Quando eu conheci minha superior imediata, a Segundo-Tenente Degurechaff do Exército Imperial, que pertence ao exército de ataque rápido do front ocidental, Sétimo Grupo de Assalto, 205ª Companhia de Feiticeiros de Assalto, minha primeira impressão foi que ela parecia uma “vampira”. A pele dela era tão branca que parecia doente, e seus olhos afiados pareciam detestar o sol. Foi uma surpresa e tanto.
Quando eu a vi pela primeira vez, estávamos esperando uma ordem do Primeiro-Tenente Schwarkopf para nos reunirmos. Foi então que uma criancinha apareceu vestindo um uniforme que parecia estranhamente natural para ela. Ela não poderia ser uma cadete, era jovem demais para se inscrever. O boné que ela usava era grande demais para sua cabeça. Qualquer soldado normal que visse essa criança vestindo o posto de segundo-tenente teria que olhar duas vezes.
Quando o nosso comandante de companhia apresentou a Tenente Degurechaff para nós, não senti nada estranho em relação a ela. Não sei explicar direito, mas parecia que ela se encaixava perfeitamente.
Quando ela virou seus olhos frios como gelo para nós, como se fôssemos objetos a serem avaliados, senti um calafrio e me afastei, mesmo sem querer. Alguns poderiam rir de mim por ter medo de uma garotinha, mas esses olhos me lembraram como um gato brinca com um rato, o que me deixou desconfortável. Tive que admitir que a Tenente Degurechaff era muito mais assustadora do que parecia à primeira vista.
Assim como Elya disse, a tenente Degurechaff era uma ás veterana que ganhou inúmeras condecorações por seu distinto serviço, incluindo a Medalha de Assalto de Asas de Prata. Ela tinha uma aura de batalha intensa ao seu redor, e seu rosto era quase de boneca, tão agradável de se olhar. Olhos azuis vazios, cabelos loiros com um toque de cinza escuro.
Talvez seja porque não pegávamos muito sol no Front de Rhine, mas eu pensei comigo mesma que ela parecia uma vampira.
Ela nos instigou, em um tom calmo e profissional que não deixava espaço para mal-entendidos, a declarar nossa graduação, nome e onde servimos por último, e eu senti – apenas um pouco – que queria sair de lá. O Corpo de Cadetes tinha um método simples de categorizar os cadetes. O exército sabia muito bem que voluntários e conscritos não estariam na mesma sintonia, mesmo que treinassem juntos, então dividiram os feiticeiros em duas classes desde o início. O Batalhão C era esperado para eventualmente se tornarem oficiais na academia, e o Batalhão D só completaria seu serviço obrigatório.
Meus dois companheiros de pelotão eram os melhores do Batalhão C.
— Cabo Kurst von Walhorf, Batalhão C de Idal-Stein, 1ª Companhia!
— Cabo Harald von Vist, também do Batalhão C de Idal-Stein, 1ª Companhia!
Falei minha graduação e nome depois dos dois voluntários do Corpo de Cadetes. Não é que eu quisesse ter me voluntariado, mas foi meio frustrante dizer que fui convocada logo após pessoas que se ofereceram para o serviço para servir seu país. Eu não podia simplesmente não me importar como Elya; não era tão durona para rir disso. Ai, meu Deus, por que você precisa me torturar assim?
— Cabo Viktoriya Ivanovna Serebryakov, Batalhão D de Idal-Stein, 3ª Companhia.
Eu me senti meio deslocada como a única que foi convocada. Quer dizer, os cabos Kurst e Harald eram voluntários da mesma companhia. Se seguíssemos o protocolo padrão, os dois caras com experiência trabalhando juntos seriam companheiros e eu me juntaria com a comandante do pelotão.
Por isso que eu estava pensando, enquanto me apresentava, que seria ótimo se não levasse esporro por ser uma conscrita lenta e preguiçosa. Então, fiquei momentaneamente chocada pelo que a Segundo-Tenente disse em seguida.
— Eu te respeito por cumprir suas obrigações, Cabo Viktoriya Ivanovna Serebryakov. Será difícil, mas faça o seu melhor para sobreviver.
Palavras de incentivo inesperadas, e vindas de uma oficial que eu pensava ser tão fria, com olhos mais guerreiros do que qualquer outro que já vi. Por um momento, não conseguia entender o que estava acontecendo e fiquei paralisada.
