O Começo Depois do Fim

O Começo Depois do Fim – Cap. 508 – Ferida

 

POV ARTHUR LEYWIN

  

— Um truque. Claro — disse Morwenna, os lábios franzidos, a postura rígida ainda mais tensa que o normal. — Devíamos ter previsto.

Rai Kothan estava pálido. A captura de Agrona havia sido um meio de ajudar a curar os basiliscos e sua relação com o restante de Epheotus. Eu quase podia ver os cálculos sendo processados rapidamente por trás dos olhos de Rai enquanto ele avaliava as consequências desse erro.

Eu quase ri. Parecia tão improvável, tão absurdo. Como eu não percebi? Eu havia literalmente cortado fios do Destino que o conectavam a…

Que o conectavam ao verdadeiro Agrona, concluí, algo se encaixando em meu raciocínio. Dezenas de pensamentos se ramificaram sob os efeitos do Gambito do Rei, minha mente sustentando múltiplos processos simultaneamente.

Todos levavam ao mesmo ponto. Destino. De alguma forma, isso fazia parte do que ele queria.

— Então, esse tempo todo o Agrona estava… o quê, exatamente? Manipulando esse traje de carne Vritra das profundezas de seu castelo macabro? — O desgosto de Regis se misturava ao meu. — Huh. E a gente achava que conhecia o cara.

Outro ramo da minha consciência já considerava as ramificações dessa descoberta. Precisávamos presumir que Agrona ainda estava vivo, o que mudava completamente o contexto da mensagem trazida por Chul.

Não posso questionar a decisão de ficar, processou outro pensamento. Os laços que estou formando com esses asura, especialmente os mais jovens, serão ainda mais importantes no futuro, porque se Agrona ainda está em Alacrya, isso torna Kezess ainda mais perigoso.

A voz de Kezess puxou minha atenção de volta.

— Khaernos Vritra. — Kezess praticamente cuspiu o nome. Seu olhar relanceou para mim por um instante, e seus olhos brilharam em um roxo tempestuoso, quase negro. — O que é isso? — Ele estendeu a mão e agarrou Khaernos pelo queixo achatado. — Como…?

De repente, Khaernos se sacudiu, puxando o rosto para longe de Kezess. Seu chifre, que se curvava para baixo e para fora como o de um auroque, atingiu Kezess na têmpora. Kezess cambaleou para trás, seu corpo inchando com mana e éter, o ar ao nosso redor se tornando espesso, o próprio castelo parecendo se contrair ao nosso redor.

Entretanto, a mana que prendia Khaernos dentro do feixe de luz escorria sobre sua pele como água sobre penas enceradas. Ele estava se movendo, escapando da luz branca que o confinava. Uma mão, um braço, um ombro estavam livres antes que qualquer um de nós pudesse piscar. Uma luz negra brilhava dentro dele, transpassando sua pele. A energia parecia corroer tanto a cela quanto o feitiço crescente de Kezess simultaneamente.

Avancei, o éter cintilando em minha mão, se condensando no processo de formar a lâmina violeta de uma espada, mas o poder bruto emanando de Kezess pressionava a câmara como um torno, e eu me movia como se estivesse correndo debaixo d’água.

Khaernos Vritra grunhiu, uma expressão feia e vingativa.

A luz negra explodiu de dentro dele como se fosse o centro de uma bomba. Tive uma fração de segundo para reconhecer a visão da pele se rasgando antes que tudo à minha frente começasse a se dissolver.

Ergui uma barreira espessa de éter. Ao meu lado, Rai Kothan fez o mesmo com fragmentos interligados de ferro-sangue. A luz negra colidiu contra ambas as barreiras e recuou quase tão rápido quanto surgiu. Por um instante, pude ver Khaernos e Kezess: o primeiro, pendendo parcialmente para fora da prisão de luz, rachaduras negras em forma de relâmpago se espalhando por sua carne; o segundo, cambaleante, furioso, sua postura controlada desfeita enquanto as mesmas rachaduras negras tremulavam e desapareciam em suas mãos e rosto.

Então Khaernos explodiu novamente.

Uma nuvem de lâminas de luz negra, finas como navalhas, cortou a câmara.

Algumas, depois dezenas, e então ainda mais atravessaram a barreira, os golpes tão precisos que praticamente deslizavam entre as partículas de éter. Senti puxões cortantes por todo o corpo, seguidos pelo calor do sangue escorrendo. Ao meu redor, ouvi grunhidos e um grito agudo. A forma de Regis, envolta em chamas ametistas, emergiu das sombras irregulares atrás de mim.

