O Mago da Morte

O Mago da Morte – Vol. 2 – Cap. 30 – Estou de boas sendo o Filho Santo Profetizado

 

As lembranças dos Titãs mortos-vivos sobre o que aconteceu após o Lança Divina do Gelo Mikhail se juntar ao ataque a Talosheim estava cheia de buracos; eles nunca souberam dos detalhes até agora.

Esses foram os eventos que aconteceram quando eles foram mortos, antes de eles renascerem como mortos-vivos e o que aconteceu em seguida.

Eles só sabiam dos fatos históricos, como Talosheim caindo, os heróis derrotados e Mikhail que tentou destruir o tesouro da Deusa Vida guardado abaixo do castelo real, mas foi ferido fatalmente pelo legado de Vida, o guardião Golem Dragão e forçado a fugir de volta para a nação-escudo de Mirg.

— Eu… Jeena, a senhorita Zandia e eu fomos emboscados no salão de audiências. A filial da Guilda dos Aventureiros em Talosheim havia me dito que eu era um aventureiro Rank A. Jeena foi promovida a Rank A antes da guerra e apesar da Zandia ainda estar no Rank B, ela dizia que com certeza seria uma aventureira Rank S no futuro. Mesmo que aquele garoto tivesse uma arma lendária, ele era um aventureiro Rank A assim como eu. Eu achei que conseguiríamos acabar com ele. (Borkus)

Dois aventureiros Rank A e um aventureiro Rank B, um total de três pessoas, lutaram contra um aventureiro Rank A. As chances estavam claramente em favor dos três, eles deveriam ter sucesso em defender a câmara.

Mas Borkus seguiu falando.

— No fim as coisas acabaram como você sabe. Eu era chamado de Rei da Espada. Não tinha intenção nenhuma de perder. Recebi magias de suporte das duas, e com esta espada mágica, eu mudei meu título para o [Matador de Dragão] a fim de obter ainda mais poder. Mas minha espada mágica… A espada mágica que cortou a cabeça de um dragão em um ataque foi destruída facilmente por aquela lança. – Droga, quem você pensa que é – Eu gritei tentando dar um soco nele, mas não consegui. Heheh, não consegui me segurar, afinal eu havia perdido minha espada e meu braço dominante. (Borkus)

Os aventureiros eram divididos do rank G ao S. Isso não era baseado puramente em poder de luta; a alta taxa de sucesso em pedidos e seu jeito de lidar com as coisas também era levado em consideração, classes e habilidades tinham o mesmo efeito. Contudo, não havia muita diferença de força entre dois aventureiros da mesma classe.

Mas ao mesmo tempo, Borkus tava ligado que as rank A e S eram exceções a essa regra.

A galera do rank A estava em outro nível. Algo como matar um dragão não era nada para eles. Mas havia grandes diferenças de força entre eles.

Aqueles que estão no rank B não são qualquer um, mas também não são extraordinários. Santa Jeena era alguém com qualidades extraordinárias, um pouco melhores que as de rank B.

Sem dúvidas, alguém incrível e um grande herói, mas ainda assim um ser humano, por isso era incapaz de quebrar as amarras da mortalidade. Falhando em ser uma daquelas figuras inumanas dos mitos, que podiam chegar ao domínio dos deuses e lutar contra os Deuses Malignos do Rei Demônio. Isso era quem o Rei da Espada Borkus havia se tornado.

E Mikhail era um indivíduo verdadeiramente desumano; um aventureiro Rank A com poderes do Rank S.

— Por causa disso, caí de cara no chão. E quando acordei, já tinha me tornado um morto-vivo. Então me virei e a senhorita Zandia estava lá. Apenas uma parte dela.

Com essas palavras, Borkus abriu a porta da câmara de audiência que havia guardado por duzentos anos.

Um ar gelado chegou até eles.

Não havia um único raio de luz na câmara de audiência, mas com sua [Visão Negra], Vandalieu e Nuaza puderam ver o interior, claro como o dia.

A primeira coisa que viram na câmara de audiência foi um buraco e uma coluna de gelo cobrindo-o. Este buraco era provavelmente a entrada da passagem que levava ao tesouro da deusa sob o castelo.