Enquanto isso…
— Então, para os caras que se alistaram voluntariamente: já que vocês se ofereceram, é melhor não morrerem depois do Cabo Serebryakov e de mim. — Ela falou com um tom calmo e não mudou sua expressão. Mas as palavras que ela disse foram muito pesadas. — Antes de mais nada, quero deixar uma coisa clara. O Império não tem tempo nem recursos para apoiar candidatos a oficiais incompetentes. Na verdade, seria contraproducente fazê-lo.
Ela era diferente de todos os sargentos instrutores. A forma como falava era quase como se fosse uma espécie diferente de soldado imperial. Os valores dela iam contra os que tinham sido martelados em mim desde que eu entrei no exército
— Seria uma história diferente se vocês fossem obrigados a servir contra a vontade porque a nação precisava de vocês, mas vocês são aqueles que entraram na fila para vestir o uniforme da pátria, então contribuam de acordo. Se forem tão incompetentes que não consigam fazer isso, então morram.
Ela deve ter dito tudo o que queria para nós, recrutas mudos e congelados. Depois de dizer ao comandante da companhia que era tudo, ela nos mandou para fora imediatamente porque ainda estávamos lá parados. Antes que pudéssemos perceber, embora tivéssemos acabado de chegar, fomos jogados nas trincheiras e recebendo uma chuva de “presentinhos” periódicos do Exército Republicano.
Chegando lá, fomos submetidos a uma reavaliação de nossas habilidades básicas como feiticeiros. Descobrimos que não estávamos nem perto de merecer nossos salários e que éramos piores do que lixo.
Depois de terem sido “colocados nos eixos” assim, os cabos Kurst e Harald ficaram rebeldes, mas não foram disciplinados diretamente – a palavra-chave é diretamente. Depois que o comandante da companhia e a segundo-tenente mencionaram que simplesmente não podiam cuidar deles nas linhas de frente, a dupla foi designada para a retaguarda.
Depois dessa introdução e um pouco de ação, eu me tornei a companheira da Tenente Degurechaff como a única membro de sua equipe, e voamos juntas.
Enquanto isso, os outros dois cadetes foram transferidos para uma posição melhor. Eles foram promovidos duas vezes e designados para defender a base da companhia na retaguarda. Eles poderiam ficar seguros dentro de um abrigo como reserva e se preparar para a contraofensiva. Mas uma coisa que aprendi enquanto voava era que… para a artilharia, um abrigo imóvel é apenas um alvo resistente.
Foi quando recebemos ordens para flanquear a unidade Republicana tentando romper a linha enquanto estávamos sob fogo supressor da artilharia pesada de apoio deles Meio chorando, pensando que não sairia viva dali, segui os membros mais experientes da companhia, que estavam sorrindo enquanto avançavam. Vi uma base ser completamente destruída enquanto nós escapamos sem nem um arranhão.
De maneira estranha, quase nenhuma granada veio em nossa direção e também não sofremos nenhuma baixa antes de entrar em contato com o inimigo. Depois de passar por isso várias vezes, percebi que a artilharia precisa ser usada de maneira sistemática para ser efetiva.
Isso faz sentido quando eu paro para pensar. Metralhadoras tinham uma chance melhor de atingir aeronaves do que artilharia. Desde que você não se deparasse com uma posição de canhão antiaéreo, as únicas coisas atirando em aeronaves eram metralhadoras. Embora os feiticeiros fossem mais lentos que os aviões, ainda éramos rápidos demais para a artilharia ter tempo de mirar.
Isso provavelmente seria diferente se fôssemos atacar uma posição de tiro ou um bunker e recebêssemos um forte fogo concentrado. Mas nos ensinaram que, quando lutamos em nosso próprio território, a velocidade é fundamental. Tive a sorte de aprender com os Tenentes Degurechaff e Schwarkopf que, à medida que você se torna mais experiente como feiticeiro, fica mais desconfiado em defender uma posição fixa.
Resumindo, a artilharia é o deus em que devemos confiar no campo de batalha; é também o deus que nunca devemos irritar. Não há como sobreviver, a menos que você faça deste deus seu aliado e aprenda a evitar o seu martelo de ferro.
Talvez seja por isso… Minha comandante é uma verdadeira crente no poder de fogo, a personificação perfeita de uma guerra rápida não negociável e, por último, uma feiticeira. A única confiança que ela tem é na artilharia.
