O Começo Depois do Fim

O Começo Depois do Fim – Cap. 512 – Sobre seus ossos

 

POV ARTHUR LEYWIN

 

O que se seguiu foi uma corrida insana de preparativos.

Despedi-me dos Glayder antes que retornassem rapidamente a Etistin para organizar e preparar suas próprias tropas. Emily Watsken partiu às pressas para supervisionar a instalação e ativação de todas as unidades de teletransporte de longo alcance recém-desenhadas — as que foram modeladas a partir do projeto de Nico — para permitir a rápida disseminação dos pilotos da Esquadrão de Quimeras por todo o continente. Lyra Dreide e Saria Triscan se ofereceram para serem nossas mensageiras até Blackbend, onde Helen Shard coordenava os esforços da Guilda dos Aventureiros. De lá, as duas seguiriam para a Muralha e, em seguida, para as aldeias de refugiados alacryanos e acampamentos élficos além dela.

Carnelian Earthborn e Daglun Silvershale concordaram prontamente em enviar magos anões por toda Sapin, e o restante dos lordes anões imediatamente os seguiu. Embora eu estivesse surpreso com esse súbito senso de camaradagem com o resto do mundo, fiquei aliviado ao ver que até os teimosos lordes anões reconheceram a razão diante da catástrofe.

Duas horas após os primeiros fragmentos de Epheotus caírem, encontrei-me bem abaixo da terra, em uma plataforma de observação, olhando para o vasto laboratório que Wren Kain havia esculpido para o desenvolvimento e teste das exoformas e de suas armas imbuídas com sal de fogo. Embora estivesse impaciente com tantos atrasos, não podia partir até ter certeza de que Dicathen estava preparada — ou pelo menos o mais preparada possível — para resistir ao contínuo bombardeio de sua superfície por Epheotus.

Fileiras e mais fileiras de exoformas, cada uma única com base na combinação específica de componentes de bestas utilizados, estavam abertos diante de mim enquanto pilotos recém-treinados chegavam de Vildorial ou mais longe. Por todo o laboratório, núcleos giravam, emitindo luz e mana que fluíam pelas exoformas, fazendo-as se mover, ajustando posturas e girando articulações dos braços e do pescoço ao imitarem seus pilotos enquanto a conexão se estabelecia.

Claire Bladeheart e alguns outros pilotos graduados estavam orientando os soldados, que manobravam suas máquinas em formação assim que cada uma terminava sua inicialização.

— Eles podem não ser tão poderosos ou versáteis quanto os magos mais fortes por aí — disse Gideon —, mas, na ausência de canais oficiais de liderança, posso movê-los para onde precisam estar mais rapidamente do que implorar por soldados de Darv ou Sapin. É bom que você esteja levando alguns com você, no entanto. Você finalmente os verá em ação. — Ele me olhou seriamente, e suas sobrancelhas surpreendentemente intactas se ergueram. — Sabe, Arthur, eu tenho repensado os designs de algumas dessas armas de longo alcance…

— Diga a ele, Gid. Ainda acho um grande fracasso da criatividade do Arthur eu não ter um par de bazucas acopladas aos meus lados — interrompeu Regis.

— Ba…zucas? — perguntou Gideon, franzindo o cenho com curiosidade. — Um nome forte para um sistema baseado em projéteis, talvez um que…

Eu acenei com a mão, como se espantasse suas palavras do ar.

— Já discutimos isso. Não é um caminho que você queira seguir.

Alguns minutos depois, Claire e os outros nove pilotos de exoforma que me acompanhariam, os dez melhores que Gideon tinha, estavam prontos para partir. Era uma longa caminhada pelos túneis de volta para Vildorial.

— Admito, Arthur, ainda estou um pouco confusa sobre o que estamos fazendo aqui — disse Claire, colocando-se ao meu lado enquanto eu apressava o passo. Sua exoforma pairava sobre mim, e os pés com garras deixavam arranhões brilhantes no chão de pedra a cada passo. — Com três Lanças, uma Foice, alguns magos de núcleo branco… quer dizer, você tem dois asuras indo com você. O que acha que dez não magos… — ela fez uma careta e rapidamente corrigiu suas palavras —, dez exoformas vão acrescentar?

