Foi Lorde Eccleiah quem nos encontrou na entrada do Castelo Indrath, não Kezess. Embora eu não estivesse surpreso com sua presença, estava bastante surpreso de estar ali, independentemente de qual lorde asura estivesse à minha frente. Eu esperava que Kezess rejeitasse imediatamente a ideia trazida por Veruhn de que eu deveria ser reconhecido como um novo ramo da raça asura. Em vez disso, ele concordou em ouvir os outros grandes lordes, depois ele e Myre partiram.
Agora, apenas um dia depois de ter ameaçado me matar, ele presidiria uma reunião onde seus pares discutiriam a possibilidade de eu me tornar um deles…
— Lorde Arthur, Lady Sylvie, que bom vê-los novamente — disse Veruhn, sorrindo como se realmente quisesse dizer aquilo e acenando para que nos aproximássemos animadamente, a pele ao redor de seus olhos leitosos se enrugando.
Dentro daqueles olhos, me pergunto que tipo de maquinações se escondiam por trás da pálpebra turva.
— Ei, eu também estou aqui — reclamou Regis. Meu companheiro estava na forma de um grande lobo sombrio, suas costas alcançando minha cintura. Chamas roxas tremeluziam ao redor de seu pescoço e ao longo de sua cauda, e seus olhos brilhantes saltavam de rosto em rosto, marcando cada guarda e o próprio Veruhn, vigilante apesar de sua irreverência.
— Ora, é claro que você está. Vocês três formam um tipo especial de trindade, não é? — O velho leviatã suspirou, seus pensamentos parecendo se desviar para outro lugar. Após um longo momento, ele gesticulou para que o seguíssemos, virou-se e marchou rapidamente pelo hall de entrada.
Não havia muito tempo para olhar ao redor ou pensar em onde eu estava. Minha mente estava ocupada com as muitas maneiras possíveis em que essa reunião poderia dar errado. Embora os efeitos do Gambito do Rei, mesmo apenas parcialmente ativados, me permitissem seguir vários desses caminhos ao mesmo tempo, também aumentava minha capacidade de mergulhar na corrente de preocupação.
Veruhn cumprimentou vários dos dragões que cruzamos enquanto nos conduzia para o interior do castelo. Embora eles fossem respeitosos com ele, a maioria dos olhares pousavam em Sylvie. Servos e guardas se curvavam profundamente, e alguns asuras que poderiam ser Indraths ou cortesãos de outros clãs pareciam mal se conter para não correrem ao encontro dela.
— Às vezes esqueço que você é uma estranha para o seu próprio povo — pensei enquanto um asura com cabelos loiros radiantes e olhos lilases tropeçou nos próprios pés ao tentar se curvar, mas esqueceu de parar de andar primeiro.
Sylvie deu ao jovem um sorriso empático enquanto passávamos.
— Não posso deixar de me perguntar se esse distanciamento foi intencional. Meu avô não sabia quem eu era de verdade, ou o que eu me tornaria. Manter-me à distância, apenas uma curiosidade em vez de um membro da família, criou uma barreira para garantir que eu não impactasse negativamente o clã Indrath ou Epheotus.
Caminhando silenciosamente ao meu lado, Regis olhou para Sylvie.
— O cara está com medo do que você representa — disse ele mentalmente. — Mudança, um caminho alternativo, uma existência fora da pequena bolha dele. — Sua língua pendia para fora de um lado da boca enquanto ele sorria. — Ele tem razão de estar. A princesa pródiga retornou. — Regis riu. — Duas princesas, na verdade.
Enquanto Veruhn nos conduzia, ele manteve um fluxo constante de conversa fiada, fornecendo fatos sobre os outros habitantes do castelo, os retratos pelos quais passávamos e a história do Clã Indrath e de Kezess. Escutei com uma parte dos meus pensamentos, mas meu foco principal permanecia na preparação para a reunião que viria a seguir.
— Sabe, Regis, você também poderia ser uma princesa, se quisesse. — Sylvie pensou, dirigindo-se ao nosso companheiro. — Se Arthur se tornar Lorde Leywin e com você tendo nascido diretamente dele, então isso também faz de você uma princesa.
