Rolando para o lado, levantei-me com cuidado, a pequena multidão ao redor se afastou para me dar espaço. Quando estendi a mão para Sylvie a fim de ajudá-la a levantar depois de mim, um raio de dor em meu crânio me fez tropeçar e um braço me envolveu.
Olhei para baixo enquanto Ellie me apoiava, tentando suportar parte do meu peso.
Sylvie parecia menos afetada pela visão e não teve problemas para se levantar. Ela me olhou nervosa.
— Sinto muito, Arthur, não consegui evitar que isso inundasse sua mente.
— Evitar o quê? — Ellie perguntou. — O que aconteceu?
Pisquei e balancei a cabeça, fazendo um esforço para remover as últimas teias de aranha que a visão havia deixado em minha cabeça.
— Nada. Não aqui. Nós… — Eu me interrompi, reconhecendo a multidão que havia se reunido e não querendo dizer nada que pudesse se tornar um problema mais tarde.
A aura de Seris que se aproximava foi suficiente para desviar a maior parte da atenção de mim. Seus olhos escuros encontraram os meus e ela pareceu ler a situação em um instante.
— Há muito o que fazer. Dê aos nossos companheiros um momento para recuperarem o fôlego. Lembre-se, Lança Arthur Leywin enfrentou o Legado em nosso nome. Cuidado para não iniciarem inadvertidamente rumores inúteis, sim?
As pessoas que estavam perto o suficiente para assistir ao meu episódio, que, infelizmente, foram muitas, reagiram à ira velada de Seris.
A cascata de cabelos vermelhos foi a primeira coisa que vi quando Lyra Dreide se apressava em meio à multidão.
— Vamos lá, então, todos vocês. Há muito trabalho a ser feito e não há espaço para mãos ociosas!
Os alacryanos se separaram e começaram a se afastar, embora não faltassem olhares para trás.
— O que está acontecendo? — Lyra perguntou, inclinando-se em direção a Seris, que estava me observando pelo canto do olho, com os lábios apertados com evidente preocupação.
— Vamos ter essa conversa em um lugar mais reservado — disse Seris, com suas palavras calmas, mas firmes.
Concordei com a cabeça e Lyra conduziu nosso grupo a um prédio vazio nas proximidades, o lugar era pouco mais do que uma única sala aberta com várias cadeiras de madeira, feitas de forma rudimentar preenchendo o espaço. Ninguém se sentou quando todos entraram. Todos os olhares se voltaram para mim, inclusive os dos Alto Sangue Frost e Denoir, que deviam estar falando com Seris ou Lyra antes do meu colapso.
Fazendo o possível para evitar a agitação em meu tom de voz, eu disse:
— Meus companheiros e eu precisamos ir embora. Imediatamente.
— Assim, sem mais nem menos? Você nem vai me contar o que aconteceu, Arthur? Essa demonstração de fraqueza não poderia ter vindo em um momento pior — respondeu Seris. Seu olhar se desviou, concentrando-se na distância média, e quando falou novamente, foi para si mesma. — Mas buscar a aceitação dos dragões é essencial. Se dissermos às pessoas que você foi para garantir a paz, a maioria aceitará isso sem questionar… — Sua atenção se voltou para mim. — Ainda assim, como sua parceira neste empreendimento, gostaria de saber a verdade sobre o que aconteceu.
Lembrei-me da visão que havia compartilhado com Sylvie.
Um ataque das Assombrações ao general de Kezess resultou na morte dos Glayders e sabe-se lá quantas outras figuras públicas importantes de Etistin…
Minhas preocupações eram muitas, mas a principal delas agora era verificar se isso ainda não tinha acontecido de fato. Se não tivesse acontecido, poderia descobrir como evitar, mas compartilhar as informações podia ser perigoso. Se a Anciã Rinia me ensinou alguma coisa, foi que tentar mudar o futuro era extremamente arriscado. Tinha de proceder com o máximo de cautela.
Além disso, não tinha certeza de quem deveria saber que Sylvie estava tendo visões do futuro, se é que alguém deveria. Não tinha certeza se poderia confiar esse detalhe até mesmo a Seris.
