O Tempo Com Você

O Tempo com Você – Cap. 11 – Mais do Que Um Céu Azul

Quando abri os meus olhos, vi um céu azul-escuro.

A cor era incrivelmente forte, quase preto. Abaixo de mim, havia um enorme arco brilhando na cor celeste. O limite entre o céu e o chão — a Terra. O ar estava congelante, e cada respiração que eu exalava congelava e brilhava como glitter. Eu estava caindo direto do alto do céu. Mesmo assim, não sentia medo. Era uma estranha sensação, como um sonho lúcido.

Ao longe, o céu ribombou. Quando olhei na direção do som, uma luz vermelha cintilava a partir de uma nuvem em direção ao espaço-sideral. Aquilo foi um relâmpago? O fenômeno deste mundo de cima não era nem um pouco parecido com o visto do chão.

Sem demora, uma faixa branca ficou visível abaixo de mim, uma linha impossivelmente longa de nuvens que percorriam desde um horizonte até o outro. Elas se emaranhavam como as raízes de uma árvore, ondulando aos poucos, fluindo na direção oposta à do sol.

— Aqueles são…!

Enquanto eu caía, ficando cada vez mais próximo das faixas, vi algo estranho.

— … Dragões?!

Quando me aproximei, a faixa começou a se parecer como uma massa de criaturas vivas. Enormes dragões brancos enroscavam-se, engolindo uns aos outros, circulando o planeta.

— Aqueles são… peixes do céu…?

Então, senti uma presença abaixo de mim e olhei. Os meus olhos se arregalaram. Um enorme dragão vinha na minha direção, com a sua boca branca aberta.

— Aaaaaaaugh!

Ele me engoliu. Do outro lado, foi como uma torrente de lama. Eu fui varrido sem conseguir fazer nada pela escuridão — não era nem água nem névoa — como se eu estivesse no meio de uma cachoeira que caía sem parar. Objetos macios me atingiam com splats molhados. Quando abri os olhos, vi o que parecia um cardume de peixinhos. Então o mundo à minha frente ficou mais claro, e, de repente, havia um céu azul ao meu redor de novo.

Eu tinha saído do dragão.

O céu era de um azul vívido que eu já conhecia. Quando olhei para cima, a faixa de dragões estava rapidamente sumindo ao longe. O ar estava forte e frio, mas não era mais um vazio congelante. Antes que eu percebesse, vários peixes do céu tinham começado a me seguir à medida em que eu caía, ficando perto de mim. Eles eram tão transparentes quanto água, muito parecidos com o corpo da Hina quando estava no hotel. Ela estava ali, naquele céu — eu tinha certeza disso. Respirei fundo o ar frio e, então, com toda a força dos pulmões, gritei o nome dela:

— Hinaaaaa!

 

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Uma batida distante soava como um sussurro.

Tump, tump, tump.

Não, é um pulso. De quem?

O meu. —Meu? Eu ainda existo?

Thump, thump, thump.

O meu pulso acelera. O meu corpo está despertando sozinho. Por quê?

Porque alguém me chamava.

Badum, badum, badum.

Porque os desejos podiam me encontrar ali. Porque ele estava desejando que eu existisse.

— Hina!

Eu consigo ouvir. A voz dele, chamando o meu nome, chega até mim. Eu abro os olhos. De soslaio, vejo os peixes que me cercavam recuarem com um swish. Eu acho que não poderia me tornar um deles, eu penso, vagamente. Coloco as minhas mãos no gramado e me sento, devagar. Olho para o céu.

Então eu vejo aquilo.

Os nossos desejos ganham forma. O meu e o dele se sobrepõem.

— Hina!!

Gritando do céu para mim, desesperadamente estendendo a mão para me alcançar — está Hodaka.

— Hodaka!

Como se eu tivesse acordado de um sonho, me levanto. O meu peito está quente. Todo o meu corpo está em chamas. Corro com toda a força, seguindo em frente com a alegria e o amor surgindo dentro de mim.

 

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— Hina!! — gritei.

Hina estava correndo sobre o gramado abaixo de mim, e eu estendi a mão para ela, desesperado. Mas não consegui chegar nem um pouco perto; o vento forte me atingia.

— Hodaka!

Ela também estendia a mão para mim. Precisamos dar o fora daqui, pensei. Esta planície em cima da nuvem era a “outra margem”. Este mundo não era para nós — era um mundo para os mortos.

— Hina… Pule!

Quando o vento me empurrou para cima, gritei. Ela assentiu, correu até a beirada da planície e pulou em direção ao céu azul como uma estrela de salto em distância fazendo um salto longo. O vento a pegou, levando-a para mais perto de mim. Eu estendi a mão. Finalmente a mão quente dela segurou a minha. No momento seguinte, como se a gravidade enfim tivesse nos percebido, começamos a descer em direção à Terra.

— Hina, eu te encontrei! Eu realmente te encontrei!

Hina estava logo ali, logo à minha frente. Os seus olhos, voz, cabelo, aroma… estavam todos a apenas alguns centímetros de distância.

— Hodaka, Hodaka, Hodaka!

— Não solte a minha mão!

— Eu sei!

