O Começo Depois do Fim

O Começo Depois do Fim – Cap. 485 – Contingências

 

POV SERIS VRITRA

 

Fiquei em silêncio, cercada por uma colagem de cristais laranja, roxo e azul-marinho que brilhavam em tons de amarelo e branco. O Salão dos Lordes em Lodenhold era um local surpreendentemente bonito para que os rudes anões se reunissem, mas sempre achei o povo anão uma alquimia cautelosa de pragmatismo e romantismo, embora eles certamente considerassem essa descrição insultante.

Ao redor da longa mesa ornamentada no coração da câmara, estavam vários anões representando diferentes clãs. Os principais deles eram os Earthborns e os Silvershales. Também estavam presentes Virion Eralith, líder do restante do povo élfico, Kathyln Glayder, que representava os interesses da nação humana de Sapin, e Gideon Bastius, principal inventor e cientista por trás do advento dos trajes quimera, a mais nova arma de Dicathen.

A conversa deles já durava bastante tempo, com uma participação mínima da minha parte. Isso me agradava. O povo de Dicathen estava aterrorizado. Os dragões haviam recuado para sua terra natal, Epheotus, com apenas uma breve comunicação aos líderes deste mundo. Poucos além deste salão sabiam que eles haviam capturado Agrona Vritra.

Alacrya estava livre dele, mesmo que ainda não soubesse disso.

Embora sua ausência repentina criasse uma série de novos perigos para o meu povo. Permitir que Agrona e Kezess Indrath se enfraquecessem mutuamente era essencial para a segurança contínua do nosso mundo. Temia que isso fosse um erro por parte de Arthur, embora eu não pudesse prever todos os resultados, e apenas o tempo diria. Tanto trabalho desfeito em um instante… Contive-me e reprimi a frustração antes que ela se refletisse em meu rosto. Não, talvez não esteja completamente desfeito. Porém, se Arthur não conseguir dissuadi-los, os asuras de Epheotus agora representam potencialmente uma ameaça ainda maior.

Perto da extremidade mais distante da mesa, Durgar Silvershale, herdeiro aparente de seu pai, Daglun, Senhor do Clã Silvershale, estava silenciosamente pensando em algo por vários minutos enquanto os outros discutiam a situação em Vildorial. Observei como ele jogava o cabelo grisalho para trás, coçava a barba recém-aparada e me lançava olhares sombrios, seus olhos cinza-ardósia cheios de medo e desprezo.

Finalmente, ele explodiu:

— Por que não levamos a batalha até Alacrya?

O salão ficou em silêncio quando os outros lordes e seus convidados voltaram-se para ele.

Com as bochechas avermelhadas ao se tornar o centro das atenções, Durgar, no entanto, ergueu o queixo e encarou a todos com um olhar desafiador.

— Temos muitos de seus guerreiros presos aqui em Vildorial. Como vocês acabaram de discutir, o número de prisioneiros é tão grande que tivemos que cavar duas novas prisões apenas para mantê-los. Seu “líder supremo” se foi e muitos dos seus maiores poderes foram derrotados. Pela primeira vez em toda essa maldita guerra, podemos atacar de uma posição de força!

Embora vários dos presentes me lançassem olhares como se aguardassem uma resposta, eu não fui convidada a falar, e, embora isso não fosse exatamente um impedimento, era do meu interesse aderir ao decoro deles por enquanto. Eu havia percebido essa raiva e frustração crescendo no povo de Dicathen nas últimas semanas, mas também via o cansaço e a exaustão da guerra. Embora alguns pudessem pressionar por mais violência, agora que, como Durgar havia sugerido corretamente, o equilíbrio de poder talvez estivesse a favor de Dicathen, eu não acreditava que houvesse qualquer perigo.

A Lança Mica Earthborn recostou-se em sua cadeira e cruzou uma perna sobre a outra. Seu olho de gema negra refletia os cristais multicoloridos ao nosso redor.

