Reconstruir o Mundo

Reconstruir o Mundo – Vol. 01.1 – Cap. 13 – Os Azarados

 

De volta ao deserto perto das ruínas da cidade de Kuzusuhara, Akira estava treinando contra simulações de monstros de RA. Seus alvos não esperavam mais que ele atacasse: vagueavam e até atacavam Akira quando o viam, disparando suas armas montadas nas costas ou correndo para afundar suas presas nele. Sendo virtual, não podiam feri-lo, mas ele estava aprendendo a manter sua calma e a atirar sem vacilar contra uma variedade de adversários.

Mas Akira ainda achava difícil acertar os tiros precisamente onde os monstros eram mais vulneráveis, mesmo quando mirava com calma. Cada vez que não conseguia derrubar um, sofria uma morte simulada, aumentando a pilha crescente de seus cadáveres virtuais. Embora fossem apenas imagens, testemunhava muitas, muitas formas de morrer, e se encolhia cada vez que percebia uma versão de si mesmo faltando membros – ou, em alguns casos, metade de seu corpo – ou reduzido a carne moída em um dilúvio de balas.

— Nunca vou me acostumar a me ver morto, — ele murmurou, — mesmo que tudo seja simulado.

— E você também não deveria — Alfa advertiu sobriamente. Não leve isso levianamente só porque é apenas um exercício de treinamento, a menos que você queira que a mesma coisa aconteça com você em uma luta de verdade.

— Eu sei disso. Ele considerou brevemente antes de continuar, — Ainda assim, o oriente está cheio de monstros como estes, e muitos caçadores, talvez a maioria deles, pode eliminá-los sem suar a camisa. — Ele suspirou. 

Podia sentir que estava melhorando, mas se sentia mais longe do que nunca de seu ideal.

 — Quando me registrei totalmente, fiquei emocionado por finalmente ser um caçador de verdade, mas quem sabe quanto tempo vai demorar para que as minhas habilidades sejam aperfeiçoadas no ritmo em que estou indo.

Alfa sabia que algumas pessoas continuariam andando até atingirem seu objetivo, não importa quanto tempo durasse a jornada, desde que existisse um caminho ininterrupto; a maioria, no entanto, desanima com a distância e desistia em algum ponto do caminho ou mesmo antes de começar. Akira ainda estava seguindo seu caminho até o momento, mas não havia garantia de que continuaria assim. Ela não podia permitir que ele se esgotasse antes de terminar seu trabalho, então deu um sorriso tranquilizador e tentou mudar sua perspectiva.

— Não seja tão pessimista — disse ela. — O equipamento é uma grande parte disso, então você poderá conseguir as coisas muito mais facilmente uma vez que economizar o suficiente para comprar um equipamento melhor…

— Sério?

— Sério. Só para sua referência, Elena e Sara – aquelas caçadoras que você resgatou – não teriam nenhum problema em derrubar um bando inteiro de monstros contra os quais você está treinando. Eu não posso dizer se elas iriam suar, no entanto.

Akira foi pego de surpresa. — Se são realmente assim tão boas, então como precisaram da minha ajuda daquela vez?

Akira ainda carecia de experiência em combate e tendia a subestimar até mesmo suas próprias habilidades. Portanto, não foi surpresa para Alfa que sua avaliação das habilidades das mulheres fosse um tanto ou quanto vaga. Ela manteve isso para si mesma, no entanto.

— Lutar contra pessoas não é o mesmo que lutar contra monstros — ela respondeu. — A névoa incolor também teve algo a ver com isso, mas o maior fator foi simplesmente má sorte. Elas estavam no seu rastro, então talvez um pouco da sua má sorte tenha passado para elas.

Akira fez cara feia. — Que tal você parar de arrastar meu bom nome na lama? 

Oh, eu humildemente imploro seu perdão.

