Minha voz se projetou através das redes de antenas psiquicamente ressonantes, receptores cristalinos e artefatos de projeção mental cuidadosamente espalhados pelo continente. As imagens atualmente transmitidas pelo sistema congelaram no lugar, travando e distorcendo no exato momento em que Khaernos, uma casca vazia na minha forma, foi levado pela abertura para Epheotus.
— Ouçam-me agora, e ouçam com muita, muita atenção. As imagens que estão vendo são uma mentira, uma amarga fabricação destinada a semear medo e incerteza.
Deixei apenas a menor centelha da minha fúria, um inferno avassalador com o qual incendiaria os céus, vazar pela conexão. Aqueles que ouviram minha voz tremeram e suaram ao escutá-la, mas souberam que minha ira não era direcionada a eles.
— Instigadores dentro de nossa própria população querem que acreditem que essas imagens são a prova da minha derrota, mas isso é uma farsa. Os que espalham esses boatos buscam apenas enfraquecer os alicerces da nossa nação. São os mesmos traidores que entraram em guerra contra seus próprios irmãos e a quem, por fim, concedi meu perdão. Eles desprezaram minha bondade, assim como desprezaram o desejo de vocês pela paz.
Fiz uma pausa, permitindo que as palavras fossem assimiladas.
— Eu já lhes disse, meu povo, que protegeria Alacrya, e todos aqueles que ainda se consideram leais, dos dragões, e assim o fiz. As forças de Kezess Indrath foram obrigadas a se esconder novamente em Epheotus apenas com a minha imagem. Contudo, estou ciente do seu sofrimento. Sei que sua fé é testada diariamente. As últimas semanas não foram fáceis, e vocês têm razão em questionar se sou capaz de cumprir minhas promessas. Não os culpo por isso. Em vez disso, mostrarei a vocês, para que a prova diante de seus olhos fortaleça a fé em seus corações.
A consciência de Ji-ae habitava o artefato de projeção mental junto comigo, figurativamente observando por cima do meu ombro como uma esposa ansiosa. Eu sorri. Estávamos chegando à melhor parte.
— Porém, preciso de algo em troca. Em parte, já tomei um pouco do que necessito: o vento que varreu este continente, extraindo sua mana e a levando embora. Vocês suportaram esse fardo com firmeza, como eu sabia que fariam. Eu disse que eu, seu Alto Soberano, os guiaria pelos perigos que estão por vir, e verão essa promessa ser cumprida. Dei tudo de mim para tornar Alacrya a civilização poderosa e avançada que é, mas para o que está por vir, precisei recuperar uma pequena parte desse poder. Vocês, meu povo, são mais do que fortes o suficiente para compartilhar esse fardo, eu lhes prometo.
— Estamos alcançando aproximadamente setenta por cento da população mágica do continente — Ji-ae me informou enquanto eu pausava, permitindo que minhas palavras se enraizassem naqueles que escutavam. — Como esperado, as emoções estão turbulentas e difíceis de avaliar. Eu recomendaria um tom mais agressivo contra os asuras.
— Embora eu tenha forçado os dragões a recuar, eles ainda são um perigo constante e iminente para vocês, meu povo. Alguns podem duvidar, mas isso ocorre apenas porque não compreendem totalmente a ameaça que Kezess Indrath representa. Todos os dias, vocês se beneficiam do trabalho que realizei nas Relictombs, da magia e tecnologia deixadas por uma antiga civilização de magos. O que talvez não saibam é que foram os dragões que destruíram essa civilização. E por quê? Por nenhuma outra razão além do fato de que esses magos eram sábios e poderosos de uma forma que Kezess jamais foi, e jamais poderia ser. Vocês, meu povo, representam essa mesma ameaça para ele.
“E é por isso que, hoje, daremos um golpe em Epheotus do qual eles jamais se recuperarão.”
Minhas palavras se irradiaram por toda a nação que construí e vibraram nos ossos do meu povo. Meu povo, que nasceu dos meus pensamentos e do meu sangue.
