Há um pensamento que sempre vem à mente sempre que leio romances:
— As ilustrações contam para tudo.
Quando você tem um diálogo insuportável saturado de péssimos clichês inocentes, um cenário de fantasia excitante, personagens roubados, vários trabalhos de outros charlatões sem talento e uma prosa chata que até mesmo um aluno do ensino médio poderia ler — não, mesmo um aluno do ensino fundamental poderia escrever — as ilustrações se tornam o único recurso diferencial
Romances são dolorosos de ler, mas as ilustrações os tornam legíveis.
A base do prazer está nos olhos de quem vê. Em outras palavras, o que você vê é o que você absorve.
É uma mentira quando dizem que a aparência conta noventa por cento. Ela conta para tudo, eu diria que cento e dez por cento.
Tenho certeza de que não sou o único que pensa assim. Muitos outros devem pensar assim também.
O Patinho Feio, uma leitura atribuída na unidade eletiva integrada “O mundo dos contos de fadas de Hans Christian Andersen”, é basicamente uma dessas histórias.
Basicamente, a história é assim: “A vida melhora quando sua aparência muda para melhor. No mínimo, você não vai ser esfolado para um prato gourmet chinês. Aqueles foie gras ordinários sabiam exatamente o que estavam fazendo!”
Essa é a mensagem que Hans Christian Andersen transmite por meio da história. A feiura é um pecado. Bem, não que tenha certeza que ele quis dizer isso. No entanto, essa é a minha perspectiva do trabalho de Andersen.
Conseguia sentir o sofrimento daquela história tão agudamente como se fosse eu mesmo. Isto me fez pensar se eu era Andersen. Eu era totalmente o Andersen.
Tanto é que agarrava minhas baionetas e dizia amém.
Talvez, apenas talvez, alguém possa assumir que O Patinho Feio é uma história que dá esperança ao pouco atraente.
A verdade, porém, é outra. Apenas um desagradável fanático pelos Irmãos Grimm poderia tirar uma leitura tão superficial do nada (risos).
Não há esperança nessa história. Não é nada mais que uma vingança fantasiosa contra o poder destrutivo da beleza, que nega a existência da feiura. O patinho se vinga tornando-se justamente
mais bonito do que aqueles que o rejeitaram. Em nenhum momento a amizade ou trabalho duro entra na história; a vitória vem inteiramente por meio da linhagem.
Você realmente não vê protagonistas assim atualmente, nem mesmo na Shonen Jump.
Para fins de argumentação, digamos que os contos de fadas são a base da filosofia humana. A verdade nua e crua é que Andersen escreveu uma história em medo vago de que os feios nunca serão aceitos como são.
Então, foi isso que escrevi no relatório do meu livro após a palestra.
Claro, me arrependo agora. Por que não escrevi algo mais seguro? Por que não inventei alguma bajulação meia-boca que faria o professor feliz, assim como os outros alunos? Eu sabia que o estranho, peculiar e incomum são prontamente excluídos da multidão.
Andersen não precisava me dizer isso.
— Ei, Haruma… — Amane Kusaoka, a professora responsável, gritou meu nome com um suspiro suave.
Era hora do almoço, e nós dois estávamos na enfermaria, onde o cheiro de antisséptico invadiu minhas narinas.
Amane Kusaoka me fez sentar na cama enquanto ela arrastava uma cadeira e sentou-se na minha frente. Cautelosamente, ela cruzou suas pernas finas e longas, exibindo seu jaleco e sua saia apertada. Quando se inclinou para olhar para o meu rosto, abraçando suas pernas, o formato de seu peito apareceu através de sua blusa.
Mais uma vez, Amane soltou um suspiro como se dissesse: — Venha cá.
Cortinas finas isolam minha cama do mundo exterior, e nós dois sentamos estranhamente perto. Era sempre assim, sempre que ela me chamava.
Era o início da tarde e eu estava sentado na beira de uma cama na enfermaria, sozinho com uma bela professora de jaleco.
Sem falar que a professora estava suspirando algo como “venha cá”. Se você me perguntar, aposto que isso despertaria o interesse de um garoto na puberdade.