A energia se recolheu para dentro de Khaernos. Outra imagem congelada no tempo: desta vez, as rachaduras em seu corpo se aprofundavam, expelindo a luz negra, seu corpo quase em ruínas; Kezess, a poucos passos de distância, um corte profundo na lateral do pescoço; a mana e o éter entre eles se dobrando e se condensando, tentando conter o feitiço de Khaernos.

Com uma espada de éter concentrado em punho, ativei God Step e esperei.

Khaernos entrou em erupção pela terceira vez. A mana da prisão de Kezess começou a se desfazer à medida que um vazio se expandia a partir do Soberano Vritra, desfazendo mana da mesma forma que as habilidades de Seris.

Adentrei os caminhos etéreos e surgi bem ao lado de Khaernos, dentro da bolha de espaço vazio. Seus olhos estavam tomados pelo vermelho, as íris se misturando à esclera. Pedaços de pele cinzenta caíam, flutuando até o chão, revelando carne viva e avermelhada por baixo. Um de seus chifres havia se despedaçado pela força de seu próprio feitiço.

Ele estava morrendo. Não entendi completamente a mecânica do feitiço que lançou, mas seu núcleo estava destruído. Eu podia sentir os fragmentos se espalhando como estilhaços pelo seu peito.

Quase toda a sua mana agora se concentrava no único chifre restante. Não esperei para atacar.

A lâmina etérea estremeceu ao chocar-se contra o tecido resistente e denso em mana. Estremeceu… e então rasgou.

O chifre tombou no chão, ressoando com um som oco, e ao nosso redor, a mana se desfez, a explosão de vazio se dissolvendo em nada.

Atrás de mim, senti os outros soltarem sua mana. Por um breve e intenso momento, eles resistiram ao vazio estrondoso e agora cambaleavam, sem mais uma força oposta os pressionando.

Então, o poder deles irrompeu por toda a cela da prisão.

Radix avançou num lampejo, seu corpo envolto em diamantes negros, passando por mim para agarrar Khaernos pela garganta. Vinhas grossas, com textura de pedra, emergiram do chão em um círculo ao redor da prisão de luz de Khaernos, e flores de um azul-esverdeado brilhante brotaram como cristais antes de liberarem partículas de mana branca e radiante no ar. Fogo fênix alaranjado perfurou Khaernos pelos pulsos, cotovelos, joelhos e clavícula, enquanto correntes espessas de ferro-sangue subiam como uma serpente, começando a envolvê-lo.

— Chega.

Kezess contornou as estranhas vinhas pétreas. O branco e dourado de suas vestes permaneciam vivos e imaculados, sem manchas de sangue, e ele parecia exteriormente composto. A cada passo, apenas a mais leve hesitação denunciava os ferimentos que escondia, detalhe perceptível apenas por causa do Gambito do Rei.

— Quase me esqueci — murmurou, aproximando-se do basilisco cambaleante e semiconsciente. — Khaernos Vritra, tão perito na manipulação de mana que é quase imune ao seu uso contra si mesmo.

Radix grunhiu.

— Mas não a ter a cabeça esmagada contra as pedras como uma fruta do sol madura.

Morwenna soltou um suspiro seco de aprovação.

As correntes de ferro-sangue se contraíram, puxando Khaernos de volta à coluna de luz que, num instante, escureceu e escorreu até assumir uma cor vermelho-sangue.

— Soltem-no — ordenou Kezess, sem emoção alguma na voz. Ele irradiava um distanciamento frio.

Os outros recuaram. Radix soltou sua prisão física, enquanto Novis recolhia o que agora percebi serem várias armas giratórias e flamejantes, com lâminas em forma de ganchos.

As correntes, no entanto, permaneceram; uma amarra física dentro da prisão carmesim de mana.

Cada um dos outros estava ferido, embora não gravemente.

Os braços de Novis eram um emaranhado de cortes finos. Chamas lambiam sua pele, cauterizando lentamente os ferimentos. Metade do rosto de Radix estava cravejada de marcas como ferimentos de estilhaços, mas crostas cristalinas já começavam a se formar. Metade da mão direita de Rai estava ausente, sem sinal de sangue, a carne exposta era preta e lisa. Apenas Morwenna não exibia ferimentos visíveis, mas estava envolta na aura pura de mana emanada das flores cristalinas.

Meus próprios ferimentos já estavam quase todos curados, a pele se fechando rapidamente. Ignorei-os, focando em Kezess e Khaernos.

