Quando o portal nos engoliu, meu último pensamento foi de decepção. Por um momento, tinha sido tão bom ver o Arthur, mas esse sentimento desmoronou junto com a estrutura de pedra do corpo de seu golem.
Espaço e tempo se inverteram, se esticaram e viraram de cabeça para baixo pelo portal enquanto ele nos arrastava para longe, e então…
E então eu estava cercada por nada. Absolutamente nada. Vazio em todas as direções.
E estava sozinha.
Realmente sozinha.
Não conseguia sentir a Cecilia ou ouvir seus pensamentos. Nem conseguia sentir o corpo que compartilhava com ela.
Tentei falar o nome dela, mas nenhum som saiu. Não tinha dedos das mãos ou dos pés para mexer, nem pescoço para virar meu olhar para a esquerda ou para a direita.
Então, como se estivesse saindo de uma densa névoa negra, o espaço se materializou diante de mim.
Estava olhando para Cecília através de um chão feito de vidro negro. Não Cecília em meu corpo, mas a maneira como ela se imaginava em sua mente, uma figura atlética e feminina com pele cor de creme e cabelos castanhos poeirentos amarrados em um rabo de cavalo. Além da estranheza de olhar para ela de uma forma que só tinha visto em pensamento antes, outra coisa estava errada. Ela estava plana, como um reflexo de si mesma em um espelho escuro, e estava muito quieta, fazendo apenas movimentos ocasionais anormalmente bruscos.
— O que está acontecendo? — perguntei, minha voz saiu distorcida e estranha aos meus próprios ouvidos.
Do outro lado, o rosto de Cecília se contraiu em um franzido.
— Eu deveria saber que você me atacaria assim que tivesse a chance. — Sua voz ressoou hostilmente dentro da minha mente.
Balancei minha cabeça. Eu não estava exatamente escondendo esse fato. Quaisquer que sejam as ilusões ou razões que você tenha para agir da maneira como age, isso também se aplica a mim, mas isso não é importante agora, é? Olhe em volta. Onde estamos?
— Talvez seja uma bênção disfarçada. Quando eu escapar disso, seja o que for, vou deixar você aqui. — Em sua moldura, as mãos de Cecilia se levantaram e parecia que ela estava empurrando contra a superfície de um pedaço plano de vidro.
Por mais que meus sentidos estivessem amortecidos, meus nervos ainda estavam em chamas por todo o meu corpo enquanto considerava todas as implicações que Cecília e eu estávamos experimentando. Tínhamos caído através de um portal e fomos transportadas para algum lugar, mas mais do que isso, de alguma forma, tínhamos sido separadas uma da outra e aprisionadas. Como Arthur é capaz disso?
— Ah, que Vritra me leve — amaldiçoou Cecilia, deixando suas mãos caírem. — Não acredito que caí na armadilha dele. Eu… Agrona vai ficar furioso. Não só o desobedeci, mas também falhei.
Senti meu rosto franzir de uma maneira distante e entorpecida.
— Com certeza você está mais irritada com Arthur por te aprisionar do que tem medo de Agrona?
Quando Cecilia olhou para mim através do vazio, pude ver que estava errada. Suas emoções estavam distantes e turvas, mas a expressão em seu rosto era facilmente legível.
— Você não entende. Ele está perdendo a paciência comigo. Eu senti isso. E tenho medo que… ele faça algo com Nico para me punir. — Ela virou à esquerda e à direita, para cima e para baixo enquanto vasculhava sua prisão em busca de qualquer indício de saída. — Eu preciso escapar desse lugar.
O pensamento de Cecilia me incomodou, e tive que tomar cuidado para não enviar mais pensamentos para ela. Estava com medo e queria fugir também, mas… Arthur fez isso de propósito, sabendo que Cecilia e eu estaríamos presas aqui.
Tive que me perguntar qual era a intenção de Arthur. Eu não sabia onde estávamos, qual era o propósito deste lugar além do óbvio, ou o que aconteceria se permanecêssemos. Arthur sabia que eu ainda estava consciente dentro do meu corpo junto com Cecília, ou pelo menos eu achava que ele sabia. Ele teria esperado que eu estivesse aqui. Pode ter sido por isso que ele inventou essa prisão para nos separar. Talvez isso significasse que ele viria me libertar… mas ele realmente era capaz de uma magia tão poderosa?
O medo revirou meu estômago. Também era possível que a separação de nossas mentes não tivesse nada a ver com o plano real de Arthur, e ele finalmente decidiu que, para remover Cecilia, valia a pena me sacrificar na jogada. Não conseguia discordar do sentimento ou ficar com raiva de Arthur se esse fosse o caso, mas ainda sentia medo.