Mas isso não poderia estar mais longe da realidade.
Este quarto não era um cenário de pornografia, nem era o produto de uma imaginação fértil de um adolescente. Era apenas um confessionário. Ou diria algo como uma sala para sermões.
Amane mexeu no cabelo dela, fazendo um perfume doce atacar minhas narinas. Ela mudou o perfume de novo? O último era melhor. Enquanto esses pensamentos inúteis passavam pela minha mente, Amane apontou os punhais para mim.
— Ei, Haruma. Você já pensou sobre a minha posição aqui?
— Sua posição… Bem, você é a professora de saúde, eu acho.
— Isso mesmo. — Amane acenou com a cabeça ansiosamente.
— Eu sou a jovem e linda professora de saúde. — Ela repetiu o que eu acabei de dizer com um pouco de adições supérfluas.
Então, de repente, seus movimentos balançando a cabeça pararam bruscamente.
— Ah, e eu também sou sua irmã mais velha. — Ela apontou para mim com um floreio.
— Hm, sim, eu acho.
Nem é preciso dizer, mas Amane Kusaoka e Haruma Kusaoka são irmãos de sangue e, por alguma razão, eles também frequentam a mesma escola e têm uma relação professor-aluno.
Graças a isso, não havia como alimentar desejos carnais, mesmo dentro de uma sala que lembrava um cenário pornô. Na verdade, não podia fazer nada além de me maravilhar com o que minha irmã idiota estava dizendo pela enésima vez.
Sendo minha irmã quem ela era, fiz questão de ficar o mais longe possível da enfermaria. Infelizmente, havia inúmeras exceções, como sempre que ela queria um empregado ou um saco de pancadas para seu estresse. Hoje, provavelmente, era a segunda opção.
Amane tirou um cachimbo que não era de tabaco do bolso da camisa de seu jaleco e o colocou na boca.
— Se você entendeu, então pare de ser um chato na escola, seu idiota. Sempre que faz algo estúpido, sou eu quem tem uma conversa na sala dos funcionários.
— Não é só porque eles não gostam de você? Não é como se eu fizesse algo errado.
— Sim, você fez! Tipo, sabe, aquele relatório que você escreveu hoje, ou o que quer que seja? Tinha muitas coisas estranhas nele.
Ela olhou para mim, me levando a pesquisar minhas memórias. A pesquisa recuperou apenas um resultado.
— Você não está falando sobre… como as pessoas feias não têm direitos humanos?
— Sim! Eu não entendo, mas provavelmente é isso! Você escreve tanta porcaria! Não seja tão arrogante! Precisa se olhar no espelho! Você sempre tem essa expressão miserável no rosto!
— Não se preocupe comigo — eu disse. — Se você é um homem, dá para comprar os direitos humanos.
Amane não parecia discordar.
— Bem, sim. Você pode fazer qualquer coisa se seus ativos e renda forem altos o suficiente.
Heh, então ela concordou, hein? Veja, se os homens realmente têm uma alta renda, eles sempre conseguem sobreviver. Há muito tempo, nos dias de outrora, antes do estouro da bolha, os chamados Três Pilares eram o que era necessário para uma pessoa se tornar popular: Ensino Superior, Alta Estatura, Alta Renda. Quaisquer defeitos relacionados ao rosto não faziam parte do negócio, então, provavelmente, não existia discriminação facial contra um homem. Mas, caramba, as mulheres daquela época eram certamente impressionantes. Elas julgavam as pessoas apenas com base nessas três categorias? Supõe-se que a troca equivalente seja a base da alquimia, então, se quisessem
criar um namorado ideal, deviam abrir mão de um braço ou de uma perna.
Bem, minha irmã era um exemplo disso. Ela tinha rosto e corpo bonitos, mas sua personalidade era um lixo, como ela mesma admitiu.
A Amane tinha uma expressão reprimida nos olhos e, depois de um tempo, tossiu desconfortavelmente.
— Bem, de qualquer maneira, mesmo se você estiver tecnicamente certo, do ponto de vista da educação, não podemos ser assim. Eles realmente não gostaram da sua resposta— quero dizer, até reclamaram comigo. A bruxa velha encarregada do assunto não é exatamente bonita, então o que você fez foi realmente irritante. Pense antes de agir, nossa.
