Outer Ragna Outer Ragna – Vol 01 – Capítulo 13 – O Sacerdote Admira e Deseja o Belíssimo Horizonte Natural da Humanidade

Eu conheço Deus. O Deus dos humanos.

Um dia, todos os outros deuses O conhecerão pela minha lâmina, também.

 

-Padre Felipo III-

A Guerreira Dragão, propositalmente, não curva a cabeça, mas sua atitude foi quase isso.

— Padre, tenho um pedido. Acredito que Sua Graça deseja acalmar as crianças humanas. Na realidade, ela falou que quer tocar e falar com elas. No entanto, considerando o incidente do outro dia, me instruiu a transmitir sua sinceridade, pelo menos…

Não importa como ela diga isso, não tem como eu recusar seu pedido se suas intenções são verdadeiras. Mas o que devo fazer? Pela minha perspectiva como sacerdote, a religião élfica é pagã e herética. Falho em entender por que veneram um lagarto monstruoso. É semelhante a uma perversão sexual em minha mente. Além do mais, os Apóstolos élficos deviam ser o inimigo público número um… ou assim eu pensava.

Que coisa. Minha nossa, minha nossa.

Os milhares de carrilhões de vento flutuando no céu noturno são lindos. São quase como criaturas vivas, tocando com a fraca vontade da Comandante Dragão. Seus toques me emocionam, me completam. Seus tons claros e agudos dão cor ao mundo.

Oh, e o que é isso? Dezenas de objetos grandes e impossíveis de descrever agora estão ascendendo. Eles aumentam! Quase iguais aos sinos da igreja. Eles são, na verdade, criaturas vivas? Seja o que forem, se juntam à demonstração. Seus tons baixos se harmonizam, dando apoio aos toques agudos, envolvendo-os. Os vários tons ondulam juntos, criando um cenário detalhado e majestoso de som… Oh… Consigo ver agora! Um mundo rodopiante de luz; cegante,  de natureza vasta, harmonia e, dentre todas as coisas, paz.

Este é o senso de estética dos elfos. Esta é a vista que os elfos têm do mundo.

— É algo a se contemplar.

Realmente, Lorde Willow. Posso concordar com isso.

— Se pudéssemos pelo menos sorrir e dizer que a arte não tem limites tais como a raça.

Sim, a mais pura verdade. Não há nada para se rir ali.

— As crianças estão aproveitando o show, no entanto. E, de certa forma, parece quase engraçado.

Sim, Odysson. Você fala a verdade. Se eu pudesse olhar para isso com um coração inocente, a gravidade seria obscurecida, fazendo parecer peculiar e cômico. Cada coisa no céu tem olhos e nariz, afinal.

— Mas vocês tão vendo aquilo, né? São fadas e espíritos. Credo, que magia louca. Aquela merda está no mesmo nível da que Kuroi usa. Só está em uma dimensão diferente. O suficiente para levar um homem à loucura.

De fato. De fato.

O que realmente cerca a Fronteira, em essência, é o verdadeiro poder dos elfos. O rei lagarto, projetado via os Apóstolos… o poder do Deus Dragão.

Oh, minha nossa. Lorde Willow e Odysson ficaram em silêncio. Ah, e meus lábios ficaram fechados como se estivessem colados. Que pressão. Não tenho outra forma de descrever isso.

Posso fechar minhas pálpebras, mas não há nada para cobrir os ouvidos. Mesmo que use as mãos, não tenho defesa contra a coisa que penetram minha alma… Céus, que belíssima violação agressiva.

Sim… isso é agressão. Não importa o quão cultural ou maravilhoso possa ser, ainda é violência. Por quê? Porque dentro de toda essa maravilha não há lugar para os humanos. Sem contar que é uma magia gigantesca. Nós, humanos, só podemos assistir, enfeitiçados como transeuntes. Nossa admiração é forçada.

— É lindo… Realmente, sem dúvidas, lindo. — Irei admitir isso. Negar por negar é trabalho dos tolos.

— Afirmar-se, mostrar-se orgulhosamente e existir com calma… Como invejo a cultura deles. Não consigo imaginar ser capaz de dizer, sem arrogância, que nossa raça é o personagem principal deste mundo.