— Com licença, mas eu sou uma magnífica arma de destruição sem igual! — Com um resmungo, Regis se adiantou, movendo-se para caminhar ao lado de Veruhn.
— Isso não é motivo para que você não possa usar uma tiara. — Ela olhou para mim. — Especialmente se escolher uma que combine com a de Arthur.
Olhei para Sylvie e ambos sorrimos. Parte da tensão se dissipou.
Veruhn nos conduziu até uma varanda que dava vista para o penhasco. Embora o céu azul se estendesse em todas as direções, um tapete de nuvens branco-acinzentadas escondia o solo distante.
— Vamos pegar um atalho, eu acho. — Ele se elevou do chão e flutuou como uma névoa, movendo-se lentamente para cima.
Regis se tornou incorpóreo e entrou em meu núcleo antes que Sylvie e eu o seguíssemos. Apesar de suas alegações de pegar um atalho, o voo de Veruhn não tinha nenhuma pressa, como uma brisa suave. Ele apontava para janelas e torres, estátuas e gravuras, e até parou para admirar o ninho de um pequeno pássaro com penas pretas e vermelhas cintilantes.
— Asas da Montanha — explicou Veruhn com um olhar de pura e infantil fascinação enquanto seus olhos leitosos fitavam o pássaro. — Também chamado de andorinha pedreira ou andorinha dos penhascos. Eles só vivem aqui, embora geralmente não façam ninho tão alto, preferindo os penhascos do Monte Geolus abaixo. — Ele virou a cabeça em direção a Sylvie. — Eles eram os favoritos de sua mãe.
Sylvie levantou a mão em direção ao pássaro em seu ninho, hesitou e recuou. O pássaro a observou cautelosamente com olhos negros como besouros. — É adorável.
Veruhn continuou flutuando, conduzindo-nos para uma varanda alta em uma das muitas torres. Ele pousou suavemente como uma pena, então ergueu o rosto em direção ao sol enquanto esperava que nós pousássemos também.
— Ah. Um belo dia para a política. — Com uma sobrancelha erguida, ele se voltou para mim. — Está pronto, Arthur?
Considerei tudo o que eu sabia, bem como o vasto oceano do que não sabia, e dei ao velho leviatã um sorriso contido.
— Acho que em breve saberemos — respondi.
As portas da varanda, feitas de vidro ou cristal emolduradas em trepadeiras prateadas ornamentadas, se abriram à medida que Veruhn se aproximava. A mana e o éter eram tão densos no ar que quase ocultavam as poderosas assinaturas daqueles presentes na câmara além.
Demorei um momento para ajustar meus olhos à luz enquanto entrava na torre atrás de Veruhn. Naquele momento de penumbra, onde eu parecia estar me movendo entre mundos, meus pelos da nuca se arrepiaram e minha pele se eriçou com arrepios ao sentir os olhos famintos de predadores me seguindo.
A câmara arejada se clarificou.
Dentro, arcos brancos e elegantes envolviam a câmara circular, cada um cuidadosamente esculpido e moldado para parecer os galhos de árvores finas. Esses arcos se abriam para janelas e varandas arqueadas, idênticas àquela de onde eu acabara de entrar. A luz dessas muitas janelas e portas de vidro refletia ao redor da sala, tornando-a quase tão brilhante por dentro quanto era por fora.
Uma grande mesa de madeira escura em forma de lua quase cheia dominava o espaço. Sua escuridão contrastava fortemente com o brilho das paredes e do teto. Sete cadeiras ornamentadas, de encosto alto, estavam dispostas equidistantemente ao longo do lado arredondado da mesa, enquanto um trono de prata e ouro com pedras preciosas cintilantes flutuava a alguns centímetros do chão no lado plano.
Não fomos os primeiros a chegar.
Um asura de pele morena e cabelos alaranjados e esfumaçados presos em um coque se levantou da cadeira mais próxima. Ele vestia um tipo de robe fluido que lembrava os quimonos da Terra, habilmente bordado com fios cintilantes que pareciam verdadeiras chamas contra o tecido preto sedoso. Seus olhos cinzentos pareceram me examinar por completo em uma única respiração, então ele se virou e fez uma reverência superficial para Lorde Eccleiah: o gesto de um igual.
