— Acho que é hora de treinar.
Vandalieu disse isso aos seus servos mortos-vivos após alinhá-los na frente da entrada da caverna.
Graças à maldição de Rodcorte, Vandalieu não podia subir de nível ou mudar de classe, consequentemente tornando impossível que ele ficasse mais forte por conta própria. Ao invés de desistir, ele decidiu mudar de tática, pensando:
Se eu não posso ficar mais forte, então meus servos é quem vão!
Ele chegou à conclusão de que seria capaz de fazer mais coisas se os mortos vivos que estavam sob seu comando ficassem mais fortes.
Entrar no vilarejo com todos eles pode ser complicado, mas mãe me contou que existem algumas classes cuja principal habilidade é forçar monstros a obedecerem seus comandos, como Domadores, Magos Menores e Invocadores, então de algum modo deve funcionar.
No futuro próximo, ele gostaria de tê-los fortes o suficiente para lutar contra monstros com facilidade, mas por agora já seria o bastante caso fossem capazes de carregá-lo andando na mesma velocidade que tinham quando ainda estavam vivos, pois assim poderiam completar a viagem através da floresta.
Meus servos não conseguem nem mesmo derrotar os lobos e ursos selvagens do jeito que estão agora, que dirá monstros. No outro dia, meu Goblin Esqueleto foi destroçado por um goblin vivo.
Os mortos-vivos que ele criou recentemente eram todos fracos. Bem, não dá pra esperar muita coisa de um grupo de mortos-vivos nível 1, mas persiste a curiosidade: por que ele simplesmente não criou servos mais poderosos? A razão era bastante simples: Vandalieu não fazia ideia de como criar mortos- vivos acima do nível 2.
Em sua vida passada, ao despertar o Atributo da Morte, ele não tentou transformar qualquer outra coisa que não fosse seu próprio cadáver em um morto-vivo.
Os pesquisadores naquela instalação jamais me dariam a chance de obter servos obedientes. Quando acordei, eu já não estava mais sob o controle de meu próprio corpo e minha magia já havia sido tomada há muitos anos. Se não
tivessem feito isso, eu teria descoberto sobre as diversas coisas que eles estavam pesquisando, tal como soldados imortais. Bem, o laboratório acabou indo pro saco, de qualquer forma.
Vandalieu decidiu tentar algo um pouco diferente e testar o potencial de seus servos para o combate. Exceto pelos insetos que eram usados para reunir informações, todos os mortos-vivos que pareciam ser capazes de lutar foram posicionados em linha.
Macaco Esqueleto, Lobo Esqueleto, Homem Esqueleto, Urso Esqueleto e Pássaro Esqueleto. Esses eram aqueles que pareciam ser suficientemente capazes de lutar. Havia também Javali Esqueleto, Coelho Esqueleto, Goblin Esqueleto e outros, mas apenas esses cinco estavam completos, sem ossos faltando ou quebrados de algum modo.
— Pois bem, que tal começarmos a… treinar? Espera, o que diabos eu deveria mandar eles fazerem?
Vandalieu, que de repente percebeu não fazer ideia de como deveria treinar Macaco Esqueleto e os outros, ficou sem palavras.
Mesmo amadores sabiam o que deveria ser feito na hora de treinar para se tornarem mais fortes.
Correr era útil para aumentar a constituição do corpo e treinar com pesos ajudava a aumentar a força dos músculos.
Antes de batalhar, seria sábio aprender as técnicas de uma arte marcial específica, ou combate desarmado como um todo, colocando isso em prática através de lutas amistosas, e por aí vai.
Mas qual seria a maneira mais efetiva de ganhar pontos de experiência para os mortos-vivos que estavam alinhados na frente de Vandalieu?
Correr? Isso seria inútil. Eles não tinham coração ou pulmões e, pra começo de conversa, por qual motivo os incansáveis mortos-vivos precisariam aumentar sua constituição?
Treinamento de força? Não, ainda assim seria inútil. Nenhum deles tinha músculos, já que seus corpos eram feitos unicamente de ossos, então para que se exercitariam fazendo flexões e agachamentos?
