Meu coração tremulava dentro do meu peito, mal ousava bater enquanto buscava a mana necessária para lançar um feitiço. Não precisava ser complicado, nem mesmo forte. Um jato de água, condensado para explodir como um fogo-de-artifício seria o suficiente para chamar a atenção dos dragões. Se voassem para longe…
Mesmo que não pudesse sentir sua intenção manifestada, sabia que o monstro chamado Raest estava a apenas uma dúzia de metros de distância. Ele vai sentir o que estou fazendo, pensei sem esperança. Não tinha como esconder o feitiço de alguém tão poderoso quanto ele… mesmo que suprimisse minha mana, ele veria através de mim. Apesar de seu braço perdido e pele rachada, ele podia atravessar a distância e quebrar meu pescoço sem revelar nem mesmo um tiquinho de sua mana.
Embora não estivesse olhando para ele, podia sentir o corpo sem vida de Jarrod ao meu lado e sabia que não importava se Raest conseguisse me alcançar. Não se eu pudesse disparar o feitiço primeiro…
Pulei de susto enquanto o ar crepitava de poder, e uma voz como um trovão brotava pela encosta da montanha.
— Agentes de Agrona — disse a voz, ressoando como se projetada por cada pedra nua. — Sabemos que estão aqui, as chamadas Assombrações, e que vocês têm o Soberano Oludari do clã Vritra. O Guardião Charon Indrath está oferecendo-lhes esta oportunidade de se entregar à nossa autoridade e libertar seu prisioneiro para nós.
O dragão negro varreu para baixo, voando por nossa caravana de vagões ao lado da estrada, seus olhos amarelos brilhantes nos vasculhando em busca das Assombrações escondidas. O vento de sua passagem fez meu cabelo voar para trás, e sua aura a uma distância tão próxima roubou meu fôlego. O feitiço que estava tentando furtivamente formar morreu na ponta dos meus dedos.
O espanto e o alívio me dominaram. Encostei-me ao corpo de Jarrod, ainda segurando seu braço com uma das mãos e chorei silenciosamente.
— Considere-se afortunado, dragão — respondeu a voz áspera e agridoce de Perhata. Suas palavras eram desencarnadas, emanando de todos os lugares e de lugar nenhum ao mesmo tempo, não dando nenhuma pista de sua localização física. — Não estamos aqui por vocês, não hoje, mas isso não nos impedirá de entregar suas asas à Agrona se vocês interferirem.
O dragão negro rodou lá em cima, reunindo-se com os dois dragões brancos, suas asas batendo lentamente para manter seus enormes corpos no ar.
— Não seja ridícula — respondeu, com o tom cheio de incredulidade. — Seu voo acabou, sua incursão em Dicathen falhou. Não podem mais correr, nem se esconder de nós. Vocês insultam a si mesmos por não aceitarem a realidade.
Alguém mais acima da caravana aplaudiu, exaltando-se na presença dos dragões. Várias pessoas rapidamente se juntaram a eles, e meu alívio assumiu um tom de medo. Calem-se, implorei, não querendo que chamassem a atenção para si mesmos.
O riso desencarnado de Perhata ecoou pela encosta da montanha, abafando todos os outros ruídos.
— Você ainda não mencionou que mantemos não só um refém, mas algumas centenas, né? Fui treinada desde o nascimento para matar sua espécie, asura, mas saiba que, no processo de lutar essa batalha perdida, você estaria condenando todas essas pessoas, as mesmas que você diz proteger, a uma morte terrível. Você sabe tão bem quanto eu que, se esta montanha se tornar um campo de batalha, não pode salvá-los, nem mesmo de seus próprios poderes.
Engoli com força, meus olhos inchados instintivamente rastreando os vagões e carroças próximas e os rostos daqueles que andavam neles.
O dragão ficou em silêncio por apenas uma batida antes de responder.
— Vocês são covardes. Podem dizer que são nossos iguais o quanto quiserem, mas o fato de se esconderem atrás de menores não magos para se salvarem nos diz tudo o que precisamos saber. — Ele torceu seu pescoço longo, dando aos outros dois dragões um olhar significativo.
Como que reagindo a um comando, ambos desceram, transformando-se ao fazê-lo. As escamas brancas reluzentes se fundiram e formaram armaduras de placas brilhantes, as feições reptilianas se achatando e se tornando humanoides. No momento em que seus pés tocaram o chão, ambos os dragões usavam as formas de mulheres severas, mas bonitas, longos cabelos loiros escorrendo pelas costas por baixo de capacetes de escamas. Cada uma trazia os mesmos grande escudo e lança longa.
— Viram como são impiedosos os teus salvadores? — A voz de Perhata escorria do ar. — Estávamos preparados para deixá-los viver, desejando apenas o retorno de um dos nossos, mas esses asuras pensam em vocês apenas como um rebanho de wogarts a serem cuidados e mantidos. Se alguns aqui e ali precisarem ser abatidos para o bem do rebanho, porém, eles não hesitarão. Todos vocês deveriam ter se curvado ao Alto Soberano Agrona quando tiveram a chance.
