O Começo Depois do Fim

O Começo Depois do Fim – Cap. 436 – Um caminho quebrado

 

POV ARTHUR LEYWIN

Uma forma escura passou entre os enormes galhos das árvores que não paravam de subir. O movimento foi muito rápido e a cobertura muito densa para que eu visse os detalhes. Mesmo com o Realmheart ativo, não pude sentir nem mana nem éter da sombra no breve momento em que fui capaz de vê-la.

— O que é que foi isso?

Ellie perguntou, sua voz aguda com tensão nervosa.

— Precisamos nos mover.

Disse, procurando em nosso entorno qualquer indício da sombra passageira ou o caminho a seguir.

As raízes serpenteavam pela água como caminhos sinuosos, a maioria larga o suficiente para suportar uma carruagem puxada por um animal. A água através da qual elas cresceram era tão clara que disfarçava sua profundidade, criando uma ilusão de ótica que fazia as pedras musgosas do fundo do lago parecerem apenas alguns centímetros abaixo da superfície.

— Para cima ou para baixo?

Caera perguntou, seus olhos desfocados utilizando quaisquer sentidos que seus drones fornecessem em vez dos seus.

— Os galhos são largos o suficiente para navegar facilmente, mesmo para o seu urso e mais densamente entrelaçados do que as raízes.

Olhei para Sylvie, que estava deitada rígida nas costas de Boo envolta em minha armadura. Ellie tinha uma mão sobre ela protetoramente.

— Isso é arriscado. Se formos atacados, qualquer um de nós pode ser derrubado de um desses galhos.

— Ei, Chulinho, como meio fênix, o que acontece quando você se transforma? Você só tem uma asa? Ou só pega o bico e o rabo?

Regis perguntou em tom de provocação.

— Não tenho rabo. Posso me transformar totalmente, mas… é difícil manter essa forma,

Admitiu Chul, aparentemente indiferente à piada de Regis.

Ellie conjurou um domo de mana que envolveu Boo e Sylvie, segurando meu vínculo. Quando isso foi feito, três orbes de mana brilhante apareceram e circularam silenciosamente sua mão direita. O suor em sua testa e a careta tensa em seu rosto diziam tudo o que eu já estava pensando: com Chul e Sylvie presentes, esta zona seria mais difícil do que qualquer coisa que enfrentamos em nossa última ascensão.

— Chul, mostre o caminho.

Indiquei uma raiz próxima que poderíamos facilmente escalar e usar para atravessar a água.

— As raízes são mais grossas nessa direção.

Chul marchou até a borda da pequena ilha em que estávamos e pulou casualmente na raiz, cujo topo se projetava a quase dois metros da água. Ele pousou com uma graça inesperada para seu tamanho, olhou em volta e estendeu a mão para ajudar a próxima pessoa.

Assim que Caera pegou sua mão, um borrão escuro saiu das sombras e Chul desapareceu dentro dele.

Caera saltou para trás, evitando por pouco um par de longas caudas que seguia logo atrás da besta em alta velocidade.

Em um piscar de olhos, a forma borrada se afastou de nós, contornando o topo da água antes de escalar e subir na teia de membros enormes acima de nós.

Canalizei o éter para o Passo de Deus, os caminhos etéricos se iluminaram diante dos meus olhos. Os caminhos se espalharam de mim como um raio violeta, conectando cada ponto a outro, mas apenas por quatro metros e meio. Os caminhos simplesmente foram cortados, aqueles diretamente ao meu redor foram separados dos caminhos em todos os outros lugares, ambos os conjuntos constantemente em fluxo enquanto mudavam e distorciam, mas nunca se reconectavam.

Uma onda de energia de Sylvie foi suficiente para explicar exatamente o que estava acontecendo.