E congelado dentro do pilar de gelo estava um pulso decepado que parecia pertencer a uma mulher, a julgar pelo quão fino era…

— Isso é…! Sempre achei que nunca tínhamos visto seus restos mortais durante esses duzentos anos porque você os enterrou, senhor Borkus. Mas isso, poderia ser… ! (Nuaza)

— É assim que é. Seus cadáveres provavelmente estão do outro lado desse bloco de gelo irritante. A julgar pelo tamanho desta mão, ele provavelmente é da senhorita Zandia. Não há dúvida de que ela continuou lutando contra aquele bastardo mesmo depois que eu fui morto e o perseguiu até o subsolo com Jeena, mesmo depois de perder sua mão. Então eu tenho certeza que ela foi morta do outro lado deste gelo. (Borkus)

A lança mágica, o item mágico de classe lendária que foi a origem do Título de Mikhail, continha o poderoso Mana de gelo. Diz-se que é capaz de congelar as almas de seus inimigos, prendendo-os por toda a eternidade.

— Eu não sei o que tem do outro lado desse gelo. Tudo que sei é que não há como derreter. Mesmo se eu tentar quebrá-lo, não consigo fazer uma única rachadura nele, e derramar óleo sobre ele e atear fogo nele não deixa nem mesmo uma única marca de queimadura. Então, você pode derreter esse gelo? (Borkus)

— Eu posso derreter. (Vandalieu)

Vandalieu acenou com a cabeça imediatamente. Ele estava examinando enquanto Borkus e Nuaza conversavam e ele definitivamente podia sentir Mana no gelo.

Parecia estranhamente diferente de uma maldição, mas era semelhante. Se ele apagasse o Mana, era provável que o gelo derretesse em um instante e abrisse a entrada que conduzia ao subsolo.

— Entendo. Então, por favor, faça. Eu não sei se seus corpos se tornaram mortos-vivos do outro lado deste gelo, e mesmo se elas se tornaram, elas podem ter perdido a sanidade. Mas eu nunca vou me sentir à vontade até que eu diga algo para me desculpar com elas. (Borkus)

— Beleza. (Vandalieu)

Vandalieu liberou sua Mana do atributo morte para absorver a outra Mana, e o gelo começou a derreter bem diante de seus olhos, como se estivesse sendo exposto a um calor extremo.

Em questão de minutos, a mão de Zandia foi liberada e a passagem subterrânea foi aberta.

— O que você acha, Filho Santo? (Nuaza)

— … Eu não vejo nenhuma sombra que possa ser seus espíritos. Por favor espere um momento; Vou ver se consigo descobrir alguma coisa olhando para essa mão. (Vandalieu)

— Hum? Isso é coisa de ciência forense? Ouvi dizer que Zakkart almejava essa ocupação em seu mundo original. (Borkus)

Aparentemente, o campeão Zakkart vinha se esforçando para se tornar um cientista forense quando morava na Terra. Pelo visto ele era do tipo intelectual.

— Não, isso é algo mais da magia mesmo. (Vandalieu)

Vandalieu ergueu a mão de Zandia, cuja pele morena havia recebido muito sol, embora agora estivesse fria como gelo.

Acho que pegaria mal se eu dissesse que isso é enorme e pesado. (Vandalieu)

A mão e o pulso do pequeno gênio eram grandes.

Não por Vandalieu ser uma criança, mas simplesmente porque Zandia era realmente grande.

Claro, como seu título sugeria, ela provavelmente era pequena. Para um titã, claro.

A altura média de um Titã adulto era de 2,7m para homens e 2,5m para mulheres. Era provável que Zandia ainda fosse uma menina, a julgar pelo fato de que Borkus a chamava de senhorita, mas ela não teria mais de dois metros de altura?

Portanto, era difícil para Vandalieu dizer que seu braço era fino ou pequeno.

Bem, deixando isso de lado, vamos tentar encontrar algum pensamento residual. (Vandalieu)

A magia de Vandalieu permitia ler os pensamentos residuais de uma pessoa através de uma parte de seu corpo. Mas ele só podia ler esses pensamentos de cadáveres e, mesmo que pudesse lê-los, muitas vezes não faziam sentido, ele não teve muitas oportunidades de usar essa habilidade até agora.

