Ao construir uma nova arma, não bastava simplesmente implementar a tecnologia mais recente. O custo de produção, a facilidade de manutenção e a taxa de capacidade operacional eram todas questões de vida ou morte. Mesmo assim, muitos elementos eram difíceis de avaliar sem utilizar a arma em combate real.
Para o Estado-Maior, o combate contra a República de François que havia eclodido no oeste foi um desastre horrível, mas para a equipe de desenvolvimento do Modelo 95, significava uma chance muito esperada de experimentar o orbe no campo. Os engenheiros aguardavam ansiosamente os resultados, e o Modelo 95 se mostrou superior às expectativas.
— Como foi a batalha?
— Muito bem. Seis foram abatidos, três derrotados e três desaparecidos. De acordo com o esquadrão de observação, é altamente improvável que os desaparecidos consigam voltar para sua base.
Eles assumiram que seria impossível. Afinal, o experimento só havia tido sucesso graças a um milagre. Mas o teste produziu resultados surpreendentes. As conquistas do Modelo 95 eram dignas de todo o elogio que o animado pessoal de tecnologia estava dando. Eles mal conseguiam parar de sorrir.
Certo, a habilidade do usuário fez uma grande diferença. A Segundo-Tenente Degurechaff certamente tinha as habilidades de um portador da Medalha de Assalto de Asas de Prata, mas somente isso não deveria ter sido suficiente para superar uma desvantagem tão grande e obter resultados tão impressionantes.
— Ela eliminou praticamente uma companhia inteira sozinha.
Ela não derrotou todos os feiticeiros, mas ainda assim conseguiu repelir a unidade inteira. Ela era simplesmente superior em um nível fundamental, nada mais. Os valores teóricos indicavam possibilidades, mas ela os transformou em realidade.
— Sim, e pensar que chegou tão longe…
Do ponto de vista comum, os resultados foram incríveis. O orbe foi completamente revolucionário. Essa inovação tecnológica abriu portas para um universo inteiramente novo de combate.
— Certo. Considerando o histórico da Elinium Armamentos, eu esperava que houvesse grandes problemas.
Os oficiais que questionaram a continuidade do desenvolvimento agora estavam comentando com admiração, quase se depreciando. Eles estavam tão preocupados com esse negócio, mas quando viram como era realmente, os resultados foram tão bons que todos os fracassos anteriores poderiam ser perdoados. Se o orbe pudesse ter um desempenho tão bom, tudo ficaria bem. Eles até poderiam reduzir o custo por meio da produção em massa.
— Ah, tem problemas, com certeza.
O departamento de tecnologia jogou um balde de água fria na empolgação deles e na sua admiração. Eles entendiam muito bem os sentimentos da Operações. Estavam animados com a tecnologia revolucionária, esperando uma melhoria igualmente revolucionária na qualidade, mas infelizmente era apenas um sonho distante.
Eles tiveram que tirar todo mundo do sonho.
— Como assim? Foi muito melhor do que a gente esperava de um feiticeiro solitário.
— Exato. Esse negócio poderia mudar o combate de feiticeiros como a conhecemos.
Com certeza, o Modelo 95 foi um sucesso incrível. Era um fato. Em termos de desempenho, estava tão avançado que poderia ser considerado um orbe da próxima da próxima geração. Isso foi possível graças à sincronização de quatro núcleos. A demonstração do motor de quatro núcleos concentrando mana em combate real e as possibilidades que isso abre foram o suficiente para deixar a Operação animada.
Afinal, a tecnologia para estabilizar a mana e armazená-la como munições tinha um valor tático imenso. A capacidade de usar livremente a mana armazenada removia efetivamente a barreira da capacidade de mana.
— O que eu entendi é que todas as preocupações e críticas levantadas no passado foram provadas falsas em combate real — murmurou um oficial do Estado-Maior.
Realmente, os resultados falam por si. A sincronização de quatro núcleos tornou possível uma saída quádrupla, elevando o potencial de combate a um novo nível. Quando viram que a tecnologia era útil, a Operação precisava tê-la.
— Só teve um sucesso até agora. O projeto foi um fracasso enorme, a menos que a gente diga que o objetivo era só testar a tecnologia mesmo.
Mas os engenheiros não implantaram o Modelo 95 para convencer o exército a adotá-lo. Eles só queriam ver quais tipos de problemas surgiriam no uso de campo real, então quando a guerra estourou no oeste, eles o enviaram para o fronte. Eles se concentraram na tecnologia e nem sequer consideraram produzi-la em massa.
— O que aconteceu nos outros casos?
O caso mais bem-sucedido foi também o único bem-sucedido. Se alguém perguntasse sobre a possibilidade de produção em massa, teriam que levantar dúvidas sobre se conseguiriam reproduzir o sucesso. Os usuários da tecnologia mágica já eram poucos e escolhidos, mas mesmo assim, um orbe com apenas um operador bem-sucedido não teria muitas chances de ser produzido em massa como uma arma.
— Em um dos testes mais desastrosos, houve uma explosão no laboratório, e perdemos um pelotão inteiro.
As coisas explodiam constantemente, um circuito defeituoso fazia com que se autodestruíssem. De acordo com os testes reais de combate, se alguém conseguisse revestir o orbe com mana, ele poderia aguentar o tranco. No entanto, a taxa de sucesso desse passo crítico era desesperadamente baixa.
O pior acidente ocorreu durante uma falha de sincronização; quatro vezes a quantidade normal de mana explodiu e obliterou o pelotão que estava realizando os testes, um grupo de elite que incluía instrutores da Central e membros do Corpo de Inspeção de Tecnologia Avançada.
— Mas ele pode disparar rajadas de mana… não é? Isso é muito atraente para desistir.
— A única pessoa que pode usá-lo é a Tenente Degurechaff. O melhor que qualquer outra pessoa conseguiu foi não explodir.