— Gideon não explicou isso para você? — perguntei, surpreso.

Ela deu de ombros, hesitante, e a exoforma imitou o gesto, um movimento que quase teria sido engraçado se a máquina em si não fosse tão estranha de se ver.

— O mestre Bastius nem sempre é exatamente claro em sua comunicação.

Eu ri.

— Justo. — Antes de responder à sua pergunta, pausei para escolher bem as palavras. — Não espero que você lute contra Espectros ou Vritra. Suas armas são altamente eficientes em superar barreiras, nas quais os magos alacryanos dependem inteiramente para se defender. Se houver uma batalha, vocês representarão um elemento desconhecido para os alacryanos. Exceto talvez para qualquer um que também tenha estado na última batalha de Vildorial, ninguém lá saberá o que vocês são ou como combatê-los.

“Mas, além disso, Claire, você, o Esquadrão de Quimeras, essas exoformas, representam um caminho importante para o empoderamento de todos aqueles que não têm mana, tanto em Dicathen quanto em Alacrya. Não estou fazendo um favor a você ou aos outros, estou colocando vocês em perigo, e quero que tenha isso em mente, mas… queria que o Esquadrão de Quimeras tivesse um lugar aqui.”

Claire permaneceu em silêncio por um tempo enquanto avançávamos rapidamente. Justo quando pensei que a conversa havia terminado, ela falou novamente:

— Obrigada por isso, Arthur. — Dentro da exoforma, ela fez um gesto para sua estrutura de peças de bestas, mecânica e magia. — Não confunda minha pergunta com falta de vontade. Estou feliz por estar indo para Taegrin Caelum; pela chance de lutar contra aqueles que nos atacaram em Xyrus todos aqueles anos atrás.

Não consegui me forçar a sorrir, mas inclinei levemente a cabeça em sinal de reconhecimento.

— Sua unidade será a vanguarda, caso enfrentemos oposição fora da fortaleza, sob o comando de Seris. Tentarei romper qualquer barreira que tenha sido erguida, e então as Lanças, meus companheiros e eu levaremos a luta diretamente a Agrona dentro de Taegrin Caelum.

Ao chegarmos a Vildorial, encontramos nosso caminho bloqueado por uma densa multidão. Ao longe, fileiras e mais fileiras de soldados anões passavam por um portal, e toda a população da cidade havia saído para assisti-los. Era uma cerimônia sombria, com pouca ou nenhuma aclamação para aqueles soldados.

Considerei procurar outro caminho, mas Claire avançou. A multidão se abriu por necessidade, pressionando-se uns contra os outros até que houvesse espaço para a imponente máquina passar. Assim que chegou à frente, ela começou a aplaudir, suas mãos metálicas colidindo como um martelo contra uma bigorna.

Por um momento, aqueles ao redor se assustaram, mas então o ambiente começou a mudar. Sorrisos apareceram em rostos sombrios, lentos mas inexoráveis. Alguns aplausos se juntaram a ela, e então a plateia explodiu em uma salva de aplausos estrondosa. Os outros pilotos de exoformas se juntaram a ela, mas seus aplausos não puderam superar o estrondoso clamor da multidão.

Puxando meu capuz para esconder meu rosto, atravessei a multidão até o lado de Claire, aplaudindo os anões junto com todos os outros.

— Muito bem — disse a ela.

— Eles são soldados e estão indo para um perigo incrível por pessoas que pouco os respeitaram; pessoas que, até pouco tempo atrás, eles consideravam inimigos. — Através da barreira transparente de mana, pude ver a mulher do outro lado, seu olhar fixo e determinado nos anões enquanto falava. — Para alguns, esta será a última vez que verão seu lar. Eles não deveriam partir em silêncio e melancolia.

Ficamos ali por mais alguns minutos, observando os anões marcharem pelo portal, dois ou três de cada vez. Quando não consegui mais ficar parado, bati no quadril da exoforma para chamar a atenção de Claire e comecei a subir pela rodovia lotada e curva, com a fila de exoformas me seguindo. Já conseguia sentir as assinaturas de mana dos meus companheiros à distância, perto do topo da caverna em Lodenhold.