— Arthur está em Epheotus. — disse ela. — A Lança Varay está se recuperando de seus ferimentos em Etistin. Nossos próprios exércitos estão exaustos e esgotados após meia década de conflito constante. Se Agrona realmente foi derrotado, então não há razão para continuar a guerra.

Houve alguns murmúrios de concordância com as palavras dela, mas outros pareciam menos seguros, incluindo seu próprio pai, Carnelian Earthborn, cuja voz seria essencial para qualquer decisão que o conselho tomasse.

— Temos essas… máquinas — respondeu Durgar, gesticulando em direção a Gideon. — Os Trajes Quimera e… como você chamou essas coisas mesmo?

— Exoformas — respondeu Gideon. Com as pontas dos dedos manchadas de tinta, ele passou pelas sobrancelhas ralas enquanto olhava para a mesa. Seus olhos mal tocaram os meus antes de se fixarem em Lorde Earthborn. — Já que Arthur não está aqui para falar, e foi por ordem dele e com o apoio dele que os trajes quimera foram formados, arriscarei falar em seu nome. Ele não concordaria em atacar Alacrya.

Daglun Silvershale, senhor de seu clã, puxou ansiosamente sua barba trançada.

— E agora Arthur Leywin, um garoto humano com menos da metade da idade do meu filho mais novo, é o rei de toda Dicathen? — questionou o lorde anão. — Talvez eu tenha perdido sua coroação, mas da última vez que verifiquei, ele era uma Lança a serviço do império élfico e nada mais, independentemente de sua força pessoal e de seu serviço a Dicathen.

— Sem mencionar as mentiras sobre seu paradeiro que levaram tantos à morte — comentou a Lança Mica em voz baixa. Tomei nota do comentário e o deixei de lado para considerá-lo mais profundamente depois. Este é um problema que Arthur precisará resolver antes que se torne uma ferida aberta.

Houve um som metálico quando a Lança Bairon Wykes mudou de posição, o aço de suas botas ressoando contra a laje de cristal sobre a qual todos estávamos.

— Arthur não é nosso rei… — declarou a lança humana — …no entanto, representa tanto nosso continente quanto nosso mundo na comunicação com os asuras. Se o que descobrimos está correto, ele está em suas terras agora, certamente tratando com o lorde deles. Alguém mais pode alegar ter feito tal coisa neste momento?

Contive meu sorriso, apreciando a defesa direta de Bairon a Arthur, ainda mais porque suas palavras eram verdadeiras.

Gideon pigarreou. Ele encarou diretamente os olhos de Virion, depois os de Kathyln e, por fim, os de Carnelian Earthborn.

— Não, mas acho que Durgar está certo em um ponto: a presença alacryana em Vildorial é um fardo que a cidade não pode suportar. Só o custo da comida, mesmo sendo a ração básica da prisão, provavelmente colocará a cidade de joelhos em menos de um mês. — Finalmente, o velho cientista voltou sua atenção para mim. — Proponho, e estou certo de que Arthur concordaria, que a única maneira de seguir em frente é libertar os alacryanos e enviá-los de volta para casa.

Ele apresentou o argumento, que havíamos desenvolvido juntos nos dias que antecederam esta reunião, com mais sarcasmo do que eu preferiria, mas, dado tanto o público quanto a posição dele entre eles, tive que admitir que foi eficaz. Deixei transparecer um sorriso. Não um sorriso afiado ou vitorioso, mas suave e grato, como se estivesse ouvindo suas palavras pela primeira vez.

Foi difícil me comunicar adequadamente, pois só recentemente tive permissão para deixar as prisões que ainda mantinham o resto do meu povo, mesmo aqueles que lutaram ao lado dos dicathianos, como Caera Denoir e Lyra Dreide. Os anões mostraram pouco interesse em falar comigo, e mesmo após minha liberação, não me permitiram deixar Vildorial para me comunicar com os líderes humanos. 