As duas mulheres asuras pousaram em um afloramento plano acima da caravana. Permaneceram lá apenas por um momento, vasculhando os vagões abaixo, antes que uma delas saltasse, esculpindo um arco gracioso pelo ar e pousando leve como uma pena perto do final da caravana, apenas alguns vagões abaixo de onde me ajoelhei, e de onde a Assombração Raest se escondia.
— Embora improvável, se algum de vocês conseguir sobreviver a isso, conte a seus parentes — continuou Perhata, suas palavras como uma intrusão que não poderia bloquear ou escapar. — Compartilhem com todos que encontrar a crueldade do clã Indrath e a bondade dos Vritra.
Bruxa mentirosa e manipuladora, pensei amargamente, mas, ao mesmo tempo, sabia que ela estava certa sobre a disposição dos dragões de nos sacrificar. Apertando meus olhos com força, pressionei para fora contra meu desespero até que meus ouvidos chiaram e meu rosto ficou vermelho. Esses refugiados, a maioria mulheres e crianças, precisam de mim para ter esperança, para se importar se vivem ou morrem. Porque posso ser a única aqui que que se importa.
Minha mente foi inexplicavelmente para Kacheri, a garotinha que desapareceu em um instante sob um feitiço, dano colateral enquanto as Assombrações exterminavam nossos magos e guardas.
Não consegui salvá-la. E sabia que também não seria capaz de salvar todo mundo que agora se encolhia de medo nesta montanha. Meu olhar se arrastou para Jarrod. Meus dedos deslizaram de sua carne estranhamente imóvel, depois se enrolaram em punhos brancos. Uma. Basta ajudar uma pessoa. É só isso.
A mulher se aproximava, caminhando pelo interior das carroças enquanto as revistava uma a uma. Os homens, mulheres e crianças que os ocupavam pareciam congelados e ligeiramente irreais, como figuras borradas ao fundo de uma pintura. Seus olhos acompanhavam o progresso da asura, mas permaneciam enervantemente quietos.
Raest estava sempre se deslocando lentamente ao redor da carroça enquanto a asura se aproximava. Mesmo sabendo que ele estava lá e podendo vê-lo com meus próprios olhos, minha atenção queria escapar dele, olhar para qualquer outro lugar.
Minha respiração parou quando a Assombração e a asura manobraram para lados opostos do mesmo vagão, os passos de Raest caindo no mesmo tempo que as do dragão para esconder até mesmo o som silencioso de sua lenta movimentação. Tudo parecia estar acontecendo tão lentamente. Onde estão as outras Assombrações? O segundo dragão? O que estão esperando?
De repente, a longa lança esculpiu para baixo, deixando um crescente prateado borrado em seu rastro.
A arma quebrou a carroça pesada, enviando cacos de madeira quebrada e pertences pessoais voando em todas as direções. Na frente da carroça, um homem e uma mulher foram empurrados como se tivessem sido disparados de uma catapulta, tão repentina e violenta que nem tiveram chance de gritar.
Do outro lado do carrinho, Raest se jogou para o lado, tão rápido que mal conseguia ver seus movimentos, e ainda assim não foi rápido o suficiente. A lança longa cortou a lateral de sua perna com um spray de sangue, enquanto ele expirava uma nuvem de veneno verde nocivo.
Conjurando um orbe de água, peguei o par de fazendeiros que haviam sido jogados do vagão, mas não havia nada que pudesse fazer, pois seus dois auroques foram inundados pela nuvem, que dissolveu tanto o longo pelo desgrenhado quanto a carne abaixo, de modo que seus ossos esburacados espirraram na lama abaixo deles.
A luz prateada irradiava para fora do escudo da dragão, envolvendo-a em uma barreira móvel que repelia a neblina, mas a nuvem estava se espalhando rapidamente.
— Corra! — gritei mesmo enquanto voltava para a névoa em expansão.
Em um momento de hesitação, alcancei o braço de Jarrod, pensando descontroladamente que poderia salvar seu corpo para um enterro adequado.
Aquele momento de hesitação quase me custou a vida.
Enquanto diminuía a velocidade e minha mão se estendia, a névoa me pegava, escorrendo em torno dos meus dedos. Eu já estava me mexendo novamente, me jogando para longe, antes de registrar a dor. A pele da minha mão direita rachou e surgiram bolhas em um instante, manchas inteiras se desprendendo como pele de cobra derramada enquanto derretia.
Suprimindo um grito, segurei o membro ferido contra meu estômago e corri para longe, sem sequer ter a chance de honrar o sacrifício de Jarrod observando como a fumaça consumia sua carne.
Os dois fazendeiros e eu passamos pelo próximo vagão na fila, assim como as grandes feras de mana felina que o puxavam se afastaram do barulho e da mana esvoaçante, bufando enquanto pulavam da estrada e tentavam descer a montanha em pânico. Talvez eles pudessem, se não fosse a carroça conectada ao seu arreio, que caiu em cima deles, bestas de mana e cavaleiros desaparecendo nos destroços.
Então, o barulho me atingiu. Primeiro foram os gritos altos, depois a explosão de fogo mais acima da caravana. Todas as bestas de mana tornaram piores, aterrorizadas, sem sentido e estridentes o suficiente em seu uivo de pânico para cortar o resto.
Ainda correndo, olhei por cima do ombro para a luta.