— Terminei de reverter a polaridade do sistema. Ele estará completamente energizado nos próximos minutos — Ji-ae hesitou. Com um pensamento, a impeli a continuar. — Recalculei exatamente a quantidade de poder necessária e sinto a necessidade de repetir meus avisos anteriores: isso exigirá quase tudo o que você tem. Deixará você em perigo extremo…
— Ficarei bem — garanti a ela. Em voz alta, continuei, minha voz ainda sendo projetada por todo o continente: — Vocês, no entanto, devem se recuperar. Descansem e reconstruam sua força e sua esperança. Em breve precisarei ainda mais de vocês e convocarei cada um para garantir que Alacrya saia vitoriosa sobre todos os inimigos. Elevem os olhos ao céu e não temam. O que estão prestes a ver é a manifestação do seu próprio poder.
Deixei a conexão pairar por alguns segundos de silêncio, então me desconectei dos artefatos de projeção.
— A reversão da narrativa dos rebeldes sobre sua suposta derrota foi eficaz — Ji-ae disse, sua voz audível dentro da câmara apertada e repleta de equipamentos. — Combinado ao espetáculo de hoje, calculo que qualquer resistência adicional entre os nossos será mínima. Os resultados são abrangentes demais para que… — Ela se calou.
Sorri para o vazio.
— Não tenha medo, Ji-ae.
Se uma mente sem corpo pudesse morder o lábio nervosamente, Ji-ae o fazia naquele momento.
Empurrei minha cadeira para longe dos artefatos nos quais falava e me levantei. Meus nervos estavam à flor da pele, e a fúria contida dentro de mim se erguia como chamas consumindo uma árvore seca. Por um momento, me deixei envolver pelo êxtase de falar diretamente ao meu povo e destruir as tentativas patéticas de Seris de angariar apoio. Então, toda a minha mente se voltou para Kezess e Epheotus.
Eu podia sentir a Ceifadora vibrando dentro das pedras do Taegrin Caelum, urgente e inevitável. Meu próprio corpo entrou em harmonia com ele, ambos transbordando da mana extraída da população de Alacrya.
Movendo-me em marcha acelerada, deixei a câmara de transmissão e segui em direção ao coração da minha ala privada. Passei por cima do cadáver de um jovem Instilador talentoso, que pereceu quando Taegrin Caelum entrou em confinamento. Minha raiva era justificada. A destruição do Legado foi um golpe catastrófico para meus planos, considerando que certos aspectos do crescimento agora estavam além do meu alcance, mas não era o fim, e eu ainda tinha meios de revidar contra meus inimigos.
Uma mudança de direção era necessária, só isso. Por que mais eu teria planos de contingência? Acelerei o passo. Afinal, um continente inteiro agora olhava para o céu, aguardando com a respiração suspensa para que seu soberano lhes mostrasse o futuro.
— Sinto-me compelida a lembrar que nosso sucesso não é garantido. — Ji-ae interveio. — Mesmo com você canalizando toda a mana absorvida para despertá-lo, e com base nos parâmetros conhecidos, que deixam um grande número de variáveis desconhecidas, só consigo quantificar nossas chances de sucesso em oitenta e três por cento.
— Por favor, Ji-ae. Esta é a culminação de centenas de anos de pesquisa e desenvolvimento. Vai funcionar. Minhas palavras ardiam com a mesma certeza que senti quando finalmente tivemos um receptáculo para o Legado. Aquilo nunca havia sido uma garantia, também. Lembrei Ji-ae disso.
Desci vários degraus de uma vez, deixando-me voar tanto quanto cair, a urgência crescendo dentro de mim.
— E, no entanto, o fracasso naquela ocasião não seria tão catastrófico, ou público… — Ela retrucou. — Perdoe-me, Agrona. Não gostei da ideia de você, ou sua cópia, que seja, ir pessoalmente atrás de Arthur Leywin, e me arrependo de não ter insistido mais para que minha voz fosse ouvida. Por isso, estou insistindo agora.
