Rei Demônio ao Trabalho

Rei Demônio ao Trabalho – Vol. 01 – Cap. 01.6 – O Rei Demônio Foca em Sua Carreira por Questões Monetárias

— Olá, vai jantar hoje?

— Quero falar com você, do lado de fora.

O MgRonald em frente à estação de Hatagaya estava muito movimentado hoje. Por causa disso, Emi, usando uma roupa formal cinza, diferente da casual que usou de manhã, nem mesmo se incomodou em esconder a irritação na frente da caixa registradora de Maou.

— Para levar? Tudo bem, qual seria o seu pedido?

— Quero que você vá para ondes estávamos na noite passada, logo depois que você saiu do trabalho. Não aceitarei “não” como resposta.

— Posso considerar isso como um combo para hoje?

— Venha sozinho.

— Só o sanduíche? Tudo bem! Por favor, poderia esperar um pouquinho ali do lado… Um Big Mag, por favor!

— É melhor aparecer. Não quero lutar contra você.

— Muito obrigado! Volte sempre!

Emi pagou rapidamente pelo hambúrguer, pegou a sacola e partiu.

Tudo o que Maou conseguia pensar, ainda com o sorriso de negócios no rosto, era: Droga droga DROGA, sem parar. Não tinha como essa “conversinha” acontecer tranquilamente.

— Maou? — Uma voz o chamou por trás.

— O que foi, Chi?

Era Chiho Sasaki, uma das novas empregadas de meio período. Ela era uma aluna do segundo ano do ensino médio que Maou orientou durante o período de treinamento. Mesmo agora, sendo um membro oficial da equipe, ainda corria até Maou sempre que algo acontecia.

Ela amarrava o cabelo curto durante o expediente, e seu sorriso brilhante e inocente fazia dela especial para os clientes. Maou gostou do quão rápido ela aprendeu tudo o que precisava para o trabalho.

— Ela era uma cliente estranha, não acha?

— Você se refere… à mulher de agora há pouco?

— Isso. Meio assustadora, né? Ela também ficou murmurando.

— Pois é, bem, isso é normal por aqui.

— Conhecida sua? Parecia que vocês estavam tendo uma discussão.

Sim, ele conhecia a Emi. Não havia como negar isso. Ao pensar nisso, percebeu que Emi, com dezessete anos, era um pouco mais velha que Chiho. Era engraçado como a impressão que as duas passavam era completamente oposta. Emi parecia ser muito mais madura do que sua aparência insinuava… ou, mais provavelmente, ela teve uma infância que a forçou a crescer rápido.

— Mmm, sim, um pouco.

Maou esperava conseguir deixar esse assunto de lado o mais rápido possível, mas era improvável que a curiosidade de Chiho deixasse essa resposta ambígua passar sem dizer nada.

— Ooh! Aí tem coisa!

— O quê?

Chiho olhou para ele de baixo, com as mãos juntas atrás das costas.

— E ela também era bonita, né? Né? Né, Maou?

— Você não precisa dizer “né” três vezes! Tipo, o que faz você pensar que eu e ela somos… Olá, tudo bem!? — Neste momento, o instinto para cumprimentar bem alto cada cliente que passava pela porta foi ativado em sua mente. — É para comer aqui, madame?

Agora, Chiho assumiu a registradora. Não estava mais tão movimentado, então qualquer um poderia assumir o balcão da frente, contanto que soubessem o que fazer.

Chiho ainda era nova ali, mas sempre que tinha um tempo livre, prontamente aceitava novos deveres. Maou estava bastante impressionado, tanto que deu um passo para trás e deixou-a assumir.

O cliente era uma mulher de aparência gentil com um bebê no colo, um garoto que talvez já tivesse idade para ir à escola, mas que ainda estava agarrado a ela. Era algo muito comum de se ver no restaurante de Hatagaya quando o horário do almoço acabava e as hordas de funcionários de escritório iam embora.

O olhar da mãe lançava-se entre Chiho e o cardápio enquanto fazia seu pedido. De repente, os dedos de Chiho pararam sobre a registradora.

— Um momento, por favor. — disse ela antes de virar para Maou.

— É… Maou?

— Sim?