Combate desarmado e artes marciais? Vandalieu não conhecia nenhuma, então
não tinha como ensiná-los sobre isso.
Um combate amistoso? As capacidades cognitivas dos mortos-vivos eram demasiadamente pequenas, então ainda que fossem ordenados a lutar, só acabariam aos pedaços. Se tornaria apenas uma competição desordenada para decidir quem seria destruído primeiro.
Pra começar, o próprio Vandalieu nunca recebeu nenhum tipo de treinamento de combate. Na Terra, ele se exercitava moderadamente, mas apenas ao ponto de praticar judô na aula de educação física no ensino fundamental e no ensino médio; certamente não era algo que podia ser usado em uma batalha real. Em Origem, bem… é melhor nem dizer nada.
Talvez eu possa perguntar aos espíritos de Orbie e dos outros caçadores… não, isso é impossível.
Aqueles caras sabiam usar arcos e os mortos-vivos não tinham a capacidade cognitiva grande o bastante para fazer isso. Não fazia sentido tentar ensiná-los como atirar uma flecha.
Por enquanto, vamos dar uma olhada na tela de status deles.
Embora Darcia fora incapaz de olhar as informações de Vandalieu, o mesmo não se aplicava aos seus servos mortos-vivos. O que tinha sido impossível para até mesmo uma mãe, se tornou viável para ele provavelmente por conta de seu papel como mestre das criaturas. Darcia não sabia muito sobre as classes relacionadas ao controle de monstros, como Domadores ou Magos Menores, tampouco sobre as habilidades relacionadas à elas, então não tinha como dizer com certeza.
A tela de status dos mortos-vivos mostrava o seguinte:
Nome: Macaco Esqueleto/Lobo Esqueleto/Urso Esqueleto/Homem Esqueleto/Pássaro Esqueleto
Raça: Ossos Ambulantes
Habilidades Passivas
Visão Noturna
Nenhuma
Eles são fracos… fracos demais.
Os mortos-vivos pertenciam todos à uma mesma raça, independentemente da origem dos ossos da criatura que foi usada para fazê-los, todos eles também contavam com as mesmas características.
Ossos Ambulantes: Cadáveres dotados de movimento, apesar de serem simples esqueletos após a morte. Não possuem nenhum outro tipo de característica especial.
Ainda que fossem capazes de se mexer, seus movimentos eram desajeitados e sua força física era consideravelmente menor do que a média de um homem adulto comum. Quanto à agilidade, eles sequer eram capazes de correr; seus movimentos eram lentos. Além disso, eram incapazes de usar quaisquer habilidades que possuíram em vida.
Os ossos em si eram resistentes o bastante, mas seria fácil derrotá-los atacando as juntas.
Praticamente desprovidos de inteligência ou instintos, na melhor das hipóteses eles seriam reduzidos a bonecos de treino para aventureiros novatos.
Em suma, era sábio não confiar em nenhum desses mortos-vivos durante a batalha.
Então como eu deveria deixar esses caras mais fortes? Eu os criei há mais de dois meses e eles ainda estão no nível 0. Acho que isso é um sinal de que nenhum deles fez algo apropriado para ganhar pontos de experiência como Ossos Ambulantes. Sendo assim, há outra saída?
Espadachins ganham pontos de experiência através de batalhas e de treinamento, Fazendeiros ganham experiência através do trabalho rural e Ferreiros evoluem ao forjar armas. Então o que mortos-vivos precisam para ganhar pontos de experiência? O que monstros costumavam fazer para evoluírem?
Matar humanos, talvez?
Lhe ocorreu que talvez esses monstros precisassem machucar humanos para evoluir, mas… mesmo que isso funcionasse, seria algo difícil de colocar em prática.
Vandalieu não teria nenhum arrependimento mesmo que matasse todos os habitantes de Evbejia, mas se ele assassinasse essas pessoas e a Guilda dos Aventureiros emitisse uma ordem para exterminá-lo, sua única opção seria voltar a viver no subterrâneo.
Talvez ele conseguisse escapar usando os mortos-vivos como uma distração, mas esqueletos tão preservados quanto os de Macaco Esqueleto não eram encontrados com facilidade. Seus servos não eram descartáveis.