— Posso sentir sua mente girando aí — interveio Cecilia, interrompendo meus pensamentos. — É irritante. Se não vai me ajudar a descobrir como sair dessa prisão, o mínimo que poderia fazer é calar a boca.
Eu suspirei e abracei a mim mesma. Não sei o que é este lugar, mas para ser sincera, não me importo muito. Arthur finalmente venceu você, Cecilia. Não há nenhum lugar para você ir, nada que possa fazer agora. Sente-se e ferva em seu silêncio e medo.
Eu me fechei para ela antes que ela pudesse responder, mergulhando em um silêncio ressentido e inquieto Eu ainda tinha que observá-la, no entanto, afinal não conseguia olhar para nenhum outro lugar. Ver ela se contorcendo e gesticulando dentro de sua prisão bidimensional não me trouxe prazer nem conforto. Esperava que seus esforços durassem pouco, mas fui surpreendida pela tenacidade de seus esforços, que só aumentava. Nenhuma magia ou feitiços se manifestavam no ar aberto entre nós, mas uma carga se acumulava dentro da estranha prisão que fazia os pelos do meu pescoço ficarem de pé e minha pele se arrepiar.
Um tremor percorreu da ponta dos meus dedos até o meu couro cabeludo, e algo me puxou para frente. Eu flui através de uma fina camada de energia vítrea e me vi de pé na superfície lisa que havia visto antes. Virei-me para ver uma janela idêntica àquela em que Cecília ainda estava presa e pude sentir seus olhos ardentes cravados nas minhas costas.
Além da janela, ao redor de nossa plataforma lisa e plana, que mal chegava a sete metros de largura, havia um oceano infinito de vazio. Era tão escuro que meus olhos me enganavam, inserindo cores em um nevoeiro roxo e formas como criaturas sombrias se arrastando umas sobre as outras dentro da escuridão e do vazio.
Eu me virei e corri para o centro da plataforma entre as duas janelas, cada respiração laboriosa doendo no meu peito.
— O que você fez, Arthur?
Como se viesse de uma grande distância, a voz abafada de Cecília gritava meu nome.
Minhas mãos percorreram meus braços até os ombros, depois até o rosto, sentindo o calor da minha pele, a forma do meu nariz, bochechas e lábios. Meu cabelo, pensei, passando meus dedos por ele, levantando uma mecha dos fios cinza prateados.
— Tessia! — Cecília gritou novamente, sua voz cortando minha contemplação como uma serra.
Envolvi meus braços ao redor de mim mesma em uma espécie de abraço, curvando-me para frente e fechando os olhos.
— Só… me dê um tempo, por favor. Deixe-me ter esse momento.
Minhas pernas tremiam, e eu afundei no chão, puxando os joelhos para perto do peito. Pressionando meu rosto nos joelhos, comecei a chorar. Meu corpo tremia de alívio. Lentamente, liberei a emoção acumulada da minha longa prisão, e as lágrimas diminuíram. Minha respiração veio com facilidade. Todos os músculos do meu corpo relaxaram.
Cecilia limpou a garganta.
— Como você escapou?
— Imagine só, nós duas fundidas por tanto tempo — disse com minha voz vazia de toda a emoção que acabara de liberar —, apenas para nos encontrarmos presas juntas quando finalmente nos separamos.
— Tessia, por favor…
Meu olhar se levantou lentamente para encontrar o de Cecilia. Passei tanto tempo dentro de seus pensamentos que provavelmente a conhecia melhor do que ela mesma. Eu a vi passar de uma garota megalomaníaca para uma garota vulnerável, como se eu pudesse ligar e desligar um artefato de iluminação, mas também tive que me lembrar de que ela era uma criança que havia sido manipulada para ser pouco mais que uma arma, não só em uma, mas em duas vidas diferentes.
— Eu não sei. Senti você manipulando mana através desta plataforma, e uma carga se acumulou dentro da minha janela, então de repente estava flutuando para fora…
— É isso! — Cecilia disse desesperadamente. — Essas janelas ou o que quer que sejam devem precisar ser abertas com mana ou… — Seu rosto caiu repentinamente, ficando pálido de medo. — Ou éter.
Pensei no momento em que Cecilia usou a própria arma de Arthur para dar um golpe contra ele e fiquei em silêncio.
— Se movi mana o suficiente, é possível que algum éter tenha interagido com a janela também… mas eu não consigo atrair mana para mim aqui dentro — continuou suavemente.
Eu não respondi.
— O que significa que você teria que ser a responsável por me libertar… — Ela terminou depois de alguns longos segundos. — Temos que trabalhar juntas. Você vai ter que me deixar voltar.