Como desenvolvedores e engenheiros, eles tinham a obrigação ética de resistir. Mesmo os engenheiros que solicitaram continuar a pesquisa só se importavam com a revolução tecnológica. Depois que suas mentes curiosas foram inspiradas impulsivamente, o Engenheiro-Chefe von Schugel e sua equipe passaram seus dias focados apenas em testar os limites do que era possível. Mas quando paravam para pensar com calma, eram eles que melhor entendiam os perigos e dificuldades do orbe.
Claro que entendiam, foram eles que construíram.
— Mas vocês têm um caso bem-sucedido, né? Não dá pra replicá-lo?
— Eu te falei que a Elinium Armamentos quase desapareceu! O sucesso da Tenente Degurechaff foi pura sorte, mas como engenheiro, não deveria estar dizendo isso. Ainda nem sabemos exatamente o que aconteceu.
Analisando os valores observados, ficou claro que a condensação de mana através da sincronização de quatro núcleos era ainda mais perigosa do que se pensava. O experimento foi um sucesso milagroso, mas eles mediram tanta mana que, se o teste tivesse dado errado, a fábrica da Elinium inteira teria sido explodida. Era óbvio para qualquer pessoa com um pouco de bom senso que não podiam continuar falhando em um experimento que poderia causar tanta destruição.
— Pura sorte?
— Quando uma reação descontrolada de mana estava prestes a derreter os núcleos, as ondas de interferência se harmonizaram e, a poucos instantes da liquefação, os núcleos se sincronizaram.
Para os engenheiros, o resultado foi frustrante. Eles não sabiam como, mas conseguiram ter sucesso. Por alguma sorte incrível, a mana incontrolável simplesmente se ajeitou; era tudo o que eles conseguiam entender. Mesmo que quisessem verificar os resultados mais a fundo, tudo o que poderiam dizer era que foi uma coincidência.
Daria pra falar que talvez fosse possível conseguir os mesmos resultados se perdessem o controle da mana e depois ajustassem tudo direitinho… Mas isso seria só uma suposição. Era impossível tirar qualquer conclusão a partir desses resultados. Não dava pra replicá-los de jeito nenhum. Era como ver um raio cair e esculpir uma escultura incrível, e depois tentar recriar a mesma coisa com as nossas próprias mãos.
— Então a mana descontrolada se estabilizou sozinha. Basicamente, foi uma coincidência milagrosa.
O fato de o engenheiro-chefe Schugel mencionar no relatório do experimento “Devemos nosso sucesso ao poder de Deus”, o que mostra a extensão desse milagre. Algo que era, por direito, impossível, aconteceu e isso ocorreu além do alcance da compreensão humana.
Mesmo o Engenheiro-Chefe Schugel, responsável pela criação do Modelo 95, desistiu de continuar o desenvolvimento, dizendo “ir além seria blasfêmia, um ato insolente contra Deus”. Até os técnicos mais experientes concluíram que provavelmente seria necessário ser escolhido por Deus ou algo parecido para usar o orbe de operação, o que demonstra o quão difícil era.
— O que isso quer dizer?
— Estamos usando algo que não compreendemos, e não tem sido nada fácil.
Em outras palavras, era isso basicamente tudo o que eles sabiam. Seja desvendando o princípio por trás do orbe ou reproduzindo-o, seria necessária uma quantidade enorme de tempo e esforço, e além disso, a probabilidade de sucesso não valia a aposta, não importando como eles a calculassem.
— Seria melhor glorificar a Tenente Degurechaff como uma heroína.
— Concordo. Isso pode nos ajudar muito.
Felizmente, a Segundo-Tenente Degurechaff havia ganhado sua Medalha de Assalto de Asas de Prata bem jovem, na verdade, bem nova mesmo. Elogiar suas habilidades para a publicidade seria muito mais fácil do que tentar exibir o orbe com defeito.
Eu, Viktoriya Ivanovna Serebryakov, acordo cedo.
— Visha! Levante-se, Visha!
— Urgh, bom dia, Elya.
Na verdade, isso acontece porque minha linda amiga sempre me acorda. A sempre gentil Elya é mais alta do que eu e tem curvas nos lugares certos, mesmo sendo tão magra. E o melhor de tudo é que ela não fica desanimada de manhã, está sempre cheia de energia.
Eu sou só um pouquinho mais baixa que ela e tão magrela quanto! Deus é tão injusto. Eu e Elya temos o mesmo estilo de vida, então não entendo por que algumas partes do corpo dela são tão mais desenvolvidas que as minhas.
Qualquer um que acabou de sair do Corpo de Cadetes quer ficar o máximo possível dormindo em suas camas quentinhas. Isso porque uma das poucas coisas divertidas da escola de cadetes é ficar acordado a noite toda batendo papo com seus amigos do dormitório. Elya é uma das garotas que adora isso. Eu geralmente vou dormir antes dela.
Mas então ela sempre acorda mais cedo. Como isso faz sentido? Acho que é apenas uma daquelas diferenças entre as pessoas. Não posso fazer nada a respeito, por mais que tente.
Eu provavelmente pareço odiar minha amiga bem-humorada, mas na verdade, não odeio.
De forma geral, ingressar no Corpo de Cadetes é voluntário, mas qualquer pessoa elegível para se tornar feiticeiro é basicamente forçada a se alistar e jogada na batalha. Então, esse cadete azarado estava amarrado às regras mais rígidas e continuamente repreendido por sargentos demoníacos. Claro que na época eu culpava Deus, mas não conseguia ficar brava quando conheci uma grande amiga.
— Infelizmente, hoje é o último dia que vou passar com minha boa amiga. Ainda não caiu a ficha, mas hoje vamos ser mandadas para nossas unidades de combate. Espero que a gente seja escalada juntas, mas sei que é pedir demais.