Acho que o jeito é tentar matar bichos, como coelhos ou ratos.
Já que Vandalieu precisava de sangue fresco como substituto para o leite de sua mãe, os mortos-vivos capturavam animais, tais quais coelhos, em armadilhas não letais para mantê-los vivos. Vandalieu, em seguida, podia morder o pescoço de um deles para beber seu sangue.
Se os mortos-vivos matassem os animais por eles mesmos, talvez conseguissem obter alguns pontos de experiência.
No dia seguinte, os mortos-vivos conseguiram capturar um goblin com vida.
A expedição de Sumo Sacerdote Gordan diminuiu seus números, mas não os exterminou completamente. Havia um bom motivo para a Guilda dos Aventureiros estar constantemente requisitando ajuda no extermínio dessas criaturas.
Certamente não havia como saber se o goblin estava tentando soar ameaçador ou bradando insultos em sua linguagem nativa, mas ele estava gritando de maneira desagradável enquanto os mortos-vivos o prendiam.
Vandalieu o observou com certo entusiasmo, ainda que sua expressão continuasse apática. “Este realmente é um mundo de fantasia”, ele pensou.
Goblins. Tipicamente são considerados os monstros mais fracos em diversas obras de fantasia e, ao que parece, esse também é o caso em Lambda.
Era um monstro de grau inferior que não vivia apenas nos Ninhos do Diabo habitados por monstros, mas também em florestas comuns e até mesmo em pradarias. Caracterizados pela pele verde escura e baixos em estatura — até o
tórax de um homem adulto no melhor dos casos —, tinham também orelhas pontudas como as dos elfos, mas eram incomparavelmente hediondos.
Eram tão aptos fisicamente quanto um humano comum, se um pouco menos, mas não eram particularmente ágeis. Comumente tinham a idade mental de um bebê de três anos de idade, e eram conhecidos por lutarem usando galhos de árvores como armas e o couro de animais diversos para cobrir seus corpos como forma de proteção.
Era uma criatura de grau 1 e mais poderosa do que um morto-vivo Osso Ambulante, mas fraca quando enfrentada sozinha, ao ponto de que até mesmo um fazendeiro com uma enxada conseguiria derrotá-la. Entretanto, outras espécies mais poderosas também existiam, então era sábio manter cautela.
Mas o que tornou os goblins uma espécie tão temida era sua capacidade de reprodução, bem como adaptabilidade.
Ao procriarem, goblins dão à luz a entre três a oito crias de uma só vez. Os infantes recém nascidos se tornam adultos de pleno direito em apenas seis meses. Pior ainda, essas criaturas são capazes de continuar procriando mesmo em ambientes adversos, como desertos escaldantes ou no meio do inverno.
Oh, também há aquele clichê que frequentemente ocorre em obras de fantasia, onde mulheres humanas são capturadas por tais monstros. Embora esse seja um ato praticado com mais frequência por orcs.
Vandalieu considerou o conhecimento compartilhado por Darcia, mas em sua opinião este goblin não seria capaz de cometer nenhuma dessas atrocidades. Simplesmente por ser fraco demais para isso.
Por enquanto… todos vocês, tratem de dar o golpe final juntos.
Seu entusiasmo inicial já havia passado; agora era hora de descobrir se esses mortos-vivos conseguiriam obter os pontos de experiência ou não.
Macaco Esqueleto e Homem Esqueleto golpearam e chutaram o goblin, que gritava, na cabeça; Urso Esqueleto e Lobo Esqueleto morderam e o arranharam, enquanto Pássaro Esqueleto bicava seu corpo. Era um método horrendo, mas inevitável, já que os Ossos Ambulantes não eram fortes o bastante para matá-lo em um único golpe.
Dentro de dez segundos, o goblin ficou inerte. Vandalieu, em seguida, olhou para a tela de status de seus mortos-vivos.
Nome: Macaco Esqueleto/Lobo Esqueleto/Urso Esqueleto/Homem Esqueleto/Pássaro Esqueleto
Raça: Ossos Ambulantes
Habilidades Passivas
Visão Noturna
Nenhuma
Eles foram do nível 0 ao nível 2.