Kezess observava o Soberano Vritra, que já não mais flutuava no centro do feixe vermelho, mas estava ajoelhado ali, as correntes negras o prendendo. Um tanto desnecessário, pensei. Ele parecia prestes a morrer a qualquer momento.

— Seu próprio poder está devorando os fragmentos de seu núcleo — observou Morwenna, aproximando-se. Ela ergueu uma mão delicadamente, e um redemoinho de mana cintilou ao seu redor como vagalumes. — Acho que nem minha cura pode salvá-lo agora.

— Salvá-lo? — Radix bufou, coçando distraidamente as crostas de diamante no rosto. — Minha opinião profissional é que talvez seja melhor apressar esse processo.

Rai Kothan olhou tristemente para seu companheiro basilisco, o único a demonstrar algo além de repulsa amarga ou fúria contida.

— Morwenna tem razão. Essa técnica do vazio… não foi feita para permitir recuperação. — Ele se ajoelhou na frente de Khaernos. Seus dedos se estenderam na direção do chifre decepado, mas não o tocou. Em vez disso, ergueu os olhos para Kezess. — O que restou do vazio irá consumi-lo por dentro.

Eu conseguia sentir apenas fracamente os nós famintos de mana do atributo Decadência se movendo como vermes por seu corpo, devorando tudo em seu caminho.

Uma onda de poder emanou de Kezess, e a câmara pareceu se dobrar ao redor dele. A luz carmesim escureceu, adquirindo um tom magenta. Dentro da cela de luz, a mana congelou, assim como os fragmentos de pele que ainda se desprendiam do corpo de Khaernos. Ele também não respirava mais, preso no tempo.

— Podemos comprar mais tempo, se necessário. Posso fazer sua morte durar o quanto for preciso, Khaernos. E isso vai ser desagradável. Cada segundo estendido parecerá uma eternidade para você. Uma pós-vida interminável, degradando-se lentamente, com o alívio da morte sempre fora de alcance. — Ele fez uma pausa. — A menos que prefira falar por vontade própria. Talvez, Khaernos Vritra, você não tenha interesse em defender seu Alto Soberano, Agrona, e seus segredos…

O tempo voltou a fluir dentro da cela. Khaernos cuspiu sangue e pus negro, que escorreu pelo osso exposto de seu queixo.

— Você e Agrona se merecem. Espero que se rasguem em pedaços.

— Então isso não foi algo para o qual você se alistou voluntariamente — observei, estudando-o atentamente, com o Gambito do Rei me ajudando a dissecar cada um de seus movimentos. Mesmo sem a runa divina, no entanto, era evidente que ele não tinha forças nem necessidade de mentir.

Seu olhar se voltou para mim, sem traço algum de reconhecimento.

— Por que esse menor se atreve a falar na minha presença? Eu sou Khaernos, o Flagelo Negro, Soberano de…

— Você é uma marionete de carne — interrompi secamente. Regis riu pelo nariz, onde pairava nas sombras atrás dos grandes lordes.

Kezess, que havia paralisado novamente o tempo na cela quando comecei a falar, me lançou um olhar. Não havia humor nele, mas seus olhos brilharam brevemente em lavanda antes de voltarem a escurecer.

— Agrona o enviou para cá com a intenção de tirar minha vida? — Então, ele soltou o fluxo do tempo mais uma vez.

Khaernos me lançou um olhar assassino.

— Não, mas quando abri os olhos e seu rosto foi a primeira coisa que vi, tudo o que consegui pensar foi o quanto queria arrancá-lo.

Os outros se agitaram, mas Kezess gesticulou para que ficassem em silêncio.

— Então qual é o seu motivo para estar aqui? — pressionou Kezess. Seu tom era equilibrado, a fúria que antes havia expressado abertamente agora mascarada.

Khaernos deu de ombros, ou pelo menos tentou. Não conseguiu executar o movimento completamente, mas a intenção foi clara.

— Diga você

— Você realmente não se lembra de nada? — perguntou Rai, claramente cético.

— Todo esse tempo… décadas, possivelmente… como Agrona? — acrescentei, igualmente duvidoso.

Seu rosto se contorceu em uma careta furiosa.

— Décadas? Aquele bastardo traidor.

Radix riu, o som reverberando pelas paredes de pedra.

— Então você não foi um participante voluntário no feitiço dele.