Raios negros de fogo cortaram a floresta sombria enquanto eu liberava a runa divina. Os tiros de Caera erraram, seguindo o que eu agora podia dizer que era uma criatura em forma de diamante com carne escura. Tinha duas longas caudas semelhantes a chicotes, cada uma com uma farpa nojenta crescendo na ponta. Apesar de seu enorme volume, sua envergadura era tão grande quanto a de Sylvie em sua forma de dragão, ele nadava pelo ar com uma velocidade maior do que qualquer peixe na água.

A atenção de Regis se concentrou na criatura voadora, uma zombaria divertida ecoando em minha mente.

— Parece que frango apimentado não combina com a arraia demoníaca.

— Tem alguma coisa atrás dele.

Ellie disse com urgência, seus olhos afiados captando detalhes que o resto de nós não conseguia entender.

— Acho que está diminuindo.

Imbuindo minha visão com éter, pude distinguir a mancha vermelha brilhante contra sua pele negra. Enquanto observava, a criatura começou a brilhar por dentro, seu voo tornando-se errático conforme as saliências semelhantes a asas balançavam. A forma vermelha indistinta se separou, desaparecendo na água enquanto o brilho aumentava rapidamente. A carne se dividiu e chamas alaranjadas saltaram das fissuras resultantes.

Um guincho agudo de repente irrompeu da besta, fazendo minha visão girar enquanto a vibração cravava facas em meu cérebro. À distância, uma das asas da besta cortou uma árvore, arrancando o galho do corpo com um horrível som de rasgo molhado. A vibração se intensificou, então parou completamente quando a besta caiu no lago, desaparecendo sob as águas agitadas.

Sacudindo os efeitos colaterais das vibrações, pulei na raiz onde Chul havia sido atacado. Fiz uma pausa, procurando na floresta por qualquer sinal de perigo antes de tentar distinguir os caminhos etéricos novamente.

Estava um pouco além da borda do efeito que tinha visto, onde os caminhos se separavam. A ilha em que havíamos aparecido ainda estava desconectada de qualquer outro lugar, mas agora podia sentir meu caminho para onde Chul havia caído e não perdi mais tempo antes de pisar neles. Aparecendo a várias centenas de metros de distância no topo da raiz mais próxima de onde o corpo sem vida da criatura estava submerso, fui imediatamente inundado por vapor quente quando uma cascata de bolhas furiosas irrompeu da superfície da água, estourando e espumando enquanto a nuvem obscurecia o que estava acontecendo embaixo d’água.

Quando estava prestes a pular, algo explodiu.

Chul estava fumegando. Sua pele havia adquirido uma cor acinzentada e veias derretidas percorriam seus braços, pescoço e rosto. Seus olhos brilhavam com luz interna, brilhando através do vapor. Enquanto eu observava, porém, a descoloração desapareceu de sua carne.

Ele estendeu a mão para a raiz em que eu estava, usando-a para se apoiar.

— Desfaça essa sua carranca de preocupação. Estou sem nenhum arranhão.

— Ei, chefe, Sylvie está ficando toda—

Xinguei, de repente sentindo o influxo caótico de éter começando a surgir contra a armadura de relíquia, vazando e arranhando o ar. Estava muito sintonizado com o monstro e perdi completamente meu foco em conter o feitiço etéreo.

Agarrando Chul, usei o Passo de Deus e me aproximei o máximo que pude dos outros. O espaço dentro da esfera de caminhos quebrados crescia rapidamente, o éter atmosférico era espesso ao redor deles. Concentrando-me em Sylvie, empurrei o feitiço de volta para dentro até que estivesse mais uma vez totalmente alojado dentro da armadura de relíquia.

— Isso parece que pode ser um pequeno problema.

Disse Regis.

As bochechas de Caera empalideceram enquanto vasculhava a floresta ao redor, sua espada apertada com força em ambas as mãos.

— Eu nunca senti nada daquela criatura. Só peguei indícios de seu movimento da minha relíquia. Alguém mais pôde sentir sua mana?

Ellie balançou a cabeça. Abaixo dela, Boo rosnou de frustração.

— Senti sua boca quando se fechou em torno de mim.