Parece que não estamos vestindo nossos uniformes, mas sim que nossos uniformes é que estão nos vestindo, mas ainda assim somos soldados de verdade. Por alguma razão, o destino nos deu um potencial mágico.
E assim, nós nos tornamos feiticeiras do Exército Imperial, orgulho do Reich. Bom, tecnicamente, ainda somos novatas. Antes que eu percebesse, fui designada para o dormitório do Grupo de Exércitos do Oeste como reforço para o Front de Rhine.
Minha função como soldado é servir incansavelmente no oeste como um escudo para a amada pátria nesse momento crítico… ou algo assim. Também sou uma súdita imperial, então acho que talvez devesse lutar por meu grande país, mas não parece certo. Talvez seja apenas natural, já que nasci na linda e branca Moskva. Bem, os restos nebulosos da minha memória são apenas uma torrente de vermelho, o que não é muito divertido. Meus pais pediram ajuda aos parentes, felizmente conseguimos escapar do país e essa é a minha história. Eu era muito nova para realmente lembrar muito, mas posso não ter qualificações em comparação com os soldados imperiais nascidos aqui.
Dito isso, sou tão grata à minha tia e ao meu tio por me acolherem. Em segundo lugar, sou grata a Deus por me dar o meu pão de cada dia.
— Vamos comer!
Nossa alimentação aqui é diferente da retaguarda, mas eu já me acostumei com os vegetais não tão frescos e as comidas enlatadas que você costuma encontrar nos refeitórios dos oficiais não comissionados próximos ao front. No primeiro dia, eu chorei porque a comida tinha um gosto tão ruim quanto as rações militares, mas ultimamente tenho gostado muito dela.
— Visha, você ouviu que o pelotão ao qual você foi designada vai ter um novo comandante?
A hora da refeição é legal porque podemos conversar. Dadas as circunstâncias, não é surpresa que estejamos interessados em discutir nossas atribuições.
— Sério? Não é um momento estranho mudar o comandante?
— Com certeza é verdade!
— Calma, Elya.
Claro, muito do que se fala é fofoca. Eu ouvi dizer que quando você se torna veterano, pode acabar sabendo da sua própria atribuição e da dos seus amigos, e aposto que é verdade. Mas, como você pode imaginar, os feiticeiros recém-formados no Corpo de Cadetes, meros oficiais não comissionados, ainda não têm muita noção de como as coisas funcionam no exército.
Ainda assim, estou interessada na minha atribuição e minha amiga tem uma habilidade incrível de ouvir as coisas por acaso.
— Mas sério mesmo? Nós somos reforços. Eles realmente criariam um novo pelotão para a linha de frente?
— Logicamente, não, mas deve ser verdade, Visha. Ouvi oficiais falando sobre isso!
Eu fico pensando onde é que a Elya arranjou essa informação toda. Não é como se fossem professores de escola primária falando sobre suas turmas; será que os oficiais da equipe falam mesmo sobre as atribuições na frente de outras pessoas? Melhor não ficar pensando demais nisso.
— Elya…às vezes eu me pergunto se você é uma ninja do Extremo Oriente.
— Hahaha. As mulheres têm seus segredos, Srta. Serebryakov.
— Bom, tanto faz. Então, você sabe onde esse novo pelotão será enviado?
— Ah, então… não é um pelotão novo, mas uma substituição para um que foi eliminado. Mas você ficará bem. Supostamente, o comandante é um veterano com Asas de Prata.
Por um segundo, não entendo o que ela disse. Eu sou normalmente descontraída, mas quando eu volto à realidade, fico tão chocada que não consigo evitar uma reação instintiva.
— Asas de Prata…? Você quer dizer a Medalha de Assalto de Asas de Prata?!
— Caramba, seus olhos estão arregalados.
— O quê?!
— Visha, suas expressões faciais são sempre tão engraçadas.
Vou ter que agradecê-la depois por ter mantido o riso contido para que não chamássemos a atenção dos outros. Mas caramba, alguém que ainda está vivo conseguiu a Medalha de Assalto de Asas de Prata… Um soldado imperial incrível? Está mais para um ser humano incrível.
— Você deve saber sobre sua própria atribuição, certo?
— Sim, eu vou apoiar a artilharia como parte de um esquadrão de observação. Mas é claro que vou estar fazendo chá nos bastidores!
— Ei… nunca se sabe o que pode acontecer se você não tomar cuidado.
Tudo bem, mas saber que minha amiga estará em um lugar seguro me deixa com inveja, mesmo assim estou aliviada.
— Ih, se a gente continuar enrolando assim, nosso tempo vai acabar. Anda, vamos comer logo, Visha!
— Sim, você tem razão… Ei, cadê meu caramelo?
— Ah, você ainda não tinha comido, então eu te ajudei.
Sim, esta garota maluca é minha querida amiga.
— Remanejamento?
Vou ser transferida do departamento de pesquisa tecnológica e deixarei de ser tratada como um cobaia, como testadora dedicada do orbe de operação Modelo 95. A Segundo-Tenente Feiticeira Tanya Degurechaff tem esperado por essa notícia por dias que pareciam anos e está animada para aceitá-la. Sua solicitação finalmente, finalmente , deve ter sido aprovada. Minha mente será liberada. Vou sair daqui e ir direto para o novo local de trabalho.
— Sim, remanejamento. Acho que a cúpula não vai deixar um ás por aí à toa. Você será a comandante do Terceiro Pelotão da 205ª Companhia de Feiticeiros de Assalto.
Levando em conta que os recursos estão tão baixos que até a unidade de instrutores precisa se juntar à batalha, não tem nada que eu possa fazer para evitar acabar na linha de frente. Na verdade, como alguém recém-saída da academia, liderar um pelotão, mesmo no meio da batalha, é muito melhor do que ser usado como cobaia.
