Piso na morte dos humanos.
Sou apoiada pela morte; salva pela morte; impulsionada pela morte. Em frente eu vou.
-Mercadora Ange I-
O governo e os militares. Junte os dois e terá uma guerra — quando o dia a dia é esmagado sob os pés do inesperado. Uma calamidade de violência que mata homens e mulheres indiscriminadamente. Não há nada para se gostar nisso.
Então você pode imaginar a minha surpresa ao ver-me planejando uma guerra.
Como Mestre da Moeda para a Fronteira, meu trabalho resume-se, em essência, a uma coerção impiedosa. Arranco todo o dinheiro do povo, o qual eles precisam para sobreviver, para apoiar nossas forças militares. Que bizarro.
— Sério, não tem motivos para me explicar. A afirmação dos vampiros foi clara: eles reconhecem esse lugar como uma terra em disputa, e é por isso que estão atacando. É isso. Sem declaração de guerra nem nada, apenas atacam. — diz Padre Felipo, brincalhão, mas ninguém ri. O seu escritório é como estar em uma cela, esperando o julgamento.
— Ataque? Não tem como negociar? — Um oficial choraminga. Ele é um dos que nos trouxe suprimentos e soldados do forte nortenho. Qual era mesmo o seu nome? Algo longo e difícil de lembrar.
— Perdoe-me… Senhor. Mesmo que peça…
— Não, Padre, deixe-me falar. Não estou o culpando, então pode se acalmar. Nós enfrentamos vampiros, afinal. É compreensível que eles não irão simplesmente sentar e conversar.
Quanta ingenuidade, a pausa do Padre Felipo se deu ao fato de não lembrar o seu nome.
— Mas, por enfrentarmos vampiros, devemos fazer alguma coisa, senão será o nosso fim. Você diz que essa terra está sendo disputada, portanto, em outras palavras, eles estão atrás dos elfos. Talvez possamos negociar com eles e deixar que lutem o mais longe possível da Fronteira. Levará um tempo até evacuar.
Oh, ele está tentando ajudar. Mesmo assim, não entende o quão grave, sem precedentes e terrível é a situação atual. Os elfos e vampiros irão batalhar, enquanto os humanos fazem o possível para não serem envolvidos? Uma vida dessas, semelhante a de mero gado, já não é mais uma opção.
— Lutaremos ao lado dos elfos contra os vampiros. O assunto já está resolvido.
O Capitão Representando, Willow, parece estar indignado… ou talvez não. Ele estava tão certo de que não poderíamos contar com o forte, mas, ainda assim, mandaram esse comandante sem nome.
— Qual é, Capitão, por que precisa ser dessa forma? Seria insano enfrentar os vampiros. Além disso, temos um tratado de não-agressão. Será ruim se entrarmos em batalha sem termos a aprovação necessária. E como propõe que seremos capazes de derrotar os vampiros? Não é possível.
Esse comandante tem coragem, posso ver isso em seus olhos. Não é um ignorante, pois está tendo consideração por saber muito bem o que aguarda.
— Já enfrentamos vampiros. — diz ele, sem irritação.
Que atitude incrível este homem tem.
— Vencemos. Matamos alguns, assim como estava no relatório que enviamos para o Comandante do Forte.
— Oh, aquilo? Sim, lemos ele, mas ninguém acredita. Acham que vocês clamam que os esforços dos elfos são seus.
— É isso o que todos pensam no forte?
— Não, apenas alguns. A maioria dos quais, já conhecem a força dos vampiros.
— Então quer uma demonstração do nosso poder…. o poder do Exército de Guarnição da Fronteira?
— Com todo respeito, não desejo arriscar a minha vida apenas para enaltecer a fama da Casa Willow, muito menos desejo liderar meus homens em direção a uma morte certa.
Oh, compreendo. É uma questão de casas militares. Os Willows certamente são famosos, mas não perfeitos, nem os únicos que existem. Junte isso com o mistério da autoridade e verá que tal discórdia não é incomum.
— Eles já mostraram seu poder. Foi de cair o queixo.
Oh, agora é o soldado veterano da Expansão Infernal que fala. Capitão Zakkow, correto?
— Vi com meus próprios olhos: mil monstros, todos aniquilados por apenas quinhentos cavaleiros. Também foi relatado a mim que eles eliminaram uma horda massiva de dez mil monstros com apenas mil e duzentos cavaleiros.