A estrada em frente ao palácio havia sido liberada, e apenas alguns guardas permaneciam. Muitos dos lordes anões, quase todos magos, estavam acompanhando seus soldados até Sapin. Aquela havia sido uma ideia de Daymor Silvershale. O jovem anão argumentou que não recebeu uma runa de feitiço para se esconder no subsolo enquanto a morte caía na superfície, sendo um dos primeiros a atravessar o portal.

— Está tudo pronto? — perguntei ao chegar aos outros, observando o grupo que me acompanharia até Alacrya: Varay, Bairon, Mica, Tessia, Chul e Sylvie. Seris e Cylrit estavam ausentes, provavelmente ainda lidando com o portal.

— Só estávamos esperando você e suas exoformas — respondeu Varay.

Virion, que estava com Tessia, resmungou:

— Já estamos recebendo mensagens de volta, e os primeiros refugiados já chegaram. — Ele olhou para a borda da estrada, onde um grupo de humanos assustados estava sendo conduzido pelo túnel que levava ao portal recém-substituído. — Nossos esforços estão dando resultado. Eu… — Ele hesitou, sua voz áspera de repente carregada de emoção. Limpou a garganta. — Vou para Elenoir imediatamente. Os poucos bosques que já começaram a se enraizar lá… não queremos perdê-los.

Dei-lhe um meio sorriso compreensivo.

— Proteja seu lar, seu povo. Não ceda nem um centímetro.

Ele tossiu e enxugou um traço de umidade nos olhos, então me puxou para um abraço, batendo com força em minhas costas.

— Cuide da minha neta, pirralho.

— Claro, vovô. — Retornei o gesto com mais ternura.

— Vovô! Estou bem aqui — disse Tessia, em tom de brincadeira.

Mais rápido do que eu esperava, ele estendeu a mão, agarrou seu pulso e a puxou para um abraço em grupo, rindo. Logo Tessia e eu estávamos rindo junto com ele.

— Adorável — disse Mica ali perto, revirando os olhos, mas incapaz de conter um sorriso.

Passos firmes chamaram minha atenção para a entrada principal de Lodenhold, que se erguia acima de nós. Seris vinha em nossa direção, com Cylrit ao seu lado e Emily apressada atrás deles.

Virion limpou a garganta e se desvencilhou do abraço que ele mesmo havia iniciado.

— Então? O céu está caindo, pirralho. Não é hora de ficar parado.

— O portal está calibrado — disse Seris sem rodeios. — Eu sei de uma plataforma receptora ao norte de Cargidan, nas Montanhas Presas do Basilisco.  Ela é usada ocasionalmente para mover um grande número de soldados de e para Taegrin Caelum em operações de treinamento. Não poderemos nos teleportar diretamente para a fortaleza, mas isso nos deixará o mais próximo possível. Já enviei uma mensagem para Caera para que nossos soldados comecem a se deslocar para lá.

Emily ajustou os óculos enquanto nos observava com nervosismo.

— Sem querer apressá-los, Regente, mas Gideon gostaria de usar este portal para o transporte das outras exoformas assim que partirem.

— Devemos partir imediatamente — acrescentou Cylrit. — Já perdemos horas preciosas.

Varay me lançou um olhar feroz, assentiu e liderou o caminho, seguida por Mica, Cylrit e Seris. Sylvie apertou a mão de Virion, deu-lhe um rápido beijo na bochecha e então acenou para Chul, seguindo os outros.

Bairon permaneceu firme, mas rígido, diante de Virion.

— Senhor, foi uma honra. Obrigado pela oportunidade de apoiá-lo como sua Lança.

Virion, já com os olhos vermelhos, coçou a barba e desviou o olhar por um segundo. Quando voltou a encará-lo, seu olhar brilhava com a determinação de um homem que já foi rei, que liderou todo o continente em uma guerra contra probabilidades impossíveis.

— E obrigado pelo seu apoio, Bairon Wykes, Lança de Dicathen. — Ele enfatizou fortemente as últimas palavras.

Bairon saudou seu comandante, girou nos calcanhares e marchou em direção a Lodenhold. Fiz um gesto para Claire, e ela liderou os pilotos de exoformas atrás dele.