Uma sensação azeda e incômoda se infiltrou na minha raiva e ansiedade ao ouvir o nome de Arthur Leywin.
— Sua incapacidade de calcular a probabilidade daquele confronto foi um sinal de alerta que eu não deveria ter ignorado. Ambos seremos mais atentos a tais sinais no futuro.
Franzi os lábios e soprei um estalo zombeteiro no ar.
— Quer ele saiba ou não, o garoto apenas tornou as coisas muito, muito piores para seu povo. Agora… — Cerrei os punhos, e as paredes de pedra estalaram, rachaduras se espalhando como relâmpagos escuros. — Agora, ele verá que eu estava realmente tentando ser misericordioso.
Senti Ji-ae se retrair. Eu sabia que minha raiva a deixava desconfortável. No fundo, ela era uma cientista, e embora milênios nas Relictombs tivessem obscurecido sua psique, raramente expressava raiva. Ela enterrava os sentimentos que não podia mais compreender corretamente atrás da lógica e dos cálculos, mas, desde que os fins justificassem os meios, nunca hesitava em fazer o que precisava ser feito.
Ainda assim, Arthur Leywin permanecia na minha mente como um espinho cravado na carne.
Enquanto atravessava a fortaleza, considerei o que Ji-ae me dissera após meu retorno. Esse aviso que recebeu e sua menção ao Destino eram inquietantes. Pensei que minha pesquisa sobre Destino tivesse sido desperdiçada com a perda do Legado, mas parecia que, de alguma forma, o Destino e eu ainda estávamos conectados. Mais perturbadora, porém, era a pergunta que isso evocava em meus pensamentos.
Como Arthur Leywin está ligado ao Destino?
Apesar de já ter ultrapassado o ponto em que poderia considerar Arthur Leywin uma mera curiosidade, também não me curvaria de medo a ele. Quando as muralhas desmoronassem, Arthur e Kezess estariam ambos sob os escombros.
Afastei esses pensamentos e comecei a me recolher internamente, reunindo a vasta quantidade de mana purificada que havia sido canalizada para meu corpo para reavivar minha mente adormecida.
A câmara de interface era pequena e, por necessidade, sem decorações. Padrões rúnicos estavam gravados em uma mesa semicircular que dominava a sala hexagonal de cúpula baixa. Linhas incrustadas de prata eram entalhadas na pedra arenosa roxa das paredes, convergindo para pontos cuidadosamente calculados por todo o espaço. A luz que entrava pela cúpula refratava de uma forma que causava confusão, dando à sala uma sensação de distração e desconforto, instigando qualquer um que a encontrasse por acaso a simplesmente virar as costas e ir embora.
Com a porta fechada atrás de mim, ela se tornou invisível, as linhas prateadas ao seu redor se fundindo ao design geral.
Fiquei diante da mesa por um longo momento, absorvendo o deslumbrante conjunto de símbolos e formas. Eu mesmo projetei os feitiços entrelaçados nela, uma engenhosa fusão da engenhosidade basilisco com o conhecimento djinn sobre como a magia tecia o mundo.
A civilização djinn se estendia pelo mundo e se expandiu para a dimensão onde haviam alojado suas Relictombs. Como aprendi ao longo dos séculos saqueando conhecimento das Relictombs, os padrões mágicos que cobriam seus corpos lhes conferiam um controle sobre mana e éter que nem mesmo os asura podiam compreender facilmente. Eles sabiam como construir e conectar todos os tipos de portais, fazendo usos variados e engenhosos desse conhecimento durante o auge de sua civilização. O uso mais criativo foi a própria existência das Relictombs.
Por causa disso, também precisaram dominar um conhecimento específico sobre como expandir, fechar e até mesmo desestabilizar os portais dos quais dependiam tão intensamente.