Além da espessa nuvem verde, podia ver apenas as sombras de outros correndo pela estrada da montanha, abandonando seus vagões e carroças.
O escudo da asura continuou a repelir os feitiços enquanto as Assombrações lançavam ataque atrás de ataque, golpeando o feitiço de prata com picos condensados de magia suja e venenosa.
A longa lança empurrou para fora, mas, ao mesmo tempo, toda a estrada caiu.
O movimento repentino e chocante desequilibrou a asura, e o impulso foi largo, então não vi mais nada enquanto tombava para frente, o chão sólido que eu estava atravessando desaparecendo por baixo de mim.
Aterrissei com força, batendo para frente nos cotovelos e na lateral do rosto. Expirei em agonia enquanto sujeira e cascalho penetravam na carne arruinada da minha mão, e teria gritado se algo pesado não tivesse caído em mim um segundo depois. Mesmo quando me virei para ver o homem em pânico que eu havia salvo saindo de cima de mim, uma pedra tão grande quanto ele caiu na estrada ao nosso lado, quicou e o atingiu diretamente, não me acertando por centímetros. A pedra e o homem rolaram pela borda da estrada e desapareceram na nuvem de poeira que agora obscurecia tudo em todas as direções.
Sem saber o que tinha acontecido, fiquei olhando de costas. Uma pequena carruagem ao meu lado foi derrubada. Uma grande besta de mana lupina rosnava e rasgava as tiras de couro que a ligavam aos destroços na tentativa de se libertar. Não havia sinal do motorista.
Os gritos de uma mulher me chamaram a atenção. Era a mulher do homem morto. Ela estava rastejando em direção à beira da estrada, repetindo um nome que eu não conseguia entender através do zumbido no meu crânio.
— Parem, não se aproximem da…
Uma súbita rajada de vento afastou a poeira por trinta metros em todas as direções, revelando Raest, preso ao chão com uma lança longa de dragão atravessando seu peito. Seu único braço restante estava segurando a lança enquanto ele olhava surpreso para a asura.
A montanha tremeu com a força do golpe e a beira da estrada desmoronou ainda mais.
O grito da mulher se transformou em um grito quando a rocha cedeu sob ela, puxando-a para o vazio sufocante de poeira. O grito cortou um segundo depois, quando ouvi o impacto molhado de seu corpo batendo na rocha e caindo pela encosta íngreme.
O chão tremeu novamente, percebi que toda a montanha estava tremendo. Pedras estavam caindo de cima e saltando sobre o caminho, trechos inteiros da estrada estavam cedendo e se desabando pela encosta da montanha.
Levante-se, disse a mim mesma, buscando forças para isso. Você tem que continuar…
Tremendo violentamente, usei minha mão ferida para me empurrar de pé, depois congelei quando percebi que a asura estava caminhando em minha direção. Ao seu redor, os destroços de sua breve batalha contra a Assombração pintaram um retrato terrível. Os cabelos de meus braços e pescoço se arrepiaram enquanto seus olhos amarelos brilhantes se moviam diretamente através de mim.
— Você deveria nos proteger — disse, minha voz um suspiro ofegante, sem pensar no que estava dizendo. — Nos ajude!
Ela mal percebeu, seu olhar de busca patinava sobre mim enquanto passava, deixando os poucos sobreviventes dos veículos ao redor à própria sorte.
Não havia muitos, apenas aqueles cujas bestas de mana haviam permanecido sob seu controle ou que haviam abandonado seus veículos. Eu ainda podia ouvir os sons da batalha de mais longe, mas a asura se movia com propósito e sem pressa, seu olhar seguro e confiante.
Outro sobrevivente me agarrou e, de repente, estava sendo arrastada mesmo quando a estrada tremia e ameaçava ceder sob nossos pés. Por cima do meu ombro, porém, estava observando a dragão.
Rangendo os dentes, me livrei das mãos que me seguravam. Reconheci rostos, mas os nomes escaparam dos meus pensamentos confusos. Perguntas, súplicas, mas muito medo para me forçar ou para ficar de pé e esperar. Porque, mesmo quando os sobreviventes correram de cabeça pela estrada e longe do campo de batalha, eu me virei e segui a asura.
Ela deve ter me sentido, porque olhou para trás.
— Vá. Não serei responsável por você, e não há nada que um de vocês possa fazer aqui.
Enxuguei sangue dos meus olhos enquanto continuava tropeçando atrás dela.
— Eu sou responsável por aquelas pessoas. Preciso ajudar quem puder. Não para lutar, apenas…
Ela deu de ombros.
— Você é livre para escolher sua própria morte.
Seus passos firmes a levaram à minha frente, enquanto eu corria para tentar alcançar uma carroça esmagada que ela passou sem nem olhar. Cada passo destoante era pura tortura para minha mão. Conjurando uma espécie de manopla de água fria para aliviar a carne, mantive firmemente a dor fora da minha mente, ou tentei, pelo menos.
Ao lado da carroça que havia sido aberta como um ovo quando a estrada desabou, uma mulher mais velha estava deitada com um homem puxado para o colo. Lágrimas escorriam pelas rugas de seu rosto envelhecido e, por um momento, temi que o velho estivesse morto. Quando me aproximei, sua mão acariciou a dela, e percebi que ele estava falando, mas as palavras eram suaves demais para eu ouvir.