— Você não discriminou principalmente a aparência dela? Sem mencionar que também discriminou a idade dela.
— Eu não estou dizendo isso na cara dela, então está tudo bem. — Amane riu enquanto estufava o peito com orgulho.
Sim, hoje o mundo permanece em paz por causa da “bondade implícita” de alguém. Eu também sou uma alma gentil, então pratico minha “bondade implícita” nunca falando com meus colegas. E, no entanto, embora todos estejam tão acostumados com minha bondade atualmente, as faíscas de conflito ainda vêm à tona aqui e ali. Muito peculiar.
— Mesmo que não esteja dizendo isso na cara dela, é você quem começou a falar, então isso não é um problema com a sua própria personalidade, Amane?
Assim que essas palavras saíram da minha boca, Amane acenou com a mão fervorosamente em negação, seu rosto estava completamente sério.
— Não. Não tem nada a ver com minha personalidade. Sabe? Quando você é a jovem e bonita professora de saúde, é estúpido o quão baixo é sua posição na sala dos professores! — Ela tagarelava sem parar. — Meus colegas me assediam sexualmente e me menosprezam abertamente! E ainda por cima, tenho meninos fingindo estar doentes na enfermaria todos os dias, e um bando de vadias ciumentas me encaram como se eu fosse sua inimiga! Quero me apressar, me casar e largar esse trabalho!
A voz dela ficou um pouco emocionada no final.
Ser professor com certeza é difícil. Enquanto esses pensamentos inúteis passavam pela minha cabeça, as cortinas que dividiam a cama começaram a tremer.
— Com licença, professora?
Uma mão pequena e tímida empurrou a cortina para o lado. Olhos grandes e trêmulos nos espiaram indecisos pela abertura. A garota que nos chamou provavelmente ainda estava com febre, a julgar pela vermelhidão de suas bochechas e olhos inchados.
Assim que nossos olhos se encontraram, ela correu para a sombra da cortina como um pequeno animal. Então, enquanto ela tremia de alerta, olhou em minha direção mais uma vez.
Esse gesto indefeso era muito adorável. A julgar por seu uniforme, ela parecia ser uma estudante do ensino médio.
Amane voltou a si quando a garota a chamou.
Arrastando a cadeira, ela se virou para encarar a dona da voz.
— D-Desculpaaa, Misa. Você sabe como é o meu irmãozinho — disse ela, rindo.
— Não, não, não, sou eu que devo me desculpar! Não sabia se devia falar, mas, hum, só estava me perguntando onde estava o remédio para febre…? Foi rude da minha parte perguntar?
A garota chamada Misa acariciou suas tranças ansiosamente e olhou para mim depois para Amane. Parecia que ela estava preocupada em interromper nossa conversa. Tendo adivinhado isso, Amane se levantou e deu um tapinha de leve no ombro dela.
— Não, não, absolutamente não. Se algo está incomodando você, é melhor falar imediatamente. Olha, sabe, como diz aquele ditado: Fale agora ou cale para sempre seu irmão mais novo chato.
— Não é assim que diz o ditado — eu disse. — Minha família me odeia ou o quê?
O que a Amane odiava em mim? Mesmo que eu gostasse muito da minha irmã mais velha? Bem, não sei sobre meus pais ou minha irmã, mas meu avô com certeza me ama. Ele me dá Wether’s Originals e outras coisas.
A vovó quase sempre me dá Rumandos ou Elises. Enjoei de comer Elises, então sempre que ela me traz, fico melancólico. A melancolia de Elise¹…
Amane apenas sorriu, porém, imperturbável pela minha argumentação impetuosa. Misa, que ficou assistindo nossa conversa do lado de fora, deu um sorriso estranho e desconfortável. Bem, é difícil saber o que fazer quando pessoas que você não conhece muito bem têm uma conversa cheia de piadas internas. Em momentos como este, era melhor sorrir e acenar com a cabeça.
— Ok, estou indo agora.
Nesse ritmo, eu estaria forçando essa linda garota a sorrir falsamente da mesma forma que faço na sala de aula. Acenei casualmente na direção da Amane e passei pela Misa.