Finalmente, pelo visto terei subordinados. Agora posso delegar tarefas que teria que lidar sozinha no passado. E, no pior dos casos, mesmo que perca a simpatia dos superiores, usar eles como escudos humanos é uma opção. Minha maior esperança é que não sejam incompetentes, mas de qualquer forma, isso é motivo para comemoração.
— Parabéns, Tenente. Não é tão grandioso quanto as Asas de Prata, mas em reconhecimento às suas conquistas recentes, decidimos te premiar com a Medalha de Assalto Aéreo.
— Obrigada, senhor. — Tanya presta continência alegre com um sorriso que a faz parecer a garotinha que é.
Animada, eu volto para o dormitório e começo a arrumar a bagagem. Claro, soldados não têm muitos pertences pessoais para começar. Mesmo sendo biologicamente feminina, Tanya acha que roupas limpas e arrumadas são boas o suficiente. Na verdade, ela só tem seus uniformes como roupas. Como nenhum dos tamanhos disponíveis serve nela, ela só precisa solicitar uma permissão de vestimenta e mandá-los fazer sob medida.
Em menos de uma hora, arrumo minha bolsa de viagem de oficial. Rapidamente aviso ao responsável pelo dormitório onde estava hospedada durante minha missão temporária sobre a transferência, mostro-lhe minhas ordens e agradeço por ter cuidado de mim enquanto estive lá. Com isso, concluo meus preparativos para a mudança.
Eu parto direto para a minha unidade designada. Essas são ordens de combate, então não há tempo para as chatas obrigações sociais como festas de despedida, tenho que chegar o mais rápido possível. Depois de receber permissão para decolar da Zona de Identificação de Defesa Aérea, pego minha bolsa e acelero pelos céus em direção ao ponto de encontro designado.
Felizmente, apesar da crise que o exército está enfrentando, estou apenas me deslocando entre bases na retaguarda. O voo foi tranquilo e menos de duas horas após a minha partida, eu cheguei e me apresentei ao meu novo comandante de companhia.
— Segundo-Tenente Feiticeira Tanya Degurechaff, comandante do Terceira Pelotão da 205ª Companhia de Feiticeiro de Assalto, apresentando.
— Agradeço por ter vindo, Tenente. Antes de mais nada, deixa eu te dar as boas-vindas. Eu sou o comandante da companhia, Primeiro-Tenente Ihlen Schwarkopf. — Ele confirma que eu cheguei conforme as ordens e finaliza as formalidades enquanto me dá as boas-vindas. Embora mantenhamos a formalidade exigida pelos regulamentos militares, nos avaliamos casualmente. Ambos somos soldados e sabemos que não podemos escolher nossos companheiros de batalha. Por isso, é lógico assumir que, se não nos conhecermos, teremos dificuldade em sobreviver no campo de batalha.
— Senhor, é um prazer por servir sob o seu comando.
— Ótimo. Não vamos mais enrolar, Tenente Degurechaff. Você já liderou um pelotão antes?
Uma coisa que deixa Tanya feliz à primeira vista é que seu comandante parece ser um feiticeiro super ortodoxo. Ele é primeiro-tenente. Pela idade dele, ele já deve ter servido um bom tempo. E pelas medalhas que ele está usando, é fácil deduzir que ele tem muita experiência em combate.
As condecorações que o engrandecem por sua participação em vários conflitos menores, em especial, fornecem um certo nível de segurança. Então, minha primeira impressão é de que ele não é um superior incompetente, o que seria mais assustador do que o inimigo. Como não posso escolher meu comandante, se ele acabar sendo como o lendário soldado que arruinou o front de Birmânia e Infal1A Batalha de Imphal(Infal) foi um confronto crucial na campanha da Ásia Oriental durante a Segunda Guerra Mundial, travada entre as forças Aliadas e as forças japonesas na cidade de Imphal, no nordeste da Índia, entre março e julho de 1944. A batalha foi uma das mais sangrentas e decisivas da guerra no teatro asiático, resultando em uma grande derrota para os japoneses e impedindo seus esforços de invadir a Índia., posso decidir tomar uma atitude e lamentar o “infeliz acidente” resultante.
— Esta será a minha primeira vez, senhor.
Schwarkopf também está observando Degurechaff. Ele não pode negar que ficou um pouco surpreso ao ver uma garotinha aparecer diante de sua mesa no escritório do comando da companhia. Tudo o que ele ouviu é que enviariam um feiticeiro de uma unidade de instrutores da Central que tem experiência de combate no Front Norden.
Schwarkopf achava que iriam lhe enviar um veterano experiente. É razoável supor que um segundo-tenente de uma unidade de instrutores teria ascendido a partir do posto de suboficial, e um veterano deveria ser confiável em qualquer situação. Além disso, como portador da Medalha de Assalto de Asas de Prata, quem quer que os superiores enviassem teria que ser um soldado capaz, com muita experiência em combate. É por isso que, quando Schwarkopf viu essa garotinha mais jovem que sua filha se apresentando muito bem, ele se perguntou o que faria com o pelotão difícil. Sua intenção original de dar o comando a ela havia dependido de sua expectativa de que ela seria uma veterana…
— Tenente, vou ser sincero.
Se as informações não estiverem erradas, a segundo-tenente esperando em posição de sentido é uma soldado valiosa que se destacou muito em batalha, e foi enviada para lidar com a situação difícil no front ocidental. Mas ser um bom jogador não é a mesma coisa que ser um bom treinador, e Schwarkopf teme que essa situação seja semelhante.
— A 205ª Companhia de Feiticeiros de Assalto deveria ter três pelotões, mas durante os primeiros dias da guerra, nossos números caíram para menos de dois, e desde então temos operado com falta de pessoal
Para substituir os homens perdidos, um novo comandante de pelotão e novos membros foram designados para a companhia. Schwarkopf sabe que não pode reclamar, mesmo que cada membro do pelotão seja um recruta inexperiente, mas é exatamente por isso que ele esperava que o comandante fosse um veterano experiente.