— Lorde Novis do Clã Avignis — falei ao me dirigir ao membro fênix dos Oito Grandes com uma reverência que era apenas um pouco mais profunda do que a compartilhada entre Veruhn e aquele fênix. Eu ainda não tinha sido nomeado um asura, ou o lorde de um clã ou raça inteira. Era importante não parecer presunçoso demais, mas também não podia me dar ao luxo de ser visto como fraco ou tímido.
— Arthur Leywin, é um prazer…
— Olá! — Uma voz aguda e arejada interrompeu as palavras de Lorde Avignis.
A oradora era uma pequena mulher com pele azul-clara que parecia… se mover, quase como se ela não fosse completamente corpórea. Ela havia saído de sua cadeira e flutuava sobre a enorme mesa negra, balançando como uma maçã em um riacho raso. Seu rosto juvenil era dividido por um largo sorriso, revelando dentes brilhantemente brancos que se afilavam em pontas. Seus olhos azul-acinzentados nebulosos brilhavam com entusiasmo enquanto ela fazia uma espécie de reverência no ar. Seu vestido, que parecia mais uma espécie de névoa de vento que ela envolvera em si mesma, esvoaçava com o movimento.
Uma pequena mão passou pelos cabelos brancos que flutuavam ao redor de sua cabeça como uma nuvem.
— Eu sou Lady Aerind, mas como você está prestes a se tornar membro dos Oito Grandes, ou Nove, embora assim não soe tão bem, pode me chamar de Nephele!
Antes que eu pudesse responder, a sílfide deu uma cambalhota no ar, voou até a terceira ocupante da sala e envolveu o braço ao redor do ombro da mulher extremamente alta. — E esta é a Mads!
A mulher permanecia rígida, suas feições praticamente esculpidas em madeira. Ao olhar mais de perto, pensei ver linhas sutis em sua pele que, de fato, me lembravam casca de árvore.
— Por favor, Lady Aerind, demonstre um pouco de decoro — disse ela, afastando-se para se libertar da sílfide sorridente. — Saudações, Arthur Leywin. Sou Lady Mapellia, representante do meu clã e de todas as hamadríades entre os outros grandes clãs de Epheotus. Você é… bem-vindo.
Houve uma leve hesitação que sugeria fortemente que eu, na verdade, não era bem-vindo, e olhei mais de perto para a alta dama das hamadríades. Não havia qualquer traço de hostilidade em seus olhos amarelo-manteiga, apesar da severidade de sua expressão e atitude. Exteriormente, ela teria sido intimidante, mas o simples vestido azul-rio que envolvia sua figura esguia e os volumes de cabelos verdes que caíam em grossos cachos sobre seus ombros nus atenuavam essa impressão.
Repeti minha reverência cuidadosa.
— Obrigado, Lady Mapellia.
— Mads! — Lady Aerind disse em um sussurro teatral antes de flutuar de volta para seu assento.
— Meu nome é Morwenna, Lady Aerind — respondeu a hamadríade, exasperada.
Nesse momento, outro asura apareceu em uma escadaria além de um conjunto de portas abertas, esculpidas em alguma madeira de cor clara e adornadas, como grande parte da sala, com vinhas prateadas. A princípio, pensei que ele deveria ser um servo ou assistente, principalmente pelo fato de que ele subiu as escadas em vez de voar ou simplesmente aparecer na câmara de reuniões. Então, registrei completamente sua presença.
Embora vestido de maneira simples, com uma camisa bege que se esticava sobre seu peito largo e músculos salientes, o cinto que segurava suas calças de couro era incrustado com ouro e adornado com estranhas gemas multicoloridas. Sua barba era longa e espessa, mas bem cuidada, e ele usava brincos de diamante nas orelhas. Havia algo muito robusto naquele homem, e sua assinatura de mana imediatamente me lembrou de Wren.
— Ah, Radix, no momento perfeito, como sempre — disse Veruhn, colocando a mão nas minhas costas e me guiando gentilmente ao redor da mesa. Atrás de mim, ouvi Lorde Avignis se apresentar a Sylvie.