Vandalieu pressionou a testa contra a palma fria de Zandia e fechou os olhos.

Ele viu um homem empurrando uma lança nitidamente afiada. Atrás dele estava outro homem caído no chão, coberto de sangue e ainda segurando o cabo de uma espada quebrada.

Zandia desmaiou. Ela foi esfaqueada várias vezes pela lança, como se o julgamento estivesse caindo sobre ela. No canto dos olhos, ela viu outra mulher de pele morena que já havia sido derrotada antes dela. E pouco antes de sua visão escurecer, ela viu um homem descendo ao subsolo.

O homem com a lança era Mikhail, enquanto o homem derrotado coberto de sangue era Borkus. A outra mulher provavelmente era Jeena.

No entanto, se esses pensamentos residuais estivessem corretos, Zandia e Jeena teriam morrido aqui na câmara de audiência depois que Borkus foi morto. Eles não haviam descido para a passagem subterrânea além do gelo como Borkus pensava que eles fizeram.

Mas então por que seus corpos não estavam ali? Mesmo se alguém presumisse que seus corpos não estavam presos no gelo além deste pulso e, portanto, não foram preservados, pelo menos seus ossos deveriam ter permanecido. E Borkus foi revivido como um Zumbi Titã muito antes de seu corpo se transformar em apenas um esqueleto. De jeito nenhum ele não teria notado os corpos de Zandia e Jeena se elas estivessem presentes.

Alguém os havia levado embora? Eles foram eliminados de uma forma que nem mesmo deixou os ossos? Mas então por que esse pulso e, mais importante, o corpo de Borkus foram deixados intactos?

(…) Pensar por conta própria não traria respostas a Vandalieu.

— Eu vi nas memórias residuais que as duas morreram antes de descerem lá pra baixo. (Vandalieu)

— O que?! Como assim?! Então as duas não estão no subsolo?! É verdade que não havia sinais delas saindo, mas… (Borkus)

— Então para onde elas foram?! (Nuaza)

Borkus e Nuaza, que estavam olhando para o buraco que conduzia ao subsolo como se esperassem que Jeena e Zandia emergissem dele, se viraram surpresos. Mas a resposta de Vandalieu foi: – Vai saber? Eu não faço ideia. –

— O que eu vi foram as memórias residuais do momento em que este pulso foi cortado. Ela pode ter ficado confusa no momento em que isso aconteceu, ou talvez o que eu vi não seja o que realmente aconteceu, mas um futuro imaginado e sem esperança que queimou em sua mente. E mesmo que o que eu vi seja o que realmente aconteceu, ainda é possível que eles tenham se levantado e perseguido Mikhail. (Vandalieu)

— Em outras palavras, não saberemos até descer e dar uma olhada. (Borkus)

— Sim. A propósito, você não saberia o que tem para lá desse ponto…? – (Vandalieu)

— Nem ideia. Afinal, é um lugar sagrado. (Borkus)

— Como eu pensava. (Vandalieu)

— No entanto, não temos escolha a não ser descer para descobrir o que aconteceu. Vamos, senhor Borkus, Filho Santo. (Nuaza)

Parecia não haver problema em entrar na passagem abaixo do castelo, mesmo sendo um local sagrado. Seria porque isso não importava mais depois que Mikhail pôs os pés nele, ou porque Vandalieu era o Filho Santo?

Olhando para dentro do buraco, Vandalieu viu hastes de pedra projetando-se da parede, formando uma escada em espiral.

Com um Lemure à frente, Vandalieu, Nuaza e Borkus desceram a escada em espiral. No fundo, havia uma passagem que de alguma forma parecia fazer parte de um templo.

Não havia armadilhas ou testes especiais esperando para impedi-los. Era impossível dizer se isso acontecia porque a deusa tinha total confiança no Golem Dragão ou porque Mikhail já havia destruído todas as coisas problemáticas além do Golem Dragão.

No entanto, eles ficaram surpresos ao ver que havia uma porta, totalmente congelada no gelo.

