Outer Ragna

Outer Ragna Outer Ragna – Vol 02 – Capítulo 48 – A Sombra Simpatiza Com a Perda do Inimigo/O Oficial Planeja a Derrota do Seu Inimigo

Tudo que tenho pertence a Deus.

Até mesmo essa incerteza em meu coração é Dele.

-Sombra Tamika I-

Estou dando ordens de batalha no meio do dia. Eu!

Minha posição como auxiliar de Dourada permitiu-me recuperar seus restos mortais, um feito da lealdade pela qual estava esperando ser recompensado com alguns dias de luto. Esse normalmente é o costume, não ser mandado para as linhas de frente de um exército que marcha por dias sem parar.

— Lady Tamika. Lady Tamika…

Maldito Deus Demônio. Maldita seja Ela! Deveria ter ficado adormecida nas profundezas do palácio, mas não, tinha que sair para ser toda proativa de repente. Não aguento mais! Eu certamente nunca esperei que Ela fosse aparecer no Conselho da Noite. Nunca planejei me expor ao sol, porém, então, eu, dentre todas as pessoas, fui escolhida para esse trabalho.

Aqueles olhos penetrantes… aquele sorriso cruel… não pode ser. Ela sabe a verdade sobre mim? Não, não é possível. Não tem como, pois me disfarcei tão bem. Por pura coincidência, consegui exercer uma carreira de vampira exemplar. Nunca me esqueço das oferendas nem das preces. Meu registro de batalha também é bom.

— No meio de uma visão, não é? Oh, que linda é. Seu rosto, seus peitos, sua pele… — murmura uma voz.

Tudo bem. Está tudo perfeitamente bem. Ainda resido nas sombras. Não importa como olhem para mim, ou como me tratam, devo ficar bem contanto que não escorregue e revele minhas verdadeiras intenções, nem meus objetivos. Este é apenas um dos seus caprichos; nada fora do comum.

Além disso, o que diabos era aquela merda de “é chegada a hora” e mandar uma declaração de guerra para uma batalha final? Odeio Ela do fundo do meu coração. Por que tem o direito de decidir o destino deste mundo? Ela é apenas o “Deus Demônio”. Um ser maldito de outro mundo… Ahg?!

— Lady Tamika, as tropas estão em formação.

— Hã? Oh, entendo. Diga para que aguardem o sinal.

Dou um tapa na mão da minha auxiliar. Por que tem que me tocar de maneira tão erótica? É um saco a forma com que pressiona seus peitos contra mim. É por isso que odeio vampiros…

Enfim, por enquanto, preciso focar na batalha à frente. Gostando ou não, fui encarregada com essa responsabilidade graças a um comando imperial; preciso ter sucesso, senão serei morta.

Nas planícies está o exército humano. No centro há uma fileira de aproximadamente dois mil soldados de infantaria, com cerca de mil cavaleiros pressionando-os de ambos os lados. Olhando assim parece uma formação deveras comum…, mas a minha Visão das Sombras usa insetos, então não tem como esconder os planos secretos de mim.

Cerca de mil coelhos de combate estão escondidos atrás dos escudos dos soldados. Além disso, apesar da quantidade de bandeiras e fogueiras na cidade atrás deles, há apenas alguns soldados feridos pelo lugar. Em outras palavras, o exército completo deles é de pouco mais de cinco mil soldados, e estão concentrando a força total aqui.

Do nosso lado, contando com os soldados do Presa Chefe Arco Curto, que foram colocados sob o meu comando, temos cerca de três mil e quinhentos soldados na nossa força principal, além de um exército extra de mil lobos negros. No total, somos quatro mil e quinhentos soldados. Nossa vitória é quase que garantida. Porém, só por precaução, tenho quinhentos soldados escondidos para acabar com o trabalho, caso surja a necessidade.

Conheço essas pessoas, compreendo a força dos humanos. Não abaixarei minha guarda.

Quanto ao sinal para começar… Hmm, o que eu deveria fazer? Para ser honesta, não quero matá-los. Eles vieram da Fronteira, então é provável que tenham contato com aquela anomalia. Seja o que for, não quero irritá-la. Além disso, não há nada a se ganhar ao eliminar os humanos. Isso só deixaria o Deus Demônio feliz, o que seria uma perda para todos nós. Nem preciso falar que não busco vingança pela Dourada. Na realidade, ficaria mais do que feliz se eles fossem atrás do próprio Deus Demônio depois dessa batalha. Acabariam torturados até a morte no final, mas, pelo menos, poderia fazer com que Ela baixasse a guarda um pouco.

E, também, não me oponho a trocar a Dourada pelos humanos como meus peões. Entretanto… a guerra já começou. Violência é ilógica, despreocupada, cruel e imprevisível; não diferencia a vida de ninguém. E agora estou envolvida nisso. Chegou a esse ponto, então não me importo com qual seja as circunstâncias dos humanos. Não quero matá-los, mas não quer dizer que quero deixar que corram soltos. Desejo apenas diminuir o número de incômodos.

É tão triste. Estamos todos presos no vórtice de desespero daquela criatura venenosa, criado a partir daquela declaração de “batalha final”. Até mesmo os vampiros, que estão destinados a vencer, não passam de sacrifícios. No fim, todos eles também serão eliminados. Os Apóstolos não passam de atores de suporte. Se não é um Apóstolo, não passa de um figurante. Não importa quais sejam os planos que tem, o que pode fazer é limitado.

Conheço a verdade desse mundo mais do que ninguém. E, por causa disso, o dever que devo executar pesa demais sobre mim, provavelmente.

O mínimo que posso fazer é simpatizar com aquelas pobres criaturas… Pois é, deixarei que comecem a batalha.

Vão em frente.