Normalmente, não era aconselhável que funcionários veteranos sussurrassem para os aprendizes na frente dos clientes. Em vez disso, exigir que os membros da equipe discutissem os problemas com os clientes para resolvê-los ajudava a treiná-los e dava aos clientes uma impressão melhor sobre o lugar. Chiho apontou para a família com os olhos enquanto continuava.

— O filho desta cliente tem problemas com alergia.

— Alergia? Claro. Você sabe que tipo de alimentos ele deve evitar?

Ainda era o dever de Chiho atender a cliente. Maou trabalhava através dela para abordar as preocupações dela com a maior educação possível.

— Parece que é camarão, caranguejo e algumas frutas.

Maou assentiu e entregou um cardápio colorido para a mãe conforme explicava as opções.

— Assim, produtos que incluem camarão, por lei, precisam ser mencionados nos cardápios, então, como pode ver aqui, ele é usado em todos os nossos produtos de frutos do mar.

— Oh!

A mãe, assim como Chiho, parecia estranhamente impressionada com essa apresentação.

— Com relação às frutas, o governo recomenda exibição informativa para kiwi, laranjas, pêssegos e maçãs. Dentre essas, maçãs são as únicas usadas em alguns tipos de nossos condimentos. Isso inclui o molho no Hambúrguer Teriyaki, por exemplo, assim como alguns molhos para salada. Sobre nossas ofertas secundárias, também seria melhor evitar nossa seleção de sorvete com sabor de frutas sazonais, assim como o suco de vegetais.

Tanto a mãe quanto Chiho estavam fascinadas com essa explicação, enquanto Maou apontava os itens do cardápio que deviam ser evitados. Satisfeita com isso, a mãe fez suas escolhas.

— A propósito, madame, você gostaria de usar nosso micro-ondas?

— Hmm?

— Hein?

As duas responderam de forma quase idêntica. Maou fez um gesto para a criança, então continuou:

— Se você tiver alguma comida para bebês, ou qualquer outro produto que precisa de preparação no micro-ondas, ficaríamos felizes em ajudá-la com isso. Se não se importar com minha intromissão, pensei que você poderia gostar de aproveitar ao máximo o almoço com o seu filho.

A mãe olhou para o bebê em seus braços, um sorriso grande apareceu em seu rosto antes de assentir.

— Muito obrigada! Aqui… acho que deve levar cerca de quarenta segundos para ficar pronto. — Ela pegou uma embalagem a vácuo de sua bolsa e disse.

Maou pegou-a, depois entregou a Chiho.

— Pegue, Sasaki, e aqueça por vinte segundos. Tenha certeza de trazê-lo junto com o resto do pedido quando ficar pronto.

Os empregados japoneses deviam se referir entre eles pelo último nome quando estivessem diante de seus clientes. Chiho pegou a embalagem e estava prestes a ir em direção à cozinha, mas parou.

— Ela não disse quarenta segundos?

— Esse é o tempo para um micro-ondas caseiro. Nós temos um industrial, que é umas duas vezes mais forte, por isso vinte segundos deve ser o suficiente.

— Oh! Tudo bem! — Chiho acenou respeitosamente para Maou antes de desaparecer dentro da cozinha.

Maou assumiu a partir dali, recebendo à cliente. A mãe, muito grata, o agradeceu diversas vezes.

Era só mais um passo para uma posição de turno integral. E, a partir dali, para conquistar todo o Japão. Conseguia sentir fisicamente o progresso contínuo em sua pele hoje.

— Hum? O que foi, Chi?

 Chiho, que, em algum momento, apareceu ao seu lado, olhou para ele, admirada.

— Isso foi incrível, Maou!

— Hein?

— Quero dizer, veja bem! Você memorizou toda aquela informação sobre alergias e que tipo de ingrediente ia em cada produto?

— Bem, isso tudo estava no manual de treinamento, não estava? — respondeu como se fosse algum simples.

Chiho continuou com sua euforia a ritmo acelerado.

— Mas isso ainda é incrível! Você também até pensou na comida para bebê!

— Pois é…, esse tipo de coisa é mais complicado durante o pico, mas quando há tempo, é legal se puder atender as necessidades do cliente. Isso ajuda na impressão a longo prazo.

Para Chiho, jovem e cheia de vontade de realizar bem o seu trabalho, isso foi o suficiente para fazê-la suspirar com admiração.