Nesse momento, assim que passei por ela, Misa abaixou a cabeça e se curvou. Seu laço de cabelo, que estava enrolado em torno de seu cabelo preto claro, balançou com o movimento. Ela tinha uma figura pequena, de uma forma encantadora, combinada com ombros magros e um peito achatado.
Suas bochechas estavam vermelhas e seus olhos lacrimejantes. A visão dela pressionando seus dedos finos contra seus lábios minúsculos enquanto soltava uma pequena tosse abafada aumentou seu charme. Ela tinha um tipo estranho de sensualidade.
A palavra “angelical” cabia em Misa como uma luva. Também se poderia interpretar que ela era boa demais para esta terra pecaminosa.
— Oh, certo. Haruma. Uma voz me chamou por trás assim que coloquei a mão na porta da enfermaria.
— Sim?
— O chão em frente ao telhado está sujo ultimamente. Sabe, eles me disseram muitas coisas na sala dos professores. Disseram para limpar depois da escola. Também me disseram para dizer ao meu irmão mais novo para refletir sobre suas ações. — Amane disse com uma piscadela, embora isso provavelmente fosse seu trabalho para começar. Ela provavelmente foi pega fumando no telhado ou algo assim.
Infelizmente, um irmão mais novo existe para servir a sua irmã como escravo.
Alternativamente, você pode dizer que uma irmã mais velha existe para gravar traumas contra as mulheres no coração de seu irmão. Se chamasse as irmãs mais velhas de um flagelo nesta terra, essa seria uma declaração totalmente correta. Por capricho, mudam de fofas para um monstro cuspidor de fogo em um piscar de olhos. Às vezes, vêm até você com lágrimas de crocodilo. Eu desenvolvi tolerância por mulheres (de um jeito ruim) e sei muito mais sobre seus ciclos biológicos do que jamais quis saber.
— …Sim, eu farei isso — respondi, colocando minha mão na porta para sair da enfermaria. Isso fez com que a porta se abrisse.
Naquele momento, meus pés pararam de andar. Uma garota solitária estava diante dos meus olhos.
A luz do sol cintilante entrava pela janela do corredor, e uma brisa nebulosa carregava o perfume sutil e doce do perfume Anna Sui.
Seu cabelo preto era longo e liso, sua pele pálida parecia brilhar e seus membros delicados eram magros e macios. Seus olhos grandes e lábios atraentes se arregalaram de surpresa.
A palavra “deusa” cabia nessa garota como uma luva. Também se pode interpretar que sua beleza pode destruir a terra por um capricho.
Eu sabia o nome dessa garota. Claro, ela não poderia dizer o mesmo de mim.
Veja bem, não precisei sair do meu caminho para desenterrá-lo nem nada. Acontece que eu a conhecia naturalmente, como parte do conhecimento comum compartilhado por muitos alunos desta escola.
Yuu Chigusa. Foi a primeira vez que vi essa garota, um ano mais jovem, tão perto.
Este encontro memorável com Chigusa quase terminou conosco literalmente batendo de cabeça, nós dois demos um passo para trás em conformidade.
Por sua vez, sua expressão assumiu um ar de surpresa, mas tinha certeza que eu estava com uma feição completamente idiota. O único que estava congelado no lugar, entretanto, era eu. Ela imediatamente deu um sorriso tímido e abaixou a cabeça cortesmente, passando por mim de lado. Meu olhar a seguiu instintivamente.
— Oh, mana! Eu sinto muito! — Misa gritou, percebendo por si mesma que a garota à sua frente era Chigusa. — Você veio mesmo estando tão ocupada…
— Não há como eu ter algo mais importante do que você, Misa. Está se sentindo bem?
A visão da Chigusa pressionando suavemente sua mão contra a testa da Misa foi como algo saído de uma pintura. Entendo, então a Misa era irmã da Yuu Chigusa, hein? Isso explicava por que ela era tão bonita.
Enquanto eu olhava sutilmente para as duas irmãs, anja e deusa respectivamente, fechei a porta atrás de mim. A porta bateu na minha nuca.