— Então este é o filhote, hein? — Aquele homem, Radix do Clã Grandus, como eu agora sabia, avançou a passos largos e apertou a mão de Veruhn com força. A princípio, pensei que ele fosse alguns centímetros mais baixo que eu, mas à medida que se aproximava, ele parecia crescer. Quando estendeu a mão para mim, estava exatamente da minha altura.
Apertei sua mão, que era áspera como pedra. Seus dedos apertaram minha mão com força suficiente para quebrar ossos se meu corpo não tivesse sido fortalecido por éter. Enquanto os outros lordes até agora focavam inteiramente em mim, Radix olhou diretamente através de mim para Regis. Seus olhos negros se estreitaram.
— É a assinatura de Wren, do Clã Kain, quarto de seu nome? — Ele murmurou.
Em vez de esperar por confirmação, passou por mim e se ajoelhou diante de Regis, que o observava com cautela. Os olhos de meu companheiro se arregalaram quando Radix o pegou pelo maxilar, forçando sua boca a abrir. O titã inspecionou a boca de Regis como um comerciante examinaria um cavalo.
— Hmm. — Ele disse apenas isso, então se levantou, coçou Regis atrás da orelha e finalmente jogou-lhe o que parecia ser um pedaço de carne seca que havia aparecido do nada.
— Eu me sinto estranhamente violado e lisonjeado ao mesmo tempo — disse Regis enquanto mastigava a carne. — E meu Deus, como essa carne seca é boa. O que é isso?
Radix se jogou na cadeira e apoiou uma das botas na mesa. — Isso é uma iguaria especial, geralmente reservada para as nossas bestas guardiãs.
— Quando você se tornar um lorde asura e membro dos Nove Incríveis, ou seja lá qual for o nome, você precisa conseguir essa receita — Regis pensou desesperadamente. — Não me importa se tivermos que ir à guerra por isso.
Uma das portas da sacada se abriu sozinha, e uma sombra se condensou dentro dela. Da sombra, surgiu um homem magro em vestes de batalha negras. Seus olhos vermelho-escuros percorreram a sala rapidamente antes de se fixarem em mim. Ele mexeu em um dos chifres, que brotavam de sua testa e se curvavam para trás antes de se voltarem para frente novamente, apontando para mim como duas lanças.
Fui pego de surpresa pela aparição repentina do basilisco. Eu sabia, logicamente, que o Clã Kothan representava os basiliscos nos Oito Grandes, mas não havia considerado que ele realmente estaria presente.
Tomando uma decisão rápida, caminhei ao redor da mesa em direção a ele. O basilisco observou minha aproximação com cautela. Não por medo, pensei, mas por incerteza em relação a mim ou às minhas intenções. Parei diante dele e estendi a mão, assim como Radix havia feito. Os olhos vermelhos e profundos de Lorde Kothan passaram por mim e foram até onde eu sabia que Lorde Avignis estava. Eles são aliados? Eu me perguntei. Fazia um certo sentido; tanto os basiliscos quanto as fênix haviam perdido seus grandes clãs nos Vritra e nos Asclepius. A parte da minha mente que estava ativa com a magia do Gambito do Rei começou a dissecar essa informação.
Após um momento de hesitação, o basilisco apertou minha mão. Apesar de sua aparência um tanto frágil, ele tinha um aperto forte.
— Arthur Leywin. O humano que derrubou Agrona Vritra. — De repente, ele soltou minha mão e se ajoelhou. O ar na sala pareceu ficar muito tenso, e senti o peso da atenção dos outros ameaçar me fazer ajoelhar também. — Eu, Rai Kothan, representante do Clã Kothan e de todos os basiliscos de Epheotus, tenho uma grande dívida com você. — Ele ergueu o olhar para encontrar o meu, e algo fervente, cheio de ira e escuridão se agitou logo abaixo da superfície de seus olhos cor de sangue coagulado. — O clã Vritra quase destruiu nossa raça em suas buscas egoístas. Você nos trouxe justiça. Isso não será esquecido tão cedo.
Mesmo com o Gambito do Rei parcialmente ativo, eu não consegui pensar em nada para dizer e apenas assenti firmemente em resposta. Felizmente, Sylvie apareceu ao meu lado. Ela estendeu a mão para Lorde Kothan, que a pegou com a mesma cautela com que me observava antes.