— Você consegue comandar um pelotão de recrutas recém-saídos do Corpo de Cadetes?
Para retratar a situação atual de uma forma negativa, o pelotão será comandado por uma criança e composto por novatos. Isso não apenas seria ineficaz, mas também um peso morto – pior do que um peso morto. É óbvio que se as forças do Império pudessem fazer guerra e ao mesmo tempo tomar conta de crianças, não estariam passando por tantas dificuldades.
Ele faz a pergunta parcialmente por dúvida; se uma mudança imediata de pessoal é necessária ou não dependerá da resposta dela.
A resposta de Degurechaff é simples: — Me dê as ordens. — Ela mantém sua resposta curta e fala em um tom calmo e objetivo. No entanto, seus olhos brilham de um orgulho quase arrogante, rejeitando as dúvidas de Schwarkopf sobre sua capacidade. — Eu lhe darei resultados.
A resposta dela também mostra sua autoconfiança inabalável. Isso supera suas expectativas. O primeiro passo em direção à confiança é acreditar que, se esta veterana de combate diz: “Me dê as ordens”, a ordem será cumprida.
— Bem, você tem a Medalha de Assalto de Asas de Prata. Estou esperando muito de você!
— Sim, senhor!
Um portador vivo da Medalha de Assalto de Asas de Prata da unidade de instrutores é digno de tanta confiança.
Tanya, por sua vez, acha que Schwarkopf só aceitou sua resposta por causa da medalha que ela está usando. Em outras palavras, ele parece valorizar Tanya como Segundo-Tenente somente por causa da condecoração que ela recebeu.
Nesse sentido, Tanya é realmente grata por ter recebido as Asas de Prata. Além do apelido “Prateada” que vem com ela (o qual eu nunca quis em primeiro lugar e estou mais do que ansiosa para me livrar), e dos exames de sanidade que são obrigatórios, nada em minha situação atual é prejudicial, e eu tenho uma boa reputação.
Bom, acho que vou ter que aceitar. Tanya, por trás da cara de soldado, é calculista. Mas é melhor ter gente me tratando bem e me elogiando do que sendo hostil e me xingando, né?
— Certo. Vou explicar a situação.
— Sim, senhor.
Depois que eles tiveram boas impressões, decidiram confiar um no outro por enquanto para que possam se concentrar em seus respectivos trabalhos. Agora é hora de trabalhar.
— Como você sabe, as principais forças do Grande Exército estão sendo reorganizadas e montadas às pressas.
O Império ficou em desordem imediatamente após o ataque surpresa da República de François, mas em geral, se saiu bem nas primeiras batalhas. Mas isso não significa que as tropas não estejam sob pressão, a política de defesa nacional prevê uma estratégia de linhas internas. Nesse sentido, embora seja verdade que o Grupo de Exércitos do Oeste tenha recebido reforços das unidades restantes na Central, eles cumpriram seu dever de atrasar o inimigo completamente.
— Embora seja esse o caso… vai levar um tempo para chegar à frente ocidental.
Há apenas um problema: As reservas e as tropas fixas, que deveriam ser a força de contra-ataque, foram todas investidas no norte. Os principais membros do Estado-Maior queriam resolver a questão de Norden com uma única investida, mas o plano original de defesa nacional está se desmantelando.
— O que o Grupo de Exércitos do Oeste pode fazer é torcer para que cheguem logo, mas precisamos assumir que vai demorar um pouco.
No plano original, o Centro deveria enviar três divisões em até 24 horas após receber as ordens de mobilização, incluindo uma divisão da Guarda Imperial como vanguarda, e em até 72 horas, mais sete divisões deveriam seguir. Em cerca de uma semana, o Grande Exército investiria uma força enorme – com vinte divisões de suas tropas regulares honradas e reservas suficientes para sessenta divisões.
Por isso, o Grupo de Exércitos do Oeste nunca achou que teria que segurar o inimigo por conta própria durante um mês. E, já que não têm os reforços que estavam previstos, mesmo se lutarem apenas para atrasar o avanço inimigo, precisarão fazer isso sem sofrer muitas baixas.
O único plano que o Grupo de Exércitos do Oeste tem é se defender e resistir em larga escala.
O Estado-Maior esqueceu que ao investir o Grande Exército em Norden, o preço seria mais alto do que qualquer um imaginou.
O fato é que os superiores mobilizaram a unidade de instrutores na tentativa de estabelecer defesas no oeste, o que mostra o quão desesperados eles estão. Eles até enviaram o Modelo 95, que é um segredo militar e não deveria ter deixado o laboratório, sob o pretexto de avaliação contínua com Tanya; na verdade, eles só queriam poder de fogo.
Talvez a situação de guerra em rápida mudança não lhes tenha deixado escolha, mas se eles estão tão agitados que não conseguem priorizar a confidencialidade, não vão conseguir executar o plano de defesa como foi concebido.
O Grande Exército, que é a força principal de ataque imperial, foi todo deslocado para o norte por causa de um erro de julgamento estratégico. Isso foi um erro muito grande do ponto de vista militar, mesmo que demore pouco tempo para reorganizar e reposicionar as tropas.
— Como está indo a mobilização do Grande Exército?
É óbvio que suas dificuldades derivam da falta de um plano para essa necessidade imprevista de mobilização das tropas. Mesmo uma operação minuciosamente calculada é difícil de executar sem problemas, então lidar com essa situação de improviso parece quase impossível.
Com certeza, o ritmo atual de mobilização não é ideal. Nessa situação, o atraso dos reforços e o impacto subsequente na frente são questões de vida ou morte para o Grupo de Exércitos do Oeste, além de serem preocupações críticas para os soldados imperiais que precisam enfrentar o ataque antes da chegada do Grande Exército.
