não importa quão remota.
— Eu compreendo, Vossa Majestade Demoníaca. Porém… nesse caso, desejo acompanhá-lo. Se aquele que o atacou estiver envolvido nisso, seria melhor mantermos o máximo de atenção possível na rua.
— Ah, você só quer ver a Chi, não quer?
Maou encarou Ashiya, um olhar perverso cobria o seu rosto. Ashiya respondeu com um sarcasmo desafiador:
— Se me permitir, Vossa Majestade Demoníaca…, caso eu não esteja de olho, temo que você se esqueça que sua conta no banco está vazia e trate a Sasaki da melhor forma possível apenas para se mostrar. E, se o nosso inimigo realmente aparecer, e não o descobrirmos e nos livrarmos dele, você será o motivo de piada do reino dos demônios. “Oh, veja, lá está o Rei Demônio flertando com uma jovem adolescente”.
Até mesmo o poderoso Rei Demônio não tinha palavras para contrariar essa lógica infalível.
— Então, onde e quando você planeja encontrá-la e quanto tempo ficará fora?
— Quem é você, minha mãe!? Ela disse que tem algum tipo de atividade de clube depois da escola, depois vamos nos encontrar na saída leste da estação de Shinjuku às cinco.
— Ah, ainda temos tempo. Devemos ir, Vossa Majestade Demoníaca?
— Hein?
Maou, confuso, observava Ashiya levantando-se para partir de novo, mesmo que recém tenham chegado em casa.
— Devemos ir às compras e ao barbeiro. Tenho certeza, Vossa Majestade Demoníaca, que você não pretendia ir a um encontro com esse seu cabelo bagunçado e usando UniClo dos pés à cabeça.
— Quem se importa? Nós só vamos tomar um café, conversar um pouco e, então, tchau-tchau! Não precisamos-
— Se uma jovem garota está enfrentando problemas, ela jamais se dignaria a discutir isso com alguém, a não ser que seja um amigo próximo. Nem mesmo com os próprios pais. Vossa Majestade Demoníaca, você deve saber o que significa contar os segredos íntimos à outra pessoa.
Ele pôde ver a lógica após ouvir isso.
— Tudo… bem. Certo.
— Maravilha. E eu odiaria pensar que uma garota humana achasse que meu grandioso mestre não dá a mínima para a aparência. Você deve ter uma presença marcante a todo momento. Roupas, meu soberano, fazem o homem!
Maou finalmente encontrou algo para contrariar enquanto Ashiya caminhava com pressa até a porta.
— Farei você se arrepender do dia em que criticou minhas roupas! E criticou a UniClo, a marca de roupas que mais cresce no Japão!
O centro de atendimento da Dokodemo ficava aberto até às cinco da tarde nos finais de semana e feriados. Emi saía do escritório meia hora depois. Graças a Maou e Ashiya fazendo com que perdesse todo o intervalo para o almoço de maneira extravagante, seu desempenho durante a tarde caiu devido à falta de entusiasmo. Ela ficou pálida o bastante para que Rika, no cubículo ao lado, ficasse preocupada com sua saúde.
— Ei, por que não sai um pouco mais cedo hoje?
— Aham… também acho que deveria.
— Não sei o que aconteceu, mas… melhoras, okay?
— Obrigada…. — Emi sorriu com dificuldade.
Enquanto Rika se despedia dela, Emi entrou no agito de Shinjuku, balançando contra as ondas constantes de pessoas que passavam por ela.
Que crime cometeu para ter que ser referência para seus inimigos jurados?
Estava flutuando, sem saber o que fazer, entre as correntes de punição da sociedade moderna, e, sem nem perceber, havia vários documentos oficiais do governo assinados, dizendo que ela tinha uma relação próxima com o Rei Demônio.
Essa era a maior humilhação de sua vida.
A entrada da linha de Keio que Emi usava era próxima à saída oeste da estação de Shinjuku. A partir da saída leste, ela preferia usar um corredor subterrâneo que a fazia seguir sempre reto, sem ser parada por semáforos e multidões.
Hoje, no entanto, a escada íngreme que levava ao corredor parecia nada menos que a descida até a pura escuridão.