— A história que ouvi é que Mikhail foi gravemente ferido e quase não escapou com vida, mas será que ele realmente não estava tão desesperado? (Vandalieu)

E pensar que ele iria selar a passagem com gelo no meio de uma fuga.

Mesmo quando Vandalieu disse isso, ele drenou o Mana do gelo para derretê-lo. Não era um trabalho muito difícil, mas ele se cansaria se tivesse que repetir isso dezenas de vezes.

— Ele deve ter ficado preocupado que a lança mágica que ele deixou para trás fosse roubada, ou que alguém acabaria com o Golem Dragão que ele havia destruído pela metade e pegaria o tesouro. (Vandalieu)

— Hum? Agora que penso nisso, esse gelo e o gelo que estava na câmara de audiência foram feitos quando aquele desgraçado fugiu, não foi? Como ele fez isso? Ele não jogou sua lança no Golem do Dragão e fugiu? (Borkus)

— Ah, agora que você falou… (Vandalieu)

O gelo que Vandalieu estava derretendo agora era gelo mágico que não derreteria mesmo se exposto ao fogo do inferno em brasa. Era difícil imaginar que tivesse sido criado por meio de um feitiço de um dos atributos normais da magia.

E esse gelo mágico era algo que só poderia ter sido criado com a lança mágica que era o tesouro nacional da nação-escudo Mirg.

Então, como Mikhail, que havia perdido sua lança e escapado, selou esta porta e a entrada para a passagem em gelo mágico?

— Eu sei que é estranho para mim dizer isso, já que eu não percebi isso por duzentos anos, mas não é estranho? O que isso significa? (Borkus)

— O que você acha da teoria de que este gelo não foi criado pelo poder da lança mágica, mas é o produto de um feitiço especial que Mikhail inventou? (Nuaza)

— Ou talvez o dono da lança possa passar livremente pelo gelo, e ele simplesmente a criou do outro lado para se certificar de que seu inimigo não o seguisse e então correu através dele? (Vandalieu)

Nuaza e Vandalieu surgiram com algumas teorias, mas elas não pareciam se encaixar.

— De qualquer jeito, o gelo derreteu, então vamos continuar. Aliás, não vejo os espíritos delas. (Vandalieu)

— Sim. Tenho certeza que provavelmente elas foram para algum lugar. (Borkus)

Deixando as teorias e suposições de lado, os três continuaram. Seu objetivo não era descobrir o que realmente tinha acontecido naquela época, mas encontrar os mortos-vivos Zandia e Jeena ou seus cadáveres e espíritos.

Não havia fim para as perguntas que despertavam sua curiosidade, mas viajar nelas seria uma coisa para mais tarde.

— Aliás, você gostou disso? (Borkus)

Borkus fez uma pergunta enquanto olhava para Vandalieu, que segurava o pulso de Zandia com os dois braços.

— Ao invés de ter gostado… Seria ruim deixar lá em cima. (Vandalieu)

Ele não suportava a ideia de abandoná-lo no chão que estava sujo de poeira e tudo mais, e Borkus e Nuaza não mostraram nenhum sinal de interesse em pegá-lo, então ele simplesmente parou sua decomposição e o trouxe com ele. Não havia nenhum significado particular para isso.

Mas Borkus não calava a boca.

— Então você não gostou? (Borkus)

Vandalieu percebeu que apenas sim e não eram as respostas aceitáveis, então ele voltou seu olhar para a mão de Zandia e a examinou.

A pele morena era lisa e era uma mão de aparência graciosa à primeira vista, mas havia vários calos nela. Eles certamente eram de Zandia segurando um cajado nas mãos enquanto ela lutava. A doce fragrância de sangue vindo do pulso decepado fazia cócegas em seu nariz, mesmo depois de duzentos anos.

— Se eu tivesse que dizer se gosto ou não, diria que gosto. (Vandalieu)

— Você gosta da parte ao redor do pulso? Ela sempre reclamava que era muito grosso ou que seu formato não era bonito. (Borkus)

— Grosso? Forma? (Vandalieu)

Vandalieu olhou para o pulso novamente, mas… mesmo que fosse grosso ou de formato pouco atraente, não havia como saber. Para começar, o tamanho era muito diferente do que ele estava acostumado.