Disse Chul, sua arma jogada casualmente sobre um ombro.

— Ainda assim, morreu com bastante facilidade.

Pela expressão incrédula no rosto de Caera, sabia o que ela estava pensando. Se aquela criatura tivesse agarrado ela ou minha irmã, o ataque teria acontecido de forma muito diferente.

Houve uma mudança na mana em torno de Ellie, seus olhos dilataram dramaticamente. Ela se inclinou para Chul e cheirou.

— Eles podem não emitir uma assinatura de mana, mas há um cheiro distinto neles. Oleoso e… Eca, que nojo. Tipo, peixe estragado. É meio avassalador. Deve ser o suficiente para me dizer quando algum estiver por perto.

— Não vejo motivo para preocupação.

Disse Chul, dando de ombros.

— Eu facilmente destruí a Arraia do Céu. Se a irmãzinha puder farejá-las com o fedor deixado em minha carne, não seremos pegos de surpresa novamente.

— Arraia do Céu? Você conhece essas criaturas?

Chul pousou a ponta da arma no chão e apoiou-se no cabo.

— Eu ouvi histórias de bestas de mana semelhantes em Epheotus. A arraia do céu abissal é um predador incomparável, seu controle de mana é tão perfeito e suas asas tão velozes que até os caçadores fênix às vezes são pegos desprevenidos.

— Arraia do céu abissal, hein?

Regis perguntou com um bufo.

— Um pouco dramático.

— Realmente importa como é chamado?

Caera disse, com o pescoço girando enquanto observava as árvores.

— Qual é o nosso plano para superar esta zona com nossas vidas?

— As raízes estão muito expostas.

Disse, pensando alto.

No nível da água, as raízes se projetavam, crescendo umas sobre as outras em uma teia intrincada. Acima, os galhos das árvores gigantes pelo menos tinham folhagem para nos oferecer alguma cobertura. Parecia provável que esses predadores os usassem para ficar fora de vista enquanto observavam qualquer coisa que se movesse ao longo das raízes abaixo. Eu só podia esperar que pudéssemos fazer o mesmo.

Caera seguiu a linha do meu olhar.

— Você acha que poderíamos ir além de onde essas criaturas caçam? Com sua capacidade de teletransporte, poderíamos escalar quilômetros com relativa facilidade.

— Isso não é tão simples.

Esfreguei a nuca.

— Sempre que paro de pensar em Sylvie, seu poder aumenta de forma imprevisível, o que só nos coloca em mais perigo.

— Ah, eu posso resolver isso facilmente.

Chul levantou Caera como uma criança e a colocou em Boo atrás de Ellie.

Caera congelou, prendendo a respiração até que acabou, então soltou com uma rajada.

— Por favor, não faça isso de novo.

Disse rigidamente enquanto ajustava seu assento no urso, parecendo incrivelmente desconfortável.

A confusão de Chul era clara, mas ele apenas deu de ombros.

— Segure na besta.

Ajoelhando-se, Chul estendeu a mão por baixo de Boo e pegou o urso guardião e todos os outros em seus braços.

— Se esta criatura for semelhante às arraias do céu de Epheotus, será atraída por movimentos rápidos.

Chul não esperou por uma resposta antes de flutuar no ar, movendo-se lentamente em direção aos galhos acima.

Esperei, observando ao redor qualquer sinal de ataque. A floresta estava calma e nenhum ataque veio.

Canalizando o Passo de Deus, mas não ativando-o, observei a áspera esfera de caminhos desconectados surgir com Sylvie. Quando Chul colocou Boo no chão com segurança, usei o Passo de Deus para ir até eles, fora da esfera de influência de Sylvie. Mesmo no instante que levou para fazê-lo, seu feitiço atacou, fazendo meus companheiros gaguejarem como uma falha gráfica em um antigo videogame da Terra.

Recuperei meu controle sobre o efeito e todos se estabilizaram.

Caera rapidamente deslizou das costas de Boo e percebi o brilho prateado quando seus drones se aproximaram.