Atrás da carreta quebrada dos idosos, outro homem, de pele profundamente bronzeada, tentava levar sua família à beira da estrada e descer a inclinação íngreme.
— Ei — gritei em voz alta, acenando com minha mão ilesa para chamar sua atenção. — Tem mais gente aqui, eles precisam…
O homem olhou para mim, balançou a cabeça e começou a descer atrás de sua família.
Respirando firme e tentando não culpar o homem, me ajoelhei ao lado dos idosos.
— Deixa para lá. Deixe-me ajudá-los, precisamos nos mover…
— Ele não consegue andar — disse a idosa sem rodeios. — Dei mal jeito nas costas. Acho que algo quebrou quando a estrada saltou…
Vacilei quando a mana estourou em algum lugar à nossa frente, sacudindo o chão novamente. Tinha medo que a montanha desabasse ao nosso redor.
— Talvez suas bestas de mana — interrompi-me, percebendo que o boi lunar ligado à carroça estava deitado num ângulo não natural em seu arreio, tendo sido atingido por uma grande pedra. — Mais alguém então, são tantos…
A mulher estava me olhando com uma combinação tão dolorosa de apreço, compreensão e aceitação que não pude continuar.
— Não vamos sair dessa, querida — disse ela, com as lágrimas agora secas. — Mas você pode. E não vá tentar nada bobo. Prefiro não sair dessa vida sabendo que tem sangue nas minhas mãos, entendeu?
Balancei a cabeça com veemência.
— Sou uma maga, posso… — Desisti, mordendo meu lábio inferior com força suficiente para tirar sangue. Não queria admitir, nem para mim mesma, mas sabia que não havia nada que pudesse fazer por eles.
A velha tentou me dar um olhar feroz e determinado, mas não conseguiu. Em vez disso, ela desviou o olhar, inclinou-se e beijou o marido na testa.
Você é livre para escolher sua própria morte, as palavras da dragão ecoaram em minha cabeça, acompanhadas pelo sabor do sangue.
Passos em velocidade estavam se aproximando, então me levantei, dando-lhes uma pequena reverência enquanto me preparava para abordar mais sobreviventes.
A encosta atrás de mim se despedaçou em uma explosão de mana. Um caco de pedra cortou o ar tão perto que senti meu cabelo se mover com sua passagem e fui empurrada, caindo de novo e batendo minha mão ferida com força no chão.
Um dos aventureiros, um rapaz tranquilo e mais novo do que eu, acabara de aparecer da espessa parede de poeira, correndo o mais rápido que podia pelo caminho traiçoeiro, alguns outros atrás dele. A força da explosão tirou seus corpos do chão, um spray de estilhaços de pedra rasgando-os em frangalhos.
Olhei para os corpos, minha respiração vindo cada vez mais rápido. O que devo fazer?
Uma pequena figura se moveu, confusa e gemendo de dor. Corri para a frente e peguei um garotinho em meus braços. Seu rosto estava coberto de poeira e sangue, ele se afastou do meu toque enquanto eu pressionava seu ombro, que pensei que poderia estar deslocado. Seus olhos se moveram para mim, suas sobrancelhas finas se apertando, mas sua expressão estava vaga.
Eu podia reconhecer os sinais de choque bem o suficiente, mas minha própria mente era um borrão desordenado. De pé, virei-me em um círculo lento, procurando uma maneira de ajudar aquela pobre criança.
À nossa frente, uma carreta larga e plana capotou, bloqueando minha visão da estrada. Quando explodiu, pulei com tanta força que quase deixei a criança escapar das minhas mãos. Fiquei tão assustada que mal registrei a figura quebrando o carrinho, passando alguns metros à minha frente e batendo no chão.
O impacto sacudiu a montanha e a estrada sob meus pés deslizou.
Ofegante, meio corri e meio saltei pela rocha deslizante e pela terra, lutando por terra firme. Por um momento, todos os outros sons se perderam sob toneladas de rocha caindo pela encosta da montanha. Sem saber mais o que fazer, joguei-me atrás da carroça do casal de idosos, que milagrosamente havia permanecido na estrada.
Meu estômago virou quando a figura se levantou da cratera, uma lâmina perversa de gelo negro em cada mão. Varg, lembrei, a Assombração que havia discutido com Perhata. Cascalho amassou atrás de mim, então me virei: a asura. Ela avançou com seu escudo para frente, a lança longa estendida por cima.
— Você se deu ao trabalho de se esconder entre esse povo apenas por um arranhão? — perguntou a dragão, notei o corte raso sob seu olho, pouco mais do que uma linha vermelha desenhada em sua pele pálida. — Se você é o melhor que Agrona conseguiu em todos esses anos, fico imaginando quanto essa guerra vai durar.
Varg não se incomodou em dar uma resposta, mas voou para cima, mantendo-se bem longe do solo. A dragão não se incomodou, é claro, levantando-se e flutuando no vazio empoeirado atrás dela.
Quando ela o fez, olhei mais de perto para o rosto dela, sua ferida. Havia algo de errado com ela. As gavinhas verdes se expandiam para fora do corte, descolorindo a carne ao seu redor.