— Não… aguento mais…
Por isso, enquanto descia os degraus, desejava poder tratar a figura que notou agora há pouco, passando ao seu lado na frente das lojas e restaurantes, como uma ilusão devido à sua exaustão. Mas reconsiderou, sentindo que seu orgulho como Heroína estava em jogo. Reunindo toda a coragem que tinha no coração, aproximou-se da figura por trás e puxou seu ombro.
— O que está fazendo aqui, Ashiya?
— Aghh!
Vê-lo no centro da cidade assim deixava bem claro que ele era bem mais alto do que a média.
— E-E-Emili—
— Emi. Emi Yusa. Não acha que devia ter mais cuidado ao chamar os outros pelo nome verdadeiro na frente dos outros, Ashiya?
— Ngh… hh. — Ashiya gemeu com um olhar torcido no rosto.
— Me parece que você está agindo estranho. Até pensei que estava perseguindo alguém.
— Gahh!
O rosto dele ficou ainda mais contorcido.
— Ah, parece que acertei. Estou impressionada que os seguranças não pararam para o questionar.
Emi notou Ashiya porque ele estava se escondendo atrás de uma coluna de sustentação da estação, esticando o pescoço para o corredor, como se estivesse brincando de esconde-esconde com o resto do mundo. Na verdade, esqueça. Verdadeiros participantes de esconde-esconde seriam muito menos visíveis do que ele.
— Não… não tem nada a ver com você! Vá embora!
A julgar pela resposta nervosa, ela o pegou em um momento ruim. Algo na mente de Emi fazia com que ela não deixasse o assunto de lado.
— Oh, é assim que você trata a mulher que tirou você da cadeia, Ashiya?
— Suuaaa! Aquilo foi apenas um pequeno favor! Não vá achando que é grande coisa, seguidora da Igreja!
— Demônios são bem ingratos mesmo, não são? E, além disso, você acha que um Herói simplesmente deixaria vocês correrem soltos depois de serem descobertos?
— Não, mas… por favor, me deixe em paz agora!
— Nunca o deixei em paz durante seus dias de demônio. Por que deveria agora?
Optando por ignorá-lo por enquanto, Emi olhou para onde ele estava encarando há pouco.
— Ah! Espere! Não pode ser!
Empurrando o agitado Ashiya para trás, Emi percebeu que o local de observação do demônio era um pequeno café. Era bem comum, como vários outros cafés por aí, mas, em uma das mesas alinhadas ao lado do vidro da frente…
— Ah… — engasgou.
— Ahhh! Me perdoe, meu soberano…!
Ashiya começou a murmurar atrás dela.
— Ei! Alci—Ashiya! Do que se trata isso?
— Jamais direi uma palavra sequer! Descubra sozinha!
— Descobrir? Como!?
Ela deu de cara com uma imagem surpreendente.
Era Maou e aquela jovem do MgRonald, chamada “Chi”, conversando como se fossem melhores amigos! Não importava como olhasse, eles eram um casal no meio de um encontro. Maou parecia ter sofrido uma transformação também. Parecia que tinha saído de uma reportagem de “Gatos Descolados e Modernos” de uma revista de moda. O “antes e depois” era ainda mais inacreditável do que os comerciais de perda de peso.
— Você!
— O-O quê!?
O olhar de puro ódio no rosto de Emi fez com que Ashiya desse um passo para trás por instinto.
— O que vocês vão fazer com aquela garota, seu desgraçado!?
— Guh…!
Ele permaneceu imóvel, surpreso pela repentina acusação chocante dita por aquela mulher — a Heroína.
— Aqui estão vocês, dois demônios. O Rei Demônio desfilando com essa linda aluna do ensino médio, e você observando nas sombras, seus degenerados!
— Degen…! E-Emil—não, Emi! Por favor, ouça—!
— E eu ainda pensei que vocês dois estavam tentando ter vidas decentes no Japão! Cara, como eu estava enganada!
— V-Você entendeu tudo errado! E-Eu não sei o que está pensando, mas meu soberano não possui nenhuma ideia perversa em mente—
— Como pode um Rei Demônio não ser perverso!? — A lógica de Emi fazia todo o sentido.
— Por favor, só me ouça!
Quase chorando, Ashiya tentava ao máximo explicar a história para a Emi, que estava extremamente irritada.