— Lorde Kothan. Agradecemos suas palavras e a intenção por trás delas, mas pode ter certeza de que a luta contra meu pai foi algo que buscamos pelo bem de todos os seres vivos em ambos os nossos mundos. Você não nos deve nada.
— Falou bem — pensei para ela com gratidão.
Rai se levantou e ajeitou suas vestes de batalha. Sem dizer mais nada, ele contornou a mesa e se sentou ao lado de onde Lorde Avignis estava agora sentado.
Parece que só estamos esperando o lorde dos panteões e o próprio Kezess.
— Arthur, você e Lady Sylvie vão se juntar a mim aqui — disse Veruhn, gesticulando para o espaço que havia sido deixado entre seu assento e o de Radix, diretamente em frente ao trono de Kezess. — É costume que você permaneça de pé até que seja dispensado ou, neste caso, convidado a se sentar à mesa.
Nephele riu, e uma brisa fresca que cheirava a madressilva e gardênias soprou pela câmara.
— Oh, isso é tão interessante.
Fiquei na posição esperada, com Regis de um lado e Sylvie do outro. Os seis lordes e damas reunidos me olharam expectantes por um momento e, em seguida, como um só, voltaram-se para o trono. De repente, Kezess já estava sentado nele. Não houve um clarão de luz, nem sensação de movimento, apenas uma ondulação no éter.
Seu olhar se fixou na única cadeira vazia na mesa. Ele fechou os olhos brevemente, depois os abriu para olhar para Lady Mapellia.
— Parece que Lorde Thyestes está deliberadamente demorando, mas ele chegará em breve. Até lá, vamos aguardar. Em silêncio.
À sua esquerda, Lady Mapellia estava sentada rigidamente. Ao lado dela, Nephele se mexia inquieta. A postura dos outros lordes variava entre esses extremos. O olhar de Kezess não se fixou em mim, mas sim em sua neta.
Veruhn me captou o olhar enquanto eu olhava ao redor e me deu uma piscadela sutil.
Um minuto inteiro se passou nesse silêncio constrangedor e forçado. Finalmente, foi quebrado quando uma figura alta e atlética aterrissou na mesma varanda por onde havíamos entrado. As portas se abriram, e ele entrou com determinação. Este homem, que eu sabia ser Ademir Thyestes, lorde de seu clã e de toda a raça dos panteões, movia-se como um predador. Seus quatro olhos frontais e voltados para frente se fixaram em mim por apenas um instante antes de focarem no assento vazio entre Lorde Grandus e Lorde Kothan. No entanto, os olhos roxos brilhantes nas laterais de sua cabeça se moviam de forma constante de um lorde para o outro, para mim e meus companheiros, e regularmente voltavam para Kezess.
Kezess observou Lorde Thyestes se acomodar por vários segundos antes de voltar sua atenção para a sala como um todo.
— Como todos sabemos por que fomos convocados aqui, e a maioria, ao que parece, já discutiu a situação em ambientes mais privados… espero que esta reunião seja breve.
A hamadríade, Lady Mapellia, levantou-se.
— Foi sugerido que este humano, Arthur Leywin, pode, de fato, ter evoluído além de ser um mero inferior para o que pode ser considerado um novo ramo da árvore genealógica asura. — Ela fez uma pausa e olhou ao redor para garantir que todos tivessem ouvido. — Nossa única tarefa hoje é decidir se isso é verdade. Primeiro, abrimos esta sessão dos Oito Grandes para qualquer lorde ou lady que deseje expressar sua opinião. — Ela então se sentou.
Olhei de soslaio para Veruhn, mas ele permaneceu imóvel e em silêncio.
Surpreendentemente, foi Lorde Thyestes quem se levantou. Ele olhou diretamente para mim enquanto dizia:
— Não passa de uma ilusão em que vocês todos criaram. Este menor matou dois membros dos Thyestes e derrubou o clã Vritra também. Nenhum de nós deseja acreditar que um menor poderia fazer tal coisa, e ainda assim este fez. Em vez de reconhecer a realidade, no entanto, vocês tentam transformá-lo em algo que ele não é. Porque ele não é um asura, e nem mesmo matar o General Aldir do Clã Thyestes pode torná-lo um.