Mana começou a saltar e crepitar ao meu redor enquanto eu me conectava à interface. Minhas mãos repousaram sobre a mesa, cuidadosamente posicionadas sobre uma série de runas e formas interligadas. A interface absorveu minha mana, e luz cintilou através dos símbolos em tons de amarelo, verde, vermelho e azul. O artefato em si não guiava o processo; apenas eu conhecia as sequências específicas de mana que precisavam ser infundidas nas matrizes rúnicas corretas para ativar o sistema de direcionamento.
— Tudo parece estar funcionando conforme o esperado — Ji-ae disse, sua voz ecoando no ar.
Senti meus olhos começarem a perder o foco e olhei para cima. A luz se espalhava pela cúpula e dançava pelas paredes, pintando imagens que tremulavam e se dissolviam antes de se tornarem compreensíveis. No entanto, a cada segundo que passava, a luz se concentrava mais no ponto central da câmara, exatamente onde eu estava.
Comecei a piscar rapidamente. Meus olhos reviraram para trás, e senti como se pudesse tombar para trás. No ápice dessa sensação, retirei as mãos dos controles.
Minha visão mudou. Eu estava olhando para as Montanhas Presas do Basilisco, como se estivesse no topo da mais alta torre do Taegrin Caelum. A vista estava ligeiramente distorcida, enevoada e irregular, como se estivesse espiando através de um vitral. Senti Ji-ae ao meu lado, apesar de nenhum de nós possuir uma forma física naquele momento.
— Eu vou te ajudar a navegar — disse ela.
Com uma sensação semelhante a inclinar-se para frente, começamos a nos afastar da fortaleza. Devagar no início, depois muito mais rápido. Os picos irregulares das montanhas passaram apressadamente abaixo de nós, depois começaram a se afastar conforme Vechor se abria diante de nós. Reduzi a velocidade, desviando para a esquerda e para o sul. Eu queria ver a Cidade Vitoriosa, ver todos aqueles rostos voltados para o céu em resposta às minhas palavras anteriores. No entanto, ao tentar descer, minha visão ficou turva de maneira nauseante.
— Não temos um bom ângulo do Taegrin Caelum. — Ji-ae apontou, puxando-me de volta. — Devemos manter o foco. Literalmente.
— Isso foi uma piada? — perguntei enquanto subia novamente, acelerando rumo ao litoral.
— Sim, mas se não foi engraçada, é porque herdei meu senso de humor de você.
Eu ri e senti meu corpo físico se mover em algum lugar muito distante. O mundo sacudiu, alternando-se rapidamente entre nitidez e desfoque.
— Não se mexa! — Ela me lembrou, como se eu não tivesse projetado e construído tudo isso sozinho.
— Sim, querida.
Logo, o mar se estendia ao nosso redor em todas as direções, o mundo reduzido a uma vasta e curva extensão azul até onde nossa visão projetada podia alcançar. A velocidade só aumentava a cada instante, até que terra apareceu ao longe. Num piscar de olhos, estávamos sobrevoando terra firme, a costa de Dicathen atrás de nós, olhando para a Clareira das Bestas. Nosso movimento parou abruptamente, mas sem qualquer impulso. Ainda assim, senti minhas pernas vacilarem levemente ao me preparar instintivamente para o impacto.
— Estou alinhando as imagens gravadas com a exibição. — Ji-ae me informou. Em minha mente, sua língua apareceu ligeiramente entre os dentes enquanto ela se concentrava intensamente na tarefa. — Aí está. Esse padrão corresponde exatamente à linha das árvores da gravação. E ali, o solo está completamente destruído.
Foquei onde ela indicava, e nossa visão se ajustou.
A Clareira das Bestas, no local onde Cecilia havia enfrentado os dragões, estava em completa devastação e ruína. Fragmentos de metal e cristal estavam espalhados por centenas de metros, enquanto o solo exibia marcas de todo tipo de ataque mágico. Ainda era possível ver o anel onde nossos artefatos de projeção de barreira haviam formado a defesa.
Meu foco se voltou para cima. Não havia sinal da abertura para Epheotus, mas sabia que estava lá. Kezess pode ter fechado-a novamente, mas isso não a selava completamente. Fazer isso cortaria Epheotus do mundo e, eventualmente, o mataria junto com todos dentro dele. O pensamento fez um sorriso surgir em meu rosto.