Ela estava se referindo ao bloqueio mental que coloquei logo após chegar à zona, interrompendo-a enquanto eu estava presa dentro da janela. Eu tinha deixado a barreira erguida, mas agora ela se dissipava, unindo nossas mentes novamente.
O emaranhado de emoções de Cecilia queimava quente e desconfortável, como uma dor atrás dos meus olhos.
— Exceto que há um outro problema — comecei, enfiando meus dedos na minha têmpora com uma careta. — Mesmo se eu quisesse te libertar, e não sei se quero, não consigo controlar mana. — Eu conseguia sentir a mana contida dentro da estranha prisão, mas embora tivesse meu corpo de volta, não havia recuperado minha capacidade de lançar feitiços. Tentei não pensar no fato de que nem sequer tinha um núcleo.
Cecilia não respondeu imediatamente, mas pude sentir seus pensamentos girando repetidamente. Afastei-me da janela dela, movendo-me para a borda da plataforma e encarando o nada além. As sombras contorcidas, pretas sobre pretas, fizeram minha pele se arrepiar mesmo enquanto eu me perguntava se era real ou se estava simplesmente vendo coisas.
— Por que ainda podemos ouvir os pensamentos uma da outra? — perguntou Cecilia, com a voz penetrando na minha cabeça inesperadamente.
Voltei para a janela dela. — Não sei, mas então, nem consigo imaginar que tipo de magia poderia nos separar para começar.
— E se não tivermos sido separadas? — perguntou, com a voz suave e ecoando como se estivesse ressoando do fundo de um poço.
— O que você quer dizer?
Ela gesticulou para o meu torso de dentro da janela.
— Você tem seu corpo, mas eu pareço comigo mesma; como antes, na Terra. E ainda assim, os símbolos que prendiam meu espírito reencarnado ao seu corpo ainda marcam sua carne. Você está andando dentro de um corpo Integrado e deveria ser capaz de usar magia, enquanto eu tenho um centro de ki e não um núcleo, mas consigo manipular mana.
Não consegui esconder minha surpresa ao olhar para ela.
— É claro. Eu deveria ter percebido isso antes. Então você acha… que ainda estamos no mesmo corpo? Somente nossas mentes estão divididas?
— Acho que estamos nas Relictombs —, ela confirmou. — Se existe algum lugar que poderia aprisionar nossas mentes em uma prisão enquanto nosso corpo repousa em outro lugar, essa seria a resposta.
Cecilia havia aprendido sobre as Relictombas, embora não extensivamente, e eu compartilhava seu conhecimento limitado. Juntas, consideramos o que sabíamos.
— Deve ter sido um portal de ascensão pelo qual caímos.
Cecilia acenou com a cabeça para mim de dentro de sua janela.
— Grey só teria escolhido essa zona se fosse um lugar do qual ele pensasse que não poderíamos escapar.
— O que significa que provavelmente é necessário controle sobre o éter para navegar — completei, voltando à nossa linha de pensamento anterior. — Então, nós realmente estamos presas aqui.
— Não — disse Cecilia, agora balançando a cabeça. — Eu já libertei você. Isso significa que podemos interagir com essa zona, mesmo que não da maneira pretendida. Você pode me libertar e, juntas, podemos limpar essa zona e encontrar nossa saída.
Mordi o lábio, sem saber o que fazer.
— Este lugar é pior do que lá fora, onde estarei presa em meu próprio corpo novamente?
— Por favor, Tessia — implorou Cecilia, afundando em sua estrutura. — Não posso ficar presa aqui. Preciso voltar para Agrona, para me explicar… — Seus olhos se fixaram nos meus. — Não posso deixar que ele puna Nico pelos meus erros. — Quando não respondi imediatamente, ela acrescentou: — Eu sei que você não entende por que faço as coisas que faço, mas…
— Eu não entendo, mas também não posso dizer que não fiz algo semelhante. — Engoli um nó na garganta, imaginando a capacidade da simulação de criar uma sensação tão realista. Eu escolhi ir até meus pais naquele dia, e por isso Arthur e Sylvie quase morreram; não, de certa forma, morreram; por causa da minha decisão.
Eu sabia que Arthur queria nos manter, principalmente Cecilia, neste lugar pelo maior tempo possível. Talvez ele quisesse que ela ficasse aqui para sempre, ou talvez soubesse que ela acabaria se libertando. Só podia esperar que minhas ações fizessem parte de seu plano, porque quanto mais pensava, mais minha mente parecia estar decidida.
— O que você quer, Cecilia? — perguntei. — Realmente? No final, quero dizer.
Cecilia soltou uma respiração profunda, seus olhos nunca deixaram os meus.
— Eu quero que tudo tenha valido a pena. No final.
Assentindo em compreensão, tomei uma decisão que só podia esperar que não fosse me arrepender.