— Isso não me incomoda. (Vandalieu)

— Ooh, é verdade, a senhorita gosta de homens mais velhos, mas ela ficaria feliz em ouvir você dizer isso! Então cuide bem dela. (Borkus)

— … me desculpe? (Vandalieu)

Do que esse cara estava falando?

— Ooh, fico feliz em ouvir uma resposta tão boa. (Borkus)

— Não, não foi isso que eu quis dizer, estou te fazendo uma pergunta em troca. Como assim, cuidar bem dela? (Vandalieu)

Vandalieu teve a sensação de que já havia tido essa conversa antes. Sentindo uma sensação de déjà vu, ele olhou para Borkus, pedindo uma explicação.

— Bem, veja, você ainda não viu seus corpos ou espíritos mesmo depois de vir até aqui, não é? Eu ficaria feliz se eles de alguma forma milagrosamente conseguissem sair vivos, mas é possível que alguém em algum lugar simplesmente tenha carregado seus corpos para fora daqui. (Borkus)

As duas eram heróinas e Zandia era a segunda princesa. Era definitivamente possível que a nação-escudo Mirg tivesse levado seus corpos de volta para colocar suas cabeças em exibição. Vandalieu não tinha ouvido essas histórias de Kachia, mas era possível que as histórias sobre os restos mortais dos inimigos sendo exibidos simplesmente não tivessem sido transmitidas à era moderna.

— O que significa que você vai encontrar seus corpos para mim, certo? (Borkus)

— … Bem, acho que vai levar um bom tempo. Não pretendo voltar à nação do escudo Mirg por um tempo. (Vandalieu)

O pedido de Borkus tinha sido para libertar os dois do gelo mágico. Como Vandalieu derreteu todo o gelo, ele teve a sensação de que poderia considerar o pedido completo, mas os olhos de Borkus diziam: – Não estou satisfeito com isso. –

E como recuperar os cadáveres dos dois heróis da nação-escudo Mirg não parecia uma má ideia, Vandalieu concordou. O final da metade restante dos lábios de Borkus se ergueu em um sorriso.

— Sim, tá tudo bem. Pensando nisso, acho que uma recompensa extra seria bom. Então, quando você pegar os cadáveres da senhorita e da Jeena de volta, você pode ficar com eles.

— Hã?! Você está me dizendo para transformá-las em mortos-vivos?! (Vandalieu)

A voz surpresa de Vandalieu ecoou contra as paredes da passagem. No entanto, ele foi o único que ficou surpreso com isso.

— Oh, que ideia maravilhosa. Não esperaria nada menos de você, Borkus-dono. (Nuaza)

Nuaza era para ser um padre, mesmo sendo aprendiz. Mas por alguma razão, ele estava tremendo de emoção. Não havia dúvida de que lágrimas estariam saindo de seus olhos se seu corpo ainda tivesse água.

— A Senhora Zandia é a Segunda Princesa de Talosheim, e a senhorita Jeena é a líder da Igreja de Vida. Uma união matrimonial entre eles e o Filho Santo profetizado certamente trará prosperidade e glória para nós, conforme predito! (Nuaza)

— Err, vish, você não está confundindo isso com um casamento político ou algo assim? (Vandalieu)

Havia uma grande probabilidade de que ambos já estivessem mortos, e Vandalieu estava segurando a mão decepada de Zandia.

— Bah, mas não tem problema nisso, certo? Aliás, essa é a mão esquerda. (Borkus)

— Ooh, até mesmo uma troca de anéis seria possível. (Nuaza)

— Até dá, mas o que é que você está tentando dizer com isso? (Vandalieu)

Que ele poderia se casar com elas? Vandalieu lembrou que realmente existiu uma cultura no Japão, embora apenas para algumas famílias, em que parentes solteiros e viúvos seriam forçados a se casar. Zakkart havia apresentado essa cultura a este mundo?

Mas Nuaza não tava nem aí.