— Não sinto nenhum movimento por perto.

Acenando para os outros, apontei ao longo do galho. Era largo o suficiente para vinte soldados marcharem lado a lado antes de fazer uma curva acentuada nas bordas.

Sem hesitar, Chul abriu o caminho. Nos movimentamos com cautela, tanto para evitar ruídos ou movimentos bruscos que pudessem chamar a atenção, quanto para manter o equilíbrio na casca áspera. Caminhava ao lado de Boo, enquanto Caera ficava entre mim e Chul.

O progresso era lento e o clima tenso. Meu foco estava dividido entre me concentrar em conter o feitiço de Sylvie, observar se havia mais arraias do céu e procurar um caminho a seguir.

Caera e Ellie se tornaram nossas batedoras principais. A vontade bestial de minha irmã aumentou seus sentidos além do que eu poderia conseguir com éter, os drones de Caera permitiam que ela procurasse ameaças ao nosso redor e cruzamentos facilmente alcançados entre os galhos.

Nós nos movemos para fora, para longe do tronco da árvore e o galho se estreitou ligeiramente enquanto avançávamos. Nossa primeira transição para outro galho foi relativamente fácil. Escolhi um que cruzava diretamente abaixo do nosso, mas que nos manteria indo relativamente na mesma direção. Conseguimos descer até ele sem incidentes.

Mantendo um ritmo lento, mas constante, passamos de galho em galho dessa maneira por trinta minutos ou mais sem incidentes.

— Arthur, a água.

Ellie apontou por cima da borda para um amplo trecho de lago claro abaixo.

Pontos vermelhos sem forma giravam no lago, muito longe para distinguir qualquer detalhe. Mesmo enquanto observava, uma sombra em forma de diamante deslizou para a água e uma mancha vermelha saltou em suas costas. Em instantes, a arraia do céu e seu passageiro desapareceram na floresta.

— Algo estava montado nela.

Disse Ellie, inclinando-se sobre a borda do galho para ver melhor.

— Parecia… certo, isso é estranho, mas quase parecia uma pessoa.

— Algo parecido com o ser senciente que encontramos na zona nevada?

Caera perguntou, esticando o pescoço com curiosidade.

Com um choque de preocupação de Regis, olhei para trás bem a tempo de ver outra arraia do céu mergulhar de cima. O tempo pareceu desacelerar e a observei descer passo a passo, centímetro a centímetro.

Conjurando uma lâmina etérea, girei ligeiramente, corrigindo meu pé na casca irregular e saltei em direção ao monstro. Ao fazê-lo, todo o seu impulso para a frente cessou, depois reverteu e voou de volta para o ar fora de alcance. Em um piscar de olhos, mudou de posição novamente, mudando de posição sem parecer se mover, de modo que ficou três metros à esquerda de onde estava. Mais estranho ainda, voltei a ficar de pé no galho.

O tempo, que estava quase parado, avançou tão rápido que não pude reagir à aproximação da arraia do céu, nem mesmo para avisar os outros.

Ele atingiu nosso galho de cabeça, seu corpo se estilhaçando e jorrando sangue com a força. O galho balançou com tanta força que tropecei e caí em um joelho, meu senso de equilíbrio já prejudicado por ser chicoteado para frente e para trás no tempo e no espaço.

Ellie gritou, perdendo o equilíbrio completamente e Boo teve que agarrá-la pela parte de trás de sua armadura, então ela ficou pendurada em suas mandíbulas como um filhote.

Caera tropeçou para a frente e parecia que ia cair do galho, mas seu pé pressionou contra o ar sólido e ela se impulsionou de volta para uma base mais estável. Ao lado dela, Chul havia girado e brandido sua arma, mas ele só podia piscar em perplexidade com o corpo arruinado da arraia do céu.

O galho balançou novamente e um tremendo estalo ressoou pela floresta. A madeira rachou onde a arraia do céu havia atingido e toda a estrutura caiu trinta centímetros. Boo cravou suas garras e se agachou junto à casca. Chul, reagindo mais rapidamente desta vez, agarrou Caera e flutuou para fora do galho.