— Você vai ter que me dar o controle e… me ensinar como usar magia sem um núcleo.
O que se seguiu foi um difícil vai e vem enquanto Cecília e eu lutávamos contra nossos instintos. Se estivéssemos certas, a zona era uma espécie de projeção, pouco mais do que um sonho, e para Cecília liberar seu controle sobre meu corpo e me permitir manipular a mana dentro do sonho, ambas tínhamos que aceitar que a zona simultaneamente não era povoada por nossos verdadeiros seres enquanto também permitia que nosso verdadeiro corpo compartilhado e habilidade mágica, fossem utilizados por ambas ao mesmo tempo.
Teria sido muito mais fácil simplesmente acordar, mas qualquer que fosse a magia que formava a zona e nos mantinha dentro dela não era tão facilmente derrotada. Ainda assim, estive ao lado de Cecília durante todos os seus muitos avanços na manipulação da mana, e a dor à qual fui submetida não foi sem benefício algum.
Muitas horas, talvez até dias, se passaram enquanto eu me sentava diante da janela de Cecília e buscava a magia. Apesar do tempo passando, Cecília pareceu se acalmar ao assumir o papel de guia e professora, entregando-me simultaneamente as rédeas do nosso corpo físico separado enquanto me guiava em direção à magia e me ensinava a manipulá-la sem a lente de um núcleo para focar.
Eu segui seus exercícios improvisados com um foco singular, e nós duas abraçamos a tentativa e erro necessários para transmitir sua visão e compreensão.
— Ok, isso não está funcionando, mas acho que podemos mudar um pouco as táticas — disse Cecilia após uma das muitas tentativas fracassadas. — Posso sentir a mana reagindo ao seu foco, mas você não está se apoderando dela, pelo menos ainda não. — Ela olhou para mim com as franzidas em confusão. — O que foi?
Percebi que estava sorrindo e rapidamente suavizei minhas feições.
— Nada, é só que… você parece tão motivada. Quase como se você estivesse se divertindo.
— Eu… — Ela começou antes de parar. — Acho que é apenas bom estar trabalhando juntas por uma mudança.
Concordei, entendendo o que ela queria dizer.
— Estamos quase lá, eu posso sentir isso.
Era difícil descrever, mas parecia que havia uma balança dentro de mim, e essa balança estava se inclinando lentamente, me elevando e me equilibrando com a força oposta, Cecília. E enquanto aquela balança se equilibrava, meu senso da mana que flutuava ao nosso redor se intensificava até que eu pudesse sentir algo roçando nas pontas dos meus dedos estendidos.
Então, finalmente, meus dedos se fecharam em torno do que eu estava procurando.
Inspirei de repente, tremendo, e minhas mãos se fecharam em punhos. As partículas de mana se iluminaram na minha visão da mesma forma que Cecilia conseguia ver. As partículas eram esparsas, flutuando sobre a plataforma, mas não inundando o vazio do outro lado.
— Viu como a mana se move? — Cecilia usou nossa conexão mental para direcionar meu foco para um ponto específico. Havia uma espécie de tensão nas partículas de mana suspensas. — Este lugar é muito mais denso com éter, e essa tensão é as duas forças pressionando uma contra a outra. Se você pressionar toda a mana em direção à minha janela, também não poderá deixar de mover um pouco de éter. Acho que foi assim que te libertei.
Eu me levantei e dei alguns passos para trás, trabalhando para diminuir e estabilizar minha respiração, que ameaçava ficar fora de controle conforme o sucesso e a alegria de controlar a mana tomavam conta de mim. Minha concentração se apertava na mana, segurando-a partícula por partícula, mas ainda não executando minha vontade. Tentei visualizar todas as partículas de éter que estavam preenchendo as lacunas entre os vermelhos, amarelos, verdes e azuis. A ideia de que Arthur devia ser capaz de ver o quadro inteiro passou pela minha cabeça, e pensar nele me ajudou a me acalmar e me dar confiança.
— Agora empurre com toda sua força — ordenou Cecilia.
Eu hesitei.
— O que está esperando? — perguntou Cecilia, um traço de seu desespero vazando de volta para seu comportamento.
— Se eu ajudar a sair daqui, você me deve uma — disse, observando-a cuidadosamente. — Desde que esteja ao seu alcance, preciso que prometa que fará um favor para mim no futuro.
Agora foi Cecília quem hesitou, sua mandíbula se movendo silenciosamente na janela, seus pensamentos momentaneamente envoltos.
— Eu prometo.
Deixando escapar um suspiro profundo, eu empurrei.
O plano da janela contendo Cecilia ondulou e ela caiu na plataforma. Atrás dela, a mana que projetei se espalhou pelo vazio e foi engolida pela escuridão.