— Isso foi simplesmente tão… tão legal, Maou! Tão maduro e responsável!

— Haha… mas ainda sou apenas um funcionário de meio período.

A única coisa que poderia intensificar ainda mais o olhar de pura admiração era se atrás dela, literalmente, pétalas de rosas estivessem voando para todos os lados. De repente, no entanto, ela deixou isso de lado, ficando séria novamente.

 

— Ah! Falando nisso, Maou, ficou tudo bem com você durante o terremoto de ontem?

— Hmm…

Sempre era difícil — tão difícil quanto controlar o Portal para outro mundo — prever para que tipo de novas direções uma jovem adolescente levaria a conversa. Foi surpreendente para Maou, além disso, era algo que só conheceu quando começou a trabalhar junto dela, mas já estava acostumado agora.

— Sim, sem grandes problemas. Eu vivo num apartamento em ruínas, então acho que meu colega deve ter achado que foi um dos grandes, mas não tremeu tanto assim, sabe? Eu nem senti nada.

— Oh? É… Oh! Também acho…

Chiho, a julgar pela sua reação, não esperava essa resposta. Ela tinha esse jeito pouco natural de agir surpresa, o que em si era surpreendente.

— Meus colegas também disseram isso quando perguntei na escola, porém, para mim, foi, tipo assim, muito horrível!

— Sério?

Ao perceber o possível interesse dele, Chiho começou a gesticular freneticamente para enfatizar sua experiência angustiante.

— Minha mãe disse que teve um barulho alto, como se fosse algo explodindo, e também tremeu um monte! Quando voltei para casa, todos os CDs e minhas coisas haviam caído da prateleira! Foi horrível!

— Uou. Tudo isso?

— Ei, você não acha que estou mentindo, né, Maou? — Ela estufou as bochechas em protesto, fazendo com que ele risse.

— Ah, não, não mesmo. E o que aconteceu depois?

— Então, depois tivemos que limpar todos os pratos e coisas que quebraram! Meu pai estava ligando para vários lugares!

— Ligando para quem?

— Ah é! Meu pai é um policial, mas estava em casa ontem porque tinha tirado uma folga. Antigamente, ele era um diretor regional e um dos contatos de emergência da assembleia da cidade, por isso fez um monte de ligações para todos os seus contatos. O escritório de gerenciamento de desastres do bairro disse que não foi um terremoto grande. Foi uma droga!

— Huh.

— Maou?

— ….

— Ei! Maou!

— Hm? Ah, me desculpe. Só pensei que soou um pouco estranho, sabe? Tipo, só a sua casa foi afetada.

— Pois é, né? Ah, é, a propósito…

— Hm?

Ela estava toda animada até agora há pouco, animada com a conversa, mas sua voz ficou com um tom mais sério, à medida em que olhava com expectativas para seu colega de trabalho.

— Você acabou de dizer que tinha um colega de quarto?

Algo em seus olhos fizeram Maou querer virar o rosto.

— Sim… um velho general meu…. AMIGO, um velho amigo meu. — O “vivendo com pouco dinheiro junto de meu velho amigo” era algo que ele e Ashiya tinham decididos de antemão. Tinha a pequena vantagem de ser quase 100% verdadeiro. Maou suspirou.

— É-É sua… n-namor-

— É um cara, Chi. Só nós dois, vivendo naquele antigo apartamento.

— Hã? Oh? Ohhhhh. Entendi… Sim… entendo. Que bom!

— O que é bom?

— Não, nada! Você… você vive no primeiro andar, Maou?

— Nah, no segundo. Meu amigo não sentiu nada no segundo andar, por isso pensei que não foi grande coisa. Tenho certeza de que o lugar teria balançado todo se fosse grande. E você? Vive em um apartamento ou algo do tipo?

— Não, é… hm, é uma casa. Se…

— Hmm.

— Se… você preferir, nós poderíamos…

— Qual é, crianças.

A conversa foi interrompida por Mayumi Kisaki, gerente do restaurante de Hatagaya. Ela tinha as proporções corporais de uma modelo e era mais alta que Maou. Seu longo cabelo preto, elegante e brilhante o bastante para que ela fosse estrela em um comercial de xampu, estava amarrado, o uniforme colorido do MgRonald fazia maravilhas para acentuar seu corpo.