Será que os soldados, que são por natureza um grupo de realistas, poderiam acreditar em Deus? Quando escrevi para Elya sobre isso, ela me respondeu: — Então eu sou a deusa da guerra encarregada da vontade divina. — Essa resposta foi tão a cara dela que me fez sorrir. Ela tinha um jeito único de se expressar.
Nós tínhamos olhos e ouvidos, por isso os fiéis devotos agachados na linha de frente, nas trincheiras e nos postos de artilharia foram prometidas as revelações divinas da artilharia.
Com a ajuda dos observadores, nós podíamos pedir fogo para desfazer um ataque inimigo ou para fazer um bombardeio, dependendo da situação. Isso me fez lembrar da Elya, rindo sobre como o trabalho dela era fácil e ela podia apenas ficar relaxando e tomando chá. Mas ela sempre foi prestativa e cuidadosa, então tenho certeza de que ela estava trabalhando duro.
Antes de fazermos um ataque aéreo, o que a companhia mais desejava era o apoio da artilharia. Sempre que recebíamos ordens para contra-atacar o Exército Republicano quebrando nossa linha defensiva, atacávamos seu flanco em sincronia com o fogo da artilharia para desfazer a ofensiva.
Eu já estava acostumada com as batalhas. Só precisava seguir a Tenente Degurechaff avançando na frente como uma recruta. A ideia era sermos parceiras, mas o nosso comandante riu e disse que eu precisava treinar mais.
— Ohhhh, louvado seja Deus. Seu nome é Artilharia! É isso mesmo. Não é um som maravilhoso?
O Primeiro-Tenente Schwarkopf sorria, elogiando a artilharia enquanto as bombas caíam no timing perfeito. Parece que nossos gostos musicais são diferentes – eu só consigo aguentar esses bombardeios intensos sem ficar maluca com o som.
— Sim, é o Deus do Campo de Batalha! Deus atendeu nossos pedidos de rádio!
— Artilharia, artilharia! Tu és nossa amiga! Tu és a nossa salvadora!
Os que seguiam em frente, relaxando suas feições assustadoras, eram os veteranos intensos, mas confiáveis do Primeiro Pelotão. Embora a opinião deles de que a artilharia era nossa salvadora fosse um pouco dramática, eu estava aprendendo que não estava totalmente errado. Podemos ter sido uma unidade de contra-ataque, mas metade do nosso trabalho era conter o inimigo para que a artilharia pudesse acabar com eles.
Se cercássemos eles – a multidão, uma unidade avançada, uma unidade defensiva, ou até mesmo a artilharia inimiga – a artilharia naturalmente destruiria tudo. Ver isso só uma vez já era suficiente pra querer orar. Querido Deus, por favor me conceda apoio da artilharia.
A preparação de artilharia antes de um assalto sempre acalmava corações apavorados. Uma vez, nosso suporte atrasou, então nossa unidade do tamanho de um batalhão, contendo várias companhias de feiticeiros diferentes, teve que enfrentar um escalão1Escalão é uma formação tática em que as unidades são posicionadas em um ângulo em relação à unidade à sua frente, criando uma linha diagonal. Essa formação pode ser usada para melhorar a visibilidade e a proteção das unidades em relação ao fogo inimigo. inimigo… e aconteceram um monte de coisas que eu preferia esquecer.
Nesse sentido, quando havia apoio e espaço suficiente entre o front e a retaguarda, o peso do combate se tornava mais leve. Sim, parece que vou sobreviver mais uma vez.
Enquanto Tanya observa a unidade inimiga através de seus binóculos, os projéteis atingem o solo exatamente onde deveriam, transformando as pessoas em fertilizante. Em outras palavras, essa é a maneira correta de conduzir uma guerra – transformando a vida orgânica em passado através do uso de munições.
— O fogo concentrado de um 120mm é realmente um espetáculo, senhor. Amém.
— Com certeza, Tenente. Deve ser o trabalho em equipe entre um observador talentoso e a artilharia. Eles não perderam tempo antes de disparar com precisão.
As pessoas em qualquer situação acham mais fácil se manterem calmas enquanto as coisas seguem sem problemas, e aparentemente aqueles no campo de batalha não são exceção. As edificantes lições da Escola de Chicago afirmam que todas as coisas podem ser medidas usando a economia, mas é complicado medir e quantificar os efeitos na saúde quando as coisas seguem conforme o planejado. Quando tudo está indo bem, com pouca redundância e sem custos adicionais, é simplesmente maravilhoso.