Virion Eralith estava disposto a se encontrar comigo, provando ser um homem compreensivo e paciente. O apoio de Arthur e da Lança Bairon dava à sua voz um peso desproporcional em comparação com o cargo que ele agora ocupava, mas não havia mais um conflito armado para ser o comandante, e seu povo estava dizimado e disperso. Esperava que ele se mantivesse fiel aos seus valores, mas ele não tinha forças para lutar pelo meu povo quando o seu próprio povo precisava tanto dele.

Foi em Gideon que encontrei o ouvido atento que eu precisava dobrar. Ele via os problemas que seu povo e o meu enfrentavam de forma clara e sem a névoa do ódio ou do pesar. Para um homem com apenas metade da minha idade, ele era bem inteligente, mas, acima de tudo, não era sobrecarregado por um senso excessivamente desenvolvido de propriedade, o que significava que ele podia falar abertamente, mesmo dentre os poderosos. 

Esses pensamentos e outros passaram rapidamente pela minha mente no momento de silêncio que se seguiu à proclamação de Gideon.

— Já tentamos viver pacificamente ao lado deles…

— …se viraram contra nós assim que tiveram a chance…

— …merecem justiça pelos crimes cometidos…

— …ansiosos para vê-los partir, mas não podemos confiar neles!

Uma das lordes anãs menores, uma mulher de rosto avermelhado e cabelo grisalho chamada Stoyya, falou sobre os outros:

— E quem exatamente lhe deu autoridade para fazer sugestões nesta mesa?

Foi a voz áspera e calma de Virion que respondeu:

— Mestre Gideon provou seu valor repetidas vezes. Mesmo que ele não tenha um título oficial após a dissolução do Conselho da Tri-União, ele foi essencial em cada etapa desta guerra. Mesmo agora, ele representa uma significativa força militar em Dicathen. As pessoas que ele representa não deveriam ter voz, se dependemos da força deles? — Ele olhou ao redor da sala com firmeza. Quando ninguém respondeu, ele continuou: — Dito isso, devo perguntar: mesmo que desejássemos liberar os alacryanos, como poderíamos enviar tantos de volta através do oceano? Não temos navios capazes de fazer a jornada, e nossas capacidades de teletransporte não podem igualar àquelas que os trouxeram às nossas costas.

— Poderíamos enviá-los todos para as Relictombs — sugeriu a Lança Mica com um encolher de ombros. — Uma hora ou outras eles sairiam em Alacrya. Aqueles que sobrevivessem, pelo menos.

— Muitos não sobreviveriam, — Virion franziu a testa. — e não teríamos controle sobre quem viveria e quem morreria, caso estivéssemos considerando a justiça.

Lady Kathyln Glayder juntou as mãos sobre a mesa à sua frente.

— Tenham em mente que há crianças aprisionadas aqui enquanto falamos, e mais ainda vivendo na fronteira da Clareira das Bestas, deixadas apenas com a proteção de seus cuidadores não magos. Qualquer solução precisa garantir que não estamos punindo injustamente aqueles que não tiveram escolha nesta guerra.

Vendo minha oportunidade, dei meio passo à frente. O pequeno movimento foi suficiente para atrair todos os olhares para mim.

— Muitos daqueles que levantaram armas contra vocês e seu povo podem ser considerados como não tendo escolha em lutar nesta guerra — comecei. — Alacrya não é uma nação onde os líderes ganham o respeito de seu povo. Ao contrário, é um lugar onde seres mais antigos e poderosos do que podemos plenamente compreender controlam as pessoas de forma absoluta, definindo até mesmo o valor delas pela pureza de seu sangue. É uma nação onde qualquer pequeno desrespeito, mesmo que não intencional, pode significar a morte não apenas para você, mas para toda a sua família, até mesmo seus amigos e aliados. Houve aqueles que se recusaram a lutar, e todos nós os vimos morrer horrivelmente. Quando um deus-rei lhe diz para ir à guerra, você vai.

