A presença de Vajrakor diminuía a cada passo que dávamos enquanto a força de Caera retornava pouco a pouco. Túneis apertados deram lugar a salões extensos e ornamentados, finalmente à extensão aberta da caverna principal de Vildorial. Dos degraus do palácio, toda a metrópole subterrânea se estendia diante de nós.
Varay me olhou com um ar de incerteza, claramente questionando como lidei com a altercação com o dragão.
— Vou garantir que Torviir e Bolgar estejam suficientemente isolados desta situação, então tenho meus próprios deveres a cumprir. Vai ficar muito tempo na cidade?
Olhei para Caera.
— Provavelmente não.
— Tenha cuidado, Arthur.
Ela disse, uma pequena carranca franzindo sua testa.
— Apesar de reconquistar nosso continente, não posso deixar de sentir que Dicathen nunca esteve em perigo maior do que agora.
Soltei uma risada sem graça.
— Qual é aquele ditado sobre frigideiras e fogueiras?
— Exceto que neste caso, é o fogo de um dragão.
Disse Varay sombriamente. Ela estendeu a mão para Caera. Quando a pegou, Varay pressionou algo em sua palma.
— Peguei isso quando soube que Arthur estava se aproximando da cidade. Sei que só estou devolvendo o que é seu, mas quero que saiba que, se Arthur confia em você, eu também confio.
Então seus pés levantaram do chão e ela voou para a caverna aberta.
Caera deslizou um anel ornamentado em seu dedo, seu olhar mudando para mim enquanto se mexia ansiosamente.
— Eu sou… grata por você ter vindo. E peço desculpas por bater em você, eu…
Acenei com a mão em desdém.
— Eu merecia pior. Você nunca deveria ter que suportar isso, nada disso.
O silêncio caiu entre nós, desajeitadamente comecei a andar, tentando pensar no que mais dizer. Fui forçado a deixar Alacrya sem explicações ou despedidas; a última vez que a vi, ainda pensava que eu era o Ascendente Grey. Não a culparia se me odiasse por minhas mentiras, mas me consolei com o fato de Seris saber a verdade e ainda ter enviado Caera para me encontrar.
— Minha mãe é uma emissora, uma curandeira.
Disse depois de alguns minutos apenas para quebrar o silêncio constrangedor.
— Ela pode curar suas feridas.
— Meus ferimentos não são importantes.
Caera disse com força, então sua boca se fechou e ela desviou o olhar.
— Sinto muito.
Disse, observando-a com o canto do olho.
— Por isso e por mentir para você sobre minha identidade.
— Acho que isso nos deixa quites.
Disse sem humor, ainda sem olhar para mim.
Uma patrulha de guardas anões parou para nos observar, mexendo nervosamente em suas armas. Fiquei de olho até passarmos e eles retomarem a marcha.
— Onde você estava?
— As Relictombs são construídas em uma dimensão toda feita de éter. As zonas… meio que… flutuam, desconectadas de tudo neste vasto oceano etéreo. Usei aquele éter para trazer de volta meu antigo vínculo, Sylvie, aquela que…
— Que se sacrificou por você? E você conseguiu? Trazê-la de volta, quero dizer.
— Consegui.
Hesitei em continuar, voltando meus sentidos para dentro do meu núcleo de éter.
Os fragmentos quebrados do meu núcleo de mana original ainda estavam fundidos dentro de uma barreira sólida de éter, uma estrutura quase cristalina. O núcleo havia adquirido uma cor magenta profunda quando o forjei originalmente, mas escureceu a cada camada subsequente. Agora, o núcleo de três camadas era uma esfera púrpura vívida repousando escura e pesada em meu esterno. Cada camada fornecia maior refinamento do éter armazenado e permitiu que mais éter fosse atraído e armazenado dentro do núcleo.
Quando forjei o núcleo de éter pela primeira vez, mal conseguia condensar o suficiente para uma única explosão etérea. Foi necessário treinamento significativo e refinamento para permitir até duas ou três explosões, mas adicionar uma segunda camada aumentou minha capacidade exponencialmente em um instante.
Não havia tempo para testar o que meu núcleo, e por extensão, o que eu era capaz de fazer agora, mas parecia diferente, mais potente, como um sol em miniatura preso em meu peito.
Falando vacilante, continuei, explicando o que tinha feito e por quê.
— Infelizmente, desconectados do mundo, nenhum de nós era capaz de sentir a passagem do tempo.