Ei, o nível deles subiu! Agora está mais do que claro que mortos-vivos podem adquirir pontos de experiência matando seres vivos.
Tendo descoberto que os mortos-vivos que havia criado usando magia da morte podiam ganhar pontos de experiência, Vandalieu foi tomado por um misto de alívio e euforia tudo ao mesmo tempo. Com isso, a perspectiva de viver como um aventureiro em um lugar livre da influência do Império Amid e da Igreja de Alda já não era tão impossível. Ele estava realmente feliz.
Hm? Eu estou me sentindo bem melhor do que eu deveria… status.
Um pouco curioso, ele tentou verificar sua própria tela de status.
Nome: Vandalieu
Raça: Dampiro (Elfo Negro)
Idade: 8 meses Apelido: Nenhum Classe: Nenhuma
Nível: 3 [SUBIU DE NÍVEL!]
Histórico de Classes: Nenhuma
Vitalidade: 24
Mana: 100.001.203
Força: 31
Constituição: 33
Habilidades Passivas
Força Sobre-humana: Nível 1
Cura Rápida: Nível 2
Magia do Atributo da Morte: Nível 3 Resistência a Efeitos Negativos: Nível 3 Resistência a Magia: Nível 1
Visão Noturna: Nível 1 Corrupção Mental: Nível 10 Enfeitiçar Mortos-vivos: Nível 1
Beber Sangue: Nível 2
Exceder o Limite: Nível 2
Transmutação de Golem: Nível 2
Experiência adquirida na vida anterior não será transferida. Não pode obter nenhuma das classes já existentes.
Incapaz de adquirir pontos de experiência independentemente.
E se deparou com uma mudança surpreendente.
Meu nível foi do 0 ao 3?! A maldição ainda está em vigor, então como isso é possível?
Durante os oito meses em que ele viveu neste planeta, Lambda, seu nível não aumentou a despeito de suas inúmeras tentativas e métodos diferentes. Nada deu resultado, seja sua pratica constante de magia da morte, os coelhos que havia matado ao drená-los de todo o sangue em seus corpos, ou a morte de Orbie e seus companheiros caçadores, que foram assassinados da mesma maneira.
Ele checou seu status novamente e, claro como o dia, essas informações continuaram estampadas em sua mente. Entretanto, a maldição de ser “Incapaz de adquirir pontos de experiência independentemente” ainda estava presente.
Então por que? Pensando sobre isso, Vandalieu deparou-se com uma explicação plausível.
Talvez eu consiga adquirir uma parte da experiência que Macaco Esqueleto e os outros ganham?
Na Terra, existiam jogos com sistemas que davam ao protagonista a capacidade de ganhar uma porção da experiência adquirida por suas invocações, monstros domesticados ou clones. Talvez algo parecido tenha acontecido nesta situação?
O efeito da maldição simplesmente impede que eu ganhe pontos de experiência sozinho, mas adquiri-los com a ajuda de meus servos mortos-vivos é uma opção válida… esta é uma brecha bastante exagerada, considerando que a maldição foi lançada por um deus.
Negligenciar o fato de que Vandalieu poderia contornar os efeitos da maldição, cujo propósito era estimulá-lo a cometer suicídio graças ao desespero vindo de uma vida de infortúnios e sem esperança, com o auxílio de mortos-vivos ganhando os pontos de experiência em seu lugar era algo estranho. Era uma brecha tão grande que, por um segundo, ele pensou na possibilidade dela ser algum tipo de armadilha. Rodcorte não precisaria pensar por mais do que alguns segundos para perceber que Vandalieu conseguia criar mortos-vivos.
Entretanto, levando tudo em consideração, Rodcorte parecia ser um tolo ingênuo.
Em retrospecto, ele não está fazendo nada a não ser deixar o trabalho todo para nós. Presenteando-nos com força e oportunidades… exceto eu, para então não se dar ao trabalho de oferecer instruções mais detalhadas ou nos guiar de maneira mais direta. Sendo assim, é de se esperar que ele não seria capaz de prever algo do tipo.