Ela sorriu, e Akira voltou ao treinamento, tentando ignorar o pensamento incômodo de que ela poderia estar certa. Enquanto se lançava em seu exercício de tiro com intensidade renovada, esqueceu suas preocupações sobre o quão longe tinha que ir, para grande satisfação de Alfa.

Depois que Akira terminou de praticar sua pontaria, embarcou em uma expedição que funcionava como um exercício de reconhecimento. Começou, como sempre, examinando as ruínas com seus binóculos. Normalmente, se a região parecesse estar limpa, abriria então seu caminho cuidadosamente entre as estruturas desmoronadas. Como a autossuficiência era o objetivo do exercício, Alfa normalmente interrompia suas instruções enquanto ele avaliava a segurança da vizinhança e traçava ele mesmo uma rota. Mas não desta vez.

— Akira, conecte seus binóculos ao seu terminal de dados.

— Hum? Certo.

Depois de conectar o plugue, Alfa assumiu o controle dos binóculos por meio do terminal. Sob sua orientação, o zoom flutuou sem aviso, enquanto as lentes montadas olhavam rapidamente ao redor. Quando ela queria ver algo fora do campo de visão máximo, orientava Akira a apontar o binóculo na direção desejada. A visão através dos binóculos mudou com uma rapidez tão vertiginosa que Akira mal sabia o que estava olhando, mas Alfa notou cada detalhe.

— Entre nas ruínas! — gritou, de repente mortalmente séria. — Corra!

Akira correu. Sabia por experiência que, quando ela falava assim, poderia morrer se parasse para fazer perguntas.

— O que foi?! — gritou de volta. 

A telepatia permitiu que falasse facilmente enquanto corria sem interromper a respiração, algo impossível com a fala normal.

— Um bando de monstros está atacando um caminhão nas ruínas — ela respondeu.

— Espere o quê? Por que estamos indo para as ruínas, então? Não deveríamos estar correndo para o outro lado?

— Continue correndo, não importa o que você ouça. É um grupo grande. As pessoas no caminhão estão lutando, mas é apenas uma questão de tempo até que sejam mortas.

Akira parecia duvidoso, mas manteve o ritmo, ainda totalmente ciente de como era perigoso desobedecê-la.

— Isso não é mais uma razão para correr para o outro lado? — perguntou. — Não tenho obrigação de expor meu pescoço para estranhos.

Em outras ocasiões, Alfa o teria lembrado de sua própria decisão de ajudar Elena e Sara, mas relutantemente se absteve de fazê-lo agora.

— Naturalmente. Estou priorizando sua sobrevivência ao guiá-lo para o lugar mais seguro.

— Então, por que isso significa correr em direção aos monstros?

Era uma pergunta razoável, e a resposta de Alfa revelou o quão terrível era a situação deles. 

— Lamento dizer que o bando já o localizou. Estão concentrados nos caminhões agora, mas você é o próximo. Você nunca conseguiria voltar para a cidade antes deles e não teria chance contra tantos monstros no deserto aberto.

Akira fez uma careta. 

— Então, vão nos matar um por um, a menos que nos unamos para revidar!

— Você entendeu. E mesmo que decida fugir, você terá mais chance nas ruínas, onde posso apoiá-lo em plena capacidade. Mas encontre o primeiro caminhão você terá as melhores chances.

— Vamos, caminhão! Espere até eu chegar lá! Akira implorou, agora desesperadamente preocupado com as pessoas que havia dispensado momentos antes. Droga! Estamos nessa confusão por causa da minha má sorte também?! O que aconteceu com a minha boa sorte?!

— Não sei de quem é o azar,mas se você estiver certo, as pessoas naquele caminhão estão carregando um pouco do seu. Sempre soube que conhecer-me era a última de sua boa sorte. Mas não perca a esperança você não precisa de sorte quando me tem!

Sua expressão sombria se suavizou em um sorriso, embora ela ainda parecesse tensa.