— Então você passou dois meses meditando e reunindo éter?
Caera perguntou, parecendo perplexa.
— Gray, isso é… insano.
Esfreguei a nuca, envergonhado.
— Honestamente, provavelmente demorou mais, já que o tempo parece passar mais rápido nas Relictombs.
Caera balançou a cabeça.
— Isso é verdade. Pode ter sido seis meses, pelo que você sabe…
Ela soltou um suspiro longo e cansado.
— Você poderia ter acabado não voltando.
Fomos interrompidos por alguém gritando meu nome, percebi que estávamos passando por um dos mercadinhos que pontilhavam a rodovia. Uma jovem elfa correu até mim, colocou uma flor seca em minha mão e saiu correndo rindo. A maioria daqueles por quem passamos simplesmente nos encaravam, mas o foco estava sempre em Caera.
Eu tinha me acostumado com os chifres envolvendo sua cabeça como uma coroa, mas para as pessoas deste continente, aqueles chifres a faziam parecer uma inimiga.
— Por que Seris mandou você para Dicathen?
Perguntei, saindo da estrada sinuosa em direção aos portões do Instituto Earthborn.
— E sem o pingente para esconder os chifres?
— Ela disse que precisa… Precisava de você em Alacrya logo. Mas isso foi…
— Dois meses atrás.
Terminei para ela.
— Fui atacada a caminho do tempus warp. Um aliado de Seris, outro pupilo, a traiu.
Continuou, suas palavras pingando veneno gelado.
— Quase fui capturada e mal escapei da Foice Dragoth Vritra. Devo ter perdido o pingente durante a batalha.
— Então.
Disse lentamente, deixando a palavra pairar no ar.
— Meu amigo Haedrig está morto?
Caera deu uma risada assustada.
— Oh meu Deus. Eu nem tinha considerado isso.
Seu sorriso momentâneo desapareceu. Ela tinha olheiras espessas abaixo dos olhos, praticamente podia vê-la se esforçando para mantê-los abertos.
— Talvez você estivesse certo. Seris não deveria ter me enviado aqui. Você nem é Alacryano. O que aconteceu com seu povo, com sua… família… você não nos deve nada. Se eu soubesse…
Ainda sustentava o peso de Caera enquanto caminhávamos, mas agora havia se afastado de mim. Quando voltou a falar, foi com ar de resignação.
— Você tem suas próprias batalhas para lutar, entendo isso agora. Se puder me ajudar a voltar para Alacryan, irei—
Gentilmente segurando seu antebraço, parei. Ela fez o mesmo, seus olhos escarlates cheios de perguntas.
— Naquela zona de convergência, a primeira vez que realmente nos encontramos, eu estava apenas imaginando o que estava acontecendo. Estava pronto para deixar todos lá para morrer quando percebi que todos vocês eram Alacryanos. Vocês eram inimigos e pensei que todos deviam ser monstros perversos e malignos. Era mais simples para mim, pensar assim.
Respirei fundo.
— Caera, você me mostrou a verdade sobre esta guerra. Você, Alaric, Seth e Mayla, todos que conheci que estavam apenas tentando sobreviver em um continente escurecido pela sombra de Agrona. Você não é minha inimiga. Os tiranos Asuras que procuram moldar este mundo em seus próprios parques de diversões cruéis, ou pior, queimar nosso mundo até o chão. Eles sim são nossos inimigos.
Ela olhou para mim por um momento, então deu um pequeno aceno de cabeça.
— Alguma coisa te assusta?
Baixei a cabeça, de repente envergonhado.
— Estou apavorado, Caera. De não ser poderoso o suficiente, inteligente o suficiente, lúcido o suficiente. Mas, acima de tudo, tenho medo de perder. Muitas pessoas já me admiram como se eu fosse algum tipo de divindade. Eu só preciso que você seja… minha amiga.
Seus olhos procuraram os meus por um longo momento, seus lábios levemente franzidos e então ela soltou um suspiro longo e melodramático.
— Bem, entendi agora. E aqui estava eu, pronta para começar o primeiro Templo de Gray, Aquele que Anda Entre Nós.
Bufei, mas não consegui esconder meu sorriso quando começamos a nos afastar.
— Estou feliz que você conseguiu manter seu senso de humor depois de tudo.
A risada de Caera morreu em seus lábios, seu rosto escureceu.
— A ideia de tortura do dragão era só um pouco pior do que qualquer criança Alacryana enfrenta quando começa a treinar para suas provações.