Se eu fosse um pouco mais parecido com a Amane, teria um rosto muito bonito. Como acabei com uma cara tão mesquinha? Quando você olha para isso de outra perspectiva, se tenho um defeito ou dois ou três ou quatro… bem, não importa quantos, isso em si é a prova de que sou humano. O que significava que aquela garota era algo completamente diferente.
Este mundo é realmente injusto e, como resultado, cheira a discriminação.
Não é uma questão de ser especial ou único, isso é bom senso que qualquer pessoa com meio cérebro entenderia.
Mesmo sabendo disso, não pude deixar de pensar: Yuu Chigusa… tem um rosto bonito. Um rosto muito bonito!
¹Werther’s Original e Elise são doces populares. Eles também são piadas sexuais. A versão dublada em japonês do comercial Werther’s Original se transformou em um meme da internet porque a tradução estranha fez parecer que o avô tinha interesse sexual por seu neto. “A melancolia de Elise” é uma referência a uma das técnicas “Sexy Commando” do anime cult de 1998 Sexy Commando Gaiden: Sugoi yo!! Masaru-san. “A Melancolia de Elise” envolve puxar para baixo o zípper das calças enquanto faz sons de orgasmo.
Quando saí da enfermaria, vozes gritaram ao meu redor.
A pausa para o almoço estava quase acabando, e o barulho de passos ecoou pelo corredor e pelas salas de aula.
Eu odeio a palavra japonesa para multidão: hitogomi. Não gosto de pessoas (hito) e não gosto de lixo (gomi), então não vejo razão para gostar das duas coisas juntas. Em comparação, adoro a palavra japonesa para “resfriado”: kaze. É feita dos caracteres de “vento” e “mal”. É totalmente exagerado e é por isso que eu adoro.
Para ser franco, já tentei o meu melhor para gostar de multidões.
Quando eu era pequeno, tentei muitas coisas: liga júnior de beisebol, escola de natação, aulas de aritmética mental, aula de caligrafia, aulas de piano. Quase todas eram coisas para as quais, bem, a Amane me arrastou. Isso ou aquilo era para seu benefício. Nunca gostei muito delas. Graças a isso, obtive surpreendentemente pouco retorno para meu investimento. Exijo um reembolso.
Houve apenas uma lição que levei a sério.
— Você deveria pensar nos humanos como abóboras!
Isso é o que minha instrutora de piano disse quando eu estava nervoso antes de uma apresentação de piano. Palavras bastante usadas, mas como era a bruxa velha quem as dizia, tive que pensar bastante nelas. Tem que respeitar os mais velhos, certo?
No final das contas, porém, havia um pouco de verdade nas palavras da bruxa velha. Na verdade, quando você pensa sobre elas em termos de níveis d’ água, humanos e vegetais não são tão diferentes. Ao considerar sua característica comum — ambos são sacos de água — estão em um plano de existência quase igual. Boa, bruxa velha. Quanto mais velho, mais sábio, ou o que quer que seja. Ela disse algumas coisas boas. Obrigado, vovó.
Graças a ela, desde então suponho que os humanos são vegetais. Bem, não que as palavras da bruxa velha ajudassem com meu nervosismo, eu ainda estraguei minha performance no piano e parei logo depois. Desculpe, vovó.
Nesse momento, olhei para o céu através de uma janela no corredor.
Lá, eu pude ver nuvens levemente incomuns em forma de sinos de templo à meia-noite. Os habitantes da Internet dariam suas dicas neste exato momento: Uau! Essas são nuvens de terremoto?
Que idiotas. Honestamente, este mundo está cheio de cabeças de abóbora.
Sempre que surgiam sinais de um terremoto, as próprias nuvens se transformavam em presságios. A maioria delas, ao que parecia, eram, na verdade, apenas nuvens normais. As pessoas simplesmente as associavam a terremotos, enganando os outros com sua ignorância.
Existem pontos positivos em ignorar a lógica para a própria conveniência. Se você permitir, pode se enganar e acreditar que humanos e vegetais são iguais porque têm níveis de água semelhantes.
Qualquer um que diga isso é um completo idiota.