Tomando uma decisão em uma fração de segundo de não utilizar nenhuma das minhas técnicas de movimento, temendo que a magia de Sylvie pudesse ser mais perigosa do que uma queda, corri para Sylvie e Ellie.

Madeira e casca lascadas. Todas as centenas de metros do galho se soltaram e caíram, nós caímos junto com ele. Só pude ver Caera e Chul voando acima de nós antes que meu corpo se contorcesse.

Em algum lugar distante, perto da ponta mais fina, o galho caindo atingiu outro galho de árvore e quebrou novamente com um som como um terremoto.

Com seu ímpeto diminuído brevemente, atingi o galho que caía no momento em que ele explodiu na madeira sólida do outro. Empurrando com ambas as mãos e pés contra a casca áspera, me joguei em Boo. O impacto resultante nos levou para o ar livre quando o galho que caiu colidiu com outro galho de árvore colossal e ambos se despedaçaram com um estrondo que fez a terra tremer.

Boo e eu aterrissamos no galho mais baixo em um emaranhado de galhos, a madeira abaixo de nós tremendo doentiamente, o ar cheio dos gritos de minha irmã.

Reforçando meu domínio sobre o esforço do éter para se libertar das restrições da armadura de relíquia, pulei de pé e procurei por minha irmã, que não estava mais presa nas mandíbulas de Boo. Regis se manifestou e foi para o lado do urso, imediatamente em guarda para qualquer criatura que pudesse ser atraída pelo barulho.

Ellie estava pendurada em uma corda visível de mana sob o galho quebrado em que eu estava, madeira lascada ainda chovendo ao seu redor. Bem abaixo dela, os dois galhos titânicos se chocaram contra o lago com força suficiente para abalar os alicerces das árvores arranha-céus.

Ellie não estava mais gritando. Estava respirando pesadamente com o suor escorrendo pelo rosto, todo o foco na mana que a sustentava.

Abaixando-me, tentei agarrar a flecha à qual a corda estava conectada, que Ellie havia atirado na lateral do galho quebrado, mas quando minha mão tocou a mana, todo o feitiço tremeu.

— Não!

Ellie gritou, pegando a corda de mana com firmeza em ambas as mãos e fechando os olhos em concentração.

— Eu… consigo subir.

Antes que eu pudesse responder, o movimento atraiu meu foco para as profundezas da floresta enquanto uma faixa preta se curvava em torno de uma árvore distante e disparava em direção a Ellie. Três criaturas bizarras estavam agarradas às costas da arraia do céu, chiando loucamente e brandindo estranhas armas orgânicas.

Éter se fundiu em meu punho para formar uma espada, mas a energia saindo de Sylvie aumentou quando dividi minha atenção.

Raios de fogo negro desciam de um galho mais alto. Dois queimaram nas costas da arraia do céu, fazendo sua carne borbulhar e inchar, como uma crosta se formando. O terceiro atingiu uma das criaturas no peito e a lançou ao ar livre em direção às águas abaixo, ainda se agitando com os destroços dos galhos que caíam.

Dando uma rápida olhada, vi Caera pressionada contra o tronco de uma árvore vizinha, sua espada desembainhada, mas focada inteiramente em controlar os drones. Chul estava encarando uma segunda arraia do céu enquanto a criatura girava acima.

Atrás de mim, Boo gemia em desespero, dançando para frente e para trás enquanto olhava por cima da borda na direção em que Ellie estava rastejando mão após mão pela corda de mana.

Regis de repente passou por mim e saltou do galho quebrado. Seu corpo inchou para fora, as chamas tornando-se irregulares, seu pelo como pontas afiadas e asas brotando de suas costas. Ele colidiu com a arraia do céu e a Destruição saltou de suas mandíbulas, ele a rasgou no ar. Senti isso como dezenas de pernas afiadas, que corriam em fileiras ao longo da barriga da arraia do céu, cortando e perfurando sua pele endurecida, mas apenas da mesma forma vaga a dor atingiu o cérebro de Regis através da influência da Destruição.