É bem provável que Rodcorte esteja observando Vandalieu e Amemiya Hiroto de um distante lugar acima. Não era uma relação parecida com a de um nobre e um camponês, não estava nem na mesma escala. Era mais parecida com a relação entre um jogador e o personagem controlado por ele dentro de um jogo de simulação. A diferença entre eles era descomunal a esse ponto.
É por isso que, ainda que Vandalieu tenha sofrido terrivelmente graças aos
seus atos, ele simplesmente havia pensado “isso foi errado de minha parte” e nada mais. Além disso, de modo a fazer com que Vandalieu desistisse de sua vingança, Rodcorte não mediu esforços em tentar levá-lo ao precipício do desespero, para que assim cometesse suicídio.
E é por causa disso que Rodcorte não pensou em Vandalieu por muito tempo. Em sua opinião, o garoto não passava de um personagem dentre outros cem.
É por isso que a maldição foi feita desta forma. Nesse ritmo, talvez eu também consiga fazer algo a respeito da minha classe.
Vandalieu se sentiu entusiasmado e revigorado, mas também ficou irritado ao novamente se lembrar de todas aquelas coisas horríveis cometidas por Rodcorte. Ele prometeu para si mesmo, uma vez mais, que nunca cometeria suicídio, uma promessa que ele já tinha feito muitas e muitas vezes antes disso.
Incidentalmente, ele seguiu em frente e se certificou de que o cadáver do goblin fosse enterrado. O sangue dessas criaturas tinha um péssimo gosto, não havia nenhum material bruto que poderia ser coletado de seus restos e, por não ser um aventureiro, Vandalieu não podia coletar a recompensa de seu extermínio, então não fazia sentido guardar alguma parte do corpo como prova do que havia sido feito. Ele cogitou transformar o cadáver em um morto-vivo, mas pensando que aumentar o número de servos que precisariam de treinamento seria problemático, acabou desistindo.
Quanto o sol se colocou por completo no poente, uma fogueira pôde ser vista a crepitar na entrada da caverna na floresta.
Cinco mortos-vivos com chamas branco-azuladas queimando em seus globos oculares vazios estavam reunidos ao redor do fogo carmesim. Um bebê de tez tão pálida que, mesmo sob o brilho avermelhado da chama, causaria medo em qualquer um que o visse também estava presente.
Além disso, o espírito de uma bela, ainda que repleta de cicatrizes, elfa negra apareceu ao lado do bebê, como se estivesse o abraçando.
Se um viajante se deparasse com tal cena, ele ficaria tão assustado que fugiria tão rápido quanto fosse possível.
O espírito da elfa negra lentamente abriu a boca, começando a cantarolar.
Era uma canção estranha. De acordo com as lendas, essa era a cantiga que os campeões cantavam em seus aniversários há muito tempo atrás e esse costume
perdura em Lambda até os dias de hoje.
Kakakakak, Kashakashakasha.
Os mortos-vivos que não eram nada além de ossos, ao invés de melodia, começaram a produzir ruídos com seus dentes e bicos, ou suas mãos e pés feitos de osso, seguindo o ritmo da canção.
Recebendo as bênçãos do espírito, o bebê inspirou fundo e, sussurrando algumas palavras específicas, soprou na direção da fogueira.
A fogueira, que teve sua chama drenada pelo feitiço imbuído no sopro, imediatamente apagou. Os arredores ficaram completamente escuros, mas os corações daqueles ali presentes estavam brilhando como o sol.
A umidade do mês de junho na nação de Mirg era menos pronunciada do que no Japão durante o início do verão. Vandalieu completou exatamente um ano de idade hoje. Todos estavam reunidos aqui para celebrar seu aniversário, mas ele não podia negar que era uma ocasião muito menos glamorosa se comparada às festas de aniversário em residências comuns tanto na Terra quanto em Origem.
Não havia bolo e ele não recebeu presentes. O banquete consistia de sopa, com caldo feito dos ossos de um guaxinim que teve sua carne delicadamente picada e cozida junto de alguns temperos.