Mas cada passo que ela dava era pesado, e eu sabia que ela estava sofrendo mais do que aparentava.
Minha diversão murchou dentro de mim.
Não falamos mais até chegarmos à porta despretensiosa que dava para a casa de minha mãe e minha irmã em Vildorial, um pequeno conjunto de quartos dentro do próprio Instituto Earthborn. A porta se abriu antes que eu pudesse bater. Sylvie sorriu e ficou de lado, acenando para entrarmos.
— Sua irmã me deixou paranoica de que você iria desaparecer.
Disse levemente.
— Acho que ela está planejando se prender a você para que não possa deixá-la para trás novamente.
— Sylvie!
Ellie gritou do outro lado da sala, indignada.
— Isso era para ser um segredo.
Continuei o caminho e peguei Ellie em um abraço de urso.
— Isso significa que você não está mais com raiva de mim?
Perguntei, esmagando-a em mim.
— Estou enfurecida.
Ela se engasgou, contorcendo-se para se livrar.
— Oh, oi Senhorita Caera, que bom que meu irmão idiota conseguiu tirá-la de lá.
Comecei a soltá-la, franzindo a testa.
— Perdi algo? Como vocês—
De repente, Ellie se soltou rigidamente do meu aperto. Endireitou as roupas e olhou além de mim. Acompanhei seu olhar até Chul, que apareceu na porta atrás de Caera e de mim. Minhas sobrancelhas se levantaram.
— Hum, oi.
Disse Ellie, passando por mim e estendendo a mão para o meio-asura. A mão dele envolveu a dela.
— Não fomos apresentados antes. Sou Eleanor Leywin.
— Chul.
Disse educadamente enquanto examinava a pequena sala de estar.
— Você tem olhos realmente bonitos.
Acrescentou ela, olhando para os orbes laranja e azul.
Ele desviou o olhar e soltou a mão dela.
— Eles são como bandeiras de batalha, exibindo orgulhosamente ao mundo que sou descendente das raças fênix e djinn. Nossos inimigos devem tremer ao vê-los.
— Hum, claro.
Disse, dando um passo para trás e sorrindo sem jeito. Deu mais alguns passos para trás, então se virou e marchou para a cozinha.
— Mãe, Arthur está aqui com mais companhia!
Regis, que estava deitado de lado no chão, com o estômago inchado, rolou sobre os pés para fazer uma pequena reverência a Caera.
— Senhorita. Fico feliz em ver você aceitando seus chifres. O trio, está finalmente reunido novamente.
Sylvie apareceu do arco da cozinha com um sorriso incerto, entre divertida e desconfortável.
— O que ele… oh, sério mesmo?! Regis! Não seja grosseiro.
Quando estava começando a me arrepender de todas as decisões da minha vida, minha mãe apareceu. Ela me deu um beijo na bochecha como se quisesse me garantir que tudo iria, de fato, ficar bem, depois se enrijeceu ao ver Caera.
— Oh, querida, olhe para você!
Ela atravessou a sala para o lado de Caera, deslizou o braço ao redor da Alacryana assustada e então olhou para mim.
— Arthur Leywin! Como ousa arrastar esta jovem pela cidade neste estado?
Abri a boca para me defender dessa acusação injusta, questionei o impulso e deixei minha boca fechar lentamente.
— Vamos lá, vamos limpar e remendar você.
Disse minha mãe, conduzindo Caera em direção ao corredor que ligava os quartos e o banheiro.
— Oh, estou bem, Senhora Leywin, sério, não há necessidade de—
— Me chame de Alice, querida, lembra?
Caera lançou um olhar incerto para mim, mas eu só pude espelhar seu olhar de volta enquanto mamãe a conduzia para dentro dos quartos. Uma ladainha de murmúrios preocupados se arrastou atrás delas.
— Como você—
— Oh, mamãe foi chamada para curar as feridas de Caera quando ela chegou.
Disse Ellie em tom de conversa.
— Quando soube que ela supostamente conhecia você, fui ver se era verdade. Ela é, ah, muito legal.
Algo na maneira como Ellie olhou para mim enquanto pronunciava a palavra “legal” me deixou desconfortável.
— Que família divertida você tem.
Chul entrou na conversa. Foi até o sofá e se acomodou nele, testando sua resistência para ter certeza de que o sustentaria. Quando não desmoronou, acenou com satisfação.