Akira interpretou isso como um sinal de que sua situação havia melhorado um pouco. Ele franziu a testa quando ela concordou que não teve sorte, mas nunca parou de correr para salvar sua vida.

 

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O enorme caminhão trailer atravessou o deserto ao leste das ruínas da cidade de Kuzusuhara. Havia sido projetado desde o início para resistir a longas distâncias em terrenos acidentados, como a metralhadora montada em seu teto deixava claro. Dois homens viajavam em sua cabine.

Katsuragi, um traficante de armas de meia-idade, operava neste veículo, que funcionava como sua loja móvel. As únicas coisas que os caçadores desperdiçavam mais do que dinheiro eram vidas, e longos anos lidando com esses clientes ensinaram Katsuragi a ser muito, muito perspicaz.

Darius, o parceiro de Katsuragi, era mais um soldado do que um homem de negócios e passava a maior parte do tempo montando guarda na loja. Embora parecesse mais jovem que Katsuragi, algo sobre a maneira como se comportava dizia que havia acumulado uma quantidade incomum de experiência em combate. Ao contrário de seu parceiro, que usava uma armadura corporal, Darius usava um traje motorizado.

A leste do território LOCG havia uma vasta e mortal extensão conhecida como Zona Inexplorada ou o Além. Lá, monstros do tamanho de montanhas caminhavam calmamente por um ambiente tão hostil que repelia até mesmo os esforços dos poderosos da LOCG para pesquisá-lo. Mas onde esses titãs vagavam, as relíquias da civilização consumada que os havia gerado não estavam muito longe, e os lucros a serem obtidos com elas justificavam os riscos de enfrentar o Além, pelo menos aos olhos da LOCG, que continuamente canalizava somas astronômicas e informações para explorá-lo. 

Os caçadores na Linha da Frente – a fronteira mais oriental que se aproximava da Zona – eram naturalmente os melhores dos melhores, a nata da nata de sua profissão: equipes que até grandes corporações hesitavam em enfrentar, e indivíduos com poder suficiente para enfrentar a LOCG .

Katsuragi e Darius estavam estocando mercadorias perto da Linha de Frente e agora estavam voltando para a cidade de Kugamayama. Normalmente, apenas transportes corporativos podiam se arriscar nessa rota perigosa e, então, apenas escoltados por comboios de guarda-costas contratados. Um comerciante privado imprudente o suficiente para fazer esta rota, no entanto, poderia fazer uma fortuna se tivesse um comprador assegurado. 

Apenas o melhor equipamento era usado na Linha de Frente, e a maioria dos caçadores na área de Kugamayama não precisava dele, não podia comprá-lo e não saberia como usá-lo mesmo que caísse em seu colo. Mas Katsuragi, o negociante sobre rodas, teve sucesso contra todas as probabilidades de fechar um acordo. Agora, com o trailer cheio de produtos premium e a cidade quase à vista, a aposta dos sócios estava prestes a valer a pena – se sobrevivessem ao perigo que os perseguia.

O caminhão balançou descontroladamente ao desviar abruptamente em uma nova direção – os dois homens sabiam que a velocidade contava mais do que o conforto no momento.

— Eu disse que deveríamos ter contratado mais guardas! — Darius latiu na cabine enquanto sacudia.

— Ah, deveríamos! — Katsuragi gritou de volta. — Você concordou que não poderíamos pagar!

E só estamos nessa confusão porque você mudou nossa rota no meio do caminho! — Você deveria! Não contratamos os guardas por tempo suficiente para o plano original! Se não estivéssemos tão falidos, poderíamos ter feito um desvio mais seguro! — Dinheiro, hein?! É nisso que tudo se resume?!

— Pode apostar! Dinheiro faz o mundo girar!