— Não posso explicar agora — disse. — Não até que eu mesmo tenha uma ideia mais clara sobre isso.
Houve uma pausa e nossos olhares permaneceram fixos.
— Não importa, então, vejo que você está decidido a fazer isso. — Ela quebrou nosso contato visual com uma risada sem humor. — Pelos chifres de Vritra, a vida era mais fácil quando estava cercada por pessoas que pulavam para fazer tudo o que eu dizia…
Eu lhe dei um sorriso irônico.
— Você está se esforçando muito para se privar de uma vida assim.
Balançando a cabeça, ela me afastou como se eu fosse uma mosca particularmente irritante.
— Vá em frente, faça o que você precisa fazer. Gostaria de lhe oferecer uma preparação melhor para sua conversa com os dragões sobre nossa deserção, mas acho que posso confiar em você para lidar com isso por conta própria. Tudo o que peço é que leve um dos meus com você. Como meus olhos, ouvidos e voz, por assim dizer.
— Não — rebati, mais rápido e com mais força do que pretendia. — Eu… não acho que seja uma boa ideia.
O olhar de Seris se endureceu, e o pouco de bom humor que ela mantinha se esvaiu.
— Não? Arthur, essa parceria é uma via de mão dupla. Você pediu que eu não questionasse seus motivos para sair neste momento crítico e sem discussão prévia. Estou solicitando que você faça essa concessão em troca.
Passei a língua na parte interna dos dentes enquanto pensava. Estar entre dragões e Assombrações não era lugar para um desertor alacryano, mas isso abriria uma ruptura entre Seris e eu se forçasse a questão.
— Então, farei essa concessão — disse após uma longa pausa.
O Alto Sangue Frost deu um passo à frente, fazendo uma pequena reverência a nós dois.
— Lady Seris, gostaria de oferecer minha neta, Enola, para essa tarefa. Ela é altamente capacitada e conhece o Regente Arthur desde o tempo em que estiveram na academia.
— Obrigado, Uriel, mas quero alguém um pouco mais experiente para essa tarefa.
Ela acenou com a cabeça em sinal de agradecimento, ao passo que ele não quis dizer mais nada e voltou ao seu lugar anterior, encostado em uma das paredes.
Ela continuou, com suas palavras voltadas para Corbett.
— Caera seria uma candidata mais forte para o papel que tenho em mente, principalmente porque ela já trabalhou longamente com Arthur e tem experiência direta com os dragões. Confio nela para isso e tenho certeza de que ela estará disposta. Você pode ir buscá-la?
Guardei meus pensamentos para mim, não querendo prolongar ainda mais a situação, agora que já havia cedido à exigência de Seris.
Enquanto esperávamos o retorno de Corbett, Seris passou alguns minutos me fornecendo a base de seus planos nos escombros de Elenoir para que pudesse transmiti-los aos dragões, se achasse necessário. Quando Caera chegou, me despedi de Seris e conduzi meus companheiros para fora da aldeia, em direção à Clareira das Bestas.
— Há uma cidade perto da borda oeste da Clareira das Bestas, não muito longe ao sul. É o portão de teletransporte mais próximo que nos levará a Etistin — expliquei enquanto marchávamos.
— Não pense que estou infeliz por vir junto — disse Caera, olhando furtivamente ao redor enquanto nos movíamos em direção à densa floresta —, mas para que exatamente estamos indo com tanta pressa?
Saltando sobre uma árvore derrubada, virei-me e dei a mão à Ellie para ajudá-la a subir, depois à Caera atrás dela. Ao pegar a mão de Caera, eu disse:
— Descobri algumas… evidências… que me levam a crer que as Assombrações atacarão Etistin em um futuro próximo.
Chul bateu com um punho semelhante a um tijolo em sua palma aberta, o calor subindo de seus ombros em ondas visíveis de luz laranja.
— Uma chance de vingança.
— Assombrações… — Caera ecoou sem fôlego, com as sobrancelhas franzidas. — Mas como você poderia saber? Você tem uma relíquia de djinn em seu bolso que lhe mostra o futuro? — Ela tentou dar um sorriso brincalhão, mas acabou parecendo aflito.