Movendo-se com uma velocidade tão grande que não podia acompanhar, ela atravessou o espaço entre eles num flash, sua lança longa como um borrão no ar enquanto ela atacava com vários golpes entrelaçados. A Assombração não tentou lutar, em vez disso, recuou e se esquivou para que seus golpes sempre falhassem por pouco. A velocidade do duelo levantou um vento que empurrou a poeira para trás, apertei os olhos na borda da nuvem. Debaixo delas, nada mais do que uma silhueta, uma segunda figura esperava, escondida.
O garoto gemeu em meus braços, eu me encolhi e o segurei com força, minha atenção travada na luta que se desenrolava diante de mim.
Cada um dos ataques da dragão vinha mais rápido do que o anterior, linhas de luz prateada seguindo cada movimento e colunas de gelo negro se formavam para desviar os golpes ou diminuir sua força, mas Varg estava começando a parecer tenso, seu rosto uma máscara de concentração terrível.
Houve outro tremor e, com uma descarga de medo, corri pela estrada, abrindo caminho entre os destroços. Não me atrevi a olhar para trás para ver se os idosos ainda estavam deitados na terra ao lado da carroça.
Minha visão vacilava e minhas articulações doíam a cada movimento que fazia, o peso do menino só aumentava a dor. Um corte no meu lado que não me lembrava de ter recebido sangrava livremente, enquanto a dor agonizante da minha mão ajudava a diminuir a dor do resto dos meus ferimentos.
Uma enorme sombra cortou o brilho difuso do sol, tornando embaçado e alaranjado pela poeira que subia da encosta da montanha. Um feixe de mana pura dividiu o céu, tão brilhante que tive que parar e desviar o olhar. Quando pude começar a me mover novamente, o dragão negro estava se afastando novamente, cinco figuras se aproximando dele, feitiços golpeando coordenados como as engrenagens de um relógio.
Vagão após vagão deixados vazios e abandonados. Algumas bestas de mana jaziam mortas, outras haviam se livrado de seus acessórios e fugido. Espalhados pela devastação estavam dezenas de corpos.
Verifiquei rapidamente cada um, procurando por sobreviventes, mas só encontrando cadáveres.
— Uma, apenas uma — murmurei para mim mesma, minha busca se tornando cada vez mais desesperada. Então, quando minha sombra atravessou o rosto de uma mulher blindada, seus olhos piscaram e ela me encarou.
Eu ofeguei, estendendo a mão apenas para puxar para trás quando vi a estaca se projetando do lado de sua armadura, a madeira a tendo atingido com força suficiente para torcer o aço.
Derrubando a criança em silêncio, agarrei-me à estaca.
— Isso vai — empurrei para cima, sem saber se a força da minha mão ferida seria suficiente —, doer muito!
A mulher engasgou com a dor súbita, mas o pedaço de madeira se soltou. Joguei-o de lado, depois conjurei um feitiço para limpar a ferida de sujeira. Retirando curativos limpos do meu anel dimensional, fiz o meu melhor para parar o sangramento, depois dei um passo para trás. Àquela altura, a criança começou a choramingar e, embora meu corpo gritasse em protesto, a peguei de volta.
A mulher gemeu enquanto se levantava, então conjurou pedra ao redor da seção danificada de sua armadura.
— Obrigada.
— Claro, estou feliz em…
Uma súbita explosão sonora estourou minha orelha direita e eu tremi, desequilibrada. A criança soltou um grito e a aventureira ao meu lado estremeceu e segurou a ferida coberta de pedra.
Olhando para o vazio empoeirado, vi apenas a asura de armadura branca, seus olhos amarelos brilhantes parecendo perfurar a poeira como holofotes enquanto procurava a Assombração, que havia desaparecido. De repente, a dragão recuou e pressionou a parte de trás de seu braço de lança contra o corte em seu rosto, que agora estava meio verde de seja lá qual podridão com a qual a Assombração a havia infectado.
Naquele momento, Varg mergulhou para fora da poeira, uma lâmina cortando de sua direita, a outra empurrando para cima da esquerda.
A dragão não foi pega de surpresa, sua lança cortou pelo ar, quebrando primeiro uma espada, depois esculpindo Varg do ombro à caixa torácica e, finalmente, colidindo com a segunda lâmina, que explodiu em uma nuvem fina e brilhante.
No entanto, do espirro de sangue, uma dúzia de picos de metal negro se lançaram, crescendo rapidamente. A maioria bateu inofensivamente contra o escudo da dragão, um passou de relance à lateral de seu capacete. Outro, porém, perfurou o interior de seu braço de lança, empurrando para dentro e saindo para fora do outro lado, depois se expandindo ainda mais, de modo que, em um piscar de olhos, o braço foi arrancado e enviado em espiral, com sua lança, para as profundezas invisíveis abaixo.
O dragão girou para longe do ataque, seu escudo varrendo como uma lâmina e liberando uma crescente de luz branca, que esculpiu na poeira em um círculo ao seu redor. Eu caí de joelhos, o menino se empurrou com força contra meu peito, bem a tempo do feitiço separar o ar acima de mim antes de bater na face do penhasco e esculpir a pedra sólida como neve macia do inverno.
