Aguardo, de mente vazia e ouvidos abertos,
para que assim possa ouvir Sua voz
e oferecer meu corpo a Ele.
-Transmissão de DDR, Parte 2-
Quero ser um ninja. Me dê a técnica ninja para desaparecer durante reuniões.
Enfim! PotatoStarch aqui! Estou animado para a transmissão de DDR [1]DX de hoje. Na última vez, estávamos indo com tudo na vida de servo, mas, agora, finalmente estaremos entrando nas batalhas. Preparem-se, pessoal! Permitam-me compartilhar com vocês cada detalhe da injustiça desse jogo. Certifiquem-se de contar a todo mundo sobre o quão épico foi. Ah, e caso não consigam lidar com o gore, sugiro que saiam agora, já que isso aqui vai virar um show de horrores.
Uou, estou animado! Meu status está o mais preparado possível depois de uma série de mini games executados com perfeição. Agora é tudo questão de habilidade do jogador. Qual é, minha amada escrava Kuroi, é vida ou morte! E, para esta ocasião, tenho o meu headset VR especialmente preparado… O qual só deixarei de lado! Não vou usar essa coisa. Jogadores veteranos de DDR só usam teclado e mouse.
Lanches, bebidas, mangás e light novels cobrem a minha mesa, obviamente. Os níveis de croma e de brilho do meu monitor estão definidos como baixo para serem mais gentis aos olhos. Estou mais do que preparado para uma maratona de jogatina. Além disso, todos os sons do jogo estão no silencioso, exceto pelos sons do ambiente, os quais deixei bem alto. Considerando quem vamos enfrentar, é tudo muito importante.
Sabe, a busca pelo realismo desse jogo é uma falha completa. Uma guerra pode levar mais de meio dia. Dependendo da situação dela, levar dias inteiros pode ser, por mais incrível que pareça, uma ocorrência normal. Ouvi histórias de alguns eventos que levaram semanas, metade das quais era apenas marcha pelas montanhas. Isso, tipo assim, pertence a um estilo diferente de jogo… ou uma forma bem diferente de entretenimento. Passa a ser apenas um simulador de viagem em certo momento. E, claro, salvar depois de sair durante o evento é desabilitado. Nunca existiu uma opção para pausar, e até mesmo fechar à força faz com que os seus dados de salvamento sejam automaticamente limpos enquanto o jogo toca aquela musiquinha abominável.
Mas é DDR. É assim que funciona. Os desenvolvedores claramente querem ver derramamento de sangue… sangue da nossa vida social, é isso. Nos comerciais, uma famosa idol dubladora anuncia com seu sorriso perfeito: “Neste campo de batalha extremamente realista, um único momento de hesitação pode ser a sua ruína!” Mas as fases desde o beta me fazem pensar que havia algo sombrio por trás daquele sorriso. Uma raiva de verdade ali.
Mas sou um veterano das antigas. Não tenho aberturas! Afinal de contas, amanhã é o começo de um feriadão de três dias. Está tudo carregado, então é hora da batalha! Oh, caramba. Onde está a minha toalha de rosto para o suor? E, uh, minha garrafa plástica?
-Feiticeiro Odysson I-
O ataque foi repentino. Corri e me escondi, mas não havia nada que eu pudesse fazer agora. Que fim patético, digno de um feiticeiro excomungado, como dizem.
O exército de monstros que apareceu — criaturas que normalmente vivem nas profundezas de florestas, como goblins, sherboa, macacos loucos, coelhos combatentes, ratos venenosos — saíram correndo de entre as árvores. Que se dane tudo! A guarnição também é patética. No final, não passam de descartes da capital. Aquelas desgraças nos atacaram e está sendo um banho de sangue.
Essas criaturas não estão aqui para se alimentar. Isso deve ser trabalho de magia. Talvez os olhos amarelos usaram Medo, ou os orelhas pontudas usaram Loucura. De qualquer forma, isso não é nada bom. Elas matam tudo em seu caminho, até mesmo outros monstros. Sem misericórdia até contra a própria espécie. Assustador, realmente.
Morte. Morte. Morte está por todo lado. Todo mundo está morrendo. Não restará estrutura alguma depois disso. Até mesmo os armazéns de grãos, que foram feitos especialmente para abrigar nossas tarifas, serão apenas destroços amanhã.
— Hic… hic…
— Por que isso está acontecendo?
— Mamãe, Papai…
— Não… Não chore! Você precisa ficar quieto… — Havia diversas mulheres entre as pessoas ali. Oh, Deus. Este será um final trágico. Talvez devesse ficar mais perto da porta blindada, para que assim consiga morrer mais rápido. Não vou precisar ouvir as crianças gritando, e provavelmente meu corpo pode acabar parando as criaturas por tempo o suficiente para salvar uma vida, ou, pelo menos, estender um pouco mais a vida delas.
Alguns passos me tiraram dos meus pensamentos. Eram os passos da morte.
— Yeek!
