Qualidea de um Traste e uma Moeda de Ouro – Capítulo 11: Epílogo 2

 

Haruma

Seus olhos arregalados estavam voltados para a janela atrás de mim.

—Nossa, o que é isso…? — Yuu murmurou enquanto olhava para a paisagem do lado de fora.

Quando olhei por cima do ombro para seguir seu olhar, o sol poente estava muito mais vermelho do que o normal, e o céu estava queimando em um vermelho brilhante como se uma coluna de fogo tivesse engolido a cidade.

Aquela luz cravejada de poeira estelar me pareceu milhões de moedas de ouro caindo do céu.

Yuu

Saímos de casa e caminhamos em um ritmo lento.

Não havia uma alma à nossa volta. Havia apenas postes telefônicos tortos e chamas infernais saltando do solo, como se fervessem de impaciência. Se toda a vida na Terra fosse extinta de repente, tenho quase certeza de que seria assim.

Olhando para o céu, o sol da tarde queimava em um vermelho brilhante como se estivesse loucamente, apaixonadamente apaixonado, e a lua vermelha gotejava sangue fresco. Era como se os dois estivessem fazendo uma performance conjunta para pintar a cena do fim do mundo com todo o seu brilho.

E, no entanto, havia coisas visíveis e invisíveis ao olho humano que indicavam que o mundo certamente havia chegado ao fim. No que diz respeito a nós, que vivíamos apenas em nossas bolhas subjetivas, era impossível distinguir entre como o mundo se estabeleceu e como acabaria.

Nós, que éramos oprimidos por este mundo de mente fechada, não tínhamos obrigação de pensar em como o mundo acabaria. Só era importante para nós que estivéssemos vivendo o momento, que estivéssemos de mãos dadas, que andássemos no mesmo ritmo.

— Foi aqui que a Encruzilhada Aleatória começou? — ele meditou.

— Quem sabe? Qual caminho devemos seguir?

— Vamos para a direita, então.

— Nesse caso, vou escolher a esquerda.

— Vamos pegar o caminho do meio e seguir em frente.

Sorrimos e nos aproximamos, antes de seguirmos o caminho em direção à lenda urbana.

E assim chegamos ao lugar onde tudo começou.

Haruma

Ficamos com os ombros encurvados, agredidos pelo vento.

— …Que cena bonita.

Este lugar, que deveria ser tão familiar, agora nos parecia uma cena do mundo em seu limite. Se eu estivesse olhando para o brilho do pôr do sol sozinho, não teria visto muito valor nele.

Se alguém pudesse visualizar o fim do mundo, imagino que seria uma visão tranquila como esta. Como se deuses estivessem caindo do céu por meio de alguma manobra mecânica, ou como as mulheres mais bonitas que você já viu mergulharam do céu em chamas. Eu gostava especialmente deste último.

Tenho certeza de que se toda a variedade morresse neste planeta e a individualidade deixasse de existir, essa garota não seria menos bonita para mim, pensei enquanto olhava para o céu caindo e depois para ela. Isso a fez rir.

— Você se apaixonou por mim de novo? Acredito que você se apaixonou por mim à primeira vista, Haruma.

— Bem, no começo. Então eu percebi que vadia você era, e ainda achei que era uma vadia no meio da história, e agora acho que mesmo que seja uma vadia, acabei me acostumando com isso. E então, bem, sim. Foi amor à primeira vista.

— Eu não chamaria isso de amor à primeira vista…

— Com certeza eu disse que me apaixonei por você no começo.

— Não fez isso. Você me ouviu? Estou dizendo que amor à primeira vista é mais como, bem, querer estar com a outra pessoa desde o primeiro momento em que se encontra, recorrer a meios desesperados para sair com essa pessoa, ficar com raiva das coisas mais inconsequentes e fazer todos os tipos de coisas incompreensíveis.

— Isso é específico — eu disse.

Ela estufou o peito com orgulho.

—Eu sou uma especialista, sabe. — Ela deu uma risadinha. — Haruma, você é exatamente o oposto.

Sua mão tocou a minha. Nossos dedos se entrelaçaram de maneira estranha e irregular.

Batemos um no outro, falhamos um com o outro, cedemos um ao outro, nos abrimos um para o outro e, finalmente, nos tornamos um.

Foi assim que nos apaixonamos.