— Não, eu… não posso explicar ainda. Sinto muito. Talvez quando chegarmos a Etistin e tivermos tempo para analisar a situação lá — disse, esfregando a nuca.
Ellie ficou pálida enquanto eu falava, tinha certeza de que ela estava se lembrando das consequências da minha última luta contra os assassinos de asura secretos de Agrona.
— Então, vamos simplesmente não falar sobre as visões do futuro? — Regis perguntou enquanto caminhava ao meu lado. — Sylvie está acumulando uma coleção e tanto de subtramas misteriosas, não é?
— Ela precisa de tempo para sondar sua própria compreensão e percepção dessa visão — pensei. — Até que tenhamos uma ideia melhor do motivo e do que aconteceu, ninguém mais deve saber. — Em voz alta, eu disse: — Aqui está bom —, parando em uma pequena clareira e olhando para o meu vínculo.
Sylvie, cuja mente era um emaranhado de pensamentos e ideias conflitantes, forçou-se a se concentrar. A transformação foi quase instantânea e ela assumiu a forma de um dragão de escamas negras.
Caera ofegou, sua boca se movendo silenciosamente enquanto olhava para cima com admiração.
— Não é tão impressionante. De qualquer forma, asas são superestimadas — disse Regis ao entrar em mim e se aproximar do meu núcleo. Pulei nas costas de Sylvie, na base de seu pescoço, Chul ajudou Caera e Ellie a se instalarem entre as asas.
Caera tentou estender a mão e passou os dedos na parte de trás de uma asa, um calafrio subindo por sua espinha.
Do chão, Boo rosnou baixo, com seus olhos pequenos olhando para Ellie de forma questionadora.
Pressionei minha mão de forma tranquilizadora contra o longo pescoço de Sylvie enquanto ela olhava para Boo com um olho enorme como uma piscina de ouro líquido.
— Não será demais? — perguntei.
— Contanto que não tenha que carregar Chul também, ficarei bem — tranquilizou ela, sua voz rica e estrondosa em sua forma dracônica.
Chul levantou voo e esperou. Sylvie agarrou Boo com suas grandes garras dianteiras, se recompôs e também levantou voo, com suas asas batendo no ar com graciosa facilidade. Chul se posicionou ao lado dela e decolamos para o sudoeste. Ficamos um pouco acima das copas das árvores, sem nos preocuparmos com um ataque de qualquer fera de mana; as auras combinadas de Sylvie, Chul e eu impediriam o ataque de todas as feras de mana, exceto as mais poderosas e agressivas, mas estávamos muito longe das profundezas da Clareiras das Bestas onde essas criaturas habitam.
Na garupa de um dragão, a viagem levou apenas algumas horas, economizando um dia inteiro ou mais de trabalho árduo na densa floresta abaixo. Sylvie se transformou de volta bem fora da cidade e concluímos a viagem a pé. Não precisávamos da Guilda dos Aventureiros nem de nenhum vendedor, por isso, não paramos em nenhum lugar da cidade; fomos direto para o portal de teletransporte.
Antes de me aproximar do atendente que programaria o portal para Etistin, parei meus companheiros e olhei para todos eles com seriedade. Estava pensando em como proceder durante toda a viagem e tomei algumas decisões que sabia que nem todos aprovariam.
— Ellie, você não virá para Etistin conosco — anunciei, arrancando o curativo do que sabia que seria uma conversa difícil.
— Eu entendo — respondeu ela, pegando-me desprevenido. Ela pareceu constrangida com minha surpresa. — Ah, não me olhe desse jeito. Apesar da minha… explosão, sei que não poderei estar em Etistin com você se as coisas acontecerem como você espera, mas estou falando sério sobre ficar mais forte. Quero fazer a diferença! — Ela gesticulou aleatoriamente com a mão — …em tudo isso, da melhor maneira que puder. Se isso significa ficar fora do caminho e em segurança por um tempo, então é isso que farei.
Ela estendeu o punho e bati o meu contra o dela com um sorriso de gratidão.
Regis, que havia voltado a caminhar conosco em sua forma física, ergueu-se e colocou uma enorme pata em nossas mãos, com a língua para fora do lado da boca. Ellie riu enquanto eu revirei os olhos.