Algo bateu forte na parte de trás da minha cabeça e o mundo flutuou enquanto a explosão de dor quase me arrancou o fio da consciência em que eu estava pendurada. Tudo o que podia fazer era piscar enquanto pressionava minha cabeça para baixo na parte de trás do meu braço e respirava através da náusea. Fique acordada, pensei. Fique acordada, fique acordada…
Olhando desesperadamente, vi uma carroça próxima e comecei a me arrastar com o menino pelo chão até que estava deitada embaixo dela.
Enquanto rolava e a criança chorava sob meu cotovelo, vi a mulher que acabara de salvar.
Ela estava deitada quase exatamente onde estava quando a encontrei, cortada em duas pelo feitiço da asura.
Fiquei olhando para ela por muito tempo, incapaz de processar o que estava acontecendo ao meu redor. O movimento pegou meus olhos embaçados de dor e observei através das hastes de uma roda de carroça enquanto a segunda mulher dragão de armadura branca voava para a outra. Pareciam quase idênticas, embora uma delas estivesse agora sem um braço e com gavinhas verdes se espalhando de sua bochecha cortada, de modo que quase todo o seu rosto estava com aparência doentia.
Apesar do estrondo da montanha me alertar que esse trecho da estrada poderia desabar a qualquer momento, não conseguia desviar o olhar dos seres divinos. Mesmo tomando a forma de humanos, ainda havia algo de sobrenatural nelas, transcendente, até. Do que será que tais seres estavam falando. Conseguia ver seus lábios se movendo, mas a distância e o barulho eram grandes demais para ouvir.
Estavam se perguntando que tipo de criaturas eram essas Assombrações, para que se sacrifiquem apenas pela chance de feri-las?
Engoli com força. Quanto vale a minha vida para seres como os dragões e as Assombrações? O quão pouco? Para eles, eu sabia que talvez a resposta fosse nada, mas para mim, não conseguia compreender o valor das vidas humanas perdidas naquela batalha. Apenas ajude… mais uma pessoa.
Quando o zumbido em minha cabeça começou a diminuir em um pulso constante, mas doloroso, arrastei meu corpo dolorido para fora de debaixo da carroça e me levantei, dolorosamente pegando o menino assim que as estrelas atrás dos meus olhos desapareceram.
— Vai ficar tudo bem — tranquilizei, falando tanto para mim quanto para a criança.
Duas pessoas estavam à beira de um trecho da estrada que desabou, olhando para o buraco que antes era transitável. Os dois pularam quando me ouviram sair de debaixo da carroça, o homem girou e apontou a ponta de uma espada para mim.
— O caminho caiu — disse com a língua entorpecida e bêbada. Dei uma pequena sacudida na cabeça, que me arrependi instantaneamente quando um raio de dor saiu do nó que crescia na parte de trás do meu crânio. — Desculpe, isso é um pouco óbvio, não é?
— Lady Helstea — disse o homem, baixando a espada. — No abismo, todo mundo está… está…
— Não temos tempo — interrompi, séria, enquanto pensava em Jarrod e na aventureira que acabara de ajudar apenas para vê-la cortada novamente. — Você vai ter que escalar. Agarrem-se ao longo do penhasco ali. Essa borda deve se manter, mas… segurem-se na parede também.
A mulher puxou uma trouxa dos braços até o peito e ela se contorceu e deu um pequeno grito.
Um bebê, percebi. Ela estava carregando um bebê.
Atrás da família, vi o dragão negro varrer de volta, tendo sobrevoado os altos picos. Nenhuma das Assombrações estava à vista.
Olhei para o menino em meus braços, seus olhos desfocados, sua boca aberta com um pouco de baba pingando enquanto me olhava nervosamente.
— Lá embaixo! — Eu disse.
Esforçando-me para canalizar a mana através da névoa ainda atrapalhando meus pensamentos, tive que colocar a criança no chão para me concentrar. Depois de um momento, uma onda se condensou no ar para martelar na carroça onde eu havia me escondido. Já meio quebrado, o leito dela rolou do eixo, vindo a pousar bem na borda da estrada.
— Vão em frente, entrem.
— O-O quê? — perguntou o homem, com o rosto pálido. — Você não espera que… vamos ser esmagados.
A montanha tremeu mais uma vez e, lá em cima, um pico desabou quando um feitiço perdido a atravessou.
— Não vão — garanti —, mas se não saírem daí, essa montanha vai desabar sobre todos nós. — Não esperando uma resposta, ajoelhei-me ao lado da cabine da carroça agora isolada, puxando gentilmente o menino comigo. Sem as rodas e o arnês, o veículo não parecia muito diferente de uma pequena jangada.
Concentrando-me no ponto onde a estrada havia desmoronado, senti a mana atmosférica distante presa dentro da pedra. Não havia o suficiente por si só, mas com a ajuda de um competente conjurador de atributos de água…
Lentamente no início, depois mais rápido, a água começou a borbulhar das rachaduras na pedra. Logo estava jorrando, então finalmente a pedra se abriu, liberando uma inundação que corria pela rampa íngreme criada pelo deslizamento de rocha como um rio correndo. Protuberâncias em forma de tentáculo saíram da água e envolveram o carrinho.
Encontrei o olhar da mulher, depois olhei atentamente para a trouxa se contorcendo em seus braços.