Tessia começou a se afastar, parou e correu de volta para Virion, beijando-o na outra bochecha, onde Sylvie já havia deixado um beijo.

— Cuide-se, tá bom?

Toquei dois dedos na têmpora em uma espécie de saudação casual, então Tessia e eu seguimos os outros.

— Art, antes de irmos… — Tessia começou hesitante. Ela tirou algo do bolso e estendeu para mim: a pedra escura e multifacetada que eu havia usado para ver minha mãe e minha irmã à distância.

— Ah, olha só, a Pedra do Espreitador — comentou Regis. — Parece quebrada de novo — acrescentou, chamando minha atenção para as rachaduras que a atravessavam.

Peguei a pedra e a virei na mão, inspecionando as fraturas.

— Encontrei na casa da sua mãe — disse Tessia. — Ellie me contou que ela tinha sido quebrada.

— Para protegê-la de Windsom — confirmei, recordando-me de Ellie mencionando isso nas semanas em que ficamos em Epheotus após a “derrota de Agrona”. O éter floresceu de mim, escorrendo pelos braços em partículas brilhantes enquanto o Réquiem de Aroa se ativava. As partículas dançaram pela superfície do artefato, fundindo as rachaduras.

Resisti ao impulso de verificar Ellie e minha mãe, em vez disso guardei o artefato na minha runa dimensional.

— Obrigado — falei, roçando meus dedos nos dela.

— Imaginei que você estaria preocupado com elas — disse ela, dando de ombros enquanto caminhávamos para o corredor externo de Lodenhold.

Os pilotos dos exoformas já estavam passando, e Seris e Cylrit haviam partido. Os outros me olharam, e eu assenti. Eles começaram a atravessar um a um. Logo, apenas Emily e eu estávamos parados em frente à estrutura arcana emitindo o portal brilhante e opaco.

Meus pensamentos vagaram para aqueles primeiros dias na Academia Xyrus, quando a conheci na aula de Gideon, na época em que ele ainda era professor.

Ela riu e ajustou os óculos.

— Quem diria que acabaríamos aqui? — perguntou, como se lesse meus pensamentos. Seu sorriso se desfez, e o olhar caiu no chão, mas logo voltou para mim. Ela deu um passo à frente e segurou minha mão com as duas dela. — Que droga, eu queria ter algo mais inteligente para dizer do que só… bem, tome cuidado, Arthur. Volte para nós, tá? — Ela balançou a cabeça, e os cabelos espessos caíram sobre o rosto. — O mundo ainda vai precisar de você quando Agrona se for. — Riu de novo, quase um soluço. — Ainda tem o mundo dos deuses colidindo com o nosso para lidar.

Quando seu rosto se abaixou, os óculos escorregaram pelo nariz. Eu os empurrei de volta para o lugar com uma risada.

— Com mentes como a sua por aqui, Srta. Watsken? O mundo vai ficar bem, prometo.

Lágrimas encheram os olhos dela, e eu me virei antes que começassem a cair, caminhando pelo portal.

Senti-me sendo lançado pelo mundo. Como os portais deixados pelos djinn, esse novo design não era exatamente instantâneo, mas não havia desconforto algum. Experimentei um flash azul, depois a vaga impressão de uma paisagem passando rapidamente, e então eu já estava saindo de um portal flutuante sobre um amplo círculo coberto de runas.

O ar estava bem mais frio ali, e senti um breve momento de vertigem enquanto o salão fechado de Lodenhold se transformava em montanhas irregulares ao redor e, acima delas, a fenda aberta no céu. Um pedaço de terra se desprendeu, caindo como uma bola de fogo em algum lugar distante a oeste.

Um acampamento vasto, mas útil, se espalhava ao nosso redor. Magos alacryanos de todos os tipos saíam dos prédios, apressando-se pela estrada principal e se reunindo em torno de Seris. Alguns nos observavam com desconfiança, enquanto outros circulavam ao redor das exoformas, exclamando maravilhados com o que devia ser, para eles, uma visão muito estranha.

No total, pareciam ser trezentos, talvez quatrocentos magos.