Ellie alcançou o ponto onde sua flecha de mana se projetava do galho quebrado e se prendia na casca. Eu a agarrei pela parte de trás de sua armadura e a levantei facilmente em terra firme, ou pelo menos, o mais próximo de terra firme que tínhamos. Ela não perdeu tempo em descartar seu feitiço e se proteger ao lado de Boo.

Regis e a arraia do céu estavam caindo em direção ao lago centenas de metros abaixo. Uma das criaturas agarradas às suas costas estava lançando uma lança de três pontas em meu companheiro, cada impacto como a picada de uma abelha, mas a outra não era mais visível.

Até um momento depois, quando ele escalou o lado do galho em que estávamos, me concedendo a oportunidade de dar a primeira boa olhada nele.

Embora seu torso e braços fossem humanoides, uma cauda larga e plana coberta por placas entrelaçadas compunha sua metade inferior. Como a arraia do céu, na parte de baixo dessa cauda brotavam dezenas de pernas em forma de gancho que agarravam facilmente a casca densa, deixando-a deslizar pela superfície da árvore como um cupim. As barbatanas cresciam como asas em suas costas e todo o torso humanoide estava coberto por escamas muito finas.

Agarrada em seus dedos com garras e membranas estava uma espada curta quitinosa do mesmo tom vermelho-claro de suas escamas. Quatro olhos pequenos brilhavam acima de duas narinas fendidas em seu rosto achatado, sua boca larga se abria em um rosnado, revelando fileiras de dentes pontiagudos.

Uma flecha passou zunindo por mim, atingindo a criatura crustácea no peito. A flecha de mana ondulou para fora, desviou e então se dissipou, falhando em danificar seu alvo.

Reforçando meu domínio sobre a armadura de relíquia e Sylvie dentro dela, dividi meu foco e enviei éter para meus músculos e articulações, reforçando não apenas minhas pernas e a parte inferior do corpo, mas também meus ombros, peito e braços. Se eu fosse rápido o suficiente…

Dei um passo à frente, utilizando a técnica Passo Explosivo para cruzar a distância entre mim e a criatura em um instante. Ao mesmo tempo, o éter subiu pela minha espinha e pelos meus ombros, desceu pelos meus braços e entrou nos meus antebraços, pulsos e nós dos dedos. Em cada músculo e articulação, o éter queimou em uma explosão perfeitamente cronometrada, cada uma impulsionando meu golpe para frente com uma quantidade exponencialmente crescente de velocidade e força.

A parte superior do corpo da criatura abissal se desfez em um borrifo vermelho sangrento quando meu punho colidiu com seu esterno. A parte inferior do corpo cambaleou para frente e para trás para respirar antes de cair do lado do galho e espiralar para longe.

Apesar do meu melhor esforço, meu controle de ferro sobre o feitiço de Sylvie escorregou. Pelo canto do olho, vi Ellie e Boo gaguejando e a flecha conjurada contra a corda do arco de Ellie explodiu. Ela foi levantada do chão e bateu no lado de Boo.

Corri para pegá-la antes que caísse. Estava tremendo e olhando para o braço em estado de choque. O arco anão havia se estilhaçado e um osso se projetava na pele de seu antebraço.

— El!

Ela empurrou meu peito com a mão boa e deu um passo hesitante para longe.

— M-Me dê um pouco de espaço para respirar, Art…

Mana envolveu seu antebraço antes de apertar como uma tala. Ellie deu um grito agonizante e caiu contra Boo, tremendo da cabeça aos pés, a mana crepitou.

Arranquei um pedaço de casca.

— Aqui, morda isso.

Eu o segurei e ela o pegou entre os dentes.

Boo rosnou e pressionou o nariz contra a bochecha dela. A luz dourada a inundou, viajando para baixo em seu peito e o tremor aliviou.