Cecília olhou para as mãos, depois girou em um círculo, seus olhos arregalados enquanto olhava ao redor.
Eu sorri, mas quase imediatamente, a expressão vacilou quando um cansaço sonolento se apoderou de mim. Tropecei de repente. Os olhos de Cecilia se arregalaram de surpresa e ela me agarrou para evitar que eu caísse. Seu rosto preocupado ficou embaçado enquanto o vazio escuro atrás dela pulsava, desaparecendo e reaparecendo.
Fechei meus olhos e, quando os abri novamente, vi apenas um flash de escuridão e garras. Fechei novamente, então abri… e vi uma cachoeira ao longe, brilhando sob um sol vermelho, um piscar de olhos depois e uivos, explosões de mana, monstros caindo sob uma onda de feitiços…
A dor vazou pelo estado de torpor e recuperei a consciência, percebendo que Cecília estava marchando rapidamente pelos corredores do Taegrin Caelum. O que aconteceu?
— Você está acordada de novo — respondeu Cecilia. — Pensei que talvez aquela zona tivesse feito algo. Destruído sua mente. — Havia um toque de alívio em suas palavras que me surpreendeu. — Tive que abrir caminho por várias zonas para escapar das Relictombs, mas conseguimos voltar para a fortaleza. Estou indo me apresentar à Agrona agora.
Fraca, considerei que tipo de provações horríveis as Relictombs devem ter conjurado para alguém com a força de Cecilia. Considerando a forma como ela mancava e suas várias feridas que ainda cicatrizavam, sua luta era clara.
A tensão de Cecília aumentou a cada passo enquanto nos apressávamos pela fortaleza em direção à ala privada de Agrona. As portas estavam abertas quando chegamos. Eu podia sentir a presença de Agrona emanando das profundezas de seus aposentos particulares, e Cecilia seguiu aquela aura como um farol.
Nós o encontramos esperando em uma das muitas varandas com vista para um dos pátios centrais da extensa fortaleza montanhosa. Ele dramatizou enquanto lia um pergaminho que havia estendido à sua frente, sem nos notar imediatamente. Um minuto passou, depois dois, e Cecília quase passou mal enquanto esperava ser reconhecida, parada dentro da moldura das portas de vidro abertas para a varanda.
Finalmente, Agrona enrolou o pergaminho antes de jogá-lo sobre o corrimão intricado. Ele pegou fogo enquanto caía, fumegando em cinzas e fumaça. Só então ele se virou. Um fogo escuro ardente em seus olhos, e sua linguagem corporal e expressão eram ambas rígidas.
— Cecília. Você voltou. Espero que com uma história excepcionalmente interessante para contar —, sua voz em um barítono ameaçador.
Falando com pressa, Cecilia começou a explicar o que havia acontecido. Divagou, falando muito rápido, mas sem detalhes suficientes, relembrando sua jornada para fora da Clareira das Bestas e sua batalha contra os asuras e, em seguida, dando uma explicação imprecisa sobre a armadilha em que nos encontramos. Ela continuava voltando a detalhes que havia omitido anteriormente, tornando sua explicação difícil até mesmo para mim, que estava lá, acompanhar.
Agrona não desviou os olhos de nós nem por um instante, e quanto mais Cecilia falava, mais agitada ficava sua aura.
— Sinto muito — finalizou Cecilia, ajoelhando-se e se curvando na frente de Agrona. — Por favor, me perdoe, Alto Soberano. Cometi um terrível erro de julgamento.
Assisti, da prisão do meu próprio corpo, quando Agrona se aproximou. Quando falou, havia um toque mordaz de sarcasmo mal disfarçado, repleto de decepção.
— Eu superestimei sua maturidade, Cecilia. Se isso tivesse sido um teste, diria que você falhou espetacularmente. — Sua mandíbula se moveu silenciosamente por um momento. — E ainda assim, talvez eu tenha subestimado a forma como Arthur Leywin afeta aqueles ao seu redor, incluindo você. — Havia ondas de calor semelhantes a ondulações no ar ao redor de Agrona. — Não é a força pessoal do homem que muda o equilíbrio de poder. É a maneira como o mundo reage a ele.
Agrona sacudiu a cabeça um pouco e percebi que, por mais irritado que estivesse, parte disso estava voltada para si mesmo.
— Vejo meu erro claramente agora. Felizmente, os dragões continuam se alinhando exatamente como esperado, então posso me dar ao luxo de dedicar mais recursos para localizar Arthur. O que você me disse se alinha com todos os relatórios que recebi; Arthur foi muito minucioso em sua tentativa de evitar minhas contramedidas, mas o tempo para brincadeiras e experimentações acabou. Neste ponto, não há outra escolha senão cuidar das coisas pessoalmente.