— Se Jeena e Zandia puderem se tornar companheiras do Filho Santo e um dia ajudar a derrotar a Igreja de Alda e seus seguidores, tenho certeza que elas ficariam felizes em serem revividas como mortos-vivos. (Nuaza)

— Hahaha, essa seria nossa vingança contra a nação-escudo Mirg! (Borkus)

— Calma lá galera, vocês estão misturando as coisas. Mesmo que a profecia da deusa seja verdadeira, a profecia do fundador dos Vampiros não tem nada a ver comigo. (Vandalieu)

Será que por seus ouvidos estarem muito mais altos, esses dois não conseguiram ouvir as palavras ditas por uma criança?

— O que quero saber é, vocês não consideram isso uma profanação dos mortos, ou contaminação da honra dos heróis? (Vandalieu)

Mesmo se Vandalieu ignorasse os valores de Alda, o Deus da Lei e do Destino, em Terra e em Origin existia uma forte noção de que reviver pessoas mortas como mortos-vivos estaria corrompendo-as, um ato contra a vontade de Deus.

Não havia nenhum morto-vivo real na Terra, mas havia muitos mitos, lendas e folclore onde eles eram considerados um tabu religioso.

O mesmo se aplica à ficção. Houve inúmeras obras onde as tentativas de reviver os mortos não só falharam, mas também trouxeram a ruína para quem estava tentando revivê-los. Mesmo quando um vilão diz ao protagonista: – Vou trazer de volta as pessoas mais importantes para você –, o protagonista pode pensar seriamente, mas sempre empurra essa tentação de lado no final, olhando para o futuro.

O protagonista nunca responderia: – Isso é sério?! Por favor faça! –

Já que magia e mortos-vivos existiam em Origin, essa tendência era ainda mais forte. Criar mortos-vivos foi proibido; até mesmo experimentá-los era considerado um crime.

Os pesquisadores da nação militar que haviam tratado Vandalieu como um animal experimental tinham um senso de ética quebrado sobre isso.

E, na realidade, Vandalieu não hesitou em criar mortos-vivos. Se ele hesitasse, ele não teria revivido sua mãe, nem teria criado o Homem de Osso e os outros mortos-vivos.

No entanto, ele não tinha esquecido que outras pessoas podem não gostar da ideia de criar mortos-vivos.

Foi por isso que ele pensou que Nuaza, que tinha sido um sacerdote, e Borkus, que tinha sido o companheiro de Jeena e Zandia enquanto elas estavam vivos, seriam contra criá-los como mortos-vivos.

Vandalieu nem tinha pensado em fazer isso porque criá-los como mortos-vivos contra sua vontade pioraria seu relacionamento com Nuaza e Borkus.

E então ele ficou surpreso quando Borkus disse exatamente o contrário, e Nuaza não apenas concordou com ele, mas até deu apoio moral para ele fazer isso.

— Oi oi, o que você está tentando dizer sobre os mortos-vivos? (Borkus)

— Isso mesmo. A própria deusa criou o campeão caído Zakkart como um morto-vivo, lembra? (Nuaza)

— Ah… Agora que você mencionou, você tem o argumento. (Vandalieu)

Mas é verdade que isso era contado nos mitos. Parecia que a deusa Vida tinha a mente aberta em relação aos mortos-vivos… embora os seguidores de Vida aqui fossem mortos-vivos; não havia como saber como os seguidores vivos de Vida seriam de mente aberta.

Bem, Vandalieu teria apenas que averiguar cuidadosamente esse tipo de coisa depois de deixar Talosheim e entrar na sociedade humana.

— Bem, se tá tranquilo pra você, eu não tenho mais o que reclamar. (Vandalieu)

Se não só o Rei da Espada, mas a Santa e a Pequena Gênia se tornassem seus aliados como mortos-vivos, ele não poderia pedir mais nada. Enquanto eles estivessem a fim, Vandalieu não tinha motivos para recusar.

— Olha só, tu não se empolga em saber que se você colocar algum esforço pode ter duas lindas mulheres? Não é qualquer um que tem essa chance. (Borkus)

— Mas eu não tenho nem três anos. (Vandalieu)

— Você tendo cem anos ou três, sua alma ainda é a mesma. (Borkus)

— … Isso não quer dizer que eu sei como elas são. (Vandalieu)

— Não diga isso. Elas eram muito bonitas, Filho Santo. (Nuaza)

Não importava o quão bonitas elas eram, tinha uma grande chance de elas serem só pele e osso agora.