Ambos os homens explodiram em uma gargalhada de desespero, graças ao enxame de monstros uivantes, que estavam chutando uma nuvem de poeira na traseira de seu caminhão. Os homens tinham virado a metralhadora em cima do caminhão contra as bestas, destruindo incontáveis criaturas em pedaços de carne, até que o carregador estivesse vazio. No entanto, em vão: os brutos haviam avançado incansavelmente sobre os corpos de seus companheiros caídos e haviam até mesmo chamado a atenção de outros monstros próximos para aumentar suas fileiras.

Os caçadores contratados para protegê-los tinham os abandonado e fugido assim que o bando ficou grande demais para lidar, com o argumento de que os comerciantes tinham quebrado os termos de seu contrato; nunca teriam fugido do bando se tivessem se mantido fiéis à rota acordada. Os caçadores também levaram cerca de metade da carga com eles quando partiram, então provavelmente ganharam seu pagamento – embora não necessariamente para a satisfação de Katsuragi e Darius.

As risadas dos mercadores diminuíram gradualmente, junto com a adrenalina inicial que veio de lutar por suas vidas. Darius assumiu uma expressão séria, em parte para se enganar e manter a calma, e forçou-se a enfrentar os fatos.

Ele suspirou. 

— Então, e agora? Estamos ferrados se não fizermos alguma coisa. 

— Eu sei, — Katsuragi respondeu, parecendo igualmente sóbrio. — Vamos começar mudando de curso para as Ruínas da Cidade de Kuzusuhara.

     — Porque lá?

— Porque se continuarmos indo em direção a Kugamayama, estaremos perdidos de qualquer maneira, quer os monstros nos peguem ou não.

Todos sabiam o que acontecia com as pessoas que levavam monstros a uma cidade, mesmo que estivessem fugindo para salvar suas vidas: a cidade os explodiria em pedaços junto com os monstros. Quaisquer sobreviventes tinham que arcar com os custos de defesa da cidade e pagar indenizações por ameaçar a segurança pública. Essa penalidade era muito mais do que os recursos que uma pessoa podia compensar, mas era o tratamento que recebiam ao pagá-la ao qual fazia a morte parecer preferível, E no entanto, algumas almas desesperadas tentaram entrar em uma cidade de qualquer maneira, agarrando-se a um último fio de esperança.

Essas pessoas eram as culpadas pela maioria dos ataques de monstros nas favelas que Akira havia experimentado.

— Escute, Katsuragi, não sou idiota, — Darius respondeu. — Eu sei por que não estamos indo para a cidade. Estou perguntando por que estamos indo para as ruínas.

— As ruínas têm seus próprios monstros, — explicou o comerciante. — Há uma chance de que o bando nos perseguindo reconheça o lugar como território de outra bestas e recue. E o coração dessas ruínas é um dos locais mais difíceis nesta área, o que significa que alguns caçadores lá poderiam ser capazes de derrubar essas bestas para nós. Você colocou a lista de emergência, certo?

— Sim. Agora, se algum caçador aceitar o pedido.

Normalmente, qualquer trabalho emitido através do Escritório dos Caçadores precisava passar por uma série de inspeções relativamente demoradas. As listas de emergência, que passavam apenas por uma triagem superficial, permitia que os clientes com necessidade urgente agilizassem o processo. A maioria dos caçadores não via mal em aceitar tais trabalhos, considerando as recompensas relativamente generosas que as pessoas desesperadas impostas pelo Escritório, que exigia severas penalidades por fraude. Assim, uma lista de emergência era mais susceptível de atrair ajuda do que um pedido de socorro indiscriminado, tornando-a o primeiro recurso de muitos viajantes sitiados nas terras devastadas.

— A cidade está fora dos limites, então as ruínas são nossa melhor e única chance. O resto depende da nossa sorte. Vamos! Katsuragi gritou. Seu olhar sombrio interrompeu a conversa.