— Posso controlar o fluxo até chegar a um lugar seguro lá embaixo, mas só se você for agora.
Ela olhou para seu bebê por alguns longos segundos, seu rosto pálido como a morte, então deu um passo em direção à carroça quebrada. O homem agarrou seu braço e ela se inclinou para frente e apoiou a cabeça contra o peito dele.
— Que outra escolha temos?
Ele me encarou com olhos crus e ensanguentados.
— Por favor… não nos deixe morrer. Não deixe nosso bebê…
Acenei com a cabeça, toda a minha concentração na enorme quantidade de água que estava tentando controlar. O casal finalmente se levantou no carrinho, sentando no chão e se abraçando entre os dois bancos, com os braços um ao redor do outro e sua preciosa carga.
— E… Eu preciso que vocês cuidem desse pequeno —, eu disse levantando o menino com meu braço bom enquanto minha mão arruinada se estendia na minha frente para ajudar a concentrar o feitiço.
O garoto gritou enquanto eu o colocava na carroça, o homem, apesar do medo, puxou o menino para perto, enrolando os braços em torno de todos.
— Vai ficar tudo bem — garanti à criança enquanto ela começava a chorar, se contorcendo nos braços do homem. — Sinto muito por não ter dito antes, mas eu sou Lilia. Vou te tirar daqui em segurança, tá bom?
O menino ficou muito em choque para processar o que eu estava dizendo, mas o homem entendeu.
— Obrigado, Lilia.
Os tentáculos de água arrastaram a carroça para dentro da pequena cachoeira. Empurrei a água para que puxasse o carrinho para dentro, mantendo-o no centro e evitando que ele simplesmente mergulhasse em desgraça. Ainda assim, a corrente estava rápida e a carroça decolou com uma velocidade tão brusca que a mulher deu um grito curto e agudo. A jangada improvisada oscilou, pegando ar e sendo puxada para fora do curso, mas a mantive na posição com a própria água corrente, então, rapidamente, foi carregada, mas controlada pela encosta íngreme.
Em um instante, eles desapareceram na poeira, que era tão espessa agora que não conseguia ver mais de trinta metros abaixo da encosta da montanha.
A batalha, que por alguns instantes se acalmou, irrompeu novamente em uma onda de fogo negro que se espiralou pelo céu. Não conseguia ter certeza de onde vinha ou quem era o alvo. Um instante depois, houve um clarão de contra-ataque quando o dragão negro varreu do nada, desencadeando um sopro mortal de chamas prateadas. Luz e escuridão dançavam uma contra a outra, engolindo o céu.
Fechando os olhos, coloquei toda a minha mente e energia na própria água, sentindo seu curso, mantendo a jangada enfiada nela. Em algum lugar abaixo, uma bola de fogo atingiu a encosta da montanha. Senti o rio escorrer enquanto os gritos do casal subiam do vale, mas puxei a jangada com força contra a água e segurei com tudo que tinha. Depois de alguns segundos, a água começou a desacelerar e se espalhar. Esse foi o limite da minha força e, com um suspiro, soltei o feitiço. Instantaneamente, o rio diminuiu a velocidade.
Minha pele estava quente. De olhos ainda fechados, virei o rosto para o céu; parecia que um sol de verão estava brilhando sobre mim.
— Só ajudar… mais uma pessoa — sussurrei, com esperança de que a família tivesse conseguido, porque essa esperança era tudo o que eu tinha.
Meus olhos piscaram. O céu não passava de fogo e o calor havia afastado um pouco da poeira. Subindo e descendo a fila de carroças, choviam bolas de fogo. Pedras foram caindo e arrastando trechos inteiros da estrada com elas. O ar estava tão quente que meus pulmões sentiam como se estivessem queimando.
O teto de fogo ondulou, cedendo do centro para fora, as chamas se desembaraçando e depois se espalhando e dividindo. Uma forma escura e humanoide caiu. Mesmo à distância, eu sabia que era uma Assombração, embora não pudesse ter certeza de qual. A enorme cabeça do dragão negro seguiu, aparecendo do centro do vórtice moribundo como se fosse de um portal para o abismo. As mandíbulas se abriram e as Assombrações desapareceram com elas.
Ouvi o estalo de sua mordida mesmo de onde me ajoelhei.
De repente, o ar clareou, uma rajada de vento gelado enviando uma enorme nuvem de poeira sobre as densas florestas pantanosas que cresciam ao longo da base das Grandes Montanhas em Sapin. Com a chama e a poeira desaparecidas, todo o escopo da batalha era visível para mim.
As duas dragões brancas permaneceram em suas formas humanoides. A asura ferida estava empunhando seu escudo para defender sua gêmea, que se concentrou em enviar ataques brilhantes e prateados contra as Assombrações que as perseguiam. Ambas exibindo uma coloração verde agora.
Mais três Assombrações ainda enxameavam o dragão negro, cada uma atacando em conjunto com as outras, mantendo a atenção do dragão dividida entre elas a todo momento. O dragão negro voou baixo, de modo que suas costas e asas estivessem voltadas para mim, então vi pela primeira vez a rede de veias verde-escuras entrelaçando as escamas negras. Algo envenenou os dragões e ainda assim eles sobreviveram enquanto três Assombrações estavam mortas, pensei, mas estava muito cansada e fraca para ter qualquer conforto no pensamento.