— O quê, isso não é uma reunião de equipe? — brincou ele.
Chul, que havia observado nossa conversa com um olhar cada vez mais preocupado, bufou.
— A irmã Eleanor não pode ser mandada embora sozinha. — Ele cerrou os dentes, claramente considerando cuidadosamente suas próximas palavras. — Embora queira me testar contra essas Assombrações, também espero cumprir meu dever com você, Arthur, e fazer a diferença — explicou, seu tom transmitindo uma tristeza não totalmente suprimida. — Se quiser, eu a acompanharei de volta à casa dos anões, Vildorial, e cuidarei dela na sua ausência.
Soltei um suspiro de alívio, grato por Chul ter oferecido antes que tivesse que pedir. Sem portais de teletransporte de longa distância em Vildorial, ou qualquer outro lugar em Darv, a maneira mais segura de Ellie retornar seria voando.
— Obrigado, Chul. Entendo porquê você deixou o Santuário e o que isso significa para você. Minha esperança é que não haja batalha em Etistin e que você não perca nenhuma diversão.
Ele grunhiu e fez um aceno sério com a cabeça.
— Sim, mas se encontrar uma Assombração, dê uma surra nela por mim.
— Além disso, Bairon e Mica estarão em Vildorial. Talvez até mesmo a Lança Varay! É realmente incrível treinar com eles — disse minha irmã com alegria, seu próprio medo e frustração pouco evidentes. Boo rosnou e Ellie sorriu. — Boo disse que ficaria feliz em lhe ensinar uma lição também, se você precisar.
Rindo, me virei para Sylvie, Regis e Caera.
— Vamos lá, então.
O mago calibrou rapidamente o portal e nos conduziu através dele. A última coisa que vi ao olhar por cima do ombro foi Ellie entre Chul e Boo. Ela acenou. Levantei minha mão e fui levado para longe.
Fazia muito tempo que não viajava pelos portais dos antigos magos em Dicathen. Havia me acostumado tanto com a tecnologia tempus warp de Alacrya, que isso tornava o teletransporte muito mais rápido e suave. Os portais de Dicathen, relíquias deixadas para trás após o genocídio dos djinn, arrastavam o usuário pelo espaço, que se distorcia à medida que passava e era conhecido por deixar as pessoas enjoadas na primeira vez que o usavam.
No meio do caminho, percebi que deveria ter avisado Caera.
Quando aparecemos um a um em frente ao portal de recepção, Caera se curvou e apertou o estômago, tentando não ficar enjoada. Um soldado, que provavelmente já havia visto isso acontecer mais de uma vez, deu um pulo para trás, fechando a boca ao interromper a mensagem de boas-vindas que estava prestes a transmitir.
Caera respirou fundo várias vezes e ergueu a mão como se quisesse afastar a náusea.
— Estou bem — disse ela com voz rouca. — Mas… o que diabos foi isso? — Finalmente, ela se levantou e olhou para mim. — Absolutamente bárbaro.
O momento de diversão que senti se dissipou quando me lembrei do motivo de estarmos ali, o que coincidiu com o fato do soldado ter chamado a atenção ao perceber quem eu era.
— Regente Leywin! — Ele deu um passo em torno de Caera e pegou minha mão com as duas. — É ótimo conhecê-lo, realmente, uma verdadeira honra. Você salvou meu pai na batalha de Slore, senhor, e sempre esperei ter a chance de agradecê-lo pessoalmente.
— Eu é que devo agradecer ao seu pai pelo serviço prestado — disse com um sorriso prático, permitindo que ele apertasse minha mão.
De repente, voltando si, o guarda voltou a adotar uma postura mais profissional.
— Desculpe, Regente. Fiquei um pouco emotivo. Tenho certeza de que você está aqui para ver o Guardião Charon.
Olhando para outro guarda, que estava entrando pela porta do pequeno prédio que abrigava o portal, ele começou a dar uma ordem, mas eu o interrompi.
— Na verdade, preciso que minha chegada fique em segredo.
O guarda hesitou, olhando de mim para o palácio ao longe, visível por uma das janelas estreitas.