A situação que se desenrola diante da 205ª Companhia de Feiticeiros de Assalto é um exemplo perfeito. Como o Primeiro-Tenente Schwarkopf havia dito, a artilharia está se desempenhando de forma admirável. Eles devem estar coordenando-se bem, já que a forma como passam de um tiro de calibração para um tiro efetivo em apenas alguns disparos é uma habilidade magnífica.
Graças a isso, quando a companhia chega à sua posição de ataque, o exército inimigo está caindo sob o intenso bombardeio da artilharia. Normalmente haveria uma chance de fogo de retaliação e um duelo de artilharia, mas parece que as armas inimigas estão ocupadas com o fogo supressivo da nossa posição avançada.
— Que sorte a nossa. A artilharia do nosso corpo de exército detonou as tropas inimigas com projéteis de 120 mm, e agora só precisamos dar um jeito nos que sobreviveram.
— Sim, de fato.
É exatamente como Schwarkopf disse – a nossa companhia tem muita sorte. Para a Segundo-Tenente Tanya Degurechaff, é um dia incrível para estar em guerra. Tudo o que precisamos fazer é acabar com a infantaria inimiga que foi dizimada em um campo de batalha onde eles já têm vantagem – é uma missão fácil e conveniente.
— Está quase na hora. Companhia, preparem-se para atacar. Vamos caçar aqueles que a artilharia não abateu.
E assim, seguindo as ordens do seu comandante, Tanya pega seu fuzil carregado com munições imbuídas de fórmulas, coloca-o em seus ombros, pega seu orbe de operação e se prepara para o ataque.
A companhia está em prontidão e ciente de que irão avançar, mas até mesmo os veteranos mais experientes não conseguem evitar ficar ansiosos. O som das engolidas nervosas é familiar nas trincheiras e se sobressai até mesmo sobre as explosões de projéteis próximas.
— Vamos trabalhar. Se ao menos toda vez fosse tão divertido assim!
Para Tanya, ter a chance de lutar contra os restos da infantaria devastada pelo fogo da artilharia sob a liderança de um oficial competente como Schwarkopf é muito bom – pelo menos relativamente falando. As pessoas não lutam em guerras porque querem.
Se você perguntasse se ela se considera feliz, ouviria uma sequência de palavrões dirigidos a Existência X por lançar uma criança tão jovem e inocente neste campo de batalha aleatório. Ainda assim, ela precisa ser objetiva, então não é um erro receber uma situação menos terrível de forma positiva.
— Tenente, não seja exigente com comida, ou você nunca ficará alta.
— Comandante Schwarkopf, eu gosto de ter uma silhueta pequena, já que isso me torna menos propensa a levar tiros.
— Você venceu, Tenente. Essa é a melhor desculpa para ser exigente com comida que já ouvi.
Para Schwarkopf, que está esperando o momento certo para lançar o ataque, a brincadeira com Degurechaff é oportuna. Comandantes mais experientes já sabem que lidar com a tensão pré-assalto é parte fundamental para tudo dar certo, não precisa nem ser historiador para saber.
A 205ª Companhia de Feiticeiros de Assalto de Schwarkopf pode ser composta por veteranos do Front de Rhine, mas até eles ainda ficam tensos antes de um ataque. Então, quando uma piadinha leve relaxa todo mundo um pouco, o tenente aproveita o momento para colocá-los em ação. Ele alerta as unidades de artilharia que estão começando o assalto.
Assim que ele recebe a autorização da Central de Controle, é hora de partir para a ação.
— Beleza, pessoal. Não deixem a Tenente exigente Degurechaff ficar com todas as coisas boas!
Agradecendo a Deus que a companhia consegue se manter calma e rir na cara do inimigo, o Primeiro-Tenente Schwarkopf grita com sua voz bem treinada:
— Avancem! Sigam-me!
Os soldados se levantam de suas posições de assalto e correm em alta velocidade em direção às tropas inimigas, sem se importar com os riscos.
Para a infantaria desprotegida, os feiticeiros que se aproximam rapidamente são uma ameaça tão grave quanto a artilharia. Feiticeiros têm películas protetoras e escudos defensivos que torna difícil derrubá-los com apenas alguns tiros. Eles também podem liberar uma potência de fogo ainda maior do que armamentos pesados. São inimigos difíceis de se combater.