A garota era Chiho Sasaki, uma colega de trabalho de Maou, e foi ela quem quis conversar com ele primeiro. Maou concordou na esperança de conseguir algumas pistas para restaurar sua magia, além disso, jamais a machucaria no processo. Ashiya tentava parecer o mais sincero possível — para os padrões de um demônio — enquanto lhe contava a história.
Emi não tinha intenção de confiar nas palavras dele, mas elas ainda foram o suficiente para impedi-la de correr até lá e matá-lo onde estava sentado.
— Você… compreende agora? — Com cuidado, Ashiya fez a pergunta.
— A única coisa que compreendo é que meu inimigo jurado está parecendo totalmente ridículo.
— Nnghh… sinto muito…
— É bom que sinta. Mas por que ele precisou ir a um encontro com ela? Não podiam simplesmente conversar por mensagem?
— Também pensei nisso. Porém, ela queria encontrá-lo pessoalmente, por isso estamos aqui. A julgar pelo o que vi, creio que essa garota, Chiho, tem um grande interesse em meu mestre.
— Percebi isso.
— Você não fica nem um pouco incomodada?
Ashiya, que acabara de fazer algo que sua mente demoníaca achava ser uma revelação chocante, esperava ver uma reação maior do que essa, no mínimo. Porém, Emi o olhou com as sobrancelhas altas e os olhos cheios de dúvida.
— O que foi, está decepcionado por eu não me importar com ele?
— N-Não, eu só… Uma simples garota humana, tendo sentimentos amorosos pelo Rei Demônio… considerei que esse fosse o pináculo da loucura.
— Eu só queria saber o que viu nele. Ela poderia conseguir algo muito melhor.
— Como ousas insultar a Sua Majestade Demoníaca!!?
— Já se esqueceu que sou a Heroína? Mas, sim, qualquer garota pode ver que ela está a fim dele. É difícil ver daqui de longe, mas aquele tipo de vestido é a nova moda este verão. O cabelo dela está todo arrumado, como se tivesse acabado de sair de um salão, e aqueles sapatos também são novos.
— S-Sério? São mesmo?
Trinta minutos espiando o casal, e Ashiya estava completamente desatento.
— Ah, a maioria dos homens provavelmente não perceberia. Ela revirou o guarda-roupa para preparar um visual de verão; além disso, está usando uma roupa justa para realçar as curvas…
De repente, Emi parou. Ela forçou o olhar para ver Chiho pela vitrine, então, murmurou para si mesma.
— O que foi, Yusa?
— … são grandes.
— O quê? — A voz interrogativa de Ashiya fez com que ela voltasse a si.
— Hã? Na… Nada! Eles grandes não te fazem uma guerreira melhor!
— Como?
— Com eles pequenos, os peitorais customizados ficam mais baratos. Também não ficam tanto no caminho quando você está se movendo.
— Do que você está falando?
— Nada! M-Mas, sabe, o Rei Demônio também ficou muito mais, é, apresentável, né? Está usando roupas mais apresentáveis e não aquele lixo da UniClo!
Emi forçou a mudança de assunto, em parte para fazer com que sua própria mente parasse de pensar em certas coisas. Ashiya, enquanto isso, parecia orgulhoso. Ainda estava tendo dificuldade para entender o comportamento de Emi, mas, ao ouvir esse elogio repentino sobre seu mestre, sentiu uma rápida onda de autossatisfação.
— Li algumas revistas para sugerir o visual. Não queria que uma garota humana pensasse que meu mestre se vestia como um pateta, afinal de contas. Fiz alguns trabalhos aqui e ali a fim de economizar para momentos como este.
Emi quase derrubou a bolsa quando imaginou isso.
— Mas, então, o que esperam dela?
— Como eu deveria saber? Eu estava meramente espionando-os para me assegurar que ninguém suspeito se aproximasse.
— No momento, você é o cara mais suspeito aqui, Ashiya. Consegue ouvir o que eles estão dizendo com sua audição de demônio ou sei lá o quê?
Alciel, apesar de seu comportamento depravado atual, ainda era o braço direito do Rei Demônio, o único General Demônio que restara. Era natural que Emi perguntasse isso, já que sabia sobre a verdadeira identidade dele.
— Que bobagem. Nós, demônios, temos poderes devido à nossa magia! Mas agora que a minha acabou, mal conseguiria usar minha super audição.