— Alacryanos livres — disse Seris, sua voz ecoando sem esforço pelo acampamento. — Chegou o momento de atacar a fortaleza de Agrona, o coração de seu poder em Alacrya. Cada um de vocês trabalhou incansavelmente desde antes da queda de Soberano Orlaeth Vritra para garantir um futuro para Alacrya livre do regime autoritário do clã Vritra. Agora, juntos, cumpriremos a promessa que fizemos a nós mesmos quando esta revolução começou.

Houve alguns aplausos em resposta, e Seris continuou falando, mas minha atenção se voltou para uma figura específica entre as centenas.

Caera contornou a multidão se reunindo ao redor de Seris e veio direto para o resto de nós. Suas sobrancelhas se franziram enquanto ela me olhava, mas alguém me empurrou para o lado, e Chul correu até ela, a envolveu em um abraço esmagador e a levantou do chão.

— Lady Caera! — Ele bradou com uma risada, sacudindo-a como uma criança com um ursinho de pelúcia. — É excelente vê-la, e fico muito feliz em lutar ao seu lado novamente, mesmo que deva se sentir bem constrangida por estar na presença do meu irmão Arthur e de sua amada, esta linda princesa élfica aqui.

Todos ao alcance da voz congelaram. Regis, meio manifestado para fora do meu corpo enquanto também ia cumprimentar Caera, suspirou, completou sua transformação e então mordeu a mão de Chul com força suficiente para sangrar.

— Agh, sua besta endiabrada, por que fez isso? — Chul resmungou, imediatamente distraído ao se lançar contra Regis, que se esquivou, piscando dentro e fora da corporalidade, tornando impossível para a fênix agarrá-lo.

Coçando a nuca e me sentindo envolto em uma aura de puro constrangimento, aproximei-me de Caera.

— Desculpe.

Ela cruzou os braços sob o peito e me lançou um olhar irônico.

— Que tipo de histórias você andou contando a ele sobre o nosso tempo ascendendo juntos?

Tessia se aproximou e me lançou uma expressão semelhante.

— “Ascendendo juntos”, hein? Isso é algum tipo de gíria alacryana com a qual eu não estou familiarizada?

Decidi que a melhor coisa a fazer era permanecer calado e em absoluto silêncio.

Ambas as mulheres começaram a rir quando Tessia passou o braço pelo de Caera.

— Acho que nunca vi esse lado dele — disse Caera, jogando o cabelo azul-marinho para trás. — “Ascendente Grey”, como eu o conhecia, era o homem mais sério e sombrio que já encontrei. Engraçado como, mesmo aqui, na beira do precipício, encarando o literal fim do mundo, você parece melhor agora, Arthur Leywin. Mais… você mesmo.

Limpei minha garganta.

— Aprendi muito sobre quem eu queria ser fingindo ser a pessoa que já fui.

Pelo canto do olho, vi Seris gesticulando para mim.

— Hora de ir. — Eu me aproximei e fiquei entre ela e Cylrit enquanto centenas de soldados alacryanos observavam.

— Já passei todas as instruções necessárias — disse Seris em voz baixa —, mas esperava que você também dissesse algumas palavras.

Assenti e olhei para o pequeno exército.

— Vocês sabem quem eu sou. Muitos de vocês talvez já tenham me visto antes. Conheceram-me como Ascendente Grey, e agora como Arthur Leywin. Não sou um alacryano, mas passei um tempo entre vocês, treinei seus estudantes… — um grito de aprovação surgiu de algum lugar na multidão — …lutei por seu povo. Podemos ser de continentes diferentes, mas nossas vivências não são tão distantes quanto as terras em que nascemos. Estamos unidos no propósito de eliminar o mal que ameaça suas famílias, seus sangues, tanto quanto as minhas. O clã Vritra não lhes ofereceu nada além de subjugação e brutalidade, assim como aconteceu em Dicathen. Todos vocês estão aqui hoje porque acreditam que Alacrya pode ser um lugar melhor. — Minha voz suavizou, mas o vale montanhoso estava tão silencioso que ela alcançou todos com facilidade. — E vocês estão certos. Este continente é de vocês, contanto que lutem por ele.

