Entre o Céu e a Terra há um flamejante horizonte carmesim.
Eu busco.
Este lugar.
Como Deus deseja que eu o faça.
-Cavaleiro Agias III-
Agora, a arrogância élfica não é algo que me irrita.
— Capitão, não me faça dizer duas vezes. Isso não é o bastante. Exigimos mais grãos, batatas, farinha, gado e cavalos.
— E, como continuo dizendo, Segundo Comandante, não temos obrigação de lhes fornecer nada mais. — Quanto tempo faz que estou aqui, prestando atenção, longe das tropas e cercado por elfos comendo e bebendo? Como as coisas estão indo com o Padre Felipo?
— Você é teimoso como um burro. Minha paciência está realmente sendo testada.
Concordo, mas não vou deixar isso à mostra.
— Não sinto respeito. É uma pena.
— Não apenas devemos construir nossos campos, mas também devemos os alimentar. Já ajudamos mais do que o suficiente.
— Peço a tolerância do povo de Ewlogond. Humanos me obrigam a isso.
— Estamos apenas respeitando nossa parte do Tratado de Baltrial.
— Uma velha interpretação de uma lei antiga. Não, vamos chamar isso de pretexto improvisado. Quanta falta de vergonha.
Zombarias vêm de todos os lados. A risada dos elfos é como o farfalhar de folhas, ou a afinação de uma orquestra. Apropriado, se considerar que são uma raça que se sobressai na música.
— Essa coisa na sua cintura é uma espada?
— Sim.
— E você chama isso de arma?
Ele foi insistente para tentar me irritar, não importava o quê.
— De fato.
— Seria inútil contra os arcos do nosso exército, e quebra como um galho em uma batalha contra o martelo de um vampiro. É só isso que você tem para se defender?
— Correto. — Ele é teimoso. Até mesmo estava começando a ficar um tanto frustrado, eu diria. O que o torna desse jeito? Orgulho? Desprezo? Pânico? Ressentimento? De qualquer forma, está é uma batalha. Estou contra um mar de fortes ataques ofensivos. Por enquanto a minha postura não mostra aberturas, mas, já que reforços são incertos, é improvável que isso será considerado um empate. Duvido que posso esperar por uma derrota por pouco. — Gostaria de ver? — Neste caso, devo agir com um contra-ataque.
— Sim…
Vá, minha espada — minha vanguarda.
— Hm, deixei cair. É pesada. Que raquete pesada acaba se tornando.
— Uma espada dessas não deve ser empunhada nem criticada com tão pouca consideração.
— Hmph. Compreendo, mas por que não limpa a sujeira dela?
— Um guerreiro usa a sujeira do campo de batalha como travesseiro. Isso vale o dobro para suas armas e armadura.
— Os ideais de um selvagem, de fato. E… Mgh… não consigo desembainhá-la.
— Talvez seja melhor assim. Uma lâmina nua clama por sangue.
— Você golpearia um elfo?
— Eu simplesmente sei o significado de uma lâmina.
— Você estava planejando me golpear, não estava, humano imundo?
Pego a espada que ele jogou no chão novamente. À medida que meus dedos envolvem o cabo, sinto uma teimosia. Você é tão cabeça dura quanto eu, não é mesmo?
— Vamos ver se esse graveto é digno de ser chamado de arma.
— Possivelmente este não seja o melhor lugar. Além disso, nossas armas são afiadas demais para um duelo.
— Não reclame de pequenos detalhes. Chore o quanto quiser, entretanto já foi decidido.
Ele me mostra um olhar rápido, quase intenso. Esse oficial é durão.
— Irei disparar uma flecha. Bloqueie se puder.
Ouço o som de uma corda de arco antes mesmo de ele terminar de falar. Não vinha da frente, mas sim do lado e detrás. Uma Flecha Dilacerante dupla. Vento passa pelo meu ombro e perna. Indicando seus alvos. A habilidade de tiro com arco dos elfos estava de igual para igual com magia.
O fato de que não eram alvos fatais era prova de que era um truque. Ele quer nos fazer agir. Por isso desembainho minha espada, um rápido clarão pelo ar, e, com grande velocidade, corto as flechas.
Hmm… Está silencioso. Podemos ser espécies diferentes, mas artes marciais ainda são artes marciais, e um soldado é um soldado. A habilidade de um oponente é melhor julgada em silêncio. Heh, ele está tentando esconder o som da saliva descendo pela garganta? Não sei seu nome, arqueiro, mas não há nada para se ter vergonha. A verdade é que também estou bastante impressionado com a minha habilidade, e isso não é apenas presunção.
Isso é uma benção. Deus abençoou a nós, humanos, quando movemos nossas espadas.
— O que está fazendo? — Uma voz ruge do alto.
Um elfo voador, hein?
— Segundo Comandante Arcsem! Explique-se!
— Não há por que ficar nervosa. O humano desembainhou sua espada diante de mim.
— Não minta! Você o cercou com seus homens e disparou flechas contra ele!
— Se estava observando, por que se incomodar com uma explicação, Guerreira Dragão?
— Você ignoraria a vontade de Sua Graça, seu vira-lata?
— Eu estava apenas tentando assegurar provisões. Isso está dentro das responsabilidades do meu trabalho.
Até mesmo os elfos têm brigas internas? Interessante. Então ele tentou causar problemas para dar início a algo apesar de que isso estava à sua espera? Tudo para trazer guerra a essa terra…
Bem, não vou deixar. Não diante dos meus olhos.
— Em planícies de caos, onde colinas erguem-se como um mar tempestuoso…
Solenemente, começo a entoar uma antiga canção de guerra. Com a lâmina desembainhada em mãos, eu danço.