Os mercadores foram direto para as ruínas da cidade de Kuzusuhara. Fizeram o seu melhor para escolher ruas que permitissem a passagem de seu caminhão volumoso, mas não estavam familiarizados com o terreno, e seu mapa baixado apressadamente era tudo menos preciso. A sorte determinaria o quão longe chegariam nas ruínas.

No final das contas, a sorte deles era ruim. Katsuragi e Darius entraram em um beco sem saída cheio de entulho, forçando-os a parar o caminhão. Para completar, os monstros os perseguiram nas ruínas sem levar em conta os limites territoriais.

— Katsuragi! É aqui que marcamos nossa posição! Darius gritou, preparando-se. — Recarregue a arma! Então saia da cabine e abra fogo! É tarde demais para reclamar sobre os custos de munição!

— Eu sei. Tome cuidado também! Katsuragi respondeu, lutando para carregar as munições de reserva enquanto Darius saltava para fora da cabine e preparava sua arma.

 

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Akira estava correndo como um louco desde o aviso de Alfa. Agora estava perto o suficiente das ruínas para ver o bando a olho nu. Os monstros também o avistaram e alguns desistiram do caminhão em busca dessa nova presa. O menino fez uma careta e agarrou seu AAH com força quando viu um após o outro se desprender do bando, mas continuou correndo.

— Alfa! Nos avistaram! — ele gritou. — Devo mudar de curso?!

Alfa parecia igualmente séria enquanto conduzia seu caminho, mas seu plano era inabalável.

— Não se preocupe e continue! Vou ajustar sua rota conforme necessário! E tome um pouco desse remédio agora, enquanto pode!

— Você está assumindo que eu vou me machucar de novo?!

— Ele neutraliza a exaustão! Não espere nenhuma pausa para descanso até que isso acabe! Mas é como treinar, você ficará bem desde que siga minhas instruções!

— Morro toda hora treinando! — Akira protestou.

— Então lute como nas vezes em que você sobreviveu! Se apresse! Lá vem eles!

Akira observou os monstros com o canto do olho. Pegou uma cápsula, engoliu-a e preparou-se mentalmente para uma luta que exigiria a ajuda extra do remédio.

Alfa sinalizou para ele parar, e ele apontou seu fuzil para o enxame hostil.

Indicadores surgiram em sua visão, mostrando qual das bestas que avançavam priorizar e destacando as vulnerabilidades de cada criatura. Uma linha azul se estendia do cano de sua arma, antecipando a trajetória de suas balas.

Akira escolheu com seriedade seu alvo de maior prioridade, mirou em seu ponto fraco e puxou o gatilho. O tiroteio encheu o ar do deserto enquanto suas balas anti-monstro encontravam seus alvos: arrancando carne, quebrando ossos, rompendo órgãos e infligindo ferimentos fatais mesmo quando errou o ponto vulnerável exato que estava mirando. Bestas com membros feridos tropeçaram e caíram. Aqueles azarados o suficiente para levar uma bala em um ponto vital morreram instantaneamente e caíram para frente,         

movidos por seu próprio impulso.

Os alvos na visão de Akira mudaram de pontos para linhas, ao longo das quais varreu seu fuzil enquanto ceifava as ameaças com fogo automático. Monstros caíam, vacilavam ou paravam sob a chuva de balas. Isso deixou uma abertura para Akira, e ele correu para seu próximo ponto de tiro, que Alfa havia marcado no chão. Então abriu fogo mais uma vez.

Enquanto isso, Alfa o guiava infalivelmente, prevendo os movimentos das criaturas com uma precisão que beirava a clarividência. Até considerou os erros que provavelmente cometeria por causa de sua inexperiência, fazendo-o parecer muito mais habilidoso do que realmente era. Ele lutou com tanta eficácia que até se surpreendeu.

No momento em que Akira finalmente chegou às ruínas, espalhando monstros ao longo do caminho, uma dúvida se formou em sua mente.

— Se importa se eu te perguntar uma coisa, Alfa?

— Muito ousado da sua parte, dadas as circunstâncias, ela respondeu, mas vá em frente.