Bem, por enquanto. Que tal eu dar a você outra semelhança entre humanos e vegetais?
Já disse que odeio vegetais. No entanto, excluo morangos e melões dessa lista.
O vestiário feminino depois da escola ganhava vida como um arrozal depois de uma chuva. Quase não havia espaço para respirar, não apenas por causa do cheiro de perfume e pó que impregnava a sala, mas por causa de todas as garrafas de refrigerante e toalhas de suor sendo jogadas ao redor. Enquanto isso, a tagarelice simplesmente se recusava a acabar— um coaxar aqui, um coaxar ali, quase como um coro de sapos.
Não que tivéssemos alguma noção real de como soavam os sapos. Nos dias de hoje, muitos alunos do ensino médio que moram na cidade provavelmente nunca viram um sapo pessoalmente.
Como tal, tomei a liberdade de usar minha imaginação. Escondendo meu corpo atrás de uma porta de armário aberta, me deleitei neste exercício de entretenimento silencioso.
Sapos descascando camadas, uma de cada vez.
Sapos borrifando desodorante neles mesmos.
Sapos discutindo o amor com seus amigos.
Sempre que troco mentalmente minhas colegas por sapos, o vestiário se torna uma cena bem humorada. Ribbit ribbit ribbit. Sempre sorrio para mim mesma.
Tenho certeza de que, no mundo do arrozal, um sapo que se esforça para evitá-lo não seria motivo de preocupação. Os sapos são cegos.
Os sapos são fortes. Os sapos são livres. Todos os humanos deveriam se tornar sapos.
Se a Terra fosse uma aldeia de cem sapos, não haveria sapos com uma admiração doentia por cisnes. Sem dúvida, eles nunca notariam seus próprios defeitos e, portanto, viveriam para sempre em paz.
Na palma da mão, agarrei uma pequena flor branca, cujo nome não sabia. Não acredito que esta flor alguma vez tenha considerado que poderia se tornar outra coisa senão uma flor até o dia em que a arranquei. Essa certamente deve ser a definição de felicidade.
Um suspiro escapou da minha boca, espontaneamente.
Nuvens em forma de espiral enrolaram-se no céu através da janela que eu estava olhando, como o presságio de um terremoto. Assustada, engoli o suspiro que acabara de escapar da minha garganta.
Existem pessoas lá fora que seriam consideradas frutos desse tipo de lógica distorcida. Quando veem tudo como um presságio, nada tem significado. Pessoas que acreditam nessas asneiras são cabeças de abóbora ou idênticas a vegetais, só para dar um exemplo.
Sim, é assim que elas são.
Mas essa é a lógica de uma pessoa teimosa. Não há pecado em uma abóbora deliciosa.
Neste mundo, as pessoas são um pouco mais covardes. A menos que alguém as empurre, não se moverão um centímetro.
Como eu, por exemplo.
Presságios e adivinhação podem ser apenas um catalisador para pessoas sem coragem. As profecias e revelações escritas são transmitidas de geração em geração exatamente porque oferecem orientação às pessoas em dúvida. Eu me pergunto se realmente é uma coisa tão ruim se apegar a algum tipo de destino invisível.
— Sim, não, sim, não, sim, não, sim… — Murmurei enquanto arrancava as pétalas da minha flor.
Claro, eu estava me escondendo na sombra do armário enquanto fazia isso. Estou bem ciente de que adivinhar pelas flores é algo antigo para pessoas da minha idade. Poderia facilmente imaginar como seria tratada se minhas colegas de classe me vissem fazendo algo tão estúpido.
— Sim…
A última pétala restante formou uma ruga na minha palma. De alguma forma, parecia o rosto sorridente da Misa para mim. Minha irmã angelical. Sempre que penso nela, tenho vontade de fazer tudo ao meu alcance por ela.
Estimulada por aquela pétala, peguei meu smartphone e abri o aplicativo de mensagens. Maria, tenho um favor para te pedir…
De agora em diante, eu teria que interagir com uma pessoa muito assustadora.
Para recuperar algo que havia sido roubado de mim de forma tão injusta, algo muito precioso.
Tradução: Ouroboros
Revisão: n2ny
QC: Bruno.
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