— Olhei em volta desta cidade e decidi que já vi o suficiente. Todo mundo olha para mim e não há inimigos para atacar. A menos que você conte os dragões, que eu entendo que estão fora dos limites por enquanto. Então, quando começaremos a matar basiliscos?
Ellie voltou da cozinha e encostou-se ao arco.
— Então, vocês definitivamente vão para Alacrya?
— Nosso primeiro objetivo é resgatar Seris.
Disse Regis, sentando-se e parecendo sério.
— Se é que resta alguma coisa de sua pequena rebelião para salvar.
— Iremos para lá sim, mas não podemos simplesmente partir sem cuidado. Caera precisa de um tempo para descansar e precisamos nos organizar.
Fiz uma pausa, seguindo o progresso de uma aura poderosa se aproximando de nós.
— Ainda há muito que preciso entender. Não me sentirei bem em deixar o continente até saber que certas rodas estão em movimento.
— Meu avô vai ficar furioso por você não ter me levado até ele imediatamente.
Refletiu Sylvie.
Dei de ombros, já indo em direção à porta.
— Não acho que tentar cair nas boas graças de Kezess seja uma estratégia vencedora em qualquer situação.
Disse por cima do ombro.
Abrindo a porta, olhei para o corredor no momento em que Wren Kain flutuava na esquina em sua cadeira de pedra. O titã sempre mostrava uma mistura de irritação e desapontamento, mas agora exibia ambos em abundância.
— Sim, foi assim que meu encontro com o guardião da cidade me deixou sentindo também.
Disse, lamentando o humor de Wren Kain.
— Ainda mais agradável do que ser forçado a treinar uma criança idiota e menor.
Retrucou, parando em seu trono flutuante, que ocupava a maior parte da largura do salão. Seus olhos se estreitaram.
— Posso ver que você tem algo em mente. O que está planejando?
Chul apareceu atrás de mim. Um grande punho martelava contra seu peito em uma espécie de soluto.
— Ancião Wren Kain, quarto de seu nome, bem-vindo à estranha e claustrofóbica morada do Clã Leywin. Haverá muitas coisas aqui para você reclamar, tenho certeza.
— Reclamando é como garanto que as coisas sejam feitas.
Wren rebateu, inclinando-se mais para trás em seu trono.
— Se realmente quisesse ajudar, se juntaria a nós para esmagar o Vritra.
Chul continuou.
— Aldir disse que você pode controlar um exército inteiro de golens de uma só vez. Essa seria uma habilidade útil quando enfrentarmos as forças de Agrona.
— Se Arthur estava ansioso por ajuda em combate, talvez não devesse ter executado um dos maiores guerreiros de Epheotus.
Wren retrucou, a emoção em sua voz surpreendentemente crua e visceral.
— Não matei ele.
Respondi baixinho. Uma coisa era manter a mentira para Mordain e uma audiência de fênix, mas outra era continuar mentindo para Wren, especialmente considerando o que eu precisava perguntar a ele.
— Aldir escolheu se exilar naquele lugar. Foi sugestão dele que eu usasse sua “morte” para ganhar elogios tanto de Kezess quanto do povo de Dicathen.
— Mas o qu—?
Wren se interrompeu, olhando furioso para mim.
— Sua história fede mais do que merda de urso titã. Por que Aldir faria isso?
O asura bufou antes que eu pudesse responder, então disse:
— Ah, aquele maldito panteão e seu senso de honra. Claro que ele faria uma coisa dessas.
Ele me olhou de cima a baixo com uma careta de decepção.
— Fui estúpido em acreditar que você de alguma forma teria conseguido matar Aldir de qualquer maneira.
— Obrigado.
Disse, uma sobrancelha ligeiramente levantada.
— Sinto muito por ter mentido para você, Wren. Eu não tinha certeza se podia confiar em todos no Lar.
— Bah!
Chul explodiu, cruzando os braços enormes sobre o peito largo.
— Minha família está empoleirada há muito tempo. Nenhum deles teria interferido de qualquer maneira. Eles se veem como separados do mundo. E talvez sejam mesmo, por terem sido obrigados, já que não são mais bem-vindos em Epheotus e também não se encaixarem aqui. O Lar também pode estar bloqueado no tempo. Uma vez que o último djinn desapareceu…
Chul parou, depois bufou e voltou para os aposentos da minha família.
— Ouça, Wren, precisamos conversar. Você viria comigo?