Cecilia se levantou suavemente, mas tremendo enquanto seguíamos Agrona, que nos conduziu até o relicário que Cecilia havia visitado anteriormente.
— O que ele quer dizer com cuidar das coisas pessoalmente? — perguntei, mas a pergunta ressoou sem resposta em Cecília, cujos próprios pensamentos agitados eram uma confusão caótica.
Agrona nos levou por um caminho sinuoso pelos corredores do relicário até uma porta que era diferente de todas as outras. Poderosos encantamentos emanavam dela, e a superfície de metal cinza escuro estava coberta por padrões geométricos, que, ao serem examinados de perto, revelavam ser fileira após fileira de runas pequenas e apertadas.
Um cristal negro estava fixado na parede ao lado da porta por um suporte de bronze. Agrona colocou a mão no cristal e ele brilhou com uma luz branca através do negro. Várias fechaduras destrancaram e a porta se abriu sozinha.
A sala além era maior do que aquelas que Cecília havia olhado antes, incluindo o quarto onde havia descoberto a estranha mesa coberta de runas. As paredes internas cintilavam com uma barreira de mana que envolvia toda a câmara. Um grande pedestal dominava o chão, quase enchendo a sala, mas era ainda maior devido a uma série de anéis de pedra brilhantes que giravam suavemente ao redor do pedestal, de alguma forma sem se chocar. Runas indecifráveis cobriam tanto o pedestal quanto os anéis.
Acima do pedestal, no meio dos anéis de pedra, havia um cristal de cor lavanda brilhante que pulsava levemente quando entramos.
— Cecilia, conheça Ji-ae — disse Agrona, estendendo um braço em direção ao artefato.
Cecilia caminhou lentamente ao redor da plataforma, com o cuidado de ficar fora do arco dos aneis giratórios.
— O que é isso? Ele disse isso como se isso fosse um…
O cristal pulsou mais forte e uma voz feminina rica com um sotaque estranho vibrou sem fonte no ar.
— É um prazer conhecê-la, Legado. Sua presença aqui é a culminação de muitas vidas djinns de estudos teórico etéreos. Realmente incrível. — A voz cresceu com entusiasmo enquanto falava, quase transbordando no final.
O que isso significa? Eu me perguntava, mas Cecilia ignorou ou não percebeu meus pensamentos. Sua mente só havia ficado mais nublada e confusa.
— Ji-ae, seus níveis de energia se estabilizaram após a breve interrupção das Relictombs? — perguntou Agrona, falando com o cristal como se fosse um companheiro de confiança.
— Eu ainda estou me recuperando, infelizmente — respondeu a voz. Como se para demonstrar esse fato, o cristal tremeluziu fracamente. — Acredito que levará mais uns doze dias para reabastecer completamente minhas reservas de armazenamento etéreo e retornar aos níveis operacionais normais, Agrona.
Cecilia parou de andar e agora estava encarando os anéis giratórios na direção de Agrona, que estava encostado em uma parede e mexia distraído em um dos ornamentos pendurados em seus chifres.
— O que é isso? — A expressão de Agrona era ilegível, mas ele manteve os olhos no cristal ao dizer: — Ji-ae era uma djinn; genial, mesmo entre seu povo. Sua mente foi armazenada neste dispositivo, que estava conectado ao primeiro nível dos Relictombs como uma espécie de índice de todo o conhecimento que estava dentro dela.
O quê? Eu pensei. Ao mesmo tempo, Cecilia perguntou:
— O quê?
Agrona ergueu uma sobrancelha enquanto observava Cecilia, fazendo-a recuar.
— Nunca a mostrei para ninguém antes. Na verdade, nunca contei a ninguém sobre a existência dela. Você é a primeira e única pessoa a quem vou contar.
— Por quê? — perguntou Cecilia.
— Porque preciso que você entenda — respondeu Agrona com firmeza. Ainda assim, havia uma suavidade em seu olhar que não se encaixava. Aquilo era… tristeza? Mágoa? — Sinto isso, Cecil. A tensão que vem crescendo entre nós. A desconfiança. A gravidade de Grey atrai você. A pequena voz em seu ouvido manipula você. Até a fraqueza de Nico infecta você, fazendo você duvidar de si mesma e, por extensão, de mim. Depois de tudo, o que mais dói é que você ainda escolheu não confiar em mim quando desobedeceu uma ordem direta e abandonou seu posto e seus soldados.
Cecilia engoliu em seco, uma tremedeira existencial percorrendo sua espinha até os pés.