— Sei que você tem suas ordens — continuei, tentando parecer confiante e consolador. — Não quero insultar Charon por não ir vê-lo imediatamente, mas há vidas em jogo. Realmente preciso que finja que eu nunca saí desse portal.
O guarda hesitou ao inspecionar meus companheiros, franzindo a testa para os chifres de Sylvie e Caera.
— Mas os Glayders foram muito insistentes… — Sem saber o que fazer, ele balançou a cabeça e cedeu. — Você tem minha palavra, Regente.
Retribuindo o gesto, saí rapidamente da câmara do portal e fui para o pátio. Haviam mais dois guardas estacionados no lado de fora, incluindo o que havia espreitado pela porta. Fiz uma saudação indiferente e levei meus companheiros para longe das atenções, abrigando-me em um beco estreito entre duas casas altas.
— Bem, essa é uma pergunta respondida — disse.
— Etistin ainda não foi atacada — completou Caera. — Mas as Assombrações ainda podem estar aqui. Pelo que Seris me disse, elas são hábeis em esconder suas assinaturas de mana e organizar o campo de batalha de acordo com suas necessidades.
Um vulto cruzou em frente ao beco onde estávamos amontoados, mas era apenas um senhor idoso que estava passeando com sua besta de mana, uma criatura parecida com um lagarto emplumado que andava à sua frente em uma coleira de couro.
Dirigindo-me a Sylvie e Caera, disse:
— Quero que vocês duas vão para o palácio. Encontrem Kathyln e expliquem o que vimos. Perguntem a ela sobre os dragões, mas, faça o que fizer, não deixem que ela as leve até Charon. — Meu olhar se voltou para os chifres de Caera. — Ou se deixem ser presas.
Ela cruzou os braços e me lançou um olhar severo.
— A culpa não foi minha.
Estendendo meus sentidos para fora, procurei por assinaturas de mana potentes dentro e ao redor da cidade. A pressão exercida pelos dragões era evidente mesmo de onde estávamos, mas não senti nenhuma outra presença forte o suficiente para ser um asura ou Assombração.
Examinei as assinaturas dos dragões e senti uma pontada de familiaridade.
— Windsom também está aqui — confirmei. — Nenhum deles pode saber que você está na cidade até que estejamos prontos para lidar com eles, Sylv. Eles podem tentar levá-la de volta para o seu avô.
— O que você vai fazer? — Caera perguntou, seus olhos saltando para a figura borrada de uma criança pequena enquanto passavam correndo pela boca do beco.
— Regis e eu procuraremos na cidade por qualquer sinal das Assombrações.
Sylvie pegou minha mão e apertou-a gentilmente antes de soltá-la.
— Entre em contato comigo se tiver problemas. Sim, eu sei que você já enfrentou algumas delas antes, mas não baixe a guarda.
— Tenha cuidado no palácio — respondi. — É certo que será um atoleiro político.
Caera e Sylvie saíram do beco, atravessando a cidade em direção ao palácio, enquanto eu saltava para o telhado da casa e ativava o Realmheart, com Regis mais uma vez abrigado em meu núcleo. As observei abrindo caminho pelas ruas da cidade de Etistin até desaparecerem de vista, depois me concentrei na tarefa que tinha em mãos.
A mana atmosférica brilhava por toda parte, com os elementos específicos estreitamente alinhados com o local onde a mana permanecia, como a mana de atributo terra agarrada ao solo e às paredes de pedra, enquanto a mana de atributo ar girava e dançava com o vento. Essas partículas de mana estavam quase sempre em movimento, sendo atraídas para um mago em meditação ou empurradas para longe da fonte de algum feitiço, ou simplesmente percorrendo o mundo de acordo com alguma propriedade mecânica inata da própria mana.
O éter na atmosfera era muito menos denso. Apenas uma fina cortina de partículas roxas podia ser vista preenchendo os espaços entre as partículas de mana.
Era exatamente com a interação entre essas duas forças que estava preocupado.