E, claro, o sangue fresco do guaxinim.
Embora ele tenha conseguido, de algum modo, transformar a carne fedorenta e dura do guaxinim em algo comestível, certamente não era uma refeição agradável. Para um dampiro como Vandalieu, pode-se dizer que o sangue do animal era sua única salvação.
Todavia, Vandalieu estava feliz.
Vandalieu viveu tanto na Terra quanto em Origem, mas esta era a primeira vez em que ele vivenciou a experiência de ter alguém comemorando seu aniversário. Em Origem, nenhum pesquisador celebraria o aniversário de uma cobaia. Para eles, a ocasião provavelmente não era nada além de um número aumentando no campo de idade de seus registros de informação.
Na Terra, ele havia sido criado pela família de seu tio, mas lhe foi dito “Você vai se tornar um adulto muito responsável no futuro, então se começarmos a comemorar seu aniversário ou te dar presentes de natal enquanto você ainda é uma criança, capaz de te deixarmos mimados” e portanto nunca recebeu nenhum presente ou bolo. Ele nunca foi nem mesmo parabenizado, ainda que seu tio comemorasse o aniversário de seus próprios filhos.
Para Vandalieu, esta era sua primeira festa de aniversário.
Vandalieu disse para Darcia, que havia ficado emocionada, enquanto a relembrava das outras coisas boas e memoráveis que haviam acontecido.
Primeiramente, ele havia se tornado capaz de falar corretamente. Esta era uma coisa surpreendentemente importante, pois permitia que ele finalmente entoasse os feitiços em voz alta ao usar magia.
Até então, Vandalieu tinha sido incapaz de entoar os feitiços e, como consequência, necessitava de uma quantidade absurda de mana para usá-los. Cada evocação custava inúmeras vezes mais mana do que deveria, além de ter sua potência reduzida para menos da metade do que seria normalmente. Não fossem suas reservas exageradas de mana, ele certamente não teria chegado tão longe.
Entretanto, tendo alcançado esse marco sem recitar nenhum tipo de feitiço, tão logo ele se tornou capaz de falar, Vandalieu adquiriu a
habilidade [Revogar Cântico], que lhe conferiu a capacidade de utilizar feitiços sem a necessidade de recitá-los.
Aparentemente, esta era uma habilidade tão rara que até mesmo Darcia ficou chocada, ainda que um pouco deprimida pelo timing do acontecimento.
Além disso, Macaco Esqueleto e os outros mortos-vivos alcançaram o nível
100, sendo promovidos para o grau 2.
Nome: Macaco Esqueleto/Lobo Esqueleto/Urso Esqueleto/Pássaro Esqueleto
Raça: Animal Esqueleto
Nível: 0~7
Visão Noturna
Nenhuma
Nome: Homem Esqueleto
Raça: Esqueleto
Habilidades Passivas
Visão Noturna
Nenhuma
Como de costume, não havia outras habilidades além da [Visão Noturna], mas o aumento de grau trouxe inúmeros outros benefícios.
Todos os atributos de Macaco Esqueleto e dos outros mortos-vivos, que agora se tornaram [Animais Esqueleto], aumentaram para se adequar aos valores que eles possuíam quando ainda estavam vivos. Além disso, além de obedecerem aos comandos de Vandalieu, essas criaturas novamente adquiriram a inteligência de bestas comuns.
Homem Esqueleto foi o único que evoluiu para a raça [Esqueleto] após ter seu grau aumentado, mas isso era previsível considerando que ele foi criado a
partir dos ossos de um humano. Tendo a força e a agilidade de um homem comum, provavelmente seria considerado um fracote aos olhos de aventureiros, mas para Vandalieu ele era uma adição muito bem-vinda ao seu pequeno exército.
Se ele usasse a armadura de couro que Vandalieu obteve dos corpos de Orbie e dos outros caçadores junto de uma adaga e um escudo de madeira feito através da manipulação de um golem de madeira, já seria o bastante para transformá-lo em um excelente guerreiro esqueleto. No momento, ele estava praticando o uso do arco.