Eu queria entrar em contato com ela, apoiá-la e fazê-la entender que ele a estava manipulando… mas quando ela olhou nos olhos dele, não pude deixar de me perguntar. A emoção que ele sentiu foi genuína? Uma rachadura no escudo de Agrona ou uma fachada habilmente interpretada de raiva e mágoa?
Percebendo minha atenção voltada para ela, Cecilia antecipou qualquer argumento que eu pudesse ter feito, pensando:
— Não. Deixe-me pensar por mim mesma, Tessia. Por favor, apenas… não.
Considerei a promessa que ela me fez, pensando se poderia obrigá-la a ouvir, mas soube instantaneamente que não conseguiria expressar em palavras o medo e a desconfiança em meu coração. Eu só a afastaria se pressionasse demais aqui. Mordi minha língua metafísica, me aprofundando em mim mesma e observando cuidadosamente a situação se desenrolar.
— Continue — disse Cecilia, caminhando rigidamente de volta pela plataforma para poder ver Agrona com clareza.
— Ji-ae aqui me ensinou muito — continuou Agrona, sua voz suave. — O mistério dos feitiços dos djinn, a presença das ruínas, até mesmo a reencarnação. Embora tenha sido minha genialidade que permitiu a implementação do conhecimento armazenado dos djinn, foi Ji-ae compartilhando essas informações que me permitiu trazer você e Nico de volta à vida neste mundo.
Cecilia esperou, sua mente se fixando em uma pergunta específica que ela queria que ele respondesse, mas não se atreveu a perguntar.
Agrona se afastou da parede e se aproximou de Cecilia.
— E com esse mesmo conhecimento de djinn, ela é a razão pela qual eu poderei mandá-la para uma nova vida, assim como você deseja. — Seus olhos estreitaram, e sua postura se endureceu. — Quando nosso trabalho juntos estiver concluído, é claro.
A mandíbula de Cecilia funcionava para frente e para trás enquanto reunia coragem para perguntar. Eu resisti ao impulso de incentivá-la.
— E depois da minha integração? Aqueles magos, as runas e a mesa… não eram só para garantir que eu sobrevivesse, eram?
— Não — respondeu Agrona de forma simples. — Seris desencadeou a Integração muito rapidamente, e era possível que este corpo élfico frágil não fosse forte o suficiente para lidar com isso. Então preparei a capacidade de transferir alguma parte do potencial do Legado para mim mesmo. — Ele encontrou os olhos de Cecília com firmeza. — É uma guerra. No caso de algo acontecer com você, eu não poderia, de boa consciência, deixar de preparar uma medida de segurança, ou várias, até.
Os dentes de Cecília rangeram, mas pude sentir suas palavras a persuadindo.
Agrona pareceu rolar uma palavra não dita em sua boca antes de voltar subitamente para o artefato djinn.
— Ji-ae. Preciso encontrar Arthur Leywin. Ele esteve nas Relictombs e visitou as outras ruínas. Ele projetará um forte sinal de éter e tem várias formas de feitiço. Não deveria ser difícil rastreá-lo com tantos do meu povo em Dicathen para lançar a rede.
— Não tenho certeza se tenho energia suficiente, Agrona, mas vou tentar — disse a voz feminina, emanando do ar ao nosso redor.
— Lançar a rede? — Cecilia repetiu, sua atenção voltando-se lentamente para o cristal brilhante e os anéis giratórios.
Agrona deu a ela um sorriso de satisfação, diminuindo a tensão anterior.
— Parte da função das runas que desenvolvi a partir dos antigos feitiços dos djinn, as runas impressas em cada mago alacryano, é fornecer um ponto a partir do qual Ji-ae possa coletar informações.
Cecília piscou com reverência silenciosa.
— É por isso que invadiu Dicathen ao custo de tantas vidas alacryanas? Para expandir essa rede por meio dos soldados?
— Eu disse que precisava de olhos no chão lá — disse Agrona casualmente. — Simplesmente não disse por quais olhos eu estava realmente olhando.
Parecendo entender, Cecilia rapidamente citou todos os locais onde havia sentido a assinatura etérea de Arthur.
— Precisarei procurar um local por vez — disse Ji-ae se desculpando. — Eu simplesmente não consigo gerenciar uma busca mais ampla de uma só vez. — Então, depois de alguns momentos, — A assinatura vinda sob o refúgio antigo dos djinn… me perdoe, o nome do assentamento não parece estar contido em minha memória. A assinatura vinda do deserto da nação dicathiana de Darv definitivamente não é Arthur Leywin, embora, pelo que você disse, certamente tenha sido criada por ele.
Uma imagem da câmara onde Cecília havia lutado contra o asura apareceu em meus pensamentos, focando em uma esfera em forma de ovo de energia ametista.