Isso é difícil de aceitar para adultos como nós. É injusto nos lembrar de tamanho egoísmo. Somos tão pateticamente impotentes, e quanto mais isso nos é lembrado, mais nossos corações secam e lágrimas aumentam, transformando a nós, humanos, em criaturas feitas de pele e ossos, com a esperança completamente arrancada a partir da raiz. Estamos repletos de desespero. A dor da nossa doença é tamanha que a única forma de a suportar é abandonar a habilidade de pensar.

Mas as crianças são diferentes. Sim, elas podem aproveitar com honestidade. Por enquanto, ainda podem experimentar o mundo em sua cor brilhante. Mesmo que em algum dia também acabem quebradas, neste curto momento, podem encontrar alegria. E este é mais um motivo para nos esforçarmos pela revolução.

— Devíamos ser belos também.

Muito bem dito, Lorde Willow. Roubou as palavras da minha boca.

— Não acontecerá da noite para o dia, entretanto podemos continuar buscando isso.

Que surpresa. Essas palavras. Esse perfil. Ele já tomou sua decisão com relação à família?

— Bem, não precisa ser nós também.

Hm, o olhar de Odysson é bastante sereno. Posso imaginar o que está prestes a dizer em seguida.

— É a teoria da exploração. Aqueles que cavam e limpam o caminho são os que se sujam. Até mesmo está tudo bem se caírem. Os que seguem logo atrás podem continuar. E, um dia, chegarão a algum lugar bonito. E é aí que venceremos. Para aqueles que vêm depois, a beleza se torna normal.

Que teoria emocionante. Isso me fez querer arriscar a minha vida pelo progresso. Odysson, você já está o fazendo, então não é de admirar que possa sorrir tanto assim. Oh, e Lorde Willow também sorri de maneira semelhante… Oh, oh! E eu também, possivelmente.

Muito bem. Vamos aproveitar a beleza dos elfos por agora. Deixe-nos saciar nossos corações e corpos no entorpecimento. Mas, em nossos corações, devemos manter nossas determinações verdadeiras. Afinal, temos… Hã?

Lady Kuroi? Todo mundo está congelado, mas ela corre… até o topo da torre? Até a bandeira? Resistindo ao chamado da sirene da bela cena e sons, seu olhar afiado encara o oeste. Roxo mistura-se no céu, indicando o começo da noite.

Não pode ser.

Não… talvez seja? O som oscila. Não, é interrompido. De maneira física ainda. Aquelas são pedras arremessadas que cobrem o céu oriental? Centenas delas voam pelo ar, chocando-se contra os sinos de vento. Que caótico.

A música está desorganizada, mas as pedras… elas não caem. É por causa dos sinos de vento? Estão levando as pedras consigo enquanto desaparecem?

— Ei! Veja!

— Sim, eu vejo.

Os falcões levantam voo, assim como os elfos voadores. Os sons agudos de flautas oscilam. Os sons ameaçadores rasgam minha alma.

— Mobilize o exército. Subam nos cavalos.

— Não temos outra escolha. O exército élfico está no portão norte destruído. O portão oeste também continua útil. Bloquei o portão sul e faça um caminho para evacuação no leste.

Os portões, paredes terrestres e cercas de madeira. Essas são as coisas que separam o lado de fora do lado de dentro e nos protegem diariamente. Mas, contra elfos e esses novos oponentes, perdem todo o significado.

— Feiticeiro, evacue os cidadãos.

— Deixe comigo. Mas se for o caso, também lutarei.

— Caso seja necessário, faça isso como uma força combinada, se possível.

— Qual é, queimei orelhas pontudas. Os olhos amarelos não têm chance.

Meus companheiros são confiáveis. Quando a hora chegar, devo empunhar uma lança também. Só posso dar o meu melhor e deixar o resto nas mãos de Deus. Nenhum caminho é mais adequado do que a Fé.

— Padre, certifique-se de conversar com os orelhas pontudas. Já me acostumei com situações malucas, mas até mesmo eu não quero lutar contra dois inimigos ao mesmo tempo.

— Que heroico…

— Deixe comigo. Mesmo que minha língua seja arrancada, terminarei as negociações.

Sorrimos rapidamente um para o outro, então nos separamos para atender aos nossos deveres. Não se sabe quando, ou se, nós três nos reuniremos uma vez mais. Talvez nós todos morremos hoje à noite.

Mas temos a Lady Kuroi. Ela nos abençoa com a sua presença. O que se há para ter medo então?

É hora da batalha. Os elfos e os vampiros lutarão neste palco conhecido como a fronteira humana.