As Assombrações não podiam influenciar o éter e, portanto, não podiam manipulá-lo para ajudar a mascarar sua presença. Não tinha certeza de quão eficaz eles podiam fazer isso com mana e, portanto, não podia confiar apenas no Realmheart em minha busca. Embora a runa divina me permitisse ver até mesmo a mana agrupada de um mago invisivel ou sob ilusão, teorizei que um usuário de magia com controle adequadamente refinado sobre a mana poderia suavizar até mesmo isso para se tornar quase indetectável, especialmente se ele também equilibrasse a entrada e saída de sua mana com uma técnica semelhante à rotação de mana.
Sentindo falta da minha capacidade de voar mais do que nunca, pulei de um telhado para o outro, precisando ficar o mais alto possível para ter o máximo de visibilidade. A interação entre éter e mana era muito sutil e facilmente perdida.
E temos uma cidade inteira para procurar, pensei, com meu humor abalado. Ainda assim, uma abordagem proativa parecia melhor do que esperar no palácio que algo acontecesse.
Com o éter aprimorando meus sentidos e Realmheart me concedendo a visão das partículas de mana, comecei a navegar de um bairro para o outro, procurando por qualquer mana condensada sem uma fonte óbvia, um indício de assinatura de mana suprimida ou mudanças no éter atmosférico que pudessem indicar uma fonte poderosa de mana condensada, mas oculta.
Enquanto isso, podia sentir que Sylvie e Caera chegaram ao palácio, mas ainda estavam esperando uma audiência com Kathyln.
Enquanto procurava, tentei me lembrar de como era a cidade antes da guerra, mas não consegui. Sabia que os muros altos que separavam a cidade da encosta que descia até a baía não estavam mais lá, e os distritos separados da cidade haviam sido remodelados e isolados uns dos outros, com alguns bairros inteiros desaparecendo completamente. Etistin ainda tinha um ar militarista, uma cidade transformada em um centro fortificado da política nacional, mas as pessoas pareciam se movimentar como se não percebessem.
Um pensamento me ocorreu.
— Fique atento às áreas onde as pessoas estão se comportando de forma estranha — enviei para Regis, que agiu como um segundo par de olhos. — Áreas que as pessoas estão evitando sem parecer perceber. Lugares que acumulam olhares sombrios, onde os transeuntes aceleram para passar rapidamente.
— Sim, sem problemas — respondeu ele, com um tom sarcástico. — Não é como se estivéssemos procurando uma agulha em um palheiro ou algo assim. Uma agulha invisível pronta para matar todo mundo.
Ao retomar minha busca, pulei para a rua, tirando uma capa turquesa desbotada de um varal e colocando uma moeda no bolso de uma calça. O capuz era profundo, caindo para obscurecer meus cabelos loiros e meus olhos dourados.
Ele também cobriu o brilho de minhas runas divinas quando ativei God Step junto com o Realmheart.
Deslizando pelas correntes de tráfego, abri meus sentidos, experimentando as imagens e os sons, mas também o sexto sentido que era a força da mana que, por sua vez, era sobreposta pela visão e pela música dos caminhos etéreos que conectam cada ponto aos outros pontos ao meu redor.
Segui a correnteza da cidade, movendo-me com o fluxo natural de seu povo. Eu tinha certeza de que era ali, na confluência de mana, éter e sensibilidade humana, que encontraria minha presa.
A passagem do tempo se tornou um borrão sem sentido, e perdi a noção de como controlar o tempo ao me concentrar totalmente nos outros. O movimento dos meus pés era automático, a virada sutil da minha cabeça para ouvir o choro de uma criança ou observar uma mulher passando apressada por uma porta escura era feita sem esforço consciente.
— Ali — pensou Regis, ao focalizar um trecho distante da muralha da cidade algum tempo depois.
Seguindo o curso de sua mente, observei quando dois guardas congelaram, olhando um para o outro. O éter entrou em meus olhos, melhorando minha visão para que pudesse me concentrar no ponto distante. Os guardas estavam pálidos, suando, e a pergunta em seus olhos era óbvia: por que estou com medo de repente? Como um só, eles se viraram e começaram a marchar de volta ao longo de sua rota de patrulha, mas rápido demais para ser natural.