— Voluntário? — A palavra saiu de Khaernos como um rugido, áspera e ensanguentada. — Ele me transformou em seu… — Seu olhar se cravou em mim. — Sua marionete de carne. Não, eu não fui voluntário. Uma infâmia! — Seus dentes rangeram, mas o surto de fúria pareceu drená-lo. Sua cabeça tombou, e seus olhos piscaram pesadamente. — Eu não… lembro de nada. Só posso dizer uma coisa: vocês foram tolos por nos deixar viver tanto tempo.

Ele congelou, a última palavra mal escapando de seus lábios ensanguentados. Os vermes negros de mana que o devoravam por dentro também ficaram suspensos.

Caminhei em círculos ao redor de Khaernos, analisando o Vritra.

— Por que ele não se lembra? Isso parece bem semelhante ao que Cecilia fez com Tessia, e ela permaneceu consciente durante a maior parte do tempo.

Rai se levantou, desviando o olhar da visão horrenda.

— Agrona Vritra é especialista em subjugar a mente, distorcer a percepção e até reescrever o passado através da memória — disse ele. — Sua presença dentro desse basilisco patético teria sido impossível de superar.

— Então você não acha que ele está mentindo? — perguntei, encostando-me contra a parede para poder ver todos os lordes. — Que isso não é mais uma manipulação de Agrona? Como tentativa de assassinato…

— Falhou — disse Kezess simplesmente, mas havia uma tensão incandescente sob sua fachada fria, e sua mão se contraiu levemente em direção às costelas.

— O que isso significa sobre Agrona, então? — perguntou Morwenna. As partículas curativas de suas vinhas haviam se dissipado pelos outros ao longo da conversa. Agora, ela as dispensou. Elas se retraíram de volta pelo chão, sem deixar vestígios de que estiveram ali. — Ele ainda deve estar em algum lugar por aí.

— Ele está fazendo algo em Alacrya. Seris me enviou uma carta. Chul a trouxe. — Respirei fundo e me afastei da parede. — Eu preciso voltar. Se ele perdeu seu… fantoche… então pode estar desesperado… e vulnerável.

Novis lançou um olhar a Khaernos, ainda suspenso na luz vermelho-escura e envolto em pesadas correntes negras, imóvel. Os outros voltaram sua atenção para Kezess.

Kezess parecia pensativo, seus dedos tamborilando distraidamente contra o maxilar liso. Seus olhos perderam o foco por um instante, sua mente divagando para outro lugar. Então se recompôs.

— De fato. Precisamos descobrir o que ele está tramando, agora que foi encurralado. Você e seus companheiros devem partir imediatamente para Alacrya e investigar a situação. Antes que possamos…

De repente, o chão tremeu. Todo o castelo balançou, como se a montanha sob ele estivesse desmoronando. Do lado de fora, como se viesse de muito, muito longe, um som estranho ecoou; algo entre o rugido de um furacão e o rasgar de um tecido resistente. Kezess se virou, olhando através das paredes e do chão para a magia que sustentava e mantinha seu castelo unido.

Morwenna, Rai, Novis e Radix exibiam a mesma expressão aturdida.

— O que…

Luz. Não um clarão, mas algo parecido com o reflexo na água distante. Então Myre apareceu ali. Ela ainda estava usando sua forma mais jovem, mas havia um pânico mal disfarçado tremendo sob sua pele.

— Grandes lordes, rápido, o…

O espaço se dobrou ao nosso redor. Deixamos de estar na cela e, num instante, nos encontramos diante dos portões da fortaleza. A ponte multicolorida que guardava a entrada estendia-se à nossa frente, mas ninguém olhava para baixo. Como um só, os asuras ergueram os olhos.

— Não…

Um frio mortal se espalhou por mim, apertando meu coração e sufocando meus pulmões.

Ouvi meu nome na minha mente e no vento que uivava ao redor dos penhascos sob o Castelo Indrath: Sylvie, questionando, temerosa. Não respondi. Não consegui.

De pé, logo ao lado e atrás de Kezess e Myre Indrath, flanqueado pelos outros grandes lordes, olhei para o céu e me esforcei para compreender o que via.

Era como se o próprio céu tivesse sido rasgado, como se uma lâmina titânica o tivesse atravessado, abrindo uma ferida em sua carne e revelando o que havia por baixo. Uma aurora se retorcia violentamente em suas bordas, vermelho e roxo, como carne viva ao redor de um hematoma em formação.