— Eu reconheço alguns desses monstros do treinamento, disse ele. Esses não parecem meio fracos para você?

— Não, estão na média.

— Então como é que me pegaram tantas vezes no treinamento?

— Porque seus modelos de treinamento não hesitam, vacilam, se acovardam ou correm, explicou Alfa. Eu os programei para atacá-lo mecanicamente até morrerem.

— Por que você fez isso?

— Para garantir que você não se esqueça de como os monstros podem ser assustadores, o que você faria se os derrotasse facilmente? Dado o quão desesperadamente você lutou hoje e até onde isso o levou, eu diria que você deveria me agradecer. — Ela deu um sorriso convencido.

— Sim, eu acho —  Akira admitiu relutantemente. 

A experiência realmente veio a calhar, e estava no meio de um combate, então afastou seu aborrecimento e correu para o próximo local que ela havia marcado.

 

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Montanhas de monstros mortos estavam ao redor do caminhão como monumentos à resistência desesperada de Katsuragi e Darius. Rios de sangue fluíram dos cadáveres baleados, alimentando uma vasta poça carmesim. A menos que os homens terminassem seu trabalho antes que o fedor de carniça atraísse mais bestas das ruínas, teriam que enfrentar dois bandos.

Eles não tinham matado o suficiente? se perguntavam a um nível inconsciente. Não era hora dos monstros desistirem e fugirem? Mas as feras pareciam zombar de suas esperanças enquanto continuavam seu ataque, pisoteando a carnificina que uma vez havia sido seus companheiros no chão que o sangue transformou em lama.

A metralhadora de Katsuragi explodiu todos os monstros que chegaram perto do caminhão em pedaços. Darius atirou alvo após alvo até que ficassem imóveis. Cada um lutou com cada fibra de seu ser; se a chuva de balas parasse por um momento, se juntariam às montanhas de cadáveres e ao lago de sangue.

Os mercadores estavam ficando sem fôlego. Superaram esmagadoramente os monstros, mas um fluxo constante de reforços impediu que as fileiras inimigas diminuíssem.

— Merda! Continuam vindo! — Katsuragi estalou. — Por que vocês, aberrações, não me esquecem e comem esses corpos?! Há montes deles, e rasgar-me não daria nem uma salsicha para cada um!

Então as coisas foram de mal a pior. 

— Darius! A metralhadora está quase sem munição! Katsuragi gritou. — Você pode segurá-los enquanto eu recarrego ?! 

Dario fez uma careta. Uma pausa no fogo da metralhadora poderia convidar a um avanço do bando, mas perder seu apoio inteiramente significaria a destruição certa. Não podia dizer não, então gritou: 

— Faça isso rápido!

A metralhadora silenciou e a massa contorcida que mantinha sob controle avançou. Dario observou-os chegar, certo de que sozinho não teria chance contra tantos. É inútil, disse-lhe uma voz fria e calma em sua cabeça, e não duvidou.

Um monstro saltou sobre ele. Mas assim que se preparava para a morte, ele levou uma bala e se esparramou. Seu corpo impediu as outras feras por um momento – um momento em que mais balas choveram sobre as criaturas, fazendo-as cair como moscas.

Recuperando-se de sua surpresa, Darius retomou seu próprio ataque ao bando.

Ao fazer isso, olhou e viu Akira atirando da janela de um prédio próximo.

 

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Uma vez nas ruínas, Akira foi para o local exato indicado por Alfa. Da janela de um prédio abandonado, disparou seu AAH, determinado a adicionar tantos monstros às montanhas de cadáveres quanto pudesse.

Eles são muitos, resmungou, fazendo uma careta. Todos aqueles monstros realmente viriam atrás de mim?

— Ainda podem — Alfa respondeu, sorrindo encorajadoramente. —   Mantenha esse fogo de cobertura.