Deixei minha cabeça inclinar-se solenemente e continuei:

— A pedido de Arthur, vocês permitiram que muitos alacryanos vivessem em Dicathen ao lado de vocês, como seus vizinhos. E a confiança que vocês depositaram em nós através de Arthur foi traída. Contudo, quando marchamos junto com a força invasora que entrou em Vildorial em busca de Arthur, não foi porque vocês eram ou são nossos inimigos. Confiei em encontrar aqui uma maneira de salvar o maior número possível de pessoas do meu povo, colocando em risco o mínimo possível o seu. — Levantei o queixo e olhei desafiadoramente para os lordes sentados. — Algum de vocês pode, honestamente, dizer que teria agido de maneira diferente? Que, ao ver a magia nos núcleos de seu próprio povo explodir e matá-los, vocês simplesmente os deixariam morrer em vez de obedecer? Porque, se vocês puderem me dizer isso, então talvez sejam líderes mais fortes do que eu. Ou talvez sejam simplesmente mais impiedosos com as vidas daqueles que dependem de vocês.

Rostos piscando me olhavam com surpresa. Essa surpresa rapidamente se transformou em raiva para alguns.

— Uma desculpa patética! — rugiu Durgar.

— Ser chamado de impiedoso por um alacryano — cuspiu outro dos lordes anões, seu grosso bigode tremendo e salpicado de saliva.

— Você deveria cuidar do seu tom, Foice — disse Lança Mica, inclinando-se para frente em sua cadeira, seu único olho bom se estreitando.

Carnelian Earthborn, seu pai, levantou a mão.

— Acalme-se, Mica. Lorde Silvershale. — Ele sacudiu seu cabelo mogno e coçou a barba da mesma cor. — Afinal, convidamos Lady Seris aqui para representar seu povo, e é isso que ela está tentando fazer. Da minha parte… — Ele olhou longamente e com reflexão para sua filha e os outros Earthborn presentes, Hornfels, seu sobrinho. — Não posso dizer o que teria feito na sua situação, mas não estou pronto para condenar todo o seu povo com base nas ordens de um lorde corrupto. Se nós, anões, fizéssemos isso, poucos de nós teriam restado para lutar nesta guerra. — Ele lançou um olhar severo a Daglun e Durgar. — Ou vocês já se esqueceram dos Greysunders?

— Esquecemos…? — Daglun Silvershale balbuciou. — Fomos nós que lideramos a resistência, que lutamos e nos recusamos a nos submeter, recusamos nos aliar a… com… — Seus olhos se estreitaram para Carnelian, que apenas sorriu de volta. — Sim, bem… Concedo seu ponto, Lorde Earthborn.

Gideon pigarreou.

— Comandante Virion, acredito que você fez uma pergunta bastante importante antes que esta reunião saísse dos trilhos. Como poderíamos esperar enviar tantas pessoas de volta para Alacrya a uma distância tão grande? Graças ao nosso aliado asura, Wren Kain IV, eu já tenho uma resposta. — O velho cientista ergueu suas sobrancelhas meio crescidas e olhou com arrogância ao redor da mesa. — O último ataque dos alacryanos foi realizado com o uso de uma nova tecnologia de teletransporte. Bem, digo nova, mas a realidade é que foi o mais próximo do que os magos antigos realizaram que já vi. Apesar dos esforços deles para evitar, capturamos um dos dispositivos. Foi uma questão relativamente simples, então, fazer a engenharia reversa da cópia funcional.

— Isso é excelente! — disse Durgar batendo a palma da mão na mesa. — Isso nos coloca em pé de igualdade com a capacidade deles de atacar a qualquer momento. Com a velocidade e mobilidade dos Trajes Quimera, podemos…

— Este conselho não tem autoridade para enviar meus exoesqueletos e seus pilotos a lugar nenhum — interrompeu Gideon.

O rosto de Durgar ficou vermelho como uma amora, mas seu pai falou antes que ele pudesse responder.