Contudo, ao contrário de um corte limpo de lâmina, a fenda no céu não era reta, era irregular, como se tivesse sido dilacerada com garras e dentes, ou com força bruta. Ao redor da aurora, o céu estava cinza e desolado, dando a impressão de uma má formação, curvando-se em direção à ferida.

Como um buraco negro.

No entanto, o buraco em si não era o que fazia meu sangue se transformar em gelo.

A ferida não era apenas uma abertura para o vazio, para o negro-púrpura do reino etéreo ou para a vastidão pontilhada de estrelas do espaço profundo. Do outro lado, havia outro céu, ainda preenchido por nuvens e azul-claro, desvanecendo-se para roxo e depois negro nas extremidades. E dentro desse céu, um globo azul.

Duas massas de terra quebravam o azul com tons de verde e marrom. Uma, um simples quadrado ou losango, cortado ao meio por uma faixa irregular de montanhas. A outra, recortada e fragmentada, tinha um formato semelhante ao de um crânio retorcido com chifres…

E entre elas, um vasto e vazio mar.

— Dicathen. Alacrya.

Eu permaneci ali, como em um sonho, vendo diante de mim um mundo que não se conectava direito, como se eu tivesse passado de um cômodo a outro de uma casa e acabado no lugar errado.

A visão através da fenda era imperfeita, atravessada por ventos púrpuras e distorções na luz, mas eu sabia o que estava vendo: a fenda que ligava Dicathen a Epheotus havia sido rasgada. Mesmo enquanto observava, as bordas distorcidas da ferida se alargavam, expondo cada vez mais o mundo além dela.

Engoli em seco, sentindo meus pés pesados, minha mente se movendo com a lentidão de engrenagens enferrujadas.

Epheotus havia sido arrancado de nosso mundo e contido dentro de uma barreira ou bolha, existindo fora do espaço real, dentro de uma dimensão separada, algo semelhante ao reino etéreo. Os dois planos se tocavam, e a barreira ao redor de Epheotus dependia do reino etéreo para existir. Eu sabia, desde a última pedra-chave, que Epheotus não poderia sobreviver indefinidamente, mas…

Eu não sabia o que fazer. Esperava que a lenta conversão dos asuras à minha causa, a evacuação de Epheotus e sua reintegração ao mundo físico, fosse algo que levaria décadas, talvez até centenas de anos. Agora, enquanto permanecia ali, impotente, via o mundo onde renasci se aproximar mais e mais a cada segundo.

Um suspiro suave veio de trás de mim, e eu me virei para encontrar Sylvie, Ellie e minha mãe, que haviam parado abruptamente ao ver a fenda. Regis corria logo atrás, absorvendo tudo ao seu redor.

A expressão de Sylvie se endureceu, mas vi Ellie e minha mãe vacilarem à beira de um colapso mental. Ellie correu até mim, envolvendo-me com os braços. Mamãe manteve um pouco mais de controle, mas apenas um pouco.

— O que está acontecendo? — Ellie perguntou, num sussurro entrecortado, ao mesmo tempo que minha mãe dizia:

— O que isso significa, Arthur?

Ali, junto da minha família, eu queria dar qualquer outra resposta, mas não podia.

— Eu não sei.

POV AGRONA VRITRA

 

Eu me apoiei no parapeito e observei o céu ondular e se abrir. O caminho para Epheotus, como a boca de um cantil sendo mantida fechada à força, agora se rasgou, uma fenda no céu que se estendia da Clareira das Bestas em Dicathen, atravessava o mar e alcançava as Montanhas Presas do Basilisco, em Alacrya. Uma aurora violenta, vermelha e púrpura, vibrava nas bordas enquanto a própria realidade cedia, a barreira que mantinha Epheotus em seu próprio reino colapsando a partir do ponto de conexão.

— Eu tentei fazer isso do jeito fácil — murmurei, observando o céu ferido. — Tudo o que eu queria era o poder que vocês passaram incontáveis eras escondendo. Pode ser que vocês iriam morrer, mas este mundo, ambos os mundos, poderiam ter continuado, retornando ao curso natural de sua existência. O problema é que vocês… simplesmente… não abrem… mão.

Minhas palavras se prenderam na garganta quando a fenda se abriu ainda mais. Através dela, comecei a ver luz e cor.

Meu lar.

Ou o que um dia poderia ter sido meu lar. Não mais.

— Tudo o que vocês construíram, tudo o que agarraram com unhas e dentes desde o princípio, vai desmoronar. E eu pegarei o que preciso peneirando os destroços.

 


 

Tradução: NERO_SL

Revisão: ***

 

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