Deslocando-me, olhei ao redor, novamente contemplando os destroços da montanha e sentindo o estrondo dos deslizamentos de rochas. Uma guerra de desgaste, percebi. As Assombrações não podem superar os dragões pela força, mas, se sacrificarem alguns de si para desferir um golpe envenenado, então podem manter sua distância até que os dragões estejam fracos demais para continuar. Enquanto isso, os dragões não chegam mais perto de encontrar este Soberano que procuram…
Observando o dragão negro de perto, vi como ele balançava quando se inclinava de forma rígida e estalava em uma Assombração, e como, quando errava, as chamas prateadas de sua respiração brilhavam menos intensamente enquanto perseguiam seu alvo pelo ar.
— Só mais uma… — murmurei, meus pés lentamente começando a se mover de novo enquanto me levavam pela estrada.
Tive que navegar em torno de outro deslizamento que havia destruído quinze metros ou mais da estrada. Do outro lado, quase tropecei em um corpo caído. Inclinando-me, reconheci o rosto de uma jovem que só conheci brevemente. Não havia sinais de respiração.
Seguindo em frente, encontrei outro cadáver, depois vários outros, e cheguei a um lugar onde um círculo de pontas de ferro preto havia se erguido do chão. Mais cadáveres estavam empalados neles.
Parei, ficando momentaneamente obtusa, meu olhar voltou para o céu.
Feitiço após feitiço se estilhaçava contra as escamas do dragão negro enquanto perseguia as Assombrações, liberando seu sopro mortal em intervalos. As duas gêmeas asuras pareciam estar discutindo, mas enquanto assistia, de repente se separaram.
A asura ferida se afastou da outra e voou em direção onde eu havia parado. Ao mesmo tempo, sua gêmea mergulhou em Perhata, a lança longa empurrando com velocidade turva. Um feixe de mana pura irrompeu da ponta da lança, esculpindo pelo ar e passando pelos chifres de Perhata.
Uma das Assombrações se separou e seguiu a dragão ferida. Um ciclone escuro soprava ao redor dela, bem como lançava disparos atrás de disparos de mana cinza, cada um batendo nas costas da asura com um zumbido baixo.
Ela girou para enfrentá-lo, pegando os últimos disparos com seu escudo.
O ciclone cresceu e, à medida que o fez, mais e mais disparos saíram dele, dezenas de cada vez.
Através da nuvem de magia giratória que agora estava colidindo com ela de todas as direções, vi a dragão levantar seu escudo. Estava brilhando intensamente e ficando mais brilhante a cada ataque que bloqueava. Sentindo uma repentina espetada de pânico em minhas costelas, caí no chão, fechei os olhos e protegi minha cabeça.
Mesmo assim, o clarão que se seguiu quase me cegou, queimando pelas pálpebras.
Espreitando debaixo do meu cotovelo, apenas vi como o feitiço da Assombração se desfez, o ciclone se despedaçando enquanto a mana se espalhava em todas as direções. A assombração cambaleou e a asura avançou.
Mana formou um braço prateado suavemente cintilante onde estava seu membro perdido. Este punho conjurado envolveu a garganta da Assombração atordoada e explodiu em uma torrente de sangue vermelho. Girando, ela arremessou a Assombração de volta contra os penhascos, seu corpo abrindo crateras e provocando ainda mais desabamentos ao longo do percurso.
Um feixe de luz branca canalizou através do escudo e disparou na cratera contra a Assombração até que todos os indícios de sua assinatura de mana persistente se apagassem.
Acima, as Assombrações restantes recuaram para se reagrupar, permitindo que a asura ferida retornasse para a estrada, onde caiu de joelhos. Sua gêmea e o dragão negro pareciam satisfeitos em observar as Assombrações à distância, tomando seu tempo também.
Incerta, me levantei e aproximei-me da asura. Em algum lugar à frente, alguém gritava…
Ainda há sobreviventes, pensei, nenhuma emoção em particular brotando à frente do meu cérebro cansado.
— Então, você ainda não escolheu sua morte — disse a asura, com a voz rangendo de cautela. — Eu estou… quase impressionada.
— Ninguém aqui escolheu a morte — respondi com os dentes cerrados, meus lábios se enrolando de volta em uma carranca. — Dizer o contrário é um insulto a todos aqueles que sobreviveram à guerra infernal apenas para se tornarem danos colaterais aqui hoje. — Mordendo a língua, respirei fundo para me firmar antes de continuar. — Valeu a pena? Você já encontrou o que queria?
Soltando um gemido dolorido, a dragão se obrigou a ficar de pé. Ela era uma cabeça mais alta do que eu, e seus olhos amarelos brilhantes pareciam queimar até o meu núcleo enquanto olhava para mim.
— O destino dos mundos supera a vida de algumas centenas de menores. — Ela balançou a cabeça, virando-se para olhar para o oeste sobre a inclinação íngreme para onde seus companheiros estavam pairando entre nós e as Assombrações. — Ou, até mesmo, a de três dragões.
Tradução: NERO_SL
Revisão: Crytteck
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