Zakkow está aqui com o exército voluntário, composto por homens, tanto plebeus quanto soldados, da Expansão Infernal, os quais desejavam se juntar à luta na Fronteira. Todos estão eufóricos e esperançosos com a vingança que queima em suas barrigas. E o líder deles parece ser um grande veterano. Pelo menos é o que me parece.
— Aqueles soldados são fortes, incrivelmente fortes.
Ele está fervoroso, quase como um jovem na flor da idade.
— E o líder desse exército diz que eles mataram vampiros. É natural acreditar nele. Na realidade, questiono você por recusar-se a acreditar.
— Entendo o que está querendo dizer. Vi os troféus. Nunca vi tantos ossos de troll gigante reunidos em apenas um lugar.
Mesmo assim, ele dá de ombros. Tem coragem, o que faz querer elogiá-lo.
— Este lugar está repleto de atividades suspeitas. — Ele olha para todos nós, inclusive para mim, eu suspeito. Ah, aí está. — É justificável que o seu Ministro de Guerra se torne Capitão Representante. E é comum acontecer de um sacerdote ajudar com os procedimentos administrativos. Entretanto, apontar um Feiticeiro Chefe não é algo que posso aceitar. Você está ignorando os costumes e leis ao não buscar o endosso da Guilda dos Feiticeiros. Na realidade, eles considerarão que estão querendo puxar briga.
Ele fala primeiro de Odysson, hein? O homem esteve em silêncio…, não parecendo irritado. Na verdade, acena repetitivamente. Por que será?
— Também existe o fato de chamar mil cavaleiros da Casa Willow. É difícil determinar se está ou não passando dos limites aqui, mas é deveras suspeito. Rumores dizem que o segundo filho banido está se juntando às forças com seus irmãos mais novos para derrubar a família.
Fofocar sobre os escândalos de outras pessoas é fascinante demais, ainda mais quando envolve uma família famosa.
Fiquei sabendo disso também. Dizem que o filho mais velho é da mediocridade, que só se importa com a vida social e, quando comparado com o segundo filho, não chega nem aos seus pés. Era só questão de tempo até que fosse deserdado. Porém, utilizando-se de alguns truques, conseguiu fazer com que o segundo filho fosse enviado à Fronteira. Mesmo que possa não ser verdade, uma história dessas é algo para se aplaudir de pé.
Capitão Willow, como sempre, estava inexpressivo. Como será que os seus irmãos iriam reagir caso estivessem aqui? Ficariam furiosos? Tristes? Ou apenas enojados?
— E tem também o seu Mestre da Moeda. Ela é a Líder da Empresa Flor Carmesim. Dentre todas as pessoas… não consigo acreditar que confia nela.
Não tenho nada a dizer quanto a isso. Esse comandante não disse nada além da verdade até agora.
Sim, de um ponto de vista ético e moral, sou uma vilã. Carne humana, sangue, ossos, pele… qualquer coisa que não sejam humanos vivos… se vampiros querem, eu localizo, reúno e vendo.
— Sem contar que ela trouxe os Leões Vermelhos como guarda pessoal. Dizem que esses caras levam vampiros para os acampamentos humanos. E você tem uma parte deles como defesa? Não tenho palavras. Está muito além do bizarro.
A companhia mercenária, os Leões Vermelhos, são carrascos para o meu trabalho. Eles partem para terras contestadas para coletar os mortos. Os preparam para a venda e, então, levam os itens para os vampiros. Certamente, alguns ficaram gananciosos e os seguiram, o que causou um desastre.
Mas, se eu não fizer o fornecimento para eles, o dano seria ainda maior. Quem? Diga-me, quem negociaria alegremente com vendas tão sujas?
Hã? Aplausos? Quem foi? Oh, você, Padre Felipo. Ele estava ouvindo com um sorriso no rosto o tempo todo, enquanto o homem, cujo nome sequer consigo me lembrar, falava.
— Ah, maravilha. Um julgamento deveras apurado. Estou bastante ciente de como as pessoas fora da Fronteira nos veem. Certamente, há mais, mas vamos manter assim por agora.
— Entendo. Bem, também há reclamações contra você, Padre.
O que será que ele quer dizer? Estão sorrindo, mas eu tinha certeza de que estariam um agarrando o pescoço do outro.
— Oh, isso é uma surpresa. Que tipo de reclamações?
— O jornal está eufórico. Quem teria pensado em uma história dramática como essa? Eles já anunciaram um show de marionetes. Até mesmo já assisti.