— Mmph! — Qual é, elas ainda são jovens. Veja como estão tentando miseravelmente segurar a respiração, abafando os gritos com bravura e se amontoando uma sobre a outra em meio ao desespero. Algumas tentam manter os olhos abertos, enquanto outras os fecham com força, e lágrimas escorrem pelas bochechas. Seus rostos estavam rígidos, e seus dentes, cerrados.
Do outro lado da parede vinha uma respiração baixa. E, então, minha nossa, o som de algo arranhando a porta blindada.
— Ahhh! Eles estão roendo a porta!
— Ahhhhhhh! Nããããooo!
— P-Pegue algo para fazer uma barricada-Guh?! — A porta foi aberta de supetão e um homem de meia-idade caiu no chão. Na entrada, com os raios do sol da tarde batendo em suas costas, estava um sherboa, um monstro javali. Seu nariz de porco bufava rapidamente. Devia ter pisado em um rato venenoso, pois debaixo dos seus cascos estava uma gigantesca criatura roxa com bolhas de sangue saindo do seu cadáver. Um miasma de entranhas e merda toma conta do ar e faz meus olhos queimarem.
Todo mundo está paralisado enquanto o monstro maldito nos observa — nos avalia. Saliva pinga dos seus lábios. Droga, consigo sentir sua sede ensandecida de sangue ao encarar as mulheres. Você se atreve a ter vontade de devorar as mulheres na minha frente, na frente de Odysson?
— Não enquanto eu estiver aqui, seu pedaço de merda. — Invoquei as chamas, chamas mágicas. Sem qualquer ferramenta, não passa de uma faísca, na realidade, mas contanto que assuste a criatura, não importa, né? — Até mesmo a morte tem uma ordem para isso. Use o seu maldito cérebro, porra. — Levantei-me e fiquei no caminho. Ainda que fosse imperfeito, sou um homem adulto de trinta anos. Tenho que fazer pelo menos isso. Você deve zombar de mim e dizer que não é nada, mas, mesmo assim, mantive-me firme. Quero correr e chorar tanto, mas ainda me mantive firme. Deus nos abandonou há muito tempo, mas, pelo menos, ainda posso dar a essas crianças um pouco de esperança em um velhote, maldição!
— Vem pra cima, sua aberração… Yeep! — Sangue jorrou… sangue do sherboa. Gritos de fúria e dor… também pertencentes ao sherboa.
O quê? O que está acontecendo?
Diante dos meus olhos estava uma garota de cabelos negros. Em suas mãos havia uma gigantesca enxada de três pontas. Sacos de aniagem estavam presos em seu estômago e costas, e o sherboa estava debaixo dos seus pés. Para ser mais preciso, ela o perfurava com a enxada, e as partes pontiagudas estavam cravadas no chão.
Ela desceu das vigas do teto? Talvez estivesse na espreita, muito antes de nos escondermos no armazém. E, então, ao ver a chance perfeita, saltou para matá-lo. Os sacos pesados presos a ela deviam servir para aumentar o dano com o impacto. Um golpe muito bem preparado.
Um som alto de estalo ressoou. Usando todo o seu corpo, a garota empurrou a enxada para baixo e quebrou o pescoço do sherboa. O cabo quebrou devido ao impulso e a garota deu uma cambalhota no chão, sujando suas roupas e rosto de lama vermelha. Ela rapidamente ficou de pé e olhou para a criatura. Seu olhar era frio. Não pude sentir euforia alguma vinda dela.
A quietude é preenchida por morte. A garota é a única que consegue se mover. Ela olha ao redor e pega uma pedra grande. Então, se aproxima do cadáver do sherboa, ajusta o ângulo da mandíbula dele e bate a pedra contra ela. Por várias vezes, bateu nela, além de também dar alguns chutes. No fim, agarrou-a e torceu-a, arrancando a grande presa.
-Transmissão de DDR, Parte 3-
Presa gigante de Sherboa adquirida! Ufa, deu tudo bem certo. Valeu a pena vigiar a porta e esperar até que se abrisse. Meus olhos estavam ocupados lendo mangá. Esse é um bom sinal, no entanto. Normalmente, quando você se prende no armazém, é um rato venenoso ou um goblin que bate na porta. É realmente raro um sherboa aparecer. Embora seja mais a cara deles apareceram derrubando a parede.
E a minha recompensa nessa batalha é uma presa gigante. Como bônus de morte instantânea, vem com um efeito especial! Eba! Posso carregá-la comigo e ela irá aumentar a minha força com o seu poder estranho. Dependendo da rota, pode ter alguns usos bastante úteis para ela mais à frente. Para ser honesto, pode até me dar magia. Esse foi realmente um raro evento randômico! Show! Agora é hora de trabalhar.
Essa é a parte que me faz lembrar que DDR é um RPG de ação e tem um tempo limite. Tenho quase certeza que estou certo disso. Como sei, você me pergunta? Bem, essa batalha hipócrita é uma parte famosa da Fronteira.
Então, que “herói” vai aparecer primeiro desta vez?
Notas?
1 – DX: Deluxe (já explicado nos capítulos anteriores).⇧
Tradução: Taiyo
Revisão: Midnight
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