— Obviamente. De jeito nenhum vou encarar essas coisas de frente. 

Akira usou todo o seu treinamento, sabendo que desta vez não teria uma segunda chance se estragasse tudo.

Para Katsuragi e Darius, isso fez toda a diferença. Mais um fuzil de assalto AAH não deveria ter sido suficiente para virar a maré, mas com a orientação de Alfa, ganhou tempo para colocar a metralhadora de volta em funcionamento. Sob sua supervisão contínua, Akira manteve todo o grupo operando com eficiência máxima, já que Katsuragi e Darius logo perceberam suas táticas e ajustaram suas próprias para combinar.

— Será que nossa lista de emergência valeu a pena? — o comerciante pensou enquanto recarregava a metralhadora. 

— Lá. A sorte está virando a nosso favor. Não vai demorar muito agora. Ele retomou seu fogo supressivo, deixando ainda mais monstros mortos nas pilhas de cadáveres.

Akira, Katsuragi e Darius continuaram a se apoiar enquanto corriam para eliminar o bando. Katsuragi teve que recarregar a metralhadora mais duas vezes, mas no final conseguiram limpar o beco sem saída.

Após a batalha, Akira se encontrou com os mercadores. Os homens ficaram surpresos ao ver que seu salvador era uma criança, mas não o desrespeitaram por isso, afinal, ele havia acabado de provar o quanto era competente.

Sorrindo aliviado, Katsuragi disse amigavelmente: 

— Obrigado. Você é o caçador que atendeu nossa lista de emergência?

— Lista de emergência? — Akira repetiu, confuso. — Não, eu corri para cá porque essas coisas também vieram atrás de mim.

— É? Acho que nós dois temos uma sorte podre. Katsuragi não mencionou que ele e Darius levaram o bando até lá, e Akira não perguntou. O menino sentiu que sua má sorte era a culpada pelo ataque, e lamentou que os comerciantes tivessem sofrido as consequências.

Katsuragi soltou uma gargalhada para limpar o ar. 

— Eu sou Katsuragi, e ele é Darius. Temos uma loja em nosso caminhão e estamos voltando para Kugamayama.

— Eu sou Akira. Sou um caçador, pelo menos no papel, e por acaso estava na vizinhança.

— Ah. Que coincidência; nós vendemos para caçadores. Você salvou nossas bundas, então farei um acordo se quiser comprar alguma coisa. Darius! Você poderia pelo menos agradecê-lo!

Darius estava fazendo manutenção na metralhadora.

 — Eu sei! — ele gritou. — Meu nome é Darius! Obrigado!

— Vamos para Kugamayama assim que nossa metralhadora voltar a funcionar, — acrescentou Katsuragi. — Quer uma carona? Duvido que você esteja com disposição para caçar relíquias depois dessa bagunça.

Akira certamente não estava com vontade de retomar seu treinamento. 

— Você não se importa em voltar, certo, Alfa? Esqueça isso. Eu vou voltar, e você não pode me impedir.

Alfa riu de seu tom um tanto desesperado. 

— Tudo bem. Vamos encerrar o dia.

Akira se sentiu aliviado, embora não esperasse seriamente que ela recusasse. Para Katsuragi, ele disse: 

— Eu agradeceria.

— Excelente! Suba a bordo! 

Katsuragi riu, ajudou Akira a entrar na cabine e apressou Darius. Assim que a metralhadora estava pronta, o caminhão começou a se mover. Projetado para o terreno acidentado do deserto, fez um trabalho rápido com as feras mortas amontoadas em seu caminho. Akira achou o sangue respingado bastante repulsivo, mas os homens não prestaram atenção. Na verdade, isso apenas os fez rir ainda mais do que antes.

 


 

Tradução: Nagark

Revisão: Mini

 

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Rlc

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  • O que tem nesse caminhão, certamente é do interesse da Alfa, afinal; ela arriscou tanto para salvá-los !

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