— Ventos malignos sopram nuvens roxas do sul, muito acima dos picos do Paraíso…
Cantando com clareza, continuo a dançar. No lugar do tradicional bater de palmas, movo minha espada, e no lugar de tambores piso na terra. Ouçam. Observem. Esta é outra forma de batalha.
— Ouvidas as vozes de mil homens, mil cavalos tornam-se as sombras da Selvagem Floresta de Lanças, tornam-se uma torrente de campos de batalhas…
Alguns dias atrás, essa terra era como um cemitério. Podia ainda ser um campo de batalha, mas havia vida agora. Ou, melhor dizendo, tornou-se uma terra sagrada.
E assim eu canto. E assim eu danço. Meu corpo está repleto de alegria ao oferecer minhas artes marciais a Deus.
— O silencioso luar brilha sobre os túmulos dos fortes. Uma bandeira de guerra solitária cobre uma terra vazia.
Quando a canção termina, enfio minha lâmina na bainha, o tinido ressoa como um sino. Minha espada é guardada, eu fico ereto, então curvo-me.
— Perdoe-me. É apenas uma pequena demonstração do meu respeito pela bravura do seu exército.
Ah, está tudo quieto. Tão quieto, tanto que até posso ouvir o som do farfalhar de folhas. Os sussurros dos soldados são a representação da verdadeira natureza de um exército. Como esperado, seja humano ou elfo, a pureza de um guerreiro não muda. Soldados são simples e brutos. São corajosos contra inimigos, temem os inimigos, desafiam os inimigos. Assumindo que nós todos compartilhamos destas qualidades, as táticas podem ser relacionadas. Pelo fato de matarmos uns aos outros, também podemos lutar juntos, às vezes.
— Se bem me lembro, você é o representante desta terra, correto? — A Guerreira Dragão se aproxima. Isso deve significar que as coisas se acalmaram, pelo menos.
— Sou Agias Willow, Capitão Representante da Fronteira.
— De fato, uma excelente demonstração. Desejava ter minha flauta para que pudesse acompanhá-lo.
— Seria uma honra.
— Entendo. Fico feliz em ouvir isso. Entretanto, deixando isso de lado, há algo que devemos discutir imediatamente.
— O distúrbio na área residencial?
— Sim. Segundo Comandante Arcsem, insisto que nos acompanhe.
Trazido para o acampamento deles, sento-me no assento que me foi oferecido. As plantas que decoram o interior me lembram que estou no coração das terras inimigas.
— Vamos direto ao ponto. Seu relatório, Guerreira Dragão.
— Sim. Infelizmente, perdas foram sofridas em ambos os lados.
Então não vamos esperar a chegada do Padre Felipo, hein? A Guerreira Dragão não parece apressada, mas o Segundo Comandante elfo sim. Assumo que não gosta de lidar com aquele homem de boa lábia. Posso entender.
— Sua Graça deseja expressar a mais profunda tristeza pelo incidente. Até mesmo agora, está abatida pela aflição. Tudo começou com… — O rosto da Guerreira Dragão está severo enquanto explica o que aconteceu. Mas não sei dizer se são as vítimas que a fazem sofrer.
— Entendo. Então três soldados foram perdidos. — Um exército élfico ocupando uma área humana… jamais daria certo. E, considerando o caos do ataque de monstros, temos sorte por isso ser tudo o que aconteceu. Mesmo que pessoas tenham morrido.
— Devo insistir que essa não é a vontade de Sua Graça. Na realidade, ela tentou impedir. Até mesmo em sua aflição, ordenou-me que o fizesse. No entanto, foi, hm, difícil compreender…
Posso imaginar o motivo, mas evitei falar. Afinal de contas, para os elfos, humanos não eram vistos como iguais.
— Espere. Nós perdemos três soldados e seis bestas?
— A violência na área residencial foi nossa culpa, Segundo Comandante Arcsem.
— Não fuja do assunto. Está me dizendo que humanos mataram elfos?
— Sim… Eu mesma testemunhei.
— Como se eu fosse acreditar numa coisa dessas.
Se alguém pudesse fazer o impossível, seria aquela garota de cabelos negros.
Kuroi.
Mais cedo, ela estava observando a mim e Padre Felipo de longe, quando percebeu a perturbação na cidade e correu até lá. Então quer dizer que salvou algumas crianças e se vingou dos elfos, hein?
— Nós…
Se eu considerar as ações de Kuroi — considerar suas ações como as de Deus…
— Nosso exército…
Como aquele que está no comando dos soldados aqui, é meu dever entregar o veredito.
— Nosso exército existe para proteger os humanos. Na mão direita portamos uma lâmina, na esquerda, chamas. Cada um de nós está sempre pronto para defender. Não lutamos com imprudência, mas não nos acovardamos em batalha também. Nosso exército é um fogo que, quando aceso, queima ferozmente até que nossos inimigos se tornem cinzas.
Elfos e vampiros. As duas grandes ameaças contra a humanidade. Ambas exigem uma demonstração sólida de força para captarem a mensagem, caso contrário um futuro limitado nos aguardará. E devotarei minha vida por um futuro melhor para a humanidade. Então, por enquanto, continuarei em frente, escondendo meus verdadeiros sentimentos. Suportarei e progredirei. Eles saberão qual linha não devem ultrapassar, e o orgulho dos humanos não irá esmorecer diante de truques bobos.
— Rezo para que seus adoráveis elfos não se esqueçam disso.
Esperarei para que a fortuna vire para o meu lado.
Tradução: Taiyo
Revisão: Midnight
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