Quanto mais profundamente o sol se põe, mais as sombras se alargam, mais eles entrarão em pânico. E, temendo a noite, irão agir. Essa é a nossa abertura — o melhor caminho para a vitória. Então, quando vencermos… executarei minha missão.

-Capitão Jashan son Peine II-

— Hmm… essa é uma batalha de resistência. — murmuro para mim mesmo. Marius e Zakkow estão ao meu lado, um olhar temeroso no rosto. Considerando que as forças dos vampiros são maiores do que esperávamos, não os culpo. — Acalmem-se. Os vampiros apareceram, mas não estão atacando. Vamos pensar no porquê. Essas bestas, que amam batalhar e são sedentos por sangue, divulgaram uma proclamação de guerra, sem chance de diplomacia…, mas ainda se recusam a se mover. Algo claramente está muito estranho.

Eu cruzo as pernas dramaticamente, fazendo com que o meu banco estrale. É um som doentio, como se fosse um grito. Bato na minha barriga, mesmo que não esteja cheia, e minha armadura emite um tinido animado. Nossos soldados observam e ouvem; os líderes deles não podem se dar ao luxo de ficarem nervosos.

— É uma armadilha? — pergunta Marius.

— Talvez. O que é bem improvável que os vampiros façam.

— Uma armadilha… Talvez estejam nos mantendo aqui enquanto  separam uma força ao lado do caminho para atacar a Expansão.

— Esse não é um plano que um guerreiro bolaria. Não há dúvidas de que iriam preferir que esses homens a mais nos atacassem pelos lados ou de frente.

— Provavelmente mudaram de estratégia depois de nos observarem.

— Esse poderia ser o caso se nossos oponentes fossem do tipo honesto…

Se basearmos nossas suposições no comportamento humano, eu não teria problema em responder Marius. Certamente, essa seria a melhor estratégia. Mas essas bestas fariam algo assim? Ou criaram algum tipo de plano?

— Então, talvez, é uma ameaça silenciosa. Pode ser que queiram nos fazer recuar, sem lutar.

— Não podemos esperar tamanha educação dessas coisas. Não se lembra da Dourada? Ela trouxe suas forças de tão longe, lá do norte… Oh! Entendo! Talvez…

Talvez tenham vindo para cá com um objetivo em específico em mente. Portanto, se essa situação satisfazer o objetivo, não haveria nada de estranho. Observar o exército humano? Não, o que fizeram até agora teria sido mais do que o suficiente. Se nossa destruição fosse o objetivo deles, já teriam atacado agora. O que é? Como estão planejando fazer uso dessa situação?

— Hmmm… No momento, eles não parecem estar se coçando para lutar. Será que estão ganhando tempo? Ou simplesmente não dão a mínima para quanto tempo isso leve? O que pode ser?

— E faz diferença?

— Se for a última opção, podemos evacuar os cidadãos. Podemos deixar o nosso exército aqui para mostrar a eles que não pretendemos deixar ninguém. Essa seria uma vitória sem perdas?

— Calma. Há cidadãos demais, e a Fronteira está longe. Se atacarem…

— Podemos apenas revidar com a força de demônios. Se o fizermos, eles com certeza irão recuar. Se o objetivo deles é ganhar tempo, irão querer evitar uma batalha decisiva de curto prazo como essa.

— Esse é um plano maluco.

— Isso é guerra. Oh, porém, se chegar a esse ponto, quero que lute de longe, Marius. Nossa prioridade é preservar os Cavaleiros Bombardeiros. Você entende isso também, certo, Zakkow?

— Sim…, mas você também está planejando lutar de frente? O que acha de assumir o comando de uma ala da cavalaria?

— Eu já te disse; nada de cavalos para mim. Os ferimentos nas minhas coxas internas são profundos. Aqueles lobos negros são tão perversos e bárbaros quanto seus mestres. Pelo menos fui capaz de proteger o meu saco.

Abro as pernas e balanço-as. Viu? Agora estão rindo. Piadas sujas são as melhores em momentos como esse. Isso os traz à realidade e faz com que se lembre de si mesmos.

— Então, permita-me checar se o seu plano irá funcionar. — diz Marius.

— Oh, vai mandar batedores? Talvez devesse mover-se depois que observarmos a situação um pouco mais.

— Claro, um pequeno desafio poderia nos revelar muitas coisas.

— Certifique-se de não entrar em combate agora.

Marius ri.

— Será só uma cosquinha.

Ótimo, ótimo. Aquele sorriso de coração negro mostra que não tenho nada para me preocupar. Um guerreiro jovem e de bochecha rosada não tem por que agir como um herói trágico.

Agora que dei um jeito na moral daqueles dois, é hora de pensar. Como vencemos? Entrar em uma guerra de espionagem é difícil demais para alguém de coração tão puro, alegre e gentil como eu…, mas é muito mais fácil do que uma disputa de força bruta.

Posso sentir no ar; as bestas sugadoras de sangue à frente estão desesperadas pela batalha. Estão sendo forçados a fazer algo incomum, mas não podem desobedecer. Deve ser muito… frustrante. Até mesmo os mais insignificantes do exército da Dourada tinham total autonomia. Não há jeito algum de essas bestas se comportarem com tais ordens vindas de alguém que não é um Apóstolo. Não por muito tempo, pelo menos.

Seja o que for que estejam planejando, seja qual for a armadilha, se uma batalha prolongada é o que querem, uma fraqueza irá aparecer no fim. Se os deixarmos assim, irão se destruir sozinhos. Essa é uma batalha de atrito, e ninguém é melhor em agir assim do que nós. Devemos esperar pacientemente para que as pontas soltas se esfiapem… Ah, que grande esporte é esse!


 

Tradução: Taiyo

Revisão: Midnight

 

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