Uma imagem espectral da fenda, como havia aparecido na gravação de Seris, surgiu no céu.
— Alinhando tudo. A fenda, quando aberta, ficava exatamente ali — disse Ji-ae.
Travei o sistema de focalização, e a imagem se tornou mais nítida, as cores assumindo um tom antinatural e a textura se suavizando até parecer plana, como o reflexo de uma pintura.
Fechei os olhos com força, mantendo-os fechados até começar a ver cores girando e imagens imaginárias surgindo atrás de minhas pálpebras.
Estava de volta à câmara de interface. Lentamente, abaixei a cabeça para examinar a mesa à minha frente.
— Só falta fazer uma coisa então. Com um toque de mana, ativei a sequência.
— Você será necessário no núcleo da Ceifadora. — Ji-ae me lembrou.
— Sim, sim. Eu sou a bateria viva que torna esta minha grande obra possível.
Apesar do meu tom irreverente, agi rapidamente. Meus pés deixaram o chão, e eu voei. A porta da câmara de interface se escancarou diante de mim. Uma parede na sala seguinte se desdobrou para fora, desmoronando enquanto eu passava direto por ela para tomar uma rota mais direta. Em instantes, cheguei a um dos muitos eixos verticais da fortaleza, projetados para permitir acesso aéreo. Mergulhei na escuridão em alta velocidade antes de sair para um espaço cavernoso, emaranhado em tubos e cabos pulsantes de mana.
O núcleo da minha máquina se estendeu com tentáculos brilhantes de mana branca e me puxou. Meu coração disparou ao sentir a mana emprestada que me enriquecia vibrar em resposta, a ressonância que eu havia sentido antes se expandindo várias vezes. Algo brilhou em minha mente, e, de repente, eu estava conectado a cada um dos milhões de magos alacryanos cuja mana agora carregava, unidos a mim por linhas douradas brilhantes.
Minha respiração ficou presa. Era como estar de volta ao sistema de direcionamento, como olhar para o mundo de cima como um verdadeiro deus, todo o meu povo disposto diante de mim, suas manas oferecidas como preces, seus rostos erguidos para o céu, esperando para ver minha vontade se manifestar.
— Entendo — sussurrei, a epifania suavizando minha justa ira. — Sempre foi assim que tinha que ser.
Aproximei-me do núcleo, uma esfera branca gigantesca condensada a partir de cristais naturais de mana e baseada no design de um núcleo de mana orgânico. Ele puxou com mais força, ávido por absorver a mana purificada que eu carregava em meu corpo. Eu sabia que poderia resistir, o núcleo não era forte o suficiente para arrancá-la de mim, mas este era o motivo de estar aqui. Embora a imagem dos fios dourados tivesse desaparecido tão rapidamente quanto surgiu, ainda conseguia ver seus ecos em minha mente, conectando-me a todo o meu povo. Eu sabia que este era o resultado final de todo o experimento alacryano.
Pressionei ambas as mãos contra a superfície áspera do núcleo gigante. Estava quente, e a mana contida dentro dele pulsou ao meu toque como um coração acelerado. — Vá em frente. Pegue. Soltei meu controle sobre a mana.
Laços ondulantes de energia branca me conectaram ao núcleo enquanto a Ceifadora realizava seu trabalho, reabsorvendo toda a energia que havia infundido em meu corpo para me despertar. A esfera brilhou cada vez mais até que fui forçado a fechar os olhos, e ainda assim continuou a brilhar. Mesmo através das pálpebras, era ofuscante. Comecei a suar e a tremer. Travei meus dentes tão forte que doíam. O chão rachou sob meus pés.
— Diminua! — Ji-ae alertou, sua voz um tilintar prateado por entre o crepitar da mana. — Vários subsistemas estão começando a sobrecarregar e… — houve um leve estalo, como vidro se partindo — o próprio núcleo pode se romper se você não tomar cuidado.