A tala conjurada continuou a apertar, forçando o osso de volta para baixo da pele. Com um giro de seu braço, ela colocou os ossos quebrados de volta no lugar. Embora inchado e roxo, o fluxo constante de sangue diminuiu para um fio, retido pela mana.

Ela enxugou as lágrimas com as costas do braço bom, depois lutou para ficar ereta.

— Algo que mamãe me mostrou, só por precaução. Agora v-vamos…

Embora seu rosto estivesse pálido e coberto de suor, ela se endireitou.

— Não podemos perder mais tempo.

Balançando a cabeça, me virei, enrolando e desenrolando minha própria mão.

Meu braço, dos nós dos dedos ao ombro, doía. A técnica Ataque Explosivo parecia uma extensão natural do Passo Explosivo agora que meu físico Asura podia lidar com a tensão, porém tive muito pouco tempo para praticá-la.

Ao contrário de um passo, onde toda a minha força de empurrão cuidadosamente executada caía no chão e era absorvida, um soco alimentado por tanta velocidade e precisão desferia quase tanto impacto em mim quanto no meu alvo, causando uma série de micro cortes e fraturas no meu braço.

Cerrando o punho, acompanhei a cura do meu corpo, ciente de cada músculo rompido e tendão tenso conforme se fundiam, desejando poder estender o mesmo poder para minha irmã e curar seu braço.

Mas não havia tempo para me demorar em meus erros. Ellie parou bruscamente enquanto subia com uma mão nas costas de Boo, olhando para os galhos acima.

— Ouvi o vento sobre as asas. E… posso sentir o cheiro de outro.

Não houve mais discussão antes de começarmos a nos mover novamente, correndo ao longo do galho com Chul na frente. Ellie, com o braço amarrado em uma tipoia e sua arma destruída, ficou nas costas de Boo, seu braço bom segurando Sylvie. Caera correu entre Boo e Regis, metade de seu foco nos drones zunindo pela folhagem ao nosso redor. Embora eu não pudesse sentir as assinaturas de mana das arraias do céu, mantive o Realmheart ativo, observando o movimento de mana e éter em busca de qualquer sinal de perigo adicional.

Antes mesmo de fazermos a transição para o próximo galho, uma arraia do céu em alta velocidade passou por cima, movendo-se na direção dos galhos caídos. Graças ao aviso de Ellie e Caera, fomos capazes de nos esconder em um trecho mais espesso de folhas do tamanho de velas de barcos, deixando-as desaparecer atrás de nós.

Mas quando saímos do esconderijo, outra apareceu, essa com dois dos crustáceos abissais montados em suas costas. Um estalou e grasnou, apontando sua lança de duas pontas em nossa direção.

Soltei um xingamento frustrado.

— Vão, continuem andando!

Batendo a bola de sua arma na palma da mão, Chul correu para a frente. Boo acelerou para igualá-lo, mas percebi que Caera estava se esforçando para dividir seu foco. Ela pareceu pensar por um momento, então pulou nas costas de Regis. Ele fez uma pausa apenas o suficiente para permitir que ela mesma se posicionasse, então disparou atrás dos outros.

Em um instante, a arraia do céu girou e desceu atrás de nós, mas não atacou. Em vez disso, liberou uma vibração subsônica como o tilintar de um sino funerário, igual ao primeiro que encontramos. Empurrando éter em meus ouvidos para amortecer o ruído, olhei ao redor, certo do que viria a seguir.

Como eu esperava, outra arraia do céu apareceu atrás da primeira. Em seguida, uma terceira, inclinando-se bruscamente através de um emaranhado de galhos grossos à nossa direita.

— Há mais dois abaixo de nós.

Disse Caera, girando nas costas de Regis para me encarar.

— Cada um com um punhado dessas criaturas escamosas. Eles estão nos cercando!