— É claro que o Conselho dos Lordes tem pouco apetite por mais combates. Seria melhor ouvir, Durgar, e avaliar o temperamento de nossos pares antes de exigir mais sangue e guerra.

A mandíbula de Durgar se contraiu várias vezes sob a barba, e ele olhou para a mesa, sem encontrar o olhar de ninguém.

— Parece — disse Lady Kathyln no silêncio que se seguiu — que temos os meios se também tivermos o desejo. Em nome de Sapin, eu sugeriria que seguíssemos a sugestão do Mestre Gideon. Enviem essas pessoas para casa. Permitam que comecem a reconstruir suas casas, para que possamos fazer o mesmo.

Virion assentiu em concordância.

— Bem dito. Em nome do que resta da nação élfica de Elenoir, eu concordo.

Entre os lordes anões, Silvershale e Earthborn eram os mais poderosos. Eles trocaram um olhar, e então Carnelian respondeu por todos eles:

— Concordamos em liberar os prisioneiros e permitir que voltem para casa. — Houve uma breve pausa, e então: — Com uma condição.

Observei o anão com expectativa; em um conflito armado, nenhum vencedor recua sem um incentivo.

— Grandes danos foram causados à nação de Darv por Agrona, e em nome dele — disse Carnelian com um tom ensaiado. — Esperamos reparação de Alacrya por seus crimes de guerra. Justiça em riqueza material, na ausência de justiça em sangue.

— Você tirou as palavras diretamente da minha mente — falei rapidamente, antes que alguém pudesse intervir. — Dicathen sofreu muito sob os ataques de Agrona. Talvez não tanto quanto Alacrya sofreu sob seu domínio, mas seu ponto é válido. Embora eu não esteja mais em uma posição de poder político e não possa fazer promessas pelos domínios de Alacrya, tenho certeza de que vocês podem fazer qualquer futuro líder ver o senso de suas exigências, assim como eu vejo.

“Na verdade, eu ofereceria mais. — Agora, meu foco se voltou para Virion. — Embora tenha sido os asuras e não Alacrya que causou tanto dano a Elenoir, um ataque covarde que também tirou muitas vidas alacryanas, nós ainda assim ofereceríamos justiça semelhante para os elfos. Atualmente, as fronteiras com a Clareira das Bestas são defendidas apenas pelas vilas que meu povo estabeleceu lá. Se os elfos desejarem reconstruir sua terra natal, eles se tornarão presas para os monstros que se tornaram consistentemente mais audaciosos nos últimos meses. Espero deixar alguns do meu próprio povo lá, nas vilas que já estabelecemos, para proteger a fronteira. Talvez, com o tempo, eles possam até se tornar parceiros comerciais dos elfos, já que estabelecemos áreas de caça e plantações em um deserto que, de outra forma, seria estéril.

Virion, com as mãos sobre a mesa, recostou-se ligeiramente na cadeira. Isso e o ligeiro alargamento de seus olhos foram os únicos sinais de sua surpresa. Idealmente, eu teria buscado seu acordo antes, como fizera com Gideon, mas confiava que seu senso de justiça e equidade prevaleceria. 

— Sua oferta de ajuda é… muito bem-vinda. — Ele disse, após um tempo.

— No entanto — disse Carnelian franzindo a testa profundamente —, o acordo era que todos os alacryanos fossem enviados de volta para sua terra natal. Isso permitiria que alguns permanecessem em nossas costas, onde já provaram ser um perigo uma vez.

— Elenoir e a Clareira das Bestas estão longe de Darv — disse Virion calmamente. — O risco recai firmemente sobre os elfos, e estou disposto a aceitar esse risco em troca da oferta de apoio e proteção da Lady Seris para o meu povo, enquanto começamos a tentar reviver a Floresta de Elshire.

Durgar murmurou algo sobre como os elfos são moles, atraindo um olhar frio da assistente de Virion, uma elfa de meia-idade chamada Saria Triscan.