Kezess não estava observando o panteão; ao contrário, ele me examinava atentamente.
Nephele, flutuando acima de seu assento, soltou um suspiro que a fez rodopiar no ar.
— Só um panteão pensaria que se torna um asura matando pessoas. Ademir! Olhe para ele. Esse não é um físico de um menor. Quero dizer, ele tem até olhos dourados! — Ela ficou pensativa e olhou para Lady Mapellia à sua direita. — Os menores normalmente têm olhos dourados?
Morwenna devolveu o olhar com uma expressão inexpressiva e deu de ombros levemente.
Ademir se sentou, cruzando os braços.
— Todos já ouvimos a história do sacrifício de Lady Sylvie e do renascimento físico de ambos os corpos. Talvez ela tenha dado a ele algum aspecto asura, mas como isso se compara às eras de evolução e fortalecimento que cada uma de nossas raças passou?
— Se olharmos para as ações deste rapaz, somos forçados a considerar como essas ações foram realizadas. — Lorde Grandus inclinou-se para frente, com os cotovelos na mesa e as mãos entrelaçadas em sua barba espessa. — As ações em si não são a razão de estarmos aqui, apenas o catalisador para a discussão. — Sua voz profunda ressoava no ar de forma que eu sentia em meu peito. — Meu clã há muito tempo se dedica a estudar o avanço da vida, e até mesmo a moldar esse avanço. Não há razão para que, através da aplicação de artes de mana ou éter suficientemente poderosas, um humano não possa se tornar algo mais. E nesse caso, mesmo que não tenham evoluído junto com o restante dos asuras, também poderia ser defendido que eles fossem integrados à nossa cultura por uma variedade de razões. Devemos resistir à tentação de tomar uma decisão precipitada e, em vez disso, dedicar tempo para estudar Arthur mais a fundo.
— Embora um estudo seja justificado… — Rai, do clã dos basiliscos, Kothan, ergueu um dedo no ar enquanto começava a falar. Ele hesitou no meio da frase, lançando um olhar furtivo para Kezess, que acenou muito discretamente. — Embora um estudo seja justificado — ele recomeçou —, não devemos ignorar a situação atual.
Ele se levantou, pressionou as palmas das mãos sobre a mesa e se inclinou para frente.
— Agrona Vritra tem sido uma ameaça para nós por centenas de anos, e sua ocupação de nossa terra natal, o solo que deu origem a Epheotus, tem sido um insulto e uma ameaça. Estamos isolados do crescimento do mundo dos menores há muito tempo por causa dele, e isso nos cegou para o progresso dos menores. Arthur Leywin está aqui como prova de sua evolução, e seu serviço na derrota do clã Vritra deve ser recompensado de maneira apropriada.
— O nome asura não é apenas um título a ser trocado por benefícios políticos! — Ademir exclamou.
A reunião se dissolveu em discussões e brigas. Só terminou quando Kezess emitiu uma onda de Força do Rei que trouxe toda a atenção de volta para ele.
— Ouvimos reações emocionais básicas, mas nenhum de vocês apresentou qualquer prova, apenas sugeriu que a encontrássemos — disse Kezess, agora voltando seu foco para Veruhn. — Fui informado de que essa conversa já havia começado, o que me encorajou a trazê-la para um ambiente mais formal, mas me encontro… não convencido pelo que ouvi aqui hoje. Somente Lorde Thyestes parece estar fazendo sentido.
Notei que a mandíbula de Ademir se contraiu e seus lábios ficaram brancos quando Kezess mencionou seu nome. Havia um olhar duro em seus olhos que quase parecia ser hostilidade. Considerei o que tinha aprendido sobre a fuga de Aldir de Epheotus e percebi que Ademir ainda guardava alguma raiva sobre o tratamento dado por Kezess ao seu companheiro de clã.
Lorde Avignis pigarreou.
— Perdoe-me, Lorde Indrath, mas não acho que você está sendo justo com Rai. As palavras dele levantam muitas perguntas em minha mente. Perguntas que, creio, seriam melhor respondidas pelo próprio Arthur.