Existem poucas maneiras eficazes de contra-atacar esses terríveis feiticeiros. Uma delas é usando granadas. Se você tiver sorte, um feiticeiro ficará dentro do alcance – e é isso. A melhor maneira é interceptá-los com uma barragem concentrada de fogo. Além disso, as unidades de infantaria não têm muitas opções.
Então, na visão do exército inimigo, cuja estrutura de comando já está em desordem devido ao bombardeio, até mesmo uma companhia subdimensionada de apenas uns dez feiticeiros representa uma ameaça aterrorizante. É provável que já possuam feiticeiros de suporte direto para combater fogo com fogo, porém, mesmo os feiticeiros têm dificuldade em lidar com projéteis da artilharia.
Por sorte para a companhia imperial e azar para o Exército Republicano, os canhões de 120 mm do Império acertaram em cheio os feiticeiros Republicanos voadores, transformando-os em picadinho e espalhando tudo pelo chão.
— Tenha certeza de focar nos comandantes e nas comunicações inimigas primeiro!
Não é óbvio? Tanya pensa consigo mesma, mirando em um grupo de soldados que parecem estar carregando rádios em estilo de mochila. Assim como os outros membros da companhia, ela usa uma fórmula explosiva para dar as boas-vindas aos indesejados convidados Republicanos com o caloroso e acolhedor abraço do fogo e do aço.
Pelo fogo de resposta esporádico, a resistência parece fraca. No máximo, tem um punhado de soldados isolados atirando aleatoriamente. A maioria já desistiu e recuou, então tudo o que temos que fazer é varrer o local.
Normalmente, reforços inimigos em potencial seriam uma preocupação, mas nessa ocasião um grupo misto com outra unidade de artilharia e equipe de ataque móvel já se encarregou disso; agora só precisamos limpar a infantaria que restou.
Isso dá espaço suficiente para Tanya ficar de olho na performance de combate da Cabo Serebryakov. Antes ela só conseguia se certificar que sua subordinada ainda estava atrás dela. Mesmo sob fogo, ela nunca perde sua postura defensiva. Suas manobras ainda são de manual, mas comparado ao mês passado, ela se move como uma feiticeira totalmente diferente. Esse progresso não é nada mal.
Não consigo deixar de lembrar do comentário do Tenente Schwarkopf de que isso aqui é um exercício de combate, usando os trapos esfarrapados do inimigo em colapso como alvos. Mas, na verdade, o melhor treinamento é o combate de verdade.
E pensar que, não faz muito tempo eles estavam ficando verdes e vomitando em todo lugar. É incrível ver como um pouco de treino faz uma diferença absurda.
Nunca subestime o potencial humano. Lembrando dessa lição de novo, Tanya não consegue deixar de refletir sobre a importância da dignidade e da liberdade humana.
Por essa razão, ela tem pena dos soldados Republicanos. Que QG atrasado deve ser esse pra mandar eles atacarem tantos blindados. Já está mais do que provado desde o conflito entre a Federação e o Domínio, no Extremo Oriente, que a força do ferro é maior que a da carne.
A falta de iniciativa é um problema assustador. Sem iniciativa, o potencial vai todo para o ralo. É uma triste ironia que tenham enviado um monte de gente talentosa e trabalhadora ao Império, que provavelmente tinham mais iniciativa que eles, só para serem dizimados.
Chegou a um ponto em que eu queria perguntar se não deveriam reconsiderar e reconhecer o valor do capital humano, seguindo o princípio de mercado.
Infelizmente, toda gente no mundo está presa a contratos. Como soldado imperial, a relação entre Tanya e os invasores Republicanos é de matar ou morrer. É fácil para a propaganda de cada país exaltar o nobre ato de morrer pela pátria, mas eu gostaria que as pessoas também compreendessem a consequência óbvia disso: elas têm que matar os inimigos da pátria.
Quando se trata de desperdiçar recursos humanos valiosos, nada é mais criminoso do que a guerra, lamenta a Segundo-Tenente Tanya Degurechaff, que acabou de tirar o futuro de vários jovens com uma fórmula mágica.