Emi ficou perdida em seus pensamentos, ignorando a maior parte da explicação estranhamente arrogante do General Demônio. Seria ruim, muito ruim, para ela se os demônios descobrissem uma forma de recuperar a magia. Caso conseguissem acesso a uma imensa quantidade de poder antes que pudesse recuperar sua própria energia sagrada, seria difícil imaginá-la tendo uma forma de lidar com isso.
Ao mesmo tempo, caso tentasse se livrar de Maou agora, não sabia se ia sobrar energia sagrada o suficiente para voltar a Ente Isla, sem contar que precisaria lidar com as autoridades depois…
Afinal de contas, diferentemente de Ashiya, Emi ainda conseguia sentir força mágica dentro de Maou, o bastante para confirmar sua identidade como Rei Demônio. Pelo que sabia, ele ainda poderia estar escondendo toda a extensão do poder que ainda tinha.
Nesse caso, havia apenas uma opção.
Se o Rei Demônio e seu vassalo — o principal perigo que enfrentava — descobrissem uma fonte de magia, ela precisaria destruí-la antes que eles pudessem se aproveitar disso. Uma medida paliativa, talvez, mas ainda precisava esperar.
— Ashiya.
— O-O que foi?
— Você sabe que não faz sentido ficarmos aqui e apenas observarmos. Venha comigo.
— Com você? Onde?
— Para o café, é claro. Se você ainda não tem certeza se pode confiar naquela garota, precisa chegar mais perto. Ouça-a enquanto observa os arredores. Caso contrário, como pode chamar isso de “espionando-os”?
— E-Eu não me atreveria! O que a Sua Majestade Demoníaca diria se eu fizesse tamanha—Ahh! Calma!
Depois de explicar sua ideia, Emi agarrou a nuca do relutante Ashiya e o arrastou para dentro do café.
Meia hora antes de Emi encontrar Ashiya, o grandioso Rei Demônio, Satan, encontrava-se com Chiho Sasaki, a nova funcionária de meio período no MgRonald, em frente ao grande telão da estação de Shinjuku.
— Oh! Ei, você cortou o cabelo, Chi?
— Sim! Depois de considerar bastante, decidi usá-lo curto por um tempo! Você gostou?
Era uma diferença pequena comparada a antes, uma que Maou só conseguiu perceber porque passou horas ao seu lado durante o período de treinamento dela, e era difícil dizer o quanto ela “pensou” mesmo sobre isso. Entretanto, levando em conta que ele normalmente a via com o uniforme da escola ou do MgRonald, o cabelo solto e as linhas bem definidas de sua blusa pareciam graciosamente refrescantes para ele.
— Sim. Ficou muito bom em você.
— Aw, que bom! — Chiho ergueu um punho ao ouvir a resposta honesta de Maou.
— Pensei que você viria com o uniforme da escola. Você não tinha uma atividade do clube depois da aula?
Maou não tinha intenção alguma com essa pergunta, mas foi o suficiente para fazer com que Chiho ficasse agitada.
— Oh, eu jamais viria com aquilo! Não tem como eu usar aquela roupa brega no café com você, Maou! Além disso, se você estiver andando por Shinjuku com uma garota de uniforme, as pessoas podem começar a pular para conclusões, sabe? — Chiho parecia estranhamente irritada enquanto defendia sua escolha de roupas. Ele já havia a visto em seu uniforme escolar antes, já que ela vinha para o trabalho direto da aula, mas o uniforme não parecia assim tão ruim nela. A resposta foi um pouco surpreendente. — Ei, mas você sim! Pensei que nunca comprava nada além de UniClo, no entanto, está bem arrumado hoje, hein?
Ela não estava falando isso por mal — talvez —, mas Maou ainda riu por causa do significado por trás de suas palavras.
— Pois é, meu colega de quarto disse que não tinha como me deixar ir a um encontro usando coisas da UniClo.
— Não é como se tivesse algo ruim sobre a UniClo, mas, se quiser usar dos pés à cabeça, precisa ter cuidado para combinar bem, caso contrário, ficará muito estranho. Mas, uau, você considerou isso como um encontro, hein? Que incrível!
O que é incrível? O que tem de tão ruim sobre a UniClo? Isso aqui é um encontro mesmo? Maou assentiu vagamente enquanto milhares de dúvidas apareciam em sua mente.