O fênix virou-se para me olhar, seus olhos cinzentos brilhando com faíscas alaranjadas como chamas.
— Todos nós fomos informados de certos fatos, Arthur. Você quase morreu ao canalizar a vontade de uma dragão poderosa, Sylvia Indrath, mas foi salvo por seu vínculo com a filha dela, Lady Sylvie. O resultado foi que seu corpo se tornou algo mais próximo de um asura do que de um humano. Você tem um núcleo, mas ele é não só é feito, como manipula éter em vez de mana, fortalecendo seu corpo diretamente com éter, ao contrário até mesmo dos dragões. E você canaliza certas… artes de éter, como a habilidade que usou para interrogar o criminoso Vritra, Oludari.
— Contudo, ainda não está claro exatamente como você deteve Agrona Vritra. — As faíscas em seus olhos brilharam intensamente, embora o restante de sua expressão permanecesse impassível. — Que poder você usou?
— Como essa pergunta nos ajuda a considerar o estado asura de Arthur? — A hamadríade, Morwenna do Clã Mapellia, murmurou irritada.
Foi Radix quem respondeu, inclinando-se sobre a mesa agora de forma que seu peito praticamente repousava sobre ela.
— Claro, Novis! Foi necessário que assumíssemos novas formas para conter nosso poder crescente, mesmo antes de nossos ancestrais terem forjado Epheotus a partir do solo do mundo dos menores. Ao fazer isso, marcamos nossas artes de mana com nossas próprias forças específicas. Embora o uso do éter por Arthur seja interessante, também é bastante óbvio. Ele foi agraciado com a vontade de uma dragão além de estar vinculado a Lady Sylvie aqui. Isso, por si só, não prova nada, mas esse poder que capturou Agrona… — Seu olhar penetrante cravou-se em mim como se ele estivesse tentando arrancar a verdade de mim com uma picareta. — Que poder foi esse? É alguma habilidade menor ou um produto de sua exposição aos dragões?
Todos os olhos estavam sobre mim, então ninguém além dos meus próprios companheiros viu o olhar que Kezess me lançou. O aviso era óbvio.
Regis, que havia se sentado e agora coçava a orelha com uma pata traseira, enviou-me mentalmente um revirar de olhos.
— Ah, que se dane ele. Eu voto para contar. Você é Arthur Leywin, Mestre do Destino! Insira aqui uma risada maligna.
Sylvie se mexeu ao meu lado.
— Não usando a linguagem dele, mas talvez Regis tenha razão. Se Kezess manteve a revelação do Destino em segredo do restante dos asuras, revelá-la pode virar as coisas a nosso favor.
Pensei na minha conversa com Kezess sobre os campos de lava. Talvez sim, mas também ainda não enxergamos o quadro completo.
— Toda a minha magia é de natureza etérea — respondi às perguntas que haviam sido feitas pelos Lordes Grandus e Avignis. — À medida que ganho insights, sou capaz de acessar a magia contida no próprio éter consciente, formando o que chamei de runas divinas, ou pedaços de magias poderosas que são marcados diretamente na minha carne.
— Oh, que fascinante! — disse Nephele, flutuando sobre a mesa em minha direção. — Podemos ver?
Antes que eu pudesse responder, Veruhn tossiu contra a mão e então se levantou lentamente. Nephele mordeu o lábio e voltou a flutuar para seu assento.
As costas de Veruhn se endireitaram segmento por segmento, dando a impressão de que ele era ainda mais velho do que aparentava. Seu sorriso, enquanto olhava cegamente ao redor da câmara, era trêmulo. Em termos humanos, ele parecia ter envelhecido cinquenta anos desde nossa chegada, mas eu não conseguia discernir se era uma encenação ou de alguma forma o resultado da própria conversa.
— É profundamente correto que todos aqui reunidos à mesa estejam tão apaixonados por esta conversa — disse ele, falando lentamente e articulando cada palavra com cuidado. — Nunca antes algo assim foi considerado. Nós, asuras, somos lentos para crescer, lentos para mudar. Não está em nossa natureza. E assim permanecemos apenas oito raças desde o fracasso das assombrações. Mesmo a mistura de nossas raças nunca resultou em um novo ramo da nossa longa e ilustre árvore genealógica.