Falando nisso, Vandalieu também alcançou o nível cem. Entretanto, não tendo nenhuma classe, seus atributos não aumentaram tanto. Ainda que teoricamente tivesse completado os requisitos para uma mudança de classe, ele não tinha acesso às instalações necessárias para fazê-lo, especificamente as salas especiais que estão localizadas em inúmeras guildas ou templos, então era uma conquista sem sentido no momento.
Por fim, mesmo que sua capacidade de combate tivesse aumentado ligeiramente, ainda era muito cedo, na opinião de Vandalieu, para se vingar do povo de Evbejia. Seu poder ainda era pequeno demais. No momento, ele provavelmente teria êxito em completar sua vingança, mas era incerto se Vandalieu conseguiria fugir de Evbejia até um lugar distante da nação de Mirg, onde um dampiro poderia viver pacificamente junto da civilização. Sua vingança precisava vir junto de um sentimento de satisfação, então por enquanto era melhor que ele simplesmente acumulasse os recursos necessários, ficando mais forte.
Talvez seja uma boa ideia começar a caçar bandidos a partir de amanhã.
Bandidos. Eles não eram monstros, mas sim uma facção armada de criminosos que operam como ladrões nas periferias de vilarejos.
Em outras palavras, eles eram humanos.
De que maneira o objetivo de ficar mais forte e coletar recursos importantes está relacionado à tomar a iniciativa de matar humanos? A resposta para essa pergunta é bastante lógica.
Recentemente, não importa quantas lebres ou guaxinins os mortos-vivos matem, seus níveis permanecem estagnados e não há monstros mais poderosos do que goblins nesta floresta. Contudo, Evbejia está localizada no centro do caminho que leva para outros vilarejos, então se procurarmos alguns bandidos, estou certo de que vamos encontrá-los. Eles vão ser uma ótima fonte de pontos de experiência para os mortos-vivos, enquanto que seus suprimentos vão ser
tomados por nós. Dois coelhos com uma só cajadada, creio eu.
E, além disso, neste mundo não havia leis que restringiam o assassinato de bandidos, tampouco o ato de tomar os suprimentos desses marginais. Na Terra e em Origem, matar e se apropriar dos bens roubados era o mesmo que também ser um criminoso. Entretanto, em Lambda, ainda que um camponês comum matasse um bandido, ele não seria tratado como um malfeitor. Ao contrário, a pessoa seria parabenizada por ter feito um bom trabalho e ninguém a rotularia como um assassino, nem diria que os direitos humanos do bandido foram violados. Os bens roubados eram tratados como de posse legítima da pessoa que eliminou os criminosos. Se o dono original quisesse muito reaver seus bens roubados, era de senso comum que ele deveria negociar com a pessoa que matou os bandidos.
Darcia disse para Vandalieu, preocupada com sua segurança. Ele sorriu para ela de maneira reconfortante.
E então, do dia seguinte em diante, na tenra idade de um, Vandalieu começou a realizar, sozinho, o trabalho que até mesmo aventureiros de classe D faziam em grupos.
Nome: Vandalieu
Raça: Dampiro (Elfo Negro)
Idade: 1 ano Apelido: Nenhum Classe: Nenhuma
Nível: 100 [SUBIU DE NÍVEL!]
Histórico de Classes: Nenhuma
Vitalidade: 24
Mana: 100.001.203
Força: 31
Constituição: 33
Habilidades Passivas
Força Sobre-humana: Nível 1
Cura Rápida: Nível 2
Magia do Atributo da Morte: Nível 3 Resistência a Efeitos Negativos: Nível 3 Resistência a Magia: Nível 1
Corrupção Mental: Nível 10
Enfeitiçar Mortos-vivos: Nível 2 [SUBIU DE NÍVEL!]
Revogar Cântico [NOVA!]
Beber Sangue: Nível 3 [SUBIU DE NÍVEL!]
Exceder o Limite: Nível 2
Transmutação de Golem: Nível 2
Experiência adquirida na vida anterior não será transferida. Não pode obter nenhuma das classes já existentes.
Incapaz de adquirir pontos de experiência independentemente.
Tradução: Amon
Revisão: Amon
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