As coisas nunca saem como a gente quer, ela pensa consigo mesma enquanto suas fórmulas transformam impiedosamente os soldados fugitivos do Exército Republicano em detritos orgânicos. A única palavra para descrever essa situação é desperdício. Mesmo que não seja o seu próprio país, Tanya não consegue escapar da sensação de que algo está errado em desperdiçar tantos jovens treinados. Aha, agora entendi por que “a extravagância é o inimigo”. É claro que uma das ironias da história é que um certo país adotou esse slogan e depois desperdiçou seus recursos humanos. Infelizmente, parece que sempre haverá líderes incompetentes que desperdiçam as vidas de seus patriotas mais promissores.
— Nossa, talvez eu precise prestar mais atenção no campo de batalha.
— A artilharia abre caminho, os feiticeiros descem e a infantaria avança. Lembro de ter aprendido isso em uma tarde agradável, quando preferia estar tomando sol em vez de lutar para não dormir em uma palestra sobre a história da guerra. No entanto, não tenho ideia de quando foi exatamente…
Durante o meu tempo no Corpo de Cadetes, as lições pareciam entediantes enquanto eu ouvia sonolenta, mas quando elas se tornaram situações reais, foi horrível. A Tenente Degurechaff parecia desanimada, mas mesmo assim lançou uma tempestade rápida e impiedosa de destruição. Fiquei impressionada com suas habilidades sobre-humanas e chocada ao mesmo tempo. Tudo o que pude fazer foi segui-la voando, mas ela conseguiu lidar com os inimigos que vinham atrás de mim sem receber nenhum dano.
Eu sabia que era inútil pensar em coisas assim em momentos como esse, mas essa situação me fez perceber que se nós duas não estivéssemos basicamente em universos diferentes, ela nunca teria conquistado a Medalha de Assalto de Asas de Prata.
— Comandante da Companhia para todos os soldados. Em trezentos segundos, o bombardeio será retomado. Recuem imediatamente.
E em algum momento, enquanto eu estava distraída, as últimas forças inimigas começaram a recuar. A batalha sempre acabava enquanto eu voava para salvar minha vida. Então, naturalmente, eu me preparei para as ordens usuais de perseguição. Foi um pouco de alívio responder “Entendido”.
Sim, alívio. Alívio por não ter que perseguir os inimigos com remorso. Eu era diferente da Tenente Degurechaff, que conseguia acertar calmamente os soldados em fuga com tiro de precisão óptico ou fórmulas explosivas. Eu estava aliviada porque não precisaria disparar.
Quando eu estava me esforçando para acompanhá-la no ar, eu praticamente entrei em transe, lançando fórmulas aleatoriamente sem tempo para pensar. Mas eu ainda hesitava ao ter que mirar em um soldado em fuga e lançar uma fórmula. Quer dizer… eu me perguntava se matá-los era a coisa certa a fazer.
Claro, como Cabo Viktoriya Ivanovna Serebryakov, eu tenho a obrigação de atirar, mas como Visha, não vejo motivos para fazê-lo.
— Estamos todos aqui. Não houve baixas. Não perdemos nada além do equipamento.
Após o pouso no ponto de encontro, a liberação súbita da tensão me deixou tonta. O único pensamento que passava pela minha mente era o desejo de dormir profundamente.
Apesar de ser uma jovem de idade delicada, eu me perguntei se estava tudo bem, mas na frente de batalha, onde a água era escassa, não era possível esperar um banheiro feminino. A Tenente Degurechaff disse bruscamente: “Vou dormir agora. Boa noite” e foi para a cama. Seguindo o exemplo dela, decidi ficar grata por ter uma cama e me preparar para descansar, pois estava exausta.
Infelizmente, Deus não foi tão generoso. Fomos chamados para nos reunir repentinamente e, antes que eu pudesse perceber, já estávamos todos reunidos.
— Ótimo. Okay, companhia, tenho más notícias.
Uh-oh. Eu não pude evitar ficar tensa enquanto o Tenente Schwarkopf continuava falando com sua atitude objetiva e pouco simpática. Mesmo com minha limitada experiência militar, eu tinha aprendido que não havia sinal pior do que um oficial de comando falando de forma objetiva.
— Recebemos uma mensagem urgente. A 403ª Companhia de Feiticeiros de Assalto entrou repentinamente em uma batalha com duas companhias de penetração de feiticeiros inimigos.
A companhia encarregada de lidar com a próxima onda de inimigos foi atacada. Um novo inimigo atacou as tropas que deveriam estar preparando o contra-ataque. Embora estivesse exausta, a sensação de urgência me deixou alerta, e eu rapidamente compreendi a situação: nossas tropas, a próxima onda de inimigos e o novo inimigo.