Um soldado nas fileiras da frente começou a bater ritmicamente sua lança contra o escudo, e o guerreiro ao lado acompanhou, martelando o cabo de seu enorme martelo de guerra contra o chão. Logo, todo o exército começou a bater os pés ou a chocar suas armas.

Cylrit deu um passo para o lado e apontou para o desfiladeiro com sua espada.

— Para Taegrin Caelum!

— Por Alacrya! — Alguém gritou nas fileiras. O grito foi repetido, e o exército começou a marchar rapidamente pela trilha acidentada.

Enquanto observava, Chul voltou ao meu lado correndo.

— Realmente precisamos nos mover a pé para acompanhar esses soldados? Uma longa marcha pelas montanhas poderia ser concluída em apenas uma hora se voássemos à frente.

— Mais um atraso necessário — murmurei. — Mas espero que seja o último.

Cylrit seguia na frente das fileiras, mas Seris se afastou para se juntar a mim.

— Nossos Sentinelas confirmam que a estrada está limpa daqui até Taegrin Caelum, mas há um acampamento significativo montado logo além do alcance do que quer que esteja protegendo a fortaleza. Devemos esperar resistência.

As Lanças estavam próximas à plataforma receptora com os dez pilotos de exoformas. Observaram cautelosamente enquanto Seris reunia todos aqueles magos alacryanos ao seu redor e ouviam nossos discursos. Agora, Varay deu um passo à frente.

— Deixando os Sentinelas de lado, nós três vamos explorar à frente durante a jornada, Arthur. — Ela informou.

Assenti, e Varay, Bairon e Mica alçaram voo e seguiram à frente. Seris se juntou às fileiras, caminhando com os soldados que decidiram lutar contra Agrona por ela. Dei a ordem para que as exoformas ocupassem a retaguarda.

— Vou vigiar lá de cima — grunhiu Chul, franzindo o cenho enquanto um pequeno meteoro de terra de Epheotus colidia com as montanhas a alguns quilômetros a oeste. Em seguida, ele voou para o alto, pairando algumas centenas de metros acima do exército em avanço.

Passei a primeira parte da jornada na retaguarda da linha. Claire e eu caímos em um ritmo fácil de conversa. Ela havia aprendido muito sobre o estilo de luta dos alacryanos durante seu treinamento, mas ainda havia lacunas significativas. Durante as próximas horas, dei a ela um curso intensivo sobre como lutar ao lado e contra os grupos de batalha deles. Quando terminamos, segui para a frente da linha, onde Seris, Caera e Cylrit lideravam, pensando em instruí-los sobre o melhor uso das exoformas.

Seris apenas arqueou um canto da boca, com um sorriso irônico.

— O que você acha que fiz durante meu tempo em Vildorial, após o ataque de Agrona à sua procura? Acho que vai descobrir que sei tanto quanto você sobre suas máquinas bestiais, Arthur… talvez até mais.

Depois disso, comecei a alternar posições: voando à frente para verificar as Lanças; recuando para ajudar Chul a destruir qualquer fragmento de Epheotus que caísse muito perto; marchando com os soldados, que estavam ansiosos para ouvir mais sobre minhas ascensões ou relembrar minhas lutas no Victoriad; ou caminhando com Tessia e Sylvie, revisando o que Tess se lembrava de seu tempo em Taegrin Caelum.

Mantivemos um bom ritmo, mas ainda assim foi uma longa marcha por um terreno difícil. Acima de nós, a ferida parecia se expandir centímetro a centímetro, rasgando-se cada vez mais. Só podia torcer para que o povo de ambos os continentes estivesse sendo protegido o melhor possível. No total, levou doze horas completas, embora a jornada tivesse sido duas vezes mais longa se cada soldado entre nós não fosse um lutador e mago experiente.

Tivemos nosso primeiro vislumbre de Taegrin Caelum à distância duas horas antes de chegarmos aos arredores. A fortaleza era iluminada pelo brilho de Epheotus através da ferida, que banhava as Montanhas Presas do Basilisco com uma luz dourada, como se nosso próprio sol já não tivesse se posto. As silhuetas de torres escuras e espirais rasgavam o céu noturno iluminado, erguidas na encosta da montanha.