— Você precisa estar em casa antes do jantar, né?
— Bem, sim, mas…
Chiho concordou, triste. Era inevitável; ela tinha uma família a esperando. Maou sabia que o tipo de garotas que passeavam por Shibuya ou Harajuku até as primeiras horas da madrugada era um pequeno punhado da população inteira.
— Então, o que quer fazer? Não podemos simplesmente ficar parados aqui na rua. Não saio muito para comer, por isso não consigo pensar em algum lugar a não ser no Ronald.
Chiho, parecendo que já esperava por isso, pensou por um momento.
— Por que não vamos até o Café Barluxe? É barato e bem tranquilo lá. — Maou sabia sobre o Barluxe. O nome, pelo menos. — Ah, e não se preocupe com a conta! Eu posso pagar, caso não se importe em me ouvir.
Ela deve ter dito isso por estar preocupada com Maou, que emitia uma aura palpável de “trabalhador pobretão” durante 24 horas por dia. Mas até mesmo Maou emitiu o orgulho de um jovem homem adulto — além de seu orgulho como Rei Demônio.
— Não, não. Eu sou o homem aqui. Posso pagar o suficiente para nós dois.
A suposição de Ashiya estava correta. Sem dúvida.
— Vamos então?
O Barluxe mais próximo ficava a algumas quadras da rua Yasukuni, no fim de uma praça de alimentação dentro de uma estação ferroviária subterrânea.
— Oh… hmm, Maou?
— Sim?
Chiho parou Maou logo que ele começou a andar.
— É…
— O quê? O que foi?
— Sua, é, mão?
— Mão…?
Chiho baixou os olhos um pouco, cerrou os dentes, seu rosto estava um pouco vermelho por causa de algum estranho motivo. Maou pensou que ela estava prestes a chorar, mas o que aconteceu em seguida foi ainda mais surpreendente.
— Você se importa se nós… é, darmos as mãos?
Ela era uma bola de energia sorridente há pouco, mas, de repente, sua voz ficou tão suave quanto o zunido de um mosquito. Confuso, Maou a observava.
— Sim, sem problema.
Casualmente, pegou a mão direita dela. Chiho, surpresa, ficou com o corpo rígido por um momento.
— O quê?
— Ah, é… nada! Incrível! Quero dizer, não é nada! Muito obrigada—
— Tudo bem, tudo bem. É uma rua movimentada mesmo. Eu não iria querer me separar de você.
A sequência de mudanças de humor dela tornou difícil para Maou descobrir o que ela queria. Parecia estar pegando diferentes cartas de um deck, de surpresa para felicidade, de perturbação para algum sentido estranho de rendição.
— Você tem razão, eu acho. Meio que entendi agora.
Maou olhou novamente para o rosto dela. Chiho, com os olhos arregalados, tentou manter certa distância dele em resposta. Não se podia dizer que ela conseguiu, dado a forma que andavam de mãos dadas, e, por isso, simplesmente inclinou um pouco o corpo.
— Chi, você parece um pouco estranha hoje.
— Hã? Ah. Bem, acho que deve ser por causa de todas essas coisas que estão acontecendo comigo! — Desviando o olhar de maneira estranha, começou a andar enquanto segurava a mão de Maou.
— Pois é… Também acho.
Maou não tinha muita escolha a não ser aceitar a desculpa, porém…
— Mmm… — Ele a observou novamente enquanto ela emitia algo que parecia um suspiro.
À primeira vista, Chiho parecia não estar manifestando qualquer tipo de fenômeno mágico. Não havia divergências estranhas de seu corpo, e, mesmo quando fizeram contato, ela não mostrou nenhuma mudança perceptível nem demonstrou reação ao poder mágico remanescente que poderia ter absorvido de Maou.
A única divergência perceptível era que a mão dela parecia mais quente que a sua, seu pulso também estava estranhamente rápido. Isso significava que Maou precisava considerar a ideia de alguém estar interferindo externamente na mente de Chiho. Talvez o inimigo que atacou ele e Emi, ou, possivelmente, alguma força mágica desconexa, estivesse agindo sobre ela naquele momento.
E tudo isso mostrava que Chiho estava falando a verdade…
Independentemente disso, não havia nada de incomum com ela agora.
Mas, no momento, era hora de ouvir a história toda.
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