Perguntei, feliz por ter limpado o ar entre nós para que eu pudesse falar o que penso com mais clareza.
As sobrancelhas desgrenhadas de Wren se ergueram e ele se inclinou para a frente em seu assento.
— Então, você tem mesmo algo em mente. Tudo bem, mostre o caminho.
Enviei uma mensagem de sondagem para Regis e Sylvie.
Regis gemeu diretamente em minha mente de uma forma que achei um tanto grotesca.
— Muito cheio, posso ter rompido alguma coisa. Vou ficar onde estou, obrigado.
— Quero falar mais com Ellie.
respondeu Sylvie.
— Estou ansiosa para aprender mais sobre sua forma de feitiço.
— Estarei de volta em breve.
Falei, levando Wren mais fundo nas passagens sinuosas do instituto.
Não havíamos ido muito longe quando um barulho bestial de fungadas me deteve. Uma besta de mana enorme e peluda estava se aproximando pelo corredor, tão larga que ocupava quase toda a largura.
— Boo, eu estava me perguntando onde você estava.
Disse, ficando de lado para deixar o urso guardião passar.
Ele bufou e grunhiu antes de parar para cheirar Wren, que fez seu trono encolher para abrir caminho.
— Um presente de Windsom para sua irmã, presumo.
Observou Wren, olhando para Boo com ar avaliador.
— Ele parece ter sido bem tratado. Um vínculo forte para um ser humano adolescente.
Boo soltou um bufo que jogou o cabelo de Wren para trás e continuou pelo corredor, seu corpo mudando de um lado para o outro a cada passo.
Considerei o que Wren havia dito. Era fácil esquecer que Windsom havia dado Boo de presente para Ellie. Tanta coisa mudou desde então, era difícil pensar que Windsom alguma vez foi outra coisa senão meu inimigo.
— Então, qual é exatamente o seu plano?
Wren perguntou um minuto depois, enquanto descíamos para as passagens inferiores do Instituto Earthborn.
Tive que pensar sobre isso antes de responder. Esperava passar algum tempo navegando na nova dinâmica de poder dos dragões incorporados à Dicathen. O aviso de Mordain ainda estava fresco em minha mente e eu precisava saber que as pessoas do continente estavam seguras. No entanto, encontrar Caera em Vildorial mudou minhas prioridades.
— Preciso saber o que está acontecendo em Alacrya.
— Então você vai pessoalmente.
Wren puxou as pontas de seu cabelo bagunçado, franzindo a testa pensativamente.
— Mas você vai precisar de olhos e ouvidos aqui em Dicathen. Em quem você confia?
Esta questão também exigia alguma reflexão.
— Virion Eralith. Ele já lidou com Asuras antes; mesmo Aldir nunca o intimidou. E as outras Lanças. Para ser sincero, como grupo, éramos muito egocêntricos e insuficientes durante a guerra, mas vi o quanto Bairon e Mica mudaram. Não consigo ver nenhum deles sendo subserviente a um Asura como Vajrakor.
— Só isso?
Wren perguntou, escárnio pingando das palavras.
— Eu esperava mais de você.
— Em circunstâncias menos terríveis, eu diria que há muitos outros em quem confio. Considerando contra quem estamos lutando…
Deixei a declaração pairar no ar, então continuei.
— Preciso da sua mente, Wren. Acho que não posso fazer isso sem você.
— Intrigante.
Continue.
— Assim que eu te apresentar a sua nova equipe.
Alguns minutos depois, entramos na porta de um dos vários laboratórios subterrâneos do Instituto Earthborn. A sala em que entramos estava mais bagunçada do que da última vez que visitei, com pilhas de pergaminho espalhadas por todas as superfícies. Várias outras mesas e prateleiras foram trazidas, e uma grande variedade de diagramas feitos à mão cobriam as paredes. Não conseguia nem começar a assimilar tudo.
Emily Watsken, com os cabelos cacheados presos em um coque bagunçado na nuca, ergueu os olhos do trabalho, seus olhos se arregalaram tanto que quase eclipsaram os óculos redondos e grossos que ela usava.
— Arthur!
Seu grito imediatamente precedeu o barulho de uma parte do corpo batendo contra algo duro, que foi seguido de perto por um xingamento doloroso e então uma explosão. Pergaminho voou por toda parte e o laboratório começou a se encher de fumaça.
Uma figura saiu da névoa, com as sobrancelhas ardendo. Pergaminhos em chamas choveram ao seu redor.