Foi só quando contornamos uma curva acentuada na trilha sinuosa, logo abaixo da fortaleza, que vimos o acampamento dos alacryanos leais à Agrona.

Aglomerados em um desfiladeiro estreito ao longo da trilha acidentada, centenas de tendas e pequenas estruturas estavam erguidas. Fogueiras pontilhavam o acampamento, e milhares de figuras circulavam por ali.

Nos movíamos com nossas assinaturas de mana — para quem as tinha — retraídas ao máximo, mas com tantos olhos no acampamento, bastaram alguns instantes até que alguém nos visse. Um clarão de mana subiu, lançando uma luz vermelha cintilante pela encosta, e de repente as pessoas começaram a se organizar em formações improvisadas.

— Continuem avançando — ordenou Seris, sua voz ecoando pela linha.

Acenei para Chul, Sylvie, as Lanças, que haviam recuado para a força principal enquanto nos aproximávamos de Taegrin Caelum, e os outros para ficarem com as tropas; Seris e eu voamos para frente. Quando estávamos a poucos metros da linha de frente inimiga, vários escudos cintilaram, erguendo-se para barrar nosso caminho. Seris me lançou um olhar.

— Povo de Alacrya — falei, projetando minha voz com um toque de intenção etérica —, recuem e nos deixem passar. Estamos seguindo para Taegrin Caelum a fim de…

— Ah, nós sabemos por que vocês estão aqui. — Uma voz masculina retumbou em resposta.

Um homem alto com um chifre saiu das fileiras dos magos alacryanos. Ele tinha um nariz que mais parecia um bico e cabelos negros desgrenhados que escondiam o toco onde seu segundo chifre costumava estar. Sua característica mais distinta, no entanto, eram seus olhos heterocromáticos, um castanho escuro e o outro um escarlate brilhante.

De algum lugar atrás de mim, eu ouvi:

— Ah, meu irmão em heterocromia… — seguido imediatamente por: “Agora não, idiota” de Regis.

— Wolfrum — disse Seris, sua voz fria. — Ainda rastejando sob os Vritra, mesmo enquanto continuam a perecer um por um. Lamentável. Teria sido mais útil permanecer leal à minha causa do que depositar sua fé em Dragoth. Minhas condolências, claro. Soube da notícia infeliz sobre meu colega, o portador da sua coleira.

Wolfrum zombou.

— Vocês não passarão daqui, Seris Sem Sangue. Estamos preparados para defender nosso Alto Soberano, e somos dez para cada um de vocês.

Minhas sobrancelhas se ergueram.

— Mal consigo sentir mana suficiente de seu acampamento para conjurar esses escudos. Estão exauridos pelo pulso recente. Não seja estúpido. Não precisam morrer aqui por nada.

Wolfrum riu, e alguns dos magos de suas fileiras se juntaram a ele, e então mais alguns, e de repente todo o acampamento explodiu em gargalhadas. Como se uma cortina tivesse sido aberta, suas assinaturas de mana brilharam, cada uma em plena potência.

— O Alto Soberano nos preparou para sua chegada — disse Wolfrum, sua risada carregada pelas palavras. Então, seu rosto se contorceu em uma expressão sombria. — Todos os alacryanos leais! Destruam os inimigos do Alto Soberano e sejam recompensados com poder incrível no mundo que ele construirá sobre seus ossos!

Os escudos caíram, e centenas de feitiços começaram a jorrar do acampamento inimigo.

 


 

Tradução: NERO_SL

Revisão: ***

 

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NERO_SL

View Comments

  • Esse cara não tinha morrido? Arthur tá muito mole, ele deu várias chances e os caras ainda ficam contra ele. Sempre é a uma chance eles trocam de lado...

    • Não me lembro nem do Arthur já ter encontrado ele antes. Quem lutou contra ele foram Alaric e Caera

  • O autor perdeu o rumo da novel dês da " morte" de agrona. A novel de caiu muito.

    • Eu acho que Agrona é passado, o autor quer que o menino Artur enfrente o próprio destino. Mas entendo, comparado ao arco da guerra até o Ascendente Grey esse tá meio fraco dado que esse é provável se o último...

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