— Nada bom. Eles estão com falta de veículos no norte, então precisam de cerca de duas semanas para reposicionar as unidades para o oeste.
Parece que Schwarkopf duvidava que eles realmente cheguem lá apenas duas semanas atrasados. A experiência lhe ensinou que o QG sempre dá estimativas otimistas quando se trata do número de reforços e do tempo de chegada deles.
Reimplantar as tropas parece simples à primeira vista, mas na verdade envolve mais do que apenas reorganizar as unidades e estabelecer uma nova hierarquia de comando. As unidades precisam ser reabastecidas e reequipadas antes de partir, o que não é uma tarefa fácil. O transporte de um exército consome recursos, não apenas em termos de combustível e suprimentos, mas também em termos da energia dos soldados.
Tanya não fica surpresa quando seu superior explica sem enrolar: — Desistimos de tentar atrasar o inimigo ao longo da linha ocidental. Vamos mudar para uma defesa móvel.
Depois de perceber que ganhar tempo não resolve o problema, adotar uma estratégia de defesa móvel é um passo natural. Geralmente, as tropas são posicionadas em locais da retaguarda que são reforçados contra a artilharia inimiga de longa distância e, em seguida, é usada a distância que você recuou durante a batalha de atraso para se defender em profundidade.
— Tenente, eu duvido que precise dizer isso para você… mas esse é um exemplo clássico de falar é fácil, fazer é difícil.
— Sim, senhor, entendido!
A estratégia original das linhas interiores prevê que a linha defensiva obstrua o avanço do inimigo enquanto as tropas do Grande Exército cercam e aniquilam as forças que avançaram profundamente no território imperial. Mas essa linha já foi quebrada, e agora eles estão lutando uma batalha defensiva sobre gelo fino, o que não é nada divertido. A única batalha defensiva provavelmente divertida teria sido atrás da famosa Linha Maginot2A Maginot Line era uma linha defensiva construída pela França ao longo de sua fronteira com a Alemanha e outras nações em 1929-1936. Foi construída para prevenir uma invasão alemã, que ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial, e foi considerada um dos sistemas defensivos mais avançados de sua época. A linha era composta por uma série de fortificações subterrâneas, torres de observação, bunkers e túneis, todos interligados e equipados com armas pesadas e tecnologia avançada. A linha foi nomeada em homenagem ao ministro da Defesa francês, André Maginot, que foi responsável por sua concepção e construção., perfeita para quem fica em casa. Lá, você poderia simplesmente se esconder e esperar a guerra acabar.
Para Tanya, esse é um problema que vai além do fracasso em um nível estratégico. Se você está planejando lutar com táticas de contenção desgastantes, você provavelmente deveria ter pensado em fortificar com fortes, em vez de optar por uma estratégia que irá falhar antes mesmo de a luta começar. Se o comando realmente assumiu que a República de François ficaria feliz em ignorar a ameaça da estratégia de suas linhas exteriores colapsando com a derrota da Aliança Entente, essa ingenuidade deixaria Tanya boquiaberta. Soldados de posto e graduação inferior, como Tanya e Schwarkopf, estão presos pagando o preço dessa má avaliação em sangue, o que é algo que eles não podem tolerar.
— Nós somos soldados. Se os superiores nos mandam para fazer algo, a gente faz.
Um patriota poderia argumentar que os principais estrategistas da nação trabalham contra o país devido à sua incompetência. Tanya não abriga nem a menor intenção de morrer pelo Império. Sempre tenho que fazer comentários exemplares que vão contra o que realmente sinto, interpretando o papel esperado para me ajudar a ter sucesso. Para isso, até daria um discurso estilo Tsugene3“Tsugene-esque” em japonês, “Tsujiinkyū”. É uma piada sobre o péssimo planejador tático Masanobu Tsuji. É usado para se referir a pessoas que são apenas razoavelmente competentes. Devido à sua capacidade de agir e ao seu orgulho inflado – para o bem ou para o mal – ele era tóxico. Sua coleção de ações arbitrárias nos ensina o quão importante é a disciplina nas unidades militares. Mesmo assim, ele nunca foi punido e, na verdade, foi promovido; o mundo está cheio de injustiças. embora despreze a incompetência dele. Se fosse necessário, até gritaria: “Patriotismo não é crime!”
Eu posso falar sobre essas coisas tão naturalmente quanto respirar, e isso, somado à aparência de boneca de Tanya, é o suficiente para sugerir meu patriotismo a qualquer um que esteja ouvindo.
O mais importante é que a maioria dos soldados detesta esses idealistas que ficam falando de patriotismo e lealdade corajosa na retaguarda, mas para eles, o amor pelo país é algo sagrado. Os veteranos de combate que ganharam sua glória no campo de batalha juram defender sua pátria. Em situações extremas, eles levam esse juramento como uma questão de fé.
— Completamente certo, Tenente Degurechaff. — O modelo de soldado imperial é aquele que cumpre suas missões com indiferença, seguindo a doutrina de guerra focada na missão, e essas qualidades são valorizadas. — Ótimo. Vamos voltar ao assunto principal, então.
— Sim, senhor!
Ele deve pelo menos perceber que não sou inútil. Schwarkopf fica satisfeito e consegue relaxar um pouco. A situação é desagradável, mas pelo menos aqui temos um bom recurso.
Ele tem que lidar com unidades que foram mobilizadas de última hora sem direção estratégica clara e lutar numa batalha defensiva. Ele perdeu um grande número de suas tropas já exaustas, os substitutos são recrutas inúteis e o comandante deles é uma garotinha? Por um momento, ele sente vontade de olhar para o céu em desespero, mas para Schwarkopf, o fato de que Degurechaff é uma oficial que consegue fazer as coisas acontecerem faz dela um dos poucos recursos valiosos que ele tem.