— Olha só, se não é a ruína da minha existência. Para onde você desapareceu desta vez? Terra dos deuses? Um terceiro continente secreto cheio de limões falantes mágicos?
— Ugh, é a terceira vez que transcrevo essas anotações!
Emily choramingou.
Algo começou a emitir um zumbido raivoso e a fumaça foi puxada para um canto. A sala clareou rapidamente e percebi que um artefato no canto havia puxado toda a fumaça. Emily estava ao lado do artefato, fortalecendo-o com mana. Ela acenou, sua mão cheia de manchas escuras.
— Não leve para o lado pessoal, Arthur. Ele está feliz em ver você. Na verdade, está praticamente perturbado com a sua ausência, como se—
— Oh, fique quieta, Watsken.
Gideon estalou, carrancudo para sua aprendiz.
— De qualquer forma, agora que você voltou, há várias coisas para discutir. Primeiro, porém, quem é esse?
Ele olhou desconfiado para Wren.
Wren estava inspecionando um diagrama próximo.
— Hm, isso não é tão ruim. Um pouco rudimentar no uso de mana, mas a ideia em si é quase inteligente.
— Gideon, este é Wrain Kain IV. Ele é—
— Um Asura, obviamente.
Gideon interrompeu com raiva.
— O que você quer dizer com rudimentar?
Entrei entre eles.
— Não tenho tempo a perder com vocês dois comparando o tamanho de seus béqueres. Os dragões interferiram em seu trabalho?
Gideon conseguiu parecer insultado e satisfeito consigo mesmo.
— Não, mantive nosso objetivo principal em silêncio, usando o armamento imbuído de sal de fogo como cobertura. O próprio Windsom veio investigar, já que me conhecia da guerra, mas mal olhou para as armas antes de descartá-las como inconsequentes e me deixar sozinho. Não acho que esses seus dragões tenham muito respeito por nós, menores.
— Armas?
Wren se afastou dos diagramas, parecendo genuinamente interessado.
— O que é isso então?
Expliquei o que já havíamos desenvolvido. Gideon colocou detalhes técnicos aqui e ali, Emily fez questão de corrigir nós dois quando necessário.
— Mas a chegada dos dragões tornou isso ainda mais urgente. Fortalecer nossos magos é importante, mas eles representam apenas um por cento da população de Dicathen. As armas por si só não serão suficientes, não realmente.
Pensando bem enquanto tentava explicar, expus minha ideia. Os outros apenas interrompiam para fazer uma pergunta ou apontar alguma contradição enquanto circulava em torno do meu propósito, mas a confusão e o ceticismo rapidamente se transformaram em interesse e então, ouso dizer, até empolgação.
— Isso nunca permitirá que um menor sem magia consiga enfrentar um guerreiro do Clã Indrath.
Disse Wren depois que toda a ideia foi apresentada.
— Mas tornaria Dicathen menos dependente do velho Kezess.
— E menos sujeito às suas ameaças de nos abandonar.
Terminei.
— Conseguem lidar com isso? Precisarão manter isso em segredo de Vajrakor e do resto dos dragões, é claro.
Wren e Gideon trocaram um olhar que causou um arrepio de puro horror na minha espinha enquanto me perguntava o que eu tinha feito no mundo ao apresentar os dois.
A expressão de Emily refletiu meus próprios sentimentos, e ela murmurou as palavras:
— O que você fez?
— Eu tenho forjado armas desde antes deste continente ter um nome.
Disse Wren presunçosamente.
— Filhotes como Vajrakor e o resto desses bebês dragões não me assustam.
Gideon bufou.
— Parece que você me trouxe um assistente capaz, garoto. Tenho certeza de que vamos conseguir. Ou explodir metade de Vildorial no processo. Agora, realmente deveríamos conversar sobre—
— Não há tempo agora.
Interrompi, recuando em direção à porta.
— Quando eu voltar.
— Você acabou de voltar.
Gideon resmungou, levantando as mãos.
— Bem, tchau então.
Disse Emily do outro lado da sala, acenando fracamente.
Ergui a mão em sinal de despedida, saí para o corredor e já estava correndo para os aposentos de minha mãe. Apesar da urgência de tudo o que precisava ser feito, senti uma sensação de paz. Podia ver tudo exposto na minha frente como um tabuleiro de Disputa dos Soberanos e, pelo menos no momento, eu sabia qual movimento viria a seguir.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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