— Ah! Senhorita Kisaki!

— Sem conversas pessoais durante o trabalho, por favor. Já terminou de checar o local, Chi?

— É mesmo! Me desculpe! Farei isso agora mesmo!

A cada duas horas, alguém precisava andar pela loja para se assegurar de que tudo estava limpo e no lugar. Chiho, com pressa, pegou uma planilha da prateleira abaixo de seu registro e saiu correndo.

— Além disso, é melhor você não a mimar muito, tá bom, Marko?

As sobrancelhas dela estavam franzidas, mas Maou sabia que ela não estava brava de verdade. Contanto que alguém do escritório executivo não estivesse à espreita, ela manteria as coisas mais tranquilas, usando um apelido para se referir a todos os empregados e se recusando a ser chamada de “Gerente”. Era uma das gerentes mais conhecidas do MgRonald. Muitos clientes homens passavam por ali apenas por uma chance de conversar com ela, e ela tinha aparecido várias vezes em panfletos de propaganda. O porquê de uma mulher inteligente e atraente, com um corpo tão bem definido, estar feliz em gerir uma filial de fast food ainda era um mistério. Os únicos segredos que guardava com maior cautela eram sua idade, altura e peso.

— Mas, senhorita Kisasi, você não disse que não era para mim ser tão duro com ela? É bem provável que ela se torne a primeira estudante a se estabelecer em uma agenda de turno regular. Já faz algum tempo que isso não acontece.

Quando Maou terminou sua frase, ambos ouviram um som de objetos variados caindo no piso do outro lado da porta, que dava para a sala dos funcionários, perto das mesas dos clientes, onde o pessoal guardava o equipamento de limpeza e alguns outros acessórios. Ela devia ter se batido em algum desses equipamentos por acidente. O frenético “Me desculpe por isso!” dela podia ser escutado claramente.

— Sim, mas o pessoal do QG está começando a mandar pessoas em segredo para conferir as coisas. Se deixarmos a conversa particular ir muito longe, pode ser que isso volte para nos assombrar mais tarde.

Isso fazia sentido. Até mesmo estranhos, como Emi, estavam espionando o local. Não tinha como saber quem mais poderia estar de olho neles. Porém, Maou nunca viu Kisaki ter que se desculpar com alguém da sede principal, pelo contrário, parecia que eles a evitavam por conta própria.

— Bem, de qualquer forma, Marko, você se importa de dar uma conferida nas estatísticas da tarde para mim?

Maou digitou na registradora, então imprimiu uma lista de recibos e número de vendas durante os períodos lentos entre o almoço e jantar. Kisaki deu uma olhada na lista e assentiu, parecendo satisfeita.

— Boa! Vamos conseguir bater nossa meta diária com facilidade hoje. Bom trabalho, pessoal! Todos vocês ganham uma bebida por minha conta. Vamos manter esse ritmo durante o pico do jantar, pode ser? Ah, Marko, a forma como você tratou aquela cliente agora há pouco vale uma nota dez. Continue sendo um bom exemplo para os novatos, okay?

Além de bater as metas diárias, manter as coisas positivas e animar a equipe, Kisaki ainda era uma mulher de poucas motivações. Por isso ela estava tão disposta a elogiar Maou. Tudo o que ele fazia para melhorar os ganhos e aumentar as vendas era exatamente o que ela queria ver.

Maou acreditava firmemente que superá-la seria o primeiro passo no caminho da supremacia mundial.

— Ah, a propósito, o terremoto de ontem foi forte para você, Senhorita Kisaki?

— Terremoto? Teve um?

Essa foi a atenção que Kisaki deu à pergunta enquanto conferia a quantia de vendas. Ela tinha um apartamento em algum lugar nas proximidades, mas, já que essa foi sua reação, ficava a dúvida se ela sentiu algo.

— Ah, nada para se preocupar agora, eu acho. — Ele sentiu um pouco de culpa por Chiho, mas, por enquanto, sabia que sua principal preocupação devia ser sua conferência noturna, logo após o trabalho. Deveria trabalhar até a hora do fecha, por volta da meia-noite, então, provavelmente, aconteceria no mesmo horário de ontem. Quanto mais pensava nisso, mais sua mente mergulhava na tristeza.

 

Bravo

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