Tremendo, concentrei-me apenas em respirar e manter a consciência. Com um humor sombrio, percebi que era assim que meus súditos deviam se sentir quando a Ceifadora extraía essa mesma mana de seus próprios núcleos. Projetei minha vontade, forçando e guiando o processo de absorção ao mesmo tempo. À medida que meu corpo enfraquecia, minha determinação apenas se fortalecia. Perdi minha primeira oportunidade com o Legado, pelo menos por ora. Não falharia aqui. Não havia caminho à frente sem esse poder.
Segundos se arrastaram como horas. A Ceifadora me esvaziou por completo, extraindo até a última gota de mana acumulada de meu corpo. A cada instante que passava, ouvia o estalar sutil dos cristais se fragmentando. Era agora ou nunca.
Oitenta e três por cento, pensei ironicamente.
A mana concentrada de milhões de magos alacryanos foi condensada para cima através da torre mais alta do Taegrin Caelum. Bem ao longe, ouvi o som de pedras se rompendo.
— As paredes externas estão desmoronando. A torre não pode suportar essa densidade de mana. A estrutura central permanece intacta. Transmissão de mana em… cem por cento.
Enquanto a voz de Ji-ae ecoava em meus ouvidos, senti um puxão vindo da Ceifadora. Sua polaridade havia sido invertida, fazendo com que toda a mana coletada fosse reunida em um único ponto. Eu, é claro, já tinha definido o alvo.
— Mostre ao meu povo o que o poder deles realizou — ordenei.
Ji-ae apertou o gatilho.
Minha consciência foi arrancada do meu corpo pela pura força da mana liberada. De repente, estava acima da fortaleza mais uma vez, dentro da própria mana, parte dela brilhando mais forte que o sol sobre o Taegrin Caelum, enquanto um feixe de pura luz, verdadeiramente branca, cortava o céu. O topo de uma montanha próxima explodiu, e os estilhaços de sua destruição foram arremessados até as planícies de Vechor, a centenas de quilômetros de distância.
Instantaneamente, o feixe seguiu exatamente o caminho que eu havia traçado no sistema de direcionamento. Cruzou o oceano em um único segundo. Meus olhos se abriram de repente quando retomei os sentidos no ponto de impacto. Eu estava deitado de costas, meus chifres batendo contra o chão de pedra a cada pequeno movimento.
— Eu preciso… ver… — murmurei, rolando de lado e lutando para me levantar. Grande parte da minha própria mana havia sido arrancada de mim naquele último segundo, quando minha consciência foi arrastada junto com o feixe.
— Calma, Agrona. Isso o deixou mais esgotado do que calculamos…
— Eu tenho que ver! — gritei, me arrastando para frente de quatro, tentando ficar de pé. Meus pés escorregaram, e meus joelhos bateram no chão, mas eu mal senti, apenas me impulsionei ainda mais desesperadamente.
Ao chegar ao eixo de subida, precisei parar e me recompor. Eu não podia voar apenas com desespero e desejo.
— Ah, Agrona… — Ji-ae murmurou. Eu senti sua atenção voltada para cima, para o céu. Assim como o resto daqueles leais a Alacrya e a mim.
Respirei fundo e busquei a fonte do meu poder. Meus pés deixaram o chão. Cambaleei levemente. Meus punhos se fecharam. Eu me estabilizei.
Comecei a subir pelo duto. Não tão rápido quanto gostaria, mas o suficiente.
— Não fale. Não diga nada. Preciso ver isso com meus próprios olhos.
O duto me levou alto o bastante para que eu pudesse sair da fortaleza por uma janela na minha ala particular. Meio voando, meio me puxando pela parede externa, alcancei um telhado mais baixo, cercado por parapeitos. Ali, finalmente tive uma visão desobstruída do céu, na direção certa.
Olhei maravilhado, e chorei.
— Deixe que caiam as cortinas.
Tradução: NERO_SL
Revisão: ***
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