A 205ª Companhia de Feiticeiros de Assalto foi escolhida para ser uma força de ataque rápida e flexível na batalha de defesa móvel.
Schwarkopf e a habilidade de combate hábil de sua companhia durante as batalhas iniciais os colocaram na missão de ataque rápido; o trabalho deles é correr por aí resolvendo problemas, e isso exigirá que desempenhem mais papéis do que as unidades convencionais.
— Somos o ponto-chave do contra-ataque. É uma grande responsabilidade para nós compartilharmos. Mal posso esperar para ver do que você é capaz lá fora.
— Obrigada, Tenente. Farei o meu melhor para proteger a pátria.
Tanya olha para Schwarkopf com seus olhos azuis inocentes e fala sobre ideais nobres e contribuir para a nação com sua voz infantil.
Claro, o que Tanya disse não foi nem um pouco sincero; eu só sei que é o tipo de coisa que alguém na posição dela deveria dizer.
Tanya sabe o quão horríveis são as trincheiras – mesmo que minhas fontes sejam filmes de guerra e livros de outro universo – então ela está feliz em ser uma reserva de contra-ataque em vez de estar presa em uma delas.
Claro, ficar escondido em alguma fortificação com concreto reforçado pode parecer a opção mais segura à primeira vista. Entendo por que amadores pensariam assim. A invenção da metralhadora deu vantagem à defesa, e para quem sabe disso, a posição defensiva é claramente forte. Ninguém ordenado pelo General Nogi para capturar Port Arthur4A Batalha de Port Arthur foi um confronto naval entre a Rússia e o Japão em 1904 durante a Guerra Russo-Japonesa. A batalha resultou na vitória japonesa e foi marcada pelo uso de novas tecnologias navais, como torpedos e minas submarinas. O Japão sitiou a fortaleza russa de Port Arthur por sete meses antes de sua queda. A batalha foi um dos principais eventos que levaram ao surgimento do Japão como potência militar no mundo. com espadas hesitaria em fazer um “acidente” acontecer. Afinal, os humanos são muito mais frágeis que o concreto e o ferro.
Ao mesmo tempo, temos que lembrar que a base em Port Arthur foi destruída por artilharia naval pesada. Fortificações em um campo de batalha são vulneráveis porque não podem se mover. A história nos mostra que, independentemente de quão forte seja a fortaleza, ela se torna apenas um alvo diante da artilharia de cerco. Tanya entende isso e sabe que estar em uma unidade móvel no campo, onde podem se mover rapidamente, é muito mais seguro.
Mesmo um feiticeiro não consegue atacar uma fortaleza bem defendida de perto e escapar facilmente, mas eu sei que essa fortaleza será bombardeada pela artilharia. E eu também sei que atacar a vanguarda inimiga é mais seguro, se comparado, já que eles estarão exaustos depois de quebrar a linha defensiva.
Então, Tanya faz falsas declarações de lealdade, mas a única coisa que ela realmente comemora é sua atribuição. Aumentar suas chances de sobreviver, mesmo que um pouco, é com certeza uma boa notícia.
— Ótimo. Alguma pergunta?
— Sim, senhor. Nós vamos sair da linha defensiva ou da retaguarda?
Tem um ponto que vale a pena lembrar. As forças móveis de ataque vêm em dois tipos. Um está posicionado na retaguarda e responde rapidamente para selar as brechas inimigas. O outro parte de uma posição avançada para pegar o inimigo de surpresa. A diferença entre os dois é se você pode relaxar e esperar como pessoal de contra-ataque na retaguarda ou se tem que cavar trincheiras e construir fortificações sob a constante ameaça do inimigo. São dois ambientes completamente diferentes.
Claro, a unidade que precisa selar as brechas levará algum dano, já que terá que avançar até a linha de frente, mas geralmente, o fato de lançar uma contraofensiva significa que eles têm vantagem numérica. Em outras palavras, não preciso me preocupar em ser enviada para contra-ataques se a situação for muito ruim.
— Fique feliz, Tenente. A gente vai estar na linha de frente.
— Que honra!
Isso é terrível.
Forças móveis de ataque na frente? Ou seja, teríamos que defender a linha e também se tornar uma distração durante o contra-ataque? Não importa quantas vidas houver, não seria suficiente. Se ela estivesse defendendo uma trincheira, poderia usar as pessoas mais próximas como escudos, mas se ela sair da linha para ser uma isca, não poderá fazer isso. Flanquear o inimigo com os caras da retaguarda pode parecer uma boa ideia, mas na verdade, seríamos apenas alvos fáceis.
— Eu nunca duvidei que isso te deixaria feliz. Também podemos precisar ajudar a defender os pontos fortes, dependendo do que a situação exigir.
Era o que eu esperava. Será que devo ficar feliz? Não fico animada por estar certa sobre a minha sensação sinistra. Como forma de aprimorar minhas habilidades de gerenciamento de crises, essa atribuição não será tão ruim, mas eu preferiria nunca precisar usá-las.
— Então, vamos priorizar as operações de ataque rápido, mas também apoiar a linha defensiva?
— Isso mesmo.
Eu tenho que só aceitar o que vier? Ficar na linha de frente e ainda ser explorado como parte da força de ataque móvel? Tem que ter um limite para essa exploração. Gostaria de exigir melhores condições de trabalho ou, no mínimo, um aumento no salário.
Claro, não tenho problema em cumprir as minhas obrigações previstas no meu contrato, mas isso é um exagero. Eu gostaria de ser devidamente compensada.
— Mas nossa missão não é eliminar o inimigo, apenas repeli-los. Não precisamos nos matar para cercá-los e aniquilá-los.