Um por um, Ji-ae repetiu o processo para cada um dos locais onde Arthur poderia estar. Eu temia cada um deles, então sentia um alívio repentino, mas curto, quando se provava que não era ele antes de ela passar rapidamente para o próximo. Todo o processo levou vários minutos.
— A densidade de sinais capazes de alcançar o local indicado dentro dos escombros da nação élfica de Elenoir é bastante limitada. Com base no que posso sentir, no entanto, calcularia que há… noventa e cinco por cento de chance de que Arthur Leywin não esteja neste local.
O rosto de Agrona se contraiu em um leve franzir de sobrancelhas enquanto Cecília se remexia.
— Esperto, Arthur. Então, todos os seus esconderijos são falsos, e sua assinatura real estava tão bem escondida que enganou até mesmo o Legado. — Agrona riu. — Essa foi uma jogada audaciosa para alguém que afirma valorizar tanto a vida de seus amigos e família. Ok, Ji-ae, concentre-se exatamente nos lugares onde Arthur não tentou chamar a atenção. O que ele está tentando nos impedir de ver?
— Claro, Agrona. Isso pode levar um momento.
Agrona e Cecilia esperaram em silêncio.
Um mapa surgiu repentinamente em minha mente, seguido pela voz desencarnada.
— Estranho. Parece haver uma anomalia etérea presente neste local. — Uma luz vermelha acendeu no mapa em um local próximo às Grandes Montanhas, entre a Clareira das Bestas e o que costumava ser a Floresta de Elshire. — Embora não seja uma fonte de éter, essa anomalia apresenta a mesma assinatura das conjurações usadas para obscurecer a presença física de Arthur Leywin. Com base nas informações às quais tenho acesso no momento, isso carrega todas as características de uma dimensão de bolso conjurada. — O cristal pulsou quando a voz terminou de falar, parecendo orgulhosa de si mesma.
O rosto de Agrona se moldou em um sorriso apertado e predatório.
— Ah, Arthur. Eu deveria ter percebido isso sozinho. Você e eu pensamos tão parecido. — Estendendo a mão, Agrona passou a mão por um dos anéis giratórios, que diminuiu a velocidade para permitir que ele fizesse isso, com a luz lavanda do cristal cintilando. — Muito bem, Ji-ae. Descanse agora. Não vou chamá-la novamente até que você recupere todas as suas forças.
O cristal brilhou.
— Tenha cuidado, Agrona. Mexer com o Destino é… perigoso.
O asura ancião piscou juvenilmente para o cristal brilhante.
— Ah, Ji-ae, sua danadinha.
Seja lá o que estiver fazendo, Arthur, se apresse, implorei, sabendo que ninguém além de mim poderia ouvir.
Agrona abriu a porta e um grito ecoou pelos corredores até chegar a nós. A voz gritava o nome de Cecilia.
Cecilia passou correndo por Agrona, que parou para fechar a porta atrás de nós.
— Nico! — Ela gritou, virando-se duas vezes enquanto tentava descobrir de que direção a voz dele estava vindo. — Estou aqui!
Passos correndo ecoaram pelas paredes do corredor, e Nico virou a esquina, parando de repente. Ele estava com o rosto vermelho e sem fôlego, olhando para ela com alívio e medo.
— Cecilia… eu estava com tanto medo… Disseram que você tinha saído da fenda, o que você está… — Ele parou, lutando para recuperar o fôlego. — O que aconteceu?
Tanto Cecília quanto Nico se enrijeceram quando Agrona os alcançou. Ele assobiou alegremente, desaparecendo toda a pretensão de sua raiva e decepção anteriores.
— Ora ora, Nico, você chegou bem a tempo de voltar para Dicathen conosco. Vamos buscar seu velho amigo, Grey. — As sobrancelhas de Nico caíram e sua boca se abriu, mas Agrona continuou falando. — Sim, de fato o encontramos. E sim, ele está descansando exatamente onde enviei você para procurar, dentro da caverna de Sylvia, a caverna que seu relatório assegurou que estava vazia.
Nico só pareceu mais confuso, seus olhos saltando de Agrona para Cecília como se apenas o olhar dela pudesse responder suas perguntas.
Agrona revirou os olhos.
— Garanto que Cadell teria notado uma dimensão de bolso bem na frente dele, mas você não é o Cadell…
Nico se desanimou, mas Cecilia ficou irritada.
— Agrona…
Agrona tirou as mãos dos bolsos e as ergueu defensivamente.
— Não importa. Este é um momento de celebração! — Ele envolveu um braço ao redor dos ombros de Cecilia e fez o mesmo com Nico do outro lado. — Porque juntos, finalmente vamos matar Arthur Leywin.
Tradução: NERO_SL
Revisão: Crytteck
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