— Ho-hoh? E como foi a apresentação?
— Foi boa. Quase morri de rir quando o sacerdote boneco de neve saiu rastejando da igreja destruída.
— Ora, ora… quem escreveu o roteiro? Quanta rudeza.
— Um dos escribas da Igreja, aposto. Eles certamente têm rancor contra você, Felipo.
— Isso é irritante, meu querido Jashan son Peine.
— Encurte este nome. Está grande demais.
— Estamos falando do seu nome.
— Por favor, eu já lhe disse que Peine é o suficiente.
Sério, o que está rolando aqui? Apenas o Capitão Zakkow e eu permanecemos confusos. Até mesmo o Capitão Willow e Odysson estão sorrindo. Isso me dá raiva.
— Oh, deixe-me lhe explicar. Ele e eu fomos colegas no seminário. Éramos malandros como ladrões, depreciando nossas famílias e o mundo.
— E, graças à diferença de poder entre nossas famílias, fui o único que acabou expulso.
Velhos conhecidos, com personalidades semelhantemente terríveis, e malandros como ladrões… Ah, agora eu entendo. É isso, então. Esse oficial é um espião e estava tentando atuar aqui, improvisando bastante com as coisas que ficou sabendo através das fofocas.
— Sinto muito por dizer coisas tão terríveis. Principalmente a você, Mestre da Moeda. Não só menosprezei o seu trabalho, como também sua humanidade.
— De fato! Se não soubesse que estava brincando, teria lhe batido!
— Não sou tão miserável assim.
— Oh? Neste caso, qual teria sido o meu destino?
— Assassinado pelos Leões Vermelhos. Não conheço suas habilidades, mas serviu ao seu propósito. — Ah-hah, qual é o problema? O seu rosto está congelado. — Estou brincando. Você usou maneiras astutas para me dizer o que o mundo pensa de mim. Apenas desejava lhe devolver o favor, mas não sou tão boa quanto você.
— E… Eu entendo. Sinto muito. De verdade mesmo, me perdoe.
Ele curvou a cabeça de maneira reverente, com a espinha reta como uma flecha. Mostrei um sorriso, e tudo isso era graças à sua farsa. Até mesmo o Capitão Zakkow sorri, o que não é algo insignificante. Ser capaz de fazer os outros rirem em tempos com esse é realmente algo maravilhoso.
— Enquanto estou me desculpando, deixe-me lhe dizer que vim aqui para morrer.
Sim, senti mesmo que você tem coragem.
— Eu estava certo de que o meu “amigo”, abatido e triste, morrera, até que recebi palavras que pediam pela minha ajuda. Fiz diversos cálculos e considerei cobrar uma noitada como pagamento ao ficar sabendo que iriam entrar em guerra com os vampiros. Tipo, sério mesmo.
Então, hmmm, Oficial Peine-Alguma-Coisa esteve ao lado deles por muito mais tempo do que eu. Ele está muito mais envolvido com o trabalho importante deles do que eu. Entendo, entendo.
— Não importa quantos milhares de monstros vocês eliminem, nem quantas dezenas de vampiros matem; não importa se acredito em tudo o que dizem e sinta que é uma esperança boba… Todos nós ainda morreremos. Não temos chance alguma.
De fato. Levando em conta nossos oponentes, esse é o pior cenário possível.
— Dentre todas as coisas, a Apóstola dos vampiros… Dourada, não é? Não, não, não.
Aquela palavra aterrorizante estava marcada na declaração de ataque que eles fizeram. A chefe Apóstola dos vampiros, que até mesmo conseguiu fazer Mar Profundo recuar.
— Então, já que vamos todos morrer, selecionei os companheiros mais sem noção do forte. Pessoas que estão cansadas desse mundo. Pode contar comigo como um deles. Na verdade, sou o chefe.
É por isso que ele consegue sorrir? Sorri como uma criança danada.
— Faça com que eu acredite na esperança. Você tem esperança, não tem? Tem uma Apóstola dos humanos. Chega de enrolação e deixe-me vê-la. Então, se realmente inspirar a esperança em mim…
Ele não suportava mais. Não aguentava mais.
— … lutarei com maior bravura do que qualquer um, até o meu último suspiro, com um sorriso brilhante em meu rosto. Gritando, “Glória aos humanos!” o tempo todo.
Oh, então é isso. Esse escritório está cheio de adultos que sorriem como crianças.
E é assim que a guerra começa.
Tradução: Taiyo
Revisão: Midnight
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