Eu me movi para as sombras de um prédio; notei que o sol estava se pondo e as sombras eram profundas. Com o capuz abaixado e as costas curvadas, fui em direção à parede, suprimindo minha presença e som para me concentrar no mana e no éter.
Lá estava o que procurava: uma distorção sutil nos caminhos etéreos, uma contração na mana atmosférica.
Depois, desapareceu.
Franzindo a testa, expandi meus sentidos novamente, procurando o mesmo fenômeno nas proximidades. Quando não consegui senti-lo, arrisquei pular para o topo do muro, onde imediatamente me agachei atrás da borda baixa de pedra e procurei com os olhos também.
Meu companheiro de visão aguçada novamente viu primeiro.
— O mercado.
Olhando para baixo, por cima dos telhados das casas, examinei a pequena praça do mercado, encostado ao pé da muralha do distrito. Sob aquela parede, as sombras se tornaram mais profundas então… lá!
Nenhuma fonte forte de mana emanava do mercado, e as únicas assinaturas de mana eram um punhado de magos errantes, nenhum dos quais era superior ao núcleo laranja, mas no coração dessas sombras, a mana atmosférica se distorceu levemente, tão sutil que poderia não ter percebido se não fosse pela distorção mais leve dos caminhos etéreos que sugeriam que uma poderosa fonte de mana estava pressionando contra o éter ao seu redor.
Todos que se aproximavam das sombras se afastavam repentinamente, envolvendo os braços em volta de si mesmos ou tremendo como se tivessem tido um resfriado repentino, antes de se apressarem para outra parte do mercado.
Comecei a me mover naquela direção, mantendo meus olhos naquele ponto.
A distorção se dissolveu, o mana e o éter relaxaram enquanto voltavam à sua configuração normal.
Mas não demorou muito para que eu encontrasse a distorção novamente, agora do outro lado da muralha, nas sombras de uma torre.
— Está indo para fora da cidade — apontou Regis.
Ele sabe que já o vimos.
Tirando a capa, pressionei Regis, que se manifestou a partir de minha longa sombra, com as patas na borda da muralha. Os caminhos etéreos se abriram diante de mim, e eu apareci na sombra da torre, com relâmpagos violetas subindo pelos meus braços e descendo pelas minhas pernas.
Senti a pressão exercida pela figura invisível por meio segundo, depois ela desapareceu.
— No topo da muralha externa da cidade! — enviou Regis, guiando-me com entusiasmo enquanto corria ao longo da parede para ter uma visão melhor.
Sentindo os caminhos, usei God Step mais uma vez, desta vez para a sombra de um posto de guarda que encimava a alta muralha externa na extremidade sul da cidade.
— Já foi — disse Regis. — Por cima do muro, em algum lugar.
Dessa vez, tive que procurar, mas estava começando a ver o padrão.
Ao sul do muro, muitos prédios baixos foram erguidos para substituir os que haviam sido demolidos antes e durante a guerra. Procurei em suas sombras e encontrei a perturbação no momento em que ela desapareceu novamente, reaparecendo atrás de um prédio a algumas centenas de metros de distância.
Os caminhos etéreos me levaram até lá e, novamente, apareci assim que a distorção desapareceu.
À distância, por meio de seus sentidos, senti Regis pular do muro alto e cair no chão correndo atrás de mim.
Encontrei a distorção e novamente com God Step a persegui, mas tinha que procurar minha presa, enquanto ela só precisava continuar correndo e, mais uma vez, ela se adiantou à mim.
Porém, depois de mais algumas mudanças rápidas, chegamos ao fim das favelas construídas fora dos muros da cidade. As poucas árvores que haviam crescido nessas estepes pedregosas que se aproximavam da baía haviam sido cortadas durante a guerra, proporcionando uma visão clara por mais de um quilômetro e meio e com as únicas sombras proporcionadas por arbustos silvestres, arbustos baixos ou árvores jovens e desgrenhadas.
O sol já estava quase se pondo, e as sombras estavam ficando mais longas a cada momento.
A perturbação apareceu nas sombras de uma grande rocha, desviando-se repentinamente para o leste. Examinei a área além da rocha, onde uma fileira de arbustos de bagas silvestres fornecia a única sombra com tamanho aceitável.