— Isso é péssimo. Mobilizar o Grande Exército deve estar sendo difícil.
— Oh, você notou?
— Se a gente só tentar atrasar os inimigos sem cansá-los com uma defesa móvel, não vamos aguentar muito tempo. Até o oficial mais estúpido recém-formado poderia ver isso.
Não tem como eles conseguirem se defender e retardar os inimigos em todo esse front enorme. Sem adotar uma estratégia de defesa móvel para cansar as forças inimigas, é impossível suprimi-los; a situação está tão ruim que o Império teria que arriscar permitir que invasores passem por um local e os ataquem. Pelo menos eles estariam organizados, então provavelmente não seria tão desastroso como nos últimos dias do front oriental na Primeira Guerra Mundial, mas mesmo assim eu tenho que me preparar.
— É uma forma de dizer… Bem, não há como colocar de uma forma agradável de lutar uma guerra. Mas enfim, esses são seus companheiros de pelotão.
— Obrigada, senhor. — Tanya respira fundo mentalmente e olha para a lista dos seus primeiros subordinados, mas é tão ridícula que dá um branco na sua cabeça. Ela percebe que está chocada. A única razão pela qual ela não instintivamente joga o documento fora é devido ao choque excessivo, não porque está pensando claramente. Em palavras, seus pensamentos seriam: Isso é um absurdo! — Eu achava que havia uma escassez geral de pessoal qualificado no Grupo do Exército do Oeste e que, por isso, os únicos substitutos que conseguimos para o terceiro pelotão eram novatos sem nenhuma experiência, mas eu tenho que me corrigir… Talvez devêssemos chamá-los de recrutas sem treinamento?
— Não vejo problema nisso. Isso significa que seu pelotão será extremamente inexperiente. Sua missão principal será defender a posição.
Esses feiticeiros só fizeram o treinamento básico do Corpo de Cadetes e agora estamos colocando eles em uma unidade de combate? Qualquer um que saiba um pouco sobre batalhas de magia iria rir disso como se fosse uma piada de 1º de abril. Com apenas quatro por pelotão e doze na companhia, as equipes de feiticeiros valorizam mais habilidades do que números. Mesmo alguém com potencial inato para magia só atrapalharia como novato com nenhum treinamento básico. É como pegar alguém que só conhece as regras mais básicas do exército, colocar ele num avião e pedir pra voar. Vai ser pior que atirar em um pato numa lagoa.
Entendi. Ao nos colocar na defesa, ele está basicamente dizendo que não acha que estejam prontos para o combate. É loucura esperar alguma coisa dessa unidade, então é uma conclusão válida.
— Comandante, uma sugestão humilde, como comandante de pelotão, se me permitir…
— Tenente Degurechaff, eu sei que é muito pedir para lutar uma guerra e ainda ter que cuidar de crianças, mas é estranho falar isso para você…
Eu tenho que dizer que, sendo bem sincera, seria mais útil sozinha do que com esse pelotão.
Entendo que o pelotão está carente de treinamento, mas você quer que eu os deixe parados na base? Eles não conseguem lidar com batalhas rápidas, então você quer que eu defenda a base enquanto os reeduco e treino? Isso é a mesma coisa que me mandar ficar preso com os incompetentes! Tanya estressada protesta com toda a sua força. A menos que os regulamentos que ela aprendeu na academia tenham sido revisados, cuidar de crianças não faz parte do trabalho de um soldado.
Seria mais tranquilo se eu jogasse esses recrutas na terra de ninguém e me livrasse do fardo. Se eu tiver a chance, talvez faça isso. Mas não posso julgá-los sem sequer conhecê-los…
— Como oficial, eu não tenho planos de abandonar minhas responsabilidades de comando, mas espero que você pense em como usar nossas forças de forma mais esperta.
— Esse pessoal é apenas reforço. Mas se precisar e a hora bater, a gente te manda em missões de guerrilha.
Mesmo que ele queira que ela coloque o pelotão em forma, desde o início ele está insinuando que enviará Tanya sozinha se for necessário.
— Entendi. A gente pode abandonar nossa posição se for necessário?
— Infelizmente, não podemos recuar mais as linhas.
— Então, temos que segurá-la?
— O comando disse que podemos escolher entre vitória ou Valhalla5Valhalla é o lugar onde as almas dos que caíram em batalha se juntam às almas dos heróis do passado. Em outras palavras, ter que escolher entre vitória ou Valhalla significa escolher vencer ou morrer. De qualquer forma, a maioria acabará em Valhalla..
Vitória ou Valhalla? É só uma maneira de nos mandar morrer na linha de frente. Não, não é nem um pouco sutil – é só uma bobagem narcisista.
Por que eu deveria morrer pelos outros? Se alguém quiser morrer por mim, por tudo, mas me forçar a morrer viola completamente minha liberdade.
A liberdade reina suprema. Podemos ser democráticos, nacionalistas, ou até imperialistas, desde que eu seja livre. Então, por favor, parem de emitir títulos de guerra. Financiar a guerra imprimindo títulos com a suposição de que o Império vencerá garante hiperinflação, independentemente de como a guerra terminar.
Ganhar ou perder, só consigo imaginar que o futuro será uma droga. Que desagradável.
— Esplêndido. Ambas opções parecem ótimas.
— Fantástico. Então vou apresentá-la ao seu pelotão.
Certo, hora de cumprimentar meus aliados nessa guerra miserável. Se eles estiverem no lugar certo na hora certa, eu até posso usá-los como escudos humanos, então tenho que contar muito com eles.
E assim, apesar de nenhuma das duas querer, a jovem e a garotinha teriam que engolir a mesma comida ruim e morder biscoitos tão duros que precisariam usar baionetas para partir antes de poder comer, lutando juntas no front ocidental sob uma chuva de bombas.
Tradução: Rlc
Revisão: Pride
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