— E os reforços?
— A artilharia está detonando eles, mas o observador está sendo perseguido pelos feiticeiros de suporte direto do inimigo e não consegue avaliar direito os danos causados.
Ao ouvir a conversa entre os oficiais superiores, pude prever um futuro terrivelmente ruim. Ah, eu tenho que lutar novamente. Suspirei ao compreender a situação.
— Precisamos nos encontrar com a 403ª. Vamos partir imediatamente.
Era uma coisa atrás da outra. Além disso, não é tão fácil recuperar a vontade de lutar depois de relaxar. O comandante de companhia continuou falando, sem se importar comigo e com meus pensamentos dispersos.
— Simultaneamente, temos a missão de resgatar o observador que está sob ataque e solicitou reforços. A propósito, Tenente Degurechaff, você passou por uma situação semelhante no norte, não foi?
— Sim, senhor, e não gostaria de passar por isso novamente.
Observar para a artilharia era quase como pintar um alvo nas suas costas para os feiticeiros inimigos. Qualquer veterano diria que é crucial eliminar os observadores da artilharia, pois assim as armas não representam mais uma ameaça. Se você é o observador do comandante no campo de batalha, infelizmente, seu destino é ser o primeiro a ser alvejado.
Elya, sua mentirosa. Você não está segura na retaguarda tomando chá!
Os observadores foram alvo de um ataque impressionante pelos inimigos. O que mais me assustou foi que mesmo a Tenente Degurechaff, capaz de atravessar calmamente uma chuva de balas, foi seriamente ferida enquanto atuava como observadora. Os inimigos intensificaram o ataque contra eles de forma significativa.
Uma outra forma de pensar nisso é que esse observador, na mesma posição que a Elya, estava em sérios apuros. Apesar de não fazer sentido algum, uma voz em minha mente me dizia que eu tinha que salvá-lo. Naquele momento, não consegui entender muito bem o que estava sentindo.
Então, eu tinha que me esforçar ao máximo nesta operação de resgate. Determinada, me estiquei e respirei fundo para me animar, Mas senti apenas uma sensação diferente. Por fora, ainda parecia uma jovem exausta.
— Entendo. Nesse caso… é possível realizar o resgate, considerando que a Tenente Degurechaff é uma Asas de Prata condecorada?
— Mesmo sem levar em conta possíveis atrasos, seria difícil.
— Mesmo se você usasse o Modelo 95?
— A Cabo Serebryakov parece estar no limite, mas eu estou bem — respondeu a Tenente Degurechaff, após lançar um olhar para mim enquanto eu estava ali parada, meio tonta e sem reação. — Não quero me tornar uma oficial incompetente que leva sua subordinada numa missão de resgate e acaba perdendo ambos, ela e aquele que estamos tentando salvar.
— Então, separe o par. Não, esquece.
A emoção contida em suas palavras era difícil de definir. Talvez decepção, talvez preocupação, mas, no fim, o que ela simplesmente afirmou era ser impossível. E a forma como o Tenente Schwarkopf mudou de opinião durante a resposta disse tudo. Um par era a unidade básica.
Se a Tenente Degurechaff voasse sozinha na missão de resgate, eu teria que enfrentar uma batalha aérea com pelo menos duas companhias de feiticeiros. Era previsível que as unidades do outro lado da fronteira tivessem reforços. Sem a ajuda de um companheiro, minhas chances de sobreviver como uma recruta sem apoio eram escassas.
Mesmo que eu quisesse participar da missão, estava parada ali, cansada e distraída após o último ataque. Foi por isso que eles rejeitaram a ideia, essa foi a razão da hesitação deles.
Quando percebi isso, gritei. Eu não entendia muito bem a urgência. — Comandante, se me permite!
— Cabo Serebryakov?
— Gostaria de me voluntariar! Eu me ofereço para a missão de resgate!
O Tenente Schwarkopf pareceu desconfiado. Bem, eu havia interrompido meus oficiais superiores, o que poderia resultar em uma punição. Nunca imaginei que faria algo tão impulsivo, que teria esse tipo de coragem.
— Cabo.
— Eu também sou uma soldado Imperial! Embora seja presunção minha dizer isso, acredito que posso lidar com essa missão!