Considerando a velocidade das arraias do céu, não havia como derrotá-las. Sendo este um ataque obviamente coordenado, no entanto, sabia que parar para combatê-los poderia permitir que ainda mais inimigos nos cercassem.

— Continuem andando.

Ordenei depois de pensar um segundo.

Sylvie, agora seria um ótimo momento para sair dessa, pensei, sem esperar uma resposta.

De repente, uma das arraias do céu deu meia-volta e pousou no galho trinta metros à nossa frente. Seus três cavaleiros se afastaram, depois se dividiram, rastejando pelas laterais e por baixo do próprio galho. Outra arraia do céu pousou atrás de nós, e mais dois cavaleiros desmontaram, suas armas em punho enquanto avançavam em nossa direção com dezenas de pernas afiadas como facas.

Feixes negros de fogo espiritual marcaram o ar. Dois atingiram a arraia do céu, fazendo com que a carne borbulhasse e estourasse. As outras duas arraias dispararam para a esquerda e para a direita, direcionadas às criaturas abissais que deslizavam ao longo da borda vertical do galho.

Ao mesmo tempo, um raio branco brilhante disparou da palma da mão de Ellie. Ele se curvou ao redor da borda externa do galho, seguido um instante depois por uma explosão violenta que senti nas solas dos pés.

Concentrei-me em Sylvie, na armadura e no feitiço que cercava seu corpo. Manter o feitiço inconsciente de Sylvie sob controle era minha prioridade.

Com Sylvie totalmente centrada em minha consciência, utilizei apenas uma parte de meus pensamentos para conjurar uma lâmina etérica doze metros atrás de mim e golpear descontroladamente com ela.

O ataque era desajeitado, balançando de forma instável, a criatura abissal crustácea saltou para trás para evitá-lo. E mesmo aquele esforço fracassado causou um solavanco que fez Boo perder o equilíbrio e tropeçar, quase derrubando minha irmã ferida.

Ainda assim, no segundo que nos comprou, a maça de cabeça redonda de Chul saiu voando. Ele atirou como um míssil, as fissuras na cabeça rugiram com chamas antes de rasgar carne e osso e quase partir o monstro ao meio.

À nossa esquerda, uma criatura abissal tingida de vermelho subiu correndo pelo lado do galho, suas muitas pernas pontiagudas agarrando-se facilmente à casca grossa. Faixas de fogo espiritual marcaram o ar como as próprias sombras dos raios conjurados de Ellie, desequilibrando a criatura para que Regis terminasse com um golpe de chicote de sua cauda.

Chul correu por cima do cadáver da arraia do céu enquanto sua arma voltava para sua mão, e Boo e regis mantiveram o ritmo enquanto continuávamos em seu rastro.

— Abaixo de nós!

Ellie gritou, apontando para a base de uma árvore vizinha.

Movendo-se como cupins, dezenas de criaturas abissais escalavam rapidamente a estrutura elevada. Eles se moviam tão rápido quanto éramos capazes de correr ao longo da superfície horizontal e parecia que pretendiam nos cortar.

Examinei os galhos próximos através de uma saraivada de fogo mágico, procurando uma maneira de mudar o curso.

Sem todo o meu arsenal de habilidades, não havia outro lugar para ir a não ser seguir em frente. Enquanto corríamos, procurei nas sombras de cada galho e raiz qualquer sinal de um portal de saída. Esta zona não era um espaço limitado como uma caverna, mas mais como a zona coberta de neve de Three Steps, ou o deserto que Taci e eu destruímos. Em ambos os lugares, que pareciam se expandir para sempre, a própria zona me conduziu ao destino. Tínhamos seguido os galhos na direção mais natural, o que eu esperava significar—

Meus olhos se fixaram em algo, uma borda reta entre formas orgânicas toscas e sinuosas. Eu mal o havia notado, meio escondido dentro de um aglomerado de raízes emaranhadas no lago abaixo de nós.

Ellie confirmou minhas suspeitas imediatamente, seus brilhantes olhos castanhos focados na distância.

— É o portal!

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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