Vandalieu pensou em lembrar eles disso, mas sabia que qualquer coisa que dissesse aos dois seria inútil, então resolveu ficar quieto.

Ele já ouviu falar que os heróis são bons amantes sensuais1heróis são bons amantes sensuais:, mas alguém pálido ainda seria considerado sensual?

Ao avançarem pela passagem, eles se depararam com uma porta que era enorme até mesmo para um titã como Borkus. Claro, estava selada com gelo, mas uma parte da porta havia desmoronado e eles podiam ver o que estava através do gelo.

— Esse é o Golem Dragão, hein. O bicho é brabo, conseguiu espantar aquele monstro, mesmo que só tenha ferido ele. Me dá uns arrepio só de olhar para ele. (Borkus)

Do outro lado da porta havia um espaço tão vasto que a câmara de audiência acima deles caberia dezenas de vezes. Havia um enorme dragão feito de ferro em seu centro.

À primeira vista através do gelo, ele parecia um pobre coitado. Sua cabeça que uma vez foi magnífica e metade de sua cauda flexível em forma de chicote agora estavam quebradas no chão como nada além de pedaços de metal. Seu braço direito estava quebrado como se tivesse sido arrancado de seu ombro, e havia uma lança saindo do centro de seu peito.

Ele tinha rachaduras profundas por todo o corpo; parecia que iria desabar a qualquer momento.

— Sim, bora sair daqui. Se eu derreter esse gelo o bicho vai pegar e vamos morrer. (Vandalieu)

No entanto, aquele Golem ainda estava vivo. E aquele Golem quase destruído ainda era capaz de matar todos os três.

Se Vandalieu derretesse o gelo da porta, ele morreria. Seu [Senso de Perigo: Morte] estava lhe dizendo isso.

— Qual é a probabilidade delas terem passado daqui? (Nuaza)

— Se elas se transformassem em mortos-vivos, acho que o Golem teria acabado com elas. (Vandalieu)

— Se fosse cadáveres, poderiam estar dentro do gelo. (Borkus)

Parecia improvável que o Golem quase destruído não atacasse os Titãs que se tornaram mortos-vivos, e como a batalha entre ele e Mikhail ocorreu dentro desta câmara, havia gelo por toda parte. Os cadáveres de Zandia e Jeena poderiam estar dentro de qualquer uma dessas massas de gelo.

— Tem algum método conhecido para entrar neste lugar sem ser atacado por aquele Golem? (Vandalieu)

— Se minha memória não me falha, lembro que o Rei conhecia um caminho, mas … (Nuaza)

Nuaza balançou a cabeça. Parecia que o rei não havia se tornado um morto-vivo ou havia retornado ao pó nos duzentos anos que se passaram desde a guerra.

Mesmo Vandalieu não poderia falar com os mortos se seus espíritos não existissem.

— Bem, então vamos adiar a busca nesta sala até que estejamos fortes o suficiente para derrotar aquele Golem. (Vandalieu)

— Certo. Seria impossível para mim também, já que perdi meu braço dominante e minha espada mágica. (Borkus)

Mesmo se eles derrotassem o golem, havia uma grande chance de que os cadáveres delas não estivessem dentro da câmara. Mas se eles pudessem confirmar que elas não estavam lá, poderiam pensar no próximo lugar para procurar.

— Bem, se seus corpos não estiverem lá, ainda poderíamos usar o tesouro da deusa para criá-los. Quanto às almas, como você é um espiritualista, poderá invocá-las usando a Necromancia, certo? (Borkus)

— Não sou espiritualista, então invocar espíritos que nunca vi antes é impossível, mesmo com a necromancia. Já… (Vandalieu)

— É sério isso?! Você parecia tão chegado aos mortos-vivos como nós, então eu pensei que você fosse um Espiritualista, Filho Santo! (Nuaza)

— Sim, é uma verdadeira surpresa. Então como você pode ver espíritos e ler as memórias da Senhorita usando a mão dela? (Borkus)

— Calma lá!… O que você quer dizer com refazer seus corpos usando o tesouro da deusa? (Vandalieu)

— O que eu quis dizer… O tesouro da deusa Vida é um dispositivo incompleto que ressuscita os mortos, então o que mais poderíamos dizer? (Borkus)

Há muito tempo, a deusa Vida tentou reviver o falecido campeão Zakkart para dar à luz a raça dos Vampiros. No entanto, embora ela fosse a deusa que governava a própria vida, não era fácil trazer os mortos de volta à vida.