A repreensão curta e habitual da Tenente Degurechaff geralmente me deixaria sem reação, mas até o tom áspero dela não conseguiu me deter desta vez.
— Comandante, por favor, deixe-me ir!
— É o que ela diz, tenente.
— Tenente Schwarkopf?!
Seu grito de surpresa e seus olhos, geralmente semicerrados de desinteresse, agora estavam completamente abertos. A maneira como ela reagiu a essa resposta inacreditável a fez parecer mais próxima da menina de dez anos que ela era.
Pelo visto, até mesmo uma pessoa que aparentava ser tão fria por fora estava preocupada com seus subordinados.
— O esquadrão do Schones irá escoltar você. Mexam-se.
— Mas…Tenente.
— Ela tomou a decisão dela. Entendo sua preocupação, Tenente, mas continuar assim só a torna superprotetora.
A Tenente Degurechaff parecia surpresa. Talvez ela seja mais emotiva do que aparenta. O pensamento era impertinente, mas suas expressões eram tão engraçadas que eu não pude evitar. Embora não fosse o que eu deveria estar me concentrando no momento, senti que entendia um pouco melhor minha amiga que zombava das minhas caras engraçadas.
A frieza da Tenente Degurechaff, semelhante à de um vampiro, desapareceu e foi substituída por um pouco de angústia.
Foi estranho perceber naquele momento o quanto eu era inesperadamente importante para ela. E um pouco tarde demais, também percebi como era jovem a garotinha que estava cuidando de mim.
— Entendido. Farei o meu melhor.
— O sonho de todo feiticeiro é salvar o dia em uma crise. Desejo-lhe boa sorte!
— Para você também, Comandante.
Com isso, o corpo principal da companhia partiu. A Tenente Degurechaff os acompanhou até a partida e, em seguida, voltou-se para mim com um sorriso de admiração.
— Bem, então, Cabo. Você está pronta?
Era um sorriso sincero. Por alguma razão, ao vê-lo, não pude deixar de imaginar seus dentes afiados como os de um vampiro. Mas ainda assim, sorri de volta, com orgulho e confiança. Sim, decidi que não abandonaria ninguém.
— Sim, Tenente.
— Ótimo. Então é hora de trabalhar. Sargento Schones, sua equipe será muito útil para mim.
— Com certeza. Nós temos mais experiência no Front de Rhine do que qualquer outra equipe.
— Maldita inteligência! Como eles podem dizer que esta área está mal defendida?!
Os combatentes inimigos exibiam agilidade e graça à distância, porém, na realidade, os feiticeiros imperiais realizavam desesperadamente manobras evasivas enquanto o observador inimigo disparava sua fórmula óptica junto a uma chuva de mana. Este era o quarto tiro disparado e os inimigos já haviam eliminado outros observadores, mas isso não impactou em nada a precisão da artilharia. Pelos sons, os projéteis disparados provavelmente eram de calibre 120 mm, com o pior cenário sendo de 180 mm ou 240 mm.
As forças terrestres que tentavam se retirar da área de combate estavam em completa desordem, e o inimigo estava aproveitando a oportunidade ao máximo. A formação de brecha utilizada pelos soldados pode até ter sido vantajosa em termos de velocidade, mas tornou-os extremamente vulneráveis ao fogo inimigo.
A única vantagem que eles possuíam era o suporte direto de feiticeiros, permitindo que se concentrassem em romper a linha inimiga. Infelizmente, a equipe de controle não estava em condições de auxiliá-los, o que resultou em interceptações tão ineficazes quanto se estivessem atirando às cegas.
Apesar de terem eliminado os observadores inimigos solitários, é possível que um alerta tenha sido emitido. As interferências possuem limites de efetividade. Já se passou tempo o suficiente para supor que uma força de interceptação ou reação rápida esteja a caminho. Na pior das hipóteses, sua própria retirada poderia ser bloqueada, além da retirada das tropas terrestres. Este é o tempo que já passou.
— Se tem tempo para tagarelar, lance algumas fórmulas! Seus desgraçados!
Para apoiar a retirada de sua infantaria, eles precisavam neutralizar a artilharia inimiga. No entanto, o problema que se apresentava era como fazer isso, visto que a artilharia inimiga parecia ser de nível de corpo de exército devido ao tamanho do bombardeio. A maneira mais simples de lidar com a situação seria atacá-los, mas essa não parecia ser uma tarefa fácil.
Tradução: Rlc
Revisão: Pride
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