Veruhn fez uma pausa para se recompor e recuperar o fôlego. Seus olhos de um branco leitoso pareciam focar acima das cabeças de todos os presentes à mesa.
— Mas não podemos negar o que o destino colocou bem diante de nós. Para que essa evolução ocorresse agora, enquanto a situação com Agrona parecia se encaminhar para uma guerra total, certamente não é mera coincidência. O crescimento de Arthur, sua transformação, foi necessário para a sobrevivência de ambas as nossas culturas. Agora temos uma oportunidade que nunca tivemos antes: mudar e crescer como um povo, junto com os menores dos quais estivemos separados por tanto tempo. Que o Clã Leywin fale em nome deles, seja a voz deles. Não podemos permitir que o mundo deles apodreça e gere outro Agrona.
Os outros asuras consideraram as palavras de Veruhn com atenção enquanto ele lutava para se sentar novamente. Pude ver como suas palavras haviam impactado o grupo, mudando a direção da conversa em apenas alguns momentos.
— Eles não se respeitam totalmente, mas o respeitam — notou Sylvie. — Não posso deixar de me perguntar se não estamos sendo colocados no meio de uma crescente luta pelo poder entre os clãs asuras.
Rastreei os detalhes de cada encontro com Veruhn. Por que ele me deu as pérolas de luto? Perguntei-me novamente. Em voz alta, eu disse:
— Obrigado, Lorde Eccleiah. Agradeço seu voto de confiança. — Depois de pausar para garantir que tinha a atenção de todos, continuei: — Quando fui informado sobre esta… oferta, admito que eu mesmo não estava totalmente certo se era o que eu queria, ou se era o certo a se fazer.
As sobrancelhas de Ademir se franziram em uma carranca, enquanto Morwenna virou o nariz ligeiramente para cima.
— Tenho um lar para o qual voltar, e pessoas que dependem de mim e que provavelmente estão sofrendo enquanto falamos. Dicathen e Alacrya precisam de mim, não Epheotus. — Deixei essas palavras pairarem no ar.
Kezess estava ouvindo com educação, sua expressão de outra forma cuidadosamente neutra. Ao seu lado, Novis sussurrou algo para Rai.
— Mas ouvindo todos vocês falarem aqui hoje, comecei a entender algo. — Sob meu comando mental, Sylvie e Regis deram meio passo mais perto de mim, de forma que quase estávamos tocando. — Precisam que eu os proteja, e isso significa ter uma voz entre os asuras.
Nephele havia se acomodado em seu assento e cruzado os braços sobre a mesa, com o queixo apoiado nos antebraços. Era difícil dizer se ela estava encantada ou pensando em algo totalmente diferente.
— Eu posso não ter nascido entre os asuras, mas tenho estado entrelaçado com o seu povo desde antes de eu nascer — disse firmemente. — Eu me vinculei a um de vocês, fui treinado entre vocês, lutei ao lado e contra vocês. E, como uma fornalha, a presença dos asuras em minha vida me moldou em algo diferente, algo novo.
Olhei diretamente para Radix, que havia relaxado em seu assento pouco a pouco enquanto eu falava. Ele estava passando os dedos pela barba, profundamente imerso em seus pensamentos.
— Não só ganhei grande poder e evoluí além das limitações da minha humanidade, eu, assim como os asuras, transformei-me para conter esse poder.
Liberando uma repentina onda de éter, ativei completamente tanto o Realmheart quanto o Gambito do Rei. Runas etéricas vibrantes queimavam em minha pele e sob meus olhos. Meu cabelo se erguia e flutuava ao redor da coroa de luz que pairava acima de minha cabeça. Éter se condensava em meus canais até brilhar através da minha pele em veias luminosas.
Minha voz ressoava enquanto eu falava, as palavras se entrelaçando a partir de uma dúzia de linhas paralelas de pensamento.
— Vocês perguntaram, e eu responderei. O poder que eu empunho é o próprio Destino.
Tradução: NERO_SL
Revisão: Crytteck
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