Traçando o caminho através do éter, dei um passo primeiro para a rocha e depois para os arbustos, sem esperar no meio.
Eu teria aberto um sorriso quando o distúrbio aumentou bem ao meu lado, como garras nas sombras, mas não havia tempo.
Um fragmento escuro de gelo negro surgiu do ar, apontado para minha garganta. Bloqueei, mas quando alcancei o braço oculto que segurava a lâmina, não peguei nada além de ar. Outra lâmina veio da lateral, apontada para o meu quadril, depois outra na minha frente, passando por baixo das minhas costelas em direção ao meu coração.
Defendi os dois golpes, imbuindo o terceiro impacto com uma explosão etérea que incinerou os arbustos. Movendo-se no rastro da explosão, uma lâmina de éter apareceu em meu punho, varrendo a massa central da perturbação em um borrão enquanto o éter explodia através do meu braço em uma sequência precisa.
Senti a lâmina encontrar resistência ao encontrar a carne e o osso do meu alvo.
As sombras se dissiparam como um manto sendo puxado dos ombros do meu alvo, enquanto ele rolava pelo chão e voltava a se levantar. Um braço havia sido completamente cortado, com o membro ensanguentado caído no chão entre nós. O homem magro e pálido pressionou a mão que restava contra o toco que jorrava, olhando para mim com olhos vermelhos brilhantes através da franja de seu cabelo escuro e desgrenhado.
— O ascendente… — murmurou, com a voz saindo de dentro dele e manchando meus tímpanos.
— Onde estão os outros? — exigi, mantendo uma certa distância entre nós, mas pronto para contra-atacar se ele sequer se contorcesse.
Ele balançou a cabeça, mas nenhuma emoção passou por seu rosto além de uma pontada de dor registrada.
— Sem avisos, na última vez. O Alto Soberano não disse a eles o que você é. Uma luta corpo a corpo, uma luta de verdade. Um raro prazer para eles, mesmo que não tenham sobrevivido. Não acontecerá novamente, Ascendente. Mas não estão aqui por você. Facas no escuro, mas não para você.
— Você está no continente errado — ameacei, deslocando meu peso ligeiramente para a frente. — Isso significa que, mesmo que não esteja aqui para mim, eu estou aqui para você. Agora, onde estão os outros? Quantos são? Sei que você não está aqui sozinho.
Regis se aproximou por trás, dando a volta para cercar a Assombração pelo outro lado.
O homem pálido balançou a cabeça novamente e, estranhamente, pareceu relaxar.
— Já é tarde demais. Não pode correr, não pode falar, não pode vencer.
Inclinei ligeiramente a cabeça.
— Não estou correndo, mas prometo a você que posso vencer. Mas já estou terminando de falar. Se você não puder…
— Você não, ascendente. Ele está observando. — Ele apontou para seu olho vermelho. — Do meu olho para o dele. Ele sabe. Portanto, já é tarde demais.
— Ele? Você quer dizer Agrona? Ele está… — Dei um passo involuntário para trás quando a mana se expandiu dentro e ao redor da Assombração.
Ele soltou um suspiro sufocado e caiu em um joelho, depois olhou para mim com um sorriso largo no rosto, com sangue escuro escorrendo pelos cantos.
— Regis, volte!
Saí com God Step mesmo quando a mana entrou em erupção.
A várias centenas de metros de distância, com a eletricidade etérea ainda em arco sobre mim, observei quando uma supernova de mana negra e espinhos de ferro sangrento irromperam da carne da Assombração, espalhando-se para fora em uma cúpula mortal que rasgou o chão por uma centena de metros em todas as direções. Uma chuva de pontas de metal preto continuou a cair por muitos segundos após a explosão.
Ainda estava olhando para o campo de espinhos quando Regis veio correndo para o meu lado.
— Esses alacryanos e suas maldições de sangue… — Quando não respondi, ele acrescentou: — Acha que é só isso? Ataque falho?
— Não… — Eu disse, sabendo a verdade.
Não havíamos impedido o ataque. Nós simplesmente mudamos os eventos para um futuro que agora não conhecemos.
Tradução: NERO_SL
Revisão: Crytteck
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