Nós entramos em um vão entre as nuvens espessas. A luz do sol foi bloqueada, e o mundo ao nosso redor ficou escuro. O cheiro úmido tornou-se mais forte enquanto as nossas roupas ficavam molhadas e pesadas. Uma parede de nuvens rígidas rastejava de forma lenta, como se fossem os órgãos de uma criatura viva. De vez em quando, bem no fundo, raios gigantescos cintilavam. Toda vez que isso acontecia, um rugido ensurdecedor estremecia o ar ao nosso redor.

— Aaah!

Nossas mãos molhadas escorreram, nos separando mais uma vez. Hina caía, e eu a perseguia. A distância entre nós aumentou. Eu estendi a mão, frenético.

— Hina, vamos para casa juntos!

Como se ela tivesse se lembrado de algo, o seu rosto ficou sombrio, e a sua expressão, hesitante.

Ela gritou para mim, com incerteza:

— Mas se eu fizer isso, o tempo irá voltar…!

— Isso não importa! — gritei, furioso.

Hina começou, mas eu tinha me decidido: nada mais importava. Eu até mesmo desafiaria os deuses. Eu já sabia o que devia dizer.

— Não importa! Você não é mais uma garota sol, Hina!

Um reflexo de relâmpago cintilou violentamente nos olhos arregalados dela. Nós atravessamos as nuvens que vibravam com os trovões, caindo logo abaixo de uma nuvem carregada de chuva. Embaixo de nós estavam as ruas brilhantes de Tóquio. Minhas mãos estavam rapidamente se aproximando da cidade e da Hina. Sim, eu sabia o que devia dizer.

— Eu não me importo se o sol nunca mais aparecer!

Lágrimas surgiram nos olhos dela.

— Eu prefiro muito mais ter você do que um céu azul!

As grandes lágrimas de Hina dançaram ao vento, acertando as minhas bochechas. Da mesma forma que as gotas de chuva criavam ondulações circulares, as lágrimas dela estavam criando ondulações no meu coração.

— E se o tempo ficar louco…

E, no fim, a minha mão…

— … deixe que fique assim!

… alcançou a de Hina de novo. Ela imediatamente pegou a minha outra mão. Nós nos seguramos com força um ao outro. A nossa visão, o mundo, tudo ao nosso redor girava. No coração deste mundo belíssimo e magnífico, nós dançamos de mãos dadas.

O rosto da Hina estava logo ali. Nós estávamos próximos o bastante para sentir a respiração um do outro. O cabelo longo dela flutuava com o vento, gentilmente me acertando nas bochechas. Os seus olhos, ainda transbordando de lágrimas, eram como uma fonte secreta que só eu conhecia. Por um momento, aquela visão ficou marcada nos meus olhos— o sol, o céu azul e as nuvens brancas, Hina e a cidade abaixo, tudo brilhando com a luz.

Eu sorri e disse para ela:

— Reze por você mesma, Hina.

Ela sorriu de volta e assentiu:

— Uhum…!

Nós fechamos os olhos e pressionamos nossas testas contra as mãos juntas. Então desejamos.

Era um grito dos nossos corações, dos nossos corpos, das nossas vozes, do nosso amor.

Viva.

 

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Pensei ter ouvido um trovão na distância.

Eu congelei e fiquei parado enquanto me arrastavam até um carro de polícia, e o detetive de topete olhou para mim, duvidoso.

— Ei, Senhor Suga. — disse ele, mas eu o ignorei e olhei para cima.

Eu não tinha certeza de quando, mas nuvens espessas tinham começado a cobrir o céu vespertino. Olhei para o teto do prédio abandonado. Um vento frio e úmido assoprava as ervas daninhas lá de cima, levantando folhas para o céu.

— Não fique aí parado. Venha.

Ele puxou as algemas ao redor dos meus punhos, mas eu continuei olhando para o portão torii. De acordo com o policial que subiu as escadas atrás dele, Hodaka não estava no terraço. Eles assumiram que ele escapara, e a polícia ainda fazia buscas pela região. Mas eu tinha a sensação de que ele estava lá mesmo. Por algum motivo, eu me sentia incomodado. Havia algo terrível na minha garganta, e a minha pele estava irrompendo em calafrios. Um tipo de premonição subia em mim a partir dos meus pés.

Então, o céu sobre Tóquio brilhou, enquanto trovões ribombaram altos o suficiente para fazer a terra tremer. Logo depois disso, eu vi. Era como vários dragões atacando ao mesmo tempo — uma enorme massa de água caiu.

Os céus tinham começado a despejar uma chuva tão pesada quanto uma cachoeira.

O tempo tinha praticamente levado o céu azul para longe à força, e os policiais e eu ficamos parados ali, surpresos.

Quando aquilo aconteceu, todos provavelmente podiam ver que a chuva não era normal. A verdade era que todos nós sabíamos que um dia como esse viria no final. Sempre sentimos que as nossas vidas pacíficas não durariam para sempre, que não poderíamos fugir com tanta facilidade.

Não tínhamos feito nada de específico. Não tínhamos decidido nada. Não tínhamos escolhido nada. Mesmo assim, fugir nunca foi uma opção. Cada um de nós sentia aquilo, que, algum dia, o mundo mudaria para sempre, e todos nós apenas fingimos que não conseguíamos enxergar a verdade.

Conforme esses pensamentos passavam pela minha cabeça sem razão aparente, eu continuei olhando para o céu chuvoso, completamente encharcado.

Faz três anos desde então, e, durante todo este tempo, a chuva nunca parou.

 


 

Tradução: Taiyo

Revisão: Taiyo

 

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