A deusa realizou uma quantidade significativa de tentativas e erros para esse propósito. O tesouro que estava aqui, abaixo da cidade de Talosheim, foi o resultado de uma dessas experiências.

Ela usou este dispositivo de ressurreição para tentar construir um novo corpo e trazer de volta Zakkart com a mesma aparência que ele tinha enquanto estava vivo. Mas embora o corpo tenha sido criado com sucesso, o corpo sem alma não era nada mais do que uma massa de carne, incapaz de receber o poder de Vida.

A única coisa que este dispositivo era capaz de criar um cadáver ileso da pessoa que se desejava ressuscitar. Chegando a essa conclusão, a deusa selou o dispositivo. Mesmo que estivesse incompleto, ela acreditava que poderia ser útil para seus filhos um dia. Ela pessoalmente deu vida a um Golem para protegê-lo de modo que não fosse mal utilizado pelos remanescentes dos servos do Rei Demônio.

— Então é isso é o que está do outro lado daquele Golem Dragão… Isso é maravilhoso. (Vandalieu)

Um dispositivo que criava um corpo novinho da pessoa que se desejava ressuscitar.

Se isso fosse verdade, se Vandalieu colocasse o espírito da pessoa dentro do corpo criado por este dispositivo, isso não seria uma ressurreição completa?

— Nuaza, tudo bem em eu ser o Filho Santo profetizado, então posso usar esse dispositivo? (Vandalieu)

Ele o obteria a qualquer custo.

E então ele ressuscitaria sua mãe!

 

Nome: Nuaza

Rank: 4

Raça: Lich Menor

Nível: 100

Habilidades Passivas:

  • Visão Negra
  • Força Sobre-humana: Nível 2
  • Resistência Física: Nível 2
  • Corpo espiritual: Nível 1
  • Corrupção mental: Nível 3
  • Resistência aumentada: Nível 3

Habilidades Ativas:

  • Magia da vida: Nível 2
  • Magia sem atributos: Nível 2
  • Controle de mana: Nível 1
  • Técnica de Clava: Nível 3
  • Técnica de Escudo: Nível 2
  • Técnica de Armadura: Nível 2
  • Maçonaria: Nível 2

 

“Lich” é um termo genérico usado para se referir a qualquer morto-vivo que seja capaz de usar exatamente a mesma magia que era capaz de usar enquanto estava vivo assim que se transforma em um morto-vivo. Assim, o termo se refere a ambos os magos que dominaram os segredos da magia e se transformaram voluntariamente em mortos-vivos, e outros que se tornaram mortos-vivos por coincidência enquanto retêm suas memórias, habilidades e mana que só são capazes de lançar magia de nível iniciante.

Nuaza é um dos últimos, um aprendiz de sacerdote-guerreiro em vida, mas ele não gastou todo seu tempo desde que se tornou um morto-vivo em treinamento e pesquisa. Como resultado, suas habilidades são praticamente as mesmas de quando ele estava vivo.

Isso o torna um morto-vivo incomum que é mais forte quando usa armas em combate físico, apesar de ser um Lich.

Como ele foi mumificado, ele está coberto de rugas e parece uma pessoa idosa, mas na verdade ele era um menino de meados da adolescência quando morreu. Assim, os outros mortos-vivos de Talosheim às vezes se referem a ele como um jovem.

A propósito, a habilidade [Maçonaria] é algo que ele obteve após sua morte. Depois de se tornar um morto-vivo, ele aprendeu a habilidade enquanto passava os últimos duzentos anos consertando a Igreja que havia sido destruída pela nação-escudo Mirg.

Para aumentar o Rank, um Lich Menor deve possuir uma habilidade de nível 4 em uma habilidade relacionada à magia, além do requisito de nível genérico.

 


 

Tradução: Camponês

Revisão: Marina e Lynn

 

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Vinicius

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