— Ainda há mais que podemos oferecer — continuei. — A tecnologia de Alacrya é avançada. Compartilharemos nosso conhecimento. Agrona era apenas um asura. Há uma nação inteira deles por aí, qualquer um dos quais poderia ser tão perigoso quanto ele. Alacrya compartilhará seu conhecimento, porque é isso, não o sangue Vritra, que nos torna fortes. Dicathen e Alacrya podem assegurar a paz contínua entre nossos dois continentes ao igualar o poder de nossas nações, mas, à medida que nosso mundo se fortalece como um todo, também ajudamos a nos proteger contra futuros envolvimentos dos asuras.

Retirei um feixe de pergaminhos encadernados em couro. Um atendente anão o pegou e levou ao redor da mesa até Lady Kathyln, conforme indiquei. Ela o pegou com cuidado, olhou curiosamente, depois voltou seus olhos investigativos para mim.

— Começo com um presente para a Lança Varay Aurae, que acredito se beneficiará muito desse conhecimento, que foi retirado de Taegrin Caelum antes de fugirmos de Alacrya, ao custo de muitas vidas alacryanas.

A expressão de Kathyln se endureceu, e ela deu um único e firme aceno enquanto colocava os pergaminhos encadernados sobre a mesa e descansava as mãos protetoramente sobre eles.

— Agora, a menos que haja algum outro assunto, há muito a fazer para organizar meu povo para a viagem. Mestre Gideon, por favor, traga-me as especificações desses portais para que possamos estabelecer um cronograma. — Deixei meu olhar percorrer a sala, permanecendo respeitoso, mas objetivo. — Comandante Virion. Devo falar com meu povo para ver quem está disposto a retornar às vilas fronteiriças, e então fornecerei os números.

Virando-me, caminhei com confiança em direção aos anões que guardavam as portas. Os guardas, surpreendidos, se endireitaram, olhando de mim para alguém atrás de mim, e depois se apressaram a abrir as portas.

Enquanto marchava rapidamente pelo palácio, senti a assinatura de mana de Virion me seguir, notando o silêncio de seus passos enquanto ele se apressava para caminhar ao meu lado.

— Você fez um bom trabalho lá dentro — disse ele em voz baixa. — Parece que conseguiu exatamente o que esperava, a menos que eu tenha interpretado mal as coisas.

— Fiz o que todos os líderes fariam: busquei aliados para apoiar minhas posições — respondi no mesmo tom baixo. — Espero que você não me entenda mal. Não era minha intenção manipular, mas sim garantir uma posição de barganha forte.

Ele levantou as mãos e me deu um sorriso áspero. — Tenho visto o jogo ser jogado por muito tempo, mas ver você em ação torna ainda mais claro que deveríamos estar do mesmo lado das coisas que virão.

Isso é mais verdade do que você pode perceber, pensei, mas em voz alta, apenas me despedi por enquanto.

O palácio logo ficou para trás enquanto eu marchava rápido e com segurança em direção ao mais próximo dos pavilhões da prisão, que não ficava longe da estrada curva. Os guardas externos mal mexeram suas barbas à minha aproximação, mas o diretor dentro se apressou em pegar as chaves e me permitir entrar nas celas.

Nas horas e dias após a batalha, meu povo havia sido misturado sem qualquer cuidado nas celas, muitos até mantidos nos bunkers construídos na base da cidade para proteger os civis. Várias brigas haviam estourado entre os leais a Agrona e aqueles que haviam me seguido para fora de Alacrya desde o início. Foi somente com a ajuda da Lança Bairon que consegui convencer os carcereiros a separar os leais à Agrona e colocá-los em uma das prisões recém-escavadas.

Agora, a cela superior continha principalmente aqueles que representavam a menor ameaça para os dicathianos e os que mais precisavam de proteção contra represálias potenciais.

Parei para cumprimentar e verificar os membros do sangue Ramseyer, que sofreram grandes perdas durante a batalha, e depois os Arkwrights. Umberters e Frosts, Belleroses e Isenhaerts. Cumprimentei os jovens Seth Milview e Mayla Fairweather, interrompendo sua leitura enquanto folheavam um livro juntos. Algo que um dos guardas anões lhes havia dado. Aquele olhar de estranheza e surpresa ao serem abordados por uma Foice, mesmo que eu não tivesse mais esse título, mal se via em seus rostos agora.

Senti olhos me seguindo e me virei a tempo de flagrar Corbett e Lenora Denoir me observando atentamente. Caera se afastou de uma conversa com eles e fez uma reverência respeitosa.

— Lady Seris. Quais são as novidades?

Gesticulei para que me seguisse, e então continuei a me aprofundar na prisão, procurando por Lyra e Cylrit. Caera não fez mais perguntas, mas me seguiu pacientemente.

Encontrei-os em uma das poucas celas que tinham paredes sólidas para proporcionar alguma privacidade para as conversas ali dentro. Normalmente, estaria trancada e protegida por barreiras, mas, como todas as outras celas, estava aberta para a câmara central, permitindo que os prisioneiros ali tivessem algum nível de liberdade para interagir e circular pelo complexo. Mesmo que os lordes de Vildorial quisessem prender cada mago alacryano com algemas de supressão de mana, não teriam o suficiente nem para dez por cento dos prisioneiros, mas eu havia especificamente convencido-os a permitir que Lyra e Cylrit, os mais fortes dentre os aprisionados após a batalha, ficassem sem tais precauções.

Lyra estava sentada de pernas cruzadas em sua cama, com as costas contra a parede. Seus cabelos vermelhos como chamas se espalhavam ao redor de sua cabeça como um halo, brilhando contra a pedra manchada e esbranquiçada. Cylrit estava encostado na parede oposta, com os polegares enfiados no cinto. Sua aparência normalmente bem cuidada estava levemente desgrenhada, com o cabelo despenteado em volta dos chifres; o encarceramento não lhe caíra bem, e eu sabia que ele estava ansioso para voltar à luta, seja lá como isso fosse agora.

Ambos pareciam sérios, como se estivessem discutindo algo bem importante. Embora olhassem para mim em uníssono, nenhum deles perguntou o que havia acontecido. Em vez disso, esperaram.

Dei-lhes um sorriso suave, e suas posturas relaxaram.

— Foi bem? — Cylrit finalmente questionou, afastando-se da parede com os cotovelos.

— Mais ou menos como esperado, sim — confirmei. Fechei a porta atrás de Caera e ativei as barreiras de abafamento com um pulso de mana. — A ânsia deles por uma solução simples superou os desejos mais primitivos, e com o Mestre Gideon lá para fornecer soluções para suas preocupações, foi bastante simples.

Lyra soltou um suspiro lento entre os lábios cerrados.

— Perdoe-me por dizer isso, mas não tinha certeza. Se invertêssemos o tabuleiro, quem em Alacrya teria mostrado a mesma graça?

— Algo que você deve se lembrar nos dias que virão — respondi, meu tom tornando-se mais sombrio. — Enquanto começamos a reconstruir nossa nação, há muito que podemos aprender com a forma como os dicathianos tratam uns aos outros.

— Não consigo parar de pensar no que deve estar acontecendo em Alacrya — murmurou Caera, meio que para si mesma.

Estendi a mão e ergui seu queixo com um dedo, encontrando seus olhos.

— Neste momento, há um vácuo de poder. Os Alto Sangues leais a Agrona estarão lutando para preenchê-lo. Entretanto, ainda há muitos que estarão trabalhando para o bem da nossa nação também. Remover Agrona foi apenas o primeiro passo.

— E… — Cylrit hesitou. — E quanto aos nossos planos?

— Teremos que julgar o estado do nosso continente natal. — Olhei de Lyra para Cylrit e depois para Caera, demorando-me mais nela. — É certo que o conflito ainda não acabou. A luta que está por vir será pela própria alma de Alacrya.

 


 

Tradução: NERO_SL

Revisão: Crytteck

 

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